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4º PERÍODO INFECTOLOGIA 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 1 AULAS 1 E 2 DOENÇAS INFECCIOSAS INFECÇÃO – todos nós estamos infectados. Muitos vírus estão alojados em nossas células, mas nem todos se manifestam. Ou seja, não necessariamente o indivíduo infectado está doente. É a queda do sistema imune que propicia o desenvolvimento desses microrganismos e a instalação da doença que causam; em qualquer situação de estresse o organismo pode reativar alguma infecção já existente. Isso é importante ao se avaliar o resultado imunológico de IgGs de um paciente: a sorologia positiva não necessariamente indica que o paciente está doente, pois ele pode estar apenas infectado e ter a doença de forma não manifestada. Todo o tratamento de uma infecção depende da interação que acontece entre o hospedeiro e o agente infeccioso. Essa interação resulta em sinais em sintomas, que são conhecidos como expressão clínica; esta, por sua vez, vai depender da resposta imune de cada pessoa. Em outras palavras, cada pessoa responde de um jeito diferente ao mesmo microrganismo invasor. Nunca uma resposta imune de uma pessoa x vai ser igual à resposta de uma pessoa y – ambas têm os mesmos microrganismos invasores, mas respondem a ele de maneira diferente e, portanto, têm sintomas variados. Essas pessoas podem ter uma resposta (1) exacerbada – eliminando o invasor, mas resultando em resposta que resulta em quadro clínico; (2) fraca – se for até demais pode ser insuficiente para conter a infecção e, assim, evolui para a doença ou (3) forte o suficiente - para eliminar o patógeno e não causar doença, com quadros clínicos mínimos ou inexistentes. Para ilustrar: A leishmaniose, uma doença infecciosa, pode se apresentar de forma assintomática (em que o parasito está no individuo, mas não lhe acontece absolutamente nada) ou de forma sintomática exacerbada (caso em que o indivíduo tem uma resposta imune mais fraca e propicia a multiplicação do parasita em vísceras). Se a resposta imune do indivíduo for boa, pode ocorrer a cicatrização do local de inoculação do parasita e o não desenvolvimento da doença. Em outra situação, sua resposta imune pode ser forte o bastante para eliminar o microrganismo – nesse caso, pode, inclusive, haver exacerbação de sintomas porque os antígenos do microrganismo destruído podem ativar o sistema imune e desencadear respostas e sintomas. No momento da picadura (repasto), o flebotomíneo (vetor) rompe o epitélio e inocula uma substância vasodilatadora, a qual atinge todos os capilares próximos desse epitélio e permite o extravasamento de componentes, como água, proteínas, plasma e sangue. Nessa hora da picada o microrganismo é injetado e reconhecido; o estímulo neural da vasodilatação libera substâncias que ativam macrófagos e lhes atraem para o local, reconhecendo o invasor e tentando barrá-lo de adentrar cada vez mais o organismo. O processo de infecção começa com essa barragem feita pelos macrófagos. O sistema inato do complemento, durante o extravasamento de componentes capilares, combate 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 2 o invasor tentando impedi-lo de entrar no organismo, assim como as IgGs de vida curta podem agir assim também. Ao encontrar o microrganismo, o macrófago o reconhece por receptores de superfície e o internaliza, ficando ele contido no fagolisossomo, onde seria supostamente destruído. Entretanto, a leishmania perde sua conformação ao entrar no fagolisossomo e passa a ser irreconhecível pelas células de defesa – fica alojada no organismo, nessas células, sem causar danos. Esse microrganismo tem em sua superfície uma substância que se conecta em receptores Toll like e, a partir dessa ligação, há liberação de substâncias, como citocinas. É a via do NKkB que vai produzir as citocinas resultantes da interação desse antígeno no núcleo – pois é um microrganismo de vida intracelular. Cada pessoa libera uma substância diferente a partir desse microrganismo e cada órgão tem receptores diferentes, em quantias diferentes para reconhecê-la. Assim, a resposta e a ação dessas substâncias sobre o organismo vão ser diferentes. INVESTIGAÇÃO CLÍNICA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS: Sinais e sintomas: é importante avalia-los e tentar definir qual deles é o mais fácil de ser investigado, ou seja, o mais característico de certa doença. Exemplo: paciente com febre, cefaleia e confusão mental. Dentre os três, cefaleia é o mais característico. Pensando nisso, idealizar o que pode interferir no órgão que causa cefaleia. A febre propicia contrações musculares (devido aos calafrios), que atinge não só o corpo, mas também a cabeça e, portanto, pode ser uma das causas da cefaleia do paciente. Diagnóstico sindrômico: o que o paciente tem? Correlacionar com os sintomas. No caso do exemplo, o paciente teria síndrome febril. Diagnóstico topográfico: qual é o sistema orgânico que está comprometido? Seguindo o exemplo, o paciente estaria com o sistema nervoso central alterado. Diagnósticos diferenciais: em cima da pesquisa realizada e a correlação dos sintomas, é importante avaliar quais podem ser as outras causas para o problema do paciente, como, por exemplo, infecção, neoplasia, doença autoimune ou miscelânea (induzida por drogas, medicamentos, doenças de depósito). Diagnóstico etiológico: qual é o microrganismo responsável por essa doença, o que pode causa-la? Príons, vírus, bactérias, fungos, protozoários e parasitas. De um modo geral, a investigação deve começar pelas causas dos sintomas que o paciente apresenta. Deve se pedir, então, exames laboratoriais, os quais podem ser divididos em três categorias: (1) inespecíficos – auxiliam no raciocínio clínico, mas não são confirmatórios, como hemograma, VHS (velocidade de hemossedimentação), PCR (proteína C reativa) e PCT (pró- calcitonina), ou seja, são todos os exames que sugerem inflamações; (2) específicos indiretos – podem ajudar no diagnóstico, como uma sorologia, em que não se avalia diretamente o microrganismo invasor, mas sim a resposta do organismo a ele, o que pode levar a erros (desde a 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 3 coleta do exame, até ao processamento da amostra, sua digitação do laudo ou na sua interpretação); e (3) específicos diretos – são confirmatórios, pois permitem que se encontre o agente etiológico, ou seja, identifica-se a bactéria, o vírus, o parasita – são os meios de cultura e a PCR (testes de biologia molecular, em que se encontra o componente genético do microrganismo invasor). Deve se tomar cuidado também porque nem sempre os exames laboratoriais específicos diretos fecham o diagnóstico: se a assepsia do local de coleta for mal feita, haverá identificação de microrganismos que não são os causadores da infecção do paciente. AGENTES ETIOLÓGICOS DE DOENÇAS INFECCIOSAS: Príons: são moléculas mutadas que, no momento em que se ligam às moléculas não mutadas no organismo, promovem mutações a elas. São proteínas transmissíveis – todo o material que entra em contato com um paciente infectado por príons deve ser incinerado. Provoca demência rapidamente, progressiva e que pode evoluir até a morte. Vírus: causam, principalmente, doenças bolhosas. Sempre que um paciente chegar com bolhas, deve se pensar em vacinas que ele pode ter tomado e contato prévio com animais. o Orthopoxvírus: varíola vírus. Paciente pode se contaminar por meio de contato com macacos, por exemplo, pois esse vírus tem a capacidade de infectar espécies não hospedeiras. o Poxvírus: paravacínia (ou parapoxvírus, proveniente de animais de fazenda), molusco