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APONTAMENTOS aula 5 A 8 História do Direito Brasileiro

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO
APONTAMENTOS DE AULA
5 A 8
PROFª MARIA DE FÁTIMA ALVES SÃO PEDRO
UNIDADES MENEZES CÔRTES
Aula 5
Aspectos Relevantes do Direito no Brasil no Período Regencial e nas primeiras décadas do Segundo Reinado
Ementa: A ambiência jurídico-política do Período Regencial: as reformas liberalizantes de 1831 a 1837 (a lei dos juizados de paz, a lei da Regência, os Códigos Criminal e de Processo Criminal, o Ato Adicional), o “Regresso” e o fim da experiência liberal-descentralizadora (a partir de 1837). O golpe jurídico-político da Maioridade. A primeira década do Segundo Reinado: implantação e consolidação. O apogeu do Segundo Reinado (de 1850 a 1870) e a modernização jurídico-política: Lei de Terras, Lei de extinção do tráfico de escravos, o Código Comercial, a Consolidação das Leis Civis de Teixeira de Freitas. 
O Período regencial: reformas liberais e descentralizadoras e o “Regresso” centralizador
Uma primeira abordagem a respeito do Período regencial...
O período posterior à abdicação de D. Pedro I ficou conhecido como Período Regencial – ao longo dele o país foi conduzido por figuras públicas, em nome do futuro imperador (cuja maioridade aconteceria antecipadamente, em 23/07/1840, quando então D. Pedro de Alcântara não havia completado 15 anos, já que seu aniversário ocorria no dia 02/12).
A princípio o governo regencial assumiu a forma de Regência Trina (três regentes) – logo após a abdicação de D. Pedro I, instalou-se uma Regência Trina Provisória, escolhida por parlamentares que se encontravam na Corte na manhã do dia 07/04, já que a Assembleia Geral estava em recesso. 
Em junho de 1831, foi formada a Regência Trina Permanente e, a partir do Ato Adicional de 1834, transformou-se em Regência Una.
O Período Regencial foi um dos mais agitados da história política do país, quando esteve em jogo a UNIDADE TERRITORIAL DO BRASIL e quando os temas da centralização e da descentralização do poder (autonomia das províncias, organização das forças armadas) estiveram no centro do debate político.
 As reformas realizadas pelos regentes refletiram as dificuldades em se adotar uma prática liberal que se desligasse da influência do absolutismo – muitas das medidas adotadas que se destinaram a flexibilizar o sistema político e a garantir os direitos individuais, nas condições brasileiras da época, provocaram violentos conflitos entre as elites e resultaram em predomínio dos interesses locais.
 A verdade é que entre os grupos e classes dominantes no Brasil da época, não havia consenso a respeito do arranjo institucional mais conveniente para seus interesses e nem clareza sobre qual o papel a ser desempenhado pelo Estado como organizador dos interesses gerais dominantes.
 As reformas do Período Regencial, pelo menos até 1837, trataram de suprimir ou diminuir as atribuições da Monarquia e criar uma nova forma de organização militar, que reduzisse o papel do Exército.
SOBRE OS JUIZADOS DE PAZ...
Os JUÍZES DE PAZ eram magistrados não profissionais, sem remuneração, eleitos localmente pelos habitantes de cada distrito ao qual ficavam circunscritos.
Inicialmente foram encarregados da conciliação entre as partes envolvidas em litígios de menor importância e do julgamento de ações cíveis que envolvessem valores de até dezesseis mil-réis, incumbindo-se também de certas funções policiais (dentre as quais podemos destacar: dissolver ajuntamentos ilícitos, perseguir e prender criminosos dentro de sua jurisdição, efetuar o corpo de delito, zelar pela aplicação das posturas municipais, desbaratar quilombos).
A implantação dos Juizados de Paz se constituía em uma das principais “bandeiras” dos liberais e tinha como um de seus objetivos a descentralização e o esvaziamento do excesso de concentração de poderes nas mãos do imperador.
SOBRE O CÓDIGO CRIMINAL DE 1830...
Em 16/12/1830 foi instituído o Código Criminal do Império, baseado no projeto de Bernardo Pereira de Vasconcellos .
Este código classificou os crimes em três tipos:
 Crimes públicos (crimes políticos e administrativos que atentassem contra a integridade e a existência do Império e dos poderes públicos e que corrompessem a administração pública e os direitos políticos dos cidadãos).
 Crimes particulares (crimes cometidos contra a segurança, a liberdade, a honra e a propriedade do indivíduo, como por exemplo, o conto-do-vigário, o roubo, o insulto, a agressão física e o assassinato).
 Crimes policiais (crimes relacionados à desordem, ajuntamentos ilícitos, falsificação e uso de identidade falsa, abusos contra a liberdade de imprensa, vadiagem e mendicância, atentados contra a religião e a “moral e os bons costumes”, entre outros delitos leves, próximos à contravenção).
Dentre os aspectos mais significativos do Código Criminal de 1830, podemos destacar:
a pena de morte se daria na forca, cumprida no dia seguinte ao da intimação, não se realizando nunca na véspera do domingo, dia santo ou de festa nacional.
na mulher grávida não se aplicaria a pena de morte e nem seria julgada, no caso de a merecer, senão 40 dias após o parto.
Além da pena de morte, outras penas eram previstas: galés, prisão com trabalho, prisão simples, banimento, degredo, desterro, todas acompanhadas de suspensão de direitos políticos.
Para os escravos mantinham-se as condenações a penas de açoites, no caso de delitos que não implicassem em condenação à morte, ou às galés.
O Código de 1830 não imputava pena, por não considerar como criminosos, os MENORES DE 14 ANOS, os LOUCOS DE TODO GÊNERO e as pessoas que cometessem crime levadas por força ou medo “irresistíveis”.
Os menores de 14 anos, quando considerados com discernimento a respeito do delito cometido, eram recolhidos a casas de correção.
O Código abrigava o Princípio da Legalidade, mas ainda se permitia o arbítrio dos juízes.
Até 1871, o Código não contemplava a indicação e a qualificação do crime culposo, quando então a falha foi sanada por lei complementar – pelo artigo 3º não haveria criminoso ou delinquente sem má fé, ou seja, sem conhecimento do mal que se estava praticando.
Os crimes sexuais eram rigidamente punidos, mas a punição era tão mais contundente se a mulher fosse considerada socialmente como sendo “de família” – no caso da mulher ser prostituta, a pena para o agressor era mais leve.
O adultério feminino era punido com pena de prisão com trabalho de um a três anos – já o homem casado que tivesse concubina “teúda e manteúda”, seria punido com as penas impostas à mulher adúltera.
 Cultos religiosos que não fossem católicos eram considerados crimes quando praticados em público.
No âmbito da responsabilidade podemos destacar que os legisladores imperiais impuseram a responsabilidade sucessiva – isto ocorria nos crimes de imprensa.
SOBRE A LEI DE REGÊNCIA DE JUNHO DE 1831...
Um dos temas que mais disputas e controvérsias gerou no Primeiro Reinado, relacionava-se ao tensionamento entre o Executivo e o Legislativo.
Passado o episódio da abdicação de D. Pedro I, começaram a ser debatidas, na Câmara dos Deputados, as atribuições da Regência, tendo prevalecido os argumentos que buscavam evitar um desequilíbrio de poderes a favor do Executivo (ou seja, da Regência), em detrimento do Legislativo.
Assim, foi sancionada a Lei de Regência que fortalecia o poder dos deputados em detrimento dos regentes que estavam impedidos de dissolver a Câmara, de conceder anistia, de outorgar títulos honoríficos, de suspender as liberdades individuais, de decretar estado de sítio, de declarar guerra, de ratificar tratados e de nomear conselheiros - para tanto, dependiam do Parlamento.
SOBRE A CRIAÇÃO DA GUARDA NACIONAL EM AGOSTO DE 1831...
Uma das primeiras medidas tomadas para reformular o aparelho repressivo oriundo do Primeiro Reinado foi a criação da Guarda Nacional.
 Em agosto de 1831 foi promulgada a lei que criava a Guarda Nacional - a ideia consistiaem organizar um corpo armado de cidadãos confiáveis com capacidade de reduzir os excessos do governo centralizado e as ameaças das “classes perigosas”, ou seja, das classes populares.
 Além do controle das classes populares, a criação da Guarda Nacional refletiu a preocupação do governo brasileiro após a abdicação de D. Pedro I e das elites locais com o Exército – esta instituição mostrava-se mal organizada e formada por pessoas que eram mal pagas, insatisfeitas e propensas a se aliarem às “classes perigosas”, ou seja, ao povo, nas rebeliões urbanas.
Na prática, esta instituição ficou incumbida de manter a ordem no município onde fosse formada, contribuindo tanto para reafirmar o poder das elites locais, como para garantir os interesses do Estado Imperial, através do consenso entre estas elites – a Guarda Nacional era composta obrigatoriamente por cidadãos com direito de voto nas eleições primárias que tivessem de 21 a 60 anos e o alistamento obrigatório acabou desfalcando os quadros do Exército.
Até 1850, os oficiais inferiores da Guarda Nacional eram eleitos pelos integrantes da corporação, em eleição presidida pelo juiz de paz – aos poucos, o estabelecimento de uma hierarquia se sobrepôs ao princípio eletivo e as eleições se tornaram “letra morta” antes mesmo que a lei fosse mudada.
SOBRE O CÓDIGO DE PROCESSO CRIMINAL DE 1832...
O Código de Processo Criminal do Império alterou significativamente o direito brasileiro, pondo fim ao sistema judicial antigo derivado das Ordenações Filipinas. Na verdade, a denominação deste Código, de acordo com a lei de 29 de novembro de 1832 era “Código de Processo Criminal de primeira instância com disposição provisória acerca da administração da Justiça Civil”. Dentre as novidades introduzidas pelo Código de Processo Criminal podemos destacar:
 O modelo de investigação criminal típico das Ordenações (o processo inquisitorial) foi substituído por um JUIZADO DE INSTRUÇÃO, de perfil CONTRADITÓRIO, sob a direção de um JUIZ DE PAZ, leigo e eleito.
