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Literatura Portuguesa Prosa Unidade II

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Unidade II
3 REALISMO/NATURALISMO EM PORTUGAL (1865-1890)
Figura 9 - Jean François Millet (1814-1875)- Les Glaneuses - As respingadeiras - 1854
Nessa pintura de Millet, podemos observar uma das principais características do Realismo: a 
preocupação em descrever cenas do cotidiano, de forma objetiva e detalhada. A idealização romântica 
é deixada de lado. Volte à Unidade I e compare essa pintura realista à pintura romântica. Observe não 
somente os temas, mas os detalhes de cada imagem. Nessa tela, não vemos a paixão romântica, a 
emoção a flor da pele e sim uma cena comum, ao gosto dos realistas.
 Observação
Jean François Millet e Gustave Courbet foram os primeiros pintores 
realistas franceses. Suas obras tratam geralmente de temas cotidianos e 
rurais.
 Saiba mais
 Para saber mais sobre as pinturas de Millet, acesse: <http://www.ibiblio.
org/wm/paint/auth/millet/>. Acesso em: 22 maio 2012.
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3.1 Contexto histórico e social
A segunda metade do século XIX foi marcada pelo Cientificismo, a valorização das ciências, e por 
uma demanda material e ideológica gerada pela Revolução Industrial. Surgem teorias positivistas que 
valorizam o progresso e o conhecimento científico. Com os novos modos de produção, surge uma 
grande massa de operários explorados e marginalizados: o proletariado. 
Assim, um novo cenário social se constrói: a pobreza tornou-se um problema associado à 
industrialização. Como o emprego era insuficiente, havia um grande número de camponeses perdidos 
nas grandes cidades, vivendo da mendicância. Infelizmente, essa é uma situação que ainda encontramos 
nos grandes centros urbanos.
 Novas teorias passaram a ser apreciadas e estudadas pelos escritores dessa época, que procuram 
aplicá-las em seus romances em uma postura mais engajada, repudiando a “ arte pela arte”. Vejamos 
algumas dessas teorias principais:
Positivismo: filosofia que propunha uma ciência mais objetiva, oposta ao idealismo, mais voltada 
para a razão. Um de seus principiais divulgadores foi Auguste Comte. 
O Positivismo é muito importante para entendermos não somente a literatura, mas também o 
posicionamento político de vários países. O lema de nossa bandeira, por exemplo, surge a partir de uma 
perspectiva positivista: “Ordem e progresso”.
Nem todos os escritores realistas apoiaram essa filosofia. Machado de Assis chega a zombar 
dessa visão objetiva na composição da personagem Quincas Borba e sua filosofia “humanistismo”. 
Esse personagem aparece inicialmente em Memórias póstumas de Brás Cubas e depois em seu 
livro homônimo.
 Saiba mais
Para saber mais sobre filosofia, Augusto Comte e o Positivismo, 
indicamos o site:
<http://www.mundodosfilosofos.com.br/comte.htm>. Acesso em: 22 
maio 2012.
Darwinismo ou evolucionismo: Charles Darwin publica em 1859 A origem das espécies, composto 
por teorias que colocam em jogo crenças religiosas. Na natureza, somente quem consegue se adaptar 
ao meio, consegue sobreviver, é a lei da seleção natural. 
As teorias de Darwin até hoje são discutidas, aceitas ou refutadas. Em Portugal, um país em 
que a Igreja Católica e seus valores sempre se sobressaíram, tais ideias trouxeram um considerável 
impacto.
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LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
 Saiba mais
Para maiores informações sobre o evolucionismo, acesse o seguinte site:
<http://www.infopedia.pt/$evolucionismo>. Acesso em: 22 maio 2012.
Socialismo utópico: Proudhon constrói as bases do pensamento socialista com suas publicações 
nos jornais e a obra Filosofia do progresso, em 1835.
Determinismo: Hipólito Taine (1823-1893) foi um dos principais teóricos do Realismo e Naturalismo. 
Segundo ele, a obra de arte deveria demonstrar que o homem é determinado pela herança, pelo meio e 
pelo ambiente em que vive, ou seja, um produto desses fatores, sem qualquer livre-arbítrio. Veja a seguir 
um fragmento sobre Taine, tirado do site da Universidade Técnica de Lisboa.
Taine, Hippolyte Adolphe (1823-1893) 
 
Raça, meio, momento 
Fundador do naturalismo, em nome da trilogia race, milieu, moment (raça, 
meio, momento). Porque há um conjunto de caracteres biológicos transmitidos 
hereditariamente porque as tradições, as crenças, os hábitos mentais e as instituições 
modelam os indivíduos; porque há sempre um conjunto de circunstâncias que 
desencadeiam a acção. (...) Entende por raça, o conjunto das características hereditárias 
imprimidas pela família às gerações seguintes. Neste sentido distingue raças superiores 
e inferiores. Nas primeiras, a raça ariana, o espírito inteiro, tomado pelo belo e pelo 
sublime que concebe um modelo ideal capaz, por sua nobreza e sua harmonia, de 
conquistar para si a ternura e o entusiasmo do género humano. Já nas inferiores 
coloca os semitas, onde falta a metafísica, porque o espírito é muito tenso e inteiro… o 
homem reduz-se ao entusiasmo lírico, à paixão irrefreável, à acção fanática e limitada 
Fonte: <http://www.iscsp.utl.pt/~cepp/autores/franceses/1823._taine.htm>. Acesso em: 11 jul. 2011.
Vale ressaltar que Taine não influenciou somente a literatura. Sua distinção entre raças 
superiores e inferiores foi utilizada em diversas políticas antissemitas, contra os judeus, como o 
nazismo, por exemplo.
Economicamente, destacamos o acirramento da Revolução Industrial, o que muda não somente o 
painel econômico, mas também o social da Europa e de suas colônias. Como já dissemos, com os novos 
modos de produção, surge uma grande massa de operários explorados e marginalizados. 
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Os artistas dessa época passaram a adotar uma visão mais objetiva da realidade, por meio do uso da 
razão, e pautada na sociedade.
Em Portugal, a crise é no setor agrário. Camponeses, soldados e a pequena burguesia se revoltam. 
Houve uma rebelião de soldados em 1847 conhecida como Patuleia (algo como pata ao léu, tudo de 
pernas para o ar) que só pode ser reprimida com intervenção dos espanhóis e ingleses, o que demonstra 
a total dependência do país, assim como uma monarquia enfraquecida.
Em 1851, por meio de um golpe político, o marechal Saldanha institui a monarquia parlamentarista 
(nos moldes ingleses) e se inicia o período de Regeneração (1851-1910), no qual, como o nome designa, 
propunha-se a “regeneração de Portugal.” Os partidos no poder eram constantemente mudados, 
principalmente em momentos de crise, cabendo-lhes a culpa dos problemas, e não do El-rei que ficava 
salvaguardado. 
Havia uma política econômica desenvolvimentista que beneficiava a concentração de renda nas 
mãos dos proprietários da terra.
 Nesse período, Portugal teve cinco reis (D. Fernando II, D. Pedro V, D. Luís I, D. Carlos I e D. Manuel II) 
até se instituir a República, em 5 de outubro de 1910.
3.2 A produção literária
O Realismo é de origem francesa, inicialmente nas artes plásticas com as obras realistas de Gustave 
Courbet que chocaram os românticos. Em 1857, Gustave Flaubert publica Madame Bovary. Dez anos 
depois, Émile Zola publica Thérèse Raquin que dá origem ao extremismo realista, o Naturalismo, mas sua 
obra-prima é o livro Germinal de 1885.
Antes de falarmos do Realismo na Literatura Portuguesa, é necessário falar um pouco mais desses 
dois grandes romancistas franceses que influenciaram a literatura universal.
 Observação
Gustave Courbet foi um famoso pintor realista francês que se preocupou 
em retratar cenas do cotidiano,buscando ser fiel a realidade que o cercava.
Retratou em suas telas as cenas do cotidiano dos trabalhadores das 
classes pobres da sociedade, destacando-se pelos traços fortes e detalhistas 
das figuras.
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Figura 10 - Gustave Courbet - La Falaise d’après l’Etrerat orage, 1869. Museu d’ Orsay- Paris
 Saiba mais
Veja a apresentação em slides sobre a obra de Gustave Courbet. Disponível 
em: <http://www.slideshare.net/hcaslides/gustave-courbet-1498235>. Acesso 
em: 5 jul. 2011.
Gustave Flaubert e Madame Bovary
Figura 11 - Gustave Flaubert
Flaubert foi um dos autores mais importantes do Realismo, influenciado pelas teorias científicas, 
pela Revolução Industrial e pela linha filosófica de Augusto Comte, o Positivismo. Ele levou à perfeição 
o ideal do romance realista de harmonizar a arte e a realidade. Sua obra se caracteriza pelo cuidado 
minucioso com a linguagem e pela estrutura do enredo. Influenciou toda uma geração de escritores, 
inclusive Eça de Queirós.
Seu romance de estreia foi Madame Bovary, um retrato crítico da hipocrisia da sociedade burguesa 
e romântica. A obra foi resultado de cinco anos de um trabalho minucioso. Em linhas gerais, o enredo gira 
em torno da história de Emma, uma moça sonhadora que se casa com um médico provinciano, Charles 
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Bovary. Sua vida é sem graça, ociosa, muito diferente de seus ideais. O marido é um simplório. Emma 
sente-se muito infeliz, repugna seu marido e, para fugir de sua vida medíocre, entrega-se ao adultério. 
Materialista e inconsequente, gasta o que não possui e envolve-se em dívidas absurdas. 
 Observação
Atualmente o termo “bovarismo” é utilizado para demonstrar a 
incapacidade de se lidar com o mundo real.
Veja a seguir um trecho do texto do professor Antônio Apolinário Lourenço a respeito dos 150 anos 
da publicação de Madame Bovary e sua influência na obra de Eça de Queirós:
Concretizaram-se, no ano há pouco terminado, cento e cinquenta anos sobre a 
publicação em livro de Madame Bovary, o genial romance de Flaubert. Estranhamente, a 
efeméride passou entre nós praticamente despercebida, apesar da enorme influência que 
essa obra e o seu autor exerceram sobre a literatura portuguesa, a partir do final do século 
XIX.
