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Economia Institucional I Bibl: Bowles (2004), cap. 1; Fiani (2011), caps. 5 e 6. Aulas 3 e 4 Instituições e coordenação. 1 1. O problema da coordenação - I • Muita vezes, o resultado das ações humanas pode ser atingido pela ação independente de cada indivíduo. – O caso do lanche. • Todavia, muitas vezes o resultado será afetado pela interação entre os agentes. – O caso da divisão de tarefas. • A interação entre os seres humanos pode levar a diferentes resultados. O resultado final depende das ações de todos os indivíduos. • Nessas situações, o que eu farei em geral levará em consideração o que os outros fizerem. 1. O problema da coordenação - II • Dado que muitas vezes o melhor resultado só pode ser atingido quando todo mundo agir de uma determinada maneira, surge o problema de como se da a coordenação das ações humanas. • Algumas vezes esse problema não ocorre: o que é melhor para mim é independente das ações dos outros (ou seja: minha melhor ação será sempre a mesma, sem considerar o que os outros fizerem). – O caso da limpeza da casa. • Essas interações muitas vezes podem ser melhor compreendidas considerando-as como “jogos”. 2. Teoria dos Jogos e Coordenação - I • Cada linha de ação que eu tenho numa situação de interdependência constitui uma estratégia. • O resultado da combinação dessas estratégias da uma matriz de resultados (payoffs). • Essas interações podem ser estudadas utilizando os conceitos básicos de teoria dos jogos (TJ), apresentando os resultados dessas interações na forma normal (contraposto à forma extensa ou sequencial). Jogador B Estratégia I Estratégia II Jogador A Estratégia III a1, b1 a2, b2 Estratégia IV a3, b3 a4, b4 2. Teoria dos Jogos e Coordenação - II • Em muitas situações, nós tendemos a imaginar que a melhor solução é atingida automaticamente; nossos interesses combinados nos levam ao melhor resultado. – Caso da doceira e do cliente que encomenda doces. • Neste tipo de situações, é do interesse de todos que as pessoas façam sua parte. A mão invisível funciona. – Obs.: neste tipo de representação, não é mostrada a ordem das jogadas. Em muitos caso, isso pode ser importante, neste não faz diferença. Cliente Não busca Busca Doceira Não trabalha (Sem dinheiro, sem doces) (Sem dinheiro, estraga a festa) Trabalha (Trabalhou à toa, sem doces) (Com dinheiro, com doces) 2. Teoria dos Jogos e Coordenação - III • Muitas vezes pode ser conveniente atribuir um valor numérico (ou algébrico) aos payoffs. Voltando à situação anterior: – Veja-se que os valores não precisam ser simétricos. Podemos pensar que é mais importante para o cliente ter os doces que para a doceira ter o dinheiro. O canto inferior direito poderia ser (2,6) sem mudar a essência do jogo. – Nestas situações vamos considerar que os payoffs podem ser medidos em forma cardinal. Cliente Não Paga Paga Doceira Não trabalha 0,0 0, -3 Trabalha -3, 0 5,5 2. Teoria dos Jogos e Coordenação - III • Muitas vezes pode ser conveniente atribuir um valor numérico (ou algébrico) aos payoffs. Voltando à situação anterior: – Veja-se que os valores não precisam ser simétricos. Podemos pensar que é mais importante para o cliente ter os doces que para a doceira ter o dinheiro. O canto inferior direito poderia ser (c,d, com c<d) sem mudar a essência do jogo. – Nestas situações vamos considerar que os payoffs podem ser medidos em forma cardinal (ordinal). Cliente Não Paga Paga Doceira Não trabalha a,a a,b Trabalha b, a c, c b<a < c 3. Voltando ao problema da coordenação - I • O exemplo anterior é o de uma situação de negociação bilateral. Muitas vezes as situações se complicam com a presença de vários participantes: “Dois vizinhos podem estar de acordo em drenar um pântano que eles têm em comum, porque é fácil para eles saberem como pensa o outro, e porque cada um pode perceber que a consequência imediata de não fazer sua parte implica o abandono de todo o projeto. Mas é muito difícil, e em verdade impossível, que mil pessoas concordem em tal tipo de ação; é difícil para eles bolarem um desenho tão complicado, e ainda mais difícil para eles executá-lo, pois cada um procurará uma desculpa para se livrar do problema e do gasto, e tentará passar o ônus para os outros” (David Hume, Tratado sobre a Natureza Humana, cit. Bowles, 2004, p.23). 