 Foram introduzidos o Conselho de Jurados (o Tribunal do Júri) e o recurso do HABEAS-CORPUS – havia dois conselhos de jurados: o da acusação (ou de pronúncia) com 23 jurados e o de sentença com 12 jurados.
Em nível de recurso havia as JUNTAS DE PAZ (formadas por cinco juízes de paz que apreciavam os recursos sobre as decisões dos juízes de paz) ou os TRIBUNAIS DA RELAÇÃO ou TRIBUNAIS PROVINCIAIS (para julgamento dos recursos das sentenças (revisão das decisões) dos JUÍZES DE DIREITO – para o SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA havia apenas o recurso de revista (os recursos de revista que lhe eram oferecidos, eram analisados com base exclusiva em nulidade manifesta ou injustiça notória no julgamento da causa pelas instâncias inferiores) 
 Os JUÍZES DE DIREITO eram nomeados pelo imperador e tinham atuação na COMARCA e sua função principal era presidir o Conselho de Jurados (presidiam os dois júris, o de acusação e o de sentença) – eram vitalícios e deviam ser bacharéis em direito com prática de um ano no foro;
 Os JUÍZES MUNICIPAIS eram nomeados pelos Presidentes de Província, por um período de três anos, por meio de listas tríplices elaboradas pelas Câmaras Municipais, sendo escolhidos entre pessoas bem conceituadas – eram formados em direito ou podiam ser advogados de comprovada habilidade (na falta de bacharéis em direito, os Tribunais da Relação “passavam provisão” para os que tivessem conhecimento da prática forense) e sua atuação se dava nos TERMOS (subdivisões da COMARCA).
 A primeira parte do Código reorganizou a justiça criminal, extinguindo as ouvidorias de comarca, os juízes de fora, os juízes ordinários, passando a justiça criminal a contar com os JUÍZES DE DIREITO, os JUÍZES MUNICIPAIS, JUÍZES DE PAZ e JURADOS.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE!!!
Apesar da autonomia municipal ter sofrido um revés importante com a Lei de 01/10/1828 *, o Código de Processo Criminal de 29/11/1832, durante o tempo em que esteve em vigor (reformado em 1841) restabeleceu, de certa forma, a autonomia dos municípios, habilitando-os a exercer, por si sós, atribuições judiciárias e policiais, ao mesmo tempo em que ampliou os poderes dos JUÍZES DE PAZ em relação àquelas atribuições previstas na lei de implantação dos JUIZADOS DE PAZ.
 Dentre as atribuições ampliadas dos JUÍZES DE PAZ, podemos destacar:
 Competência para julgar ações cuja pena máxima não excedesse a cem mil-réis ou seis meses de cadeia.
 prender criminosos procurados pela Justiça fora de sua jurisdição. 
 efetuar a formação de culpa e a pronúncia dos acusados, indicar os inspetores de quarteirão e elaborar, juntamente com os párocos locais e o presidente da Câmara Municipal, a lista dos jurados. 
ATENÇÃO!!!
 Durante a assembleia constituinte de 1823 que antecedeu a Constituição de 1824, havia dois posicionamentos sobre a natureza jurídica do município: um a favor da sua autonomia e outro defendendo a função meramente administrativa do poder municipal. Mas em 01/10/1828, foi editada a lei que regulamentava o exercício das funções municipais, definindo, em seu artigo 24, "serem as câmaras corporações meramente administrativas, na exercendo jurisdição alguma contenciosa". Assim, os municípios atravessaram o período imperial sem rendas próprias para prover as suas necessidades e sem autonomia para outras resoluções que porventura surgissem.
SOBRE O ATO ADICIONAL DE AGOSTO DE 1934...
O Ato Adicional promulgado a 12 de agosto de 1834, resultou de um longo processo de debates que se iniciaram na imprensa e nas ruas, tendo como tema o FEDERALISMO, a partir de 1830 e em comissão especial da Câmara dos Deputados a partir de maio de 1831 que foi encarregada de elaborar uma proposta de reformas.
 O projeto inicial que ficou conhecido como “projeto Miranda Ribeiro” (proponente do projeto e membro da comissão, toda formada por liberais moderados) previa: monarquia federativa, supressão do Conselho de Estado, do Poder Moderador e do mandato vitalício do Senado, criação de assembleias provinciais e de intendentes nos municípios com funções executivas, repartição das rendas públicas em nacionais e provinciais e mudança da forma do governo regencial de REGÊNCIA TRINA para REGÊNCIA UNA, com vice-regente e eleita pelas assembleias provinciais.
Como o projeto original da Câmara saiu muito modificado das negociações, uma nova comissão foi formada na Câmara (composta pelos deputados Paula Araújo, Bernardo de Vasconcellos e Limpo de Abreu) com o objetivo de elaborar um novo projeto de reformas que seria apresentado na sessão do dia 07 de junho de 1834.
 Mais uma vez, os temas polêmicos foram objeto de intensos debates entre os LIBERAIS EXALTADOS (que defendiam a ampliação das reformas descentralizadoras) e os CARAMURUS (conservadores) e alguns LIBERAIS MODERADOS (que pretendiam limitar, principalmente, os poderes dos LEGISLATIVOS PROVINCIAIS).
 Chegou-se a uma solução de “meio termo” que garantisse a liberdade das províncias, mas que não ameaçasse a unidade nacional e a ordem pública – em 12 de agosto de 1834 foi promulgado o Ato Adicional à Constituição de 1824.
 Este projeto foi enviado para o Senado em 13 de outubro de 1831, onde, depois de intensos debates, uma série de emendas acabou por derrubar o projeto Miranda Ribeiro.
 As emendas implementadas pelo Senado foram todas rejeitadas na Câmara, o que levou, em setembro de 1832, à reunião das duas casas legislativas em Assembleia Geral, o que levou a uma “solução de compromisso”, através da lei de 12/10/1832 que retirava do projeto original os seguintes itens: extinção do Poder Moderador e do Senado vitalício, a autonomia municipal e a qualificação de “monarquia federativa”. Por esta lei, as eleições para a Regência Uma seriam diretas (sem a eleição de vice-regente).
Dentre os principais dispositivos do Ato Adicional, podemos destacar:
 Suspensão do exercício do Poder Moderador durante a Regência. 
 Supressão do Conselho de Estado.
 Substituição da Regência Trina pela Regência Una,sendo o regente eleito para um mandato de 04 anos por voto secreto e direto.
 Criação das Assembleias Provinciais (com legislaturas bienais), com maiores poderes que os Antigos Conselhos Gerais das Províncias – as decisões das Assembleias Provinciais não poderiam ser vetadas pelos Presidentes das Províncias, mas elas não tinham condições de legislar livremente, uma vez que não poderiam prejudicar “as imposições gerais do Estado” (art. 10, § 5º ).
 Pelo Ato Adicional, as Assembleias Provinciais passaram a ter competência para fixar e fiscalizar as despesas municipais e das províncias e para lançar os impostos necessários ao atendimento dessas despesas, desde que não prejudicassem as rendas a serem arrecadadas pelo governo central.
 Atribuiu-se também às Assembleias Provinciais a competência de nomear e demitir funcionários públicos, o que dava aos políticos regionais uma arma significativa tanto para a obtenção de votos em troca de favores, como para a perseguição de inimigos.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE!!!
Apesar do Ato Adicional não ter implantado uma FEDERAÇÃO (os presidentes das Províncias continuavam a ser escolhidos pelo Poder Central no Rio de Janeiro e as Províncias estavam impedidas de ter Constituições próprias), ele descentralizou a administração e concedeu mais autonomia às Províncias com a criação das ASSEMBLÉIAS PROVINCIAIS e com a DIVISÃO DAS RENDAS PÚBLICAS.
E AS REFORMAS REGENCIAIS TIVERAM POUCA DURAÇÃO...
Todo o conjunto de reformas liberais e descentralizadoras implementadas desde a segunda metade do Primeiro Reinado e ao longo do período compreendido entre 1831 e 1834 começou a ser contestada já no início do governo do primeiro regente uno, o liberal moderado, padre Diogo Antonio Feijó.
 Desde o início da regência de Feijó, em outubro de 1835, a resistência no Parlamente foi grande, já que as desavenças entre o regente e os deputados vinha do tempo em que Feijó, como ministro da Justiça na Regência Trina Permanente, cobrou duramente da Câmara a adoção de medidas extraordinárias para combater a “anarquia”, entrando em choque, não somente com a oposição dos deputados EXALTADOS e CARAMURUS, mas também com deputados do grupo dos MODERADOS, ao qual pertencia.
 Além disso, sua participação na tentativa de golpe de Estado por ocasião da discussão das reformas descentralizadoras em julho de 1832, associada a medidas polêmicas tomadas ao longo de seu governo (restrições à liberdade de imprensa pela lei de 18/03/1837, anulação das eleições na Paraíba e em Sergipe, por suspeita de fraude), aumentaram o desgaste do regente junto ao Parlamento, tornando-o mais vulnerável aos ataques da oposição.
Dois fatores contribuíram efetivamente para o desgaste do governo e para o aprofundamento da crise:
 O primeiro foi a eclosão de grandes revoltas em diferentes regiões do Império a partir de 1835 – mais uma vez Feijó, como já fizera quando ministro da Justiça da Regência Trina Permanente, exigiu do Câmara meios mais eficazes para o combate à Cabanagem e à Revolução Farroupilha (mais recursos no Orçamento e crédito complementar, efetivos militares maiores e leis mais enérgicas contra crimes de rebelião, sedição, conspiração, suspensão das garantias e restrição ao HABEAS-CORPUS).
O segundo fator foi a desilusão com as reformas liberais que, se refletiram a supremacia dos MODERADOS, produziram transformações que questionaram sua posição política, como por exemplo, o fortalecimento dos poderes provinciais que nem sempre estavam em sintonia com os interesses do governo central. 
No caso de solicitação de recursos materiais, financeiros e normativos adicionais para o combate à revoltas, a oposição, tendo a frente, Bernardo Pereira de Vasconcellos, estabelecia obstáculos às negociações, limitava a concessão dos recursos solicitados, sob a alegação de que o governo pretendia implantar uma DITADURA.
