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1 ESTUDO DIRIGIDO DA DISCIPLINA ANTROPOLOGIA Bacharelado em Ciências Políticas Bacharelado em Relações Internacionais REFERÊNCIAS ZUCON, Otávio; BRAGA, Geslline. Introdução às culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013. Rotas de Aprendizagem Aulas 01 a 06 da disciplina Neste breve resumo, destacamos a importância para seus estudos de alguns temas diretamente relacionados ao contexto trabalhado nesta disciplina. Os temas sugeridos abrangem o conteúdo programático da sua disciplina nesta fase e lhe proporcionarão maior fixação de tais assuntos, consequentemente, melhor preparo para o sistema avaliativo adotado pelo Grupo Uninter. Esse é apenas um material complementar, que juntamente com os livros, vídeos e os slides das aulas compõem o referencial teórico que irá embasar o seu aprendizado. Utilize-os da melhor maneira possível. Bons estudos! Tema: Conceito de Cultura É comum sermos levados a crer que europeus ou norte-americanos são mais “desenvolvidos” que nós, brasileiros, tanto em termos econômicos quanto culturais. Esse tipo de concepção deriva, em boa parte, de uma compreensão do social baseada fundamentalmente no desenvolvimento material. Assim, regiões ou países considerados economicamente pobres acabam por ser entendidos como culturalmente pobres. No entanto, segundo a Antropologia, a “cultura” define-se como um conjunto de saberes, comportamentos, crenças e costumes adquiridos e transmitidos por um processo coletivo de aprendizagem. Sendo assim, povos que não possuem escrita ou que não apresentam padrões de organização econômica como a dos países industrializados ocidentais, também seriam produtores de “cultura”, segundo a definição antropológica. Julgar uma sociedade a partir de parâmetros oriundos de outro agrupamento social é o que os antropólogos chamam de “etnocentrismo”. 2 Tema: Cultura e história Para alguns autores, a análise das sociedades humanas em sua diversidade pode também enfocar as relações entre antropologia e história. Um estudo clássico nessa direção é Casa Grande e Senzala, livro escrito por Gilberto Freyre em 1933. Esse autor, ao tentar compreender a formação da sociedade brasileira, analisou o processo de colonização de nosso país, problematizando as relações entre culturas indígenas, europeias e africanas – e as heranças resultantes dessa mistura – à luz das abordagens histórica e antropológica. Nesse sentido, a cultura estabeleceria vínculos com a dinâmica das sociedades, com base em suas transformações no tempo e nos contatos com o outro. A cultura de um povo sofre alterações ao longo do tempo por conta, de um lado, dos contatos com outras populações (seus hábitos e crenças) e, de outro, dos próprios processos internos de mudança econômica ou política que afetam os valores daquela sociedade. Assim, o contato entre europeus, indígenas e africanos, durante o processo de colonização brasileiro, gerou alterações nas culturas originárias desses grupos, com trocas de saberes e práticas, produzindo, dessa forma, uma cultura propriamente brasileira, com elementos em constante troca e transformação. Tema: Evolucionismo Esse tipo de concepção prevaleceu nos meios científicos e no imaginário social até o início do século XX, ganhando força também pela influência das teorias deterministas, como o Evolucionismo, segundo as quais a humanidade, apesar de única, apresentava escalas diferentes de "evolução". As populações anteriormente consideradas "selvagens" passariam ao estatuto de "primitivas", o que significava dizer que representariam uma fase anterior do desenvolvimento cultural da espécie humana, como se ainda não tivessem passado ao estado de "civilizados". O paradigma evolucionista, muito popular até o início do século XX, foi em grande parte abandonado pela Antropologia atual por conta de seu caráter etnocêntrico, ou seja, por conta da desconsideração das particularidades sociais e culturais de cada povo e sociedade. Ao conceber a história como um “caminho único”, o evolucionismo hierarquiza as culturas de acordo com a proximidade destas em relação ao ideal de “progresso” dos países industriais, deixando de lado as noções particulares que cada sociedade possui a respeito do que significa “progredir”. A partir da virada do século XIX para o XX, o evolucionismo passou a ser mais sistematicamente contestado, ocorrendo uma transformação tanto nas concepções quanto nos métodos de trabalho dos antropólogos. Com essa transformação, um elemento essencial se colocava em pauta: para compreender outras culturas, é preciso vivenciá-las de maneira direta, ou seja, entrar em contato com os grupos sociais que se pretende estudar. Com base nessa premissa, surgiu o que se chama até hoje de pesquisa de campo. 