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Caderno digitado - História do Direito (2013.2)

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Universidade Federal da Bahia
Faculdade de Direito da UFBA
História do Direito (DIRA74) – Docente: Prof. Dr. Júlio Rocha
Discente: Noel Duarte Porto
História, historicidade e história do direito. 
Compreende-se a História como área de investigação com autonomia e características próprias.
Wolkmer:
(...) a História pode ser visualizada como a sucessão temporal dos atos humanos dinamicamente relacionados com a natureza e a sociedade.1 A História expressa a complexa manifestação da experiência humana interagida no bojo de fatos, acontecimentos e instituições. O caráter mutável, imperfeito e relativo da experiência humana permite proceder múltiplas interpretações dessa historicidade.
	Temos duas posturas contrastantes da História: uma história oficial, de caráter tradicional, bastante descritiva e personalizada do passado, e que serve para justificar a totalidade do presente. Há, por outro lado, uma história subjacente (alternativa) diferenciada e problematizante que serve para modificar ou recriar a realidade vigente.
A postura contrastante entre a História tradicional e a História “alternativa” é perfeitamente sentida por historiadores como Peter Burke, identificados com a “nova História”. Utilizando categorias advindas da filosofia da ciência (Thomas Kuln) e da Escola dos “Anales”, Peter Burke observa que a percepção da inconsistência do paradigma tradicional foi movida por ampla variedade de mudanças que levaram à redefinição dos conceitos, das fontes, do método e da interpretação da História escrita.
História do Direito 
	A história do direito é relacionada à história da humanidade. Nesse sentido, a compreensão metodológica e a perspectiva de construção dos direitos têm como fontes diverso direitos. Assim, as tradições, as ordenações, a compreensão do direito de diversos povos participaram da formação do direito de um povo.
	
	Wolkmer: 
“Naturalmente tal preocupação dissocia-se de uma historicidade do jurídico, marcada por toda uma tradição teórico-empírica assentada em proposições revestidas pela força da continuidade, da previsibilidade, do formalismo e da linearidade. Mas, para alcançar nova leitura histórica do fenômeno jurídico enquanto expressão de ideias, pensamento e instituições, é necessário apurar a distinção das especificidades inerentes a cada campo científico do que seja História, do que seja Direito, bem como o sentido e a função de uma interpretação que se reveste do viés tradicional ou crítico.”
	A história começa a existir com a invenção da escrita, na Mesopotâmia, com a escrita cuneiforme. O direito civil não nasce com os romanos, eles apenas organizam-no, criam a jurisprudência, a dogmática jurídica.
Rupturas epistemológicas sinalizadas por Wolkmer.
Segundo Wolkmer, cinco eventos epistemológicos propuseram uma renovação crítica do direito e, consequentemente, uma ruptura epistemológica. São eles:
a) Corrente progressista de cunho neomarxista, que desencadeou profundas mudanças na teoria social em geral:
“O primeiro deles é a emergência, principalmente na Europa Ocidental, no final da década de 60, de uma corrente progressista de cunho neomarxista, que desencadeou profundas mudanças na teoria social em geral. A este propósito, Antônio M. Hespanha escreve que a “renovação dos estudos marxistas, possibilitada politicamente pelo fim da guerra fria, consistiu na revaloração dos próprios textos clássicos e na descoberta das potencialidades teóricas da interpretação gramsciana do marxismo, mérito de G. Della Volpe e de L. Althusser e suas escolas”.18 A retomada dos escritos de A. Gramsci propiciava o deslocamento do dogmatismo e do mecanicismo leninista para uma política cultural mais flexível e aberta à autocrítica. Já Louis Althusser parte da desconstrução estruturalista e economicista para lançar as bases epistemológicas de uma ciência “pura” do marxismo. O aumento do debate sobre a teoria marxista, bem como o amplo alcance de uma revisão necessária de seus cânones, coincidiu com a explosão do movimento de 68, cuja manifestação. mais intensa foi o movimento estudantil de Maio de 68 que, imbuído por uma estratégia antiimperialista e anticapitalista, trouxe consigo o discurso dos “novos sujeitos sociais e os novos conteúdos da revolução”, materializando a crítica ideológica da ciência, das instituições e da divisão social do trabalho.19 Sob o ângulo da Historiografia, contribuição importante foi a reação à filosofia analítica por parte do marxismo britânico, representado por teóricos como E. Hobsbawm, C. Hill e E. P. Thompson,20 no sentido de discutir e fundar uma historiografia social.”
b) Proposta de uma “teoria crítica” de inspiração neomarxista-freudiana, representada pela Escola de Frankfurt e tendo como ideólogos T. Adorno, M. Horkheimer, H. Marcuse e J. Habermas:
“Outro “evento epistemológico” é a proposta de uma “teoria crítica” de inspiração neomarxista-freudiana, representada pela Escola de Frankfurt e tendo como ideólogos T. Adorno, M. Horkheimer, H. Marcuse e J. Habermas. A grande contribuição da escola alemã é propor uma filosofia histórico-social que possibilite a mudança da sociedade a partir da constituição de novo tipo de homem. De um homem emancipado de sua condição de alienado, da sua reconciliação com a natureza não-repressora e com o processo histórico por ele montado. A meta de alcance utópico está na reconciliação entre o sujeito social, a natureza não-repressora e a história.21 Naturalmente, a teoria crítica revela-se como instrumental operante que permite a tomada de consciência dos sujeitos na história e a ruptura de sua condição de opressão, espoliação e marginalidade. Além desse aspecto relevante da teoria crítica enquanto processo adequado ao esclarecimento e à emancipação, recuperando todo um conteúdo utópico-libertador do pensamento ocidental, destaca-se, igualmente, como contundente “crítica dos grandes mitos da „objetividade‟ da filosofia burguesa, nomeadamente o positivismo e o neopositivismo”.22 Sendo assim, para efeito de uma Filosofia da História, é, de um lado, a afirmação da “validade teórica do subjetivismo e do idealismo „humanistas‟”; de outro, sob o aspecto prático, “traz para a experiência da investigação histórica novos domínios da realidade humana e social, com o que se abrem novos problemas e se exigem novas sínteses explicativas.”
 c) conjunto de critérios de investigação e análise posto pela Escola francesa dos “Annales”
“terceiro referencial a considerar como contribuição à renovação da historiografia ocidental (particularmente da periferia) é o conjunto de critérios de investigação e análise posto pela Escola francesa dos “Annales”. Um recorte bem talhado de seus traços é delineado na apresentação de obra coletiva, publicada na França em 1980, na revista Magazine Littéraire: “Gerada pelo grupo que dirigiu a revista francesa Annales - que teve como figuras centrais Lucien Febvre, Marc Bloch e Fernand Braudel, a chamada Nova História sofreu um grande impulso nos últimos quinze anos, ao ponto de tomar-se a expressão mais características da historiografia francesa dos nossos dias.”
d) existência de um pensamento libertador latino-americano.
“(...) a quarta “linha de força” é a existência de um pensamento libertador latino-americano que se define por uma luta teórico-prática contra uma situação sócio-política de dominação, opressão, exploração e injustiça. É o combate à plena adversidade e a busca incontida por mudanças radicais. Algumas formulações teóricas têm desempenhado uma função essencial no desenvolvimento do “pensamento libertador” florescente na América Latina, como a teoria da dependência (vertente econômica/política: Theotonio dos Santos, Ruy M. Marini, A. Gunder Frank, Anibal Quijano, P. González Casanova), a teologia da libertação (G. Gutierrez, L. Boff, H. Assman), a pedagogia libertadora do oprimido (Paulo Freire) e a filosofia da libertação (E. Dussel, J. C. Scannone, Rodolfo Kusch, Arturo A. Roig e outros).