Assim, 11 meses após a aprovação do Ato Adicional, surgiu a primeira proposta de elaboração de um projeto de interpretação de artigos considerados “obscuros e duvidosos” do Ato – esta proposta veio através de um requerimento do deputado Souza Martins, de 14/07/1835, que tinha como objetivo solicitar esclarecimentos das atribuições do Legislativo central e dos Legislativos provinciais, sendo, contudo, barrado.
Em 18/05/1836 e em 19/06/1836 propostas semelhantes apresentadas pelos deputados Rodrigues Torres e José Raphael de Macedo foram rejeitadas. 
Entretanto, um novo projeto de interpretação do Ato Adicional apresentado pela Comissão das Assembleias Legislativas da Câmara dos Deputados (comissão formada por deputados REGRESSISTAS, Paulino Soares de Souza, Miguel Calmon e Carneiro Leão), tinha como objetivo limitar a ampliação dos poderes das ASSEMBLÉIAS PROVINCIAIS.
 Este projeto propunha que tudo o que não estivesse incluído ou mencionado nos artigos 10 e 11 do Ato, sobre as atribuições das ASSEMBLEIAS PROVINCIAIS, pertenceria ao governo central.
 Dentre as proibições previstas nos seis artigos deste projeto que demonstravam claramente seu caráter centralizador, podemos destacar:
Proibição das assembleias provinciais de legislar sobre assuntos de polícia judiciária.
 Veto às assembleias de promover modificações na natureza e nas atribuições dos empregos públicos provinciais e municipais estabelecidos por leis gerais relativas a temas sobre os quais não podiam legislar (os cargos criados pelo Código de Processo Criminal).
Restrições ao poder de nomear e demitir empregados provinciais por parte das Assembleias Provinciais que só poderiam fazê-lo com relação aos cargos instituídos por leis provinciais ou por leis gerais que se referissem a objetos de competência legislativa das assembleias.
Proibição de demissão, por parte das Assembleias Provinciais, de magistrados gerais (das Relações e dos tribunais superiores).
 Proibição de demissão dos demais magistrados, a não ser que isto se fizesse por meio de queixa por crime de responsabilidade e mediante relatório.
 Este projeto foi levado adiante na legislatura seguinte (a de 1838 a 1841), tendo sido aprovado na Câmara em 26/06/1838 e ao passar pelo Senado no ano seguinte, foi promulgado em 12/05/1840 como a Lei de Interpretação do Ato Adicional.
A Lei de Interpretação do Ato Adicional pode ser compreendida como um dos instrumentos de reversão das reformas liberais implantadas nos primeiros anos da Regência, tendência esta que se configurou a partir de 1837, com a ascensão do chamado REGRESSO (parlamentares defensores de uma revisão das reformas liberais, consideradas excessivas) ao poder.
 Nas eleições parlamentares para uma nova legislatura que se iniciaria em 1838, o REGRESSO foi vitorioso e com a renúncia de Feijó em 19/09/1837, assumiu o governo da Regência o ministro do Império, Pedro de Araújo Lima, que seria confirmado como regente com as eleições de 1838.
O gabinete do novo governo, tendo à frente, Bernardo Pereira de Vasconcellos e Rodrigues Torres, com um grupo de políticos (destacando-se Paulino Soares de Souza e Euzebio de Queiroz) que comporia o futuro Partido Conservador, revelava a nova direção política do país.
Apesar da vitória do REGRESSO nas eleições parlamentares e regenciais, as dificuldades enfrentadas pelo novo esquema de poder foram praticamente as mesmas daquelas enfrentadas por Feijó, o que acabou resultando na queda do gabinete de Vasconcellos em 16/04/1839.
 Com o agravamento da crise, a solução passou a ser o fim da Regência e os PROGRESSISTAS (que comporiam o futuro Partido Liberal), apesar de serem minoria, começaram a articular a antecipação da MAIORIDADE do Imperador que se daria em 23/07/1840, quando D. Pedro de Alcântara ainda não havia completado 15 anos (só o faria em 02/12/1840).
O projeto Regressista, além da implantação da Lei de Interpretação do Ato Adicional, propôs também uma revisão no Código de Processo Criminal, cuja lei revisora foi sancionada pelo Imperador em 03/12/1841.
No que consistiu a reforma do Código de Processo Criminal?Concentração de toda a estrutura judicial e policial nas mãos do governo central (do Ministro da Justiça, representando o Imperador).
“Esvaziamento” da importância do JUIZ DE PAZ, em favor da POLÍCIA.
 Implantação de CHEFIAS DE POLÍCIA na Corte e em cada capital de província, cujos titulares eram nomeados pelo Ministro da Justiça, escolhidos dentre desembargadores e juízes de direito.
 Criação de cargos de DELEGADO e SUBDELEGADO (indicados e subordinados diretamente aos Chefes de Polícia e nomeados, na Corte, pelo Ministro da Justiça e nas Províncias, pelos Presidentes das Províncias) nas paróquias e nos municípios os quais assumiram muitas das funções antes atribuídas ao JUIZ DE PAZ, inclusive com atribuições de promover o julgamento de pequenas causas criminais, passando assim a POLÍCIA, em alguns casos, a ter atribuições de INVESTIGAÇÃO, de PROMOÇÃO DO INQUÉRITO e de APLICAÇÃO DE SENTENÇAS DE PRONÚNCIA em certos crimes, já que o art. 95 da Lei de Interpretação do Ato Adicional aboliu o JURI DE ACUSAÇÃO – a instrução criminal passou a ser matéria de polícia e as províncias perderam competências em matéria policial que haviam sido instituídas pelo Ato Adicional.
A reforma do Código de Processo Criminal também aumentou os requisitos para a condição de JURADO:
Saber ler e escrever.
Ter renda mínima anual que variava de 200 mil a 400 mil réis, de acordo com o tamanho da cidade.
 Além disso, determinou-se que, todas as pessoas em viagem pelo Império deveriam portar passaporte, para evitar interrogatórios e possíveis expulsões. 
 A obra centralizadora do REGRESSO contemplou também o restabelecimento do CONSELHO DE ESTADO em 23/11/1841 , por meio de projeto de Bernardo Pereira de Vasconcellos.
 Foi promovida também a reforma da Guarda Nacional, com a abolição do princípio eletivo, passando os oficiais a serem escolhidos pelo governo central ou pelos presidentes de províncias, AUMENTANDO-SE AS EXIGÊNCIAS DE RENDA PARA OS POSTOS DA GUARDA.
PRIMEIROS TRINTA ANOS DO SEGUNDO REINADO: IMPLANTAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO NA PRIMEIRA DÉCADA (1840 a 1850) – APOGEU DO GOVERNO DE D. PEDRO II (1850 A 1870)
 A década de 1850 não balizou para a sociedade brasileira apenas a metade do século XIX. Foi um período em que uma série de medidas foram tomadas na tentativa de mudar a fisionomia do país, conduzindo-o no sentido daquilo que se entendia como modernidade.
 Por exemplo, durante o ano de 1850 verificou-se a promulgação do Código Comercial, da Lei Euzébio de Queiroz que extinguiu o tráfico de escravos da África para o Brasil, da Lei de Terras e centralizou-se a Guarda Nacional.
Deve-se lembrar ainda que, na segunda metade da década de 1850, foi concluída a Consolidação da Leis Civis, elaborada pelo advogado e jurista Augusto Teixeira de Freitas.
O CÓDIGO COMERCIAL...
 Foi implantado pela Lei nº 556 de 25/06/1850, cuja redação foi levada a cabo por uma comissão presidida pelo ministro da Justiça, Euzébio de Queiroz e por notáveis conservadores como José Clemente Pereira, Nabuco de Araújo, Francisco Inácio de Carvalho Moreira e Irineu Evangelista de Souza, futuro Visconde de Mauá.
Compunha-se de três partes: 
 Do artigo 1º ao 455, o Código tratava do comércio em geral.
 Do artigo 456 ao 796, o Código tratava do comércio marítimo.
 Do artigo 797 ao 913, o Código tratava das quebras (falências).
O Código continha um anexo com o título “Da administração da justiça nos negócios e nas causas comerciais” que tratava da regulamentação da profissão de banqueiro e das operações bancárias, as condições dos contratos e obrigações mercantis (hipotecas, penhor mercantil), organização das companhias de comércio, das sociedades anônimas e das sociedades por comanditas.
 O Código Comercial foi regulamentado pelos decretos 737 e 738 de 1850, sendo que este último decreto disciplinava o funcionamento dos TRIBUNAIS COMERCIAIS.
 Já o decreto 737 se constituiu como um verdadeiro Código de Processo Comercial , funcionando também como um Código de Processo Civil.
 Para muitos juristas, o decreto 737 se constituiu na mais sólida referência processualística do período imperial.
LEI EUZÉBIO DE QUEIROZ...
 Na primeira metade do século XIX, havia a crença, entre os círculos dominantes da sociedade brasileira, que “O Brasil é o café e o café é o negro”.
 Após a Independência, apesar da pressão inglesa de fazer com que o Brasil eliminasse o tráfico de escravos, a população livre como um todo acreditava que o fim do tráfico escravos traria o colapso para a sociedade brasileira – durante a década de 1820, o tráfico aumentou em relação à década anterior e a maior parte dos escravos importados foi encaminhada para as lavouras de café no Vale do Paraíba ou ficou no Rio de Janeiro.
 Em 1826, o Brasil firmou um tratado com a Inglaterra, pelo qual, três anos após a sua ratificação, o tráfico de escravos para o Brasil seria considerado ilegal, reservando-se a Marinha Inglesa o direito de inspecionar, em alto-mar, navios suspeitos de comércio ilegal - tal acordo deveria entrar em vigor em março de 1827, com eficácia a partir de março de 1830.
Uma lei de 07/11/1831 tentou pôr em andamento o tratado, com a previsão de penas severas para os traficantes, declarando livres todos os cativos que entrassem no Brasil após aquela data - tal lei se mostrou inócua, uma vez que, os traficantes de escravos não eram ainda malvistos na sociedade brasileira e as reformas descentralizadoras da Regência os favoreceram, visto os júris locais, dominados pelos grandes proprietários absolviam os pouco acusados que iam a julgamento (uma lei para “inglês ver”).
