Buscar

RELATIVIZAÇAO DA COISA JULGADA E A COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 67 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 67 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 67 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ELAINE CRISTINA DAMBINSKAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA E A COISA JULGADA 
INCONSTITUCIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESCOLA PAULISTA DE DIREITO 
Especialização em Direito Civil e Processual Civil 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2015
 
 
 
 
ELAINE CRISTINA DAMBINSKAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA E A COISA JULGADA 
INCONSTITUCIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Pós 
Graduação Lato Sensu, Especialização 
em Direito Civil e Processual Civil, como 
parte dos requisitos para a obtenção do 
título de Especialista em Direito Civil e 
Processual Civil pela Escola Paulista de 
Direito (EPD). 
 
Orientação: Coordenação do Curso de 
Especialização em Direito Processual 
Civil 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2015
 
 
 
ELAINE CRISTINA DAMBINSKAS 
 
 
RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA E A COISA JULGADA 
INCONSTITUCIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Escola Paulista de Direito (EPD), como parte dos 
requisitos para obtenção do título de Especialista em Direito Civil e Processual Civil. 
 
 
 
Aprovada com média _____________ 
 
 
São Paulo, _____ de _________de 2015. 
 
 
 
Banca Examinadora: 
 
 
 
 
 
 
Orientação: Coordenação do Curso de Especialização em Direito Processual Civil 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Orientador: ............................................................................................................ 
 
 
 
 
 
 
Prof. Orientador:.............................................................................................................
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O direito não é uma simples ideia, é uma 
força viva. Por isso a justiça sustenta 
numa das mãos a balança com que pesa 
o direito, enquanto na outra segura a 
espada por meio da qual o defende. A 
espada sem a balança é a força bruta, a 
balança sem a espada, a impotência do 
direito. Uma completa a outra, e o 
verdadeiro estado de direito só pode 
existir quando a justiça sabe brandir a 
espada com a mesma habilidade com que 
manipula a balança. 
 
(IHERING, Rudolf von. A luta pelo Direito)
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
Primeiramente a Deus pelo dom da vida, pela capacidade intelectual que me foi 
dada nesta existência para que eu pudesse me dedicar aos estudos, minha grande 
paixão. Obrigada Senhor por mais esta conquista, obrigada por me carregar em 
seus braços nos momentos mais difíceis da minha vida. Sua presença constante só 
fortalece ainda mais a minha fé. 
 
A minha família por todo apoio dado em mais esta empreitada. Em especial á 
Elisabeth, exemplo de mãe e mulher guerreira. Obrigada mãe por todo o amor que 
sempre me dedicou, pelos sacrifícios que fez e ainda faz por mim, por seu apoio 
incondicional, pelas palavras de incentivo, por acreditar na minha capacidade 
quando eu mesma, por vezes a coloquei em xeque. Seu amor é meu porto seguro. 
 
A minha avó Vitoria (in memoria) exemplo de mulher, mãe e avó, seu maior legado 
foi o amor incondicional dedicado a mim, sua honestidade e retidão de caráter que 
sempre fez questão de me transmitir. Mesmo em planos distintos, seu amor é ainda 
presente, seus conselhos me acompanham, pois os laços de amor são eternos. 
Essa conquista também é sua. 
 
Aos professores da Escola Paulista de Direito (EPD) meus agradecimentos por todo 
o conhecimento que me fora transmitido, experiência da qual jamais esquecerei. Em 
especial, meu agradecimento à Professora Doutora Mônica Bonetti Couto por 
gentilmente ceder parte de seu tempo para selecionar alguns dos materiais de 
pesquisa utilizados neste trabalho. 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
O presente trabalho tem como objetivo a análise do instituto da coisa julgada e a 
possibilidade de sua flexibilização em casos específicos, bem como o 
posicionamento atual da jurisprudência diante desta possibilidade. 
No primeiro capítulo será analisada a coisa julgada do ponto de vista conceitual, sua 
natureza jurídica, limites objetivos e subjetivos, bem como sua evolução histórica. 
No segundo capítulo será tratada a inserção da coisa julgada no ordenamento 
jurídico, tanto na lei ordinária como na Constituição da República; assim como os 
princípios constitucionais aplicados à coisa julgada e o confronto entre os princípios 
da justiça e da segurança jurídica. 
No terceiro capítulo, adentrar-se-á propriamente na discussão acerca da coisa 
julgada inconstitucional e sua proposta de relativização diante da 
inconstitucionalidade da decisão judicial proferida. 
Já no quarto capítulo, o presente trabalho discorrerá acerca dos instrumentos 
processuais para a desconstituição da coisa julgada (ação rescisória, querela 
nulitatis insanabilis e arguição de descumprimento de preceito fundamental). 
Finalmente no quinto capítulo será abordado o tratamento jurisprudencial dado ao 
tema da relativização da coisa julgada, ou seja, como as cortes superiores vêm 
tratando o tema. 
Assim, com este trabalho pretende-se discutir a possibilidade de relativizar a coisa 
julgada em casos de decisões proferidas eivadas por inconstitucionalidade, bem 
como apresentar instrumentos processuais hábeis a desconstituir a coisa julgada a 
fim de harmonizar os julgados e propiciar a segurança jurídica das decisões. 
 
Palavras-chave: Coisa julgada. Relativização. Coisa julgada inconstitucional.
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
This study aims to analyze the institute of res judicata and the possibility of its 
flexibility in specific cases as well as the current positioning of the case law on this 
possibility. 
In the first chapter analyzes the res judicata from the conceptual point of view, their 
legal nature, subjective and objective limits, and its historical evolution. 
In the second chapter will be treated the insertion of res judicata in the legal system, 
both in ordinary law and the Constitution of the Republic; as well as the constitutional 
principles applied to res judicata and the confrontation between the principles of 
justice and legal certainty. 
In the third chapter, enter will be exactly the discussion of res judicata 
unconstitutional and its proposal of relativity on the unconstitutionality of the given 
court decision. 
In the chapter fourth this paper will talk about the procedural tools for deconstitution 
of res judicata (rescission action nulitatis insanabilis quarrel and fundamental precept 
of complaint). 
Finally in the fifth chapter will address the judicial treatment of the theme of the 
relativity of res judicata, ie, as the higher courts are dealing with the subject. 
Thus, this work intends to discuss the possibility to relativize the res judicata in cases 
of judgments given tainted by unconstitutional and present skillful procedural tools to 
deconstruct the res judicata in order to harmonize the tried and provide the legal 
certainty of decisions. 
 
Keywords: Res judicata. Relativization. Unconstitutionality. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO..........................................................................................................10 
 
CAPÍTULO I – COISA JULGADA: CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA, LIMITES E 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA ........................................................................................121.1 – Conceito e natureza jurídica...........................................................................12 
1.2 – Limites da coisa julgada................................................................................17 
1.3 – Evolução histórica.........................................................................................21 
 
 
CAPÍTUO II – A COISA JULGADA INSERIDA NO ORDENAMENTO 
JURÍDICO.................................................................................................................25 
 
2.1 – Coisa julgada na Constituição........................................................................25 
2.2 – Princípios constitucionais aplicáveis à coisa julgada...................................26 
2.2.1 – Princípio da Segurança Jurídica................................................................27 
2.2.2 – Princípio da Constitucionalidade................................................................29 
2.2.3 – Princípio da Razoabilidade.........................................................................30 
2.2.4 – Princípio da Isonomia.................................................................................32 
2.3 - Justiça versus Segurança Jurídica................................................................32 
 
 
CAPÍTULO III – DA COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL................................36 
3.1 – A relativização da coisa julgada....................................................................36 
3.2 – Do cabimento da relativização da coisa julgada diante da inconstitucionalidade 
da decisão...............................................................................................................43 
 
 
CAPÍTULO IV – DOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS PARA 
DESCONSTITUIÇÃO DA COISA JULGADA...........................................................51 
 
4.1 – Ação Rescisória.............................................................................................51 
 
 
4.2 – Querela Nullitatis Insanabilis............................................................................53 
4.3 – Parágrafo Único do artigo 741 e Artigo 475-L, parágrafo primeiro do Código de 
Processo Civil.........................................................................................................54 
 
CAPÍTULO V – DA RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL 
E O TRATAMENTO JURISPRUDENCIAL DADO AO TEMA..................................56 
 
CONCLUSÃO...........................................................................................................63 
 
BIBLIOGRAFIA........................................................................................................65 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O presente trabalho tem por objetivo delinear, sem a pretensão de fazer um 
tratado, acerca da possibilidade de se relativizar o instituto da coisa julgada. 
 
Tal discussão é de relevante importância uma vez que o instituto da coisa 
julgada tem como objetivo, em princípio, a imutabilidade das decisões judiciais 
proferidas, que após o trânsito em julgado não podem ser mais alteradas em 
observância ao princípio da segurança jurídica e em nome da paz social. 
 
Contudo, por vezes, decisões são proferidas ao arrepio de preceitos 
constitucionais ou mesmo em violação expressa às leis ordinárias, sendo nestes 
casos inadmissível que tais decisões sejam recobertas pelo manto da coisa julgada 
tornando-se indiscutíveis. 
 
Insta destacar que durante muito tempo a coisa julgada foi tida como 
absolutamente intocável o que culminou no surgimento da expressão latina “res 
iudicata nigrum albium facit”, ou seja, “a coisa julgada faz do negro, branco”. 
 
Ocorre que com o passar do tempo e o avanço das relações jurídicas 
entabuladas entre os indivíduos que a cada dia se tornam mais complexas, o olhar 
do Direito para a questão da perpetuação da coisa jugada tem se modificado, uma 
vez que é cada vez mais comum se deparar com doutrinadores e operadores do 
Direito que são favoráveis à relativização da coisa julgada em nosso ordenamento 
jurídico. 
 