O que se deve destacar, como tributo do “pensamento libertador” latino-americanopara a nova historicidade das formas de controle legal e de normatividade social, é a afirmação de uma alteridade emancipadora, mediante um Direito livre da injustiça e da coerção, composta por sujeitos-cidadãos autênticos. Introduzem-se, assim, na pesquisa histórica; os conceitos de “alteridade”, “libertação” e “justiça social”.
e) presença mais recente da prática e da hermenêutica jurídica alternativa
“Por último, a presença mais recente da prática e da hermenêutica jurídica alternativa. Não se trata rigorosamente de uma escola homogênea, com uma proposta acabada, mas muito mais de uma corrente que emerge, no final dos anos 80 e início dos 90 no Brasil, por parte de alguns magistrados (juízes gaúchos da AJURIS, como Amilton B. de Carvalho) e de professores universitários (Edmundo L. Arruda Jr., Roberto A. R. de Aguiar, José Geraldo de Souza Jr. e outros). Implica a estratégia de luta dentro da legalidade instituída (no âmbito dos aparatos institucionalizados) e da legalidade a instituir (esfera da pluralidade dos grupos e movimentos sociais que têm seus direitos negados e reprimidos). Exploram-se as fissuras e deficiências da ordem jurídica formal-individualista, buscando recuperar (através de interpretação crítica e aplicação humanista dos textos legais) a dimensão transformadora do Direito, pondo-o a serviço da libertação.27 Ainda que não se tenha elaboração sistematizada e definitiva de suas características, alguns critérios podem ser registrados, em função da proposta teórica de seus fundadores (Amilton B. de Carvalho, Edmundo Arruda Jr.). Senão, veja-se: a) o Direito é um instrumento de luta a favor dos menos favorecidos e injustiçados; b) rejeitam-se a neutralidade e a apoliticidade dos agentes e das instâncias de jurisdição; c) busca-se construir uma sociedade democrática e pluralista; d) opção metodológica por um instrumental histórico-social dialético; 
e) privilegia-se a legitimidade das maiorias e a justiça social.28 Os efeitos inovadores da juridicidade alternativa podem perfeitamente contribuir para estabelecer novos parâmetros de fundamentação, conceituação e finalidade no estudo historiográfico das idéias e das instituições jurídicas.”
Esses “eventos epistemológicos” aqui destacados revelam-se inesgotáveis subsídios para compor os novos referenciais metodológicos de uma hermenêutica crítica e interdisciplinar no estudo histórico das idéias e das instituições no campo do Direito.
4. Como se dá o direito na modernidade?
Direito baseado na codificação (Lei Geral do Estado).
“Certamente o individualismo jurídico, que teve sua materialização plena no Código de Napoleão, consagrou o contrato como instrumento insubstituível das relações humanas, proclamando, entre os sujeitos iguais e autônomos, a soberania da liberdade de contratar.”
Liberal individualista: privilegia o cidadão-individuo, pois o contrato como elemento central possibilita a autonomia da vontade privada.
“O contrato é outro símbolo máximo do poder da vontade individual numa estrutura sócio-econômica capitalista.”
Defesa da propriedade como direito absoluto.
“O primeiro grande instituto da juridicidade moderna é o direito de propriedade, simbolizando uma forma de poder qualificado como absoluto, exclusivo e perpétuo”
Direito burguês, oriundo de revoluções burguesas.
Dogma da segurança jurídica.
“Caberia mencionar ainda determinados “princípios-fins” do Direito Moderno, como a segurança e a certeza jurídicas. Para alguns, a segurança é uma necessidade fundamental da vida moderna organizada, tendo como fim imediato a realização da justiça, A doutrina tradicional alude que se trata da garantia dada a um indivíduo, a seus bens e a seus direitos, de que sua situação não será alterada senão por procedimentos regulares previstos na legislação.”
“(...)constituição teórica e instrumental do moderno paradigma jurídico, marcado por determinadas características (geral, abstrato, coercível e impessoal) principais institutos (propriedade privada, liberdade de contratar e autonomia da vontade, direitos subjetivos) e cosmovisões jusfilosóficas hegemônicas (jusnaturalismo e positivismo jurídico).”
Fatores como o renascimento, a reforma, o processo de secularização, as transformações econômico-mercantis e o progresso científico favoreceram o advento de uma cultura liberal-individualista. 
O liberal-individualismo, enquanto “princípio fundamental” que surge das condições materiais emergentes e das novas relações sociais, tornou-se proposta ideológica adequada às necessidades de um novo mundo, bem como à legitimação das novas formas de produção da riqueza e à justificação racionalista da era que nascia. O individualismo como expressão da moralidade social burguesa enaltece o homem como centro autônomo de escolhas econômicas, políticas e racionais; faz do ser individual um “valor absoluto”. Nessa dinâmica histórica, a ordem jurídica é instrumentalizada como estatuto de uma sociedade que proclama a vontade individual, priorizando formalmente a liberdade e a igualdade de seus atores sociais.
O Direito moderno liberal-individualista se assenta numa abstração que oculta as condições sociais concretas. Tem a pretensão de ser “um Direito igual, supondo a igualdade dos homens sem tomar em conta os condicionamentos, sociais concretos, produzindo uma lei abstrata, geral e impessoal”.
No processo de constituição do liberalismo jurídico individualista, a escola do Direito Natural clássico consagrou, concomitantemente com a existência do Direito Privado, a criação de um Direito Público com efetividade para tornar “reais os direitos naturais do homem e garantir as liberdades da pessoa humana”.34 A partir do século XVIII, a doutrina passa a priorizar não mais o saber legal oficializado pelas universidades, mas o peso soberano da vontade do legislador.
Com efeito, o jusracionalismo clássico contribuiu, no dizer De La Torre Rangel, para três fatores causais que modelam o moderno Direito liberal-individualista: a) “A igualdade formal de todos os homens, ao consagrar os direitos subjetivos desconhecidos para o Direito romano”; b) “A codificação do Direito em normas gerais, abstratas e impessoais, ditadas pelo Estado legislador que chegará a identificar - como no positivismo do século XIX - o Direito com a Lei, esvaziando o Direito de toda a idéia de justiça”; 
c) “A criação do Direito Público paralelo ao Direito Privado, como forma de garantir os direitos subjetivos e a igualdade formal, proclamados do Direito Natural”.
É dentro desses marcos teóricos e operacionais que se pode caracterizar o Direito Moderno como direito estatal, centralizado, escrito, previsível (segurança e certeza jurídicas) e normativo. Sua estrutura técnico-formal é constituída por um complexo de normas de teor geral, abstrato, coercível e impessoal.
a) O princípio da generalidade implica a regra jurídica como preceito de ordem abrangente, obrigando a um número de pessoas que estejam em igual situação jurídica. A lei é para todos e não apenas para algumas pessoas.
b) A norma de Direito é abstrata (princípio da abstratividade) porque objetiva alcançar maior número possível de ações e acontecimentos. A disposição legal é indeterminada, pois o legislador não pode produzir leis e códigos completos acabados, não tem condições de prever todos os casos concretos frente às contínuas mudanças da vida social.
c) Por sua vez, a coercibilidade é a possibilidade do uso da coação psicológica e material garantida pelo poder político estatal. Trata-se do estado permanente da força ou coação, acionado pelo aparato estatal para constranger ou induzir à obediência de condutas a serviço das instituições em geral.
d) O princípio da impessoalidade refere-se à situação de “neutralidade” diante da particularidade individual, pois a aplicação da norma tem a pretensão de estender-se a uma quantidade indefinida de pessoas, de modo aleatório e não particularizado. Certamente que tais princípios de abstração, generalidade e impessoalidade têm no modelo liberal-individualista“um significado ideológico, o de ocultar a desigualdade real dos agentes econômicos, para desse modo se conseguir a aparência de uma igualdade formal, a igualdade perante a lei”
Muro da Escrita: 
O que é o Muro da Escrita?
Quais os indícios desses direitos na pré-história?
“Toda cultura tem um aspecto normativo, cabendo-lhe delimitar a existencialidade de padrões, regras e valores que institucionalizam modelos de conduta. Cada sociedade esforça-se para assegurar uma determinada ordem social, instrumentalizando normas de regulamentação essenciais, capazes de atuar como sistema eficaz de controle social. Constata-se que, na maioria das sociedades remotas, a lei é considerada parte nuclear de controle social, elemento material para prevenir, remediar ou castigar os desvios das regras prescritas. A lei expressa a presença de um direito ordenado na tradição e nas práticas costumeiras que mantêm a coesão do grupo social..” - Wolkmer.