Para Eça de Queirós, em particular, Gustave Flaubert foi permanentemente um mestre 
e um modelo. Logo em 1871, quando o futuro autor d’Os Maias apresentou no Casino 
Lisbonense a sua conferência sobre o realismo na arte, com um discurso demasiado colado 
ao do livro de Proudhon intitulado Du principe de l’art et de sa destination sociale, os 
parágrafos mais originais foram justamente aqueles que dedicou a Madame Bovary. A 
conferência, como se sabe, é apenas conhecida pelos relatos da imprensa da época (neste 
caso, o Diário Popular de 15/06/1871).
Para exemplificar a doutrina do realismo, citou o Sr. Eça de Queirós Madame Bovary, o 
célebre livro de Gustave Flaubert, no qual o adultério tantas vezes cantado pelos românticos 
como um infortúnio poético que comove perniciosamente a susceptibilidade das almas 
cândidas, aparece-nos pela primeira vez debaixo da sua forma anatômica, nu, retalhado e 
descosido fibra a fibra por um escalpelo implacável. O efeito é surpreendente e terrível.
Constatamos, assim, que foi a leitura de Madame Bovary que fez Eça compreender 
a superioridade civilizacional e ética do Realismo sobre o Romantismo. Outros 
autores, como os irmãos Goncourt e Émile Zola, em França, sentiram, perante Madame 
Bovary, um deslumbramento idêntico ao de Eça. E enquanto Edmond et Jules de 
Goncourt criavam, com Germinie Lacerteux, uma espécie de Bovary das classes baixas, 
Zola procuraria, igualmente a partir do romance de Flaubert, desenhar o modelo 
técnico-narrativo do romance naturalista.
Fonte: LOURENÇO, Antônio Apolitário. “Os 150 anos de Madame Bovary”, in Jornal de Letras, 12 de Março de 2008. Fluc-Faculdade de 
Letras de Lisboa. Lisboa: 2008.
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LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
Observe que o tema do adultério já aparecia no Romantismo, mas como um infortúnio, um azar do 
destino. Já no Realismo, ele aparece de forma crua, direta.
 Saiba mais
Há três versões do filme Madame Bovary: dos diretores Jean Renoir 
[1933], Vincente Minelli [1949] e o mais recente, de 1991, com direção de 
Claude Chabrol.
 Veja um trecho do filme de Chabrol no vídeo:
<http://www.imdb.com/video/screenplay/vi3198616345/>. Acesso em: 
29 maio 2012.
Veja um trecho do filme de 1949, Disponível em: <http://vimeo.
com/24030702>. Acesso em: 29 maio de 2012.
Leia um trecho do romance em que Charles Bovary atende a um doente que machucara a perna, o 
pai de Emma. É a primeira vez que vê sua futura esposa:
Uma jovem, com um vestido de merino azul enfeitado com três folhos, apareceu à 
porta da casa, para receber mo o Sr. Bovary, e o fez entrar na cozinha, onde ardia um bom 
fogo. O almoço dos criados fervia ao redor em pequenas panelas de diferentes tamanhos. 
Algumas roupas úmidas secavam na lareira. A pá, as pinças e os foles, todos de proporções 
colossais, brilhavam como aço polido enquanto, ao logo dos muros, estendia-se uma 
abundante bateria de cozinha, onde se refletiam, de forma desigual, a chama clara do fogão 
juntamente com os primeiros raios do sol que entravam pelas vidraças. (...)
Charles surpreendeu-se com a brancura de suas unhas. Eram brilhantes, com extremidades 
finas mais limpas do que os marfins de Dieppe* e amendoadas. Suas mãos, contudo, não 
eram bonitas, não eram suficientemente pálidas, talvez, e um pouco secas nas falanges; 
eram demasiado longas também e sem suavidade nos contornos. O que tinha de belo eram 
os olhos: embora fossem castanhos, pareciam pretos, por causa dos cílios, e seu olhar atingia 
o interlocutor com franqueza e com uma cândida ousadia.
(FLAUBERT, 2010, p. 27-28.)
*Dieppe: cidade francesa
Notamos aqui algumas características realistas que veremos a seguir, como a descrição detalhada e 
a não idealização da mulher, como faziam os românticos. Emma parece uma pessoa comum, não uma 
deusa. Suas mãos não são bonitas, mas seus olhos possuem um certo mistério.
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 Observação
Quando Charles conhece Emma, ainda é um homem casado, mas esse 
fato não aparece na versão para o cinema.
Émile Zola e Germinal
Figura 12 - Emile Zola
Émile Zola foi o fundador e o principal representante do movimento literário naturalista. Inspirado 
na filosofia positivista e na medicina da época, Zola acreditava que a conduta humana é determinada 
pela herança genética, pela fisiologia das paixões e pelo ambiente, conforme vimos, trata-se do 
Determinismo de Taine. 
Zola afirmou no ensaio “O romance experimental” (1880), que o desenvolvimento dos personagens 
e das situações deve ser determinado de acordo com critérios científicos similares aos empregados 
nas experiências de laboratório. Para ele, a realidade deveria ser descrita de maneira objetiva, por mais 
sórdidos que pudessem parecer alguns aspectos.
A história de Germinal é baseada em fatos verídicos e retrata a primeira greve de mineiros no norte 
da França no final do século XIX. Zola viveu dois meses nessas minas de carvão para poder descrever 
fielmente o que acontecia. É a época da criação da I Internacional Operária, fundada com a participação 
de Karl Marx em Londres – momento de ebulição política, crise econômica, falências, miséria e fome na 
Europa.Veja um trecho retirado do primeiro capítulo, quando Etienne chega às minas para procurar 
emprego:
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LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
Como continuar assim pelos caminhos, sem destino, não sabendo sequer onde 
abrigar-se do vento frio? Sim, era de fato uma mina, os raros lampiões iluminavam 
o pátio, uma porta subitamente aberta permitira-lhe vislumbrar as fornalhas das 
caldeiras das máquinas envoltas numa claridade viva. Encontrava explicação até para 
o escapamento da bomba, essa respiração grossa e ampla, resfolegando sem descanso, 
e que era como a respiração obstruída do monstro.
O encarregado da descarga dos vagonetes, de costas curvadas, nem mesmo levantara os 
olhos para Etienne. No momento em que este ia apanhar seu pequeno embrulho que estava 
no chão, um acesso de tosse anunciou-lhe a volta do carroceiro. Lentamente ele surgiu do 
escuro, seguido pelo cavalo baio que puxava outros seis vagonetes cheios.
— Há fábricas em Montsou? — perguntou o rapaz.
O velho escarrou preto antes de responder em meio à ventania:
— Fábricas é o que não faltam. Você precisava ver há três ou quatro anos: tudo produzindo, 
faltava mão de obra, nunca se ganhou tanto. E, de repente, começa-se a apertar o cinto. 
Uma verdadeira desgraça cai sobre a região, o pessoal é despedido, as oficinas começam a 
fechar uma após outra. Talvez não seja culpa do imperador, mas que necessidade tem ele 
de ir lutar na América? E isso tudo sem contar os animais que morrem de cólera, como as 
pessoas.
(ZOLA, 2006 p. 4-5.)
Observamos o descritivismo, já existente no Realismo, mas de uma forma mais contundente. Aspectos 
escatológicos, como o homem cuspir, são comuns nessa estética.
 Saiba mais
Para contextualizar a época do Naturalismo, assista:
GERMINAL. Dir. Claude Berri. França, 158 minutos, 1993.
3.3 Questão Coimbrã
Em Portugal, o Realismo se inicia com a famosa Questão Coimbrã, que consistia em uma crise 
acadêmica em que diversos textos ofensivos foram trocados, de um lado os românticos, veteranos e 
mestres na academia, como o professor Antônio Feliciano de Castilho, de outro os rebeldes estudantes 
da Sociedade do Raio, fundada por Antero de Quental.
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Vale lembrar que o Realismo português foi bastante organizado, repleto de conferências e estudos 
sobre a estética. Nunca a literatura portuguesa conseguiu alcançar tal feito.
Havia as Conferências do Casino Lisbonense, repletas de discussões filosóficas. Participaram dessas 
conferências o poeta, folclorista e futuro presidente de Portugal, Teófilo Braga, e o famoso romancista 
Eça de Queirós, do qual trataremos nesta unidade.
A Questão Coimbrã se inicia a partir da publicação de uma carta de Antero de Quental, intitulada 
“Bom senso e bom gosto”, em 1865 em resposta ao professor Antônio Feliciano de Castilho.
Castilho havia escrito uma carta elogiando a obra de Pinheiro Chagas, O poema da mocidade, e 
criticando os jovens escritores. Tal carta foi utilizada como posfácio da primeira edição desse livro. Veja 
um trecho:
Muito há que me eu pergunto a mim donde proviria esta enfermidade que 
hoje grassa por tantos espíritos, de que até alguns dos mais robustos adoecem, 
que faz com que a literatura, e em particular a poesia, anda marasmada, com 
fastio de morte à verdade e à simplicidade, com o olhar desvairado e visionário, 
com os passos incertos, com as cores da saúde trocadas em carmins postiços... 
Deixando de parte, por agora, Braga e Quental, de que, pelas alturas em que 
voam, confesso, humilde e envergonhado, que muito pouco enxergo nem 
atino para onde vão, nem avento o que será deles afinal...” (CASTILHO,1865 
apud MOISÉS, 2008, p. 220-221. Destaques nossos).