contagioso (em humanos é transmitidopor relação sexual e atinge locais mais exóticos). o Tanapox: também é transmitido por macacos. o Herpes: herpes I, herpes II, Varicella-zoster (catapora – 20% dos adultos que adquirem varicela desenvolver viremia, quadro em que o vírus se espalha por todo o organismo, inclusive nos órgãos, podendo desenvolver pneumonite, por exemplo), citomegalovírus (98% das pessoas têm o vírus, adquirido por contato com saliva ou transmissão da mãe para o bebê durante o parto (citomegalovirose congênita), o que é mais grave e pode levar a óbito), Epstein-Barr vírus (vírus do beijo. Na criança é assintomático, mas no adulto jovem pode culminar em vários sintomas), human herpes vírus 6 (causador do exantema súbito, quadro clínico em que a pessoa faz febre alta (39, 40 graus), a qual desaparece e é seguida por exantema), human herpes vírus 7, Kaposi’s sarcoma (doença cutânea, violácea, em que o vírus infecta as células endoteliais e causa lesões arroxeadas, podendo acometer qualquer pessoa, mas principalmente pacientes HIV + e níveis de C4 baixos. Pode acometer coração e intestino, podendo precisar de quimioterapia, pois não existe tratamento contra esse vírus) e herpes B vírus (transmitida por macacos). 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 4 o Adenovírus: causam resfriados, infecções das vias aéreas (IVAS), diarreia, febre faringoconjuntival e cistite hemorrágica (comum em pacientes com AIDS). o Papilomavírus: HPV é o principal (causa verrugas venéreas, cutâneas e respiratórias (o que pode levar bebês à insuficiência respiratória em casos que a mãe passa o vírus para o filho)), mas engloba também o vírus JC (causa leucoencefalopatia multifocal progressiva – leva à desmielinização de substância branca, instalando quadros de demência dos tipos mais variados e irreversíveis) e o vírus BK (afeta pacientes transplantados, levando à rejeição do enxerto). o Hepatite: A (pode causar insuficiência hepática em idosos), B, C (as duas últimas podem evolui para hepatite crônica), E, G, TT, parvovírus B19 (causa eritema infeccioso – “bochechas esbofetadas”). o Orthoreovírus: REO – respiratory, enteral, orphan. o Orbivírus: causam quadros neurologicos raros. o Coltivírus e seadornavírus: importante na febre do carrapato do Colorado. o Rotavírus: causa comum de diarreia em crianças com menos de 5 anos. Teve seu quadro de epidemiologia invertida devido à inserção da vacina. Para esse quadro atualmente pensa-se em norovírus. o Alphavírus: Chikungunya e encefalites equinas. o Rubeola vírus o Flavivírus: febre amarela, dengue, encefalite japonesa, vírus do Nilo do Oeste e outras encefalites. o Coronavírus: uma das causas de resfriados, ou seja, causa quadros respiratórios, diarreia e SARS (severe acute respiratory syndrome) em pacientes imunocomprometidos. Crianças apresentam quadros mais graves. o Caxumba: parotidite, orquite e pancreatite. Os surtos atuais de caxumba ocorrer por perda da imunidade que a vacina oferece ao decorrer dos anos. o Vírus sincicial respiratório: bronquiolite obliterans em crianças. o Metapneumovírus humano: infecções de vias aéreas. o Measles vírus: do sarampo. o Rabdovírus: vírus da raiva humana. o Marburg e ebola vírus. o Influenza vírus o Buniavírus: encefalite da Califórnia e hantavirose (transmitida por urina de rato, com letalidade de 40% - faz quadro pulmonar grave). o Arenavírus: transmissão por camundongos. É o vírus da coriomeningite linfocítica. o HTLV I e II: human T-cell lymphotropic virus. Podem causar neoplasias como linfoma e leucemia e problemas neurológicos (mielopatia). São retrovírus mais exóticos, mais frequentes no nordeste. Podem desenvolver mielite transversa 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 5 com paraparesia espástica tropical. Por infectar linfócitos, favorece o aparecimento de neoplasias no sistema linfático. o HIV: human immunodeficiency vírus. Faz depleção de células T. o Enterovírus: são os poliovírus. Fazem monoparalisia flácida aguda. o Coxsackie vírus e ecovírus: meningite asséptica e encefalite, exantemas (síndrome mão-pé-boca), faringites herpaginas (amigdalite com petéquias – lembra herpes), pleurodínia epidêmica (inflamação da pleura - causa insuficiência respiratória e muita dor ao respirar, do tipo pontadas), miocardite, pericardite e conjuntivite. o Rinovírus o Norovírus Bactérias: podem ser intra ou extracelulares. o Intracelulares: o Chlamydia & Chamydophila: a espécie C. trachomatis causa uretrite, conjuntivite (podendo fazer tracoma, com entrópio, podendo levar à cegueira), úlceras genitais e linfadenopatia. A espécie C. pneumoniae causa resfriado e pneumonia em crianças. A C. psitacii está relacionada a animais, principalmente aves, transmitindo pneumonia também. o Rickettisias: são de vários gêneros e espécies. A espécie R. rickettsii é responsável pela febre maculosa ou rock mountain spotted-fever – exantemática, febril, de rápida evolução e com 30% de morte. A R. prowasekii está relacionada ao tifo epidêmico, transmitido por pulga humana. Erlichia e Anaplasma causam erliquose humana (relacionado a animais domésticos), com alterações hematológicas, hepatite e febre. o Extracelulares: o Gram-positivas: (1) Staphylococcus – aureus, coagulase negativo e saprophyticus são os mais importantes – são grande causa de gripes e pneumonias bacterianas; (2) Streptococcus – pneumoniae (principal agente causador de pneumonia), pyogenes (erisipela e faringite bacteriana), agalactiae, anginosus e bovis; (3) Enterococcus – intestinais. Essas três primeiras são as principais etiologias de endocardite infecciosa. (4) Corynebacterium diphtarieae – causa difteria; (5) Arcanobacterium hemolyticum – causa faringite com embolização necrótica; (6) Corynebacterium spp – causa meningite, abscessos, pneumonia, ITU, linfadenite, infecção hospitalar; (7) Rhodococcus equi – abscessos pulmonares e cerebrais, essa espécie acomete mais pacientes imunocomprometidos; (8) Listeria monocytogenes – causa meningite em pacientes com mais de 50 anos e imunocomprometidos, bacteremia, sepse neonatal, endocardite e gastrinterite febril; (9) Bacillus cereus – diarreia por alimento contaminado, até 8h depois da ingestão; (10) Bacillus anthracis – furúnculo necrotizante ou 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 6 forma aspirativa pulmonar (bioterrorismo) e, raramente, meningite hemorrágica, tonsilite e diarreia febril; (11) Erisypelotrhix spp – erisipela simétrica em membros inferiores e endocardite. o Gram-negativas: causam diarreia e cólera. (1) Neisseria meningitidis; (2) Neisseria gonorrhoeae; (3) Moraxella catarrhalis e (4) Haemophilus influenzae – sinusite, otite média e pneumonia. (5) Pasteurella sp. – causa infecções após mordedura de animais (administração de amoxicilina + clavulanato). o Infecção gastrintestinal da comunidade: (1) Vibrio cholareae - causa diarreia, é muito rara atualmente, (2) Vibrio vulnificus - causa lesões cutâneas provenientes do contato com animais marinhos infectados, que progridem em poucas horas – de 6 a 8h, se o membro (geralmente dedo) lesionado não for amputado, a pessoa morre, de tão rápida que é a disseminação do microrganismo, (3) Vibrio parahemolyticus, (4) Campylobacter jejuni – causa diarreia e síndrome de Guillain-Barré (a imunomediação contra antígenos dessa bactéria promove essa doença pela produção dos anticorpos responsáveis pela instalação e fisiopatologia da síndrome), (5) Shigella e Salmonella – são duas principais que causam diarreia infecciosa, principalmente Salmonella. A Shigella é importante porque produz uma toxinaque promove uma doença rara chamada de