	De início, é preciso entender o direito como um fenômeno anterior à formulação de uma linguagem escrita. 
	Segundo Boaventura de Sousa Santos, o direito pode ser entendido como o “corpo de procedimentos regularizadores e de padrões normativos, considerados justificáveis num dado grupo social, que contribui para criação e prevenção de litígios, e para sua regulação...”
	O direito não só antecede a linguagem escrita, mas antecede a própria linguagem falada.
“Entretanto, ainda que prevaleça uma consensualidade sobre o fato de que os primeiros textos jurídicos estejam associados ao aparecimento da escrita, não se pode considerar a presença de um direito entre povos que possuíam formas de organização social e política primitivas sem o conhecimento da escrita.” - Wolkmer
Não parece haver dúvida de que o processo contemporâneo de colonização gerou um surto de pluralismo jurídico, representado pela convivência e dualismo concomitante, de um direito “europeu (common law nas colônias inglesas e americanas, direitos romanistas nas outras colônias) para os não indígenas e, por vezes, para os indígenas evoluídos; e outro, do tipo arcaico para as populações autóctones”. Tendo em conta estas asserções iniciais, cabe pontualizar.
Indícios de direito na pré-história:
	Tais indícios estão presentes na necessidade de organização social e política dos povos para que pudessem sobreviver às adversidades, caracterizadas pela separação do trabalho, o exercício da agricultura ou a presença de práticas nômades, a utilização de ferramentas, dentre outros costumes e práticas que são comprovadas hoje através de vestígio encontrado nas diversas pesquisas de campo da antropologia, arqueologia, dentre outras.
	O direito surge pela necessidade de regulação social. É um instrumento social para resolução de conflitos existentes. A dominação do fogo, a proibição do incesto etc. Assim, nas sociedades ágrafas também têm formas de regulação de condutas.
	Como características do direito dos povos sem escritas, temos: 
a) são transmitidos oralmente, de geração a geração e podem ser constituídos também por provérbios, canções e adágios. 
“Posteriormente, num tempo em que inexistiam legislações escritas, códigos formais, as práticas primárias de controle são transmitidas oralmente, marcadas por revelações sagradas e divinas. Conjuntamente ao que designa de “precedente judiciário”, Gilissen acrescenta também os procedimentos orais propagados por gerações corno os ‘provérbios e adágios’.
b) tem como principal fonte os costumes e os hábitos, impostos por todos do grupo social, podendo haver sanção como o desprezo, o banimento e até a morte:
“...as fontes jurídicas primitivas são poucas, resumindo-se, na maioria das vezes, aos costumes, aos preceitos verbais, às decisões pela tradição, etc. 
No que concerne aos costumes, há de se reconhecer corno a fonte mais importante e mais antiga do direito, manifestação que se comprova por ser a expressão direta, cotidiana e habitual dos membros de um dado grupo social. Por fim, parece significativo mencionar, corno fonte criadora de preceituações jurídicas nas sociedades arcaicas, certas decisões reiteradas utilizadas pelos chefes ou anciãos das comunidades autóctones para resolver conflitos do mesmo tipo.”
c) diversificado conforme cada grupo social:
“Primeiramente, o direito primitivo não era legislado, as populações não conheciam a escritura formal e suas regras de regulamentação mantinham-se e conservavam-se pela tradição. Um segundo fator de conhecimento é que cada organização social possuía um direito único, que não se confundia com o de outras formas de associação. Havia uma diversidade dos direitos não escritos. Trata-se da multiplicidade de direitos diante de uma gama de sociedades atuantes, advinda, de um lado, da especificidade para cada um dos costumes jurídicos concomitantes, de outro, de possíveis e inúmeras semelhanças ou aproximações de um para outro sistema primitivo.”
d) forte influência religiosa, não havendo uma divisão entre religião e normas de conduta:
“H. Summer Maine entende que esse caráter religioso do direito arcaico, imbuído de sanções rigorosas e repressoras, permitiria que os sacerdotes-legisladores acabassem por ser os primeiros intérpretes e executores das leis. O receio da vingança dos deuses, pelo desrespeito aos seus ditames, fazia com que o direito fosse respeitado religiosamente, Daí que, em sua maioria, os legisladores antigos (reis sacerdotes)6 anunciaram ter recebido as suas leis do deus da cidade.”
“Gilissen reconhece também que o direito arcaico está profundamente contaminado pela prática religiosa.12 Tal é a influência da religião sobre a sociedade e sobre as leis, que se toma intento pouco fácil estabelecer uma distinção entre o preceito sobrenatural e o preceito de natureza jurídica. “
	Entretanto, como assinala Wolkmer, o direito nas sociedades primitivas, não funciona por si mesmo, pois é parte integrante da dinâmica da estrutura.
Malinowski: “O direito é mais um aspecto da vida tribal, ou seja, um aspecto de sua estrutura do que propriamente um sistema independente, socialmente completo em si mesmo”.
Ao criticar a teoria antropologia jurídica, Malinowski avança no exame dos aspectos práticos de determinadas funções do direito, bem como à explicitação dos princípios legais que regem as relações sociais do grupo. Seu questionamento é feito basicamente contra a falsa perspectiva criada pela antropologia tradicional de que inexiste um direito civil e que toda lei é expressão dos próprios costumes autóctones, sendo obedecidos automaticamente por pura inércia.22 Ora, as normas de controle social que impõem obediência ao homem primitivo são afetadas por necessidades sociais e por motivações psicológicas.
Por último, cabe elencar algumas críticas às concepções jurídicas de B. Malinowski, autor que foi privilegiado em boa parte deste artigo. Para isso, seguem-se as considerações de Norbert Rouland, para quem as teses jurídicas de Malinowski não gozam mais do grande prestígio que alcançaram no passado. Trabalhos de antropologia jurídica mais recentes apontam certas inverdades sujeitas a comprovação. Um dos erros é conceber que, nas sociedades primitivas, o direito civil não podia ser violado. Por outro lado, o direito seria objeto de consenso, sendo muito mais respeitado entre os autóctones do que na sociedade moderna. Escreve Norbert Rouland que algumas investigações etnográficas mostram o contrário, pois o indivíduo, pensando que há menos vantagem do que inconveniência em respeitar a lei, acaba muitas vezes violando.
Primeiras leis escritas.
Niklas Luhmann classifica três grandes grupos de manifestações do direito - que ele denomina “estilos” - ao longo da história: (l) o direito arcaico, característico dos povos sem escrita;5 (2) o direito antigo, que surge com as primeiras civilizações urbanas e (3) o direito moderno, próprio das sociedades posteriores às Revoluções Francesa e Americana.
Visualizamos a transição de formas arcaicas de sociedade para as primeirascivilizações da Antiguidade mediante três fatores históricos: a) surgimento das cidades; b) a invenção e domínio da escrita; c) o advento do comércio e, numa etapa posterior, da moeda metálica.
a) surgimento das cidades.
Na obra de Wolkmer, temos: 
“...é possível identificar as origens da cidade no período paleolítico. Numa inspirada passagem, Lewis Murnford assinala que a idéia de cidade - compreendida como um lugar cívico, de satisfação do homem no plano coletivo, desvinculada de aspectos como sobrevivência, alimentação e proteção contra um ambiente hostil - já aparece nos primeiros locais em que eram celebrados ritos, normalmente fúnebres.”
As formações das primeiras cidades, fruto de um lento processo de destribalização que se estendeu pelo quarto milênio da era pré-cristã, se deu na Mesopotâmia. Na Baixa Mesopotâmia – região da Suméria, nas margens do Rio Eufrates –, já se contabilizavam cinco cidades nos anos 3100-2900 a.C: Eridu, Badtibira, Sippar, Larak e Shuruppak. No período histórico subsequente, chamado dinástico primitivo ou présargônico, são registradas as seguintes cidades: Kish, Akshak, Nippur, Adab, Umma, Lagash, Uruk, Larsa e Ur. A estrutura desses primeiros agrupamentos urbanos era tripartite: 
1) a cidade propriamente dita, cercada por muralhas, em que ficavam os principais locais de culto e as células dos futuros palácios reais.
