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Profª. Renata Lima Aula 06 1 de 158| www.direcaoconcursos.com.br Direito Civil Direito Civil Aula nº 06 – Contratos Profª. Renata Lima Profª. Renata Lima Aula 06 2 de 158| www.direcaoconcursos.com.br Direito Civil Sumário SUMÁRIO ..................................................................................................................................................2 DIREITO DOS CONTRATOS....................................................................................................................... 4 CONTRATOS ...................................................................................................................................................... 4 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS ................................................................................................................ 4 PRINCÍPIOS CONTRATUAIS ............................................................................................................................ 9 FORMAÇÃO DO CONTRATO ......................................................................................................................... 15 REVISÃO DO CONTRATO .............................................................................................................................. 21 VÍCIOS REDIBITÓRIOS .................................................................................................................................. 23 EVICÇÃO ....................................................................................................................................................... 26 EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ....................................................................................................................... 29 CONTRATOS EM ESPÉCIE ................................................................................................................................ 33 DA COMPRA E VENDA .................................................................................................................................. 33 RESTRIÇÕES À AUTONOMIA PRIVADA NA COMPRA E VENDA ....................................................................... 36 REGRAS ESPECIAIS DA COMPRA E VENDA ..................................................................................................... 39 DAS CLÁUSULAS ESPECIAIS DA COMPRA E VENDA ..................................................................................... 41 DO DEPÓSITO ............................................................................................................................................... 46 DO MANDATO .............................................................................................................................................. 52 DA FIANÇA ................................................................................................................................................... 64 DA DOAÇÃO ................................................................................................................................................. 69 DO TRANSPORTE ......................................................................................................................................... 76 DO EMPRÉSTIMO: COMODATO E MÚTUO .................................................................................................... 84 DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO ........................................................................................................................ 88 DA EMPREITADA .......................................................................................................................................... 92 DA TRANSAÇÃO ........................................................................................................................................... 97 DO SEGURO ............................................................................................................................................... 100 DA LOCAÇÃO DE COISAS NO CÓDIGO CIVIL ............................................................................................... 113 DA TROCA OU PERMUTA ............................................................................................................................. 117 DO CONTRATO ESTIMATÓRIO OU VENDA EM CONSIGNAÇÃO ................................................................... 117 DA COMISSÃO ............................................................................................................................................ 118 DA AGÊNCIA E DA DISTRIBUIÇÃO .............................................................................................................. 120 DA CORRETAGEM ....................................................................................................................................... 122 DA CONSTITUIÇÃO DE RENDA ................................................................................................................... 123 DO JOGO E DA APOSTA.............................................................................................................................. 125 DO COMPROMISSO .................................................................................................................................... 127 QUESTÕES DE PROVA COMENTADAS ................................................................................................... 128 LISTA DE QUESTÕES............................................................................................................................. 142 GABARITO ............................................................................................................................................ 146 GABARITO COMENTADO ...................................................................................................................... 147 RESUMO DIRECIONADO ....................................................................................................................... 154 Profª. Renata Lima Aula 06 3 de 158| www.direcaoconcursos.com.br Direito Civil Prof. Arthur Lima a 00 4 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL DIREITO DOS CONTRATOS Nessa aula, iremos abordar o tema dos contratos. Vamos à aula! CONTRATOS O contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral, dependendo, portanto, de mais de uma declaração de vontade. Os contratos têm por objetivo criar, modificar ou extinguir direitos e deveres de conteúdo patrimonial. Como os demais negócios jurídicos, o contrato deve ter objeto lícito e estar de acordo com o ordenamento jurídico como um todo. Assim, a autonomia contratual deve conviver com a boa-fé objetiva dos contratantes em todas as fases da negociação (da pré-contratual até a pós-contratual) e com a observância da função social do negócio. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS Vamos às principais classificações dos contratos! Quanto aos direitos e deveres das partes envolvidas, temos: • Contrato unilateral: nele apenas um dos contratantes assume deveres em face do outro. É o caso da doação que, embora deve contar com a manifestação de vontade de doador e donatário, apenas gera deveres, em regra, ao doador. • Contrato bilateral: nele os contratantes assumem deveres entre si e são credores e devedores uns dos outros. É o que ocorre na compra e venda, em que um deve entregar a coisa e o outro deve pagar o preço. Há um equilíbrio entre as prestações denominado sinalagma e, por isso, fala-se em contrato sinalagmático. • Contrato plurilateral: nele várias pessoas estabelecem direitos e deveres entre si, de forma proporcional. É o caso do contrato de seguro devida de grupo e do consórcio. Quanto ao sacrifício patrimonial das partes, temos: • Contrato oneroso: nele ambas as partes assumem deveres obrigacionais. É o caso da compra e venda. Prof. Arthur Lima a 00 5 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL • Contrato gratuito ou benéfico: nele apenas uma das partes é onerada. Lembre-se que os contratos benéficos devem ser interpretados restritivamente, como no caso da doação pura. Quanto ao aperfeiçoamento do contrato, teremos: • Contrato consensual: nele basta a manifestação de vontade das partes para que o contrato se aperfeiçoe. É o caso da locação, da doação, etc. • Contrato real: nesse caso, o contrato se aperfeiçoa com a entrega da coisa de um contratante para o outro, como no mútuo (empréstimo). Quanto aos riscos que envolvem a prestação, temos: • Contrato comutativo: nele as partes já conhecem suas prestações desde a contratação. Como na compra e venda, pois já se sabe qual a coisa e qual o preço a ser pago. • Contrato aleatório: a prestação de uma das partes não é conhecida com exatidão desde a contratação, pois existem riscos assumidos na contratação. É o caso do contrato de seguro, pois a parte interessada contrata a proteção de um risco que talvez nem chega a ocorrer. Existem duas formas de contratos aleatórios. O primeiro é o contrato aleatório emptio spei, no qual um dos contratantes assume o risco da existência da coisa. O dever de pagamento pela coisa persistirá mesmo que a coisa não venha a existir, salvo comprovação de dolo ou culpa da outra parte. Por exemplo: a compra de uma colheita futura de soja de uma fazenda, com assunção do risco de que nada venha a ser colhido (o que pode se dar em virtude de uma forte chuva). Essa compra e venda é chamada de venda da esperança. Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir. O segundo é o contrato aleatório emptio rei speratae, na qual uma parte assume o risco da quantidade da coisa comprada. Haverá o dever de pagamento integral se a coisa vier a existir em qualquer quantidade, salvo comportamento culposo da outra parte. Se nada da coisa vier a existir, não haverá dever de pagamento. Ex.: compra e venda de uma colheita futura, desde que algo dessa colheita venha a existir em qualquer quantidade. É a venda da esperança com coisa esperada. Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada. Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido. Prof. Arthur Lima a 00 6 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL Finalmente, pode-se celebrar contrato aleatório a respeito de coisas existentes, mas expostas a riscos, devendo aquele que assumiu o risco arcar com todo o preço mesmo que a coisa já não exista, no todo ou em parte, no dia do contrato. Será possível anular esse contrato, se a outra parte celebrou o contrato já ciente de que o risco se consumara. Confira: Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato. Art. 461. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a que no contrato se considerava exposta a coisa. Quanto à existência de previsão legal, temos: • Contratos típicos, quando eles possuem previsão legal mínima. É o caso da compra e venda. • Contratos atípicos, que são aqueles que não contam com previsão legal mesmo que mínima. Ex.: contrato de garagem ou estacionamento. A liberdade de contratar deverá, todavia, atender a boa- fé objetiva e a função social do contrato, bem como as normas gerais constantes do Código Civil para contratos. Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato, observado o disposto na Declaração de Direitos de Liberdade Econômica. (Redação dada pela Medida Provisória nº 881, de 2019) Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerá o princípio da intervenção mínima do Estado, por qualquer dos seus poderes, e a revisão contratual determinada de forma externa às partes será excepcional. (Incluído pela Medida Provisória nº 881, de 2019) Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código. Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. Quanto à negociação do conteúdo das partes, temos: • Contrato de adesão que, segundo o art. 54 do CDC, “é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo”. Quando se contrata um serviço de telefonia móvel, por exemplo, normalmente não há uma ampla discussão e negociação quanto às cláusulas. O consumidor apenas adere ao contrato já elaborado pela empresa. Obs.: nem todo contrato de consumo é de adesão. Ao adquirir frutas na feira, o cliente também celebra contrato de consumo, mas não de adesão. • Contrato paritário: é aquele fruto de ampla discussão das partes quanto aos termos do negócio. Prof. Arthur Lima a 00 7 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL Quanto ao contrato de adesão, importante notar que se dele constarem cláusulas que suscitem dúvidas quanto à interpretação (como cláusulas que tenham duplo sentido ou se contradigam), deve ser adotada a interpretação que seja mais favorável ao aderente (pessoa que não elaborou as cláusulas e a elas se submeteu). Se o contrato é paritário, entretanto, a cláusula que gerou dúvida deve ser interpretada em proveito da parte que não a redigiu. Não se deve beneficiar aquele que redigiu uma cláusula, eventualmente, com o objetivo de gerar a dúvida que o beneficiará, estimulando-se que as partes sejam precisas na redação das cláusulas. A lei poderá, ainda, determinar em casos específicos como se deve interpretar cláusulas que gerem dúvidas. Ex.: no contrato de compra e venda de um imóvel redigido pelo vendedor (pessoa física), deve ser interpretado em proveito do comprador (pessoa física) a cláusula que gera dúvida. Trata-se de importante inovação legal promovida pela MP 881/2019. Ademais, são nulas cláusulas constantes de contrato de adesão que estipulem a renúncia antecipada a direitos que são da própria natureza do contrato. Por exemplo: imagine que uma empresa compra um lote de televisões para revenda e no contrato de compra e venda ela renuncia à garantia legal. Essa cláusula seria nula. Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas que gerem dúvida quanto à sua interpretação, será adotada a mais favorável ao aderente. (Redação dada pela Medida Provisória nº 881, de 2019) Parágrafo único. Nos contratos não atingidos pelo disposto no caput, exceto se houver disposição específica em lei, a dúvida na interpretação beneficia a parte que não redigiu a cláusula controvertida. (Incluído pela Medida Provisória nº 881, de 2019) Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultanteda natureza do negócio. Quanto à presença de formalidades ou solenidades, temos a seguinte classificação: • Contrato formal: exige alguma formalidade, como ser escrito. Ex.: o contrato de fiança é escrito. • Contrato informal: não exige formalidade e é a regra no sistema brasileiro. É o caso do contrato de compra e venda de bem móvel. Os contratos formais podem, ainda, ser: • Contratos solenes, quando exigem uma solenidade pública. É o caso da compra e venda de imóvel de valor superior a 30 vezes o salário-mínimo. • Contratos não-solenes, quando não exigem lavratura de escritura pública, como na compra e venda de imóvel de valor inferior a 30 salários-mínimos. O contrato terá que ser escrito, mas não precisa se dar por escritura pública. Os contratos também podem estabelecer relações entre si. Assim, quanto à independência contratual, temos a seguinte classificação: • Contrato principal ou independente: é o contrato que não depende de nenhum outro, tendo existência própria. É o caso do contrato de locação. Prof. Arthur Lima a 00 8 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL • Contrato acessório: é o contrato que depende de um contrato principal. É o caso do contrato de fiança (em relação ao contrato de locação). Tudo o que acontece com o contrato principal repercute no contrato acessório. Assim, se é nulo ou se é anulado o contrato principal, se o contrato principal prescreve, temos também, respectivamente, a nulidade, anulação ou extinção do contrato acessório. • Contrato coligados: são contratos que estão ligados entre si por um nexo funcional, ou seja, possuem uma cláusula acessória (explícita ou não) que os vincula. Por exemplo: em um mesmo site, o cliente faz a contratação de uma passagem aérea com a empresa X e a locação de veículo no destino do voo. Nesse caso, o passageiro tem por objetivo viajar para certa localidade, por isso comprou a passagem aérea, e quer também se deslocar com carro alugado na cidade de destino do voo, por isso alugou o veículo no aeroporto de destino. Se amanhã o voo for cancelado, não fará sentido manter o contrato de aluguel de veículo, certo? Esses contratos foram firmados de forma coligada. Os contratos coligados mantêm a sua individualidade, mas o que afetar um dos contratos afetará também o outro. No nosso exemplo, se o voo é cancelado, isso irá afetar o contrato de locação de veículo. O Superior Tribunal de Justiça já firmou entendimento no sentido de que o inadimplemento de um dos contratos coligados pode acarretar até mesmo a extinção do outro contrato, pois há um vínculo funcional entre eles, uma interdependência. Ademais, os contratos coligados devem ser interpretados à luz dessa interdependência. É preciso considerar a relação entre eles na interpretação do contratado. Quanto ao momento do cumprimento do objeto do contrato, teremos: • Contrato instantâneo ou de execução imediata: é o que tem cumprimento imediato, com a compra de um pão de queijo em uma lanchonete. • Contrato de execução diferida: o seu cumprimento se dá uma vez só no tempo, mas em momento futuro. É o caso da contratação da elaboração de um vestido de noiva, que será feito e entregue em data futura. • Contrato de execução continuada ou de trato sucessivo: o cumprimento, nesse caso, ocorre de forma periódica no tempo. É o caso da locação de imóvel ou do financiamento de um veículo. Quanto à pessoalidade, teremos: • Contrato pessoal, personalíssimo ou intuitu personae: é o contrato celebrado com uma pessoa determinada. É o caso da fiança, mas também é o caso da contratação de um renomado arquiteto para fazer um projeto de uma casa. • Contrato impessoal: é o contrato em que a pessoa do contratante não é relevante para a celebração da avença. É a compra e venda, por exemplo. Por fim, quanto à definitividade do negócio, teremos: Prof. Arthur Lima a 00 9 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL • Contrato preliminar ou pré-contrato: é um contrato no qual as partes se comprometem a celebrar futuramente um outro contrato. O mais conhecido deles é o compromisso de compra e venda de imóvel. • Contrato definitivo: não há nele qualquer compromisso de celebração de um outro contrato. Seria o caso da própria compra e venda de imóvel. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS A interpretação dos contratos deve ser feita não apenas conforme as normas legais que iremos estudar, mas também de acordo com os princípios que regem a matéria. Passemos ao estudo dos mais importantes princípios contratuais. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA A autonomia privada, que não é absoluta, diz respeito à liberdade que as partes possuem para disciplinar o seu próprio negócio. É a união da liberdade de contratar, que permite a cada um escolher as pessoas com as quais realizar um negócio, com a liberdade contratual, a liberdade de moldar o próprio conteúdo do negócio. A autonomia privada não é absoluta, como se pode imaginar, devendo as partes, muitas vezes, atender a preceitos de ordem pública, observar a boa-fé objetiva, a função social do contrato e as demais normas do ordenamento jurídico. Em recente alteração do Código Civil (em 30/04/3019), o legislador reforçou o princípio da autonomia privada, pelo que deve ser mínima a intervenção do Estado (pelo Poder Executivo, Legislativo ou Judiciário) nas relações contratuais privadas. Até mesmo o Poder Judiciário deve, portanto, observar o quanto pactuado entre as partes e a revisão contratual só deve ser imposta, contra a vontade de alguma das partes, de forma excepcional e fundamentada. Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato, observado o disposto na Declaração de Direitos de Liberdade Econômica. (Redação dada pela Medida Provisória nº 881, de 2019) Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerá o princípio da intervenção mínima do Estado, por qualquer dos seus poderes, e a revisão contratual determinada de forma externa às partes será excepcional. (Incluído pela Medida Provisória nº 881, de 2019) PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS Prof. Arthur Lima a 00 10 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL O princípio da função social dos contratos acentua a finalidade coletiva dos contratos. Justamente por isso é que esse princípio atenua a força obrigatória dos contratos (pacta sunt servanda) e o princípio da segurança jurídica, pois o legislador determina que se considere, além da vontade das partes, a realidade social. Assim, o princípio da função social dos contratos tem o efeito interno: de proteção dos vulneráveis contratuais (como no contrato de emprego, regido pela CLT, em proveito da coletividade); de vedar a onerosidade excessiva, permitindo a revisão ou anulação do contrato; de proteger a dignidade da pessoa humana e os direitos da personalidade; de autorizar a declaração de nulidade de cláusulas abusivas ou antissociais (como a cláusula que limita o tempo de internação hospitalar do segurado de plano de saúde); de orientar o intérprete a buscar a conservação do contrato, evitando sua extinção em proveito da segurança jurídica, nesse ponto. Já em termos de eficácia externa, o princípio da função social cumpre um papel de proteção dos direitos difusos e coletivos, pois há outros valores em disputa, como a proteção ao meio ambiente, que se sobrepõem à vontade dos contratantes. Temos também, a título de eficácia externa do princípio, a tutela externa do crédito, de forma que o constante no contrato tem efeitos perante terceiros. Pune-se, assim, o terceiro que estimule o devedor a inadimplir, prometendo-lhe outras vantagens. Observe-se, por fim, que não é apenas no art. 421 do CC, já analisado, que o legislador determina a observância da função social dos contratos. Nas disposições finais e transitórias, olegislador reconhece que a função social do contrato é norma de ordem pública, podendo ser aplicada de ofício pelo juiz, e determina sua aplicação aos contratos que, mesmo tendo sido celebrados antes do Código Civil de 2002, tenham efeitos posteriores a esse diploma legal. Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução. Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA DO CONTRATO (PACTA SUNT SERVANDA) Por um longo tempo, a força obrigatória dos contratos foi considerada uma regra geral a ser observada em matéria contratual, assegurando aos contratantes que o teor da avença seria cumprido exatamente como contratado. O princípio hoje, entretanto, embora adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro, já se encontra atenuado pela função social do contrato e pela boa-fé objetiva. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA Prof. Arthur Lima a 00 11 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL A boa-fé objetiva é o princípio que determina que as partes devem observar a conduta legal que se espera na convivência em sociedade. Assim, o princípio tem importante papel na garantia da observância, pelos contratantes, dos deveres anexos ou laterais do contrato, ainda que não haja previsão contratual nesse sentido. Quais são esses deveres anexos que são obrigatórios, ainda que não escritos? Temos o dever de cuidado em relação ao outro contratante, dever de respeito, dever de informar a outra parte sobre os vários aspectos do negócio, dever de agir em conformidade com a confiança que lhe é depositada, dever de lealdade e probidade, dever de colaboração, dever de agir com lisura e honestidade, dever de agir com razoabilidade. Por exemplo: se um contratante revela o segredo industrial de outro, a que teve acesso em virtude do contrato, ele fere o dever de confiabilidade e, por vezes, o dever de confidencialidade. Por outro lado, se um contratante deixa de informar o outro sobre a forma de manuseio do produto vendido, fere o dever de informação e de colaboração. Quando temos o desrespeito de um desses deveres anexos, falamos em violação positiva do contrato, que é causa de responsabilização civil objetiva, ou seja, independentemente da comprovação de culpa. Ademais, a boa- fé objetiva é preceito de ordem pública, ou seja, pode ser aplicada pelo juiz de ofício ou a requerimento das partes. Confira o Enunciado 363 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: “Art. 422: Os princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, sendo obrigação da parte lesada apenas demonstrar a existência da violação.” Quais são as funções da boa-fé objetiva? A boa-fé objetiva possui três funções principais: • Função interpretativa: é a partir da boa-fé objetiva que se devem interpretar os negócios jurídicos (CC “Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.”). Assim, se houver dúvidas na compreensão do negócio jurídico, deve-se optar pela interpretação mais condizendo com a boa-fé objetiva e os usos do lugar de celebração do contrato. • Função de controle: a boa-fé objetiva também permite reprimir o comportamento abusivo que viola o ordenamento jurídico (“CC, Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa- fé ou pelos bons costumes.”). Assim, a boa-fé objetiva reprime, por exemplo, a aposição de cláusulas abusivas nos contratos. • Função de integração: os aspectos que não tenham sido objeto de ajuste entre os contratantes devem ser solucionados à luz da boa-fé objetiva, que as partes devem observar da fase pré- contratual até a pós-contratual. Por exemplo: se uma grande empresa de extratos de tomate distribui todo o material necessário a que os produtores da região produzam tomates, não poderá posteriormente deixar de comprar a produção, pois fere a boa-fé objetiva pré-contratual. Já o contratante que, após o pagamento do débito, deixa de retirar o nome da outra parte do cadastro de devedores fere a boa-fé objetiva na fase pós-contratual. Essas três funções são apresentadas no Enunciado 26 da I Jornada