A importância do tema reside, contudo, no fato de que embora haja aqueles 
que ergam suas bandeiras em favor da relativização da coisa julgada quando a 
decisão preferida é eivada de inconstitucionalidade, tal entendimento ainda não é 
uníssono, de forma que há ainda quem defenda que, para o bem da segurança 
jurídica, harmonia dos julgados e acima de tudo, em nome da paz social, a coisa 
julgada é imutável e definitiva. 
 
11 
 
Há que se atentar ao fato de que muito embora o instituto da coisa julgada 
exista para colocar fim na discussão trazida ao Judiciário pelas partes litigantes, - do 
contrário as lides não teriam fim, podendo ser discutidas e rediscutidas ad eterno -, 
algumas questões trazidas para a apreciação do Poder Judiciário, por vezes pode 
culminar em decisões proferidas em dissonância com princípios basilares para a 
aplicação da lei de forma isonômica e o que é pior, tais decisões podem vir a 
contribuir para que a injustiça prevaleça e com isso ameaçar gravemente a paz 
social. 
 
Diante de questões práticas onde situações trazidas ao Judiciário conduzem 
para decisões eivadas de inconstitucionalidade, este trabalho tem o objetivo de 
trazer à baila a discussão acerca da relativização da coisa julgada quando esta 
decisão é capaz de trazer prejuízos não somente ás partes litigantes, mas à 
sociedade como um todo. 
 
A principal reflexão aqui levantada é em relação ao binômio segurança 
jurídica das decisões x justiça das decisões. 
 
Assim, para um melhor entendimento, do ponto de vista acadêmico, é de 
salutar importância discorrermos ainda que de forma despretensiosa, acerca da 
coisa julgada, seu conceito, natureza jurídica e evolução histórica; discorrer sobre os 
princípios constitucionais que nela estão inseridos e então, adentrarmos 
propriamente ao tema: a relativização da coisa julgada diante da 
inconstitucionalidade da decisão proferida, bem como dos instrumentos hábeis para 
sua desconstituição. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
CAPÍTULO I – COISA JULGADA: CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA, LIMITES E 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
 
 
1.1 – Conceito e Natureza Jurídica da Coisa Julgada 
 
 
Embora o Código de Processo Civil em seu artigo 4671 conceitue coisa 
julgada, é certo que a definição do instituto vai muito além do que dispõe a letra a lei. 
 
Na lição de HUMBERTO THEODORO JÚNIOR 2 : 
 
A res iudicata, por sua vez, apresenta-se com uma qualidade da sentença, 
assumida em determinado momento processual. Não é efeito da sentença 
mas a qualidade dela representada pela “imutabilidade” do julgado e de 
seus efeitos, depois que não seja mais possível impugná-los por meio de 
recurso. 
(...) Com a publicação, a sentença se torna irretratável para o julgador que a 
proferiu (art. 463). (...) 
Para todo recurso a lei estipula prazo certo e preclusivo, de sorte que, 
vencido o termo legal, sem manifestação do vencido, ou depois de 
decididos todos os recursos interpostos, sem a possibilidade de novas 
impugnações, a sentença torna-se definitiva e imutável. 
 
Assim, grande parte da doutrina entende que a coisa julgada nada mais é do 
que uma qualidade dos efeitos da decisão proferida (sentença ou acórdão) que se 
torna imutável quando não é mais possível a interposição de recurso para refutá-la 
(entendimento consolidado por Liebman). 
 
A imutabilidade das decisões judiciais constitui o pilar da segurança jurídica, e 
nas palavras de DANIEL AMORIM ASSUMPÇÃO NEVES 3: 
 
 
1
 Art. 467. Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutívela sentença, 
não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário. 
2
 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Volume I Teoria Geral do 
Processual Civil e Processo de Conhecimento. 54ª edição revista e atualizada. Rio de Janeiro: 
Editora Forense, 2013, p. 566. 
3
 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Volume Único. 5ª edição 
revista e atualizada. São Paulo: Editora Método, 2013, p. 537. 
13 
 
“A imutabilidade gerada pela coisa julgada material impede que a mesma 
causa seja novamente enfrentada judicialmente em novo processo.” 
 
Insta destacar, contudo, que a coisa julgada como já definido é uma qualidade 
dos efeitos da decisão proferida e não propriamente um efeito da decisão. Entende-
se como efeito da sentença ou acórdão a condenação, a declaração e a 
constituição, que são as consequências daí decorrentes, qual seja da imutabilidade. 
 
A importância do instituto da coisa julgada é tal que nosso ordenamento 
jurídico atribuiu a ela proteção constitucional e infraconstitucional. Isto porque a 
Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, inciso XXXVI estabelece que “a lei 
não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. 
 
Muitos doutrinadores entendem que o tratamento dado à coisa julgada pela 
Constituição da República se traduz na vontade do legislador em atribuir limite ao 
disposto no artigo supracitado, com o intuito de impedir que a lei de alguma forma 
venha a prejudicar a coisa julgada. 
 
Para concluir, temos que a coisa julgada é fenômeno único conforme dispõe 
MARCUS VINICIUS RIOS GONÇALVES 4: 
 
(...) Ela é fenômeno único ao qual correspondem dois aspectos, um de 
cunho meramente processual, que se opera no mesmo processo no qual a 
sentença é proferida, e outro que se projeta para fora, tornando definitivos 
os efeitos da decisão. Isso impede que a mesma pretensão seja rediscutida 
em juízo, em qualquer outro processo. Ao primeiro aspecto dá-se o nome 
de coisa julgada formal. (...). O segundo aspecto é denominado coisa 
julgada material, que recai apenas sobre as sentenças de mérito, impedindo 
que a mesma pretensão venha a ser rediscutida posteriormente em outro 
processo. 
 
Portanto, pode-se afirmar que a coisa julgada representa um conceito jurídico 
que tem por fito qualificar uma decisão judicial (sentença ou acórdão), de forma a lhe 
atribuir eficácia e autoridade, ou seja, a força que emana da lei. 
 
4
 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo Curso de Direito Processual Civil. Volume 2. 5ª edição 
revista e atualizada. São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 23-24. 
14 
 
 
Dessa forma, a coisa julgada pode ainda ser distinguida em coisa julgada 
formal e coisa julgada material. 
 
Por coisa julgada formal entende-se um fenômeno intraprocessual que 
consiste a imutabilidade da decisão (sentença ou acórdão), contra a qual não caiba 
mais recurso no bojo do processo em que fora proferida. Ou seja, enquanto houver a 
possibilidade de interposição de recurso contra a decisão, esta não se tornará 
definitiva, já que a decisão é passível de reforma pela instância superior. 
 
Assim, quando não houver mais a possibilidade de interposição de recurso 
ou, este já tenha sido julgado pelo órgão superior, ocorre a preclusão máxima, ou 
seja, o trânsito em julgado. Daí decorre a coisa julgada formal. 
 
CINTRA, GRINOVER e DINAMARCO 5 assim, resumidamente definem a 
coisa julgada formal: 
 
(...) Configura-se a coisa julgada formal, pela qual a sentença, como ato 
daquele processo, não poderá ser reexaminada. É sua imutabilidade como 
ato processual, provindo da preclusão das impugnações e dos recursos. A 
coisa julgada formal representa a preclusão máxima, ou seja, a extinção do 
direito ao processo (àquele processo, o qual se extingue). O Estado realizou 
o serviço jurisdicional que se lhe requereu (julgando o mérito), ou ao menos 
desenvolveu as atividades necessárias para declarar inadmissível o 
julgamento do mérito (sentença terminativa – infra, n. 214). 
 
No tocante à coisa julgada material, esta é inerente aos julgamentos de mérito 
e trata-se da imutabilidade não da decisão (sentença ou acórdão), mas sim de seus 
efeito, uma vez que projeta-se para fora do processo em que fora proferida, 
impedindo que a pretensão deduzida em juízo seja novamente apreciada pelo Poder 
Judiciário. Trata-se, portanto, de um efeito erga omnes, ou seja, oponível a todos. 
 
 
 
5
 CINTRA, Antonio Carlos de Araujo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. 
Teoria Geral do Processo. 29ª edição. São Paulo: Malheiros Editores, 2013. p. 340. 
15 
 
Superada a definição da coisa julgada, bem como sua disposição legal e 
proteção disposta na Carta Magna, de rigor tecer algumas considerações quanto à 
natureza jurídica do instituto, senão vejamos. 
 
Quanto à natureza jurídica da coisa julgada, pode-se afirmar que esta 
consiste basicamente na segurança atribuída ás decisões proferidas, uma vez que 
estas decisões poderiam ser comprometidas caso houvesse a possibilidade de se 
rediscutir questões já julgadas e sedimentadas pela doutrina e jurisprudência. 
 
Contudo vale destacar a definição apresentada por CELSO NEVES 6: 
 
A coisa julgada é, pois, um fenômeno de natureza processual, com eficácia 
restrita, portanto, no plano processual, sem elementos de natureza material 
na sua configuração, teologicamente destinada à eliminação da incerteza 
subjetiva que a pretensão resistida opera na relação jurídica sobre que 
versa o conflito de interesses. Como dado pré-processual de caráter 
subjetivo, essa incerteza não afeta a essência da relação jurídica, de caráter 
objetivo. A ela, simplesmente, se relaciona, porque nela está o objeto do 
juízo das partes. Assim também a coisa julgada que apenas se relaciona à 
res in iudicium deducta por constituir esta o objeto do juízo estatal. 
 