2) uma espécie de subúrbio, extramuros, local em que se misturavam residências e instalações para plantio e criação e animais. 
3) o porto fluvial, em que se praticava o comércio e que era utilizado como local de instalação dos estrangeiros, cuja admissão, em regra, era vedada nos muros da cidade.
A partir de evidências hoje existentes, o processo de invenção e consolidação da escrita possui estreita ligação com o surgimento das cidades (e das modificações que a revolução urbana acabou por trazer. É na Mesopotâmia que se manifesta a primeira escrita mais complexa, com um maior número de sinais e com aspectos ideográficos e fonéticos: a escrita cuneiforme. Assim designada pela forma de “cunha”, a escrita cuneiforme e surge na região da Baixa Mesopotâmia, por volta de 3100 a.C. Devido a complexidade que essas recém-fundadas cidades passaram a apresentar, a simples transmissão oral da cultura começa a se tomar insuficiente para preservação da memória e identidade dos primeiros povos urbanos, que já possuem uma estrutura religiosa, política e econômica mais diferenciada. Andrew Robinson pondera: “em algum momento do final do quarto milênio a.C., a complexidade do comércio e da administração nas primeiras cidades da Mesopotâmia atingiu um ponto que acabou por superar o poder da memória da elite governante.”
O advento do comércio é um elemento fundamental na consolidação das civilizações da Mesopotâmia e Egito. 
Engels: “a origem do comércio localiza-se na divisão do trabalho gerada pela apropriação individual dos produtos antes distribuídos no seio da comunidade; com a retenção do excedente, a criação de urna camada de comerciantes e a atribuição de valor a determinados bens, o homem deixa de ser senhor do processo de produção”. Inaugura-se, então, segundo Engels, urna as simetria no interior da comunidade, com a introdução da distinção rico-pobre.
Como assinala Wolkmer, podemos entender que: “a síntese desses três elementos - cidades, escrita, comércio representa a derrocada de urna sociedade fechada, organizada em tribos ou clãs, com pouca diferenciação de papéis sociais e fortemente influenciada, no plano das mentalidades, por aspectos místicos ou religiosos. Há, nessas sociedades arcaicas, um direito ainda incipiente, bastante concreto, cognoscível apenas pelo costume e que se confunde com a própria religião.”
Mesopotâmia e Egito Antigo: aspectos geográficos, políticos e econômicos.
	As duas civilizações fornecem um raro exemplo de simultaneidade do tempo histórico: elas são construídas de forma lenta, mas a finalização do processo daá-se no mesmo período. Tanto a Mesopotâmica quanto o Egito urbanizam-se e adotam a escrita em períodos muito próximos. As primeiras inscrições em cuneiforme aparecem na Mesopotâmia, em 3100 a.C.; os primeiros textos em hieróglifos surgem no Egito no período compreendido entre 3100 e 3000 a.C. Quanto às cidades, elas já existem na Mesopotâmia no lapso de tempo situado entre 3100 e 2900 a.C.; no Egito, a urbanização dá-se de forma gradual, concomitante à unificação dos povos do Sul e Norte (Baixo e Alto Egito), o que resulta na formação das cidades entre 3100 e 2890 a.C. Contundo, pesquisas atuais demonstram que, mesmo havendo um indício de contato entre os povos da Mesopotâmia e Egito, os processos de formação se deram de formas autônomas. 
Características.
 
GEOGRÁFIA 
 
Ao contrário de povos que precisavam manter-se em território litorâneo, desértico ou montanhoso - corno os habitantes das regiões da Fenícia, Síria, Palestina ou Pérsia -, os mesopotâmicos e egípcios formaram suas civilizações em torno dos rios Tigre, Eufrates e Nilo. Tal. Tal circunstancia permitiram a existência de solo propício à agricultura, bem como a navegação fluvial, essencial para o transporte de mercadorias e sofisticação do comércio, de sorte que tais fatores vieram a contribuir para um crescimento acelerado da população dessas sociedades, bem como um diferenciado desenvolvimento político e econômico.
	Dado o credo religioso politeísta, no antigo Egito, os períodos de cheia e a regularidade do ciclo das águas do Nilo trazia aos habitantes uma sensação de continuidade, de evasão da passagem do tempo, que acabou a ser associada a um rito de imortalidade: o culto a Osíris. 
	Os habitantes da antiga Mesopotâmia eram obrigados a enfrentar variações climáticas, ventos cortantes, chuvas torrenciais e enchentes devastadoras, impossibilitando um credo em um ritual de fundo cíclico quanto à vida e à morte. Enquanto no Egito “o faraó simbolizava o triunfo de uma ordem divina inabalável sobre as forças do caos, na Mesopotâmia, a monarquia representava a luta de uma ordem humana, com todas as suas ansiedades e fragilidades, para se integrar ao Universo” (WHITROW, G.J. O tempo na história - concepções do tempo da pré-história aos nossos dias.)
POLÍTICA
	Como principal característica da organização política das civilizações, consiste no fato de que ambas desenvolveram a monarquia como forma de governo, entretanto, há diferenças. A primeira distinção diz respeito à dicotomia fragmentação/unidade do poder político:
 No Egito, desde a consolidação da unificação dos reinos do Sul e do Norte (3100 a.C.) até o final dos períodos de predomínio persa (525-404 e 343-332 a.C.) e início da dominação romana (30 a.C.), consolidou-se uma monarquia unificada, com um poder central do reino. Num período de aproximadamente 3000 anos - observa José das Candeias Sales -, é extraordinário “o fato de, durante todo esse tempo, a tendência de concentração política ter sempre conseguido sobrepor-se à tendência de fragmentação favorecida pela própria configuração longitudinal do país”.
Quanto ao papel conferido aos soberanos, consagrou-se, no Egito, a concepção de que o monarca não era um simples representante divino na Terra. Ele era o próprio deus – fenômeno intitulado de teofania. 
Na Mesopotâmia, desde seus primórdios, essa civilização optou pela fundação de cidades – comumente designadas cidades-estados – com alto grau de independência. Cada cidade tinha seu governante, seus órgãos políticos e, muitas vezes, seu próprio exército. 
É nítido, então, o contraste entre unidade do exercício do poder político, no antigo Egito, e a fragmentação desse poder entre várias cidades da Mesopotâmia.
Quanto ao papel conferido ao soberano, de modo absolutamente contrário, na Mesopotâmia, com a instabilidade natural e a fragmentação do poder político entre vários monarcas, era simplesmente impossível fundar a dominação do rei com base na assunção de uma divindade e, com isso, a monarquia assumiu um caráter mais humano. O rei eratão-somente um representante de deus (a divindade escolhida pela cidade) na terra.
ECONOMIA 
Aqui, há dois aspectos em comum que são essenciais: a utilização do solo para o plantio e o crescente emprego da navegação como meio de transporte de mercadorias. Contudo, o Egito era rico em vários produtos de origem mineral – ouro, cobre, sílex, ametista e granito para construção –, mas pobre em madeira, que era importada da região da Fenícia, por meio do porto de Biblos. Na Mesopotâmia havia carência, em regra, de minerais (com exceção do cobre) e o solo, ainda que bastante fértil, apresentava problemas quando à dificuldade de drenagem e de contenção do avanço da vegetação dersértica. 
A VIGÊNCIA DO DIREITO: SEUS ELEMENTOS, MANIFESTAÇÕES E INSTITUIÇÕES
Como característica inicial, tanto os direitos da Mesopotâmia como o direito egípcio possuem uma característica comum: a ideia de revelação divina.
As sociedades mesopotâmica e egípcia, em face de seu caráter urbano e comercial, passaram a desenvolver um grau de complexidade que exigia a vigência de um direito mais abstrato do que o simples costume ou tradição religiosa. Era necessário um conjunto de leis escritas, que desse previsibilidade às ações no campo privado, que estipulasse algum tipo de tribunal ou juiz para resolver controvérsias e que fosse inteiramente seguido em toda a extensão do reino para o qual se destinava. 