síndrome hemolítica urêmica. Essa toxina se chama shiga e não é mais produzida pela Shigella, mas, sim, pela E. coli – a maioria dos casos de síndrome hemolítica urêmica (plaquetopenia, pode fazer trombocitopenia, insuficiência renal e lesão do sistema nervoso central) é ocasionada por E. coli e não por Shigella. (6) H. pylori: o tratamento é indicado para paciente que desenvolve úlcera gástrica ou duodenal ou duodenite corrosiva – 50-60% das pessoas estão infectadas por essa bactéria, mas não há problemas – promove alteração no epitélio gástrico. (7) Yersínia: enterocolítica causa diarreia. Uma variedade da espécie (pestis) é responsável pela peste bubônica, transmitida pela picadura de pulgas de ratos. o Infecções hospitalares: Klebsiella, Proteus, Serratia, Citrobacter e Enterobacter são bactérias que vivem em fezes e são perigosas em pacientes internados porque estão em condições precárias de higiene. A principal bactéria causadora de infecções no Brasil é a Klebsiella. Há, ainda, o Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa (ambos são bacilos gram-negativos) que são primordialmente hospitalares. Por ultimo, tem-se o S. aureus. Stenotrophomonas e Burkholderia cepacia são bactérias intrinsicamente resistentes a vários antibióticos; são do ambiente hospitalar mesmo, sensíveis apenas a sulfas (são antibióticos primitivos). O paciente está usando tanto antibiótico, que mata todas as bactérias e sobram somente essas, que o contaminam e tornam mais difícil o tratamento, pois nem os antibióticos de 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 7 ultima geração a matam (o médico dificilmente se lembra de que são sensíveis a antibióticos primitivos). Burkholderia pseudomallei: infecção pulmonar que forma abscesso, mas é de difícil diagnóstico; essa bactéria infecta cavalos e búfalos (principalmente no norte do Brasil) e é transmitida ao homem, onde causa a doença chamada de mormo. o IVAS: (1) Bordatella pertussis: principal causa de coqueluche (tosse comprida) – foi descoberto que a vacinação não traz uma potência tão alta quanto à da infecção in natura dessa bactéria, por isso é uma doença recorrente atualmente. Os adultos não são tão afetados pela doença, os sintomas são mais amenos, mas o problema está nas crianças com menos de 1 ano, as que estão nascendo; elas nascem com muito pouco ou até mesmo sem anticorpos das mães que foram infectadas pela vacina (porque perde a eficiência), então seus anticorpos maternos são muito fracos contra essa bactéria, aumentando a incidência dessa doença nessa faixa etária, o que é grave, podendo até levar a óbito. Por isso, atualmente é parte do pré-natal a vacinação de gestantes contra a Bordatella pertussis, para que o filho não nasça propenso a desenvolver a doença. (2) Francisella tularensis: febre com sepse, pneumonite e lesões de mucosas. (3) BAAR: Mycobacterium tuberculosis, avium, leprae. o Anaeróbias: Clostridium difficile (principal doença diarreica. Pode causar colite, evoluindo para colite pseudomembranosa (lesões com pus) e, em doença terminal, pode ocasionar megacólon tóxico (80% de mortalidade)). Clostridium tetani (tétano). Clostridium botulinum (botulismo). Clostridium perfringens (fasceíte necrotizante). Protozoários Fungos: C. albicans, C. tropicalis, C. paraplosis, C. lusitanea, C. glabrata e C. krusei são os fungos cândida. Devido ao uso abusivo de antibióticos, outros microrganismos aproveitam o ambiente propicio para replicação, como os fungos; e, ao caírem na corrente sanguínea, podem causar candidemia, resultando em lesões mucocutâneas como sapinho, esofagite, vaginite, lesões cutâneas disseminadas, onicomicose, candidíase da fralda e lesão cutânea granulomatosa. É comum resultar em endocardite e abscesso cerebelar. Os fungos odem causar, ainda, aspergilose broncopulmonar – asmáticos estão propensos a desenvolver inflamações crônicas no pulmão, que propiciam a instalação desses microrganismos. Um tipo de sequela da tuberculose é causado por fungos e é chamada de bola fúngica – a Tb instalou cavitações e o fungo se aloja nelas, se reproduzindo e podendo levar a hemoptise, tosse frequente. Aspergilose pulmonar invasiva acomete mais paciente que fez transplante de medula em caso de leucemia. Cryptococus faz pneumonia e meningite. Outras doenças conhecidas são histoplasma, paracoccidioidomicose (lesões cutâneas, maior incidência em áreas rurais, causas pulmonares crônicas fibrosantes, acomete pacientes não tratados com DPOC). Parasitos 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 8 AULA 3 PNEUMONIA Por definição, pneumonia é qualquer infecção que acomete o pulmão. Entretanto, esse conceito é muito amplo, pois engloba tuberculose e paracoccidioidomicose, por exemplo, que são doenças estudadas a parte. Então, para restringir na prática, pneumonia refere-se a infecções bacterianas que afetam o parênquima pulmonar. Essa doença tem sintomas respiratórios e sinais de localização que apontam o problema diretamente para o pulmão – quando a gente tem um resfriado, ou seja, uma infecção de IVAS, chamada de rinofaringite aguda, a gente tem coriza, dor de garganta, gotejamento pós-nasal (que resulta em tosse) e espirro; são todos eles sintomas que englobam a cabeça e o pescoço, apesar de a tosse permitir que seja confundido com pneumonia. Então, para diferenciar vias aéreas altas de vias aéreas baixas, incluem-se os sintomas de localização, ou seja, algum sintoma que indique que o problema é no pulmão, para diferenciar pneumonia: raio x de pulmão mostrando condensações e a presença de estertores crepitantes na ausculta pulmonar. A pneumonia pode ser aguda, quando dura dias, ou crônica, quando dura por meses ou semanas. Na prática quando se fala em pneumonia, se refere à aguda, pois as crônicas são doenças ocupacionais, como pneumonite autoimune e tuberculose (ou seja, doenças causadas por micobactérias, fungos ou autoimunidade). PNEUMONIA AGUDA: há 100 anos já foi a causa mais comum de mortalidade e hoje é a 6ª, dentre as pessoas que têm mais de 65 anos e a 10ª, dentre todas as faixas etárias. Nos EUA é a causa mais comum de morte por infecção, podendo perder para diarreia. Quem morre de pneumonia são as pessoas muito jovens ou os muito velhos: menos de 5 ou 2 anos de idade e mais de 65 anos. O S. pneumoniae, principal agente etiológico da doença, é uma bactéria que habita a faringe normalmente e todo dia nosso sistema imune é ativado para combatê-lo. Entretanto, em pacientes com sistema imune menos desenvolvido e mais fraco, a bactéria consegue burlar as barreiras e se instalar nos pulmões. AGENTES ETIOLÓGICOS: o S. pneumoniae disparado é o principal, correspondendo de 60 a 70% das etiologias tratáveis; tem-se, ainda, o S. aureus, o H. influenzae (principalmente em quem tem DPOC), anaeróbios (fazem mais pneumonia por aspiração), enterobactérias (por internamento hospitalar) e dois peculiares: Mycoplasma e Chlamydia; eles não têm parede celular comum e não crescem em cultura, portanto não são sensíveis a β-lactâmicos (o que dificulta o tratamento) e são difíceis de serem isolados – a evidência que se obtém à exposição desses microrganismos é por sorologia de anticorpos. Os vírus também podem causar pneumonia: nos adultos, o principal causador é o vírus Influenza, o vírus da gripe, pois ele é capaz de descer pela árvore respiratória e causar problemas no parênquima pulmonar. É importante diferenciar gripe 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 9 de resfriado – esse vírus é causador de gripe, não de resfriado, portanto, resfriados não podem causar pneumonia, apenasgripes e, inclusive, o Influenza mata. Antigamente a