 Diante da inércia (na verdade, da impossibilidade prática e política) do governo brasileiro combater o tráfico de escravos de maneira efetiva, o Parlamento inglês aprovou em 1845 o SLAVE TRADE ACT (que no Brasil ficou conhecido como BILL ABERDEEN), proposto por George Hamilton Gordon, Lord Aberdeen (então ministro das Relações Exteriores do governo britânico), e que autorizava a Marinha Inglesa a tratar os navios negreiros como navios piratas, promovendo sua apreensão (tanto em alto-mar, como em águas territoriais brasileiras gerando alguns incidentes ao longo da costa, como por exemplo a troca de tiros entre um navio da Armada Inglesa e o Forte de Paranaguá, no Paraná) e levando os envolvidos para julgamento em tribunais ingleses – no Brasil, o Bill Aberdeen foi alvo de ataques com certo conteúdo “nacionalista”.
Em setembro de 1848, subiu ao poder no governo brasileiro um gabinete conservador que, a partir de outubro de 1849 passou a ser presidido pelo Marquês de Porto Alegre, e que representava uma aliança de burocratas, magistrados e grandes fazendeiros fluminenses, ocupando o Ministério da Justiça, Eusébio de Queiros – partiria do Ministro da Justiça um projeto de lei, submetido ao Parlamento, para que se tomassem medidas eficazes contra o tráfico negreiro, reforçando a lei de 1831.
Por este projeto, o Brasil reconheceria os traficantes de escravos como piratas e tribunais especiais julgariam os infratores – tal projeto transformou-se em lei em setembro de 1850 e, desta vez, a lei “pegou”.
DUAS QUESTÕES IMPORTANTES A RESPEITO DA EXTINÇÃO DO TRÁFICO DE ESCRAVOS PARA O BRASIL: Quais os motivos que teriam levado a efetiva aplicação da lei de 1850 e o que mudou entre 1831 e 1850 para que isto tivesse acontecido?
 O incremento da pressão inglesa sobre o governo brasileiro.
Ao final da década de 1840, o mercado brasileiro encontrava-se bem abastecido de mão-de-obra escrava, em função da intensa importação de escravos realizada nas décadas anteriores.
A situação de muitos fazendeiros que tinham hipotecado suas terras para grandes traficantes, a maioria deles portugueses, que passaram a ser vistos com ressentimento.
O reforço do governo central, iniciativa dos conservadores, facilitou a tomada de medidas repressivas, destacando-se nesta tarefa homens como João Maurício Wanderley (futuro Barão de Cotejipe) e Nabuco de Araújo (ministro da Justiçaentre 1853 e 1857).
LEI DE TERRAS...
 A Lei de Terras (Lei nº 601 de 18 de setembro de 1850), aprovada duas semanas após a extinção do tráfico de escravos, tentou colocar ordem no emaranhado existente em matéria de propriedade rural, determinando que, no futuro, as terras públicas (terras devolutas) não poderiam ser ocupadas por qualquer outro título que não o de COMPRA DO ESTADO EM HASTA PÚBLICA.
 Garantia-se os direitos dos ocupantes de terra por posse mansa e pacífica ocorrida a partir de 1822 (quando foi revogado o instituto de doação de sesmarias) e dos possuidores de sesmarias com empreendimentos agrícolas instalados até a data da promulgação da lei.
 Esta lei foi concebida como uma forma de evitar o acesso à propriedade da terra por parte dos futuros imigrantes, estabelecendo que as terras públicas deveriam ser vendidas por um preço suficientemente alto para que posseiros e imigrantes pobres fossem afastados. 
Na verdade, a lei visava o favorecimento dos grandes fazendeiros preocupados em atrair o trabalho de imigrantes, para substituir a mão-de-obra escrava, impedindo que aqueles se tornassem pequenos proprietários.
A CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS CIVIS DE TEIXEIRA DE FREITAS...
Proclamada a Independência, foi promulgada a Lei de 20 de outubro de 1823 que determinou vigorassem no Império do Brasil as Ordenações Filipinas, as Leis e Decretos de Portugal promulgados até 25 de abril de 1821, até que se publicasse um novo Código.
 A Constituição de 1824 expressou “a necessidade de se organizar, o quanto antes, um Código Civil e um Criminal, fundado nas sólidas bases da Justiça e da Equidade” - em 1830 e 1850 foram promulgados os Códigos Criminal e Comercial, respectivamente.
Para a legislação civil, adotou-se outro critério, o de aperfeiçoá-la em duas fases distintas: primeiro, seria feito o levantamento e a consolidação de toda a legislação vigente até ali (“formar um novo corpo, mas de direito já vigente”); a seguir, com o auxílio do que fora feito, seria elaborado o texto do novo Código Civil (“formar um corpo novo de direito novo”).
 Em 15 de fevereiro de 1855, o Governo, representado pelo então Ministro da Justiça, José Tomás Nabuco de Araújo, celebrou contrato com o advogado Augusto Teixeira de Freitas, a quem foi concedido o prazo de cinco anos para a realização da tarefa.
A Consolidação (que foi publicada em 1857) foi o verdadeiro Código Civil do Brasil durante mais de meio século (até 1917, quando entrou em vigor o Código Civil Brasileiro, sancionado em 1º de Janeiro de 1916). 
Depois de haver realizado com pleno êxito a tarefa de elaborar a Consolidação das Leis Civis do Império, em 1859, Augusto Teixeira de Freitas foi contratado pelo governo imperial para elaborar o primeiro anteprojeto, mas o trabalho foi por ele abandonado em 1867, o que pode ser atribuído ao conflito entre as ideias de Teixeira de Freitas (que entendia que o Código Civil deveria abordar Direito Civil e Comercial)e as intenções do governo imperial (que entendia que o Código deveria abordar aspectos da legislação civil não incluídos no Código Comercial) a respeito dos temas que deveriam compor o Código Civil.
Quais as Leis abolicionistas que surgiram no Brasil na segunda metade do Séc. XIX e que acabaram por anteceder a chamada “Lei Áurea”? Como elas foram recebidas pelas elites fundiárias? 
Mesmo que devamos acentuar a análise a partir da Lei do Ventre Livre, é importante ressaltar alguns antecedentes que auxiliam na visão do todo. 
1815 - Tratado anglo-português, no qual Portugal concorda em restringir o tráfico ao Sul do Equador; 
1826 - Brasil compromete-se a acabar com o tráfico dentro de três anos; 
1831 - Lei Feijó, que abolia o tráfico negreiro, foi sancionada por pressão da Inglaterra. Daí nasce a expressão "para inglês ver", existente até hoje;
1838 - Abolição da escravidão nas colônias inglesas; 
1843 - Ingleses são proibidos de comprar e vender escravos em qualquer parte do mundo; 
1845 - A Inglaterra aprova o Bill Abeerden, que dá à Inglaterra o poder de apreender os navios negreiros com destino ao Brasil; 
1850 - Lei Eusébio de Queiroz, que abolia o tráfico negreiro em definitivo no Brasil. Esta lei é simplesmente a reedição da Lei de 1831;
1850 - Lei Nabuco de Araújo, que dava penas mais duras aos traficantes de escravos. Essa Lei foi praticamente inócua;
1871- Lei Rio Branco ou Lei do Ventre Livre , que prescrevia que todo filho de escrava nascido a partir da data da lei ( 28/09/1871) seria considerado livre. Há um adendo que, na prática, torna-a praticamente inócua: o filho livre da escrava ficaria com a mãe, escrava, até os oito anos de idade,  sendo que,  atingindo o menor esta idade, os senhores escolheriam ser ressarcidos pelo Estado ou se utilizar dos serviços do menor até a idade de 21 anos. Ou seja, é praticamente a manutenção do status de escravo;
1885 - Lei Saraiva-Cotegipe ou Lei dos Sexagenários, segundo a qual todo escravo com mais de 60 anos ficava livre. Mais uma vez, um detalhe que mitigou largamente a extensão dos efeitos da Lei, era o fato de que o escravo deveria ficar mais três anos na fazenda para ressarcir o senhor. Relevante lembrar que era difícil que os escravos atingissem essa idade; 
1888 (13 de maio ) - Lei Áurea ou Lei João Alfredo, abolindo em definitivo a escravidão no Brasil.
AULA 6
DA CRISE DO 2º REINADO À PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
Ementa: A proclamação da República como um golpe militar, os tensionamento políticos nos primeiros anos da República, o Código Penal de 1890, a Constituição de 1891 (seu perfil político-ideológico e principais aspectos da organização do Estado Brasileiro), a República Oligárquica, o Código Civil de 1916, a crise da República Velha.
AS INCERTEZAS DOS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA...
Os primeiros tempos posteriores à Proclamação da República foram de grande incerteza. O “15 de novembro”, um episódio, a princípio, pacífico, fez com que emergissem uma multiplicidade de posições e de interesses.
Isto significa dizer que os diversos grupos que apoiavam a substituição da Monarquia pela República tinham interesses diversos e claramente divergiam em suas concepções de como o Estado Republicano deveria ser organizado.
Tal situação ficou ainda mais complicada com a passagem do comando do movimento para as mãos de um oficial-general do Exército, conservador, amigo do imperador e que pretendia, na verdade, derrubar o gabinete do Visconde de Ouro Preto.
De acordo com o historiador José Murilo de Carvalho, podiam ser identificadas três correntes distintas dentro do movimento republicano: 
A corrente formada por políticos civis e “históricos” (o Partido Republicano Paulista e os políticos se apresentavam como representantes de um liberalismo de inspiração norte-americana).
A corrente positivista (predominante no Rio Grande do Sul e que se apresentava como a expressão política de grupos civis de perfil autoritário).
Os militares (que não se constituíam como um grupo homogêneo, havendo rivalidades entre o Exército e a Marinha e entre os partidários de Deodoro e de Floriano Peixoto).
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES...
Apesar da profunda rivalidade existente dentro do Exército entre os partidários de Deodoro da Fonseca e de Floriano Peixoto, eles se aproximavam em um ponto fundamental: eram porta-vozes de uma instituição (o Exército) que fazia parte do “aparelho do Estado”.
Os oficiais do Exército, em virtude das características de suas funções e da cultura institucional que os havia configurado, mostravam-se, majoritariamente, avessos ao liberalismo.
A República, segundo a “vertente militar”, deveria ser dotada de um Poder Executivo forte ou deveria passar por uma fase de DITADURA. A autonomia das províncias (ou estados) era vista com reserva pelo Exército porque serviria aos interesses dos grandes poderes locais.
