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UNIDADE IV A FORMAÇÃO DOS CONTRATOS

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A FORMAÇÃO DOS CONTRATOS 
 
1. Formação dos contratos. 
1.1. As negociações preliminares. 
1.2. A proposta. 
1.3. A aceitação. 
1.4. O momento da conclusão do contrato. 
1.5. O lugar da celebração do contrato. 
1.6. A formação dos contratos pela internet. 
 
 
 
1. A formação dos contratos 
 Conforme já afirmado, o contrato é um negócio jurídico formado pela manifestação de 
vontade de duas ou mais pessoas, com o objetivo de criar, de modificar ou de extinguir 
direitos. 
 Para que um contrato seja formado, é necessário inicialmente que as partes tenham 
vontade de realizá-lo. No primeiro momento, a pessoa apenas pensa, deseja realizar aquele 
negócio; tem vontade. É o momento subjetivo da vontade humana, uma vez que se processa 
apenas na mente do indivíduo. No entanto, quando este exterioriza, declara, manifesta a sua 
vontade, é que se produzirão efeitos nas relações jurídicas (Gonçalves, 2012, p.72). 
 Esse momento objetivo da vontade, ou seja, a manifestação da vontade, pode ser de 
forma expressa ou tácita. A manifestação de vontade expressa é aquela exteriorizada 
verbalmente, por escrito, gesto ou mímica de forma inequívoca. Dar-se-á de forma tácita 
quando a lei não exigir que seja expressa (CC, art.111). A aceitação tácita infere da conduta, 
do comportamento do agente (Gonçalves, 2012, p.72). Ex: João resolve doar de forma pura – 
doação sem encargo, sem obrigação para a outra parte – um carro para Maria. Esta não 
responde de imediato se aceita ou não a doação, mas transfere o carro para o seu nome e 
começa dirigi-lo. Esse comportamento de Maria revela que ela aceitou a doação (Gonçalves, 
2012, p.72). 
 OBS: O silêncio como manifestação de vontade, não se confunde com o consentimento 
tácito, uma vez que não sendo nem afirmação, nem negação, não pode ser considerado como 
manifestação tácita do querer. Assim, a expressão, quem cala consente, não apresenta foros de 
juridicidade, pois, em rigor, quem cala não diz coisa alguma. 
 Entende-se então, que o contrato, resulta de duas manifestações de vontades: a proposta 
(oferta, policitação, oblação) e a aceitação. Mas nem sempre o contrato nasce 
instantaneamente de uma proposta seguida de uma aceitação. Na maior parte dos casos, a 
proposta é antecedida de negociações preliminares. Dessa forma se adotará aqui as seguintes 
fases da formação do contrato: negociações preliminares, proposta e aceitação (Gonçalves, 
2012, p.72). 
 
1.1 As negociações preliminares (puntuação) 
 As negociações preliminares são conversas prévias, debates, sondagens anteriores à 
formação do contrato, que não enseja vinculação das partes a uma relação jurídica, ou seja, 
não gera qualquer obrigatoriedade entre possíveis contraentes (Gagliano e Pamplona Filho, 
2013, p.128). É neste momento prévio que as partes discutem, ponderam, refletem, fazem 
cálculos, estudos, redigem a minuta do contrato, enfim, negociam interesses para se chegar a 
uma proposta final e definitiva. Observe o seguinte diálogo: 
João: Oi, Maria! Tudo bem? 
Maria: Tudo ótimo João! Que bom te encontrar; queria mesmo te perguntar uma coisa: Você 
conhece alguém que esteja vendendo um carro de fabricação 2015/2015, com baixa 
quilometragem? Estou querendo comprar um carro assim. 
João: que coincidência! Estou vendendo o meu carro; é da marca “X” 2015/2015, semi-novo, 
todo completo, em ótimo estado! Estou pedindo R$55.000,00. Está quase vendido para o meu 
vizinho, pois, estou precisando urgente do dinheiro para pagar umas dívidas, mas como te 
conheço há mais tempo, darei preferência a você! 
Maria: Ah! Muito obrigada João! Mas ainda está um pouco acima do meu orçamento! Você 
não o venderia por R$50.000,00? 
João: Pode até ser Maria! 
Maria: então traz o teu carro no sábado na minha casa para negociarmos melhor! 
João: tudo bem! Até lá! 
 Percebe-se através desse diálogo que, as partes ainda não manifestaram a vontade de 
contratar um com outro, apenas debateram sobre o assunto. Essa conversa descompromissada 
entre as partes não gera nenhuma vinculação ao negócio. Qualquer delas poderá se afastar 
simplesmente alegando desinteresse, sem responder por perdas e danos. Mesmo quando surge 
um projeto ou minuta, ainda assim não haverá vinculação das pessoas. 
 Assim, não há em que se falar em responsabilidade contratual nessa fase, uma vez 
inexistir contrato entre as partes. Porém, poderá haver nessa fase, indenização por perdas 
danos, quando uma das partes cometer ato ilícito (art.186, CC) com a outra ou mesmo quando 
violar o princípio da boa-fé durante as negociações preliminares. 
 Cometerá ato ilícito, a parte que de forma dolosa, ou mesmo culposa, causar dano a 
outra parte, levando-a, por exemplo, a perder outro negócio ou a realizar despesas. Ratifica-se 
que essa indenização não tem natureza contratual, haja vista inexistir vínculo contratual entre 
as partes. Esta indenização é de natureza extracontratual, ou seja, decorre da existência de um 
dano material e/ou moral proveniente da prática de um ato ilícito. Logo, o fundamento para o 
pedido de perdas e danos da parte lesada, não será o inadimplemento do contrato, mas, a 
prática de um ilícito civil (Gonçalves, 2012, p.73). 
 Para compreende melhor, retomar-se-á ao diálogo entre João e Maria. 
João: Oi, Maria! Estou aqui com o meu carro. 
Maria: João o seu carro é realmente bonito, bem conservado, somente com 4.000km. Novo, 
novo! Mas, infelizmente já comprei um. Esqueci de ti ligar e dizer para você não perder 
outras propostas. Foi mau! 
João: Puxa vida Maria! Confiei em você, tive a maior consideração! Deixei de vender o meu 
carro por um preço ótimo ao meu vizinho! Como isso não bastasse, estou precisando muito 
desse dinheiro! 
Maria: sinto muito João. Preciso ir andando. Boa sorte! 
 Observe que a conduta negligente de Maria, bem como a sua deslealdade para com João, 
o que por si fez violar o princípio da boa-fé objetiva, causou-lhe prejuízo, pois, o 
impossibilitou de vender o seu carro para um comprador já certo e consenquentemente de 
pagar as suas dívidas. Dessa forma, mesmo não havendo um contrato entre João e Maria, 
aquele poderá requerer judicialmente uma reparação por danos materiais e morais à Maria, 
uma vez que a conduta desta, além de ter violado o princípio da boa-fé objetiva, ensejou a 
prática de um ato ilícito, que diretamente causou danos a João, configurando, portanto, em 
responsabilidade extracontratual. 
 Conforme explicações anteriores, sobre os princípios contratuais, o princípio da boa-fé 
exige das partes uma conduta correta, leal, honesta não só durante a formação e a execução do 
contrato, mas também, durante as negociações preliminares (Enunciado nº25, I Jornada de 
Direito Civil: o CC art.422 não inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-fé 
nas fases pré e pós-contratual). 
 Vale ressaltar que, a violação ao princípio da boa-fé, ocorre também no campo da 
responsabilidade alquiliana. Censura-se, assim, àquele que criou na outra parte a expectativa 
da celebração de um contrato para o qual se preparou e efetuou despesas, ou em função do 
qual perdeu outras oportunidades. A violação a esse dever secundário pode ensejar 
indenização, independentemente de um contrato, uma vez se ter violado a boa-fé (Gonçalves, 
2012, p.74). 
 