3. Voltando ao problema da coordenação - II • Uma tradição enfatiza que neste as soluções a estes problemas surgem espontaneamente, a partir da tentativa dos indivíduos de procurarem o melhor para si. “Tais eram as bênçãos desse estado/Seus crimes conspiravam para fazê-lo grande/Pois toda parte estava cheia de vício/ Mas o conjunto era um paraíso/.../ O pior em toda a multidão/Fazia algo para o bem comum” (Bernard Mandeville, A Fábula das Abelhas, cit. Bowles, 2004, p.56) • Obviamente, a instituição que tipicamente agiria desta maneira é o mercado; portanto, a analogia da mão invisível tornava desnecessário estudar o problema da coordenação: nas situações relevantes em economia, a mão invisível funcionaria. 4. Problemas de coordenação - I • O desenvolvimento da TJ a partir dos anos 40/50 levou à invenção do caso que tipicamente mostra os limites da ordem espontânea: o Dilema dos Prisioneiros (PD). • No PD, o equilíbrio ocorre no canto superior esquerdo, mas existia uma alternativa melhor para ambos, no canto inferior direito. Prisioneiro B Confessa Não confessa Prisioneiro A Confessa 3,3 0,5 Não Confessa 5,0 1,1 4. Problemas de coordenação - II • O PD demonstrou ser um caso particular de uma série de situações nas quais o equilíbrio não é o Ótimo de Pareto. Diversas combinações de estratégias e payoffs levam a essas situações. • Muitas interações sociais não ocorrem uma única vez. A questão nesse caso seria a de pensar como os resultados de hoje afetam os encontros futuros. • É importante perceber que no PD a conclusão é que, qualquer seja a ação do outro, para mim é sempre melhor não cooperar, o que nos leva à conclusão de que nenhum dos dois jamais cooperará. 4. Problemas de coordenação - III • Na próxima aula estudaremos a situação do PD repetido, mas é importante já mencionar algumas questões: – É preferível chegar aos resultados cooperativos. – O resultado cooperativo depende do que cada um acredite que o outro fará. – Muitas interações podem levar a um processo de aprendizado. – A TJ interpreta que agentes racionais, um jogo repetido finito. Sempre jogarão o resultado não cooperativo. – Evidências experimentais mostram que os agentes com frequência cooperam entre si. 4. Problemas de coordenação - IV • Em algumas situações, o resultado cooperativo pode ser alcançado, mas depende das crenças dos agentes sobre a atuação dos outros. • Esse é o caso dos jogos de garantia, exemplificado pelo caso dos agricultores de Palampur: • Neste caso, se os dois soubessem que o outro vai plantar cedo, cada um faria o mesmo, mas dada a falta de garantias, ambos plantam tarde, o que é pior para ambos. • Este caso constitui uma falha de coordenação: os agentes chegam num equilíbrio ineficiente. Agricultor B Planta cedo Planta tarde Agricultor A Planta cedo 4,4 0,3 Planta tarde 3,0 2,2 4. Problemas de coordenação - V • Há diversos jogos que podem ajudar, em certas situações, a entender diferentes interações sociais,enfatizando vários problemas que podem surgir na coordenação entre os agentes. Vamos ver dois exemplos clássicos: a. A “guerra dos sexos” • Neste jogo, os agentes querem cooperar, mas o problema é a presença de múltiplos equilíbrios. Ela Luta Balé Ele Luta 5,2 1,1 Balé 0,0 2,5 4. Problemas de coordenação - VI b. O jogo do covarde • Neste jogo, não há uma única estratégia de equilíbrio que seja ganhadora. Dependendo de como modelarmos a conduta dos jogadores, podemos chegar a um resultado que é pior para os dois. Motorista B Segue Desvia Motorista A Segue - 10, - 10 5, -2 Desvia -2, 5 -1, -1 4. Problemas de coordenação - VII • Em algumas situações, embora não seja um problema estrito de coordenação, também pode ser interessante modelar a situação como se os agentes não tivessem estratégias, mas apenas fossem interações entre tipos de agentes com características fixas (geneticamente determinadas). • O mesmo jogo anterior pode ser apresentado como o de pombas e falcões: • Neste caso, poucos falcões vão se dar muito bem num mundo de pombas, e poucas pombas vão se dar bem num mundo de falcões. • Aqui a grande questão é ver como se chega a um equilíbrio na população: qual será a proporção evolutivamente estável de pombas e falcões? Falcão Pomba Falcão -3,-3 4,0 Pomba 0,4 2,2 5. Cooperação e conflito - I • Uma questão essencial é a de entender que as interações sociais podem ter características muito diferentes: • Muitas situações são como engarrafamentos no trânsito: uma cooperação (pôr um sinal no cruzamento) faz com que melhore a vida de todos. • Em outras situações pode haver um choque de interesses: se eu alugo essa casa, como esse sanduíche ou estaciono nessa vaga você não pode fazer o mesmo. • O importante é ver como consegui chegar aos melhores resultados possíveis em cada situação. 5. Cooperação e conflito - II • Um jogo de cooperação pura pode levar ao melhor resultado espontâneamente: • O caso da divisão de tarefas na “república alegre”: • Mas também podemos ter uma situação que exige algo de coordenação • O caso da divisão de tarefas na “república conflitiva”: “Faxineiro” Não Trabalha Trabalha “Cozinheiro” Não Trabalha 0,0 3,2 Trabalha 2,3 5,5 “Faxineiro” Não Trabalha Trabalha “Cozinheiro” Não Trabalha 1,1 3,0 Trabalha 0,3 5,5 5. Cooperação e conflito - III • Mas também podemos ter casos de conflito puro Conflito puro: o jogo do brinquedo novo • Neste jogo, os agentes têm um conflito de interesses; há dois equilíbrios Pareto ótimos, mas tipicamente não será esse o resultado alcançado. • Há situações de conflito que podem não ser tão impossíveis de resolver: o que ocorreria se a briga fosse por um bolo que dá para dividir, e o canto inferior direito fosse (½, ½)? Irmão B Não Quer Quer Irmão A Não Quer 0,0 0,1 Quer 1,0 0,0 5. Cooperação e conflito - IV • Alguns jogos, como os da semeadura de Palampur e os das repúblicas mencionados acima, há um certo resultado que é melhor para todos. Esses jogos são conhecidos como jogos de interesse comum. • Nos casos acima, quando cada jogador segue a estratégia que é melhor para ele, dado o que o(s) outro(s) faz(em), nós chegamos no Equilíbrio de Nash. • Na “república alegre” há um único equilíbrio, que também é a situação de interesse comum. Todavia, em Palampur e na “república conflitiva” há mais de um equilíbrio possível, e nada garante que o de interesse comum será o escolhido. 6. Teoria dos Jogos Evolucionária - I • A evolução biológica pode ser entendida como uma série de interações entre espécies, ou entre indivíduos de uma mesma espécie, que se repetem ao longo do tempo. • Nessa perspectiva, as interações podem ser representadas por jogos (com suas estratégias e payoffs). Os (tipos de) jogadores se encontram repetidas vezes ao longo do tempo. • A quantidade de jogadores hoje dependerá dos resultados da interação dos (antecessores dos) agentes no passado. • Essas análises permitem medir o sucesso adaptativo dos tipos de agentes. 6. Teoria dos Jogos Evolucionária - II • Tomemos o exemplo das pombas e falcões: qual será a proporção de falcões e de pombas no equilíbrio? • Em sucessivas interações, sendo p a percentagem de pombas na população, o payoff (P) esperado de uma pomba é: Pp = 2p + 0 (1-p) • O dos falcões é: Pf = 4p -3 (1-p) • Logo, em equilíbrio temos que: 4p – 3 +3p = 2p, logo 5p = 3, logo p = 0,6 • Neste caso, um aumento na quantidade de pombas o de falcões por qualquer evento exógeno será eliminado, voltando-se à situação de equilíbrio.
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