doença era dividida em pneumonia típica e pneumonia atípica, sendo que a atípica era a que apresentava sintomas extrapulmonares (o que dificultava o diagnóstico de pneumonia). Considerava-se como os principais agentes etiológicos da forma atípica a clamídia e o micoplasma, portanto eram chamados de agentes atípicos. Como os antibióticos usados para micoplasma e clamídia devem não ser derivados de penicilina, usam-se muitos macrolídeos associados. Outro agente que não é sensível aos β-lactâmicos é a Legionella. FISIOPATOLOGIA: nosso organismo tem uma série de mecanismos de defesa contra o pneumococo, pois ele está na faringe habitualmente. Para impedir que ele migre para o alvéolo, existe a defesa da imunidade inata (que consiste, basicamente, na migração de neutrófilos, as forças do batimento mucociliar, migração de macrófago e o processo de fagocitose da bactéria) e da imunidade adaptativa (mediada por anticorpos). Quando a defesa não é suficiente, a pneumonia pode acontecer. Alguma comorbidade do paci- ente, como HIV, quimioterapia, neoplasia, insuficiência renal, cirrose e insuficiência car- díaca aumentam as chances de se desenvolver essa doença. Cerca de 10 tipos de pneu- mococos causam pneumonia; essa grande variedade faz com que não consigamos de- senvolver resposta imune de memória, pois cada hora é um tipo diferente que pode nos infectar, ou seja, estamos sempre dispostos a desenvolver pneumonia. Na instalação da doença, o pneumococo consegue sobreviver a nossas defesas e chega ao alvéolo, onde começa a se multiplicar e estimular a migração de células polimorfonucleares e macró- fagos de defesa; as células de defesa no local ativam substâncias que atuam aumen- tando a vascularização da região, levando à formação de edema e ao aumento da per- meabilidade vascular. Os capilares pulmonares vasodilatam, tornam-se mais permeá- veis, e inundem o alvéolo com plasma, neutrófilos e hemácias – o alvéolo fica cheio e isso é chamado de hepatização vermelha (os alvéolos aerados se tornam repletos de células de defesa e hemácias). Isso acontece na fase aguda e o paciente desenvolve fe- bre (devido ao processo inflamatório, que libera prostaglandinas e citocinas) e tosse produtiva (devido ao acúmulo de secreção alveolar). Depois, na fase de resolução da do- 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 10 ença, o paciente já está melhor e em seu pulmão ocorre o depósito de fibrina, por processo de cicatrização, formando estruturas chamadas de hepatização cinzenta. As hepatizações indicam condensações, que são típicas de pneumonia. A condensação visualizada no raio x de tórax está presente na fase de hepatização vermelha e cinzenta. SINTOMAS CLÁSSICOS: Tosse; Hemoptise, eventualmente; Febre; Escarro amarelado; Dor torácica pleurítica (muitas vezes ventilatório-dependente). Mialgia e cefaleia (menos comuns). Os sintomas são mais evidentes na fase de hepatização vermelha. O processo de instalação da bactéria ou do vírus pode ser (1) lobar: quando se diz que a pneumonia é bem localizada. Respeita os lobos pulmonares porque não passa a barreira entre um lobo e o outro. Se a bactéria invadiu um alvéolo e foi invadindo os vizinhos, tem-se a pneumonia lobar por espalhamento; (2) brônquio- pneumonia: acontece se o padrão de disseminação ocorreu pelo brônquio; nesse caso, vários alvéolos podem ser ocupados ao mesmo tempo, levando a quadros multifocais. Isso dá dois padrões radiológicos possíveis: a brônquio- pneumonia mostra várias condensações perdidas que podem ser uni ou bilaterais e a pneumonia lobar mostra consolidações em um lobo único. Essas duas pneumonias são padrões de infecção bacteriana. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 11 PNEUMONIA VIRAL: o vírus chega ao alvéolo e infecta os pneumócitos do tipo I, gerando uma reação inflamatória com formação de muito edema intersticial, mas o alvéolo continua aerado até certo ponto (ou seja, não é totalmente obstruído). Essa infecção das células é uma resposta diferente, sem muita migração de neutrófilos e macrófagos – são mais os anticorpos e as células NK que combatem o vírus. Há formação de uma membrana hialina dentro do alvéolo, com vasodilatação. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 12 O que predomina é o edema intersticial ao redor do alvéolo. O paciente apresenta sintomas como febre, tosse não produtiva (porque não tem pus dentro do alvéolo, já que não existe processo inflamatório alveolar) e mialgia e cefaleia (típicos de viroses). No raio x da pneumonia viral se observa o chamado padrão reticular (condensações que parecem uma rede). O raio x ainda é preto, devido à presença de ar, mas há fios brancos, indicando a pneumonia viral – semelhante à ICC, mas sem aumento cardíaco. DIAGNÓSTICO: tanto para pneumo- nia bacteriana quanto viral, o dx é feito quando o paciente se queixa de tosse (pro- dutiva ou não) e febre, fazendo um raio x de tórax. Ou seja, o pedido de radiografia nes- ses casos é obrigatório. O recurso mais usado é o raio x porque a sua sensibilidade é de 60-70% - não é muito bom porque a condensação pode estar atrás do coração, por exemplo, ou o paciente pode estar desi- dratado. Mesmo assim, pode ser tratado o paciente que não apresenta condensação à radiografia, mas apresenta os sintomas de IVAI. Para aumentar a sensibilidade do exame, pode ser pedida uma tomografia de tórax – o problema é que é um exame caro e que emite muita radiação (o que pode ser prejudicial ao paciente). Se o raio x vem normal, deve se pensar em IVAS, mas lembrar que a sua sensibilidade não é de 100% (quer dizer que pode ser uma pneumonia sim, mas que não foi possível de ser identificada no exame). TRATAMENTO: uso de antibióticos sempre. A administração pode ser endovenosa ou via oral, depende da viabilidade do TGI do meu paciente (se ele estiver em choque, por exemplo, ou 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 13 com baixa perfusão venosa, ou seja, em estado mais grave, ou simplesmente internado, opta-se por infusão endovenosa, enquanto que se ele estiver hábil, a melhor opção é medicar por via oral). CONDUTA: os pacientes graves precisam ser internados; uma maneira de saber a gravidade do paciente é usar o Score de Fine, onde são considerados graves aqueles que se encaixam nos critérios de risco. A idade aumenta o risco de óbito, assim como a presença de comorbidades (como neoplasia, doença hepática, ICC, doença cerebrovascular e doença renal), acidose, aumento da ureia, diminuição de sódio, hipoxemia, derrame pleural, dentre outros. Cada fator de risco tem uma pontuação no score de Fine, que, no final, é somado e obtido o valor total e o paciente é classificado quanto a sua gravidade conforme a tabela abaixo. Se o paciente soma 0 ponto, sua chance de ir a óbito é de 0,1 e, portanto, o local sugerido de tratamento é o ambulatório. Até 70 pontos classifica-se o paciente como grau II, com risco de óbito de 0,6%, mas o tratamento ambulatorial ainda é o indicado. Entre 71 e 90 pontos totalizados, o paciente é grau III, apresentando 1,8% de chances de óbito – orienta-se que seja tratamento em ambulatório ou com internação breve. De 91 a 130 pontos, o paciente tem 8,2% de chance de ir a óbito e se indica internação. Acima de 130 pontos, a taxa sobe para quase 30% e a internação é indicada também (é grau V, o mais grave que tem). O problema deste score é que os critérios de avaliação envolvem exames pouco práticose de alto custo. Por isso, indica-se usar um score mais prático e acessível, que é a classificação CURP-65 (ou CURB-65), a qual envolve 6 itens básicos para classificar a gravidade do paciente: idade > 65 anos, confusão mental recente (indica encefalopatia séptica – é perigoso para qualquer infecção), ureia > 50 mg/dL, FR > 30mrpm, PAS < 90 mmHg e/ou PAD ≤ 60 mmHg. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 14 O CURP-65 pode ser feito sem a ureia também, já que é um exame mais chatinho de se fazer. Nesse caso, muda a pontuação. O problema do CURP-65 é que não se levam em conta comorbidades, o que exige bom senso na avaliação do score. Por exemplo: não deve ser tratado ambulatorialmente o paciente HIV, mesmo que some 0 ponto. Os pacientes com pneumonia adquirida na comunidade precisam ser avaliados quanto ao local de tratamento de acordo com os seguintes pontos: (1) avaliar a presença de doenças associadas, (2) avaliar CRP-65 (sem ureia), (3) avaliar o grau de oxigenação e o comprometimento radiológico (se a saturação for menos que 90%, internar o paciente. No rx avaliar a extensão radiológica da pneumonia e se existe derrame pleural suspeito de empiema); (4) avaliar os fatores sociais e cognitivos (ausência de familiar ou cuidador, necessidade de observação da resposta ao tto, capacidade de entender a prescrição), (5) avaliar os fatores econômicos (se consegue comprar o medicamento prescrito ou não), (6) avaliar a aceitabilidade da medicação oral (consegue ingerir o comprimido ou precisa de infusão venosa?) e (7) julgamento clínico. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 15 Já os pacientes com pneumonia adquirida na comunidade grave, essa conduta depende de critérios maiores e menores. Os maiores são: choque séptico, necessidade de vasopressores e insuficiência respiratória aguda com indicação de ventilação mecânica; se o paciente tiver um desses critérios, deve ser encaminhado para a UTI. Os critérios menores são: hipotensão arterial, relação PaO2/FiO2 menos que 250 e presença de infiltrados multilobulares; se o paciente tiver dois critérios, deve ser internado na UTI também. Cada tipo de paciente recebe um tratamento diferente e direcionado. Os pacientes são divididos em (1) ambulatoriais, (2) internados não graves e (3) admitidos em UTI. (1) Os ambulatoriais são ainda divididos em (a) previamente hígidos – recebem tratamento com macrolídeos (azitromicina ou claritromicina) ou com β-lactâmicos (mais usados como segunda opção) e em (b) com doenças associadas ao uso de antibióticos nos últimos 3 meses – devem ser tratados com quinolonas modernas (Levofloxacin ou moxifloxacin). (2) Os internados não graves são tratados com quinolonas (ceftriaxona) + macrolídeos (endovenosos) ou β-lactâmicos + macrolídeos. Essa associação é feita porque diminui a mortalidade, já que a ceftriaxona destrói o pneumococo e dentro dele existem endotoxinas (chamadas de pneumolisinas), que poderiam levar o paciente a óbito. Portanto, o macrolídeo é útil nesse caso para inibir a síntese dessas endotoxinas. Além disso, a azitromicina também tem propriedades anti-inflamatórias, o que ajuda na diminuição da sepse. (3) Os internados graves (admitidos em UTI) podem ser tratados de duas maneiras, dependendo da situação: (a) sem risco de ser Pseudomonas sp.: usa-se β-lactâmico + quinolonas ou β-lactâmico + macrolídeos e (b) com risco de ser Pseudomonas sp.: β- lactâmico + quinolonas (de gerações fortes). Somente as quinolonas respiratórias são indicadas para tratamento de pneumonia! Levofloxacin e moxifloxacin. PRESCRIÇÃO: Amoxicilina: 500 mg, 1 comprimido por via oral de 8/8 horas, por 7 dias. Azitromicina: 500 mg, via oral, dose única diária por 3 dias ou 500 mg no primeiro dia, seguido de 250 mg por dia, por 4 dias. Claritromicina de liberação rápida: 500 mg, por via oral, de 12/12 horas, por até 7 dias. Claritromicina UD: 500 mg, liberação prolongada, 1 comprimido por via oral por dia, durante 7 dias no máximo. Quinolonas: Levofloxacin 500 mg/dia e moxifloxacin 400 mg/dia. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 16 FALHAS TERAPÊUTICAS: acontecem por erro no diagnóstico ou por outros fatores. Quando se diagnostica errado a doença, deve se pensar que o problema do paciente pode estar relacionado a doenças não infecciosas, como ICC, neoplasia, doenças inflamatórias (pneumonite de hipersensibilidade, pneumonias eosinofílicas, pneumonia organizante, sarcoidose, granulomatose de Wegener, pneumonite intersticial aguda e colagenoses), hemorragia alveolar ou reação a drogas. Se a doença tiver sido diagnosticada corretamente, mas o paciente apresentou falha terapêutica, deve se pensar em (1) fatores relacionados ao patógeno – resistência bacteriana, patógenos incomuns, tuberculose, vírus, leptospirose, Coxiella sp, Nocardia sp., fungos (histoplasmose) e pneumocistose; (2) fatores relacionados à droga usada – administração incorreta, posologia, nível sérico, via inadequada, reação adversa, patógenos não são indicados para o medicamento usado, pneumococo resistente à penicilina, S. aureus, P. aeruginosa e anaeróbios; e (3) fatores relacionados ao hospedeiro – neoplasia, obstrução brônquica, corpo estranho, complicação pulmonar (empiema e abscessos), extrapulmonar (metástases, endocardite, pericardite, artrite e meningite), superinfecção, pneumonia hospitalar, bacteremia por cateter, infecções urinarias nosocomiais, resposta inadequada e resposta inflamatória disseminada. O fracasso terapêutico pode ser observado em duas situações: (1) quando o paciente progride apresentando outros sintomas alarmantes – insuficiência respiratória e choque. Pode ser por patógenos incomuns, resistência antimicrobiana, complicação infecciosa, causa não infecciosa, diagnóstico incorreto, superinfecção hospitalar e exacerbação da doença subjacente e (2) quando a terapêutica é não responsiva – há persistência dos sintomas mesmo após 72h de tratamento, podendo indicar que o microrganismo é não responsivo, não é coberto pelo medicamento, é resistente ao antibiótico, o paciente tem uma complicação local (como empiema ou derrame parapneumônico), fez uma superinfecção hospitalar, pensar em causas não infecciosas, complicações da pneumonia e diagnósticos incorretos (tuberculose extrapulmonar, ICC, vasculite e neoplasia), principalmente se o paciente estiver com febre relacionada ao uso de antibiótico. CASO CLÍNICO João A.S. 73 anos, tosse produtiva com escarro amarelado, febre aferida em 38,8ºC, início do quadro há 4 dias. Lúcido e orientado. Hx de HPB. Nega outras doenças. Não faz uso de medicação. Ao exame físico: FC 103 bpm, PA 90/65 mmHg, FR 26 ipm e CPP com crepitantes em base direita. Saturação de 92% em ar ambiente. •Hemograma: Hb: 14,2; 14.500 leucócitos com 20% bastões. •Na: 142, K: 3,9, creatinina: 1,5 e ureia: 70 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 17 Esse paciente faz um score de 2 pontos de acordo com a classificação de CURB-65: 1 ponto pela ureia acima de 50 e 1 ponto por ter mais de 65 anos. Logo, a conduta de tratamento seria interna-lo em enfermaria, iniciando com ceftriaxona (quinolona) e azitromicina (macrolídeo) endovenosos, com fisioterapia respiratória, antitérmico para controlar a febre, analgésicos para desconfortos e soro fisiológico para mantê-lo hidratado e bem. IDENTIFICAÇÃO DO MICRORGANISMO: o ideal para coleta do material que será investigado é abrir o tórax e coletar parte do pulmão. Entretanto, geralmente se descobre o agente etiológico por cultura de escarro ou lavado brônquico – é difícil, mesmo assim,de investigar a etiologia porque esses materiais vêm com contaminados. PNEUMONIA HOSPITALAR: os agentes etiológicos passam a ser outros, como Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae ESBL ou KPC, S. aureus MRSA, Serratia marscencens, E. coli ESBL, Proteus sp. e Enterobacter. O tratamento passa a ser feito com uso de piperaciclina tazobactam, meropenem, polimixina B ou vancomicina e linezolida. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 18 CASO CLÍNICO I Paulo, 14 anos de idade, apresenta-se com febre moderada, cefaleia holocraniana durante períodos de pico febril, odinofagia e mialgia generalizada há 4 dias. Um médico notou amígdalas hipertróficas e hiperemiadas, com placa exsudativa esbranquiçada as cobrindo parcialmente. Havia linfonodos aumentados (maiores que 2 cm) em região cervical, predominantes na cadeia posterior. O médico receitou amoxicilina (ampicilina). O mesmo paciente retornou 2 dias depois com um exantema máculo-papular generalizado pouco pruriginoso, persistência da hiperemia e hipertrofia amigdaliana, agora sem placa esbranquiçada. Não houve mudança no padrão de febre. Hemograma: - Leucócitos: 14.500 células/mm³ - normal abaixo de 10 mil. - Linfócitos típicos: 75% (10.875) – normal entre 40 e 50% (não passa de 5 mil) - Linfócitos atípicos: 20% (2.900) - Plaquetas: 90.000 – normal acima de 150 mil. *Uma linfocitose absoluta ou relativa não contribui para o dx de amigdalite bacteriana, pois nessa doença seria esperado uma leucocitose às custas de neutrófilos, os principais agentes de combate bacteriano (ou seja, não se espera aumento de linfócitos). *Os linfócitos atípicos têm núcleo aumentado porque estão mais ativos – podem ser comparados aos bastonetes dos neutrófilos, mas nesse caso os linfócitos não são imaturos, apenas ativos a mais do que os outros. *O exantema pode ser devido ao uso da ampilicina, pois 5 a 10% das pessoas que utilizam esse medicamento apresentam rash. 1. Qual a hipótese principal? Informe quais foram os dados usados para a formulação da hipótese. Mononucleose infecciosa. Os dados importantes são: faixa etária do paciente; local de linfonodomegalia (cervical é típico de mononucleose); rash pós-ampicilina; presença de linfócitos atípicos no hemograma (células mononucleares atípicas); faringite; febre moderada. É uma doença que simula faringite bacteriana, mas a diferença é que não melhora com antibiótico – é um quadro mais arrastado; o paciente apresenta dor de garganta por duas a três semanas. Além disso, o paciente tem aumento das células monomorfonucleares, que são os linfócitos. É uma doença viral que causa uma amigdalite mais arrastada. 2. Quais os principais diagnósticos diferenciais? No momento inicial (antes dos resultados do hemograma) poderia se pensar em amigdalite bacteriana por estreptococo, já que tem placas de pus. Outros dx diferenciais podem ser: 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 19 - Citomegalovírus: pode se manifestar por febre, linfonodomegalia, esplenomegalia, comprometimento hepático, linfocitose atípica e eventual aparecimento de exantema após a administração de ampicilina – pode, inclusive, por isso, ser apelidada de mononucleose citomegálica. É particularmente observada em imunodeprimidos submetidos a repetidas transfusões de sangue. Salientar que não há faringite nessa doença, o que pode ser decisivo para o dx diferencial. - Toxoplasmose: pode se traduzir por febre, linfonodomegalia, esplenomegalia, atingimento hepático e células atípicas. A inexistência de faringite e de anticorpos heterofilos possibilita o dx diferencial com MI. - Faringite estreptocócica, diftérica ou por adenovírus: o exsudato da difteria tende a se estender além dos bordos tonsilares, enquanto que na MI esse exsudato se limita a eles. A coexistência de conjuntivite, a limitação da doença às VAS, sem reação ganglionar leva ao dx de faringite por adenovírus. Leucograma com neutrofilia está presente nas faringites bacterianas, enquanto que na MI têm-se apenas células atípicas. - Rubéola: deve ser considerada nos casos de MI que se acompanham de exantema, até porque a rubéola também pode causar reação linfocitária atípica e linfonodomegalia (embora sejam limitadas à região suboccipital). - Hepatite viral: pode ser dx diferencial para os casos de MI que acometem o fígado, ocasionando icterícia. Na hepatite viral o leucograma também pode apresentar células atípicas. O que diferencia, entretanto, é o aumento sérico das transaminases – é discreto na MI e elevado na hepatite. Além disso, a hepatite não cursa com faringite, reação ganglionar ou presença de anticorpos heterofilos. - Linfocitose infecciosa aguda: atinge crianças e se confunde com MI, apesar de não apresentar linfonodomegalia, faringite e apresentar leucograma apenas com linfócitos de morfologia normal. - Doença de Hodgkin: a observação de linfonodomegalia generalizada e de esplenomegalia, 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 20 associada à elevada porcentagem de linfócitos atípicos pode levar, em alguns casos, à presunção dessa doença como dx diferencial. A inexistência de características de malignidade nas células atípicas, entretanto, evidencia o dx de MI, tornando dispensável a efetivação da punção medular e da biopsia ganglionar. - Síndrome da Mononucleose ou mononucleose-like/símile: citomegalovírus (febre + linfadenopatia), toxoplasmose (febre + linfadenopatia), rubéola (febre + linfadenopatia + rash), HIV agudo (febre + linfadenopatia), Roseola infantum (HHV-6) – todos com linfócitos atípicos, mas com valor inferior a 10%. Mono-like são as doenças que parecem ser mononucleose e apresentam febre, linfócitos atípicos e linfonodomegalia – é um termo usado para se referir ao caso do doente quando não se tem a certeza de que ele está infectado pelo EBV. É uma síndrome que tem a tríade de sintomas, não é necessariamente uma doença. - Infecção aguda pelo HIV Dor de garganta que costuma resultar em febre está relacionada a vírus e bactérias. Portanto, é essencial focar nisso para saber direcionar o tratamento ao uso de antibióticos ou não. Para direcionar o dx a bactérias: é necessário que o paciente tenha 3 dos 5 critérios de Centor: (1) presença de placa purulenta, (2) linfonodomegalia, (3) febre, (4) ausência de sintomas de resfriados (mais especificamente a tosse) e (5) tenha idade inferior a 15 anos (não necessariamente – algumas literaturas desconsideram essa informação). 3. Fale sobre o agente etiológico da MI. O agente etiológico é o vírus Epstein Barr (VEB), que pertence à família Herpesviridae. É o HHV-4, também chamado de gama herpes vírus. Tem um diâmetro de 180 a 200 mm e o peso molecular 100 x 106 daltons. É constituído por um núcleo central que contém DNA de fita dupla e é envolto por um capsídeo icosaédrico, composto por 162 capsômeros e revestido por envelope. Em seu envelope se destaca a glicoproteína gp350, que se liga ao receptor celular CD21 na superfície das células B (tem capacidade de estabelecer latência em linfócitos B como epissomo). São diversos os antígenos expressos pelo EBV: (1) VCA – viral cápside antigen (antígeno do capsídeo), (2) MC – membrana antigen, (3) EA – early antigen (antígeno precoce, dividido em precoce difuso e restrito) e (4) EBNA – nuclear antigen. É um DNA vírus – se replica incluindo uma cópia de seu material genético nas nossas células, utilizando a nossa maquinaria celular para se replicar. Isso quer dizer que não tem como se livrar da infecção sem matar acélula. Esse vírus também tem facilidade em estabelecer latência – está nos infectando, mas não manifesta sintomas (o sistema imune consegue rastrear proteínas e RNAs estranhos, desde que o vírus não esteja latente). Assim, o DNA do vírus fica inerte e junto do material genético de cerca de 10% dos linfócitos do hospedeiro, levando a recidivas – após a infecção de tempos em tempos ocorre uma reativação que normalmente está associada a deficiências da imunidade (picos de estresse, má 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 21 qualidade de vida, cortisol, atividade física intensa, resfriados). Essas reativações são assintomáticas. O vírus tenta se reativar a todo momento e, às vezes, consegue aparecer na saliva. 