Outrossim, importante mencionar que existem três teorias acerca da natureza 
jurídica da coisa julgada, que vale a pena destacar dada a sua importante 
contribuição para o estudo do instituto da coisa julgada. 
 
A primeira teoria, defendida por alguns doutrinadores, entre eles Chiovenda e 
Pontes de Miranda, sustenta em suma que a coisa julgada é um efeito da sentença, 
restringindo-a ao elemento declaratório da decisão, ou seja, é imutável e indiscutível, 
atribuindo força vinculante à declaração. 
 
A segunda teoria, defendida por Liebman, Dinamarco, Grecco Filho entre 
outros e a mais difundida entre os doutrinadores brasileiros, afirma a coisa julgada 
como uma qualidade aderente à sentença. 
 
 
6
 NEVES, Celso. Coisa julgada civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1971, p. 442. 
16 
 
Segundo esta teoria, não há como confundir os efeitos da sentença com a 
autoridade da coisa julgada, uma vez que esta não seria um efeito da sentença, mas 
sim o modo pelo qual se manifesta todos os seus efeitos. 
 
Por fim, a terceira corrente que encontra adeptos nas pessoas de Barbosa 
Moreira, Fredie Didier, Freitas Câmara, entre outros, tem a coisa julgada como uma 
situação jurídica, entendendo que os efeitos da decisão não seriam imutáveis, mas 
sim, modificáveis, devendo ser encarada como imutabilidade do conteúdo da 
decisão proferida, ou seja, da parte dispositiva da sentença, não havendo o que se 
falar em imutabilidade de seus efeitos. 
 
ARTUR DIEGO AMORIM VIEIRA 7 complementa: 
 
Em determinado instante, a sentença experimenta notável modificação em 
sua condição jurídica: de mutável que era, faz-se imutável – e porque 
imutável, faz-se indiscutível, já que não teria sentido permitir-senova 
discussão daquilo que não se pode mudar. 
A imutabilidade da sentença não lhe é “co-natural” sendo possível a 
existência de sentenças que não se tornem imutáveis e indiscutíveis, na 
medida em que estas características são oriundas de certa opção de 
política legislativa no sentido de privilegiar a segurança jurídica. 
 
 
A natureza jurídica da coisa julgada é alicerçada na qualidade (eficácia) e não 
no efeito que é o reflexo do ato judicial, haja vista que a doutrina já tem sustentado 
que a coisa julgada tem função dúplice, ou seja, há uma função positiva e outra 
negativa. 
 
A coisa julgada pode ser instrumento para duas situações distintas: a) impedir 
que uma mesma demanda seja repetida, ou seja, que demandas idênticas e já 
decididas sejam levadas novamente ao Poder Judiciário e com isso gere decisões 
 
7
 VIEIRA, Artur Diego Amorim. O processo justo e a coisa julgada: breve análise quanto à 
inviabilidade de sua desconsideração. In Revista Eletrônica de Direito Processual – REDP. Ano 7. 
Volume XI. Periódico Semestral da Pós Graduação Stricto Sensu em Direito Processual da UERJ. Rio 
de Janeiro, Janeiro a Junho de 2013, p. 15. 
17 
 
conflitantes; b) com o fito de vincular o juízo que apreciará a questão a decidir de 
forma já pronunciada anteriormente. 
 
SÉRGIO GILBERTO PORTO 8 de maneira sucinta assim define as funções da 
coisa julgada, senão vejamos: 
 
“A função negativa se caracteriza como um impedimento, verdadeira 
proibição, de que se volte a suscitar no futuro a questão já decida. A função 
positiva, de sua parte, vinculada a decisão pretendida a outra já proferida.” 
 
Em suma, pode-se afirmar que a principal característica da coisa julgada 
inerente a sua natureza jurídica é a intangibilidade das situações jurídicas 
declaradas, sendo que tais efeitos não podem ser modificados de forma 
indiscriminada, uma vez que estão protegidos pelo manto da coisa julgada e 
eventual rediscussão pode vir a acarretar a temida insegurança jurídica. 
 
 
 
1.2 – Limites da Coisa Julgada 
 
Tem-se que a legitimidade conferida pela coisa julgada está situada nos 
objetivos do sistema processual, que não poderiam ser atingidos caso as decisões 
judiciais pudessem ser sempre reexaminadas. Importante destacar que os limites da 
coisa julgada, bem como seu grau de imutabilidade vai depender fundamentalmente, 
da natureza do direito discutido e da situação leva à análise do judiciário; ou seja, os 
limites da coisa julgada devem ser considerados quanto ao seu reflexo na esfera 
social: se atingirá apenas as partes envolvidas no processo ou seus efeitos se 
estenderão também a titulares indeterminados.9 
 
Como isso, faremos uma análise acerca de dois dados que compõem o 
regime jurídico da coisa julgada: a) os limites subjetivos, que se destina a examinar 
 
8
 PORTO. Sérgio Gilberto. Coisa Julgada Civil. 4ª edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 72. 
9
 BEDAQUE. José Roberto dos Santos. Direito e Processo. Influência do direito material sobre o 
processo. 6ª edição revista e ampliada. São Paulo: Malheiros Editores, 2011, p. 135. 
18 
 
quem se submete aos efeitos da coisa julgada; b) os limites objetivos, que trata da 
descoberta de o que se submete aos efeitos deste instituto. 
 
Passa-se primeiramente à análise dos limites objetivos da coisa julgada a fim 
de se investigar o que se submete a ela. 
 
Como cediço, a decisão proferida, seja ela uma sentença ou um acórdão, é o 
ato jurídico pelo qual se insere a norma jurídica individualizada e que resta 
estabelecida no dispositivo da decisão, refletindo o comando legal a ser obedecido 
pelas partes litigantes de acordo com a análise da situação trazida ao conhecimento 
do magistrado. 
 
Nos termos do disposto no artigo 468 do Código de Processo Civil, somente o 
dispositivo da decisão faz coisa julgada material, uma vez que nesta parte é que 
contém o comando emanado pelo juiz no exercício de sua função jurisdicional, 
sendo que os fatos e fundamentos de direito não são atingidos pelo manto da coisa 
julgada, podendo inclusive, serem rediscutidos em nova demanda judicial. 
 
E ainda de acordo com o artigo supramencionado, verifica-se que a sentença 
tem força de lei nos limites da lide julgada e das questões ali decididas. Porém, o 
estabelecimento dos limites objetivos da coisa julgada foi alvo de muitas polêmicas 
no meio processual. 
 
Isto porque, ao ser redigido o artigo 287 do Código de Processo Civil de 1939, 
o legislador inspirou-se no Projeto de Carnelutti, porém, ao fazer a tradução 
deformou o ideal do artigo 290 do referido projeto, o que ocasionou dificuldades na 
interpretação e correta aplicação do comando legal. Tal dificuldade de aplicação fez 
com que muitos doutrinadores defendessem a extensão da autoridade da coisa 
julgada às questões prejudiciais. 10 
 
Contudo, na elaboração do Código de Processo Civil de 1973, o legislador 
procurou corrigir a falha, quando finalmente reproduziu a regra estabelecida por 
 
10
 DIDIER JÚNIOR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual 
Civil. Volume 2. Salvador: Edições Jus Podivm, 2007, p. 487. 
19 
 
Carnelutti no artigo 468, conferindo força de lei à coisa julgada nos limites da lide 
decidida. Dessa forma, a autoridade da coisa julgada somente recai sobre a parte da 
sentença que julga o pedido. 11 
 
LIEBMAN 12 define os limites objetivos da coisa julgada como o “comando 
pronunciado pelo juiz que se torna imutável, não a atividade lógica exercida pelo juiz 
para preparar e justificar a decisão”. 
 
E para arrematar a questão, o entendimento de DANIEL AMORIM 
ASSUMPÇÃO NEVES13: 
 
(...) o art. 470 do CPC confirma a regra de que somente o dispositivo faz 
coisa julgada material ao prever que a resolução da questão prejudicial faz 
coisa julgada quando for objeto de ação declaratória incidental. (...) a partir 
do momento em que há no processo uma ação, de maneira que a sua 
solução, além de fazer parte da fundamentação da ação originária, também 
fará parte do dispositivo da decisão que resolver a ação declaratória 
incidental. Ou seja, somente o dispositivo da sentença produz coisa julgada 
material, nunca a fundamentação, por mais relevante que se apresente no 
caso concreto. 
 
Como se vê, de acordo com a regra estabelecida por Carnelutti no Direito 
Italiano, o limite objetivo da coisa julgada diz respeito aos efeitos da decisão 
proferida em relação unicamente das partes envolvidas no processo, ou seja, os 
efeitos da coisa julgada se operam inter partes. 
 
No tocante aos limites subjetivos, estes dizem respeito sobre quem está 
submetido à coisa julgada, sendo que seus efeitos podem operar-se inter partes, 
ultra partes ou erga omnes. 14 
 
 
11
 DIDIER JÚNIOR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Op.cit., p. 487. 
12
 LIEBMAN, Tullio Enrico. Eficácia e Autoridade da Sentença e outros escritos sobre a coisa julgada. 
4ª edição, Rio de Janeiro: Editora Forense, 2006, p. 52. 
13
 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Op. Cit., 541. 
14
 DIDIER JÚNIOR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Op.cit., p. 488. 
20 
 
A regra contida em nosso ordenamento jurídico e contida no artigo 472 do 
Código de Processo Civil dispõe que a sentença faz coisa julgada às partes entre as 
quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros. 
 