Observemos que Castilho considera a nova tendência uma enfermidade, com uma poesia que 
nega a verdade e simplicidade, aspectos que, podemos concluir, são inerentes à poesia romântica. Cita 
nominalmente Teófilo Braga e Antero de Quental que, como líder da Sociedade do Raio, responde ao 
professor. Veja alguns trechos de Bom senso e bom gosto:
 
Não é traduzindo os velhos poetas sensualistas da Grécia e de Roma; 
requentando fábulas insossas diluídas em milhares de versos sem sabores; 
não é com idílios grotescos sem expressão nem originalidade, com alusões 
mitológicas que já faziam bocejar nossos avós; com frases e sentimentos 
postiços de acadêmico com visualidades infantis e puerilidades vãs; com 
prosas imitadas das algaravias místicas de frades estonteados; com 
banalidades; com ninharias; não é, sobretudo, lisonjeando o mau gosto e as 
péssimas ideias das maiorias, indo atrás delas, tomando por guia a ignorância 
e a vulgaridade, que se hão de produzir as ideias, as ciências, as crenças, os 
sentimentos de que a humanidade contemporânea precisa para se reformar 
como uma fogueira a que a lenha vai faltando (QUENTAL, 1865, p. 15).
São claras as referências à poesia romântica, considerando seus versos sem sabor, seus sentimentos 
postiços, falsos, pueris, infantis e vãos. Quental estava inspirado! Ao terminar sua carta, demonstra toda 
sua irreverência, dirigindo-se diretamente à figura de Castilho:
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LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
Concluo daqui que a idade não a fazem os cabelos brancos, mas a madureza 
das ideias, o tino e a seriedade: e, neste ponto, os meus vinte e cinco anos 
têm-me as verduras de v. ex.a convencido valerem pelo menos os seus 
sessenta. Posso, pois, falar sem desacato. Levanto-me quando os cabelos 
brancos de v. ex.a passam diante de mim. Mas o travesso cérebro que está 
debaixo e as garridas e pequeninas cousas, que sabem d’ele, confesso não 
me merecerem nem admiração nem respeito, nem ainda estima. A futilidade 
num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança. V. ex.a 
precisa menos cinquenta anos de idade, ou então mais cinquenta de reflexão.
E por estes motivos todos que lamento do fundo d’alma não me poder 
confessar, como desejava, de V.ex.a.
Coimbra 2 de novembro de 1865. Nem admirador nem respeitador (QUENTAL, 
1865, p. 15-16).
Veja que Quental não poupa críticas ao professor, chamando-o de infantil e fútil, negando-lhe a 
admiração e o respeito.
 Observação
 A partir dessa carta, muitas outras foram escritas por diversos 
intelectuais da época, uns se posicionaram ao lado dos românticos e outros 
ao lado dos realistas. 
 Saiba mais
As diversas cartas dessa polêmica podem ser encontradas no Google 
books:
<http://books.google.com>. Procurar:
Bom senso e bom gosto: carta ao [excellentissimo] senhor Antonio 
Feliciano por Antero de Quental.
3.4 Características gerais do Realismo
• Os artistas realistas assume uma postura mais engajada. Há o compromisso entre a arte e a realidade 
social. Contudo, a arte ainda assume um viés burguês, com os protagonistas advindos dessa classe.
• As obras possuem um embasamento teórico: determinismo, positivismo, evolucionismo e socialismo. 
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• Há uma crítica constante à educação romântica, como alienante e responsável por todos os 
problemas culturais da sociedade.
• A crítica ao conservadorismo da Igreja é uma temática constante, podemos encontrá-la na obra 
de Flaubert, Zola e Eça de Queirós.
• Em oposição ao Romantismo, os artistas realistas optam por uma visão objetiva da realidade.
• Os realistas preferem a representação da vida cotidiana à evasão romântica.
• Prevalece o uso da razão, não mais da emoção.
Como podemos observar,o Realismo é essencialmente antirromantismo. Faça uma tabela em uma 
folha avulsa, de um lado as características do Romantismo, do outro as características do Realismo. Isso 
facilita na hora dos estudos.
Identificar uma obra romântica e uma obra realista não é tão simples assim. Há autores românticos 
que já apresentam características realistas, muitos escrevem obras de transição e perpassam por várias 
manifestações. Assim, não tente encaixar uma obra “à força” em alguma estética, analise-a como um 
todo, contexto e linguagem. 
O que é mesmo o Realismo?
Definir nem sempre é fácil, vejamos uma boa definição de Realismo, dada pelo escritor Eça de 
Queirós:
O Realismo é a negação da arte pela arte; é a proscrição do convencional, 
do enfático e do piegas. É a abolição da retórica considerada como arte 
de promover a comoção usando da inchação do período, da epilepsia da 
palavra, da congestão dos tropos. É a análise com o fito na verdade absoluta 
(QUEIRÓS, Eça apud MOISÉS, 2008, p. 231).
3.4.1 O romance realista e o romance naturalista
Didaticamente, consideramos, como vimos, que Gustave Flaubert inicia o Realismo e Émile Zola 
o Naturalismo. Contudo, a distinção entre essas duas tendências não é tão simples assim. Veremos 
as características dos romances dessa época de forma generalizada, para depois apresentar algumas 
especificidades.
 Lembrete
Madame Bovary, de Gustave Flaubert marca o início do Realismo na 
França em 1857. Dez anos mais tarde, Thérese Raquin, de Émile Zola, marca 
o início do Naturalismo.
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Citando o professor Massaud Moisés:
O romance passa a ser no Realismo obra de combate, arma de ação 
transformadora da sociedade burguesa dos fins do século XIX. Torna-se 
instrumento de ataque e demolição, por um lado, e de defesa de ideais 
filosóficos e científicos, por outro (MOISÉS, 2008, p. 189).
Como podemos observar, os romancistas não se preocupam mais em enaltecer os valores burgueses, 
ou mesmo idealizar uma realidade como os românticos faziam, mas, ao contrário, criticam tudo que era 
subjetivo e pretendiam descrever a realidade como ela era.
O romance passa a ser um espaço de experimentação das novas teorias científicas, é o que 
chamamos de Romance de Tese, ou seja, o artista procura aplicar os novos conceitos na construção de 
suas personagens, como se fossem cobaias em um laboratório.
Há entre os romances realistas e naturalistas muitos pontos de contato. Vale dizer que o Realismo 
surgiu antes, o Naturalismo depois. Assim, o Naturalismo é uma nova versão, bem semelhante, mas 
extremamente exagerada. Para o Naturalismo, o homem é um ser natural, e como tal é guiado por seus 
instintos, principalmente nas questões sexuais.
No livro Théresè Raquin, que é tido como o marco do Naturalismo francês, vemos personagens 
movidas por seus desejos, instintivamente, sem qualquer reflexão.
A relação amorosa entre Thérese e Laurent, os protagonistas da história, chega a ser doentia:
Leia um trecho do prefácio:
Em Thérèse Raquin, eu quis estudar temperamentos e não caracteres. Aí está 
todo o livro. Escolhi personagens soberanamente dominados pelos nervos e 
pelo sangue, desprovidos de livre arbítrio, arrastados em cada ato de suas 
vidas pelas fatalidades da própria carne. Thérèse e Laurent são animais 
humanos, nada mais. Procurei acompanhar nesses animais o trabalho surdo 
das paixões, as violências do instinto, os desequilíbrios cerebrais ocorridos 
na sequência de uma crise nervosa. (…) A alma está absolutamente ausente, 
concordo perfeitamente, uma vez que eu quis assim (ZOLA, 2001, p. 10. 
Destaques nossos).
 Em destaque, nas palavras do próprio Zola, os protagonistas são tratados como animais humanos, 
sem alma, somente guiados pelo instinto. É um livro que, pessoalmente, causou-me angústia devido aos 
aspectos repugnantes.
Podemos dizer que nos romances realistas, o autor mostra a ferida, as mazelas da sociedade, já o 
autor naturalista disseca essa ferida. As cenas de adultério são mostradas sutilmente pelo realista, como 
se fechasse as cortinas do quarto dos amantes. O naturalista abre as cortinas e descreve a cena em 
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pormenores. Os aspectos científicos são levados ao extremo, os vícios das personagens são analisados 
como casos patológicos, doentios.
 Observação
No Brasil, há uma distinção mais nítida entre essas duas estéticas. 
Podemos dizer que Machado de Assis não seguiu a estética naturalista, 
sendo um realista. Já Aluísio de Azevedo, em O Cortiço, segue o 
Naturalismo. 
 Saiba mais
Leia o artigo “O Realismo e o Naturalismo: uma questão de terminologia”, 
de Patrícia Alves Carvalho Correa, do XIV Congresso Nacional de Linguística 
e Filologia, Tomo IV, p. 3042 a 3045, disponível no site <http://www.filologia.
org.br/xiv_cnlf/tomo_4.html>. Acesso em: 23 maio 2012.
As características a seguir podem ser encontradas nas duas vertentes, tanto Realista como Naturalista:
• A linguagem utilizada é objetiva, culta e direta.
• As descrições são detalhadas e a adjetivação objetiva com o intuito de captar o real.
• A mulher não é idealizada, diferenciado-se da heroína romântica.
• O amor é subordinado aos interesses sociais. Não há amor verdadeiro. O casamento é um contrato 
de interesses e conveniências, ocorrendo, portanto, vários casos de adultério.
• O herói e a heroína são fracos, cheio de manias e incertezas.
• A narrativa costuma ser lenta.
• As personagens são trabalhadas psicologicamente. Contudo, com maior frequência nas obras 
realistas.
 Lembrete
Lembre-se, nem sempre é tão fácil distinguir uma obra romântica de 
uma obra realista. 
Quanto ao fato de uma obra ser realista e naturalista, as distinções são 
mais tênues.
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3.5 Eça de Queirós
Figura 13 – Eça de Queirós
José Maria Eça de Queirós (1845-1900) nasceu na Póvoa de Varzim e faleceu em Paris. 
Estudou Direito na Universidade de Coimbra, tornando-se amigo de Antero de Quental, 
entre outros. Participou nas Conferências do Casino e é um dos artistas da Geração de 
70. Foi nomeado cônsul, tendo viajado pelo Egito, Cuba, Londres e Paris. Das suas obras, 
destacam-se Uma campanha alegre (1871), O crime do padre Amaro (1875-1876), O 
primo Basílio (1878), A relíquia (1887), Os Maias (1888), A ilustre casa de Ramires (1900), 
A correspondência de Fradique Mendes (1900), A cidade e as serras (1901-postumamente), 
Contos (1902) e Prosas Bárbaras (1903). Traduziu o romance de Rider Haggard, As minas de 
Salomão. É considerado um dos maiores romancistas portugueses do século XIX.