1.2. A proposta (policitação ou oblação). 
 Antes da definição de proposta, é importante destacar os sujeitos dessa fase: 
 Proponente, policitante ou solicitante: é aquele que faz a oferta. 
 Solicitado, policitado ou oblato: é aquele para quem a proposta é direcionada. 
 Apósdeterminar os sujeitos da proposta, observe o seguinte diálogo: 
João: olá, boa tarde!Posso ajudá-la? 
Maria: estou procurando comprar um carro, da marca Chevrolet, modelo Ágile, 2015/2015, 
completo e com baixa quilometragem. 
João: então veio ao lugar certo. Olha só aquele! Tem tudo o que você deseja! É todo 
completo, com 10.000Km rodados, 2015/2015. Novinho! Estou pedindo nele R$ 36.000,00. 
Maria: Ele é muito bonito, confortável, mas, está caro! Só posso comprá-lo por R$34.000,00. 
João: O que é isso! O carro é novo! O preço dele no mercado é R$41.500,00. O que eu posso 
fazer é vendê-lo por R$35.500,00 e pagar o IPVA. O que acha? Vamos fechar o negócio? 
Maria: Ainda estar caro! Irei vender o meu carro por R$30.000,00 e só tenho R$4.000,00 para 
completar. Que tal você me vendê-lo por R$34.500,00 e pagar o IPVA? 
João: que tal eu vendê-lo por R$34.500,00 e pagar o seu IPVA? Essa é minha proposta final. 
O que acha? Aceita? 
 Através desse diálogo pode-se dizer que, a proposta é uma declaração de vontade 
dirigida por uma pessoa a outra (com quem pretende celebrar o contrato), por força da qual a 
primeira manifesta a intenção de se considerar vinculada se a outra parte aceitar, ou seja, 
consiste na oferta de contratar que uma pessoa faz à outra, com vistas à celebração de 
determinado contrato (Gonçalves, 2012, p.75 e Gagliano e Pamplona Filho, 2013, p.130). 
 Percebe-se, portanto, que a proposta tem duas características essenciais: (1) uma 
declaração unilateral de vontade do proponente; (2) um negócio jurídico receptício, pois, a sua 
eficácia dependerá da aceitação do oblato. 
 A proposta deve conter todos os elementos essenciais do negócio proposto, como o 
preço, quantidade, tempo de entrega, forma de pagamento etc. Deve ser séria e consciente. 
Deve ser, ainda, clara, completa e inequívoca, há de ser formulada em linguagem simples e 
compreensível ao oblato. 
 A oferta pode ser feita entre presentes (inter praesentes) e entre ausentes (inter 
absentes). A proposta será entre presentes, quando o proponente a fizer diretamente ao oblato, 
mesmo que estejam em cidades, estados ou países diferentes, pois, o que a determina ser uma 
proposta entre presentes, é a conversa direta que o proponente tem com o oblato, a qual 
poderá se dá por telefone ou por qualquer outro meio de comunicação moderna, como a 
internet – as propostas feitas por chats, onde proponente e oblato estão conectados 
simultaneamente. Logo esse tipo de proposta, não é determinado pela presença física, mas 
sim, pela comunicação simultânea. Será entre ausentes, quando não houver a comunicação 
direta entre o proponente e o oblato. É com base nesse conceito em que se pode afirmar que, a 
proposta feita por email, se caracteriza como sendo entre ausentes, pois, o proponente e o 
oblato não tem uma comunicação simultânea (Fiúza, 2008, p.441 e Gonçalves, 2012, p.78). 
 Vale ressaltar que, a proposta VINCULA O POLICITANTE (primeira parte do art.427, 
do CC), que responde por todas as conseqüências se injustificadamente retirar-se do negócio, 
haja vista acarretar no oblato uma fundada expectativa de realização do negócio, levando-o 
muitas vezes, a elaborar projetos, a efetuar gastos e despesas. Essa vinculação persiste até 
mesmo depois morte ou da interdição do policitante. Nesses dois casos, respondem, 
respectivamente, os herdeiros e o curador do incapaz pelas conseqüências jurídicas do ato. 
 Assim, João propôs à Maria a realização de um contrato de compra e venda de um carro. 
Especificou claramente o objeto do possível contrato, o seu valor, as condições; houve 
negociações mútuas. Desde já, João, fica obrigado a cumprir com os termos da proposta. 
 Ainda como exemplos de proposta têm-se: os produtos expostos em vitrines com o 
preço à mostra, os produtos nas prateleiras dos supermercados, as propagandas divulgadas 
pela mídia, etc., (Fiuza, 2008, p.440). 
 A guisa do exposto, a proposta apresenta as seguintes características: 
 1- É declaração unilateral de vontade, por parte do proponente; 
 2- Reveste-se de força vinculante em relação ao proponente, se o contrário não resultar 
dos termos dela, da natureza do negócio ou das circunstâncias do caso (CC, arts. 427 e 428); 
 3- É um negócio jurídico receptício; 
 4- Deve conter todos os elementos essenciais do negócio jurídico proposto; 
 5- É elemento inicial do contrato, devendo ser, por isso, séria, completa, precisa e 
inequívoca. 
 