4. Epidemiologia (prevalência e transmissão). Idade de prevalência: adolescentes; de 10 a 19 anos correspondem de 6 a 8 casos/1000 habitantes ao ano; < 10 e > 19 anos correspondem a menos de 1 caso/1000 habitantes ao ano. A infecção tem distribuição universal e elevada prevalência, assumindo caráter endêmico. Tem incidência idêntica em ambos os sexos. Apresenta dois picos de incidência: (1) durante a infância – quando a criança começa a ir para a escola e (2) durante a adolescência – quando começa a beijar. A prevalência pode chegar a 90%. Transmissão: gotículas de saliva de pessoas com doença ativa ou latente; sabe-se que até 15% dos adultos excretam EBV pela orofaringe na fase de latência e mais de 90% dos adultos já foram expostos. É uma transmissão horizontal e veiculada pela saliva, onde o vírus é achado na fase aguda da doença. A aquisição da infecção resulta do contato com esses portadores. É de baixa contagiosidade, pois requer contato íntimo das secreções orais (“doença do beijo”), apesar de que pode ser transmitida também pela utilização de objetos conspurcados com a saliva infectada, principalmente em crianças. 5. Patogênese. Há intervenção da imunidade celular e humoral. Após a contaminação oral, a infecção ocorre primariamente ao nível da orofaringe. O vírus é responsável por dois tipos de infecção celular: (1) lítica (ou produtiva) – em que as proteínas virais destroem as células por lise e liberam virions e (2) não lítica (ou latente) – em que há incorporação do genoma viral ao genoma celular de forma definitiva; esse tipo de infecção, in vitro, mostrou que 10% dos linfócitos B se torna imortalizado (ficam em contínua proliferação). Além dos linfócitos B, as células epiteliais da orofaringe e das glândulas salivares também são infectadas, podendo ser as primeiras atingidas – são locais de infecção produtiva, com replicação do agente e destruição celular. A infecção do linfócito B resulta do reconhecimento de CD21 na sua superfície por glicoproteínas do vírus – nessas células é mais comum que o vírus permaneça latente. A infecção das células epiteliais leva à necrose delas, o que resulta no sintoma de faringite, habitualmente observada na doença. De início a infecção das células B acontece nas tonsilas orofaringeanas, sucedendo sua disseminação por uma viremia precoce – através dos linfócitos B em circulação, que contaminam as estruturas linfoides distantes. A fase inicial é assintomática ou pouco marcada. A estimulação pelos linfócitos B infectados de uma imediata e intensa proliferação de linfócitos T leva à hiperplasia ganglionar generalizada, esplenomegalia e hipertrofia das amigdalas. As alterações antigênicas registradas na membrana celular do linfócito B (presença de LYDMA) permitem o seu reconhecimento pelas células T ativadas, que levam a sua lise. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 22 Resposta do Hospedeiro: (1) humoral: síntese de anticorpos neutralizantes contra capsídeo viral (anti-VCA) e contra antígenos nucleares (anti-EBNA); e (2) celular: linfócitos T citolíticos. Há destruição dos linfócitos B infectados em 2 a 6 semanas. Os linfócitos T reagem contra a infecção, ativam a transcrição de proteínas, descompactam a sua cromatina e se tornam, então, atípicos. Os linfócitos B infectados produzem inúmeros anticorpos policlonais não específicos (predominantemente IgM), incluindo anticorpos heterofilos (cuja origem não está esclarecida). Com a resposta imune, alguns dos linfócitos infectados vão ser destruídos e outros vao ficar com o material genético sem manifestação nenhuma – de tempos em tempos o material viral vai ser reativado e eliminado pela saliva. O vírus permanece por toda a vida dentro da célula (herpes vírus = latência) e o alvo do vírus é o linfócito B. 6. Quadro clínico típico. Período de incubação: 30 a 45 dias. Adultos apresentam mais sintomas que as crianças, que podem, inclusive, serem assintomáticas. - Período prodômico: refere-se à etapa antes do evento principal; é inespecífico, antecede em 7 a 14 dias os sintomas clássicos. - Período de estado da doença: “síndrome da mononucleose”; odinofagia, com ou sem exsudato amigdaliano, fadiga, mialgia, febre, cefaleia, artralgia, linfoadenopatia cervical posterior, retroauricular ou até axilar e inguinal; petéquias no palato. Há esplenomegalia em 50% dos casos e rash pós uso de β-lactâmicos em 90% dos casos. - Sintomas hematológicos: mais de 50% de células mononucleares e mais de 10% de linfócitos atípicos. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 23 - Sorológicos: surgimento de anticorpos heterofilos temporários, surgimento permanente de anticorpos contra EBV. 7. Complicações da fase aguda e outras síndromes clínicas da fase crônica. A maioria dos casos tem evolução benigna. Complicações: (1) hematológicas: acomete até 3% dos casos, entre a segunda e a terceira semana da infecção. Pode ser anemia hemolítica, trombocitopenia severa (levando a sangramentos), neutropenia severa (< 1000 cel/mm3) – como a MI é uma infecção dos linfócitos B, eventualmente essas células apresentam um comportamento descontrolado, com produção de autoanticorpos que atingem essas células sanguíneas (o paciente fica com uma doença autoimune temporária enquanto está doente), (2) obstrução de vias aéreas superiores: devido a tanta inflamação, (3) neurológica: meningoencefalite, neurite óptica, neurite periférica, paralisia de Bell (paralisia facial periférica), síndrome de Guillain-Barré (doença desmielinizante do neurônio motor inferior que deixa a pessoa temporariamente tetraplégica) – todas acontecem pela autoimunidade temporária também, (4) ruptura esplênica (0,2%): entre a segunda e terceira semana, usualmente relacionado a traumas abdominais ou então a intensa esplenomegalia, (5) outras: pericardite, pneumonite, nefrite, hepatite, (6) potencial oncogênico: em caso de proliferação exagerada dos linfócitos B ou devido à introdução do material genético viral em genes supressores de tumor do DNA das células do hospedeiro, podendo levar ao Linfoma de Burkitt (associação em até 90% dos casos), Linfoma de Hodking (associação casual- entre 40 a 65%), câncer de nasofaringe (tumor raro, maioria têm replicação viral ativa), doença linfoproliferativa de células B em pacientes imunossuprimidos e PTLD; (7) infecção crônica ativa pelo EBV: raro, é a evidência histológica de presença de EBV em tecidos após 6 meses da infecção aguda, resultando em síndrome da fadiga crônica, síndrome linfoproliferativa ligada ao cromossomo X ou Síndrome de Duncan (doença genética que determina imunossupressão celular; leva à forma grave e fatal da seletiva de doenças pelo EBV). 