3 A pesquisa de campo permite romper com teorias demasiadamente etnocêntricas, como o evolucionismo, ao frisar a necessidade de que o pesquisador se insira fisicamente entre os membros do grupo pesquisado, a fim de captar a lógica interna e contextual daquela cultura e de utilizar os próprios referenciais “nativos”, como mitos e rituais, em suas descrições. O produto final da pesquisa de campo deve ser um retrato, portanto, da singularidade das culturas, e não o estabelecimento de hierarquias entre elas, como fazia o evolucionismo até o início do século XX. Tema: Etnocentrismo Estudar uma sociedade é penetrar num mundo que, se, de um lado, pode parecer familiar, de outro, pode ser muito diferente. Outra definição que nos estimula a pensar nessa direção nos é dada pela antropóloga Ruth Benedict, ao propor que a cultura é “uma lente através da qual o homem vê o mundo”. Uma das características universais das sociedades humanas é o “etnocentrismo”, ou seja, o fato de julgarmos os fatos do mundo natural ou social a partir de critérios culturais próprios e específicos à nossa cultura. Isso faz com que os hábitos, práticas e valores alheios sejam vistos como algo “exótico” ou radicalmente “diferente” dos nossos. O estranhamento é, assim, um produto do etnocentrismo, ou seja, de enxergarmos o mundo através da “lente” de nossa cultura. O Etnocentrismo põe como central a forma como um indivíduo vê o mundo e é com base nessa perspectiva que esse indivíduo julga e enxerga as demais culturas. Isso cria conflitos e distanciamentos entre pessoas, grupos e classes sociais e faz com que determinados grupos se considerem "melhores" e se sintam no direito de menosprezar o outro. Por exemplo, a noção de progresso é elaborada com base em referenciais que estabelecem um ponto a que todos os povos deveriam chegar, em termos de desenvolvimento econômico e intelectual. A noção de “progresso” pode ser considerada uma noção etnocêntrica por ser definida em função dos valores, hábitos e práticas das sociedades industriais do mundo ocidental, como Estados Unidos e Europa, por exemplo. Sendo aplicada a contextos sociais diversos, essa definição acaba por hierarquizar as diversas culturas quanto ao grau de proximidade em relação ao ideal de “progresso” estabelecido por aquelas sociedades. O resultado final desse processo é a classificação – etnocêntrica – de alguns países como “desenvolvidos” e de outros, como “subdesenvolvidos”, desconsiderando as particularidades sociais e culturais de cada um. Tema: Etnocentrismo e relativismo cultural Existem no Brasil dezenas de matrizes religiosas (catolicismo, protestantismo, espiritismo, islamismo, budismo, umbandismo, entre inúmeras outras) e, apesar de a concepção geral das religiões prever a existência de um Deus, essa "força superior"é compreendida de maneiras diversas, e cada matriz religiosa relaciona-se ritualmente 4 também de várias formas. Contudo, não é incomum encontrarmos pessoas que valorizam sua religião e menosprezam ou criticam as outras, sem, no entanto, conhecê-las na prática. Etnocentrismo significa a tendência que temos a julgar o outro segundo os nossos próprios parâmetros culturais, quer dizer, os parâmetros do grupo social ao qual pertencemos e em que fomos socializados. A atitude destacada no trecho da questão ilustra essa tendência etnocentrista no confronto com experiências religiosas alheias: norteado pelos valores de sua própria religião e desconhecendo em grande parte a lógica interna das religiões de outros grupos, o indivíduo sente-se compelido a menosprezá-las ou criticá-las, pois as julga segundo critérios que lhes são externos. A antropologia, como “ciência da alteridade”, colabora para o entendimento das culturas como singularidades dotadas de lógica própria, a qual só se pode chegar a compreender por meio de um processo de observação participante e do exercício de uma atitude relativista, tanto diante da cultura alheia quanto da própria. Tema: Relativismo cultural A maneira como pensamos e desenvolvemos nossas práticas cotidianas não é fruto de processos biológicos, mas sim socioculturais. Assim como a língua que começamos a falar quando ainda somos bebês, nossas atitudes diante das situações mais corriqueiras também são parte do nosso entorno social. O trecho citado chama a atenção para o caráter social de nossas atitudes diante do mundo, ou seja, como os nossos valores são aprendidos em um processo de socialização. Sendo aprendidos e relativos a um grupo social específico, esses valores mudam com o tempo e de acordo com cada sociedade. O relativismo cultural parte desse reconhecimento: o de que a cultura é um produto da história de uma dada sociedade, possuindo, portanto, uma lógica própria, que só pode ser compreendida por meio do convívio direto com os membros daquele grupo. Julgar um grupo a partir de valores culturais que lhes são estranhos seria, assim, incorrer em etnocentrismo, a atitude oposta ao relativismo cultural. Tema: Alteridade Com o desenvolvimento das pesquisas de campo, a antropologia ficou conhecida como a Ciência da Alteridade por excelência. Alteridade significa colocar- se no lugar do outro e, assim, compreendê-lo em suas particularidades; é ver a si mesmo e compreender determinados aspectos de sua própria cultura como únicos. Assim, ao deixar de lado o etnocentrismo das teorias evolucionistas, o pesquisador deve se esforçar para entender a natureza, a dinâmica, os porquês das sociedades, sem avaliá-las ou julgá-las por seus próprios referenciais. 