Seu estilo é marcado pela crítica e pela ironia. 
Fonte: <http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/queiros.htm>. Acesso em: 23 maio 2012.
 Saiba mais
Para saber mais sobre Eça de Queirós e suas obras, acesse os seguintes 
sites:
Vidas lusófonas: <http://www.vidaslusofonas.pt/eca_de_queiros.htm>.
E
Fundação Eça de Queirós: <http://www.feq.pt/eca_de_queiroz.html>. 
Acesso em: 29 maio de 2012.
Eça de Queirós foi um êxito no Brasil, mesmo em vida, lido pelos brasileiros enquanto romancista 
e também cronista pela ampla colaboração feita a jornais brasileiros, em especial para a Gazeta de 
Notícias nodo Rio de Janeiro. Escritores brasileiros ilustres como Manuel Bandeira, Machado de Assis, 
José Lins do Rego, Olavo Bilac e Graciliano Ramos foram leitores de Eça. O autor tem sido lido, relido e 
estudado durante mais de 100 anos, sinal da atualidade e dimensão artística da obra queirosiana.
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No século XIX, os intelectuais migravam entre a literatura e o jornalismo, sendo a imprensa um 
espaço de experimentação e uma vitrine para grandes escritores:
Eça de Queirós construiu no Brasil, através de suas colaborações jornalísticas 
e de sua obra de ficção, a imagem do iconoclasta que demolia monumentos e 
instituições passadiças - uma ação reformadora (...) feita através de palavras 
e argumentos. (...) Para seus leitores brasileiros, firmou-se cada vez mais a 
convicção de que sua obra mostrava uma realidade também brasileira e o 
caráter de intervenção do programa literário de Eça seria extensível ao país 
(ABDALA JR., 2008, p. 97).
O professor ainda diz que as influências de Eça podem ser sentidas nos romances dos anos 30, como 
nas obras de Graciliano Ramos:
A influência da obra de Eça em nossa literatura não foi grande nem sensível, 
como vejo tanta gente afirmar. Sobre o público, sim, foi imensa. O povo 
recebia cada romance do grande ironista avidissimamente, e compreendia e 
amava. Os literatos, porém, eram todos do tipo de Afrânio Peixoto, criaturas 
impermeáveis, que não sentiam Eça por deficiência deles mesmos, não 
do romancista. Os leitores de A ilustre casa de Ramires eram o povo e os 
que com ele se comunicavam diretamente, os jornalistas. Eça melhorou o 
pensamento do povo, da imprensa, as ideias correntes. O seu estilo influiu 
principalmente no jornal. As elites não o perceberam quase. Eram os moços 
que compreendiam a sua obra e a sua imensa significação (ABDALA JR., 
2008, p. 254).
Segundo Benjamin Abdala Júnior, a obra de Eça e Queirós pode ser dividida em 3 fases:
1ª fase: Neorromântica, composta de algumas notas marginais.
2ª fase: Realista-naturalista, em que se destacam O crime do padre Amaro, O primo Basílio e Os 
Maias.
3ª fase: Afastamento do Naturalismo, com destaque para A ilustre casa de Ramires e A cidades e as 
serras. Interessante notar que o romancista insere uma certa “fantasia”, como fica evidente nessa sua 
última obra, em que Jacinto dispõe de excêntricas modernidades.
Quanto a essa última face, Abdala Júnior completa:
Não temos mais o ceticismo irônico dos romances naturalistas, nem mesmo 
a insatisfação melancólica das narrativas da primeira fase. Ao invés do 
pessimismo problemático, afirma-se o otimismo fácil, que deixaria satisfeito 
qualquer político da monarquia constitucional portuguesa, que o escritor 
anteriormente tanto criticara (ABDALA JR., 1985, p. 114).
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Ao comentar a última fase de Eça de Queiros, o professor Abdala Jr. faz uma breve síntese de três 
momentos tão importantes na produção desse grande escritor. Eça passa de uma melancolia, para o 
pessimismo até alcançar o otimismo. Há quem conteste que seja realmente um otimismo, mas mais uma 
esperança, ou mesmo um vislumbre ao final da vida.
Vejamos a seguir um breve resumo das principais obras.
 Lembrete
Os exercícios e as questões das provas serão em sua maioria sobre O 
primo Basílio, uma vez que essa tem sido a obra mais lida pelos alunos do 
Ensino Médio e você, como futuro professor, provavelmente irá trabalhá-la. 
Contudo, não deixe de ler as outras obras desse grande escritor.
3.5.1 O crime do Padre Amaro 
Figura 14 – Eça de Queirós. GUERREIRO, Inês. Publicado na revista “Atlântico”, 3º série, nº 2
Esse romance, cuja primeira versão data de 1875 causou um grande escândalo, pois se coloca contra 
o clero. Passa-se em Leiria, onde o padre Amaro Vieira, ingênuo e facilmente influenciável, assume 
sua paróquia. Envolveu-se sexualmente com Amélia, uma moça simples que catequizava as crianças 
da redondeza. Amaro conhece, então, o cinismo de seus colegas, que em nada estranham sua relação 
com a jovem. Havia outros padres que também tinham suas amantes. Grávida, Amélia morre no parto e 
Amaro entrega a criança a uma “tecedeira de anjos”. A criança também morre e Amaro, agora um cínico 
descarado, prossegue com sua carreira. Eça escreveu mais duas versões dessa obra, procurando tirar os 
episódios mais agressivos, principalmente após a crítica de Machado de Assis, que aparece na íntegra ao 
final desta unidade.
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Há um filme mexicano bastante interessante, que apresenta uma versão 
atualizada e original.
O crime do padre Amaro. Dir.: Carlos Carrera. México, 118 minutos, 
2002.
Veja o trailer do filme em: <http://www.imdb.com/title/tt0313196/>. 
Acesso em: 29 maio 2012.
3.5.2 Os Maias
Esse livro tem como subtítulo “Episódios da Vida Romântica” e narra a saga da família dos 
Maias, na qual ocorrem traições, incesto e suicídio. É considerado por muitos como a obra-prima 
de Eça de Queirós. Em seu enredo, o jovem Carlos da Maia se apaixona por sua irmã Maria Eduarda 
sem saber, pois haviam sido separados desde a infância. Há uma crítica incisiva sobre a sociedade 
portuguesa, principalmente a aristocracia decadente, à qual tinha como patriarca Afonso da Maia, 
avô de Carlos.
 Lembrete
Houve uma adaptação em forma de minissérie para televisão. Contudo, 
vale lembrar que a minissérie é uma adaptação, diferindo da obra original, 
apresentando, inclusive, trechos de outras obras, como A relíquia.
3.5.3 A cidade e as serras 
Veja o contraste das imagens a seguir. A primeira representa “A cidade” do título, no caso Paris no 
final do século XIX.
A segunda, apesar de ser uma fotografia atual, representa “As serras”, a região de Tormes em que o 
protagonista Jacinto passa a viver em uma vida bucólica, em contraste com a vida moderna de homem 
“civilizado” na grande Paris.
Esse contraste entre campo e cidade é bastante comum na literatura. Temas como fugere urbem 
(fuga da cidade) ou mesmo locus amoenus viraram clichês árcades. Contudo, as questões suscitadas 
nessa obra vão além dessa comparação simplista. As buscas pela harmonia e por certa convivência 
pacífica dão o tom ao enredo.
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Figura 15 – Paris, século XIX. Foto tirada em Monmatre - Paris
Figura 16 - A Fundação Eça de Queirós fica na cidade de Tormes- Portugal
Esse romance foi publicado após a morte de Eça de Queirós. Seu foco narrativo é interessante, o 
narrador em primeira pessoa não é o protagonista, é o que chamamos de narrador-testemunha. O 
narrador José Fernandes conta as peripécias e atribulações de Jacinto de Tormes, fidalgo português 
nascido em Paris: 
Pois é verdade, meu Zé Fernandes, aqui estamos, como há sete anos, neste 
velho Paris...
Mas eu não me arredava da mesa, no desejo de completar a minha iniciação:
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— Oh Jacinto, para que servem todos estes instrumentozinhos? Houve já aí 
um desavergonhado que me picou. Parecem perversos... São úteis?
Jacinto esboçou, com languidez, um gesto que os sublimava. 
— Providenciais, meu filho, absolutamente providenciais, pela simplificação 
que dão ao trabalho!
Assim... E apontou. Este arrancava as penas velhas; o outro numerava 
rapidamente as páginas de um manuscrito; aqueloutro, além, raspava 
emendas... (QUEIRÓS, 2009, p. 28).
Observe que a narração é em primeira pessoa, mas o protagonista da história é Jacinto, um milionário 
e um homem culto, que se cercava de luxo e de inúmeros amigos influentes e superficiais.
No 202, todas as manhãs, às nove horas, depois do meu chocolate e aindaem chinelas, penetrava no quarto de Jacinto. Encontrava o meu amigo 
banhado, barbeado, friccionado, envolto num roupão branco de pelo de 
cabra do Tibete, diante da sua mesa de toilette, toda de cristal, (por causa 
dos micróbios) e atulhada com esses utensílios de tartaruga, marfim, prata, 
aço e madrepérola que o homem do século XIX necessita para não desfeiar 
o conjunto sumptuário da Civilização e manter nela o seu tipo (QUEIRÓS, 
2009, p. 33).
Mas sua vida era entediante, sem graça. Nada lhe dava prazer. Certo dia, precisou viajar para 
Portugal para reformar o cemitério de seus antepassados na propriedade rural de Tormes. Em um 
primeiro momento, Jacinto sente-se perturbado a ter que viver no campo e abandonar os confortos da 
civilização. Contudo, aos poucos, apaixona-se pela vida no interior, casa-se e se torna um homem feliz, 
sem abandonar alguns privilégios da civilização. 