Isto porque, conforme preconiza o direito processual pátrio, ninguém poderá 
ser atingido pelos efeitos de uma decisão transitada em julgado, sem quelhe seja 
exercer seu direito de ampla defesa e contraditório.15 
 
No entanto, há exceção para esta regra em nosso direito processual pátrio. 
São os casos em que os efeitos da sentença pode atingir terceiros, beneficiando-os 
ou mesmo prejudicando-os. Trata-se da coisa julgada ultra partes que atinge não 
apenas as partes litigantes, mas também vincula aqueles que não participaram da 
lide. 
 
Há quem sustente na doutrina que os terceiros afetados pela decisão podem 
ainda que de modo indireto influenciar o teor dessas decisões. Assim ensina 
FLÁVIO RENATO CORREIA DE ALMEIDA e EDUARDO TALAMINI16: 
 
Desde sempre os sistemas jurídicos engendram fórmulas para que esta 
regra seja absoluta, ou seja, para que terceiros não sejam atingidos pela 
coisa julgada e nem sejam prejudicados por processos que não lhes dizem 
respeito (art. 472, primeira parte). Todavia, com as relações jurídicas, no 
plano do direito material, acontecem muito frequentemente de modo 
interligado, é muito comum que terceiros acabem sofrendo efeitos 
decorrentes de decisão proferida em processos de que não fizeram parte. É 
importante salientar, todavia, que não se trata de efeitos da coisa julgada. 
(...) a lei engendra expedientes de que se podem valer esses terceiros para 
intervir no processo, que deve produzir decisão que os atingirá 
inexoravelmente de modo indireto, de molde a poderem influir no teor 
dessas decisões. 
 
Ainda acerca dos limites subjetivos LIEBMAN17 nos ensina que a 
imutabilidade vale somente entre as partes litigantes, uma vez que somente elas 
 
15
 DIDIER JÚNIOR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Op.cit., p. 488. 
16
 ALMEIDA. Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 
Volume 1. 7ª edição revista e atualizada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005. 
17
 LIEBMAN, Tullio Enrico. Op. Cit., p. 52. 
21 
 
podem, com efeito, fazer valer suas razões no processo no qual houve o julgamento 
e, essa possibilidade justifica a necessidade de se conformar com o resultado 
alcançado sem poder modifica-lo, salvo nos casos excepcionais que abram caminho 
para a revogação da sentença. 
 
Nas palavras de BEDAQUE18: 
 
“A coisa julgada erga omnes, portanto, nos processos cujo objeto seja um 
interesse difuso ou coletivo, decorre de circunstância inerente à própria 
natureza do direito, isto é, sua indivisibilidade”. 
 
Conclui-se, portanto, todos os sujeitos (partes litigantes, terceiros 
interessados e terceiros desinteressados) acabam por suportar os efeitos da decisão 
proferida, no entanto, a coisa julgada os atinge cada qual de forma distinta. Isto 
porque as partes litigantes estão diretamente vinculadas à coisa julgada; já os 
terceiros interessados sofrem os efeitos jurídicos da decisão proferida; enquanto que 
os terceiros desinteressados acabam por sofrerem os efeitos naturais da sentença, 
haja vista que em via de regra, os terceiros não são diretamente atingidos pela coisa 
julgada material.19 
 
 
1.3 – Evolução Histórica 
 
Ao que se sabe, o instituto da coisa julgada remonta desde o Direito Romano, 
relações jurídicas envolvendo o bem da vida. 
 
Cumpre asseverar que no Direito Romano o principal objetivo do processo era 
a satisfação da vontade da lei em relação ao bem da vida que estava sub judice, 
uma vez que o Direito Romano desenvolveu-se muito mais pela prática do que pela 
teoria, ou seja, principalmente durante o período clássico, o direito não era escrito, 
mas sim oral o que não deixava de conferir legitimidade e segurança em relação às 
decisões proferidas. 
 
18
 BEDAQUE. José Roberto dos Santos. Op.cit. p. 137. 
19
 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Op.cit. 543. 
22 
 
 
Todo processo romano girava em torno da prolação da sententia tida como 
ato final do processo e, portanto, exteriorização da vontade do Estado que fazia 
cumprir a lei. 
 
Daí a importância do instituto da res iudicata no Direito Romano, uma vez que 
sua utilidade era pública em função da necessidade de se estabelecer um convívio 
social harmônico, com a certeza de que o resultado de um julgamento era definitivo 
e poria fim à lide levada a julgamento. 
 
Com o passar do tempo, na época medieval a atividade legislativa 
desapareceu no Ocidente e o próprio poder judicial acabou passando das mãos do 
rei para de seus vassalos. Neste período, o Direito Romano foi sendo esquecido e 
as normas antes aplicáveis foram sendo deixadas de lado para a aplicação de 
normas consuetudinárias, ou seja, nada mais era registrado (escrito), nem mesmo a 
decisão dos juízes eram reduzidas a termo, sendo que o direito que passou a vigorar 
era o costume do feudo. 20 
 
No direito medieval a coisa julgada não mais representava uma exigência de 
certeza e segurança, mas como uma verdade declarada pelo juiz.21 
 
Dessa forma, com fundamento em textos produzidos por Ulpiano, a 
autoridade da coisa julgada era identificada na presunção de verdade contida na 
sentença proferida. Para os juristas da Idade Média, a finalidade do processo era a 
busca pela verdade, mesmo cientes de que nem sempre a sentença refletia a 
verdade buscada. Contudo, mesmo não espelhando a verdade, a sentença não 
deixava de se revestir da autoridade da coisa julgada, o que acabava por 
demonstrar a presunção de veracidade (res iudicata pro veritate habetur), o 
fundamento jurídico basilar para sustentar a autoridade da coisa julgada. 22 
 
 
20
 ROLIM, Luiz Antonio. Instituições de Direito Romano. 2ª edição revista. São Paulo: Editora Revista 
dos Tribunais, 2003, p. 102. 
21
 BERALDO, Leonardo de Faria. A Flexibilização da Coisa Julgada que viola a Constituição In Coisa 
Julgada Inconstitucional. Coord. Carlos Valder do Nascimento. 5ª edição. Rio de Janeiro: Editora 
América Jurídica, 2005, p. 157. 
22
 PORTO, Sérgio Gilberto. Op.cit., p. 53. 
23 
 
Ainda na Idade Média, Santo Agostinho foi pioneiro ao introduzir no Direito 
Romano um conceito subjetivista de justiça, onde somente seria justa a lei que se 
conformasse com a Lei Divina, uma vez que a verdadeira justiça vem de Deus. Com 
isso, o Direito Canônico passou a vigorar em conjunto com o Direito Romano e sua 
grande influência se deu principalmente pelo fato de ser um direito escrito, bem 
como por instituir tribunais eclesiásticos com competência exclusiva para julgar, 
tanto penal como civilmente numerosos assuntos da vida privada da sociedade. 23 
 
Com a introdução do Direito Germânico, foi instituído o principio da validade 
formal da sentença, cuja eficácia além de ser erga omnes, não era admissível a 
interposição de qualquer recurso para reexaminar ou mesmo questionar o julgado, o 
que fazia da sentença algo definitivo e imutável. 
 
Diante da fusão entre o Direito Germânico e o Direito Romano ocorrida a 
partir do século XI, fazendo surgir uma nova visão que mesclou a ideia do Direito 
Germânico no sentido de atribuir à sentença a validade formal e erga omnes, com a 
introdução da querela de nulidade (querela nulitatis) com a finalidade de corrigir 
injustiças cometidas em decorrência de erros processuais, possibilitando a quebra 
do absolutismo da sentença. 
 
Este avanço trazido pela fusão do Direito Germânico com o Direito Romano 
colaborou de forma significativa para a criação de mecanismos de quebra da 
imutabilidade da sentença. Mais precisamente com a criação da ação rescisória e 
sua introdução no ordenamento jurídico brasileiro a partir de 1843, é que foi possível 
arguir a nulidade da sentença, com prazo prescricional de trinta anos, facultando o 
desfazimento do julgado por qualquer violação do direito expresso, ainda quea 
questão tivesse sido amplamente debatida e decidida em todas as instâncias 
processuais. 24 
 
 
23
 ROLIM, Luiz Antonio. Op.cit., p. 109. 
24GRECO, Leonardo. Eficácia da Declaração Erga Omnes de Constitucionalidade ou 
Inconstitucionalidade em relação à Coisa Julgada Anterior. Artigo publicado no Mundo Jurídico 
(www.mundojuridico.adv.br) em 28 de janeiro de 2003. Disponível na Internet: 
http://www.mundojuridico.adv.br. Acesso em 29 de abril de 2014. 
24 
 
Contudo, em que pese todo o avanço trazido, é salutar esclarecer que o 
instituto da coisa julgada no Brasil sempre foi e continua sendo muito frágil. Isto 
porque, além das razões históricas, há ainda as razões políticas e culturais que 
contribuem para essa fragilidade. 
 
LEONARDO GRECO assim preleciona 25: 
 
De inicio, a tradição romana, de julgamentos privados, que levava o 
legislador a simplesmente ignorar a força do julgado nulo, considerando 
inexistente, que sempre podia ser atacado por uma ação subsequente, 
como a infitiatio judicati ou a restituitio in integrum. Em verdade, conforme 
demonstrou CALAMANDREI no seu incomparável estudo sobre a Cassação 
Civil, foi o Direito Germânico que instituiu o princípio da validade formal da 
sentença, com eficácia erga omnes e não sujeita nem mesmo a qualquer 
impugnação recursal, como consequência do costume dos julgadores em 
assembleias populares e, num segundo momento, em escabinados 
igualmente de composição popular. 
 