5 Alteridade é uma postura oposta àquela do evolucionismo e dos diversos tipos de etnocentrismo. Significa não apenas colocar-se no lugar do outro, apreendendo a lógica de suas ações e valores, mas também a relativização da própria cultura do pesquisador, que não poderá, segundo essa perspectiva, ser usada como medida ou parâmetro para o julgamento das culturas alheias. Significa, dessa forma, enxergar que toda cultura possui uma singularidade irredutível, que só pode ser acessada caso se abra mão de uma postura etnocêntrica ou evolucionista. Tema: Cultura popular Conforme o historiador Roger Chartier [...], a cultura popular é uma categoria erudita. Ao estudar a cultura da Europa Ocidental dos séculos XVII e XVIII, o autor localiza um processo social de repressão à cultura popular promovido pelas elites e pela Igreja, no sentido do enaltecimento de valores considerados “civilizados”. A expressão “cultura popular” foi inventada pelas elites europeias, a fim de desvalorizar os hábitos e práticas culturais do “povo” e de diferenciá-los da “cultura erudita”, ou seja, dos valores e hábitos da própria elite. Nasce assim, a partir do etnocentrismo dos estratos sociais dominantes, a oposição persistente entre a “alta cultura” e a “baixa cultura”: a primeira, erudita e civilizada, e a segunda, tida como popular e inculta. Tema: cultura de massas e cultura popular Uma das principais características do mundo globalizado (ou mundializado, segundo alguns autores) é a troca constante de referências e valores culturais entre diferentes povos e regiões do globo. Nesse processo de troca, as culturas populares tradicionais acabam defrontando-se com um novo tipo de produção cultural, aquela das sociedades de massa, propagada pelos meios contemporâneos de comunicação, como a televisão e a Internet. A cultura de massas refere-se à produção em larga escala de bens culturais e à difusão destes pelos meios contemporâneos de comunicação, como a televisão e a Internet. Diferentemente das chamadas “culturas populares”, cujas características ligam-se ao ritmo e à organização social de uma dada comunidade e apresentam um caráter enraizado e cíclico, a chamada “cultura de massas” destaca-se pela rapidez de seu ritmo, pela busca constante da novidade, pela espetacularização e por ser voltada principalmente ao consumo em grande escala. Em "(...) uma festividade de caráter ritual como o tambor de crioula, comum no Maranhão, em que há a união de música (taro bom e cantos) e dança (realizada só por mulheres), pode haver ladainhas, atestando a característica religiosa dessa manifestação. No interior de uma comunidade na qual a realização dessa festividade faz parte de um ritual local, esta não terá o mesmo sentido simbólico quando realizada em um auditório de um centro urbano, para um público alheio a tal tradição, apesar de as estruturas formais serem muito semelhantes”. (ZUCON, Otávio; BRAGA, Geslline. Introdução às culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 6 68.) Bosi (2002, p. 11) estabelece uma diferenciação fundamental entre a cultura de massas e a popular ao afirmar que a última, diferente da primeira, possui tempo cíclico e enraizamento; assim, mantém relações com a época da colheita, com o tempo das marés, os períodos de trabalho e o ócio e conserva os vínculos com seus realizadores. Em geral as manifestações culturais populares conectam-se aos fenômenos ligados às comunidades em que ocorrem, respeitando as dinâmicas como as funções sociais que cumprem e o tempo e a maneira como morrem. Tema: Globalização. Mundialização. Cultura. Ortiz diferencia os termos global e mundial, tomando o primeiro para referir-se aos processas econômicos e tecnológicos e o segundo para a análise da cultura. Não nos interessa abordar diretamente os aspectos econômicos – apesar da importância que as atividades de produção, distribuição e consumo de bens e serviços - articulados internacionalmente – têm no âmbito da cultura. Para Ortiz (2000), o termo mundialização nos traz a perspectiva de interpretar os contatos globais como fenômenos que nem são homogêneos nem tendem a tornar o mundo culturalmente semelhante. As transformações decorrentes da intercomunicação planetária, em processo cada vez mais intenso, propiciam um grande conjunto de mudanças. Os indivíduos, as comunidades e os povos, à medida que tomam contato com o "outro”, podem vir a adaptar suas referências culturais de acordo com novos desejos ou novas necessidades. Por exemplo, urna festa popular normalmente restrita à própria comunidade que a produz começa a atrair o movimento de turistas, e é comum que algumas características de sua realização possam se adaptar ao gosto desses espectadores. O termo globalização, de acordo com alguns autores, refere-se a um processo que ocorre ao menos desde as chamadas Grandes Navegações, a partirdos séculos XV-XVI, quando foram dinamizadas as condições de surgimento do capitalismo e estreitados os contatos entre os povos em termos mundiais. Desde então, as complexas interações econômicas, sociais e culturais passaram, cada vez mais intensamente, a transformar o perfil das populações, assinalando um contexto de intercâmbios de proporções inéditas, que propiciou, de forma cada vez mais estreita, a comunicação e a conexão entre regiões e povos de diversas partes do mundo. A globalização (ou mundialização) intensificou as trocas econômicas e culturais entre diferentes países e povos, agora mais facilmente conectados por conta do advento dos meios de comunicação de massa e do incremento dos meios de transporte. Esse processo permitiu que as diferentes culturas (locais, regionais ou nacionais) fossem mais facilmente divulgadas ao redor do mundo, gerando um aumento dos contatos com valores e hábitos distintos e obrigando a uma redefinição constante das identidades culturais no mundo contemporâneo. Assim, alguns países têm conseguido difundir em escala global o seu estilo de vida e suas produções culturais, alterando, por essa via, culturas muitas vezes bastante distantes. Estas, por sua vez, não recebem essa cultura massificada de maneira passiva, mas sim 7 adaptando-a a um novo contexto e a novas necessidades e interesses. A constante difusão e adaptação de produtos e hábitos culturais é, assim, a grande marca do mundo globalizado. Stuart Hall chama a atenção para esses fatos, utilizando como exemplos a difusão de