É uma clara defesa do retorno de Portugal às origens rurais. Eça faz as pazes com sua terra natal. Veja 
esse trecho do último capítulo:
Em fila começamos a subir para a serra. A tarde adoçava o seu esplendor 
de estio. Uma aragem trazia, como ofertados, perfumes das flores silvestres. 
As ramagens moviam, com um aceno de doce acolhimento, as suas folhas 
vivas e reluzentes. Toda a passarinhada cantava, num alvoroço de alegria 
e de louvor. As águas correntes, saltantes, luzidias, despediam um brilho 
mais vivo, numa pressa mais animada. Vidraças distantes de casas amáveis, 
flamejavam com um fulgor de ouro. A serra toda se ofertava, na sua beleza 
eterna e verdadeira. E, sempre adiante da nossa fila, por entre a verdura, 
flutuava no ar a bandeira branca, que o Jacintinho não largava, de dentro 
do seu cesto, com a haste bem segura na mão.
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Era a bandeira do Castelo, afirmara ele. E na verdade me parecia que, por 
aqueles caminhos, através da natureza campestre e mansa – o meu Príncipe, 
atrigueirado nas soalheiras e nos ventos da serra, a minha prima Joaninha, 
tão doce e risonha mãe, os dois primeiros representantes da sua abençoada 
tribo, e eu –, tão longe de amarguradas ilusões e de falsas delícias, trilhando 
um solo eterno, e de eterna solidez, com a alma (QUEIRÓS, 2009, p. 283. 
Destaques nossos).
Observe como a serra é descrita em toda sua beleza e plenitude. O Príncipe, Jacinto, está mais 
moreno, casado com Joaninha, feliz passeando com seu filho. As “amarguradas ilusões e falsas delícias” 
são uma referência à vida que Jacinto tinha junto à Civilização.
 Saiba mais
Veja o documentário sobre A cidade e as serras, Disponível em: <http://
videos.sapo.pt/jCKgLUeNNi3pN6lS0ahC>. Acesso em: 29 maio 2012.
Entre também no site da Fundação Eça de Queiroz:
<http://www.feq.pt/>.
3.5.4 O primo Basílio 
Veja a seguir um retrato da cidade de Lisboa no século XIX, prédios baixos, ruas sem asfalto, animais 
passeando entre os homens. Se compararmos com a pintura de Paris nessa época, podemos considerar 
que os contrastes entre os dois países era bastante significativo. Pois é nessa Lisboa provinciana que se 
desenvolve o enredo de O primo Basílio.
Figura 16 - Lisboa, vista panorâmica da Baixa-finais do séc. XIX - princípio do séc. XX 
Vista da Praça de D. Pedro IV tirada do elevador de Santa Justa. Fotografia, José Artur Leitão Bárcia 
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A obra de Eça de Queirós é extensa e seus livros são verdadeiras obras-primas. Falaremos mais 
longamente de O primo Basílio, já que é um dos livros mais conhecidos no Brasil, cobrado em vestibulares 
e estudado pelos alunos do Ensino Médio. Faremos alguns comentários sobre essa obra e suas principais 
características realistas-naturalistas.
 Lembrete
Você pode assistir ao filme O primo Basílio, contudo, o filme não substitui 
a leitura do livro já que se trata de uma adaptação bem modificada e não 
corresponde fielmente à obra de Eça de Queirós.
Nessa obra, como em outras, percebe-se a crítica social como principal característica. O alvo principal 
da crítica, nessa obra, é a família lisboeta como “produto do namoro, reunião desagradável de egoísmos 
que se contradizem”. Ela foi inspirada em Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Há várias semelhanças 
no enredo, contudo, as obras se diferenciam principalmente pelo tom irônico de Eça, pela maneira 
caricatural e debochada que constrói as personagens. Além do que, O primo Basílio apresenta também 
características naturalistas.
Eça de Queirós compõe um pequeno quadro doméstico e familiar, típico da pequena burguesia de 
Lisboa da época: Luísa, uma jovem senhora sentimental, de educação romântica, de temperamento 
exaltado, fruto da ociosidade e da falta de disciplina moral; seu primo Basílio, um amante baixo e imoral, 
sedento de aventuras e amores frívolos; Juliana, uma criada revoltada com a sua situação, sedenta de 
vingança. Jorge, o marido medíocre, pouco romântico. 
 Saiba mais
Conheça a minissérie O primo Basílio, de 1988. Disponível em: <http://
memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYN0-5273-235957,00.
html>. Acesso em: 29 maio 2012.
Para os realistas, o casamento é uma mera conveniência. Jorge casa-se “no ar” como diz seu 
amigo Sebastião. Não há paixão, há apenas comodidade. Veja que interessante trecho, logo no 
primeiro capítulo:
Conheceu Luísa, no verão, à noite, no Passeio. Apaixonou-se pelos seus 
cabelos louros, pela sua maneira de andar, pelos seus olhos castanhos 
muito grandes. No inverno seguinte foi despachado, e casou. Sebastião, o 
seu íntimo, o bom Sebastião, o Sebastiarrão, tinha dito, com uma oscilação 
grave da cabeça, esfregando vagarosamente as mãos:
— Casou no ar! Casou um bocado no ar!
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Mas Luísa, a Luisinha, saiu muito boa dona de casa; tinha cuidados muito 
simpáticos nos seus arranjos; era asseada, alegre como um passarinho, como 
uma passarinha amiga do ninho e das carícias do macho; e aquele serzinho 
louro e meigo veio dar à sua casa um encanto sério.
— É um anjinho cheio de dignidade! — dizia então Sebastião, o bom Sebastião, 
com a sua voz profunda de basso.
Estavam casados havia três anos. Que bom que tinha sido! Ele próprio 
melhorara; achava-se mais inteligente, mais alegre... E recordando aquela 
existência fácil e doce, soprava o fumo do charuto, a perna traçada, a alma 
dilatada, sentindo-se tão bem na vida como no seu jaquetão de flanela! 
(QUEIRÓS, 2002, p. 17).
Observe o tom irônico de Eça de Queirós. Sabemos que Luísa trairá seu marido, assim, quando 
o autor a chama de “serzinho louro e meigo” chega a ser cômico. Para Jorge, o casamento e o 
jaquetão de flanela equiparam-se e lhe dão o mesmo conforto, ou seja, o casamento não passa 
de uma conveniência.
Como tese, o autor quer nos demonstrar que Luísa trai seu marido devido à sua formação romântica, 
às suas leituras açucaradas, à sua formação sem moral, sem disciplina.
Luísa lia Dama das camélias, romance romântico de Alexandre Dumas Filho. Nesta obra são mostrados 
somente os aspectos prazerosos da traição, a luxúria e paixão, e não suas consequências ou condenações 
morais e religiosas. Como se fosse “chique” ter uma amante. 
 O romance e a peça Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho passa ser leitura frequente entre 
a burguesia. Margarida Gautier tornou-se um símbolo do amor romântico. Cortesã, mulher de muitos 
amantes, ao se apaixonar se purifica e acaba por morrer diante da impossibilidade de seu amor.
 O livro Lucíola de José de Alencar baseia-se nessa obra.
Vejamos um trecho em que Luísa lê Dama das camélias:Era a Dama das camélias. Lia muitos romances; tinha uma assinatura, na 
Baixa, ao mês. Em solteira, aos dezoito anos entusiasmara-se por Walter 
Scott e pela Escócia; desejara então viver num daqueles castelos escoceses, 
que têm sobre as ogivas os brasões do clã, mobiliados com arcas góticas 
e troféus de armas, forrados de largas tapeçarias, onde estão bordadas 
legendas heroicas... (QUEIRÓS, 2002, p. 20). 
Observe como Luísa é sonhadora. Dizemos que se Luísa tivesse lido Madame Bovary ao invés de 
Dama das camélias, provavelmente não teria traído seu marido.
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Na construção de Luísa, podemos observar a teoria de Taine sendo colocada em prática: o 
Determinismo. Luísa, assim como Juliana, é um produto do meio em que vive, ela não tem escapatória.
Vejamos o trecho que comprova as características deterministas da obra. No capítulo III, encontramos 
uma composição gloriosa do caráter de Juliana:
Servia, havia vinte anos. Como ela dizia, mudava de amos, mas não mudava 
de sorte. Vinte anos a dormir em cacifos, a levantar-se de madrugada, a 
comer os restos, a vestir trapos velhos, a sofrer os repelões das crianças e 
as más palavras das senhoras, a fazer despejos, a ir para o hospital quando 
vinha a doença, a esfalfar-se quando voltava a saúde!... Era demais! Tinha 
agora dias em que só de ver o balde das águas sujas e o ferro de engomar se 
lhe embrulhava o estômago. Nunca se acostumara a servir. Desde rapariga a 
sua ambição fora ter um negociozito, uma tabacaria, uma loja de chapelista 
ou de quinquilharias, dispor, governar, ser patroa; mas, apesar de economias 
mesquinhas e de cálculos sôfregos, o mais que conseguira juntar foram sete 
moedas ao fim de anos; tinha então adoecido; com o horror do hospital fora 
tratar-se para casa de uma parenta; e o dinheiro, ai! derretera-se! (QUEIRÓS, 
2002, p. 61).
Vocabulário
Fazer despejos: esvaziar os penicos dos patrões, jogando os dejetos em uma fossa.
 Lembrete
Determinismo: o homem é determinado pela raça, meio e momento.
Muitos críticos consideram Juliana como a personagem mais complexa e bem construída por Eça de 
Queirós. Sentindo-se humilhada por toda uma vida, ao ter as cartas de Luísa e Basílio em mãos (provas 
do adultério), aproveita a oportunidade para se vingar de todas suas patroas.
Cuidado, não podemos dizer que há luta de classes ou que o socialismo é defendido por Eça. Juliana 
não lutava pelo direito das empregadas domésticas ou pela igualdade, o que ela queria mesmo era 
tornar-se uma pequena burguesa, uma patroa como Luísa.