Em seu primeiro pronunciamento, no dia 15 de novembro o Governo Provisório que se instalava naquele momento prometia e garantia, “por todos os meios aseu alcance”, a todos os habitantes do Brasil, nacionais e estrangeiros, a segurança da vida e da propriedade, o respeito aos direitos individuais e políticos, com ressalvas que fossem exigias pelo bem a Pátria e pela defesa do Governo que havia sido proclamado pelo povo, pelo Exército e pela Armada Nacional.
Por este pronunciamento ficavam abolidos o Conselho de Estado e a vitaliciedade do Senado e dissolvia-se a Câmara dos Deputados. Por outro lado, as funções da justiça comum, da administração civil e militar, continuariam a ser exercidas pelos órgãos até então existentes, assim como, com relação às pessoas, respeitar-se-iam todas as vantagens e direitos adquiridos por cada funcionário. 
O Governo Provisório se comprometia também a reconhecer e acatar todos os compromissos internos e externos assumidos pelo regime monárquico.
Assinaram este primeiro pronunciamento, esta primeira proclamação do Governo Provisório da recém-instalada República Brasileira no dia 15 de novembro de 1889, os seguintes membros:
Marechal Manoel Deodoro da Fonseca (alagoano da Cidade de Alagoas, atualmente Município de Marechal Deodoro): Chefe do Governo Provisório.
Aristides da Silveira Lobo (paraibano de Cruz do Espírito Santo – jurista e jornalista): Ministro do Interior. 
Tenente-coronel Benjamin Constant Botelho de Magalhães (fluminense de Niterói): Ministro da Guerra.
Chefe de Esquadra, Eduardo Wandenkolk: Ministro da Marinha. 
Quintino Bocaiúva (fluminense de Itaguaí - jornalista): Ministro das Relações Exteriores e interinamente da Agricultura, Comércio e Obras.
Passados poucos meses, a composição do Governo Provisório se alterou:
 Rui Barbosa (baiano de Salvador – advogado e jornalista) que ocupava inicialmente a vice-chefia do Governo Provisório, foi substituído pelo General Floriano Peixoto (alagoano de Maceió) e passou a ocupar a pasta da Fazenda.
Manoel Ferraz de Campos Sales (paulista de Campinas – advogado e ex-deputado republicano no Parlamento do Império), ocupou a pasta da Justiça.
Quintino Antonio Ferreira de Souza Bocaiúva (fluminense de Itaguaí - jornalista), ocupou a pasta dos Negócios Estrangeiros.
Demétrio Nunes Ribeiro (gaúcho de Porto Alegre – educador, engenheiro, jornalista) – ocupou a pasta da Agricultura, interinamente ocupada, no início do Governo provisório, por Quintino Bocaiúva.
OS PRIMEIROS PASSOS NO SENTIDO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DO NOVO REGIME...
Já nos primeiros dias que se seguiram à Proclamação da República, o Governo Provisório editou uma série de decretos através dos quais buscava a rápida institucionalização do novo regime.
O Decreto nº 1, de 15 de novembro de 1889, proclamava provisoriamente e decretava, como forma de Governo do Brasil (dos Estados Unidos do Brasil), a República Federativa, ao mesmo tempo em que estabelecia normas que deveriam reger os Estados Federais.
O Decreto nº 2, de 16 de novembro de 1889, previa a concessão de um montante de recursos de cinco mil contos de réis (5000$000) à família imperial, sem prejuízo das vantagens asseguradas ao chefe da dinastia deposta e de sua família, na mensagem do Governo Provisório desta data de 16 de novembro de 1889.
O Decreto nº 3, de 16 de novembro de 1889, reduzia o tempo de serviço de algumas classes da Armada (recrutados e oriundos das escolas de aprendizes de marinheiros) para 09 anos e extinguia nela os castigos corporais.
O Decreto nº 4, de 19 de novembro de 1889, fixava os novos símbolos da Nação: bandeira, armas, selos e sinetes da República.
O Decreto nº 5, de 19 de novembro, assegurava a continuidade dos subsídios com que o ex-imperador sustentava, de seu bolso, necessitados, enfermos, viúvas e órfãos.
O Decreto nº 6, de 19 de novembro, estabelecia os critérios para o exercício do voto, incumbindo o Ministério da Justiça da expedição de instruções e da organização dos regulamentos para a qualificação e o para o processo eleitoral.
O Decreto nº 7, de 20 de novembro de 1889, dissolvia as Assembleias Provinciais e fixava as atribuições dos governadores dos Estados.
O GOVERNO PROVISÓRIO E O PROCESSO CONSTITUINTE...
Em dezembro de 1889, foi criada uma comissão de cinco elementos para a elaboração de um anteprojeto da Constituição – membros da comissão: Saldanha Marinho (presidente da comissão), Américo Brasiliense de Almeida Melo (vice-presidente da comissão), Antonio Luís dos Santos Werneck, Francisco Rangel Pestana e José Antonio Pedreira de Magalhães Castro.
O decreto nº 510, de 22 de junho de 1890, além da convocação da futura assembleia constituinte (que deveria se instalar em 15 de novembro de 1890) e do estabelecimento das eleições constituintes para o dia 15 de setembro de 1890, trazia a “constituição dos Estados Unidos do Brasil” (na verdade, o projeto da constituição). 
A inépcia política e administrativa de Deodoro e alguns atos arbitrários seus, assim como a desconfiança em relação a suas intenções (possivelmente ditatoriais) levaram os partidários de um regime republicano de perfil liberal e federativo a apressarem a convocação da Assembleia Constituinte.
Em 15 de novembro de 1890, o Congresso Constituinte se instalou no antigo Palácio Imperial (na Quinta da Boa Vista) depois de uma série de sessões preparatórias realizadas entre os dias 04 e 14 de novembro no prédio do antigo Automóvel Club. 
Após três meses de minucioso trabalho, de muitas discussões e de algumas emendas, o texto da nova constituição foi promulgado em 24 de fevereiro de 1891.
PRINCIPAIS ASPECTOS DA CONSTITUIÇÃO DE 1891.
A mais concisa das constituições brasileiras, vazada em 91 artigos e mais 08 artigos das Disposições Transitórias – dividia-se em 05 títulos, subdivididos em seções e estas em capítulos. 
 O Título I era o mais longo e tratava da ORGANIZAÇÃO FEDERAL (do art. 1º ao art. 62).
 O Título II era reservado aos Estados-membros (do art. 63 ao art. 67).
 O Título III regulava os Municípios em um único artigo (art. 68).
 O Título IV (do art. 69 ao art. 68) tratava dos cidadãos brasileiros, definindo os que estivessem no gozo de seus direitos e de todos os estrangeiros que estivessem no Brasil em 15/11/1889 e que não declarassem, em 06 meses após a promulgação da Constituição, o desejo de conservar a nacionalidade de origem - neste título encontrava-se a Declaração de Direitos (Seção II) assegurados aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país.
O Título V (do art. 79 ao art. 91) trazia as Disposições Gerais, acompanhadas das Disposições Transitórias (compostas por 07 artigos). 
Nas Disposições Gerais, encontravam-se fixados a aplicação do Estado de Sítio, a responsabilidade dos funcionários, o serviço militar obrigatório e a organização do Exército e da Armada, a proibição de guerra de conquista, a instituição de um Tribunal de Contas, o modo de reformar a Constituição (art. 90 e art. 91).
Nas Disposições Transitórias, determinava-se a eleição do primeiro Presidente e do primeiro Vice-Presidente da República pelo Congresso, a concessão de uma pensão vitalícia a D. Pedro II, a compra da casa em que faleceu Benjamin Constant, localizada no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro (tratado como Grande Patriota e Fundador da República), cabendo o usufruto desse imóvel à viúva de Constant.
A Constituição de 1891 estruturava como forma de governo, a República Federativa, sob o regime representativo e presidencial, constituindo-se como Estados Unidos do Brasil pela união perpétua de suas antigas províncias (art. 1º), erigidas à condição de Estados-membros da federação, ao mesmo tempo em que o antigo Município Neutro passaria a constituir o Distrito Federal, continuando sua condição de capital do país (art. 2º).
Pelo art. 3º deste Título I, reservava-se para a União, no Planalto Central, uma área de 14.400 Km² destinada ao estabelecimento da futura capital federal.
Pelo art. 6º, o governo federal não poderia intervir em questões próprias aos Estados, salvo em questões que envolvessem conter invasão estrangeira ou a de um Estado pelo outro,manter a forma republicana, restabelecer a ordem e a tranquilidade a pedido dos governos dos Estados e assegurar a execução de leis e sentenças federais.
De acordo com o art. 15 deste Título I, ficava estabelecida a divisão tripartite dos poderes, sendo o Executivo, o Legislativo e o Judiciário considerados como “órgãos da soberania nacional”, atuando harmônica e independentemente entre si.
DESTAQUE IMPORTANTE...
O regime constitucional de 1891 optou pelo presidencialismo de modelo norte-americano - o Poder Executivo não podia dissolver a Câmara dos Deputados e nem era obrigado a escolher Ministros de confiança desta ou exonerá-los se perdessem essa confiança.
Foram garantidas as eleições diretas e majoritárias para Presidente e Vice-Presidente da República (art. 47), dentre brasileiros natos que estivessem no exercício de seus direitos políticos e que tivessem mais de 35 anos (art. 41, § 3º).
 Os mandatos de ambos eram de 04 anos, não podendo haver reeleição do Presidente para o período seguinte (art. 43). 
Caso ocorresse a vacância, por morte ou por outra causa, da Presidência ou da Vice-Presidência quando ainda não houvessem decorridos dois anos do quadriênio para o qual tivessem sido eleitos, proceder-se-ia nova eleição. Se ocorresse a vacância decorridos dois anos ou mais (art. 42) do mandato, assumiria o Vice-Presidente.
 O Vice-Presidente que ocupasse a Presidência no último ano de mandato, não poderia ser eleito para a Presidência no ano seguinte (art. 43, § 1º).