1.2.1. Exceções à vinculação do proponente à proposta 
 A lei expressa na segunda parte do art.427 – “se o contrário não resultar dos termos dela, 
da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso” – no art.428, incs. I a IV e no art.429 
todos do CC, algumas exceções à vinculação do proponente à proposta. Para compreender 
melhor, será descrito a seguir – conforme explicações de Gonçalves (2012, p.77-79) – cada 
uma dessas exceções. 
 1) Art.427. [...], se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou 
das circunstâncias do caso. Nesse caso devem ser analisadas três situações: 
 a) “se o contrário não resultar dos termos dela”. Indica que a proposta contem cláusula 
expressa que não obriga o proponente. É o caso do proponente salientar, quando da sua 
proposta, que reserva o direito de retratar-se. Dessa forma, não haverá nenhuma 
consequência para o proponente se optar por revogá-la. Ex: “proposta sujeita à confirmação” 
ou “não vale como proposta”. 
 b) “da natureza do negócio”. A proposta não obriga o proponente em razão da natureza 
do negócio. É o caso, por exemplo, das chamadas propostas abertas ao público – se 
caracteriza por ter um número indeterminados de oblatos – que se consideram limitadas ao 
estoque existente e encontram-se reguladas no art.429 do CC. Ex: propostas realizadas ao 
público mediante anúncios de TV, de jornais ou de panfletos cujos produtos anunciados 
encontram-se limitados ao estoque. 
 c) “das circunstâncias do caso”. Tais circunstâncias estão mencionadas no art.428 do 
CC, Não são, portanto, circunstâncias quaisquer, mas aquelas a que a lei confere esse efeito. 
 2) Art.428, inc.I: “se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. 
Logo, se a proposta foi feita entre presentes, infere-se daí que a resposta ou aceitação deve ser 
imediata, sob pena da proposta perder a eficácia. Considera-se também presente a pessoa que 
contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante”. No caso em que a proposta é 
feita diretamente pelo proponente ao oblato, ou seja, onde há uma comunicação simultânea 
entre proponente e oblato – proposta entre presentes – se este não responder logo, dando 
pronta aceitação, caduca a proposta, liberando-se o proponente. Ex: João oferece por telefone 
à Maria o seu carro, da marca Honda, modelo Fit 2015/2015, e esta fica em dúvida e não 
responde, diz que vai pensar. Nesse interregno, Ricardo liga para João; nesse momento João 
oferece a Ricardo a compra do seu carro. Ricardo aceita imediatamente. 
 3) Art.428, inc.II: “se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente 
para chegar a resposta ao conhecimento do proponente”. Em explicações anteriores, afirmou-
se que a proposta entre ausentes, é aquela em que a oferta se dá não de forma direta pelo 
proponente ao oblato, mas sim, de forma indireta; não havendo uma comunicação direta entre 
estes. Esse artigo refere-se, portanto, a uma proposta entre ausentes; proposta esta feita por 
meio de correspondência. O prazo suficiente para a resposta varia conforme as circunstâncias. 
Entre moradores próximosnão deve ser muito longo. Diferentemente se o proponente e o 
oblato morarem em locais distantes e de acesso difícil e demorado. Logo esse prazo deverá 
ser razoável – prazo moral. 
 4) Art.428, inc.III: “se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro 
do prazo dado”. Se for fixado prazo para a proposta – nesse caso entre ausentes – o 
proponente terá que esperar pelo seu término. Esgotado, sem resposta, estará este liberado, 
não prevalecendo a proposta feita. 
 5) Art.428, inc.IV: “se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da 
outra parte a retratação do proponente”. O seguinte exemplo facilita compreender melhor esse 
dispositivo: “O proponente, fotógrafo freelancer, envia um e-mail para o seu amigo 
propondo-lhe a venda de sua câmera profissional. Ao enviar, ele verifica a sua caixa de 
entrada e nota que foi designado para uma cobertura jornalística em outro país, e que receberá 
uma boa quantia para isso, mas precisará da câmera. Diante desse fato inesperado, telefona 
imediatamente para o seu amigo, retratando a sua proposta; desfazendo-a imediatamente antes 
mesmo do recebimento do email. Assim, o proponente não ficará vinculado à proposta, se a 
sua retratação chegar antes da proposta ao oblato ou simultaneamente a ela. 
 