O Positivismo de Comte também pode ser verificado. Eça nos mostra um país atrasado, cheio de 
crendices, longe do progresso, assim, resvalando na lama. Tudo isso representado por suas personagens.
 Lembrete
Positivismo: só a ciência leva ao progresso.
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O detalhismo é outra característica do estilo queirosiano. O autor é bastante detalhista, suas 
descrições são longas e pormenorizadas. Sua intenção ao descrever uma sala, por exemplo, é construir 
a personalidade das pessoas que ali se apresentam. Veja esse trecho em que Luísa ruma ao encontro de 
seu amante Basílio e é abordada pelo Conselheiro Acácio. Os dois ficam conversando em frente a uma 
confeitaria:
Estavam parados ao pé da Confeitaria. Na vidraça, por trás deles 
emprateleirava-se uma exposição de garrafas de malvasia com os seus 
letreiros muito coloridos, transparências avermelhadas de gelatinas, 
amarelidões enjoativas de doces de ovos, e queques de um castanho-escuro, 
tendo espetados cravos tristes de papel branco ou cor-de-rosa. Velhas 
natas lívidas amolentavam-se no oco dos folhados; ladrilhos grossos 
de marmeladas esbeiçavam-se ao calor; as empadinhas de marisco 
aglomeravam as suas crostas ressequidas. E no centro, muito proeminente 
numa travessa, enroscava-se uma lampreia de ovos, medonha e bojuda, com 
o ventre amarelo asqueroso, o dorso malhado de arabescos de açúcar, a boca 
escancarada... (QUEIRÓS, 2002, p. 101).
Vocabulário
Lampreia: parasita, assemelha-se a uma lesma.
Malvasia: bebida.
Queques: doces.
Note a descrição detalhada, repleta de pormenores. Eça, ao descrever a confeitaria, de forma grotesca 
e exagerada, até naturalista, antecipa-nos o próximo episódio em que Luísa cometerá adultério.
Neste outro trecho, temos um bom exemplo de crítica social:
Sebastião, interpelado,corou, declarou que não entendia nada de política; 
havia todavia fatos que o afligiam: parecia-lhe que os operários eram mal 
pagos; a miséria crescia; os cigarreiros, por exemplo, tinham apenas de nove 
a onze vinténs por dia, e, com família, era triste... 
— É uma infâmia! — disse Julião encolhendo os ombros.
— E há poucas escolas... — observou timidamente Sebastião.
— É uma torpeza! — insistiu Julião.
(...)
Mas o Conselheiro interrompeu-o:
— Meus bons amigos, falemos de outra coisa. É mais digno de portugueses 
e de súditos fiéis (QUEIRÓS, 2002, p. 245). 
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Nesse diálogo, podemos observar a sociedade portuguesa da época. Havia problemas sérios, 
pessoas vivendo na miséria. Mas, hipocritamente, o Conselheiro Acácio, que se diz tão bom e 
patriota, recusa-se a falar sobre o assunto. Esse é um bom exemplo da crítica social feita por Eça 
de Queirós.
Além da crítica, podemos observar como característica de Eça de Queirós a ironia. As 
personagens são caricaturas, por vezes grotescas e engraçadas. Duas personagens exemplares 
são D. Felicidade, amiga da família e apaixonadíssima pelo Conselheiro Acácio, e Ernestinho, o 
primo de Jorge:
Dona Felicidade: 
Às nove horas, ordinariamente, entrava D. Felicidade de Noronha. 
Vinha logo da porta com os braços estendidos, o seu bom sorriso 
dilatado. Tinha cinquenta anos, era muito nutrida, e, como sofria de 
dispepsia e de gases, àquela hora não se podia espartilhar e as suas 
formas transbordavam. Já se viam alguns fios brancos nos seus cabelos 
levemente anelados, mas a cara era lisa e redonda, cheia, de uma alvura 
baça e mole de freira; nos olhos papudos, com a pele já engelhada em 
redor, luzia uma pupila negra e úmida, muito móbil; e aos cantos da 
boca uns pelos de buço pareciam traços leves e circunflexos de uma 
pena muito fina. Fora a íntima amiga da mãe de Luísa, e tomara aquele 
hábito de vir ver a pequena aos domingos (QUEIRÓS, 2002, p. 33).
Observe a descrição caricatural. As idealizações românticas são deixadas de lado, vemos uma mulher 
gorda, com bigodes, sofrendo de azia e gases.
D. Felicidade se diz religiosa e devota, mas vive de falsidades. Quando Juliana fica doente, D. Felicidade 
aconselha Luísa a mandá-la embora, para que não morra na casa. Como diria Eça, “como era generosa 
D. Felicidade!”.
Ernestinho:
Era primo de Jorge. Pequenino, linfático, os seus membros franzinos, ainda 
quase tenros, davam-lhe um aspecto débil de colegial; o buço, delgado, 
empastado em cera mostacha, arrebitava-se aos cantos em pontas afiadas 
como agulhas; e na sua cara chupada, os olhos repolhudos amorteciam-se 
com um quebrado langoroso. Trazia sapatos de verniz com grandes laços 
de fita; sobre o colete branco, a cadeia do relógio sustentava um medalhão 
enorme, de ouro, com frutos e flores esmaltados em relevo. Vivia com uma 
atrizita do Ginásio, uma magra, cor de melão, com o cabelo muito riçado, o 
ar tísico – e escrevia para o teatro. Tinha traduções, dos originais num ato, 
uma comédia... (QUEIRÓS, 2002, p. 37-38).
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Vocabulário
Mostacha: cera para bigodes, brilhantina.
Riçado: arrepiado, crespo.
Ernestinho é descrito com um ser ridículo. Alegoricamente, Eça concretiza nessa personagem o 
próprio Romantismo. Assim, como bom realista que era, Eça de Queirós é antirromântico, chegando ao 
extremo de considerar que todo o atraso em Portugal devia-se às idealizações românticas.
Teríamos muito mais para falar desse grande romancista português e suas obras.
Eça de Queirós soube compor como ninguém um quadro bastante completo da sociedade portuguesa do 
século XIX. Com uma crítica voraz, repleta de ironia e deboche, o autor aponta as mazelas de uma sociedade 
em crise, ludibriada pelos encantos do fim de século e vislumbrando um novo século, o século XX.
Veja a seguir uma caricatura sobre o livro, publicada na revista O Besouro, 1878. Uma outra madame, 
cujo nome não aparece, apresenta para o marido, um comendador, seu primo Quincas. O comendador 
faz cara de desconfiado e balbucia “hummm... hummm”. Interessante como a obra criou polêmica e até 
virou mote para o humor.
Figura 17 - Caricatura de O Primo Basílio. Gravura, R. Bordalo Pinheiro in O Besouro, v. 1, nº 2, 1878, p. 9
3.6 A crítica de Machado de Assis
Quanto às polêmicas criadas, podemos citar o texto publicado por Machado de Assis na revista 
O Cruzeiro em 1878, no qual faz duras críticas a O crime do Padre Amaro e a O primo Basílio, de Eça 
de Queirós. Há muito de verdade nessa crítica, contudo, Machado era contemporâneo de Eça e as 
novidades do Realismo e do Naturalismo, de certa forma, assustaram o escritor brasileiro. O exagero, o 
tom naturalista que Eça diversas vezes utiliza, é condenado, considerado por Machado como um traço 
grosso, rude e descabido:
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Talvez estes reparos sejam menos atendíveis, desde que o nosso ponto de 
vista é diferente. O Sr. Eça de Queirós não quer ser realista mitigado, mas 
intenso e completo; e daí vem que o tom carregado das tintas, que nos 
assusta, para ele é simplesmente o tom próprio (ASSIS, M. 1878).
Não estamos aqui para julgar o grande escritor Machado de Assis, contudo ele é um homem de seu 
tempo, com seus conceitos e preconceitos.
Machado também não compreende a tese de Eça. Considera que Luísa não tem consistência, o que 
é uma verdade, e que tese nenhuma é defendida, um erro, já que sabemos que Eça quer justificar o 
comportamento de Luísa por sua formação romântica, carente de moral. Ele propositalmente a faz de 
marionete nas mãos de Basílio e Juliana. Observe a ironia machadiana ao considerar que não há tese no 
romance: 
Se o autor, visto que o Realismo também inculca vocação social e apostólica, 
intentou dar no seu romance algum ensinamento ou demonstrar com ele 
alguma tese, força é confessar que o não conseguiu, a menos de supor que 
a tese ou ensinamento seja isto: A boa escolha dos fâmulos (criados) é uma 
condição de paz no adultério. A um escritor esclarecido e de boa fé, como 
o Sr. Eça de Queirós, não seria lícito contestar que, por mais singular que 
pareça a conclusão, não há outra no seu livro (ASSIS, M., 1878).
 Observação
É importante ressaltar que quando escreve essa crítica, Machado de 
Assis ainda está em sua fase romântica, pois consideramos, didaticamente, 
que o Realismo no Brasil se inicia com Memórias de Brás Cubas, em 1878. 
Essa obra, como Quincas Borba, de 1891, e Dom Casmurro, de 1899 já são 
realistas, colocando também, entre suas temáticas, o adultério.
Machado tece duras críticas ao Realismo praticado por Eça de Queirós, no caso o Naturalismo: 
condena veementemente essa faceta do escritor, considerando-o abominável, repleto de “perversões 
físicas”:
Ora, o tom é o espetáculo dos ardores, exigências e perversões físicas. Quando 
o fato lhe não parece bastante caracterizado com o termo próprio, o autor 
acrescenta-lhe outro impróprio. De uma carvoeira, à porta da loja, diz ele 
que apresentava a “gravidez bestial”. Bestial1 por quê? (ASSIS, M., 1878).
Ao final do texto, Machado defende o Romantismo, “a arte pura”, e condena severamente o 
Naturalismo, com seu “traço forte”. Todas as obras citadas pertencem ao Romantismo:
1 Bestial: grotesco, da besta. Atualmente, bestial quer dizer ótimo, fantástico (adjetivação positiva).
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A arte pura, digo eu, voltará a beber aquelas águas sadias do Monge de 
Cister2, do Arco de Sant’Ana3 e d’O Guarani4 .