Deve ser ressalvado, contudo, o fato de que uma característica do direito arcaico ainda produziu efeitos nessas civilizações urbanas: as normas de direito tinham sua justificação no princípio da revelação divina. A noção de responsabilidade política pela decisão legislativa é estranha à Mesopotâmia e ao Egito.
A Mesopotâmia: compilações de normas jurídicas e sua aplicação
O emprego da expressão “código” para descrever as normas de direito escrito produzidas na Mesopotâmia encontra fundamento tão-somente na tradição. Não há qualquer paralelo com os códigos de inspiração napoleônica.
Normas escritas na Mesopotâmia:
a) Estela dos Abutres (2450 a.C.) é o mais antigo tratado internacional encontrado, feito de monólito de pedra (Estela), na qual se esculpiu, sob a escrita cuneiforme, os conflitos entre as cidades-estados de Lagash e Umma. Após a vitória de Lagash, mandou-se fazer os termos da paz: “Que jamais um homem de Umma cruze a fronteira de Ningirsu! Que jamais se altere o seu declive e a sua vala! Que não se movam a estela! Se ele cruzar a fronteira... se abata sobre Umma”.
b) Código de Urukagina ou Uruinimgina (2350 a.C.) são os primeiros registros de uma codificação de normas jurídicas, regras da cidade-estado de Lagash. No texto, já mecanismos de limitação dos podres sacerdotais e dos altos funcionários públicos. Faz-se valer a ideia de liberdade individual. A terra era propriedade dos deuses, e o homem tinha direito de usar parcela do solo. Nevaga a pena de morte (a vida era tido com um dom divin), contudo, o dando deveria ser reparado com multa em dinheiro ou cereal a Urukagina (rei) de Lagash (principado). Havia, também, resquícios de previsão de seguro social.
c) Código de Ur-Nammu (2100-2050 a.C.) – a estrutura geral deste Código - e dos outros que lhe sucederão – pode de ser descrita como um meio-termo entre o direito fortemente concreto das sociedades arcaicas (pensado e manifestado exclusivamente para o caso em discussão) e as formas abstratas e gerais que caracterizam o direito moderno. Esses códigos são constituídos, na correta síntese de Ciro Flamarion Cardoso, de “esforços em direção a certa unificação da legislação que incluíram a promulgação da primeira compilação importante de precedentes judiciários ou „julgamentos típicos‟. As normas ostentam o perfil de costumes reduzidos a escrito, ou, então, de decisões anteriormente proferidas em algum caso concreto.38 Um importante dado da estrutura da sociedade é transmitido pelo texto do Código de Ur-Nammu: existem duas grandes classes de pessoas, os homens livres (Awilum) e os escravos (originários de captura em guerras), bem como uma camada intermediária (Muskênum), de funcionários que servem os palácios reais e os templos, e que possuem uma liberdade limitada. As normas que subsistiram ligam-se predominantemente ao domínio do direito penal, mas é possível vislumbrar a importância - que não cessará de crescer - concedida pelas cidades da Mesopotâmia às penas pecuniárias
d) O código de Eshunna (1930 a.C), mais extenso e completo, é uma compilação de textos a partir de duas placas de argila(possui sessenta artigos), traz uma simbiose entre matérias civil e penal que caracterizará o Código de Hammurabi. O documento de Esnunna já contempla institutos conexos à responsabilidade civil, ao direito de família e à responsabilização de donos de animais por lesões corporais seguidas de morte – trata sobre o sistema de julgamento, funcionamento do reino e do palácio, casamento e divórcio.
e) Código de Lipit-Ishtar (1870 a.C.) é considerado o quinto código mais antigo já encontrado. São regras da cidade de Isin, precedendo, em cerca de 200 anos, o famoso Código de Hámmurbi. Fora escrito em Sun-bakedclaytablet, e seu prólogo é um exemplo de como as normas eram manifestações de auto-promoção real.
f) O Código de Hámmurabi foi descoberto na Pérsia, em 1901, por uma missão arqueológica francesa, o documento legal, gravado em pedra negra, encontra-se hoje no Museu do Louvre.43 O Código foi promulgado, aproximadamente, em 1694 a.C., no período de apogeu do império babilônico, pelo rei Hammurabi. Ele é composto por 282 artigos, dispostos em cerca de 3600 linhas de texto, que abrangem quase todos os aspectos ligados à dinâmica da sociedade babilônica, desde penas definidas com precisão de detalhes até institutos do direito privado, passando, ainda, por uma rigorosa regulamentação do domínio econômico. O Código representa, ainda hoje, uma das principais fontes históricas disponíveis para o estudo da antiga Mesopotâmia, indicando ser, em verdade, de uma grande compilação de normas anteriormente dispostas em outros documentos e de decisões tomadas em casos concretos, que serviram de base para a elaboração dos artigos.
A organização da sociedade segue os padrões já estabelecidos no Código de Ur-Nammu. Assim, há um estrato de homens livres, uma camada de homens dotados de personalidade jurídica, mas com liberdade limitada (pode-se chamá-los “subalternos”) e uma parcela de escravos (equiparados a um bem móvel).
Alguns elementos surpreendentemente modernos marcam a delimitação do direito de família no Código de Hammurabi. A mulher, dotada de personalidade jurídica, mantém-se proprietária de seu dote mesmo após o casamento, e tem liberdade na gestão de seus bens. É prevista a possibilidade de repúdio da mulher pelo marido, mas a recíproca é igualmente verdadeira: a mulher pode alegar má conduta do marido e propor ação para retomar a sua família originária, levando de volta o seu patrimônio.
Patrimônio. A organização familiar é em regra monogâmica, sendo, contudo, flexibilizada quando se tratar da continuidade da linhagem familiar; é permitida, em alguns casos, a inserção de uma segunda esposa, uma espécie de concubina, quando o casal não conseguir gerar filhos, mas fica mantida a precedência da primeira esposa em relação à segunda. O Código prevê, ainda, com minúcias, os institutos da adoção (estipulando as consequências jurídicas da ruptura do vínculo entre adotante e adotado) e da sucessão (com limitações ao poder de dispor sobre o patrimônio, especialmente se isso ocorrer em detrimento de algum dos filhos sobreviventes). 
No que se refere ao domínio econômico, o Código consagra alguma intervenção na atividade privada, por meio da delimitação de salários e preços.
O direito penal trazido pelo Código de Hammurabi reflete o momento de elaboração do próprio documento; buscando uma extrema centralização do poder nas mãos do soberano, o Código, na parte alusiva aos delitos e às penas, consagra uma fusão de elementos sobrenaturais, princípios de autotutelae retaliação e penas ligadas à mutilação e ao castigo físicos.
Por intermédio de artigos do Código, sabe-se que na Mesopotâmia já eram praticados os seguintes contratos: compra e venda (inclusive a crédito), arrendamento (com ênfase na regulamentação das terras cultiváveis) e depósito. A responsabilidade civil é levada às últimas consequências. Há previsão, ainda, de empréstimo a juros, títulos de crédito, operações de caráter bancário e de sociedades de comerciantes.
Ainda sobre a responsabilidade civil, é possível notar uma forte presença da Lei de Talião (“Lex talionis”), sua aplicação é, principalmente, a danos físicos; danos contra um bem deve ter ressarcimento material. Há, pois, uma correlação entre a ação e dano. Contudo, existe ainda a responsabilidade indenizatória, pecuniária, coexistindo essas duas formas de sanções.
A aplicação do direito é feita por chefes de justiça e juízes. Existia uma sociedade estamental que gerava diferentes graus de responsabilidades, uns com mais direitos, outros com menos. 
O Egito: o princípio de justiça divina
Nenhum texto legal do período antigo do Egito chegou ao conhecimento do homem moderno. Há, contudo, excertos de contratos, testamentos, decisões judiciais e atos administrativos - além, é claro, de uma abundância de referências indiretas às normas jurídicas em textos sagrados e narrativas literárias que permitem inferir alguns aspectos da experiência egípcia no campo do direito.