valores culturais ocidentais entre as sociedades asiáticas, assim como a ressignificação de elementos culturais tradicionais, como a culinária indiana, após a sua inserção em uma cultura de massa: as pessoas que moram em aldeias pequenas, aparentemente remotas, em países pobres, do "Terceiro Mundo", podem receber, na privacidade de suas casas, as mensagens e imagens das culturas ricas, consumistas, do Ocidente, fornecidas através de aparelhos de TV ou de rádios portáteis, que as prendem à "aldeia global" das novas redes de comunicação. Jeans e abrigos — o "uniforme" do jovem da cultura juvenil ocidental — são tão onipresentes no sudeste da Ásia quanto na Europa ou nos Estados Unidos, não só devido ao crescimento da mercantilização em escala mundial da imagem do jovem consumidor, mas porque, com frequência, esses itens estão sendo realmente produzidos em Taiwan ou em Hong Kong ou na Coréia do Sul, para as lojas finas de Nova York, Los Angeles, Londres ou Roma. É difícil pensar na "comida indiana" como algo característico das tradições étnicas do subcontinente asiático quando há um restaurante indiano no centro de cada cidade da Grã-Bretanha. Os indivíduos, as comunidades e os povos, à medida que entram em contato com o outro, podem vir a adaptar a suas referências culturais de acordo com novos desejos ou novas necessidades. Apesar desse contato acontecer a milênios, essas relações interculturais têm crescido após a industrialização, o que trouxe significativas consequências como o desenvolvimento de produtos e meios de difusão de massa como telefone, rádio, cinema, televisão, internet e proporcionou aos países desenvolvidos a disseminação dos seus elementos culturais em escala mundial. Desta forma, as identidades culturais têm passado por transformações em função das influências externas e chegam por meio de cabos e antenas. Tema: Patrimônio imaterial “O aceleramento dos processos de industrialização, urbanização e modernização dos meios de comunicação – em todas as suas implicações transformadoras das culturas – demandou atenção cada vez maior de pesquisadores e órgãos governamentais para com a preservação das manifestações culturais, particularmente as tradicionais, aquelas que se acreditava estarem desaparecendo”. (ZUCON, Otávio; BRAGA, Geslline. Introdução às culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 76) Patrimônio Imaterial é o patrimônio cultural que abrange as manifestações culturais de tudo o que é considerado folclore, com a preocupação de manter-se o registro de todas essas manifestações para que não ocorra a extinção das práticas tradicionais. Existem vários métodos para documentar e preservar os elementos das culturas populares, no Brasil a maneira escolhida para 8 a preservação do patrimônio imaterial é via política pública. Existe uma instituição de nível nacional chamada Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para trabalhar com o patrimônio imaterial, e paralelamente foram criados leis e órgãos estaduais e municipais que atendem ao propósito. Apesar de as leis e de as instituições voltadas à pesquisa das manifestações culturais brasileiras — sobretudo nas primeiras décadas de existência — assinalarem uma forte valorização do patrimônio material edificado, espécie de referência simbólica de uma memória das elites, houve também um fomento das manifestações não materiais, que guardou estrita ligação com as identidades culturais — regionais e brasileira — cuja fonte principal era o popular. Desta forma, o “patrimônio cultural imaterial” refere-se aos saberes, festividades e calendários, lugares e formas de expressão que compõem a memória coletiva de uma dada população, mas que não necessariamente estão materializados em objetos concretos ou edificações. Uma dada forma de preparação de alimentos ou um estilo de dança e canto, quando tradicionais e passados de geração a geração, por exemplo, podem compor esse tipo de “patrimônio intangível” que os institutos de preservação cultural buscam proteger. Em 2004, surgiu o Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan, criado com o intuito de fazer valer um aspecto considerado historicamente característico da cultura brasileira: a diversidade. Esse departamento, ao qual se subordinou o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), que existe desde 1958, têm incumbências que levam em conta questões antropológicas e sociais, como o "respeito a diversidade cultural do Brasil", a "valorização da diferença" e a “ampliação do acesso ao patrimônio cultural como direito de cidadania e base para o desenvolvimento sustentável do país" (Iphan, 2006, p. 14). Com a intensificação das trocas econômicas e culturais promovidas pela globalização (ou mundialização, segundo alguns autores) e da consequente difusão em larga escala de produtos culturais oriundos dos países economicamente dominantes, tornou-se uma preocupação do Estado brasileiro preservar elementos da memória coletiva de nossas populações, como os saberes práticos, as formas de expressão e as festividades típicas, elementos esses que compõem o chamado “patrimônio cultural imaterial” do país e que colaboram para a manutenção de nossa diversidade. Tema: Política de patrimônio imaterial. UNESCO. “A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura nasceu no dia 16 de novembro de 1945. A missão da UNESCO consiste em contribuir para a construção de uma cultura da paz, para a erradicação da pobreza, para o desenvolvimento sustentável e para o diálogo intercultural, por meio da educação, das ciências, da cultura e da comunicação e informação”. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES 9 UNIDAS. UNESCO. Unesco: o que é? O que faz?. Disponível em <>. Acesso em 02.03.2016.) A UNESCO, na primeira metade do século XX, considera o folclore como um ponto chave da diversidade cultural, fruto da preocupação do desaparecimento dessa diversidade em razão da globalização e da mundialização. O folclore seria uma ferramenta de diversidade cultural e transforma a cultura em uma categoriapolítica. A relação da UNESCO com a diversidade cultural foi uma resposta à Alemanha Nazista, totalizante e excludente do diferente, com a promoção de ferramentas de política patrimonial. Tema: Mestres. “Mestres são considerados ‘tesouros humanos vivos’”, reconhecidos como tais pela UNESCO. (AULA 5 Antropologia. Alessandra Stremel. Curitiba: Centro Universitário Internacional UNINTER, 2015. Videoaula (56 min), color.) A transmissão oral de saberes significa que a memória não existe no passado, mas que ela existe porque ela é uma reinterpretação do passado no tempo presente. Geralmente quando se faz inventário do passado se busca quem detém o conhecimento oral vivido do bem. Essas pessoas são chamadas de “mestres”. O passado, assim, passa a ser a reconstrução do passado nos dias de hoje, tornando o bem imaterial algo móvel, porém preservados de suas características. Tema: Relação entre política de patrimônio e Estado O tombamento é o ato administrativo de registrar um determinado patrimônio como “especial” pelo Estado, dotando-o de proteção específica pela legislação própria. Ou seja, o Estado intervém na propriedade privada sob o argumento de necessidade de preservação por motivos históricos, sociais, culturais ou mesmo científicos. Quando um patrimônio é tombado, ele está representando a história sob o olhar de uma população ou de uma parcela específica da população de um país – que é a perspectiva da elite. Quando vemos um conjunto arquitetônico desse nos dias atuais reparamos na sua beleza e na sua amplitude. E quando valorizamos esse espaço esquecemos das relações por trás / implícitas nesse patrimônio: as relações de exploração e até mesmo de possível escravidão que são apagadas quando o patrimônio é preservado. Tema: Símbolos de identidade nacional; Cultura popular O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Brasileiro (IPHAN) é autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura, e sua função é a de preservar o patrimônio nacional, com vistas à proteção e à promoção dos bens culturais para as presentes e futuras gerações. 10 Em 1937 surgiu uma instituição de nível nacional batizada inicialmente como Serviço do Patrimônio Histórico Nacional (Sphan), atual Instituto do Património Históricos Artístico Nacional (IPHAN). No contexto da política nacionalista da Era Vargas, esse órgão foi um importante elo entre a perspectiva de desenvolvimento econômico e industrial do país, em “direção ao futuro” e um “olhar atento” à importância das referências históricas nacionais, expressas nos monumentos edificados e nas manifestações culturais e folclóricas. Paralelamente, foram criados leis e órgãos estaduais e municipais, em moldes semelhantes, que atendem, ao mesmo tempo, à construção de uma memória nacional e regional, congregada a interesses políticos locais. O Instituto não se preocupou inicialmente, quando de sua criação em 1937, com a cultura popular. Sua preocupação restringia-se à preservação de edifícios históricos e obras eruditas. Tema: Educação patrimonial “Acredita-se que tão importantes quanto as ações de preservação e fomento das manifestações de caráter imaterial sejam as iniciativas de visibilização e conscientização pública da importância desse tipo de patrimônio, sendo, de fato, imprescindíveis. A continuidade necessita tanto de seus realizadores quanto de um reconhecimento perante a sociedade sobre sua riqueza e relevância”. (ZUCON, Otávio; BRAGA, Geslline. Introdução às culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 84.) Um campo de atuação da área de património, que faz uma ponte entre as manifestações culturais e os processos educativos, é a chamada educação patrimonial. Com base no envolvimento de educadores dos diversos níveis, alunos, instituições de pesquisa e/ou visitação e comunidade, é possível desenvolver uma enorme quantidade de projetos. A utilização de vídeos, as visitas de campo, as oficinas envolvendo mestres e a própria atividade de pesquisa podem ser ferramentas de conhecimento para todas as idades. Tema: Religiosidade “(...) os cultos e os ritos das religiosidades populares brasileiras caracterizam-se, de maneira acentuada, por formos diretas de mediação com o sagrado e pelo desejo de interferir na realidade de maneira mágica, com a pretensão de melhorar / promover a vida terrena de alguma maneira”. (ZUCON, Otávio; BRAGA, Geslline. Introdução às culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 116.) No Brasil, religiosidade e sabedoria populares muitas vezes se confundem, pois são comuns os ritos e os cultos que têm por finalidade a cura do corpo fisico. Simpatias, retas, benzeduras, ervas e unguentos são de uso corrente, fazendo parte de nosso dia a dia. De tão usuais que são, nem sempre são conotados e muitas vezes passam despercebidas de seu contexto original e da origem na religiosidade popular. Esse "tocar" entre religiosidade e saber popular poderia simplesmente ser aplicado 11 pala onipresença do catolicismo português e pela forte presença mágico-religiosa africana e indígena. Tema: Trânsito religioso “O trânsito religioso