 A atual literatura portuguesa é assaz rica de força e talento para podermos 
afiançar que este resultado será certo, e que a herança de Garrett5 se 
transmitirá intacta às mãos da geração vindoura (ASSIS, M., 1878).
Eça de Queirós não respondeu diretamente a essa crítica, mas realizou uma terceira versão de 
O crime do padre Amaro e passou a dar maior atenção à construção psicológica de suas personagens.
Ao final desta unidade, você encontrará a crítica de Machado de Assis. Leia-a com atenção, assim 
como O primo Basílio, e faça suas próprias reflexões. 
Destacamos os pontos mais importantes, sobre os possíveis plágios, o enredo sem verossimilhança, 
a construção pobre da personagem Luísa, o questionamento sobre a tese do romance, a condenação do 
Naturalismo e por último a valorização do Romantismo e seus autores.
Será O primo Basílio uma mera cópia de Madame Bovary? Lembre-se da ironia, do tom caricatural 
e do naturalismo de Eça, que não estão presentes na obra de Gustave Flaubert. Eça foi responsável pelo 
fortalecimento do romance português, gênero que praticamente não existia em Portugal. Seus modelos 
foram franceses, ele mesmo nos revela isso, mas são essencialmente portugueses, no trabalho com a 
linguagem, no uso da ironia, da caricatura e o quadro amplo da sociedade portuguesa, seu clero, sua 
aristocracia, sua pequena e alta burguesia.
4 APÓS O REALISMO-NATURALISMO
A geração dos realistas portugueses é conhecida como a Geração de 70, incluindo prosadores e 
poetas portugueses. Como ocorreu com as várias estéticas literárias, o Realismo e o Naturalismo também 
acabaram por se desgastar. 
No final do século XIX e primeiras décadas do século XX, surgem então alguns movimentos, ou 
simples manifestações artísticas, que anteciparão o Modernismo. Não as estudaremos nessa disciplina, 
pois seus grandes artistas destacam-se mais na poesia. Isso não significa que não surgiram romances de 
relevância e de qualidade literária após o Realismo, contudo, a prosa portuguesa, após Eça de Queirós, 
torna a se revitalizar somente nos anos de 1940 com o Neorrealismo que estudaremos na próxima 
unidade.
Para que você possa se localizar cronologicamente, podemos destacar que, após o Realismo/
Naturalismo, temos os seguintes movimentos, denominados didaticamente.
2 Monge de Cister - Obra de Alexandre Herculano.
3 Arco de Sant’Ana - Obra de Almeida Garrett.
4 Guarani - Obra de Gonçalves Dias.
5 Almeida Garrett - poeta ultrarromântico.
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Inicialmente temos o Simbolismo/Decadentismo (1890-1915). Destacam-se os grandes poetas 
Eugênio de Castro, António Nobre e Camilo Pessanha, sendo que este último influenciou significativamente 
a obra de Fernando Pessoa.
Simultaneamente, temos o Saudosismo (1910-1915), que não se constitui necessariamente em 
uma estética, mas sim em uma manifestação artística e um posicionamento intelectual. Destacam-se 
escritores como Teixeira Pascoaes e Mário Beirão. No início de sua carreira, Fernando Pessoa sentiu-se 
atraído pelo Saudosismo, publicando alguns de seus poemasna revista A Águia, representante desse 
período.
Em 1915, com a publicação da Revista Orpheu, com a participação efetiva de Mário de Sá Carneiro 
e nosso memorável Fernando Pessoa, temos o início do Modernismo em Portugal, que didaticamente é 
dividido em três fases, conforme nos apresenta o professor Massaud Moisés:
• Orfismo (1915-1927)
• Presencismo (1927-1940)
• Neorrealismo (1940-1974)
Continuaremos a próxima unidade a partir do Presencismo, sendo que os estudos sobre Orfismo, 
assim como do Simbolismo, serão tratados em Literatura Portuguesa: Poesia.
O Primo Basílio de Eça de Queirós
Crítica de Machado de Assis
Publicada na revista O Cruzeiro, 16 de abril de 1878.
Figura 18 - Machado de Assis
Um dos bons e vivazes talentos da atual geração portuguesa, o Sr. Eça de Queirós, 
acaba de publicar o seu segundo romance, O Primo Basílio. O primeiro, O crime do 
padre Amaro, não foi decerto a sua estreia literária. De ambos os lados do Atlântico, 
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apreciávamos há muito o estilo vigoroso e brilhante do colaborador do Sr. Ramalho 
Ortigão, naquelas agudas Farpas, em que, aliás, os dois notáveis escritores formaram 
um só. Foi a estreia no romance, e tão ruidosa estreia, que a crítica e o público, de mãos 
dadas, puseram desde logo o nome do autor na primeira galeria dos contemporâneos. 
Estava obrigado a prosseguir na carreira encetada6; digamos melhor, a colher a palma 
do triunfo. Que é, e completo e incontestável.
Mas esse triunfo é somente devido ao trabalho real do autor? O crime do padre 
Amaro revelou desde logo as tendências literárias do Sr. Eça de Queirós e a escola a que 
abertamente se filiava. O Sr. Eça de Queirós é um fiel e aspérrimo discípulo do realismo 
propagado pelo autor do Assommoir7. Se fora simples copista, o dever da crítica era 
deixá-lo, sem defesa, nas mãos do entusiasmo cego, que acabaria por matá-lo; mas 
é homem de talento, transpôs ainda há pouco as portas da oficina literária; e eu, que 
lhe não nego a minha admiração, tomo a peito dizer-lhe francamente o que penso, 
já da obra em si, já das doutrinas e práticas, cujo iniciador é, na pátria de Alexandre 
Herculano e no idioma de Gonçalves Dias. 
Que o sr. Eça de Queirós é discípulo do autor do Assommoir, ninguém há que o não 
conheça. O próprio Crime do Padre Amaro é imitação do romance de Zola, La Faute de 
l’Abbé Mouret8. Situação análoga, iguais tendências; diferença do meio; diferença do 
desenlace; idêntico estilo; algumas reminiscências, como no capítulo da missa, e outras; 
enfim, o mesmo título.
(...) 
Certo da vitória, o Sr. Eça de Queirós reincidiu no gênero, e trouxe-nos O Primo Basílio, 
cujo êxito é evidentemente maior que o do primeiro romance, sem que, aliás, a ação seja 
mais intensa, mais interessante ou vivaz, nem mais perfeito o estilo. 
(...) Vejamos o que é O Primo Basílio e comecemos por uma palavra que há nele. Um 
dos personagens, Sebastião, conta a outro o caso de Basílio, que, tendo namorado Luísa em 
solteira, estivera para casar com ela; mas falindo o pai, veio para o Brasil, donde escreveu 
desfazendo o casamento. — Mas é a Eugênia Grandet! exclama o outro. O Sr. Eça de Queirós 
incumbiu-se de nos dar o fio da sua concepção. Disse talvez consigo: — Balzac separa os 
dois primos, depois de um beijo (aliás, o mais casto dos beijos). Carlos vai para a América; 
a outra fica, e fica solteira. Se a casássemos com outro, qual seria o resultado do encontro 
dos dois na Europa? — se tal foi a reflexão do autor, devo dizer, desde já, que de nenhum 
modo plagiou os personagens de Balzac. A Eugênia deste, a provinciana singela e boa, cujo 
corpo, aliás robusto, encerra uma alma apaixonada e sublime, nada tem com a Luísa do Sr. 
Eça de Queirós.
6 Encetar: começar, iniciar.
7 Peça de Emile Zola
8 Obra de Zola que inspirou O crime do Padre Amaro.
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Na Eugênia, há uma personalidade acentuada, uma figura moral, que por isso mesmo 
nos interessa e prende; a Luísa — força é dizê-lo — a Luísa é um caráter negativo, e no meio 
da ação ideada pelo autor, é antes um títere9 do que uma pessoa moral.
Repito, é um títere; não quero dizer que não tenha nervos e músculos; não tem mesmo 
outra coisa; não lhe peçam paixões nem remorsos; menos ainda consciência. 
 Casada com Jorge, faz este uma viagem ao Alentejo, ficando ela sozinha em Lisboa; 
aparece-lhe o primo Basílio, que a amou em solteira. Ela já o não ama; quando leu a notícia 
da chegada dele, doze dias antes, ficou muito “admirada”; depois foi cuidar dos coletes do 
marido. Agora, que o vê, começa por ficar nervosa; ele lhe fala das viagens, do patriarca 
de Jerusalém, do papa, das luvas de oito botões, de um rosário e dos namoros de outro 
tempo; diz-lhe que estimara ter vindo justamente na ocasião de estar o marido ausente. 