A fragilidade da coisa julgada tem ainda outras causas, inclusive políticas, 
haja vista que o juiz, representando o Estado na aplicação e cumprimento da lei, 
ainda se mostra como soberano, que pode conceder a qualquer cidadão a 
reparação da injustiça mesmo quando cometida por outros juízes.26 
 
Conclui-se, portanto, que ao longo da história a coisa julgada desempenhou e 
permanece desempenhando importante papel tanto no ordenamento jurídico quanto 
na sociedade como um todo. Isto porque, dada sua importância como instrumento 
de segurança jurídica e pacificação das relações sociais, a coisa julgada esta 
inserida no ordenamento jurídico e ganhou status de direito fundamental consagrado 
na Constituição Federal de 1988. 
 
No próximo capítulo é possível verificar como o instituto da coisa julgada foi 
inserido no ordenamento jurídico pátrio, bem como quais são os princípios 
constitucionais a ela aplicados e, ainda, o confronto entre os princípios da justiça 
versus segurança jurídica. 
 
25
 GRECO, Leonardo. Op. Cit. 
26
 GRECO, Leonardo. Op.cit. 
25 
 
CAPÍTULO II – A COISA JULGADA INSERIDA NO ORDENAMENTO JURÍDICO 
 
2.1 – Coisa Julgada na Constituição 
 
Antes de adentrar ao mérito da inserção da coisa julgada no ordenamento 
jurídico pátrio, é de salutar importância tecer alguns breves comentários acerca de 
um fenômeno que há muito tempo vem sendo assinalado pela doutrina e hoje já é 
uma realidade na jurisprudência brasileira: a constitucionalização do direito 
processual civil. 
 
Sobre o tema comenta CASSIO SCARPINELLA BUENO27: 
 
(...) certo, é que no processo civil, como, de resto, todos os outros 
chamados “ramos” do direito, está inserido em um contexto bem mais 
amplo, que é o da Constituição Federal. Não há como tratar de direito, 
qualquer “direito” sem voltar os olhos também para a Constituição. (...) A 
Constituição Federal é o necessário ponto de partida para qualquer reflexão 
sobre o direito processual civil. 
É constatar, na Constituição Federal, qual é (ou, mais propriamente, qual 
deve ser) o modo de ser (dever ser) do processo civil. É extrair, da 
Constituição Federal, o “modelo constitucional do processo” e, a partir dele, 
verificar em que medida as disposições legais anteriores à sua entrada em 
vigência foram por ela recepcionadas e em que medida as disposições 
normativas baixadas desde então estão em plena consonância com aqueles 
valores ou, escrito de forma mais precisa, bem realizam os desideratos que 
a Constituição quer sejam realizados pelo processo ou que concretizam o 
modelo constitucional do processo. 
(...) o processo civil constitucionalizou-se. 
 
Neste diapasão, tem-se, portanto, que o instituto da coisa julgada ganhou, na 
Constituição Federal, status de garantia constitucional-processual quando inserida 
no bojo do texto constitucional (artigo 5º, XXXVI). 
 
Isto porque, aquele que se socorre do sistema jurídico brasileiro para 
solucionar suas contendas, está amparado por certas garantias conferidas pelo 
 
27
 BUENO. Cassio Scarpinella. Amicus Curiae no Processo Civil Brasileiro. Um terceiro enigmático. 3ª 
edição revista e atualizada. São Paulo: Editora Saraiva, 2012, p. 75-76. 
26 
 
Estado, ou seja, as garantias constitucional–processuais. Assim, sendo a 
Constituição fonte originária e máxima do direito, toda e qualquer decisão proferida 
deve a ela estar submetida, sob pena de resultar em inconstitucionalidade, o vício 
maior do ordenamento jurídico.28 
 
Assim como vários outros institutos, a coisa julgada encontra assento no texto 
constitucional que lhe confere a hierarquia e a garantia oferecida pelo Estado a 
todos que litigam e tem proferida uma decisão de mérito que põe termo à questão 
levada à análise do judiciário, tornando dessa forma, estável a relação jurídica que 
recebeu o pronunciamento judicial. Eis que o desrespeito à coisa julgada muito mais 
que uma violação processual, representa no ordenamento uma afronta a garantia 
constitucional, sendo passível de impugnação, tal qual a desobediência de qualquer 
outra garantia constitucional.29 
 
Nesta seara, verifica-se que a garantia da coisa julgada pressupõe uma 
blindagem à decisão judicial proferida, imunizando-a contra qualquer alteração 
legislativa, já que a própria Constituição Federal, lei máxima do Estado, estabelece 
que a lei não prejudicará a coisa julgada, o que confere a este instituto a proteção 
necessária para que a segurança jurídica e a paz social sejam preservadas no 
ordenamento jurídico.30 
 
 
2.2 – Princípios Constitucionais Aplicáveis à Coisa Julgada 
 
São inúmeros os princípios constitucionais que possuem relação direta com a 
coisa julgada, dentre esses, destacaremos o princípio da segurança jurídica; 
princípio da constitucionalidade; princípio da razoabilidade e princípio da isonomia. 
 
Assim, o princípio da segurança jurídica será o primeiro a ser analisado, 
senão vejamos. 
 
 
28
 PORTO. Sérgio Gilberto. Op. Cit., p. 62. 
29
 PORTO. Sérgio Gilberto. Op. Cit., p. 63-64. 
30
 PORTO. Sérgio Gilberto. Op. Cit., p. 64. 
27 
 
2.2.1 – Princípio da Segurança Jurídica 
 
Como já asseverado, a coisa julgada é inerente ao Estado Constitucional, 
uma vez que reflete a autoridade que o Estado emana sobre as decisões judiciais 
proferidas. 
 
Insta destacar, mesmo que a coisa julgada não houvesse sido resguardada 
de forma expressa pela Constituição Federal, ainda sim tal instituto merece guarida, 
haja vista que deriva do Estado de Direito, encontrando base nos princípios da 
segurança jurídica e da proteção da confiança.31 
 
O Estado de Direito é considerado um sobreprincípio, que se correlaciona 
com outros tantos princípios, que, por serem reveladores do seu conteúdo, 
constituem seus fundamentos. Entre esses princípios, temos o da segurança 
jurídica, indispensável à concretização do Estado de Direito.32 
 
Nas palavras de LEONARDO GRECO33: 
 
A segurança jurídica é o mínimo de previsibilidade necessária que o Estado 
de Direito deve oferecer a todo cidadão, a respeito de quais são as normas 
de convivência que ele deve observare com base nas quais pode travar 
relações jurídicas válidas e eficazes. 
(...) 
A coisa julgada é, assim, uma garantia essencial do direito fundamental à 
segurança jurídica. 
 
A segurança jurídica pode ser analisada quanto a dois aspectos: objetivo e 
subjetivo. 
 
Do ponto de vista objetivo, tem-se que a segurança jurídica diz respeito a 
ordem jurídica, com a consequente irretroatividade dos atos estatais, bem como o 
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, conforme dispõe o artigo 
 
31
 MARINONI, Luiz Guilherme. Coisa Julgada Inconstitucional. 2ª edição revista e atualizada. São 
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 63-64. 
32
 MARINONI, Luiz Guilherme. Op. Cit., p. 65. 
33
 GRECO, Leonardo. Op.cit. 
28 
 
5º, XXXVI da Constituição Federal. Já na perspectiva subjetiva, a segurança jurídica 
é aquela do ponto de vista dos cidadãos em relação ao Poder Público, onde se 
verifica o surgimento de uma espécie de subprincípio, o da proteção da confiança, 
como garantia de que os atos estatais devem transparecer confiança aos cidadãos, 
ou seja, os cidadãos devem se sentir protegidos e confiantes dos atos praticados 
pelo Estado.34 
 
Observa-se que enquanto instituto jurídico, a coisa julgada tutela o princípio 
da segurança jurídica em seu viés objetivo, já que as decisões judiciais proferidas 
são definitivas e imutáveis; bem como é importante frisar que a coisa julgada 
representa a necessidade de estabilização das decisões judiciais; daí advém o 
princípio da segurança jurídica na qual a coisa julgada se insere.35 
 
Já ao garantir a aplicação do princípio da proteção da confiança, resta claro 
que se trata da coisa julgada garantindo aos litigantes e a toda sociedade que 
nenhum ato praticado pelo ente estatal poderá modificar aqui que jaz decidido. 
 
Nos ensinamentos de MARINONI36: 
 
“A coisa julgada, portanto, serve à realização do princípio da segurança 
jurídica, tutelando a ordem jurídica estatal e, ao mesmo tempo, a confiança 
dos cidadãos nas decisões judiciais”. 
 
 
Conclui-se assim, que o princípio da segurança jurídica é um dos pilares que 
sustentam a coisa julgada, haja vista que sem a certeza de que as decisões judiciais 
que já foram acobertadas pelo manto da coisa julgada, se tornaram imutáveis tanto 
pela ação do Poder Público, quanto pela ação do próprio Poder Judiciário; não 
podemos dizer que sem essa certeza de imutabilidade, temos de fato um Estado de 
Direito. 
 