de Direito Civil do CJF: “A cláusula geral contida no art. 422 do CC impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como exigência de comportamento leal dos contratantes”. Prof. Arthur Lima a 00 12 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL Dentro da função integrativa da boa-fé, temos as chamadas figuras parcelares da boa-fé: • Supressio: trata-se de expressão que revela a perda (supressão) de um direito ou posição jurídica, pelo seu não exercício ao longo do tempo (renúncia tácita). Por exemplo: o credor que reiteradamente recebe o pagamento em local diverso do previsto no contrato perde o direito de exigir que seja observada a cláusula relativa ao local do pagamento. • Surrectio: se uma das partes perde com a supressio, a outra parte adquire um direito ou posição jurídica com o passar do tempo, em razão, não do que foi contratado, mas do comportamento adotado na prática pelas partes. É a surrectio. Retomando o exemplo acima: o devedor que paga reiteradamente em local diverso daquele que consta do contrato, para fins de pagamento, ganha o direito de continuar a efetuar os pagamentos nesse local. • Tu quoque: é a figura parcelar da boa-fé objetiva que impede o contratante de se beneficiar da violação da norma jurídica perpetrada por ele mesmo. Não é possível que o contratante se beneficie da própria torpeza. Ex.: não pode o credor requerer a resolução do contrato por inadimplemento do devedor, se ele mesmo estava em mora, por ter se ocultado maliciosamente do local do pagamento para não recebê-lo. • Exceptio doli: é a defesa contra atuações dolosas da outra parte. É a função reativa da boa-fé. Ex.: na compra e venda, não pode o devedor exigir a entrega do bem se não honrou com a sua prestação (pagamento do preço). É a exceção de contrato não cumprido (exceptio non adimpleti contractus) que impede a um contrata de um contrato sinalagmático exigir o cumprimento da prestação do outro sem ter honrado com a sua própria (CC, art.476: “Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.”). • Venire contra factum proprium: o instituto impede que uma parte exerça um direito em contrariedade a um comportamento anterior, uma vez que tal contradição fere a confiança e o dever de lealdade devidos. Observe que chocam-se dois comportamentos adotados pelo mesmo contratante. Por exemplo: se A alugou (conduta 1) o imóvel de B, não poderá posteriormente negar-se a pagar (conduta 2) o aluguel para B sob o argumento de que B não é o dono. As condutas estão em contradição. Se foi o próprio A que celebrou o contrato de locação com B, ele reconheceu B como o dono do imóvel e a ele deve o aluguel. Funções da Boa- fé Objetiva Função interpretativa Função de controle Função de integração Prof. Arthur Lima a 00 13 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL • “Duty to mitigate the loss”: é o dever do credor de mitigar as suas perdas, seu próprio prejuízo. Exemplo: A vende um imóvel para B (de forma parcelada) e B deixa de pagar as parcelas devidas. A, então, espera 4 anos para só aí entrar com a ação de cobrança dos valores. Note queo credor deixou a dívida se agigantar para, só então, cobrar o devedor. O credor feriu o dever de evitar seu próprio prejuízo e, por isso, o Poder Judiciário pode reduzir o montante que lhe seja devido (excluindo os valores relativos a um ano de parcelas, etc.). É uma forma de punir o credor que agiu (ou quedou inerte) contra o seu próprio interesse (de cobrar uma dívida, reaver um bem, etc.). PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS CONTRATUAIS Em regra, dizemos que o contrato apenas gera efeitos entre as partes que o celebraram. É a relatividade dos contratos. Essa regra, entretanto, possui quatro importantes exceções, ou seja, existem 4 situações nas quais os contratos irão gerar efeitos perante terceiros: • Estipulação em favor de terceiro • Promessa de fato de terceiro • Contrato com pessoa a declarar • Tutela externa do crédito (eficácia externa da função social do contrato) Vejamos cada um desses institutos! Na estipulação em favor de terceiro, o contrato é celebrado para beneficiar um terceiro que não faz parte da relação contratual. É o caso do seguro de vida que é celebrado para beneficiar certas pessoas que sobrevivam ao segurado. As normas gerais sobre o tema são de fácil compreensão e, por isso, recomenda-se a leitura: Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação. Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438. Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor. Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, independentemente da sua anuência e da do outro contratante. Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade. Na promessa de fato de terceiro, um dos contratantes promete uma conduta a ser praticada por um terceiro, sob pena de responder por perdas e danos. Observe, contudo, que se o terceiro, ciente do negócio, compromete- se a cumprir o negócio, o contratante que prometeu sua conduta não mais responderá por perdas e danos em caso de inadimplemento. Ex.: o empresário que promete a uma pessoa que um cantor renomado irá se apresentar em sua festa de aniversário. Sugerimos novamente a leitura dos dispositivos: Prof. Arthur Lima a 00 14 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar. Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens. Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação. No contrato com pessoa a declarar, um dos contratantes se reserva o direito de indicar um terceiro que assumirá os direitos e também as obrigações estipuladas, desde o momento da celebração do contrato. Em regra, a indicação do terceiro deve ocorrer em 5 dias. Ademais, a aceitação da pessoa indicada deve se dar pela mesma forma que foi utilizada para a celebração do contrato (ex.: forma escrita, escritura pública, etc.). Se não houver a indicação da pessoa (no prazo contratual para tanto), se a pessoa indicada era incapaz ou se a pessoa indicada insolvente momento da nomeação, o contrato continuará a valer entre as partes originárias. Confira: Art. 467. No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes. Art. 468. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, se outro não tiver sido estipulado. Parágrafo único. A aceitação da pessoa nomeada não será eficaz se não se revestir da mesma forma que as partes usaram para o contrato. Art. 469. A pessoa, nomeada de conformidade com os artigos antecedentes, adquire os direitos e assume as obrigações decorrentes do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado. Art. 470. O contrato será eficaz somente entre os contratantes originários: I - se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la; II - se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no momento da indicação. Art. 471. Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o contrato produzirá seus efeitos entre os contratantes originários. Por fim, na tutela externa do crédito também encerra situação em que o terceiro sofrerá os efeitos do contrato, pois deverá observar o quanto pactuado entre os contratantes. Assim, recentemente, o STJ decidiu que a vítima (terceiro) de acidente de trânsito pode ajuizar demanda direta e exclusivamente contra a seguradora do causador do dano quando reconhecida, na esfera administrativa, a responsabilidade deste pela ocorrência do sinistro e quando parte da indenização securitária já tiver sido paga (RESP 1.584.970/MT). Prof. Arthur Lima a 00 15 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL Não se esqueça, entretanto, que esse entendimento é apenas uma exceção à Súmula 529 do STJ (que ainda é a regra): "No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano". Veja como o tema foi cobrado em prova: CESPE - 2015 - TJ-DFT - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador Federal A respeito dos direitos das obrigações e dos contratos, julgue o item subsequente. O contrato com pessoa a declarar será considerado inválido se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o que constitui exceção ao princípio da conservação dos contratos. RESOLUÇÃO: No contrato com pessoa a declarar, se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o negócio continuará válido entre as partes originárias. RESPOSTA: INCORRETO FORMAÇÃO DO CONTRATO O contrato possui 4 fases: • Fase de negociações preliminares (pontuação) • Fase de proposta, policitação ou oblação • Fase de contrato preliminar • Fase de contrato definitivo ou de conclusão de contrato FASE DE NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES OU PUNTUAÇÃO Como é de se esperar, antes da celebração do contrato (ou seja, na fase pré-contratual), as partes estabelecem debates, entendimentos, fazem suas manifestações seja sobre o contrato preliminar, seja sobre o contrato definitivo. Pode ser que o contrato venha a ser celebrado ou não, bem como pode ter uma proposta formalizada (por escrito, por exemplo) ou não formalizada (por mera conversa por exemplo). Por exemplo: Lucas vai a uma loja comprar um colchão e procura conhecer os modelos, pergunta a respeito de descontos, faz orçamento, etc. Essa é a etapa pré-contratual. FASE DE PROPOSTA, POLICITAÇÃO OU OBLAÇÃO Prof. Arthur Lima a 00 16 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL A fase de proposta representa já a manifestação da vontade de contratar por uma das partes à outra, que irá ou não manifestar sua concordância. Temos uma declaração unilateral de vontade de contratar, portanto, que produz efeitos a partir do momento que é recebida pela outra parte (caráter receptício). Em regra, a proposta vincula o proponente, pelo que gera o dever de celebrar o contrato definitivo, sob pena de arcar o proponente com perdas e danos efetivamente ocorridos. Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, seo contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. A oferta ao público também vinculará o proponente, em regra, se tiver os requisitos essenciais ao contrato. A oferta, portanto, deverá contar com todos os elementos do contrato. Por exemplo: anúncio no jornal que informe o anunciante irá adquirir o bem X, pelo valor Y e na quantidade Z, de quem puder honrar essa prestação. Nesse caso, a oferta pública possui todos os elementos da compra e venda e se aperfeiçoará com a aceitação pelo terceiro, pois se trata de uma proposta. A oferta feita ao público poderá também ser revogada, se essa possibilidade constar expressamente da oferta feita. Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada. As partes da proposta são: Prof. Arthur Lima a 00 17 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL Obs.: se o policitado/oblato/solicitado formular uma contraproposta, as posições acima irão se inverter e ele será o proponente e a outra parte se tornará o policitado. Exige-se também que a proposta seja séria, clara e definitiva. De outra parte, a aceitação deverá ser também clara e simples. Uma dúvida, entretanto, pode surgir: feita a proposta, ela deixa de ser obrigatória em que hipóteses? O policitado pode refletir sobre a proposta por tempo indeterminado e ainda exigir o seu cumprimento ou a proposta pode deixar de valer? Como se deve imaginar, em alguns casos a proposta deixa de ser obrigatória. É o que acontece nos seguintes casos: • Se a proposta for feita sem prazo para uma pessoa presente, e o solicitado não manifesta aceitação imediatamente, a proposta deixa de valer. Essa regra também vale para propostas feitas por telefone, Skype, videoconferências e outros meios de comunicação semelhantes. Por exemplo: Fabrício entra em uma loja e o vendedor, notando seu interesse em um par de tênis, oferece um desconto. Fabrício decide que precisa pensar mais e volta na loja apenas no dia seguinte, pensando em concluir a compra com o desconto. Nesse caso, o vendedor já não está vinculado à proposta feita, pois não houve aceitação imediata quando a proposta foi feita. Obs.: no contrato entre presentes com estipulação de um prazo, a proposta deixa de ser obrigatória se o solicitado não se manifestar tempestivamente. • Se a proposta for feita sem prazo para uma pessoa ausente, a proposta deixa de ser obrigatória depois de passado o tempo suficiente para que chegasse a resposta do solicitado. É o caso da proposta enviada por carta ou e-mail, situações nas quais há um intervalo entre as manifestações de cada parte. Por exemplo: se Mário envia proposta de prestação de serviços para Antônio, por e-mail, ele pode se considerar desobrigado da proposta em 24 horas, pois Antônio já teria tido tempo de manifestar sua aceitação e não o fez. O “tempo suficiente” é um conceito vago, que será analisado pelo juiz no caso concreto. • Se a proposta foi feita com prazo a uma pessoa ausente, a proposta deixa de ser obrigatória se não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado pelo proponente. • A proposta também deixa de ser obrigatória, se chegar ao solicitado a retratação do proponente antes ou ao mesmo tempo em que o solicitado recebe a proposta. Por exemplo: se Marcelo envia uma carta com uma proposta de compra e imóvel e, após o envio da proposta descobre que pode fazer um negócio ainda melhor, manda também um telegrama informando a sua retratação. O • Trata-se daquele que faz a proposta e se vincula a ela. Policitante, proponente ou solicitante • é a parte que recebe a proposta • se consentir com a proposta, se tornará o aceitante Policitado, oblato ou solicitado Prof. Arthur Lima a 00 18 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL telegrama, em regra, chega antes da carta e, portanto, servirá para desobrigar Marcelo da proposta. A aceitação de Marcelo, no caso, seria tido por inexistente. Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante; II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. Pode ocorrer de o solicitado enviar a manifestação de aceitação da proposta, mas a resposta chegar muito tarde ao proponente, em razão de uma circunstância imprevista (como o mau funcionamento dos Correios). Como a resposta chegou muito tarde, o proponente não está mais obrigado por ela, mas deve comunicar imediatamente ao aceitante que a proposta chegou atrasado ou responderá, não pela proposta, mas por perdas e danos. Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos. Mesmo que tenha sido fixado um prazo para a aceitação, a manifestação do solicitado pode ser feita fora do prazo, mas será considerada uma nova proposta. Também será considerada uma nova proposta a manifestação do solicitado que contenha uma adição, restrição ou modificação da proposta feita pelo proponente. Digamos que Marcos tenha proposto vender seu carro para Andressa por R$50.000,00 à vista. Andressa recebe a proposta por e-mail e responde que gostaria de parcelar o valor em 24 vezes. No caso, ela fez uma contraproposta, ou seja, uma nova proposta. Andressa não aceitou integralmente a proposta de Marcos e fez a ele uma outra proposta, para que ele manifeste se aceita ou não. Como Andressa não aceitou a proposta de Marcos, ele já não está vinculado àquela oferta. Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta. Excepcionalmente, tem-se situações em que a aceitação expressa não é exigida ou foi dispensada. Assim, a proposta será considerada aceita se não houver a recusa tempestiva. Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa. Prof. Arthur Lima a 00 19 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL No contrato entre ausentes, a aceitação da proposta ocorre no momento em que a resposta do solicitado é expedida. Em regra, com a expedição da resposta (aceitação), o contrato entre ausentes se aperfeiçoa. Há, entretanto, exceções à essa regra. Em alguns casos, o legislador tem por formado o contrato quando a proposta é aceita e recebida pelo proponente. Não tendo recebido a resposta, o proponente estará exonerado da oferta: • Se antes da aceitação ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante; • Se o proponente se houver comprometido a esperar a resposta, ou seja, as partes acordaram que o contrato só iria se aperfeiçoar quando o proponente recebesse a resposta (não bastando sua expedição). • Se a resposta não chegar no prazo convencionado. Como se nota, o Código Civil adotou a teoria da expedição como regra e a teoria da recepção como exceção. Ainda nesse ponto, vale mencionar o Enunciado 173 das Jornadas de Direito Civil do CJF: “A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo proponente”. Assim, os contratos celebrados pore-mail só se aperfeiçoam com a recepção da resposta pelo proponente. Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante. Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto: I - no caso do artigo antecedente; II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III - se ela não chegar no prazo convencionado. O contrato nacional é tido por celebrado no lugar em que foi proposto. Como a contraproposta é uma nova proposta, se houver contraproposta (posteriormente aceita) o local do contrato será onde ela foi formulada. Vale lembrar que o contrato internacional é regido pela LINDB, como já estudamos, e ele se reputa celebrado no lugar em que residir o proponente. Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto. FASE DE CONTRATO PRELIMINAR O contrato preliminar ou pré-contrato é o negócio jurídico pelo qual as partes se comprometem a firmar um contrato definitivo. Não se trata de uma fase obrigatória. Prof. Arthur Lima a 00 20 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL O contrato preliminar não precisa observar a forma do contrato definitivo, mas todos os outros requisitos do contrato definitivo devem ser preenchidos. Por exemplo: o compromisso de compra e venda de imóvel não precisa ser firmado por escritura pública, mas deve conter o preço, a indicação da coisa e o consentimento, pois estes 3 são requisitos essenciais ao contrato de compra e venda. Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado. O Código Civil apresenta dois tipos de contrato preliminar: • Compromisso unilateral de contrato ou contrato de opção: apenas uma das partes se obriga a firmar um contrato definitivo, desde que o credor se manifeste no prazo previsto no contrato preliminar ou estipulado pelo devedor. • Compromisso bilateral de contrato: é o contrato preliminar no qual ambas as partes assumem a obrigação de celebrar o contrato definitivo. Esse contrato não pode ter cláusula de arrependimento. Justamente por isso, se uma das partes se negar a celebrar o contrato definitivo, a outra poderá ajuizar ação de obrigação de fazer em face dela para exigir que a outra parte cumpra seu dever de celebrar o contrato definitivo. Se em juízo, a parte ré não celebrar o contrato definitivo, poderá o juiz suprir essa manifestação de vontade ou, se o objeto do contrato já não interessar, poderá a parte contrária exigir a correspondente indenização. Quanto ao compromisso bilateral de contrato cumpre ainda uma observação: o legislador menciona um dever de levar o contrato preliminar a registro, mas essa exigência é para que a avença tenha eficácia perante terceiros. Assim, mesmo que o contrato preliminar não seja levado a registro, ele obrigará as partes entre si. Art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor. Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente. Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação. Art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos. FASE DE CONTRATO DEFINITIVO Prof. Arthur Lima a 00 21 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL Realizada a proposta e manifestada a aceitação, ou seja, com o encontro das vontades, o contrato definitivo se aperfeiçoa. Fica, então, estabelecida a relação contratual entre as partes com todas as consequências daí advindas. Veja como o tema foi tratado em prova: CESPE - 2015 - Telebras - Advogado A respeito das obrigações e dos contratos, julgue o item subsequente. Para a formação de contrato entre ausentes, a regra adotada pela legislação em vigor é a da teoria da recepção, segundo a qual se considera celebrado o negócio jurídico no instante em que o proponente recebe a resposta do aceitante. RESOLUÇÃO: Para a formação de contrato entre ausentes, a regra adotada pelo Código Civil é a da teoria da expedição, pela qual se considera perfeito o contrato desde a expedição da resposta pelo aceitante. RESPOSTA: INCORRETO REVISÃO DO CONTRATO Em razão do princípio da conservação contratual, a extinção do contrato deve ser a última medida a ser adotada pelo Poder Judiciário. Assim, a revisão do contrato é medida que pode ser utilizada para preservar o interesse manifestado pelas partes, quando da contratação. Em matéria de revisão do contrato, a doutrina controverte a respeito da teoria adotada pelo Código Civil atual. A doutrina majoritária afirma que foi adotada a teoria da imprevisão, que tem origem francesa, e exige que o fato superveniente que autoriza a revisão contratual seja imprevisível. Outra parte da doutrina defende a adoção da teoria da onerosidade excessiva, de influência italiana. O tema é bastante controvertido, de toda forma. Mas quais são os requisitos da aplicação da revisão contratual a que se referem os arts. 317 e 478 do Código? São 6 requisitos, para que se possa revisar um contrato judicialmente: 1. Em regra, o contrato deve ser bilateral ou sinalagmático, ou seja, deve contemplar ambas as partes com direitos e obrigações. Excepcionalmente, como se vê no art. 480, os contratos unilaterais também poderão ser revistos. 2. O contrato deve ser oneroso, contendo prestação e contraprestação, pois será necessário demonstrar a onerosidade excessiva. 3. O contrato deve ser comutativo, ou seja, as partes devem saber desde a contratação os riscos envolvidos e suas prestações. Excepcionalmente, o contrato aleatório também poderá ser revisto, conforme o Enunciado nº440 da V Jornada de Direito Civil do CJF: “Art. 478: É possível a revisão ou resolução por excessiva Prof. Arthur Lima a 00 22 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL onerosidade em contratos aleatórios, desde que o evento superveniente, extraordinário e imprevisível não se relacione com a álea assumida no contrato.” O contrato aleatório, portanto, poderá ser revisto se o fato superveniente não se relacionar justamente ao risco assumido por um dos contratantes. Se o risco foi assumido, é da natureza do contrato aleatório que a parte arque com isso. Na mesma linha, o Enunciado 366 da IV Jornada de Direito Civil: “O fato extraordinário e imprevisível causador de onerosidade excessiva é aquele que não está coberto objetivamente pelos riscos próprios da contratação.” 4. O contrato deve ser de execução diferida (aquele que tem prestação uma vez no futuro) ou trato sucessivo (aquele que tem prestações periódicas), de forma que gere efeitos ao longo do tempo. Excepcionalmente, será possível revisar contratos instantâneos, ou seja, que já tenham operado seus efeitos. Além disso, a Súmula 286 do STJ admite a revisão dos termos originais de um contrato que já tenha sido renegociado (ou seja, que já foi substituído por um novo contrato entre as partes): “A renegociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores”. É uma forma de proteger o cliente do banco, por exemplo, que renegociou o contrato ou confessou adívida apenas para tentar regularizar a sua situação imediatamente, pretendendo discutir depois os termos do contrato originário que gerou o conflito. 5. O fato superveniente que gera a onerosidade excessiva deve ser imprevisível ou imprevisível e extraordinário. É justamente por isso que a revisão contratual que estamos estudando tem pouca aplicação prática, pois são poucos os exemplos de fatos realmente imprevisíveis. Basta notar que os Tribunais não admitiram a revisão de contratos que foram atingidos pelo descontrole inflacionário que o país vivenciou no final do século passado ou mesmo pela maxidesvalorização do real em face do dólar. Essas situações, infelizmente, atingiram muitas pessoas e elas tiveram que arcar com o prejuízo, pois o Poder Judiciário entendeu que essas oscilações de ordem econômica estão dentro da realidade do nosso país e devem ser previstas pelos contratantes. De toda forma, a doutrina defende que deve-se analisar a imprevisibilidade não apenas pelo fato em si, mas também pelas consequências que ele produz não apenas para o mercado, mas para o próprio contratante. 6. É necessário que se verifique o desequilíbrio contratual, pela quebra do sinalagma. Assim, é preciso ficar demonstrada a onerosidade excessiva, que prejudica demasiadamente uma das partes em face da outra, que tem grande vantagem. É importante ressalvar, todavia, que há entendimento no sentido de que não é necessária prova plena da vantagem excessiva auferida por uma das partes (Enunciado 365 das Jornadas de Direito Civil): “Art. 478. A extrema vantagem do art. 478 deve ser interpretada como elemento acidental da alteração das circunstâncias, que comporta a incidência da resolução ou revisão do negócio por onerosidade excessiva, independentemente de sua demonstração plena.” Note também que o juiz não poderá impor a revisão contratual de ofício, sendo necessário que as partes sejam ouvidas a respeito ou que tenham requerido a revisão. Uma importante inovação da MP 881/2019, entretanto, é no sentido de que a revisão e a resolução do contrato firmado entre empresários devem observar também das seguintes normas: Prof. Arthur Lima a 00 23 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL • Os empresários podem dispor a respeito dos parâmetros objetivos para a intepretação dos requisitos que autorizam a revisão e a resolução do contrato. Assim, os próprios empresários poderiam prever que uma desvalorização significativa da moeda brasileira com relação a moeda estrangeira, em certo percentual, justifica a revisão do contrato. • O juiz, ao analisar pedido de revisão de contrato firmado entre partes empresárias, deve presumir a simetria entre os contratantes, ou seja, que contrataram em igualdade de condições, inclusive, econômicas, de informações, etc. Trata-se de presunção relativa, podendo ser provado o contrário. • Deve o juiz, ainda, observar a alocação de riscos definida pelas partes, já que elas devem analisar os riscos que pretendem assumir no momento da contratação e esses riscos não devem ser redistribuídos por decisão judicial, pura e simplesmente. É preciso analisar a vontade das partes, portanto. O legislador criou, portanto, um sistema mais específico para a resolução e revisão de contratos firmados entre empresários, reforçando a autonomia privada. Vale à pena conferir o tema na legislação: Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato. Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva. Art. 480-A. Nas relações interempresariais, é licito às partes contratantes estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação de requisitos de revisão ou de resolução do pacto contratual. (Incluído pela Medida Provisória nº 881, de 2019) Art. 480-B. Nas relações interempresariais, deve-se presumir a simetria dos contratantes e observar a alocação de riscos por eles definida. (Incluído pela Medida Provisória nº 881, de 2019) Ademais, note que a mora do devedor não impedirá a revisão do contrato em questão. Em verdade, pode até ser que foi justamente a necessidade de revisão que levou o devedor a ficar em mora. Por fim, a legislação processual exige que o interessado na revisão deposite o valor incontroverso, para que pleiteie a revisão contratual em juízo. A ausência de depósito da parte incontroversa é causa de inépcia da petição inicial, consequência estudada no curso de Processo Civil. VÍCIOS REDIBITÓRIOS Prof. Arthur Lima a 00 24 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL Os vícios redibitórios são os defeitos ocultos (já existentes quando da tradição do bem) que tornam a coisa imprópria para o uso ou lhe diminuem o valor. Dessa forma, se o contrato for comutativo (aquele em que as partes conhecem os riscos assumidos e suas prestações), a coisa poderá ser recusada justamente por conta desse vício. É o caso da compra e venda de um aparelho celular usado, em que só mais tarde é possível perceber uma falha na câmera fotográfica do aparelho. Excepcionalmente, será possível alegar vício redibitório nos contratos aleatórios (aqueles em que uma parte assume riscos com relação ao objeto contratado), mas apenas se o vício redibitório não estiver compreendido no risco assumido. É o Enunciado 583 da VII Jornada de Direito Civil do CJF: "O art. 44 1 do Código Civil deve ser interpretado no sentido de abranger também os contratos aleatórios, desde que não abranja os elementos aleatórios do contrato". Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor. Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas. A parte prejudicada pelo vício redibitório poderá se valer das ações edilícias: • Ação “quanti minoris” ou ação estimatória: por meio dela será pleiteado o abatimento do preço em razão do vício oculto; • Ação redibitória: por meio dela será pleiteada a resolução do contrato, com devolução da coisa e do preço pago, bem como das despesas contratuais. Será possível também, comprovada a má-fé do alienante que vendeu sabendo do vício, pleitear perdas e danos. Observe apenas que não será possível requerer a resolução do contrato (pela ação redibitória) se o vício oculto não tiver impacto significativo no uso do bem ou na diminuição de seu valor. Se o impacto é ínfimo, deve o prejudicado requerer o abatimento do preço, ante o princípio da preservação dos contratos. Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar abatimento no preço. Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato. As ações edilícias são ações constitutivas negativas e, justamente por isso, sujeitas a prazos decadenciais. E qual o prazo para se alegar o vício redibitório?! Vejamos: • Se o vício puder ser percebido imediatamente, o prazo será de 30 dias para o bemmóvel e 1 ano para o bem, contado o prazo da entrega efetiva do bem. Se o bem já estada em poder do credor, ele terá 15 dias para alegar o vício redibitório do bem móvel ou 180 dias, se imóvel. • Se o vício só puder ser percebido mais tarde, o STJ entendeu que o vício deverá se revelar em 180 dias, se bem móvel, ou 1 ano, se bem imóvel. A partir da revelação do vício (nesse prazo Prof. Arthur Lima a 00 25 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL mencionado), será contado o prazo para o adquirente alegar o vício redibitório, nos moldes do item anterior, ou seja, em 30 dias para móvel e 1 ano para imóvel. Ex.: Andressa compra um celular de Lucas em 01/01/2019, que afirma que ganhou o bem de presente e preferiu não usar, mas vender. Andressa, em 04/04/2019, começa a notar que a bateria está viciada, para um celular novo. Pelo entendimento do STJ, em 180 dias (até final de 06/2019) o vício redibitório da coisa móvel deve se revelar e, assim, Andressa terá 30 dias (até 04/05/2019), para alegar o vício. Obs.: Para a venda de animais, devem ser observados os prazos da lei especial ou, na falta deles, os usos locais ou, em último caso, os prazos do art. 445 §2º. Confira: Art. 444. A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição. Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade. § 1º Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis. § 2º Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria. Os prazos para alegar vício redibitório não correm durante a vigência da garantia convencionada entre as partes, mas isso não retira o dever de informação da descoberta do defeito em até 30 dias ao alienante. Se não houver a informação, perde-se o direito à garantia convencional. Art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência. Veja como o tema foi cobrado em prova: CESPE - 2013 - Polícia Federal - Perito Criminal Federal - Cargo 7 Com base na NBR 13.752:1996, que trata de perícias de engenharia na construção civil, julgue os item. Vícios redibitórios, por diminuírem o valor do bem, podem gerar abatimento do preço pago. RESOLUÇÃO: Os vícios redibitórios permitem tanto o abatimento do preço pago quanto a resolução do contrato, quando significativo o vício. RESPOSTA: CORRETA Prof. Arthur Lima a 00 26 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL EVICÇÃO A evicção é a perda, total ou parcial, do bem (adquirido em contrato oneroso) em razão de uma decisão judicial ou administrativa que atribui tal bem a um terceiro. A perda pode ocorrer ainda que o bem tenha sido adquirido em hasta pública (procedimento judicial de expropriação de bens do devedor/executado). Por exemplo: Pablo vende um imóvel para Jussara, que vem a perder o imóvel em razão de decisão judicial em ação proposta por Hugo, na qual o juiz reconhece que o verdadeiro dono do imóvel é Hugo e não Pablo. Assim, só Hugo poderia alienar o bem para Jussara, o que não ocorreu. Jussara sofre os efeitos da evicção, mas poderá reaver seus direitos em face de Pablo. São partes da evicção: • O alienante: que transferiu onerosamente o bem. • O evicto ou adquirente: que adquiriu de forma onerosa o bem que será perdido pela evicção. • O evictor ou terceiro: que obteve o bem em razão de decisão judicial ou administrativa. Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública. É possível mediante disposição expressa que as partes reforcem (com ampliação dos direitos do adquirente evicto), diminuam ou excluam a responsabilidade pela evicção. É que não é possível presumir que as partes alteraram a disciplina legal da evicção, se não houver disposição clara e expressa a respeito. Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção. A cláusula de exclusão da garantia da evicção só terá efeitos plenos, se o adquirente tinha ciência do risco da evicção e o assumiu. Confira: Prof. Arthur Lima a 00 27 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL Se não há cláusula expressa de exclusão da garantia, a responsabilidade do adquirente é plena. Poderá o evicto exigir, assim: • A restituição integral do preço ou das quantias pagas, tendo em vista a época em que o bem se perdeu pela evicção; • Indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir ao terceiro (evictor); • Indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção (como danos emergentes, lucros cessantes, danos morais, gastos com emolumentos de Tabelião, etc.); • As custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído. • Indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis não abonadas ao evicto pelo evictor (art. 453 do CC). Obs.: Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas pelo alienante, o valor destas será abatido do valor a ser restituído ao adquirente. Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu. Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do preço ou das quantias que pagou: I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir; II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção; III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído. Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial. Art. 453. As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas ao que sofreu a evicção, serão pagas pelo alienante. Cláusula expressa de exclusão da garantia Sem que o adquirente tenha ciência do risco da evicção Consequência: O alienante responde apenas pelo preço pago pelo adquirente Cláusula expressa de exclusão da garantia Com ciência do adquirente quanto ao risco da evicção Consequência: Alienante não responderá por nada Cláusula expressa de exclusão da garantia O adquirente foi informado do risco da evicção, mas não o assumiu Consequência: O Alienante deve devolver o preço pago pelo adquirente Prof. Arthur Lima a 00 28 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas pelo alienante, o valor delas será levado em conta na restituição devida. O adquirente também terá direito à garantia da evicção, se a coisa estiver deteriorada sem que haja dolo de sua parte. Por exemplo: o imóvel perdido por evicção tinha sofrido uma enchente que o deteriorou. Já se a deterioração proporcionou vantagens ao adquirente, o alienante poderá deduzir do valor da indenização o correspondente a essa deterioração. É que essa deterioraçãoainda que não seja dolosa, foi intencional. Art. 451. Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienada esteja deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente. Art. 452. Se o adquirente tiver auferido vantagens das deteriorações, e não tiver sido condenado a indenizá-las, o valor das vantagens será deduzido da quantia que lhe houver de dar o alienante. Se a evicção parcial for considerável, poderá o adquirente optar entre a rescisão do contrato ou a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque. Se não for considerável a parcela do bem objeto de evicção, só caberá a restituição. Por exemplo: se ocorre a evicção de parte do terreno rural adquirido, mas justamente da parte produtiva, temos uma evicção parcial considerável que permite até mesmo a rescisão do contrato por opção do adquirente. Art. 455. Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre a rescisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não for considerável, caberá somente direito a indenização. Importante também notar que o art. 456 do Código Civil foi revogado, pois a matéria sobre o exercício em juízo do direito resultante da evicção foi tratada pelo Código de Processo Civil de 2015 (CPC, art. 125). Esse diploma dispõe, em linhas gerais, que será possível denunciar da lide o alienante imediato para que participe do processo relativo à coisa adquirida pelo evicto. Poderá também o evicto (adquirente), subsidiariamente, ajuizar uma ação autônoma para exercer o direito resultante da evicção. Ademais, se o alienante for denunciado da lide, ele poderá denunciar também (para que integre a lide) o seu antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo. Isso se deve ao fato de que, por vezes, o bem que foi perdido por evicção foi transferido sucessivamente entre várias pessoas em cadeia e o legislador entendeu ser adequado colocar um limite à denunciação. Assim, o adquirente pode denunciar o alienante e o alienante só pode denunciar da lide mais uma pessoa da cadeia dominial. O tema, de qualquer forma, será melhor abordado no Curso de Direito Processual Civil. Por fim, é importante que o adquirente esteja de boa-fé para utilizar a garantia legal em face da evicção. Se o adquirente sabia dos riscos da evicção e dos riscos de perder a coisa, não poderá depois demandar o alienante pela evicção. Prof. Arthur Lima a 00 29 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa. Veja como o tema foi cobrado em prova: CESPE - 2018 - EBSERH - Advogado Considerando o que dispõe o Código Civil acerca de negócios jurídicos e contratos, julgue o item a seguir. Nos contratos onerosos, a responsabilidade do alienante pela evicção pode ser excluída por convenção das partes em cláusula expressa. RESOLUÇÃO: Como vimos acima, é possível que as partes excluam a responsabilidade do alienante pela evicção desde que o façam por cláusula expressa. RESPOSTA: CORRETA EXTINÇÃO DOS CONTRATOS Passamos, finalmente, às formas de extinção do contrato: • Extinção normal do contrato: é aquela que decorre do cumprimento do objeto do contrato. Lembre- se que a boa-fé objetiva deve também ser observada na fase pós-contratual. • Extinção por morte: se a obrigação é personalíssima, teremos a extinção do contrato pela morte de uma das partes. É o que ocorre na fiança, pois condição de fiador não se transmite com a herança (em caso de morte do fiador). Eventualmente, caberá aos herdeiros honrar com as dívidas contraídas até os limites da herança. • Extinção por fatos anteriores à celebração: ocorre em razão da (i) invalidade do contrato, nas hipóteses de contrato nulo ou anulável; (ii) do exercício do direito previsto em cláusula de arrependimento (constante no próprio contrato), que autoriza a manifestação unilateral de vontade de uma das partes de não mais se vincular pelo contrato; e (iii) da cláusula resolutiva expressa, que é uma previsão contratual no sentido de que algum evento futuro e incerto (condição) acarretará a extinção do contrato. No caso de cláusula resolutiva expressa, a extinção se opera de pleno direito, ou seja, automaticamente com a ocorrência do fato. Se, por exemplo, no contrato de compra e venda, as partes dispõem que o não pagamento do preço na data combinada levará a extinção do contrato, com dispensa do cumprimento das outras obrigações (como a de entregar a coisa), basta ocorrer o fato (não pagamento na data específica) para a extinção do contrato. Excepcionalmente, o STJ exige interpelação judicial mesmo em havendo cláusula resolutiva expressa (como na Súmula 369 do STJ, que preconiza que “No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja cláusula resolutiva expressa, é necessária a notificação prévia do arrendatário para constituí-lo em mora”). Prof. Arthur Lima a 00 30 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial. Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. • Extinção por fatos posteriores à celebração: alguns fatos posteriores à celebração do contrato podem levar à extinção da avença. São os casos de resolução do contrato (extinção do contrato por descumprimento) e resilição do contrato (que é a dissolução voluntária do contrato). Pela importância do tema, passamos a sua análise no tópico seguinte. RESOLUÇÃO DO CONTRATO Dentre as formas de extinção do contrato por fatos posteriores à celebração, temos a resolução do contrato por: • Inexecução voluntária • Inexecução involuntária • Onerosidade excessiva • Cláusula resolutiva tácita Vamos analisar cada caso: A resolução por inexecução voluntária decorre do descumprimento do contrato por dolo ou culpa do devedor, o que acarreta a obrigação de indenizar também perdas e danos. É importante apenas ressalvar que não será possível resolver o contrato se verificado o adimplemento substancial (substantial performance), situação na qual o contrato foi cumprido quase integralmente. Nesse caso, deve o interessado requerer a cobrança da parte não cumprida, mantendo o contrato. Conforme o Enunciado 586 da VII Jornada de Direito Civil, para a caracterização do adimplemento substancial levam-se em conta tanto aspectos quantitativos quanto qualitativos. Assim, não basta o cumprimento substancial da prestação, mas também que a parte devedora esteja de boa-fé. Por exemplo: se a parte devedora sempre atrasa a parcela mensal do pagamento por ela devido, nota-se o abuso de direito que pode tornar possível a resolução do contrato. Na inexecução involuntária, por outro lado, o descumprimento ocorre por fato alheio à vontade das partes, por caso fortuito ou força maior. Assim, em regra, não cabe o pedido de perdas e danos, resolvendo-se a obrigação. Caberá pedido de perdas e danos apenas se (i) as partes convencionaram essa responsabilidade, se (ii) a lei prevê essa responsabilidade ou se (iii) o devedor estiver em mora, quando da ocorrência do caso fortuito ou força maior, salvo se (nesse último caso) o devedor provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada. Prof. Arthur Lima a 00 31 de 158| www.direcaoconcursos.com.br DIREITO CIVIL No que tange à onerosidade excessiva, já estudamos que ela pode justificar a revisão do contrato. Também será possível resolver o contrato por onerosidade excessiva, caso em que os efeitos da sentença vão retroagir à data da citação em juízo, nos termos do art. 478 do CC
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