Era uma injúria: Luísa fez-se escarlate; mas à despedida dá-lhe a mão a beijar, dá-lhe até 
a entender que o espera no dia seguinte. Ele sai; Luísa sente-se “afogueada, cansada”, vai 
despir-se diante de um espelho, “olhando-se muito, gostando de se ver branca”. A tarde e 
a noite gasta-as a pensar ora no primo, ora no marido. Tal é o introito10, de uma queda, 
que nenhuma razão moral explica, nenhuma paixão, sublime ou subalterna, nenhum amor, 
nenhum despeito, nenhuma perversão sequer. Luísa resvala no lodo, sem vontade, sem 
repulsa, sem consciência; Basílio não faz mais do que empuxá-la, como matéria inerte, que 
é. Uma vez rolada ao erro, como nenhuma flama espiritual a alenta, não acha ali a saciedade 
das grandes paixões criminosas: rebolca-se11 simplesmente. Assim, essa ligação de algumas 
semanas, que é o fato inicial e essencial da ação, não passa de um incidente erótico, sem 
relevo, repugnante, vulgar. Que tem o leitor do livro com essas duas criaturas sem ocupação 
nem sentimentos? Positivamente nada. E aqui chegamos ao defeito capital da concepção 
do Sr. Eça de Queirós. A situação tende a acabar, porque o marido está prestes a voltar do 
Alentejo, e Basílio começa a enfastiar-se, e, já por isso, já porque o instiga um companheiro 
seu, não tardará a trasladar-se a Paris. Interveio, neste ponto, uma criada. Juliana, o caráter 
mais completo e verdadeiro do livro; Juliana está enfadada de servir; espreita um meio de 
enriquecer depressa; logra apoderar-se de quatro cartas; é o triunfo, é a opulência. Um dia 
em que a ama lhe ralha com aspereza, Juliana denuncia as armas que possui. Luísa resolve 
fugir com o primo; prepara um saco de viagem, mete dentro alguns objetos, entre eles um 
retrato do marido. Ignoro inteiramente a razão fisiológica ou psicológica desta precaução 
de ternura conjugal: deve haver alguma; em todo caso, não é aparente. Não se efetua a 
fuga, porque o primo rejeita essa complicação; limita-se a oferecer o dinheiro para reaver as 
cartas, dinheiro que a prima recusa, despede-se e retira-se de Lisboa. Daí em diante o cordel 
que move a alma inerte de Luísa passa das mãos de Basílio para as da criada. Juliana, com 
a ameaça nas mãos, obtém de Luísa tudo, que lhe dê roupa, que lhe troque a alcova, que 
lha forre de palhinha, que a dispense de trabalhar. Faz mais: obriga-a a varrer, a engomar, 
9 Títere: marionete.
10 Introito: começo.
11 Rebolcar-se: lançar-se.
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a desempenhar outros misteres12 imundos. Um dia Luísa não se contém; confia tudo a um 
amigo de casa, que ameaça a criada com a polícia e a prisão, e obtém assim as fatais letras, 
Juliana sucumbe a um aneurisma; Luísa, que já padecia com a longa ameaça e perpétuahumilhação, expira alguns dias depois. 
Um leitor perspicaz terá já visto a incongruência da concepção do Sr. Eça de Queirós, e a 
inanidade do caráter da heroína. Suponhamos que tais cartas não eram descobertas, ou que 
Juliana não tinha a malícia de as procurar, ou enfim que não havia semelhante fâmula13 em 
casa, nem outra da mesma índole. Estava acabado o romance, porque o primo enfastiado 
seguiria para França, e Jorge regressaria do Alentejo; os dois esposos voltavam à vida 
exterior. Para obviar a esse inconveniente, o autor inventou a criada e o episódio das cartas, 
as ameaças, as humilhações, as angústias e logo a doença, e a morte da heroína. Como é que 
um espírito tão esclarecido, como o do autor, não viu que semelhante concepção era a coisa 
menos congruente e interessante do mundo? Que temos nós com essa luta intestina entre a 
ama e a criada, e em que nos pode interessar a doença de uma e a morte de ambas? Cá fora, 
uma senhora que sucumbisse às hostilidades de pessoa de seu serviço, em consequência 
de cartas extraviadas, despertaria certamente grande interesse, e imensa curiosidade; e, 
ou a condenássemos, ou lhe perdoássemos, era sempre um caso digno de lástima. No livro 
é outra coisa. Para que Luísa me atraia e me prenda, é preciso que as tribulações que a 
afligem venham dela mesma; seja uma rebelde ou uma arrependida; tenha remorsos ou 
imprecações; mas, por Deus! Dê-me a sua pessoa moral. Gastar o aço da paciência a fazer 
tapar a boca de uma cobiça subalterna, a substituí-la nos misteres ínfimos, a defendê-la 
dos ralhos do marido, é cortar todo o vínculo moral entre ela e nós. Já nenhum há, quando 
Luísa adoece e morre. Por quê? Porque sabemos que a catástrofe é o resultado de uma 
circunstância fortuita, e nada mais; e consequentemente por esta razão capital: Luísa não 
tem remorsos, tem medo. 
 Se o autor, visto que o Realismo também inculca vocação social e apostólica, intentou 
dar no seu romance algum ensinamento ou demonstrar com ele alguma tese, força é 
confessar que o não conseguiu, a menos de supor que a tese ou ensinamento seja isto: a 
boa escolha dos fâmulos é uma condição de paz no adultério. A um escritor esclarecido e 
de boa fé, como o Sr. Eça de Queirós, não seria lícito contestar que, por mais singular que 
pareça a conclusão, não há outra no seu livro. Mas o autor poderia retorquir:
— Não, não quis formular nenhuma lição social ou moral; quis somente escrever uma 
hipótese; adoto o Realismo, porque é a verdadeira forma da arte e a única própria do 
nosso tempo e adiantamento mental; mas não me proponho a lecionar ou curar; exerço a 
patologia, não a terapêutica.
 A isso responderia eu com vantagem:
12 Mister: ofício.
13 Fâmula: criada.
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— Se escreveis uma hipótese dai-me a hipótese lógica, humana, verdadeira. 
Sabemos todos que é aflitivo o espetáculo de uma grande dor física; e, não obstante, 
é máxima corrente em arte, que semelhante espetáculo, no teatro, não comove 
a ninguém; ali vale somente a dor moral. Ora bem; aplicai esta máxima ao vosso 
realismo, e, sobretudo, proporcionai o efeito à causa, e não exijais a minha comoção 
a troco de um equívoco. 
E passemos agora ao mais grave, ao gravíssimo. 
Parece que o Sr. Eça de Queirós quis dar-nos na heroína um produto da educação frívola 
e da vida ociosa; não obstante, há aí traços que fazem supor, à primeira vista, uma vocação 
sensual. A razão disso é a fatalidade das obras do Sr. Eça de Queirós, ou, noutros termos, 
do seu Realismo sem condescendência: é a sensação física. Os exemplos acumulam-se de 
página a página; apontá-los, seria reuni-los e agravar o que há neles desvendado e cru. Os 
que de boa fé supõem defender o livro, dizendo que podia ser expurgado de algumas cenas, 
para só ficar o pensamento moral ou social que o engendrou, esquecem ou não reparam 
que isso é justamente a medula da composição. Há episódios mais crus do que outros. Que 
importa eliminá-los? Não poderíamos eliminar o tom do livro. Ora, o tom é o espetáculo dos 
ardores, exigências e perversões físicas. Quando o fato lhe não parece bastante caracterizado 
com o termo próprio, o autor acrescenta-lhe outro impróprio. De uma carvoeira, à porta da 
loja, diz ele que apresentava a “gravidez bestial”. Bestial por quê? 
Naturalmente, porque o adjetivo avoluma o substantivo e o autor não vê ali o sinal da 
maternidade humana; vê um fenômeno animal, nada mais. 
 Com tais preocupações de escola, não admira que a pena do autor chegue ao extremo 
de correr o reposteiro conjugal; que nos talhe as suas mulheres pelos aspectos e trejeitos 
da concupiscência; que escreva reminiscências e alusões de um erotismo, que Proudhon 
chamaria onissexual e onímodo; que no meio das tribulações que assaltam a heroína, não 
lhe infunda no coração, em relação ao esposo, as esperanças de um sentimento superior, 
mas somente os cálculos da sensualidade e os “ímpetos de concubina”; que nos dê as cenas 
repugnantes do Paraíso; que não esqueça sequer os desenhos torpes de um corredor de 
teatro. Não admira; é fatal; tão fatal como a outra preocupação correlativa. Ruim moléstia 
é o catarro; mas por que hão de padecer dela os personagens do Sr. Eça de Queirós? N’O 
Crime do Padre Amaro há bastantes afetados de tal achaque; n’O Primo Basílio fala-se 
apenas de um caso: um indivíduo que morreu de catarro na bexiga. Em compensação há 
infinitos “jactos escuros de saliva”. Quanto à preocupação constante do acessório, bastará 
citar as confidências de Sebastião a Juliana, feitas casualmente à porta e dentro de uma 
confeitaria, para termos ocasião de ver reproduzidos o mostrador e as suas pirâmides de 
doces, os bancos, as mesas, um sujeito que lê um jornal e cospe a miúdo, o choque das bolas 
de bilhar, uma rixa interior, e outro sujeito que sai a vociferar contra o parceiro; bastará 
citar o longo jantar do conselheiro Acácio (transcrição do personagem de Henri Monier); 
finalmente, o capítulo do Teatro de S. Carlos, quase no fim do livro. Quando todo o interesse 
se concentra em casa de Luísa, onde Sebastião trata de reaver as cartas subtraídas pela 
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LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
criada, descreve-nos o autor uma noite inteira de espetáculos, a plateia, os camarotes, a 
cena, uma altercação de espectadores. Que os três quadros estão acabados com muita 
arte, sobretudo o primeiro, é coisa que a crítica imparcial deve reconhecer; mas, por que 
avolumar tais acessórios até o ponto de abafar o principal? 
Talvez estes reparos sejam menos atendíveis, desde que o nosso ponto de vista é diferente. 
O Sr. Eça de Queirós não quer ser realista mitigado, mas intenso e completo; e daí vem que 
o tom carregado das tintas, que nos assusta, para ele é simplesmente o tom próprio. Dado, 
porém, que a doutrina do Sr. Eça de Queirós fosse verdadeira, ainda assim cumpria não 
acumular tanto as cores, nem acentuar tanto as linhas; e quem o diz é o próprio chefe da 
escola, de quem li, há pouco, e não sem pasmo, que o perigo do movimento realista é haver 
quem suponha que o traço grosso é o traço exato. Digo isto no interesse do talento do Sr. 
Eça de Queirós, não no da doutrina que lhe é adversa; porque a esta o que mais importa 
é que o Sr. Eça de Queirós escreva outros livros como O primo Basílio. Se tal suceder; o 
Realismo na nossa língua será estrangulado no berço; e a arte pura, apropriando-se do que 
ele contiver aproveitável (Porque o há; quando se não despenha no excessivo, no tedioso, 
no obsceno, e até no ridículo), a arte pura, digo eu, voltará a beber aquelas águas sadias do 
Monge de Cister, do Arco de Sant’Ana e do Guarani.
A atual literatura portuguesa é assaz rica de força e talento

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