 
 
34
 MARINONI, Luiz Guilherme. Op. Cit., p. 66. 
35
 MARINONI, Luiz Guilherme. Op. Cit., p. 67. 
36
 MARINONI, Luiz Guilherme. Op. Cit., p. 68. 
29 
 
2.2.2 – Princípio da Constitucionalidade 
 
Outro princípio aplicado à coisa julgada com grande importância e que 
merece ser igualmente destacado é o princípio da constitucionalidade que se 
alicerça na legitimidade da Constituição, norma rígida que traduz a vontade do povo 
de que todos os poderes e atos praticados estejam vinculados ao texto 
constitucional, assegurando a toda sociedade a garantia de livre atuação da 
jurisdição constitucional.37 
 
BERALDO38 citando o constitucionalista português JORGE MIRANDA: 
 
O princípio da constitucionalidade funciona como a ratio legis da garantia 
jurisdicional da Constituição. Entende-se por ratio legis como sendo o 
espírito da lei, ou seja, o fim social ao qual ela se destina. E acrescenta 
dizendo que “Como isso não vimos contestar que uma norma de garantia 
não jurisdicional tenha por ratio legis a constitucionalidade. Contestamos, 
simplesmente, que a sua ratio legis possa ser erguida o princípio geral de 
Direito constitucional, como pensamos poder erguer a ratio legis da norma 
de garantia jurisdicional. 
 
Com isso, estabelece-se, portanto, que toda a atividade jurisdicional está, de 
uma forma ou de outra, ainda que indiretamente, subordinada ao princípio da 
constitucionalidade, uma vez que seus atos somente podem ser validados de acordo 
com o que preconiza a Carta Magna. 
 
Dada a inquestionável relevância deste princípio, já que é através da 
Constituição de um Estado que as regras básicas são ditadas, ou seja, Estado é 
formado, sua sistematização de direitos e garantias fundamentais é estabelecido; 
temos que obrigatoriamente, que todas as normas e atos emanados do Poder 
Pública estão condicionadas ao crivo da adequação constitucional para sua 
validação. 
 
 
37
 BERALDO. Leonardo de Faria. Op. Cit., 173. 
38
 BERALDO. Leonardo de Faria. Op. Cit., 174 apud MIRANDA. Jorge. Contributo para uma teoria da 
inconstitucionalidade. [Reimpressão]. Coimbra: Coimbra Editora, 1996, p. 17. 
30 
 
Para os doutrinadores HUMBERTO THEODORO JÚNIOR e JULIANA 
CORDEIRO DE FARIA39, o princípio da constitucionalidade: 
 
 “é consequência direta da força normativa e vinculativa da Constituição 
enquanto Lei Fundamental da ordem jurídica e pode ser enunciado a partir 
do contraposto da inconstitucionalidade, nos termos seguintes”. 
 
Conclui-se assim, que o princípio da constitucionalidade quando aplicado ao 
instituto da coisa julgada se revela de suma importância, isto porque, a 
aplicabilidade dada ao princípio permite que não somente as decisões judiciais, mas 
também os atos praticados pelos Poderes Públicos para se validarem e se tornarem 
eficazes, devem obrigatoriamente se submeterem a Lei Maior. 
 
 
2.2.3 – Princípio da Razoabilidade 
 
O princípio da razoabilidade ou proporcionalidade como também pode ser 
denominado, é aplicado nas situações onde se verifica um conflito aparente de 
normas constitucionais. Mesmo não estando expresso no texto constitucional, este 
princípio é, coordenado com os demais princípios, aplicado com o fito de coibir os 
excessos, solucionando os conflitos de acordo com os valores constitucionais.40 
 
Trazendo a aplicabilidade do princípio para o instituto da coisa julgada, insta 
asseverar que não se pode supervalorizar e enaltecer a coisa julgada em nome da 
garantia de segurança jurídica e com isso acabar por suprimir todos os demais 
princípios.41 
 
 
39
 THEODORO JÚNIOR. Humberto.; FARIA. Juliana Cordeiro de. A coisa julgada inconstitucional e os 
instrumentos processuais para seu controle. In: Coisa Julgada Inconstitucional. NASCIMENTO. 
Carlos Valder do. (coord.). Rio de Janeiro: América Jurídica, 2002, p. 130. 
40LONGHINOTI. Cristian Bazanella. Da Relativização da Coisa Julgada: Princípios norteadores e 
formas de relativização. Artigo publicado na Academia Brasileira de Direito Processual Civil 
(www.abdpc.org.br). Disponível na Internet: 
http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/CRISTIAN%20LONGHINOTI2%20-%20Versão%20Final.pdf. 
Acesso em 27 de dezembro de 2014. 
41
 LONGHINOTI. Cristian Bazanella. Op. Cit. 
31 
 
A coisa julgada deve ser posta em consonância com o princípio da 
razoabilidade a fim de que não ofenda as normas constitucionais e a ordem pública, 
já que nenhum princípio pode ser tido como absoluto a ponto de afrontar a Carta 
Magna, deturbando outros valores e contribuindo para a instauração de insegurança 
jurídica. 
 
Tal princípio quando aplicado à coisa julgada vai mais além. Isto porque, 
como cedido a coisa julgada é instituto infraconstitucional advindo do regramento 
processual, e quando em confronto com norma dotada de valor constitucional, não 
poderá preponderar, devendo pois ser relativizada, pois sendo a norma 
constitucional de maior valor e superior hierarquia, deve prevalecer em detrimento 
da coisa julgada.42 
 
Em sua obra PEDRO LENZA43 assim define o princípio em tela: 
 
(...) o princípio da proporcionalidadeou da razoabilidade, em essência, 
consubstancia uma pauta de natureza axiológica que emana diretamente 
das ideias de justiça, equidade, bom senso, prudência, moderação, justa 
medida, proibição de excesso, direito justo e valores afins; procede e 
condiciona a positivação jurídica, inclusive de âmbito constitucional; e ainda, 
enquanto princípio geral do direito, serve de regra de interpretação para 
todo o ordenamento jurídico. 
 
 
Diante do exposto é possível concluir que o princípio da razoabilidade acaba 
por estabelecer uma escala hierárquica dos valores constitucionais, onde 
prevalecem os de maior relevância, criando-se assim, um juízo de ponderação com 
relação aos meios utilizados e os valores que se perseguem, evitando com isso 
lesão à ordem constitucional. 
 
 
 
 
42
 Idem. 
43
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 18ª edição revista, atualizada e ampliada. 
São Paulo: Editora Saraiva, 2014, p. 174. 
32 
 
2.2.4 – Princípio da Isonomia 
 
O princípio da isonomia, consagrado no caput do artigo 5º da Constituição 
Federal é, sem dúvida, um dos mais basilares princípios fundamentais do 
ordenamento jurídico pátrio, uma vez que seu comando expressa o dever do Estado 
em tratar igualmente os iguais e os desiguais na medida da sua desigualdade, ou 
seja, o princípio da isonomia consagra a justa distribuição.44 
 
Em termos de coisa julgada, podemos exemplificar como justa a sentença 
que tenha sido objeto de cognição ampla e profunda, onde às partes litigantes fora 
oportunizado o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa, antes que a 
sentença tenha transitado em julgado.45 
 
Desse modo, verificada a desigualdade dos julgados sobre uma mesma 
matéria, a fim de dispensar aos litigantes das demandas tratamento isonômico, uma 
vez que a matéria trazida à apreciação do judiciário é idêntica, se faz necessária a 
relativização da coisa julgada com a aplicação do princípio da isonomia a fim de 
corrigir a injustiça da decisão discrepante e tolher a afronta ao dispositivo 
constitucional. 
 
Convém ainda assinalar, que o princípio da isonomia não é apenas um 
princípio de Estado de Direito, mais do que isso, é um princípio de ordem social e 
que tem plena eficácia no ordenamento jurídico, já que a isonomia se fundamenta 
como pilar de sustentabilidade de toda ordem constitucional. 
 
 
2.3 – Justiça versus Segurança Jurídica 
 
A ideia de justiça é algo que sempre rodeou o pensamento do homem 
enquanto ser social, uma vez que o ideal de justiça traduz, entre outras coisas, a 
sensação de pacificação e ordem social. 
 
 
44
 LONGHINOTI. Cristian Bazanella. Op. Cit. 
45
 Idem. 
33 
 
Desde as civilizações mais remotas, mesmo com sistemas jurídicos ainda 
rudimentares, o homem sempre buscou aperfeiçoar o conceito de justiça a fim de 
aplicá-lo na sociedade em que vivia e com isso estabelecer a harmonia das relações 
entre indivíduos e o poder estatal. 
 
ARISTÓTELES46 trata o ideal de justo como sendo aquilo que respeita a lei e 
é probo. Assim, a justiça é a maior das virtudes, é a virtude completa na plenitude de 
seu sentido. Se a justiça é uma virtude, por outro lado a injustiça é um vício e, da 
mesma forma que a justiça é uma virtude completa, a injustiça por sua vez, é um 
vício também completo; bem como a justiça também revela um ideal de equidade e 
proporcionalidade. 
 
Assim, na concepção aristotélica, a justiça pode ser distributiva ou corretiva. A 
justiça distributiva é aquela que se manifesta na distribuição pelo Estado, de bens, 
honrarias, cargos, bem como responsabilidades e deveres. Neste caso, o justo é 
proporcional, ou seja, aquilo que é atribuído de forma igualitária entre os iguais, 
sendo que o injusto seria a distribuição igualitária entre os desiguais. 
 