A contribuição mais interessante ao estudo das relações entre sociedade e direito que se pode retirar do Egito antigo é a consagração, na aplicação do direito, de um princípio de justiça que é simbolizada pela figura de urna deusa, de nome maat.
A aplicação do direito estava subordinada, então, à incidência de um critério divino de justiça. A conclusão que daí decorre é evidente: ao faraó, que tinha atributos de divindade, incumbia velar pela vigência do princípio de justiça simbolizado pela deusa maat.
E como operava o princípio da justiça na aplicação do direito? A explicação é fornecida por Gilissen: “Maat é o objetivo a prosseguir pelos reis, ao sabor das circunstâncias. Tem por essência ser o 'equilíbrio'; o ideal, a esse respeito, é por exemplo „fazer com que as duas partes saiam do tribunal satisfeitas”. Como é neste preceito que reside a verdadeira justiça, Maat pode ser traduzido por Verdade e Ordem como por Justiça propriamente dita.
Direito Hebreu
	Os Hebreus vieram da Mesopotâmia, transitavam em zonas desérticas intensas. Eram monoteístas, com transmissão de ensinamentos e normas por via oral (povo semita). Possuíam um direito escrito, segundo lei na bíblia (Deuterônimo), que versava sobre a administração da justiça (16:18), casamento, crenças politeístas. Seus institutos jurídicos são: administração da justiça, perdíodo de descanso da jornada de trabalho, escravidão por dívida, testemunha, falso testemunho, poder familiar, crença e cultos religiosos adultério e reflexos da lei de talião. O pentateuco são indicações religiosas, com estruturas jurídicas de comandos legais. O direito hebreu possui como principal fonte jurídica os Dez Mandamentos (1250 a.C) e o elemento religioso como forte elemento no processo civilizatório, na formação do direito. 
Suas características são: a) o corpo bíblico foi elaborado ao longo de vários séculos. b) transcrição pelo rei David (a partir do século X a.C.).
Direito Indiano (código de Manu)
Se no direito egípcio existia um traço de igualdade entre sexos, no direito Indiano é totalmente contrário, pois é uma sociedade de castas (estamentos). Em hindu, a palavra direito é chamado de dharma, o direito hindu ou bramânico, que privilegia apenas uma casta. Também é tido como Direito bramânico (a classe mais alta). É uma sociedade representada por castas que reflete no direito: pouca mobilidade. Tem, também, forte influência religiosa (como todas as sociedades antigas). 
Apesar de hoje existir lei contra a discriminação por castas, essa discriminação ainda persiste: justiça de casta (tribunais de casta); impossibilidade de casamento entre diferentes castas.
Civilização:
Recebem influência dos rios Indo e dos Ganges. Quanto à política, constituem Monarquias e república: na Constituição de 1947 abdicam do poder monárquico para adentrar na República.
Sua religião, o hindu, é de caráter politeísta (33 deuses). E o seu direito é de cunho tradicional e religioso. 
A sociedade é estamental, constituída por castas, com mobilidade restringida: Brâmane: casta superior, líderes espirituais e médicos.
Xátrias: guerreiros.
Vaixás: comerciantes.
Sudras: casta inferior, pessoas que trabalham para outras castas (camponeses). 
Párias ou chandalas (dálites): resto da sociedade. A determinação da casta são as relações de parentesco.
Direito indiano: 
O código de Manu é parte de uma coleção de livros bramânicos, de caráter religioso, enfeixados em quadro compêndios: o Mahabharata, o Ramayana, os Puranas e as Leis Escritas de Manu (sânscrito – versos), provavelmente 200 a.C. As leis de Manu consistem em 2684 versos (assim como no direito grego), dispostos em 12 capítulos. São livros que mesclam caráter religioso com caráter político. Os sacerdotes, líderes religiosos, provavelmente foram os criadores do Código de Manu. O direito é dos Brâmanes, os escolhidos pelas divindades. 
Assim, Dharma (Direito) é um conjunto de regras que o homem deve seguir. O costume (tradição, oralidade, elementos da sabedoria antiga, o elemento religioso que os une) é mais relevante que a lei escrita. Contudo, possuem uma Constituição, influenciada pelos ingleses. 
O Dharma compreende os 12 livros:
Livro I – apresentação e os pedidos das leis. 
Livro II – deveres para os homens virtuosos e sacramentos para os brâmanes.
Livro II – normas sobre matrimônio e costumes nupciais.
Livro IV – meio de subsistência e modo de viver – apresentação e os pedidos das leis.
Livro V – trata da purificação do corpo, normas de condutas para as mulheres.
Livro VI – regula a vida dos religiosos (anacoretas) e praticantes (ascetas).
Livro VII – deveres dos reis e confirmas as condutas, regras diplomáticas e arte da guerra.
Livro VIII e Livro IX – normas de direito material e processual, de organização judiciária – “a justiça vem do rei que deve presidir pessoalmente as controvérsias”.
Livro X – hierarquia das classes sociais, norma de conduta e exigências da própria casta.
Livro XI – trata dos pecados e das faltas.
Livro XII – recompensa suprema das ações humanas.
Suas características:
Privilégio para os brâmanes (direito bramânico)
O hindu de classe média ou inferior encontrava um abismo legal diante de suas ações (não tinha tutela, que serve apenas ao brâmane). 
A noção de legalidade está associada ao dharma, a correta ou boa ação dos indivíduos em toda a sua vida”. Dharma= elemento ético. O ideia de justiça é bastante presente no Código de Manu.
Previsão do direito positivo aplicado pelos tribunais. O rei decide, mas é submetido aos desejos, costumes locais dos brâmanes.
Corte de Justiça – local de julgamento pelo rei.
Código que só amparava as mulheres, extraordinariamente, sujeitando-se ao homem (machista)
Artigo 45: "uma mulher está sob a guarda de seu pai durante a infância, sob a guarda do deu marido durante a juventude, sob a guarda de seus filhos em sua velhice; ela não deve jamais conduzir-se a sua vontade”.
O temas disciplinados no código de Manu: 
Meio de prova (testemunhal, art. 49). Escolha de testemunha em todas as classes.
Juros (art. 140): possibilidade legal: 2% para os brâmanes, 3% para os Xátrias, 4% para os Vaxias e 5% para os Sudras.
Roubo e furto (art. 329), com uma clara tipificação: tirar com violência em frente do proprietário (roubo), em sua ausência (furto), mesmo que negue o recebimento.
Adultério e posição contrária a mistura de castas (art. 349 e 350). O adultério é culpado como mistura das raças, perda da raça humana e fim do universo.
Divórcio (art. 494), sendo uma decisão do marido.Se a mulher passar um ano odiando o marido, o mesmo poderá pedir divórcio.
Proibição da prática de jogos (art. 637). Jogos e apostas levam os príncipes à perda dos reinos.
Direito Grego
Para o estudo do direito grego é particularmente interessante o período que se inicia com o aparecimento da pólis, meados do século VIII a.C., e vai até o seu desaparecimento e surgimento dos reinos helenísticos no século III a.C. (período que compreende a época arcaica e o período clássico).
Além de ser a pólis da qual mais se tem informações (Aristófanes, oradores áticos, historiadores e a Constituição de Atenas de Aristóteles), Atenas foi onde a democracia melhor se desenvolveu e o direito atingiu sua mais perfeita forma quanto a legislação e processo.
Períodos: Arcaico (800-500 a.C.), clássico (500-338 a.C.) e helenístico (338-146).
Arcaico: formação da pólis, colonização grega; aparecimento do alfabeto fonético, da arte e da literatura, além do progresso econômico com a expansão da divisão do trabalho, do comércio, da indústria e do processo de urbanização. 
Clássico: período de destaque da civilização grega. As duas cidades consideradas mais importantes desse período foram Esparta (oligarquia militarista) e Atenas (democracia ateniense). Período de conflitos externos (Guerra Médicas, 490 -479 a.C.) e interno (Guerra do Peloponeso, 421-404 a.C.)