O processo e julgamento dos crimes de responsabilidade do Presidente da República davam-se perante o Senado Federal, após declarada procedente a acusação pela Câmara dos Deputados, sendo que, nos crimes comuns, o processo e julgamento far-se-ia perante o Supremo Tribunal Federal (Capítulo V, art. 53), seguindo as disposições de impeachement da Constituição americana de 1787, que vêm sendo adotada até os dias atuais.
O Poder Legislativo era bicameral e deputados e senadores eram invioláveis por suas palavras e opiniões no exercício do mandato e gozavam de imunidade, não podendo ser presos nem processados sem licença da Câmara, salvo flagrante (art. 19 e art. 20).
Os deputados eram eleitos por 03 anos, na proporção de 01 para cada 70.000 (sendo que o número mínimo de deputados era de 04 por Estado – art. 28, § 1º) e os senadores, em número de três para cada estado, eram eleitos por nove anos, ocorrendo a renovação de 1/3 do Senado a cada triênio (art. 31).
Eram eleitores os cidadãos maiores de 21 anos que se alistassem na forma da lei. Não poderiam alistar-se para as eleições federais ou estaduais os mendigos, os analfabetos, as praças de pré, excetuando os alunos das escolas militares de ensino superior, os religiosos de ordens monásticas, companhias, congregações, ou comunidades de qualquer denominação, sujeitas a voto de obediência, regra ou estatuto que importe a renúncia da liberdade individual (art. 70, § 1º).
Os direitos de cidadão brasileiro só eram suspensos por incapacidade física ou moral ou por condenação criminal enquanto durassem os seus efeitos (art. 71, § 1º). A perda dos direitos se daria para aqueles que se naturalizarem em país estrangeiro ou por aceitação de emprego, pensão, condecoração ou título estrangeiro sem licença do Poder Executivo Federal (art. 71, § 2º).
A Constituição garantiu e enunciou as clássicas liberdades privadas, civis e políticas aos brasileiros e estrangeiros residentes no país (Seção II – Declaração de Direitos - art. 72) silenciando sobre a proteção ao trabalhador.
Como decorrência dessa declaração de direitos, ocorreu um abrandamento das penas criminais, suprimindo-se as penas de galés, morte e banimento. Eleva-se o instituto do HABEAS CORPUS, que havia sido instituído no ordenamento jurídico brasileiro com o Código de Processo Criminal de 1832, à CATEGORIA CONSTITUCIONAL (art. 72, § 22).
O Congresso votava orçamento anual, autorizava empréstimos, regulava comércio exterior e interno, guerra e paz, resolvia sobre tratados com nações estrangeiras, declarava estado de sítio, concedia anistia, votava, como competência privativa, as leis de naturalização e legislava sobre todas as matérias de competência da União.
A ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA NA REPÚBLICA VELHA...
O Poder Judiciário, na Constituição de 1891, estava assim disposto: “art. 55 - O Poder Judiciário, da União terá por órgãos um Supremo Tribunal Federal, com sede na Capital da República e tantos Juízes e Tribunais Federais, distribuídos pelo País, quantos o Congresso criar”.
 O Superior Tribunal de Justiça passava a Supremo Tribunal Federal, através do Decreto nº. 1, de 26/02/1891, composto por 15 ministros (art. 56), nomeados pelo Presidente da República (conforme o disposto no art. 48, 12º). 
 O Supremo Tribunal Federal passou a ter função uniformizadora da jurisprudência em matéria de direito constitucional e federal através da emenda constitucional de 3 de setembro de 1926, reparando-se, assim, o equívoco do sistema judiciário imperial, que não fora corrigido com a promulgação da Constituição de 1891.
A Constituição de 1891 previu a instituição dos Tribunais Federais, mas estes nunca chegaram a ser criados durante a República Velha durante o tempo em que perdurou nossa primeira carta política. Assim, pelo Decreto 3.084, de 5 de novembro de 1898, instituíram-se apenas os JUIZADOS FEDERAIS, sendo sua lotação por Estado distribuída da seguinte forma: 1 juiz seccional, 3 juízes substitutos e 3 juízes suplentes.
Os Tribunais de Relação das Províncias passavam a Tribunais de Justiça dos Estados (19 Tribunais), como órgãos de cúpula da Justiça Comum Estadual. ostentando, inicialmente, as mais variadas denominações:
A República manteve os juízes de direito (que no Rio Grande do Sul eram denominados de Juízes de comarca), os juízes municipais (denominados em alguns Estados como juízes distritais), os tribunais do júri e os juízes de paz (que continuavam sendo eletivos). 
A justiça estabeleceu-se em DOIS NÍVEIS: a justiça federal e as justiças estaduais, além do Supremo Tribunal Federal.
 A justiça federal (os juízes e os tribunais federais) julgariam causas fundadas na Constituição e as de interesse da União.
 O STF julgaria ORIGINARIAMENTE os crimes comuns do Presidente e de quaisquer ministros, dos ministros diplomáticos, causas entre União e Estados, conflitos entre juízes federais ou entre estes e os juízes estaduais.
 Julgaria em GRAU DE RECURSO, as causas julgadas pelos juízes e tribunais federais, competindo-lhe a revisão criminal e em RECURSO EXTRAORDINÁRIO, as decisões dos tribunais e dos juízes dos Estados quando se discutisse a vigência e a validade de leis federais negadas por alguma justiça estadual, as divergências entre tribunais estaduais e questões de Direito Criminal ou Civil Internacional.
 O controle da constitucionalidade era difuso, mas a declaração de inconstitucionalidade de leis e decretos somente se produzida para casos concretos – a justiça não revogava nem declarava uma lei inconstitucional ERGA OMNES, como pode fazer hoje.
UMA SÍNTESE IMPORTANTE...
A constituição de 1891 estabeleceu a federalização do poder (que abriria caminho para o fortalecimento dos poderes locais, fortalecimento este que se consubstanciou no POLÍTICA DOS GOVERNADORES, definido na gestão de Campos Sales), promoveu a separação entre Igreja e Estado, eliminou o Conselho de Estado e o contencioso administrativo – do ponto de vista tributário estabeleceu-se uma divisão de tributos entre a União e os Estados, determinando-se que os Estados escolheriam alguns de seus impostos para os Municípios.
Durante a década de 1920, a desilusão com o regime republicano da Constituição de 1891 era muito grande em virtude do seguinte quadro:
A mentira eleitoral resultante das práticas dos “currais eleitorais” e do “voto de cabresto”, agravada pelas “degolas” que ocorriam na apuração no Congresso.
As intervenções federais pretensamente baseadas no Art. 6º da Constituição – emmuitos casos, intervenções militares.
O revezamento (pelo menos, em tese) entre Minas e São Paulo no comando do executivo federal.
Os acordos resultantes da “política dos governadores” em que os chefes locais fraudavam os resultados das eleições federais e estaduais e em troca os governadores lhes retribuía com nomeações de delegados e subdelegados, juízes de paz, professores e outros cargos com que garantiam seu poder, protegendo os apaniguados e perseguindo os adversários.
Com o desencanto com a ordem constitucional de 1891, ganhou força um movimento revisionista (onde se destaca a figura de Rui Barbosa) que buscava corrigir os defeitos da Constituição de 1891, em prol da democracia e do liberalismo. 
 A iniciativa da revisão coube a Artur Bernardes em 1926 e que se mostrou tímida (restrição da aplicação do HABEAS CORPUS à proteção ao direito de ir, vir e permanecer sem que se estabelecessem outros remédios jurídicos mais rápidos que garantissem outros direitos individuais, permissão de veto parcial nas votações de projetos de leis e submissão dos vencimentos dos juízes aos impostos gerais).
 Com a crise mundial iniciada em 1929 e com o desgaste das instituições da República Velha, esta etapa da história republicana brasileira seria superada pelo regime instalado com a Revolução de 1930.
O DIREITO PENAL NO CÓDIGO DE 1890...
As leis penais sofreram sensíveis mudanças ao final do século XIX em razão da Abolição da Escravatura e da Proclamação da República. Este último acontecimento histórico interrompeu um trabalho que ia caminhando no Parlamento para alterar o código anterior. Leis avulsas haviam eliminado, por exemplo, as penas de galés e reduziram para 30 anos o que antes era prisão perpétua.
Sob a denominação de Código Penal, em 11 de outubro de 1890 foi promulgado o novo diploma, com o Decreto 847. 
A estrutura desse código, com 412 artigos, estava assim estabelecida: Livro I — Dos crimes e das penas (art. 1º a 86); Livro II — Dos crimes em espécie (arts. 87 a 363); Livro III — Das contravenções em espécie (arts. 364 a 404); Livro IV — Disposições gerais (arts. 405 a 412).
ALGUNS ASPECTOS DO CÓDIGO PENAL DE 1890...
Nos artigos 1º e 4º o código definia os Princípios da Legalidade e da Territorialidade.
 As penas que deveriam ser aplicadas eram variadas (art. 43): 
 a) prisão celular.
    b) banimento.
    c) reclusão.
    d) prisão com trabalho obrigatório.
    e) prisão disciplinar.
    f) interdição.
    g) suspensão e perda do emprego publico, com ou sem inabilitação para exercer outro.
    h) multa.
 Muitas dessas penas confundiam-se entre si, assemelhando-se muito, umas às outras.
Havia uma pena prevista no art. 49 e que se destinava aos menores de 21 anos e que deveria ser cumprida em estabelecimentos industriais especiais. 
 De acordo com o art. 44, não haveria penas infamantes e a pena restritiva de liberdade individual não poderiam exceder a 30 anos.
Previa-se a progressão da pena (art. 50, §§ 1º e 2º) e o art. 27 estabelecia as condições de inimputabilidade:
 § 1º Os menores de 9 anos completos.
    § 2º Os maiores de 9 e menores de 14, que obrarem sem discernimento.
    § 3º Os que por imbecilidade nativa, ou enfraquecimento senil, forem absolutamente incapazes de imputação.
    § 4º Os que se acharem em estado de completa privação de sentidos e de inteligência no ato de cometer o crime.
    § 5º Os que forem impelidos a cometer o crime por violência física. irresistível, ou ameaças acompanhadas de perigo atual.
    § 6º Os que cometerem o crime casualmente, no exercício ou prática de qualquer ato licito, feito com atenção ordinária.
    § 7º Os surdos-mudos de nascimento, que não tiverem recebido educação nem instrução, salvo provando-se que obraram com discernimento.