Nos dizeres do filósofo: 
 
Uma das espécies de justiça em sentido estrito e do que é justo na acepção 
que lhe corresponde, é a que se manifesta na distribuição de funções 
elevadas de governo, ou de dinheiro, ou das outras coisas que devem ser 
divididas entre os cidadãos que compartilham dos benefícios outorgados 
pela constituição da cidade, pois em tais coisas uma pessoa pode ter 
participação desigual ou igual à de outra pessoa. 47 
 
No tocante à justiça corretiva, esta consiste na justa repartição levando em 
conta os méritos de cada um; ou seja, a justiça corretiva consiste na intermediação 
entre a perda e o ganho, já que cada um recebe o que lhe é devido 
proporcionalmente ao seu mérito, uma vez que é desempenhada em relação às 
pessoas, e sua aplicação fica a cargo do juiz que é o aplicador da lei: 
 
46
 ARISTÓTELES. Ética à Nicômacos. Livro V. Os Pensadores. Volume II. Tradução de Leonel 
Vallandro e Gerd Borhein. São Paulo: Nova Cultural, 1991. 
47
 ARISTÓTELES. Op. Cit. 
34 
 
 
“(...) a natureza do juiz é ser uma espécie de justiça animada. (...) o justo, 
pois é, um meio-termo, já que o juiz o é. (...) Ora, o juiz restabelece a 
igualdade (...)”48 
 
 
Com estes conceitos de Aristóteles sobre o que é justiça, do que é justo e 
quem aplica esta justiça, tem-se a base para compreender a importância do binômio 
que aqui se pretende discutir: justiça versus segurança jurídica. 
 
No subitem 2.2.1 deste capítulo anterior foi abordado um dos princípios 
constitucionais aplicáveis à coisa julgada, a segurança jurídica, que diz respeito á 
ordem jurídica e compreende em síntese, na irretroatividade dos atos estatais, ou 
seja, uma decisão judicial proferida anteriormente não pode ser modificada quando 
já transitada em julgado; bem como novas leis inseridas no ordenamento jurídico 
não podem modificar os atos anteriormente praticados pelo Estado. 
 
Contudo, sendo o processo um instrumento que permite o acesso á justiça, 
não como conceber a ideia de justiça sem segurança jurídica, daí surge a 
possibilidade de conflito entre a justiça e o princípio da segurança jurídica, uma vez 
que são princípios de mesma ordem, não havendo hierarquia entre eles, o que 
acaba por dificultar a interpretação do que deve de fato prevalecer. 
 
Para se alcançar o objetivo almejado, qual seja a pacificação social com 
justiça e o pleno acesso à ordem jurídica justa, de rigor que se busque o equilíbrio 
entre justiça e segurança jurídica. Dessa forma, uma vez que o processo é 
instrumento de tutela do direito justo, tem-se que a interpretação a ser dada aos 
princípios que regem deve ser realizada de acordo com essa perspectiva; já que é 
necessário que o valor atribuído à segurança jurídica conviva harmoniosamente 
como o valor da justiça das decisões proferidas. 
 
Daí a importância da aplicação dos princípios constitucionais pelo julgador, 
haja vista que este não pode não pode se limitar de forma exclusiva ao texto da lei, 
 
48
 Idem. 
35 
 
mas deve também se utilizar dos princípios constitucionais para dar uma solução 
para ao caso concreto sub judice. 
 
Diante disso, verifica-se que a justiça das decisões proferidas depende da 
correta análise do magistrado quanto ao caso concreto, bem como da aplicação de 
princípios norteadores a fim de conferir a segurança que a decisão judicial deve 
conter, uma vez que passada em julgado, tornar-se-á definitiva e imutável desde que 
não haja grave vício constitucional que a macule, impedindo-a de se perpetuar. 
 
E é em nome dessa segurança jurídica que as decisões devem ser 
estruturadas tanto na lei quanto em princípios constitucionais que assegurem a 
justiça das decisões e, consequentemente a paz e ordem social que se almeja. 
 
Por fim,cumpre asseverar que sem a segurança jurídica a busca pela justiça 
na aplicação do Direito torna-se inócua, uma vez que o Estado necessita transmitir 
aos cidadãos a confiança de que as decisões proferidas o foram de acordo com a 
legislação vigente no ordenamento, bem como suas fundamentações se embasaram 
também na aplicação de preceitos constitucionais. 
 
Assim, a correta aplicação da justiça, leia-se, da justa decisão ao caso 
concreto analisado, juntamente com a segurança jurídica como pressuposto da 
coisa julgada, permite que o Estado aplique o Direito e alcance a pacificação social 
por meio da estabilização e imutabilidade dos conflitos que lhes é submetido. 
 
Com vistas ao interesse de estabilização das decisões judiciais justas, tem-se 
que a coisa julgada necessariamente não deve conter vícios de ordem constitucional 
capazes de macular o julgado, causando injustiças e insegurança nas relações 
sociais. 
 
Assim, será tratado no próximo capítulo a perturbadora questão da coisa 
julgada inconstitucional e a necessidade de se relativizá-la diante da afronta aos 
princípios constitucionais. 
 
 
36 
 
CAPÍTULO III – DA COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL 
 
3.1 – A relativização da coisa julgada 
 
A tese da relativização da coisa julgada surgiu no Superior Tribunal de Justiça 
defendida pelo então ministro José Augusto Delgado e, dada sua polêmica, embora 
defendida por parte da doutrina e jurisprudência ainda é alvo de críticas, pois os que 
a repudiam entendem que a relativização seria na realidade, a extirpação da coisa 
julgada do ordenamento jurídico, abrindo precedentes para uma espécie de caos 
jurídico. 
 
CINTRA, GRINOVER e DINAMARCO49discorrem acerca da tese: 
 
A relativização da coisa julgada material é uma tese extremamente 
polêmica que nasceu no seio do Superior Tribunal de Justiça (Min. José 
Delgado) e que, mesmo entre os que a aceitam, só é defendida para os 
casos realmente extraordinários. Essa tese parte da premissa de que 
nenhum valor constitucional é absoluto, devendo todos eles ser 
sistematicamente interpretados de modo harmonioso e, consequentemente, 
aplicando-se à coisa julgada o princípio da proporcionalidade, utilizado para 
o caso de colisão entre princípios constitucionais. Esse princípio significa 
que em caso de conflito entre dois ou mais valores tutelados pela 
Constituição, deve-se dar prevalência àquele que no caso concreto se 
mostre mais intimamente associado à índole do sistema constitucional. 
 
 Embora o instituto da coisa julgada tenha como principal finalidade promover 
a estabilidade das relações jurídicas conferindo-lhes a segurança da imutabilidade 
da decisão já proferida, certo que não se trata de regra absoluta, haja vista que os 
julgados maculados com vício de transgressão de garantias ou direitos 
constitucionais, ou ainda que transgrida valores éticos e jurídicos que firam o 
ordenamento jurídico, não podem ser imunizados.50 
 
 
49
 CINTRA. Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER. Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. 
Op.cit., p. 341. 
50
 GONÇALVES. Marcus Vinicius Rios. Op. Cit., p. 35. 
37 
 
A relativização da coisa julgada deve ser aplicada em situações pontuais e 
extraordinárias, pois caso houvesse a temida banalização do instituto, a estabilidade 
das relações jurídicas, a harmonia social e a segurança jurídica estariam em risco. 
Importante pontuar que nem sempre que uma decisão conter error in judicando a 
coisa julgada deve ser relativizada, mas tão somente em situações extraordinárias 
onde o erro resultar em situações de flagrante afronta ao texto constitucional.51 
 
Como assevera SÉRGIO GILBERTO PORTO52: 
 
A ideia da possibilidade jurídica de mitigação de garantias constitucionais ou 
de que inexistem garantias constitucionais absolutas e que, portanto, todas 
são mitigáveis, no Brasil, goza de largo prestígio e obteve trânsito fácil, 
inclusive ensejando a possibilidade de que leis infraconstitucionais 
“arranhem”, sem pejo, as garantias de assento constitucional. São exemplos 
destas hipóteses, embora por motivos compreensíveis, as liminares inaldita 
altera pars, em face da garantia do contraditório, em que este, diz-se, é 
postecipado; os prazos processuais beneficiados da Fazenda Pública, 
frente a garantia da isonomia; a decisão arbitral com força de coisa julgada 
material, frente a garantia da inafastabilidade; o depósito prévio da ação 
rescisória, frente a garantia do acesso à justiça e outras que tais. 
Evidentemente, a garantia constitucional da autoridade da coisa julgada, 
frente a esta tendência, não poderia resultar indene e, por certo, o vírus da 
relativização lhe alcançaria, como efetivamente, alcançou. 
 
Em que pese os argumentos de que a coisa julgada deve refletir o princípio 
da segurança jurídica ao passo que a decisão proferida transitada em julgado é 
imutável, é correto afirmar que a decisão judicial deve exprimir confiança na prática 
da boa-fé e exercício da moralidade. Assim, a decisão proferida como expressão 
maior da atuação do Poder Judiciário, deve ser compatível com a realidade dos 
fatos sub judice em consonância com os princípios constitucionais. Nesta toada, 
nenhuma decisão judicial que se choque com o sistema constitucional merece se 
manter hígida.53 
 
51
 GONÇALVES. Marcus Vinicius Rios. Op. Cit., p. 35. 
52
 PORTO. Sérgio Gilberto. Op. Cit.; p. 137-138. 
53
 DELGADO. José Augusto. Efeitos da coisa julgada e os princípios constitucionais. In: Coisa julgada 
inconstitucional. Carlos Valder do Nascimento (Coord.). Rio de Janeiro: Editora América Jurídica, 
2002, p. 80. 
38 
 
Para DELGADO54 um dos mais ferrenhos defensores da tese de relativização 
da coisa julgada, a decisão não pode ter carga de vontade da pessoa que a proferiu, 
mas sim, deve representar a finalidade determinada pela lei. Defende ainda, que a 
moralidade está incutida em cada regra posta na Constituição Federal, uma vez que 
ela representa o comando de maior força e de cunho imperativo. 
 
É importante que a análise da tese de relativização da coisa julgada seja 
realizada sobre a ponderação do alcance do instituto em relação ao atrito com os 
princípios constitucionais. 
 