1.3. A aceitação 
 A aceitação consiste na manifestação de vontade do oblato – a qual pode ser expressa ou 
tácita – em aderir de forma integral a proposta feita pelo proponente. É, somente, com a 
manifestação de vontade do oblato de aderir à proposta do proponente, que se reputa 
concluído o contrato. Logo é com a aceitação do oblato, que a oferta se transforma em 
contrato (Gonçalves, 2012, p.80). 
 No entanto, a aceitação deve ser pura e simples para que produza efeito de aperfeiçoar o 
contrato. Se apresentada “fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará 
nova proposta, comumente denominada de CONTRAPROPOSTA (art.431, CC). Como a 
proposta perde a força obrigatória depois de esgotado o prazo concedido pelo proponente, a 
posterior manifestação do solicitado ou oblato também não obriga o último, pois nesse caso 
não se terá uma aceitação, mas sim, uma nova proposta. O mesmo se pode dizer quando este 
não aceita a oferta integralmente, introduzindo-lhe restrições ou modificações. Ex: a empresa 
“COLHEITA”, fornecedora de arroz, faz uma proposta de venda ao ATACADÃO 
SUPERMERCADOS, da quantidade “X” do seu produto, por um valor “Y”, sob o prazo de 
resposta de cinco dias úteis. Passaram-se os cinco dias e o ATACADÃO não manifestou a sua 
aceitação, nem de forma expressa e nem de forma tácita. Após esse período, o gerente do 
ATACADÃO, resolve procurar o gerente da empresa COLHEITA para manifestar a sua 
aceitação. Nesse caso, a empresa COLHEITA não estaria mais vinculada à proposta feita – de 
vender a quantidade “X” de arroz pelo preço “Y” – ao ATACADÃO, de forma que, a resposta 
deste, passa a ser uma nova proposta. Igualmente se daria, se o ATACADÃO modificasse 
algumas cláusulas no contrato. 
 Percebe-se então que, a aceitação apresenta os seguintes requisitos: 
 1- Não exige obediência à determinada forma, salvo nos contratos solenes
1
, podendo ser 
expressa ou tácita (CC art. 432); 
 2- Deve ser oportuna (CC, arts. 430 e 431); 
 3- Deve corresponder a uma adesão integral à oferta; 
 4- Deve ser conclusiva e coerente. 
 
1.3.1. Hipóteses de inexistência de força vinculante da aceitação. 
 Há duas hipóteses em que a manifestação de vontade deixa de ter força vinculante: 
 a) Art.430 do CC: quando a aceitação do oblato for expedida dentro do prazo estipulado 
pelo proponente, mas que, no entanto, chega tardiamente ao conhecimento deste por motivos 
imprevistos. Assim, se, embora expedida no prazo, a aceitação chegou tardiamente ao 
conhecimento do proponente, quando este, estando liberado em virtude do atraso involuntário, 
já celebra negócio com outra pessoa, a circunstância deverá ser, sob pena de responder por 
perdas e danos, imediatamente comunicada ao aceitante, que tem razões para supor que o 
contrato esteja concluído e pode realizar despesas que repute necessárias ao seu cumprimento. 
Ex: a empresa “X” envia por meio do seu secretário, a aceitação expressa e dentro do prazo 
estipulado, a proposta feita pela empresa “Y”. No caminho o secretário sofre um acidente de 
moto e é conduzido a um pronto socorro, de modo que, a aceitação não chega ao proponente 
no prazo determinado. Vale ressaltar que nesse caso, o dono da empresa “X”, não foi 
informado do acidente do secretário. No dia seguinte, após o vencimento do prazo da 
aceitação, o secretário recebe alta hospitalar e resolve levar o documento do seu chefe para a 
empresa “Y”. O gerente da empresa “Y após ouvir as razões do secretário de não lhe ter 
entregue a aceitação da empresa “X” dentro do prazo estipulado, deverá imediatamente 
comunicar ao gerente da empresa “X”, sob pena de responder por perdas e danos. 
 b) Art.433 do CC: o artigo em comento refere-se à retratação da aceitação. Neste caso, a 
declaração da vontade que continha a aceitação, desfez-se antes que o proponente pudesse 
tomar qualquer deliberação no sentido da conclusão do contrato. Ex: a empresa “X” envia por 
meio do seu secretário, a aceitação expressa, dentro do prazo estipulado, à proposta feita pela 
empresa “Y”. Ocorre que, após o seu secretário sair, recebe uma proposta melhor de uma 
 
1
 CONTRATO ESPECIAL OU SOLENE. Direito Civil. Aquele que depende, para sua validade, de forma 
especial requerida pela lei. Trata-se do contrato formal ou solene. (Maria Helena Diniz. Dicionário Jurídico). 
outra empresa. Neste momento telefona imediatamente para empresa “Y” revogando a sua 
aceitação. 
 
1.4. O momento da conclusão do contrato 
 Para que se possa estabelecer a obrigatoriedade do cumprimento do acordo entre as 
partes, se faz mister identificar o momento em que o contrato foi concluído, pois, só a partir 
de então, é que as partes se tornarão vinculadas e serão compelidas a executar o negócio, sob 
pena de responderem por perdas e danos (Gonçalves, 2012, p.82). 
 No entanto, para se determinar o momento da conclusão do contrato, se deve 
inicialmente identificar, se a celebração do contrato foi realizada entre presentes ou entre 
ausentes, haja vista que a determinação do momento da conclusão do contrato se faz de forma 
diferente nestes casos (Gonçalves, 2012, p.82). 
 