talvez seja a característica mais comum das religiosidades populares”. (ZUCON, Otávio; BRAGA, Geslline. Introdução às culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 118) De acordo com Hall, uma das características da modernidade tardia - período no qual estamos inseridos - a fragmentação das identidades, ou seja, a possibilidade de podermos exercer diferentes identidades, supostamente antagônicas, ao mesmo tempo. Como exemplo, podemos citar uma pessoa professada católica, que, nos momentos de problemas de saúde ou financeiros pode buscar ajuda em outras religiões, coma o espiritismo, que diverge do catolicismo em seus dogmas. Assim, o trânsito religioso pode ser apenas uma possibilidade para a fragmentação da identidade, mas inscreve-se no cotidiano de maneira que possamos notar o quanto as religiosidades populares são marcadas por certo afrouxamento de seus limites. Tema: Tradição. “Na perspectiva da história e da antropologia, a noção de tradição difere da assumida pelo senso comum ao se constatar que as tradições estão em transformação”. (ZUCON, Otávio; BRAGA, Geslline. Introdução às culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 112.) Os historiadores Eric Hobsbawm e Terence Ranger utilizaram o termo "invenção da tradição", para salientar que em alguns momentos essas tradições foram estabelecidas ou impulsionadas para criar coesão ou reforçar sentimento de identidade em grupos sociais. Em oposição ao conceito de invenção da tradição o antropólogo Sahlins usa o termo inversão da tradição para destacar que as tradições não são simplesmente inventadas, mas, sim, são sempre reforçadas por meio de uma referência já existente. A 'inversão' é uma forma de resistência cultural e de afirmação da identidade cultural. Tema: Arte. Artesanato. “Artesão é a pessoa que faz a mão objetos de uso freqeente na comunidade. Seu aparecimento foi resultado de pressão da necessidade sobre a inteligência aliada ao poder de inovar, possibilitando também ligar o passado ao presente, mediante a linguagem; possibilitou as gerações mais novas receber das mais velhas, suas técnicas e demais experiências acumuladas”. (Disponível em <http://www.eba.ufmg.br/alunos/kurtnavigator/arteartesanato/artesanato.html>. Acesso em 01.03.2016) Diferentes autores ponderam que há dois critérios para pensar essa diferenciação: o primeiro afirma na arte o predomínio da forma sobre a função, ao12 contrário do artesanato, supostamente mais ligado à utilidade; já a segunda parte do critério de que o artesanato é feito em série, ainda que artesanalmente, enquanto a arte produz obras únicas, não repetitivas. Tema: Folclore e Cultura “Você conhece a Mula sem Cabeça? O Curupira? O Chupa Cabra? O lobisomem? Sabia que eles fazem parte do folclore brasileiro? Sabia né? Mas talvez você não saiba que não é só de assombração que é feito o mundo do folclore não. Têm também os costumes, tradições, músicas, linguagem, brinquedos, brincadeiras, mitos, contos, superstições, artesanato, festas populares… Daí nas festas tem as danças folclóricas como o baião, o frevo, o maracatu, a quadrilha… É. Isso tudo é folclore brasileiro e da melhor qualidade!”. (Disponível em < http://www.smartkids.com.br/trabalho/folclore>. Acesso em 29.02.2016) Sendo assim, enquanto o folclore está preocupado com o resgate de tradições culturais, a cultura está preocupada com a diversidade da experiência humana e está em permanente construção, ou seja, é permanentemente construída. Tema: Música. Identidade. “A música talvez seja a manifestação artística popular mais significativa no Brasil. Espalhada por todo o território nacional, temos uma enorme diversidade de ritmos e sonoridades, cada qual com sua história, características e inter-relações próprias”. (ZUCON, Otávio; BRAGA, Geslline. Introdução às culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013, p. 100.) Nesse campo, a definição do popular carece de alguns esclarecimentos. Em primeiro lugar, a música popular não deve ser confundida com o conceito de música popular brasileira (MPB), disseminado a partir da década de sesenta. Este termo foi criado fundamentalmente por meio do engajamento de artista, com intelectuais, preocupados com as relações entre as artes e os problemas sociais e políticos, durante o peitado da ditadura militar no Brasil. A partir dos debates sobre uma musicalidade legitimamente popular e brasileira o samba emergiu como uma grande referência para os músicos engajados. Contudo, os artistas-intelectuais, fossem de esquerda, fossem de direita, foram tutelares em relação às classes populares. Desse modo, a denominação MPB não se refere necessariamente a uma manifestação propriamente popular, mas a um conceito construído historicamente por meio da intelectualidade e da mídia ligados direta ou indiretamente à indústria da música. Tema: Medicina Popular “As pessoas estão com a barriga inchada, passo o remédio e a pessoa volta: - Doutor, eu perdi três quilos, (...) eu vim buscar mais. Então é porque a coisa funciona” (‘Doutor’ Raiz, 12/09/2012). Em nossa disciplina de antropologia foi possível perceber a importância do conhecimento popular no Brasil. Ao pensar essa importância um 13 grande tema é debatido, a importância da medicina popular frente à medicina tradicional. A utilização de diversos sistemas de conhecimento é muito comum na cultura brasileira como por exemplo a medicina popular. A medicina popular pode ser entendida como o conhecimento popular para o tratamento de enfermidade, como o tratamento com chás para dores de estomago, dores de cabeça. A