A parcela da doutrina que defende a relativização da coisa julgada aponta 
para a existência de duas formas atípicas de relativização: coisa julgada 
inconstitucional e coisa julgada injusta inconstitucional. 
 
A coisa julgada inconstitucional tem por objetivo afastar a imutabilidade de 
sentenças de mérito transitadas em julgado que tenham sido fundamentadas em 
normas declaradas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal.55 
 
Para LENZA56 a coisa julgada inconstitucional consiste na colisão entre a 
segurança jurídica e a autoridade do Poder Judiciário, com a força normativa da 
Constituição; o princípio da máxima efetividade das normas constitucionais e como o 
princípio da isonomia quando a aplicação assimétrica viola um referencial normativo 
que dá sustentação a todo sistema. 
 
Nesta forma atípica de relativização, destaca-se a aplicação do artigo 741, 
parágrafo único e do artigo 475-L, parágrafo primeiro, ambos do Código de Processo 
Civil, - uns dos instrumentos para desconstituição da coisa julgada e que serão 
tratados de forma mais detalhada no próximo capítulo -, que tratam da previsão de 
matérias de defesa que podem ser alegadas pelo executado e que têm o condão de 
afastar a imutabilidade da coisa julgada material da sentença que é objeto da 
 
54
 DELGADO. José Augusto. Op. Cit., p. 81 e 83. 
55
 NEVES. Daniel Amorim Assumpção. Op. Cit., p. 548. 
56
 LENZA. Pedro. Op. Cit., p. 394. 
39execução e que fora proferida alicerçada em lei ou ato normativo declarados 
inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal. 57 
 
No entanto, há aqueles que defendem a inconstitucionalidade dos artigos 
supramencionados, sob o argumento de que a coisa julgada como garantia de 
segurança jurídica, se for relativizada em razão de posterior inconstitucionalidade 
declarada pela Suprema Corte, criaria instabilidade em todo ordenamento jurídico. 
Embora haja ação declaratória de inconstitucionalidade contra o artigo 741, 
parágrafo único do Código de Processo Civil ainda pendente de julgamento58, 
acredita-se que dificilmente o Supremo Tribunal Federal a considerará 
inconstitucional. 
 
No que diz respeito à coisa julgada injusta inconstitucional, o afastamento da 
imutabilidade da coisa julgada se dá quando a sentença fustigada produz extremada 
injustiça em afronta clara aos valores constitucionais que são essenciais para a 
harmonia do Estado democrático de direito. 
 
Na definição apresentada por DANIEL AMORIM ASSUMPÇÃO NEVES59, a 
coisa julgada injusta inconstitucional: 
 
“(...) trata-se da possibilidade de sentença de mérito transitada em julgado 
causar extrema injustiça, com ofensa clara e direta a preceitos e valores 
constitucionais fundamentais”. 
 
A doutrina que defende a relativização da coisa julgada entende que sendo 
um instituto processual responsável pela tutela da segurança jurídica, a coisa 
julgada não pode ser um valor absoluto em detrimento de valores e princípios de 
ordem constitucional. 
 
O que os simpatizantes da tese propõem é que seja feita uma ponderação 
entre a manutenção da segurança jurídica e a manutenção da ofensa aos preceitos 
 
57
 Idem. 
58
 STF, Tribunal Pleno, ADI 2418-3, Rel. Ministro Teoria Zavascki. Até a conclusão deste trabalho, os 
autos se encontravam conclusos com o relator desde 24/09/2014. 
59
 NEVES. Daniel Amorim Assumpção. Op. Cit., p. 551. 
40 
 
constitucionais. Neste juízo de valores, tem-se que o afastamento da imutabilidade 
da decisão seria legítimo, quando no caso concreto se verificar que é mais benéfico 
não somente para as partes envolvidas, mas também para o ordenamento jurídico, a 
manutenção dos princípios e garantias estabelecidos na Constituição Federal em 
detrimento à proteção da coisa julgada.60 
 
A corrente que defende essa forma de relativização se divide em dois grupos, 
que apesar de sustentarem fundamentações distintas chegam a mesma conclusão, 
conforme aponta DANIEL AMORIM ASSUMPÇÃO NEVES ao citar BARBOSA 
MOREIRA61: 
 
(a) os que defendem a inexistência da coisa julgada material em 
determinadas hipóteses de extrema injustiça inconstitucional da sentença, 
de forma que o afastamento da decisão nem mesmo poderia ser tratado 
com uma espécie de relativização; 
 
(b) os que concordam que mesmo diante dessa extrema injustiça existe 
coisa julgada material, mas que seu afastamento é necessário e justificável 
em razão da proteção de outros valores constitucionais. 
 
Entre os doutrinadores que defendem a inexistência de coisa julgada nessas 
hipóteses, estão os que enquadram o vício gerado pela sentença injusta no plano da 
eficácia, validade e existência jurídica.62 
 
Os que situam o vício no plano da eficácia, afirmam que as sentenças que 
padecem de vícios tão extremos não geram efeitos. Dessa forma, as sentenças 
impossíveis de gerar efeitos são as contrariam os valores essenciais do sistema, 
entre os quais a razoabilidade e proporcionalidade; a moralidade; os direitos 
fundamentais, entre outros princípios constitucionais.63 
 
 
60
 Idem. 
61
 NEVES. Daniel Amorim Assumpção. Op. Cit., p. 551-552, Apud BARBOSA MOREIRA, José Carlos. 
Considerações sobre a chamada ‘relativização’ da coisa julgada material. In: DIDIER JR., Fredie 
(Org.). Relativização da coisa julgada: enfoque crítico. 2. Ed. Salvador: Jus Podivm, 2006, p. 201. 
62
 NEVES. Daniel Amorim Assumpção. Op. Cit., p. 552. 
63
 Idem. 
41 
 
Assim, para estes doutrinadores, a incapacidade que estas decisões têm de 
produzir efeitos dado aos vícios extremos que contem, é o suficiente para não haver 
coisa julgada nestes casos. 
 
Para outros doutrinadores, o vício causado pelas injustiças inconstitucionais 
atinge o plano da validade, uma vez que as decisões que padecem de vícios são 
nulas e não se sujeitam a prazos prescricionais ou decadenciais, o que retrataria 
uma nulidade absoluta.64 
 
Há ainda os que analisam os vícios sob o plano da existência, afirmando que 
a sentença nestes casos é inexistente, não havendo coisa julgada material, pois 
estas são proferidas em processos em que falta condição da ação, ou seja, não o 
exercício do direito de ação, e sim mero direito de petição e, com isso, a sentença é 
considerada juridicamente inexistente.6566 
 
Contudo, a discussão que remanesce sobre o tema é, se a sentença 
inconstitucional é inexistente ou nula. 
 
Como sentença inexistente entende-se aquela que, por exemplo, é proferida 
por pessoa que não é revestida de jurisdição. É preciso frisar, no entanto, que a 
sentença proferida contendo comandos impossíveis, não consistirá em ato jurídico 
inexistente, mas sim, seus efeitos não surtirão a eficácia pretendida.67 
 
Dessa forma, uma decisão jurídica inconstitucional conduz para a nulidade da 
sentença e não para sua inexistência, já que somente se pode reputar inexistente a 
sentença que apresenta impossibilidade cognoscitiva, lógica ou jurídica. 
 
Outra discussão levantada é quanto ao efeito da decisão que declara a 
inconstitucionalidade de uma sentença, ou seja, o efeito é ex tunc ou ex nunc? O 
efeito ex tunc é encontrado comumente nas sentenças de natureza condenatória e 
 
64
 Idem. 
65
 NEVES. Daniel Amorim Assumpção. Op. Cit., p. 553. 
66
 BERALDO. Leonardo de Faria. Op. Cit., p. 195. 
67
 BERALDO. Leonardo de Faria. Op. Cit., p. 195-196. 
42 
 
constitutiva. De outra feita, as sentenças declaratórias têm efeito ex nunc, surtindo 
efeitos a partir do trânsito em julgado.68 
 
Contudo, mesmo diante de possível impasse acerca do efeito a ser atribuído, 
não resta qualquer dúvida de que a sentença neste caso é declaratória, pois 
efetivamente declara a inconstitucionalidade da sentença anterior. 
 
Isto porque, neste caso, cumpre fazer analogia com as normas de controle 
constitucional realizada pelo Supremo Tribunal Federal (ADI, ADC e Arguição de 
Descumprimento de Preceito Fundamental), onde seus efeitos são, via de regra, ex 
tunc. 
 
Assim, entende-se que em termos de efeito, a melhor aplicação nestes casos 
é a mesma dada às ações diretas de inconstitucionalidade e ações declaratórias de 
constitucionalidade e que possuem efeito ex tunc, sendo que por maioria de dois 
terços dos ministros do STF, a decisão poderá restringir os efeitos daquela 
declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado, 
ou de outro momento que venha a ser fixado, conforme determinam os artigos 27 da 
Lei nº 9.868/99 (Lei que regula a ADI e ADC) e Art. 11 da Lei nº 9.882/99 (que trata 
da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental).69 
 
Comunga ainda do mesmo entendimento LENZA ao prelecionar70: 
 
“Pode ser afirmado, então, por regra, que a lei inconstitucional nunca 
produziu efeitos, até porque a sentença declaratória restitui os fatos ao 
status quo ante”. 
 
No entanto, em que pese os argumentos lançados por aqueles que defendem 
a relativização da coisa julgada em razão da injustiça inconstitucional, há muitas 
 
68
 BERALDO. Leonardo de Faria. Op. Cit.,

Outros materiais