A defesa da liberdade para o exercício dos cultos religiosos (art. 185 e art. 186) esbarrava na criminalização do espiritismo e de algumas de suas práticas (explicitada no art. 157 – Capítulo III: Dos crimes contra a saúde pública).
No art. 261, havia a previsão do crime de falso testemunho que era penalizado diferentemente para causas cíveis (§ 1º - prisão celular, de 03 meses a 01 ano), causas criminais em depoimentos de absolvição dos acusados (§ 2º - prisão celular, de 06 meses a 02 anos) e causas criminais em depoimentos de condenação (§ 3º - prisão celular, de 01 a 06 anos).
 O Título VIII tratava dos crimes contra a segurança da honra e honestidade das famílias e do ultraje publico ao pudor, sendo que o Capítulo I deste título tratava da VIOLÊNCIA CARNAL.
O art. 268 previa a punição para o crime de estupro, fazendo-se todavia uma diferenciação de penalização de acordo com a condição “sócio moral” da mulher - se o estupro fosse cometido contra mulher virgem ou não, mas HONESTA, a pena para o acusado seria de prisão celular, de 01 a 06 anos (caput do art. 268). Se cometido contra mulher pública ou prostituta, a pena seria de prisão celular de 06 meses a 02 anos (§ 1º do art. 268).
 A caracterização do estupro encontrava-se fixada no art. 269, definindo os meios de que se poderia valer o agressor, além da força física, para o atingimento de suas intenções libidinosas (uso de anestésicos e narcóticos em geral, como por exemplo, o ÉTER e o CLOROFÓRMIO e de práticas de HIPNOTISMO). 
O crime de adultério tinha tratamento semelhante àquele do Código de 1830, estando prevista a sua punição no art. 279 – Capítulo IV: DO ADULTÉRIO OU INFIDELIDADE CONJUGAL.
AULA 7
O DIREITO NA REPÚBLICA VELHA
A República Velha: (1889 – 1930) : Os treze presidentes. - política inteiramente dominada pela oligarquia cafeeira, em cujo nome e interesse o poder foi exercido. 
Governo Provisório (1889-1891). Proclamada a República, na mesma noite de 15 de novembro de 1889 formou-se o Governo Provisório, com o Marechal Deodoro como chefe de governo. Eis o primeiro ministério da República;
República das Espadas: 1891- 1893
República das Oligarquias: 1894-1930.
O Encilhamento... Tempo: 1891-1893;         
Foi o primeiro plano econômico do Brasil;
Criado em 1890, no Governo Deodoro da Fonseca;
 O Encilhamento foi elaborado por Rui Barbosa, ministro da fazenda, e Roberto Simonsen;
Intenção: industrialização e o progresso;
 Rui Barbosa queria desenvolver o parque industrial brasileiro, mas não tinha dinheiro, autorizou dois bancos a emitirem moeda nacional e emprestarem para todos que queriam montar uma indústria, porém, para pegar empréstimo tinha que ter só o lote para monta-la;
As pessoas pegavam dinheiro e aplicavam no café, o Brasil tornou-se o maior produtor de café do mundo;
 O dinheiro do empréstimo não foi investido nas indústrias e ocorreu especulação financeira das ações das supostas indústrias;
Ocorreu uma desvalorização da moeda, ocorreu inflação, muitas empresas eram fantasmas, não existiam, e suas ações funcionavam normalmente, então, descobriu-se que existiam empresas fantasmas e todas as empresas perderam a credibilidade e acabaram falindo;
Ocorreu uma crise econômica e Rui Barbosa foi afastado;
Estratégia: Crédito para a construção e implantação de indústrias;·        
 Emissionismo de papel moeda:
 Resultados:·        
 Inflação: provocada pela emissão de papel moeda;
Negociatas;
Jogatinas;
Desvio de crédito;
Dívida pública;
Falência de indústrias;
 Solução: Recolher o dinheiro emitido e retrair o crédito. 
Os resultados...
O efeito direto foi arruinar os capitais mais proeminentes da praça, os quais constituíram a elite econômica da era monárquica, propiciando a ascensão de uma nova elite econômica, enriquecidos no jogo especulativo e nas negociações dos primeiros anos do novo regime;
Paradoxalmente essa classe se transformaria, junto aos cafeicultores do Sudeste, nas principais bases sociais e econômicas de sustentação da elite científica e tecnocrática inspirada no rígido racionalismo positivista;
Esse processo de mudança social alcançou amplasdimensões, na medida em que o advento do novo regime e a instauração da nova ordem econômica desencadearam igualmente movimentos especulativos em torno das taxas cambiais, do mercado imobiliário e de aluguéis, dos fornecimentos de gêneros alimentícios de primeira necessidade e da ampla gama de importações, além das generalizadas deposições e ainda mais volumosas reposições nos quadros de funcionários e empregados públicos de toda ordem.
Esse conjunto de transformações gerou um amplo processo de desestabilização da sociedade e cultura tradicionais, cujo sintoma mais nítido pelos custos implicados no desejo das novas elites de promover a modernização foi o episódio da REVOLTA DE CANUDOS – 1893 a 1897.
Belle Époque brasileira – 1900 -1920...
Uma abordagem que visa a descortinar o cotidiano e a privacidade como dimensões sociais, onde espaço e tempo se coordenam na interpretação de vivências históricas. 
introdução no país de novos padrões de consumo
uma nascente mas agressiva onda publicitária (revistas ilustradas – difusão das práticas desportivas).
criação do mercado fonográfico (músicas ritmadas e danças sensuais).
 popularização do cinema.
1900 - Comemora-se o Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil. 
É organizado o 1º time de futebol do Brasil, o Sport Club Rio Grande, RS. O 2º é a Associação Atlética Ponte Preta, em Campinas, São Paulo. 
No Rio de Janeiro é lançada a Revista da Semana, a 1ª a publicar fotos. 
Machado de Assis publica seu clássico romance Dom Casmurro. História de um possível adultério, encarado com doloroso humorismo e fina ironia. 
Ó abre alas, marcha-rancho de Chiquinha Gonzaga, é a música que o povo canta febrilmente no carnaval. 
1901- Através da Light, chega a luz elétrica em alguns bairros de São Paulo. 
A “Cidade de Minas”, capital de Minas Gerais até então, é rebatizada como “Belo Horizonte”. 
São Paulo inaugura a Estação da Luz. - Vital Brasil funda o Instituto 
Início do carnaval carioca se dá com os cordões carnavalescos saindo dos bairros para o centro da cidade. 
No Rio de Janeiro começa a circular o Correio da Manhã (até 1973) - a revista A Lanterna (1901 ~ 1935).
1902- Os brasileiros começam a redigir seus textos em máquinas de escrever. 
No Rio de Janeiro é inaugurado o bondinho aéreo do Pão de Açúcar.
O jornalista Euclides da Cunha publica Os Sertões. Enviado pelo Jornal O Estado de São Paulo em 1897 para cobrir a Guerra dos Canudos, cinco anos depois publica o livro que narra esta guerra. 
Graça Aranha publica Canaã. O autor debate os problemas da colonização alemã no interior do Brasil. 
Início do século XX: população em torno de 1 milhão de habitantes, no Rio de Janeiro (maioria negros e pobres)
População extremamente pobre – concentravam-se em antigos casarões do início do século XIX – localizados no Centro da Cidade (divididos em inúmeros cubículos alugados as famílias – sem infra-estrutura – promiscuidade) – nas proximidades do Porto.
Para as autoridades (ameaça à ordem, à segurança e à moralidade pública
Proibição dos rituais religiosos, cantorias e danças, associadas pelas manifestações rítmicas com as tradições negras e, portanto, com a feitiçaria e a imoralidade
Proibição das escolas de capoeira e a perseguição sem limites a seus mestres e praticas (Floriano Peixoto) 
O Rio de Janeiro era o principal porto de exportação e importação do país (3º de importância no continente americano (Nova York e Buenos Aires).
Vitrine do país (momento de intensa demanda por capitais, técnicos e imigrantes europeus) – deveria ser um atrativo para os estrangeiros - 
O Rio apresentava focos permanentes de difteria, malária, tuberculose, lepra, tifo, varíola e febre amarela (espalhava pela cidade como uma maldição)
As instalações portuárias eram obsoletas ao ponto de tornar impraticável o volume crescente de suas transações comerciais.
Distantes das linhas de trem (precisando atravessar a cidade).
PLANOS DE MODERNIZAÇÃO (Presidente Rodrigues Alves) – DITADURA DO “bota abaixo”
Porto (engenheiro Lauro Müller)
Saneamento da cidade (sanitarista Oswaldo Cruz)
Reforma urbana (engenheiro urbanista Pereira Passos)
Governo vai embelezar o Rio...
Não só o porto é uma área precária, desorganizada, como também grande parte da cidade cresceu de modo desordenado. Cortiços malfeitos amontoam-se em subúrbios de ruas mal traçadas. A sujeira é geral. Serviços públicos atendem mal. A capital do país vê, impaciente, outros centros como a cidade de São Paulo ganhara cores modernas, exibindo riqueza e deixando-a para trás. 
Casas velhas caem, ruas se alargam: o Rio está em obras...
A carta Cadastral do Distrito, plano urbanístico do Rio de Janeiro, aprovado em abril, inclui a demolição dos casarios das atuais avenidas Beira-Mar, Mem de Sá, Passos e Central. Faz parte do projeto também o alargamento das ruas da Assembleia, Carioca, Frei Caneca e outras vias adjacentes.
Como era de esperar, os protestos já se fazem ouvir, pois quase todos estão insatisfeitos. Reclamam os tamanqueiros do Beco do Fisco, os bacalhoeiros da Rua do Mercado, os proprietários de quiosques - que formam uma verdadeira confraria, além de não pagarem impostos e de subordinarem fiscais, não têm a mínima preocupação com a higiene. Consequentemente, os insetos proliferam no lugar, e o seu redor os restos de comida exalam mau cheiro e atraem cães vadios. E são exatamente os proprietários que mais investem contra o plano urbanístico da cidade. 
RESULTADO: montar barracões nas encostas dos morros que cercavam a Cidade.