1.4.1. O momento da conclusão do contrato realizado entre presentes. 
 O momento da conclusão do contrato entre presentes se faz de duas formas: 
a) Se o proponente não estabelecer nenhum prazo para a aceitação, esta deverá ser 
manifestada imediatamente, sob pena de a oferta perder a força vinculante; 
b) Se o proponente estipulou prazo para a aceitação, esta deverá operar-se dentro deste, sob 
pena de desvincular o proponente. 
 
1.4.2. O momento da conclusão do contrato realizado entre ausentes. 
 A dificuldade maior para se precisar em que momento se deve considerar formado o 
contrato, é na avença entre ausentes, uma vez que a proposta é enviada por correspondência – 
por serviços de correios, fax, por intermediários ou por emails – inexistindo nesse caso uma 
comunicação simultânea entre as partes. 
 A doutrina menciona as seguintes teorias sobre o momento da conclusão do contrato 
entre ausentes (Gonçalves, 2012, p.83-84 e Fiuza, 2008, p.443): 
1) Teoria da informação ou da cognição: o momento da conclusão do contrato se dá quando a 
resposta do oblato chegaao conhecimento do proponente e este se inteira do seu teor. Não 
basta a correspondência ser entregue ao destinatário. O aperfeiçoamento do contrato se dará 
somente no instante em que o policitante abri-la e tomar conhecimento do teor da resposta. 
Dessa forma, essa teoria tem o inconveniente de deixar ao árbitro do proponente abrir a 
correspondência e tomar conhecimento da resposta positiva. Logo, se o proponente não abrir 
a correspondência o contrato não se efetivará, ou seja, não basta que a correspondência seja 
entregue, o policitante deve abri-la e tomar conhecimento do seu conteúdo. Esta é a teoria que 
é adotada em países como a Áustria, Argentina e Itália. 
2) Teoria da declaração ou da agnição: esta teoria subdivide-se em três: 
2.1. Teoria da declaração propriamente dita: o instante da conclusão do contrato coincide com 
o momento da redação da resposta do oblato. É inadmissível, ante a enorme dificuldade de se 
aferir esse momento. Sua comprovação se mostra extremamente improvável. O momento da 
conclusão do contrato fica restrito à esfera de atuação exclusiva do oblato/aceitante, o qual 
pode vir guardá-la ou destruí-la e não enviá-la para o proponente, mantendo este mesmo 
assim, vinculado à proposta; 
2.2. Teoria da expedição: não basta a redação da resposta, sendo necessário que tenha sido 
expedida, isto é, saído do alcance e controle do oblato; 
2.3. Teoria da recepção: exige que além de escrita e expedida, a resposta tenha sido entregue 
ao destinatário. Distingue-se da teoria da informação porque esta exige não só a entrega da 
correspondência ao proponente, como também que este a tenha aberto e tomado 
conhecimento do seu teor. 
 O CC de 2002 adotou a teoria da expedição, haja vista expressar no seu art.434 que os 
contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida. No entanto 
ressalta três exceções: 
 
 
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a 
aceitação é expedida, exceto: 
I - no caso do artigo antecedente (art. 433. Considera-se inexistente a 
aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação 
do aceitante); 
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; 
III - se ela não chegar no prazo convencionado. 
 
 Da análise dos incs.I e II, pode-se afirmar que os mesmos adotaram a teoria da recepção. 
No tocante o inc.I, Gonçalves (2012, p.84) faz a seguinte crítica: 
[...] é inútil e injustificável, como reconhece a doutrina, pois, se há 
prazo convencionado e a resposta não chega no intervalo determinado, 
não houve acordo e sem ele não há contrato. 
 
1.5. O lugar da celebração do contrato. 
 O art.435 do CC dispõe que: 
 Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi 
proposto. 
 Conforme a interpretação do artigo supracitado, o lugar da celebração do contrato, é o 
local em que a proposta foi feita. 
 Tal artigo deve ser cominado com o art.9º, §2º da Lei de Introdução às Normas do 
Direito Brasileiro – anteriormente denominado de Lei de Introdução ao Código Civil – o qual 
prescreve que: 
Art. 9
o
 Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país 
em que se constituírem. 
[...]; 
§ 2
o
 A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar 
em que residir o proponente. 
 Tal dispositivo aplica-se aos casos em que os contratantes residem em países diferentes, 
como por exemplo, os contratos realizados pela internet. 
 
1.6. A formação dos contratos pela internet 
 Contrato pela internet é aquele, onde duas ou mais pessoas utilizam-se da internet para 
manifestar suas vontades e concluir um contrato (Leal, 2007, p. 79). Dispensa a assinatura ou 
exige assinatura codificada ou senha. Em regra, é realizado entre ausentes, haja vista não 
haver uma comunicação simultânea entre proponente e aceitante. 
 No estágio atual, a obrigação do empresário brasileiro que se vale do comércio 
eletrônico para vender os seus produtos ou seus serviços, para com os consumidores, é a 
mesma que o CDC atribui aos fornecedores. Dessa forma, o comerciante ou industrial 
brasileiro que anunciar os seus produtos no comércio virtual deve atentar para as normas do 
CDC, especialmente quanto aos requisitos da oferta – Capítulo V das Práticas Comerciais, 
Seção II, da Oferta. Nesse caso podem ser destacadas as que exigem informações claras e 
precisas do produto, em português, sobre o preço, qualidade, garantia, prazos de validade, 
origem e eventuais riscos à saúde ou a segurança do consumidor (art.31, do CDC), e as que se 
referem à necessidade de identificação dos fabricantes pelo nome e pelo endereço (art.33, do 
CDC). Se as informações transmitidas são incompletas ou obscuras, prevalece a condição 
mais benéfica para o consumidor (art.30 e 47 do CDC). Se as informações não forem 
verdadeiras, configura-se vício do produto ou do serviço – arts.18 e 20 do Capítulo IV, da 
Qualidade de Produtos e de Serviço, de Prevenção e de Reparação de Danos, Seção III, da 
Responsabilidade por Vício do Produto e do Serviço (Gonçalves, 2012, p.85). Vale ressaltar 
que essas cautelas devem ser tomadas pelo anunciante e fornecedor dos produtos e serviços. 
 No entanto, o contrato de consumo eletrônico internacional obedece ao disposto no art. 
9º, §2º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, que determina a aplicação, à 
hipótese, da lei do domicílio do proponente. Por essa razão, se um brasileiro faz a aquisição 
de algum produto oferecido por empresa estrangeira, o contrato então, celebrado, rege-se 
pelas leis do país do contratante que faz a oferta (Gonçalves, 2012, p.85 e 86). 
 Vale ressaltar que, O CDC expressamente dispõe que, os consumidores brasileiros têm o 
direito de promover quaisquer ações fundadas na responsabilidade do fornecedor perante o 
foro de seu próprio domicílio. Desse modo, o consumidor pode promover a ação no Brasil, 
mas o direito a ser aplicado pela corte brasileira é o direito alienígena, do país de onde 
originou-se a proposta (Gonçalves, 2012, p.86-87). 
 