pessoa em sua enfermidade não procura um único sistema de tratamento, ao mesmo tempo que a pessoa vai ao médico tradicional ela utiliza diversos sistemas como curandeira, benzedeira, toma chás e garrafadas. Um exemplo é o mercado ver o’peso no Pará que é conhecido por ter para vender inúmeras ervas, garrafadas, chás, infusões para tratamentos terapêuticos. Outro exemplo é o denominado Doutor Raiz, que é um profundo conhecedor das ervas. Dr. Raiz não é doutor, mas é reconhecido como tal por suas práticas de medicina popular, a eficácia está no efeito prático vistos nos corpos dos pacientes. Dessa maneira, isso mostra como o conhecimento popular é importante na cultura brasileira. “É difícil definirmos cultura de modo único, visto que esta abrange diversas acepções. Em linhas gerais, podemos definir esse termo como o conjunto de saberes, comportamentos, crenças e costumes adquiridos e transmitidos por um processo coletivo de aprendizagem”. Existem inúmeras formas de desenvolvimento do conhecimento, uma delas é o conhecimento popular, a cultura popular, que se desenvolve no cotidiano das pessoas, passa de geração em geração e permanece em muitas famílias como costumes enraizados na rotina, que caminham com muitos outros conhecimentos adquiridos ao longo dos anos. Não é possível afirmar que a medicina popular invalida a medicina tradicional, é possível observar que no Brasil as duas formas de tratamento para enfermidades caminham juntas. A utilização de diversos sistemas de conhecimento é muito comum na cultura brasileira. Por exemplo para tratar um resfriado é comum que muitos brasileiros optem por tomar diversos tipos diferentes de chá, ou de xaropes e produtos de medicina popular ao mesmo tempo que também optam por tratar da enfermidade com remédios da medicina tradicional. A utilização da medicina popular está vinculada a eficácia do tratamento, ao demonstrar que o tratamento é eficaz, ou seja, que ao melhorar a pessoa comprova a eficácia da medicina popular e confirma que pode ser utilizada junto a medicina tradicional. Tema: Conhecimento erudito e conhecimento popular O termo popular se originou no final da idade de média, com o surgimento dos Estados Nação, para diferenciar classes sociais, sendo elas: clero, aristocracia e 14 povo. Esses três segmentos não se misturavam, ou quando o faziam, eram por relações bem claras e hierárquicas. A aristocracia e o clero tinham mecanismos de controle da cultura letrada, restringindo o acesso ao conhecimento. O povo ao final da idade média, início da civilização moderna era composto majoritariamente por camponeses. Esses camponeses tinham o conhecimento empírico, ou seja cultivo da terra, ciclo das estações do ano e o relacionamento com o plantio, era o conhecimento empírico. Tinham o conhecimento cotidiano, a apreensão intuitiva da realidade e também o conhecimento compartilhado. Enquanto o conhecimento erudito era um conhecimento teórico. Era um conhecimento baseado na reflexão intelectual e sistematizada, que previa a racionalização do mundo sensível e o acesso restrito ao conhecimento. A cultura erudita é aquela aprendida em colégios e academias. Tema: Folkcomunicação “Tradicionalmente, a comunicação de massa é entendida como o campo de atuação de profissionais de mídia – jornalistas, publicitários, redatores, repórteres, fotógrafos, técnicos de vídeo e áudio, entre outros – que, com formação acadêmica ou não, atuam em grandes veículos de comunicação, como jornais, revistas, rádios e TVs”. (ZUCON, Otavio. Introdução às culturas populares no Brasil. Curitiba: InterSaberes: 2013. p.12). Assim, a folckcomunicação valoriza a informação oral como importante fenômeno comunicativo. A cultura popular incorpora outros meios de comunicação em seu cotidiano, através das novelas, internet, a cultura popular se adapta a outros meios de comunicação para reproduzir a sua própria experiência. Por exemplo, as benzedeiras que já utilizam a internet e o telefone para realizar o benzimento. Outro exemplo são as culturas indígenas, as culturas indígenas que são basicamente orais gravaram músicas para falar um pouco de sua visão de mundo. Ou também o projeto jovens nas aldeias, que são vídeos feitos por jovens nas aldeias. Tema: Crenças populares Para a antropologia a cultura é um importante ponto de estudo, poderia ser definido como “um conjunto de saberes, comportamento, crenças e costumesadquiridos e transmitidos por um processo coletivo de aprendizagem”. Partindo desse ponto a disciplina abordou diversos pontos, como a possibilidade de perceber que existe uma diferença entre o erudito e o popular. Da mesma forma que existe uma distância entre o erudito e o popular existe um distanciamento entre a crença popular e as doutrinas oficiais. (ZUCON, Otávio; BRAGA, Geslline. Introdução às culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013. p. 12.) As crenças populares sempre ocorreram em paralelo as doutrinas oficiais, muitas vezes opondo-se a elas. Crença popular aplicado a realidade popular, existem elementos variados entre a doutrina oficial e a crença aplicada no cotidiano. Um bom 15 exemplo está no catolicismo popular, o catolicismo popular vincula diversos elementos, elementos da cultura popular, com elementos da experiência prática da rotina o conhecimento empírico, do dia-a-dia, elementos simbólicos, com fatos naturais. É a aplicação da doutrina católica com a soma de mais elementos variados da cultura popular. A crença popular ajuda a favorecer o diálogo entre o mundo sobrenatural e a vida cotidiana. Existem dois