Além de se acumular nas favelas, os despejados o fizeram em cortiços e hotéis baratos (“zungas” famílias alugavam esteiras no chão – alinhadas umas ao lado das outras – condição subumana) 
Desencadeando uma campanha maciça para a erradicação da varíola – foram criados os batalhões de visitadores – acompanhados da força policial – invadiam as casas a pretexto de vistoriar e da vacinação dos residentes.
Autorização para: evacuar a casa, cortiço, frege, zunga ou barraco – sem direito à indenização.
O MOTIM FICOU CONHECIDO COMO A REVOLTA DA VACINA
REVOLTA DA VACINA (1904) - Embora seu objetivo fosse positivo, ela foi aplicada de forma autoritária e violenta. Em alguns casos, os agentes sanitários invadiam as casas e vacinavam as pessoas à força, provocando revolta nas pessoas. - grande parte das pessoas não conhecia o que era uma vacina.
A POLÍTICA CAFÉ COM LEITE...
 A República Velha, no período oligárquico (1894-1930), foi marcado por uma política chamada Política do Café-com-Leite;
O Café era representado por São Paulo e quem mandava era o Partido Republicano Paulista- PRP. São Paulo era importante, pois era o principal estado, o mais rico, tinha a economia mais forte;
 O Leite era representado por Minas Gerais, o Partido Republicano Mineiro- PRM era importante, pois era o maior colégio eleitoral, tinha grande número de alfabetizados, eleitores então;
 Essa política foi a nível Federal;
Na esfera estadual existia a Política dos Governadores, que era a garantia do apoio dos Governos estaduais à Presidência. Era na verdade uma troca de favores, o Governo Federal apoia, da mais regalias aos estados que em troca apoiam o Governo Federal;
E os Governos estaduais para conseguirem votos dos eleitores, que são controlados pelos coronéis, oferecem aos coronéis obras, regalias, cargos públicos, financiamentos etc. É uma política de auxílio mútuo entre as três esferas: municipal, estadual e federal;
O PÚBLICO E O PRIVADO...
 o regime república acelerou este processo
A nova ordem – ampliou-se a construção de uma consistente esfera pública, reforçada pela expansão crescente da imprensa e das oportunidades de convívio cultural – agudizaram os sentidos e valores associados ao desfrute de experiências de privacidade.
Condições históricas do país tornaram tanto a participação no contexto do espaço público quanto o gozo da privacidade – privilégio de poucos.
Episódios como Canudos eda Revolta da Vacina – revelam uma camada subordinada – A autoridade pública permitia-se invadir e destruir – o casebre sertanejo, o cortiço, o barraco ou o mocambo nas cidades.
Tradição herdada da escravidão – a repressão não se limitava à detenção – dependendo da ameaça – chegavam ao espancamento sistemático, exílio na selva, fuzilamento sumário, à degola em massa.
Em suma: nem lares, nem âmbitos sagrados, nem corpos e nem vidas, do ponto de vista dos agentes da ordem, tinham garantias quando se tratava de grupos populares...
Apenas as classes privilegiadas conheceram o impulso da participação na esfera pública ou os recessos da experiência privada. 
Na medida em que essas novas circunstâncias adquirem maior visibilidade, pelos meios de comunicação e a publicidade, torna-se o foco das tensões e polarizam os jogos das dramatizações e negociações entre os diferentes níveis sociais.
Grupos cada vez maiores anseiam compartilhar das gratificações latentes nesses dois contextos – como artistas, intelectuais, publicistas e líderes de todos os tipos preconizam o acesso a eles e as garantias neles implícitas como esteio do processo de democratização.
O contexto histórico da vida privada nesse início de período republicano deve ficar na interseção dessas múltiplas tensões e tentar avaliar a ampla gama de ações elas quais diferentes pessoas, em contingências as mais diversas, procuraram dar substância aos seus anseios, inventando meios e lutando para ampliar seus sentidos de pertencimento à coletividade e de autonomia individual.
O PROCESSO HISTÓRICO DE ELABORAÇÃO DE NOSSA PRIMEIRA CODIFICAÇÃO CIVIL (O CÓDIGO DE 1916)...
Proclamada a Independência, foi promulgada a Lei de 20 de outubro de 1823 que determinou vigorassem no Império do Brasil as Ordenações Filipinas, as Leis e Decretos de Portugal promulgados até 25 de abril de 1821, até que se publicasse um novo Código; 
A Constituição de 1824 expressou “a necessidade de se organizar, o quanto antes, um Código Civil e um Criminal, fundado nas sólidas bases da Justiça e da Equidade” - em 1830 e 1850 foram promulgados os Códigos Criminal e Comercial, respectivamente.
Para a legislação civil, adotou-se um outro critério, o de aperfeiçoá-la em duas fases distintas: primeiro, seria feito o levantamento e a consolidação de toda a legislação vigente até ali (“formar um novo corpo, mas de direito já vigente”); a seguir, com o auxílio do que fora feito, seria elaborado o texto do novo Código Civil (“formar um corpo novo de direito novo”).
Em 15 de fevereiro de 1855, o Governo, representado pelo então Ministro da Justiça, José Tomás Nabuco de Araújo, celebrou contrato com o Bacharel Augusto Teixeira de Freitas, a quem foi concedido o prazo de cinco anos para “coligir e classificar toda a legislação pátria, inclusive a de Portugal, anterior à Independência do Império”.
Teixeira de Freitas iniciou seu trabalho situando os limites do Direito Civil, que toma na sua significação mais rigorosa. Observou, com a nitidez que a doutrina da época não percebera que a distinção entre o Direito Civil e o Direito Penal está na natureza da sanção.
Segundo Freitas, “não são as pessoas e as coisas que se devem distinguir, mas suas obrigações e seus direitos”.
Conclui, portanto, que “na distinção dos direitos reais, e dos direitos pessoais repousa todo o sistema do Direito Civil”.
E acrescenta que “os chamados direitos absolutos - liberdade, segurança e propriedade - entram na compreensão da legislação criminal, que os protege e assegura com a penalidade. Desses direitos, o de propriedade unicamente entra na legislação civil. É no direito de propriedade que havemos de achar os direitos reais”.
Essa limitação de matéria civil hoje certamente não teria razão de ser, pois os direitos da personalidade integram também o Direito Privado, mas o autor expressava ideia que correspondia ao desenvolvimento da ciência e a cultura naquela época histórica.
Depois de haver realizado com pleno êxito a tarefa de promover a Consolidação das Leis Civis do Império, em 1859, Augusto Teixeira de Freitas foi contratado pelo governo imperial para elaborar o primeiro anteprojeto, contrato esse rescindido em 1872.
O Esboço de código civil elaborado por Freitas foi dividido em duas partes (uma geral e outra especial).
Na parte geral eram regulados os designados elementos do direito, quais sejam: o sujeito, o objeto e o fato jurídico.
Na parte especial (subdividida em três livros), encontra-se a disciplina sobre os direitos pessoais e os direitos reais. 
Não poderiam ser esquecidas, ainda, a influência do privatismo doméstico e as condições sociais, ou melhor, a estrutura social brasileira, ao tempo da elaboração do Código - Teixeira de Freitas almejava em seu projeto de Código Civil a incorporação do direito comercial no direito civil.
Seguiu-se a contratação de Nabuco de Araújo, que veio a falecer em 1878, prosseguindo os trabalhos de redação com Felício dos Santos. 
Com a Proclamação da República, a tarefa de redação do código foi conferida ao senador Coelho Rodrigues, cujo projeto não foi aceito. Por fim, em 1899, foi contratado Clóvis Beviláqua, redator do texto que viria a se transformar no Código Civil Brasileiro.
O Código Civil de 1916 reproduzia as concepções predominantes ao final do século XIX e início do século XX. Hoje, ante o novo diploma civil, a maior parte desses entendimentos encontra-se ultrapassada, uma vez que estavam baseados no individualismo então reinante, especialmente no que respeita ao direito de propriedade e à liberdade de contratar – refletia, na verdade, o ambiente liberal-conservador que marcava a sociedade brasileira naquele período.
Pelo Código Civil de 1916, a FAMÍLIA apresentava um perfil transpessoal, hierarquizada e patriarcal, tendo ocorrido a incorporação de princípios morais, dando-lhes conteúdo jurídico.
Pode-se dizer, com isso, que o Código manteve-se fiel à tradição e ao estado social, conservando a indissolubilidade do matrimônio, o regime de comunhão universal e a legítima.
Em vários dispositivos do Código, o homem se apresentava como o “cabeça do casal”, cabendo à a mulher função de colaboração do marido no exercício dos encargos da família, cumprido a ela velar por sua direção material e moral .
O casamento do menor de 21 anos necessitava do consentimento de ambos os pais, mas, no caso de haver discordância, prevalecia a vontade paterna. O que configurava uma posição privilegiada da figura masculina na sociedade conjugal.
A mulher era considerada relativamente incapaz (art. 6°, II), de modo que, muitas mulheres sequer chegaram a ser capazes durante toda sua vida, pois como poderiam casar-se a partir dos dezesseis anos e só adquiririam a capacidade aos 21 anos, aquelas que casaram antes dessa idade não chegaram a possuir a capacidade plena.
O Código apresentava o instituto da propriedade em termos absolutos e o INSTITUTO DO CONTRATO sob a perspectiva LIBERAL. 
 Apesar do caráter absoluto da propriedade, o Código Civil de 1916, no campo destinado ao direito de vizinhança, algumas limitações a esse direito:
o proprietário, ou inquilino de um prédio teria o direito de impedir que o mau uso da propriedade vizinha pudesse prejudicar a segurança, o sossego e a saúde dos que o habitam (art. 554). 
O dono do prédio rústico, ou urbano, que se achasse encravado em outro, sem saída pela via pública, fonte ou porto, teria o direito de reclamar do vizinho que lhe deixe passagem forçada (art. 559). 
Outro artigo, que implicava em limitação ao direito de propriedade, é o 572, pois o proprietário poderia levantar em seu terreno as construções que lhe aprouvesse, salvo direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos.
No que se referia ao CONTRATO, na doutrina liberal do século XIX, este tinha, como direção, o dogma da autonomia da vontade, sem limites. As partes poderiam livremente estipular o conteúdo das cláusulas contratuais, que o tornava obrigatório. Não se levava em conta o desequilíbrio

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