JURISPRUDÊNCIAS: 
 Caso 1: 
Dados Gerais 
Processo: APL 835581020108190002 RJ 0083558-10.2010.8.19.0002 
Relator(a): DES. CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ 
Julgamento: 16/02/2012 
Órgão Julgador: DECIMA SEGUNDA CAMARA CIVEL 
Publicação: 27/02/2012 
Parte(s): Apdo: MERCADOLIVRE COM ATIVIDADES DE INTERNET LTDA 
 Apte: SERGIO OLIVEIRA SOUZA JUNIOR 
Ementa 
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. PROVEDOR DA INTERNET. SITE 
DE COMPRAS MERCADO LIVRE. CONSUMIDOR. AQUISIÇÃO DE CELULAR. 
INTEGRAÇÃO DA CADEIA DISTRIBUTIVA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. 
DEVER DE INDENIZAR PELOS PREJUIZOS DECORRENTES QUANTO AO RISCO 
DO EMPREENDIMENTO. DANO MORAL E MATERIAL CONFIGURADOS. 
O fornecedor que oferta ao consumidor uma lista de sites indicados para compra, no qual 
constam produtos que esse deseja adquirir, integram a cadeia distributiva de fornecedores, os 
quais respondem solidariamente pelo fato do produto ou do serviço. Revela-se abusiva a 
cláusula que exime de sua responsabilidade por defeitos, nos termos do art. 25, § 1º do CDC. 
Recurso ao qual conheço, dando-lhe provimento para reformar a sentença, nos termos do art. 
557, § 1º do CPC. 
 
 Caso 2: 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL. COMPRA POR SITE DA 
INTERNET. PRODUTO DEFEITUOSO. DEVER DE 
INDENIZAR. DANO MORAL. QUANTUM. 
I – O autor realizou compras via internet, cujo produto foi 
entregue em desacordo com a descrição da venda por 
duas vezes, tendo a ré se recusado a desfazer o negócio. 
Responsabilidade da transportadora não comprovada. 
II – Evidente a frustração do autore o incômodo 
enfrentado. 
III – Fixação do montante indenizatório considerando o 
grave equívoco da ré, o aborrecimento e o transtorno 
sofridos pelos demandantes, além do caráter punitivo-
compensatório da reparação. 
IV – A verba honorária deve ser fixada de modo que não 
avilte a profissão de advogado. Logo, considerando-se o 
as características da demanda é de ser mantido o 
percentual de 20% sobre o valor da condenação (art. 20, § 
3º, do CPC). 
APELAÇÃO DESPROVIDA 
 
 
APELAÇÃO CÍVEL 
 
DÉCIMA CÂMARA CÍVEL 
Nº 70040707473 
 
COMARCA DE PORTO ALEGRE 
B2W COMPANHIA GLOBAL DE 
VAREJO - SUBMARINO.COM 
 
APELANTE 
ARLEM SOUZA RODRIGUES 
 
APELADO 
 
A CÓR DÃO 
 
Vistos, relatados e discutidos os autos. 
Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Câmara Cível 
do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO à 
apelação cível. 
Custas na forma da lei. 
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes 
Senhores DES. JORGE ALBERTO SCHREINER PESTANA (PRESIDENTE E 
REVISOR) E DES. PAULO ROBERTO LESSA FRANZ. 
Porto Alegre, 30 de junho de 2011. 
 
 
DES. TÚLIO DE OLIVEIRA MARTINS, 
Relator. 
 
R E L AT ÓRI O 
DES. TÚLIO DE OLIVEIRA MARTINS (RELATOR) 
ARLEM SOUZA RODRIGUES ajuizou ação de resolução de contrato 
cumulada com indenização abalos patrimoniais e extrapatrimoniais contra B2W 
COMPANHIA GLOBAL DE VAREJO – SUBMARINO.COM. 
O julgador de primeiro grau decidiu nos seguintes termos: 
 
JULGO PROCEDENTE o pedido, declaro rescindido o 
contrato, e CONDENO a demandada: (a) a RESTITUIR ao 
autor o que dele recebeu, todas parcelas acrescidas de juros 
de 1% a.m. e de correção monetária, esta, segundo variações 
do IGPM: (b) a RESTITUIR o frete, de R$ 91,16, acrescido de 
juros e de correção monetária desde a data desse desembolso; 
(c) ao PAGAMENTO DE DANOS MORAIS DE R$ 4.000 
(quatro mil reais), também acrescidos de juros e correção 
monetária, ambos a contar desta data. 
Custas e honorários advocatícios, que fixo em 20% sobre o 
valor da condenação, igualmente, pela ré e vencida, atendidas 
as moduladoras dos §§ do art. 20 do CPC. 
 