Helenístico: crise da pólis grega, invasão macedônica (situada ao norte da Grécia), expansão militar e cultural helenística, a civilização grega se espalha pelo Mediterrâneo e se funde a outras culturas. Por fim, queda para Romanos.
 Época arcaica: um dos fenômenos mais característicos dessa época foi o da colonização, que continuou até o período helenístico. Seja por motivo de excesso de população, intempéries climáticas, ou quando a pólis tinha dificuldade em alimentar a população, decidia pelo envio de uma parte para outro lugar, com objetivo de fundar uma colônia, a qual denominavam apokia (residência distante). Foi dessa forma que os gregos e espalharam pelo Mediterrâneo. Além de dispersarem os gregos geograficamente, essas colonizações estimularam o comércio e a indústria.
Tendo aparecido na Lídia em meados do século VII a.C., a moeda foi logo adotada pelos gregos, contribuindo para incrementar o comércio e permitir a acumulação de riquezas. Com o aparecimento dos plutocratas corno urna nova classe, a aristocracia perdeu o poder econômico, embora ainda mantivesse o poder político, que seria por ela controlado, contudo finalmente retirado com as reformas introduzi das pelos legisladores e tiranos. A escrita surge como nova tecnologia, permitindo a codificação de leis e sua divulgação através de inscrições nos muros das cidades e, consequentemente, junto com as instituições democráticas que passaram a contar com a participação do povo, os aristocratas perdem também o monopólico da justiça.
Retirar o poder das mãos da aristocracia com leis escritas foi o papel dos legisladores. Coube-lhes compilar a tradição e os costumes, modificá-los e apresentar urna estrutura legal em forma de leis codificadas. 
Os gregos não elaboram tratados, adotaram a prática de legislar e administrar a justiça pela resolução dos conflitos.
O primeiro Legislador foi Zaleuco de Locros (por volta de 650 a.C.), que tem o mérito de ter sido o primeiro a fixar penas determinadas para cada tipo de pena. Logo após, tempos Carondas, legislador da Catânia (cerca de 630 a.C.) e Licurgo, em Esparta.
	Em Atenas, temos dois nomes importantes: Drácon e Sólon:
Drácon forneceu a Atenas seu primeiro código de leis, que ficou conhecido por sua severidade e cuja lei relativa ao homicídio foi mantida pela reforma de Sólon. Deve-se também a ele a introdução de importante princípio ao direito penal: a distinção entre diversos tipos de homicídio, diferenciando entre homicídio voluntário, involuntário e de legítima defesa. Ao Aerópago cabia julgar os homicídios voluntários; os demais tipos de homicídios eram julgados pelo tribunal de Éfetas.
Sólon não só cria um código de leis, que alterou o código criado por Dácron, como também procede uma reforma institucional, social e econômica. Com respeito às instituições, manteve os Arcontes, o Aerópago e a Assembléia, mas com algumas alterações. Acredita-se que a Boulê (Conselho) tenha sido uma criação de Sólon, mas formada inicialmente por 400 pessoas e sendo um conselho paralelo ao Areópago. Uma criação importante e de grande repercussão no direito ateniense foi o tribunal da Heliaia.
A heliaia era o tribunal popular que julgava todas as causas, tanto públicas como privadas, à exceção dos crimes de sangue que ficavam sob a alçada do areópago. Os membros da heliaia, denominados heliastas, eram sorteados anualmente dentre os atenienses. O número total era de seis mil e, para julgar diferentes causas, eram sorteados novamente para evitar fraudes. O número de heliastas atuando como júri em um processo variava, mas atingia algumas centenas
Em Atenas, Pisístrato é o grande nome e aquele, após algumas tentativas, que estabelece a tirania de 546 a 510 a.C., comportando-se como déspota esclarecido. Com a queda da tirania de Pisístrato em 510 a.C., o povo ateniense reage, não aceita a liderança de Iságoras e elege Clístenes, considerado, posteriormente, o pai da democracia grega. Clístenes atua como legislador, realizando verdadeira reforma e instaurando nova Constituição. A Assembléia do Povo era a principal de suas instituições e era onde as decisões eram tomadas.
O direito grego é estabelecido de forma sistemática com a escrita, fontes literária (discursos forenses escritos pelos logógrafos) e epigráficas (publicação de documentos em forma pública: placas de pedra, madeira e bronze). A lei grega é assunto humano, sua promulgação e revogação nada tem de divino, constituindo um processo de laicização do direito).
O direito grego foi durante muito tempo uma disciplina deserdada, novamente porque o direito grego tem sido objeto de estudo mais por parte de (1) filósofos (que não se preocupavam muito com a verdade jurídica) e (2) de romanistas, que permaneciam fechados em suas categorias tradicionais. 
S. C. Todd admite que “Direito é uma das poucas áreas de práticas sociais na qual os antigos gregos não tiveram influência significante nas sociedades subseqüentes”.
Às duas razões citadas por Mário C. Giordani pode-se adicionar uma terceira: a de que a escrita grega surgiu e se desenvolveu ao longo da história da civilização grega, tendo atingido sua maturidade somente após o ocaso dessa civilização. Estivessem a escrita, os meios de escrita e a tecnologia de produção de livros em adiantado estágio quando a civilização grega atingiu seu auge, como aconteceu com a civilização romana, teríamos talvez outra história quanto ao direito grego.
Como expressão oral, a língua grega é uma língua indo-européia. Os gregos adotaram uma versão do alfabeto semítico utilizado pelos fenícios, provavelmente porque estes utilizam a via marítima para o comércio e tinham contatos com os gregos.
A LEI GREGA ESCRITA COMO INSTRUMENTO DE PODER
Antes do século VII a.C., os gregos não tinham leis escritas porque a arte da escrita se perdera (escrita linear B) com o término do período Micênico. A escrita somente foi reaprendida pelos gregos no século VIII a.C. e um dos usos dessa nova arte foi a inscrição pública de leis.
A POLÍTICA
Esparta
	Cabia a Licurgo a produção normativa em Esparta. Em Esparta, a formação da família é para guerra. O estado é organizado com um Senado Espartano – Gerússia (menor que o ateniense), uma Assembléia – Apela (menor que ateniense). A pólis vai substituir a justiça plânica pela justiça da pólis. 
	Os gregos não ultrapassaram a concepção de cidades-estados: as pólis gregas permaneceram isoladas, constituindo estados autônomos. Nenhuma das cidades-estados chegou a atingir o equilíbrio interno dos diferentes fatores econômicos e sociais que permitisse lançar-se a empreendimentos exteriores capazes de impulsionar a unificação daGrécia.
	Em Esparta (Lacedemônia), existia um modelo mais centralizado. Em Atenas, era um modelo mais democrático.
 A Estrutura do Estado Espartano era: 
Oligarquia Militar (sociedade militarizada, educação militar).
Diarquia: monarquia composta por dois reis (para evitar a autocracia).
Gerúsia: representa o Senado Espartano, composto por 28 membros da aristocracia. Cabia o direito de decisões importantes e legislar, além de controlar as diarcas.
Eforado: composto por cinco membros eleitos pela assembleia do povo. Possuíam funções executivas, administrativas e fiscalizavam a vida pública.
Apela: assembleia do povo, formada por todos os cidadãos espartanos maiores de 30 anos. Votava as leis e escolhiam os gerontes.
Sociedade Espartana
	Eram compostas por Espartanos ou espartíatas, uma classe dominante, formada pelas famílias de conquistadores dórios. Sua principal atividade era a política e a guerra: eram verdadeiros soldados profissionais. Periecos, composto por camponeses, comerciantes e artesãos, podendo possuir terras e bens móveis, gozavam de uma certa autonomia, vigiada por funcionários espartanos e eram obrigados a pagar tributos. O casamento entre Espartanos e Periecos era proibido. Serviam no exército em unidades a parte, pois o serviço militar lhes era obrigatório. Havia, também, os Hilotas, que representavam as populações dominadas e reduzidas a escravidão pública (prisioneiros de guerra). Trabalhavam na agricultura, nos kleros (lotes de terra) para sustentar o proprietário e sua família (propriedade do Estado, escravos públicos). Para prevenir revoltas, os espartanos exerciam anualmente matanças (coríntias). O governo estimulava o laconismo (pouca fala), a xenofobia (aversão a estrangeiros) e a xenelasia (não estadia de estrangeiro).