movimentos entre cultura popular e a cultura erudita, movimentos de encontro e movimentos de embate entre elas, como por exemplo o movimento que originou a conhecida guerra de canudos. O Brasil é rico na fusão de vários elementos religiosos em uma doutrina só, por exemplo: umbanda, candomblé. Tema: Cultura brasileira A Canção de Exílio, de Gonçalves Dias, apresenta vários elementos culturais que são elementos da cultura popular brasileira. Conforme visto ao longo da disciplina, existe um processo de construção cultural em que os principais elementos da cultura passam a se destacar nas manifestações culturais, como por exemplo, nas músicas. No exemplo da música de Gonçalves Dias é possível perceber vários elementos da cultura brasileira como por exemplo: a referência as palmeiras, que remete as praias brasileiras; Sabiá, que é considerada a ave símbolo do Brasil e que tem remete as inúmeras espécies de aves que temos no Brasil; as estrelas, várzeas e flores fazendo menção a vasta natureza brasileira e suas riquezas; “nossa vida mais amores” referência a vida amorosa brasileira e sua fama de ser agitada. Tema: Identidade brasileira “Brasil, meu Brasil brasileiro meu mulato inzoneiro vou cantar-te nos meus versos. O Brasil, samba que dá Bamboleio que faz gingar o Brasil, do meu amo (...)”. O trecho da música de Ary Barroso nos remete a identidade brasileira. O povo brasileiro foi construído por uma miscigenação de raças e culturas, pela incorporação de elementos dos mais variados. Para conseguir entender essa miscigenação é importante relembrar o período de descobrimento do Brasil. Os primeiros elementos são da cultura indígena, que já estava presente no território com a chegada dos portugueses, depois disso, podemos perceber que foram incorporados elementos da cultura africana com a vinda dos escravos africanos ao território brasileiro e também elementos da cultura europeia com a vinda dos colonizadores. Essa miscigenação é conhecida como o mito das três raças, esse é apenas o início da miscigenação de raças e culturas da identidade brasileira. Tema: Modernismo A composição “Cavalgada das Vlaquírias” do maestro Richard Wagner é uma opera que apresenta elementos da cultura nórdica e vincula a identidade à origem do 16 povo alemão para uma cultura já morta: a do povo viking. Esse é um exemplo de romantismo. Com os processos da industrialização e urbanização promovidos pela revolução industrial passa-se a se ter medo, receio do desaparecimento de manifestações culturais, medo de que o mundo seja homogeneizado e o romantismo surge como a preocupação de externar as diferenças, externar a riqueza das riquezas. Romantismo foi o movimento literário e artístico que procura resgatar a cultura popular e trazer ela proseio da cultura refinada e erudita. No romantismo o povo e a tradição tornam-se objeto de interesse intelectual. Tudo que era rejeitado e discriminado na idade média passa a ser visto como algo positivo, como as raízes de um povo, é um movimento inverso que vem de encontro com os movimentos nacionalistas, é a busca por uma identidade. Tema: Folclore O conhecimento de um povo, esse é um dos conceitos dados ao termo folclore, no Brasil as primeiras pesquisas feitas sobre folclore foram feitas por José de Alencar e Sílvio Romero, que já buscavam uma identidade nacional com base nas manifestações populares, esses autores procuraram estudar e documentar realizações como a literatura de cordel, as danças, músicas e folguedos produzidos pelo povo. Toda identidade é uma construção simbólica, ou seja, toda identidade necessita de elementos contruidos historicamente que são representação do grupo social e no Brasil a identidade brasileira é construída pela ligação entre povo, cultura e miscigenação. O primeiro grande elemento da identidade brasielira é o samba, que se torna o ritmo nacional. Outro elemento que foi construído e faz parte da identidade brasileira é o carnaval. Além disso, intelectuais da área também afirmam que a identidade brasileira é formada pela diversidade, o “calderão cultural” representado pelas etnias formadoras do povo brasileiro é um elemento a ser valorizado. Tema: Regionalismo “Boa parte da intelectualidade defendeu historicamente a concepção de uma cultura popular brasileira, intimamente ligada ao triangulo racial. Contudo, os regionalismos também foram, e ainda o são, expressão da alteridade de alguns grupos em oposição à imposição de valores estrangeiros, de elite ou de uma cultura nacional unificada. Alguns movimentos, em momentos específicos, puseram-se a refletir sobre a importância das particularidades locais”. (ZUCON, Otávio; BRAGA, Geslline. Introdução às culturas populares no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2013. p. 53.) Os regionalistas, em especial Gilberto Freyre, tinham preocupação com os modismos que vinham do exterior principalmente trazidos pela classe média e classe 17 alta brasileira que poderiam ameaçar as tradições populares brasileiras. É possível perceber isso com a publicação de Freyre “Manifesto Regionalista” que expõe a necessidade de valorizar os elementos da cultura popular e cuidar com a vinda dos elementos externos, como por exemplo, o Papai Noel em um clima tropical. Outro autor importante para a argumentação da valorização da cultura regional foi Ariano Suassuna, que se preocupava em enaltecer a riqueza das tradições populares e manifestações populares. O movimento regionalista propunha a arte popular como elemento de inspiração para artistas.
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