Apelou a ré. Sustentou não ter agido de forma ilícita. Mencionou que 
houve um problema com a entrega da mercadoria sobre o qual não teve ingerência. 
Asseverou que ao ser providenciada uma nova entrega o produto não constava mais 
em seu estoque. Referiu a incidência do art. 14, § 3º, II, do CDC. Defendeu a 
inexistência de dano moral, o qual deveria ter sido provado. Em sendo mantido o 
decisum, pleiteou a redução do montante indenizatório. Pugnou pelo 
redimensionamento da verba sucumbencial. Pediu provimento. 
Admitido o recurso, subiram os autos sem contrarrazões. 
O processo foi originariamente distribuído ao Desembargador Cláudio 
Augusto Rosa Lopes Nunes, que declinou da competência para uma das Câmaras 
integrantes do 3º ou 5º Grupos Cíveis. 
Foi o relatório. 
V O TO S 
DES. TÚLIO DE OLIVEIRA MARTINS (RELATOR) 
Não colhe êxito a irresignação da apelante. 
Compulsando os autos, verifica-se que os autores realizaram compras 
via internet, em 12.01.2009. 
O pedido foi entregue equivocadamente, pois possuía apenas um 
amortecedor, ao passo que na descrição de venda constava que este deveria ter 
dois amortecedores. 
Constatado o erro, a ré entregou novo aparelho ao autor, cobrando-lhe 
frete, o qual apresentava a mesma desconformidade do anterior. 
Passo seguinte, o demandante requereu o desfazimento do negócio, 
recusando-se a demandada a fazê-lo. 
Diante disso, é evidente a frustração do autor. 
A imputação de culpa à transportadora não restou comprovada, tendo 
em vista a ausência de qualquer documento neste sentido. 
Ademais, tal fato não afastaria a responsabilidade da ré, pois perante o 
consumidor foi ela quem falhou, desimportando a sua relação com a transportadora. 
Dispõe o artigo 14 do CDC: 
 
O fornecedor de serviços responde, independentemente da 
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, 
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre 
sua fruição e riscos. 
§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança 
que o consumidor dele pode esperar, levando-se em 
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: 
I – o modo de seu fornecimento; 
II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se 
esperam; 
III – a época em que foi fornecido. 
 
 
Oportuna a lição de Paulo de Tarso Vieira Sanseverino acerca do 
fundamento da responsabilidade objetiva: 
 
“Não há necessidade da presença dos elementos subjetivos, 
dolo ou culpa stricto sensu (negligência, imprudência ou 
imperícia), no suporte fático do ilícito de consumo, para 
responsabilização do fornecedor. Não se trata apenas de 
hipótese de culpa presumida. O elemento culpa foi descartado 
por inteiro do suporte fático do acidente de consumo. Não há 
espaço, assim, em regra, para discussão da culpa do 
fornecedor na responsabilidade pelo fato do produto ou pelo 
fato do serviço”2. 
 
Logo, tem-se que a responsabilidade objetiva independe da culpa do 
lesante, fazendo-se necessária apenas a comprovação da conduta ilícita, do dano e 
do nexo causal. 
 
2
 SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no código do consumidor e a defesa do 
fornecedor. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 175. 
O ato ilícito, in casu, é a falha na prestação do serviço – a entrega do 
produto em desacordo com as características descritas na venda. 
Igualmente presente o nexo causal, pois o defeito gerou frustração ao 
autor. 
A empresa ré, portanto, tem o dever de indenizar o demandante. 
Vale citar, a propósito, os precedentes desta Corte abaixo 
colacionados: 
 
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. COMPRA 
PELA INTERNET. DEMORA NA ENTREGA DO PRODUTO. 
DANOS MORAIS. MAJORAÇÃO DO QUANTUM. 
IMPOSSIBILIDADE. A compra realizada pelo consumidor foi 
confirmada, mediante a entrega do bem em quatro dias. Prazo 
não foi cumprido, haja vista os produtos foram entregues com 
dois meses de atraso. Considerando o tempo de espera da 
requerente para o recebimento dos produtos, não se pode 
esquecer que, embora o transtorno devido ao atraso, as 
mercadorias foram devidamente entregues, ausente erro ou 
vício. Necessidade de se fixar quantia pecuniária equivalente 
ao dissabor sofrido. Manutenção da sentença. APELO 
DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70030371322, Quinta 
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Romeu 
Marques Ribeiro Filho, Julgado em 25/11/2009) 
 
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE 
INDENIZAÇÃO POR DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. 
COMPRA POR SITE DA INTERNET. FALHA NA ENTREGA 
DE PRODUTO, DEVIDO A ESTOQUE ESGOTADO. CULPA 
DE TERCEIRO NÃO COMPROVADA. DANOS MATERIAIS E 
MORAIS COMPROVADOS. A responsabilidade da empresa 
responsável pela entrega de produto, na qualidade de 
fornecedora de serviços, é objetiva nos termos do artigo 14 do 
CDC. Assim, cabe à ré ressarcir os valores pagos pela autora 
em razão dos prejuízos decorrentes da falha na entrega do 
produto. DANOS MORAIS IN RE IPSA. A prova colacionada 
aos autos demonstra que a atitude da ré supera os meros 
dissabores da vida cotidiana em sociedade. Hipótese em que o 
dano moral é in re ipsa, assim, prescinde de prova. 
APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70028885770, 
Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: 
Marilene Bonzanini Bernardi, Julgado em 19/08/2009) 
 