	Com relação a educação espartana, a mulher era a educadora. Assim que nascia, a criança era examinada pelos velhos, que decidiam sobre sua vida ou morte. Se fosse robusta, sem defeitos físicos, a criança devia viver; se não, era lançada do alto do Monte Taigeto. A criança ficava sob os cuidados da mãe até os sete anos de idade, em seguida, era entregue ao Estado que lhe dava educação cívica até os doze anos, quando eram mandados para o campo onde deveriam sustentar-se por conta própria. Aos dezessete, os rapazes eram submetidos a uma prova de habilidade (críptia). Até os trinta anos, os espartiatas não podiam se casar, apenas coabitar. Dos trina em diante, podiam participar da Assembléia, casar e deixar o cabelo crescer. Aos sessenta, se aposentavam do exército e podiam tomar parte no Conselho dos Anciãos (Gerúsia).
	A legislação espartana baseava-se num código de leis atribuído a um legislador, Licurgo. Essa legislação preservava a sociedade assegurando aos espartiatas certos privilégios. Toda sociedade e a educação espartana estavam voltadas para a guerra. 
Nesse tipo de organização social o exército tinha importância fundamental; sobre ele que se assentava a ordem interna e a defesa externa. Aristóteles (Politica) – trata da constituição da Lacedemônia “Dizem que Licurgo tentara sujeitar as mulheres as suas leis, mas a resistência delas fez com que abandonasse a tentativa” (Apêndice IV).
Atenas: democracia ateniense.
Basilei – rei (monarquia hereditária): chefe de guerra, juiz e sacerdote, ao mesmo tempo. Seu poder é limitado por um Conselho de Aristocratas (Aerópago, Corte de Justiça). A população dividia-se em cinco classes: 
Eupátridas: os bem nascidos, representavam a aristocracia agrária.
Georgoi, formada pelos pequenos proprietários de terras.
Dimurgos, composto por comerciantes e artesãos.
Metecos, classe social constituídas de estranheiros. Eram comerciantes, pessoalmente livres, mas sem direitos civis ou políticos.
Escravos, prisioneiros de guerra sem direitos políticos, era inicialmente inexpressivos, mas logo se transformaram na base de produção agrária. Em Atenas, atuavam em todos ofícios, exceto na atividade política. Podiam chegar à liberdade, porém, nunca à cidadania.
	No século VIII a.C. a realeza já se encontrava em dissolução; a obediência ao rei era apenas nomina, por parte dos chefes das famílias aristocratas. A monarquia cedeu lugar a um regime aristocrático: o Arcontado, composto por nove magistrados.
Orgãos do governo: 
A Assembléia (ekklêsia) era composta por todos os cidadãos acima de 20 anos e de posse de seus direitos políticos. A Assembléia constituía-se no órgão de maior autoridade, com atribuições legislativas, executivas e judiciárias. Competiam-lhe: as relações exteriores, o poder legis1ativo, a parte política do poder judiciário e o controle do poder executivo, compreendendo a nomeação e a fiscalização dos magistrados.
O Conselho (boulê), composto de 500 cidadãos (50 para cada tribo), com idade acima de 30 anos e escolhidos por sorteio a partir de candidatura prévia, era renovado a cada ano. Eram submetidos a exame moral prévio (dokimasia) pelos conselheiros antigos e a prestação de contas (euthynê) no final de sua atividade.
Os prítanes é o que se pode chamar de comitê diretor do Conselho (Boulê). Os 500 membros do Conselho eram organizados em 10 grupos de 50 (um grupo para cada tribo) e cada grupo exercia a pritania durante um décimo do ano. O epistatês era o presidente de cada grupo e era escolhido diariamente por sorteio e somente podia ser escolhido uma vez. Atuava como presidente do Conselho e da Assembléia e tomava-se o guardião das chaves dos templos onde ficavam os tesouros e os arquivos. Os prítanes eram o elo entre o Conselho e a Assembléia, os magistrados, os cidadãos e os embaixadores estrangeiros.
Os estrategos foram instituídos em 501 a.C., em número de dez, sendo eleitos pela Assembléia, e podendo ser reeleitos indefinidamente (foi o caso de Péricles, eleito estratego 15 vezes) e devendo prestar contas no final da atividade. Como requisito, tinham de ser cidadãos natos, casados legitimamente (não eram elegíveis os solteiros) e possuir uma propriedade financeira na Ática que assegurasse alguma renda, porque a atividade não era remunerada. Tinham como atividades principais o comando do exército, distribuição do imposto de guerra, dirigir a polícia de Atenas e a defesa nacional.
Os magistrados eram sorteados dentre os candidatos eleitos, renovados anualmente e não podiam ser reeleitos, o que impedia qualquer possibilidade de continuidade política (o que não acontecia com os estrategos). Os atenienses tinham vários tipos de magistraduras, quase sempre agrupadas em forma de colegiado (normalmente dez por categoria), sendo o grupo mais importante dos arcontes. Estes também em número de dez (nove arcontes e um secretário) tinham nomes particulares, dependendo de sua atividade. O arconte propriamente dito dava seu nome ao ano e passou a ser chamado de arconte epônimo no período romano, cabendo-lhe regulamentar o calendário, presidir as Grandes Dionisíacas, instruir os processos de sucessão e tutelar viúvas e órfãos. O arconte rei (basileu) tinha funções apenas religiosas e presidia os tribunais do Areópago. O arconte polemarco não era mais o chefe do exército, mas o responsável pelas cerimônias fúnebres dos cidadãos mortos em combate com o inimigo. Seis arcontes (thesmothétai) eram os presidentes de tribunais e, a partir do quarto século a.C., passaram a revisar e coordenar anualmente as leis.O arconte era o secretário (grammateus).
As instituições atenienses, para a administração da justiça, podem ser agrupadas em duas categorias: (a) justiça criminal e (b) justiça civil
a) Justiça criminal 
O Areópago era o mais antigo tribunal de Atenas e, de acordo com uma lenda, havia sido instituído pela deusa Atena para o julgamento de Orestes. De início era um tribunal aristocrático, com amplos poderes, tanto na condição de corte de justiça como na de conselho político. Com as sucessivas refomlas (Clístenes e Efialtes), teve seu poder esvaziado, perdendo várias atribuições, inclusive as políticas. No quarto século, somente julgava os casos de homicídios premeditados ou voluntários,de incêndios e de envenenamento. Seus membros eram os ex-arcontes.
b) Justiça civil 
Os juízes dos demos, em número de 30 e mais tarde 40, escolhidos por sorteio, percorriam os demos e resolviam de forma rápida os litígios que não ultrapassassem 10 dracmas (cerca de 20 dias de salário). No caso de processos mais importantes, embora fossem enviados aos tribunais atenienses, cabia aos juízes dos demos a responsabilidade da investigação preliminar. Era um arranjo que facilitava a vida dos habitantes do campo, evitando que tivessem de se dirigir à cidade para solucionar pequenos litígios. Os árbitros podiam ser privados ou públicos. No caso de árbitros privados, estes eram escolhidos pelos litigantes, que assim mantinham o caso fora dos tribunais e do conhecimento público.
A heliaia foi a grande demonstração de que o povo era soberano em matéria judiciária, por ser um tribunal que permitia que a maior parte dos processos fosse julgada por grandes júris populares. Composta por seis mil heliastas escolhidos anualmente por sorteio pelos arcontes, dentre os cidadãos com mais de 30 anos, era o grande tribunal ateniense onde a cidade se reunia para julgar.
Finalmente, havia os juízes dos tribunais marítimos (nautodikai), que se ocupavam dos assuntos concernentes ao comércio e à marinha mercante, além das acusações contra os estrangeiros que usurpavam o título de cidadão.

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