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. FALHA NA 
ENTREGA DE PRODUTO. DESCASO NO ATENDIMENTO AO 
CONSUMIDOR. DANOS MORAIS E MATERIAIS 
OCORRENTES NA ESPÉCIE. 1.RESPONSABILIDADE CIVIL. 
A responsabilidade da empresa responsável pela entrega de 
produto, na qualidade de fornecedora de serviços, é objetiva 
nos termos do artigo 14 do CDC. 2. DANOS MORAIS. A prova 
coligida aos autos demonstra que a atitude da ré supera o 
mero aborrecimento cotidiano. Ocorrência de dano moral in re 
ipsa. 3. DANOS MATERIAIS. Cabe à ré ressarcir os valores 
pagos pela autora em razão dos prejuízos decorrentes da falha 
na entrega do produto. DERAM PROVIMENTO À APELAÇÃO 
EM DECISÃO UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70022586275, 
Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Odone 
Sanguiné, Julgado em 16/04/2008) 
 
 
No tocante ao quantum da indenização, igualmente deve ser mantida a 
sentença. 
É verdade que o patrimônio moral das pessoas físicas e jurídicas não 
pode ser transformado em fonte de lucro ou pólo de obtenção de riqueza. Não se 
admite a indenização como instrumento de enriquecimento ilimitado do ofendido, 
transformando-se o direito ao ressarcimento em loteria premiada, ou sorte grande, 
de forma a tornar um bom negócio o sofrimento produzido por ofensas. 
É certo, outrossim, que a reparação por danos morais tem caráter 
pedagógico, devendo-se observar a proporcionalidade e a razoabilidade na fixação 
dos valores, atendidas as condições do ofensor, ofendido e do bem jurídico lesado. 
Essa a orientação de Rui Stoco: 
 
“O dano material, não sendo possível o retorno ao statu quo 
ante, se indeniza pelo equivalente em dinheiro, enquanto o 
dano moral, por não ter equivalência patrimonial ou expressão 
matemática, se compensa com um valor convencionado, mais 
ou menos aleatório. 
“Mas não se pode descurar da advertência de Clóvis do Couto 
e Silva ao destacar a necessidade de impedir que, através da 
reparação, a vítima possa ter benefícios, vale dizer, possa 
estar numa situação econômica melhor que aquela em que se 
encontrava anteriormente ao ato delituoso (O Conceito de 
Dano no Direito Brasileiro e Comparado. São Paulo: Ed. RT, 
1991, n. 1.4, p. 11). 
“Cuidando-se de dano material, incide a regra da restitutio in 
integrum do art. 944 do CC, de modo que „a indenização mede-
se pela extensão do dano‟. 
“Tratando-se de dano moral, nas hipóteses em que a lei não 
estabelece os critérios de reparação, impõe-se obediência ao 
que podemos chamar de „binômio do equilíbrio‟, de sorte que a 
compensação pela ofensa irrogada não deve ser fonte de 
enriquecimento para quem recebe, nem causa da ruína para 
quem dá. Mas também não pode ser tão apequenada que não 
sirva de desestímulo ao ofensor, ou tão insignificante que não 
compense e satisfaça o ofendido, nem o console e contribua 
para a superação do agravo recebido. 
“Na fixação do quantum a título de compensação por dano 
moral o julgador não pode se afastar de um princípio basilar: a 
vítima da ofensa deve ter por objetivo único a busca de uma 
compensação para um sentimento ruim e não o de obter 
vantagem, nem de receber um valor que jamais conseguiria 
com a força do seu próprio trabalho”.3 
 
Cabe pois ao Julgador dosar a indenização de maneira que, suportada 
pelo patrimônio do devedor, consiga no propósito educativo da pena, inibi-lo de 
novos atos lesivos, por sentir a gravidade e o peso da condenação; de outro lado a 
vítima, pelo grau de participação no círculo social e pela extensão do dano 
suportado, deve sentir-se razoável e proporcionalmente ressarcida. 
Nestas circunstâncias, considerando a gravidade do ato ilícito praticado contra os 
autores, o potencial econômico da ofensora (empresa de comércio de grande porte), o caráter 
punitivo-compensatório da indenização e os parâmetros adotados em casos semelhantes, considera-
se correto o valor arbitrado em R$ 4.000,00 (quatro mil reais). 
No tocante aos honorários advocatícios, analisada a questão à luz do 
art. 20, § 3º, do CPC, verifico ser a causa singela, sem maior complexidade. 
Contudo, a fixação dos honorários advocatícios deve ser feita de forma 
que não avilte a profissão do advogado e remunere condignamente o trabalho 
profissional do patrono do apelado. 
Sendo assim, mantenho o montante de 20% sobre o valor da 
condenação, pois adequado. 
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO à apelação. 
Foi o voto. 
 
 
DES. JORGE ALBERTO SCHREINER PESTANA (PRESIDENTE E REVISOR) - De 
acordo com o(a) Relator(a). 
DES. PAULO ROBERTO LESSA FRANZ - De acordo com o(a) Relator(a). 
 
 
3
 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 7. ed. São Paulo: RT, 2007, p. 1236-1237. 
DES. JORGE ALBERTO SCHREINER PESTANA - Presidente - Apelação Cível nº 
70040707473, Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO À APELAÇÃO 
CÍVEL. UNÂNIME ." 
 
 
Julgador(a) de 1º Grau: LUIZ AUGUSTO GUIMARAES DE SOUZA 
 
 
 
REFERÊNCIA 
 
FIUZA, Cesar. Direito civil: curso completo. 11ªed. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. 
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 10ªed. Rio de 
Janeiro: Forense, v.3, 2012. 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. In: 
Primeira parte – dos contratos. Título I. Teoria geral dos contratos. Capítulo I. Noção geral. 
9ªed. São Paulo: Saraiva, v.3, p. 21- 62, 2012. 
LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos: Validade jurídica dos 
contratos via internet. São Paulo: Atlas, 2007.

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