8. Como se chega ao diagnóstico? - Exames inespecíficos: (1) alterações hematológicas: linfocitose (> 50% do número de leucócitos totais ou >5 mil linfócitos em valor absoluto, mais intensa na 2a e 3a semana, diferencial com reação leucemoide); linfócitos atípicos (comum, mas não é patognomônico); neutropenia; trombocitopenia (plaquetas < 140.000 cél/mm3) e (2) alterações bioquímicas: aumento de transaminases (em torno de 500UI). - Pesquisa de anticorpos: (1) inespecíficos: anticorpos heterofilos (capacidade de reagir com antígenos filogeneticamente não relacionados, como hemácias de boi e carneiro). Os indivíduos normais apresentam-se parcialmente absorvidos por hemácias de boi e carneiro e total- mente por extrato de rim de cobaias. Pacientes com mononucleose apresentam anticorpos totalmente absorvidos por hemácias de boi e carneiro, e parcialmente por extrato de rim de cobaias (teste chamado de Monoteste, monospot, Paul-Bunnel-Davidson). Esse teste tem sensibilidade de 70 a 95% e especificidade 82 a 99%, mas não é muito usado mais atualmente, 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 24 pois os testes específicos têm maior sensibilidade. (2) Específicos: anti VCA IgG , detecta-se a partir da fase aguda e persiste por toda a vida; anti VCA IgM , detecta-se a partir da fase aguda e persiste por 1 a 2 meses – sensibilidade 95 a 99% e especificidade 89 a 99% (teste ELISA); anticorpo contra antígeno precoce (anti-EA): pouco uso na infecção primária; Ag precoce restrito (EA-R): presente em linfoma de Burkitt, marca reativação em imunodeprimidos, surgimento tardio; Ag nuclear do VEB (EBNA): usado se a sorologia anti-VCA está indisponível, após 4 semanas. Os anti-EA e anti-EBNA são muito uteis em pacientes com infecção lítica ativa ou com câncer. - Demonstração do vírus: cultura (não é muito feita porque demora muito e para vírus é mais complicada); hibridização com sondas de ácido nucléico em material histológico: imunohistoquímica; PCR (reação em cadeia de polimerase – não é muito feita na prática). CUIDAR: a IgM não necessariamente indica doença aguda no caso dos herpes vírus e demora um mês a partir da exposição ao patógeno para dar positiva na sorologia. Assim se um paciente que você tem certeza que é mononucleose, mas o exame vem negativo, pedir para o paciente refazer daqui a duas semanas. Portanto, a resposta da prova é a anti-VCA para diagnóstico de mononucleose. O dx é praticamente feito pela tríade de febre, faringite e linfonodomegalia cervical, apoiada na presença de linfócitos atípicos. A comprovação etiológica é obtida pelo achado de anticorpos heterofilos, sendo apenas necessário o recurso ao estudo sorológico especifico nos casos duvidosos ou em que a reação de Paul-Bunnell é negativa. 9. Qual o tratamento? Não tem; é uma doença benigna cuja melhora acontece sozinha, com o tempo. Portanto, o tratamento é sintomático e analgésico, basicamente. Indicar o uso de antitérmicos (como paracetamol ou dipirona) e repouso de pelo menos uma semana. Evitar atividade física durante 4 a 6 semanas, dependendo do tamanho do baço. Indicar corticoide em casos mais graves, como anemia hemolítica, obstrução de VVAA, trombocitopenia para inibir a produção de anticorpos e diminuir essas manifestações. Aciclovir não é indicado nos casos típicos – tem eficácia em alguns casos de infecção crônica ou em pacientes imunossuprimidos, mas não em imunocompetentes, 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 25 pois o malefício que traz não supera o benefício. Como não existe muito a se fazer, o objetivo de dar o diagnóstico é mais para tranquilizar a família e o paciente, que às vezes está com febre por muito tempo e sofre com o mal estar. 10. Existe prevenção? Não tem como evitar a doença, pois não há vacina contra ela. Nem precisaria, já que é benigna. 90% das pessoas têm o vírus, o transmite muito fácil e de vez em quando o reativa. Utiliza-se precaução padrão usual – evitar contato com saliva. Tutorial (15/08): O paciente apresenta queixa principal de dor de garganta, basicamente. Isso nos leva a pensar em diagnósticos diferenciais, começando por faringite. As causas de faringite são: bactérias, vírus, fungos (raramente) e química (refluxo gastroesofágico é o tipo mais comum). Além da dor de garganta, o paciente tem febre, cefaleia holocraniana e mialgia há 4 dias. Existem duas maneiras de fazer o dx diferencial: (1) hipotético dedutivo – formar hipóteses e confronta-las com a realidade até que sejam comprovadas; e (2) heurístico – por intuição, quando você bate o olho no caso e já sabe o diagnóstico. Para começar o método hipotético dedutivo, você deve escolher um dos sintomas do paciente para pesquisar sobre – quanto menos possibilidades de diagnósticos um sintoma abrir, melhor ele é para a investigação. No caso, o melhor sintoma para hipótese diagnostica é a odinofagia (são poucas as doenças que fazem esse sintoma, enquanto que cefaleia, por exemplo, pode ser causado por várias situações). Uma vez escolhido o sintoma, abre-se o leque de possibilidades de etiologia e se confronta com os demais sintomas, tentando correlaciona-los. Com relação às bactérias, pensar em Streptococcus do grupo A, do grupo C, do grupo G e fusobactéria (mais incomum). Em se tratando dos vírus, pensar em adenovírus, Influenza, rinovírus, coronavírus, Cocksakie. O exame físico do nosso paciente mostra hipertrofia de amígdalas, presença de placas de pus e linfonodomegalia cervical posterior, além dos critérios de Centor serem favoráveis à etiologia bacteriana para esse paciente. Se formar 1 ponto nos critérios de Centor, não se usam antibióticos para tratamento, entre 2 e 3 pontos se faz um teste rápido para comprovação e 4 pontos se usam antibióticos. Atualmente pode ainda se calcular pontos pela idade: se tiver menos que 15 anos, soma-se 1 ponto e se tiver mais que 40 anos, diminui um ponto. Nosso paciente, então, pode estar com uma infecção bacteriana, ou melhor, uma faringite bacteriana, causada por S. pyogenes – o tto é feito com amoxicilina, ampicilina, cefalexina ou benzatina (penicilina – benzetacil). Toda medicação parenteral tem risco de reação anafilática, portanto não pode ser feita em farmácia, o que obriga o paciente a procurar um pronto socorro ou hospital, por isso é melhor prescrever medicamentos de via oral. O antibiótico é um tratamento paliativo, nesse caso, para impedir a disseminação para febre reumática, diminuir o estado transmissor e aliviar os sintomas (melhora de 1 a 2 dias de sintomas); não é efetivamente a cura. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 26 O paciente foi medicado com ampicilina e voltou com rash cutâneo, persistência da febre e hiperemia das tonsilas. Isso indica que a gente errou no diagnóstico. Para investigar melhor, alguns exames são indicados, como hemograma completo, swab de orofaringe, dosagem de proteína C reativa e de transaminases. No hemograma do paciente tem- se: 14.500 leucócitos – 75% de linfócitos normais e 20% de linfócitos atípicos e 90 mil plaquetas. O normal de leucócitos é de até 10 mil, sendo 5 mil para neutrófilos e 5 mil para linfócitos (50% cada). EBV é uma faringite que tem tudo para ser bacteriana, mas é mais arrastada, não melhora com atb, ou seja, é um quadro bacteriano típico causado por um vírus. Se a gente prescrever β- lactâmico, em 90% dos casos haverá reação exantemática, apesar de não ser patognomônico, pois a ampicilina pode fazer reação normalmente em 8% dos casos. Qualquer vírus pode fazer linfocitose, mas linfocitose atípica, pensar em EBV primariamente. O exantema pode surgir em 5-10% de quem faz uso de ampicilina, mas para quem tem mononucleose esse valor aumenta para 90-100% dos casos, portanto a ocorrência após o usode ampicilina aumenta a suspeita para mononucleose. O linfócito normal é monomorfonuclear e com cromatina bem densa, enrolada, pois não está produzindo proteínas – já o linfócito atípico apresenta núcleo aumentado e com cromatina menos densa, menos desenrolada. O linfócito atípico é um linfócito T ativado. O linfócito T ataca os linfócitos B que estão infectados. Então a presença de linfócitos atípicos aponta para mononucleose infecciosa. O que realmente fecha o quadro diagnóstico são os linfócitos atípicos no hemograma, o que não é um achado muito comum. Há um grupo de doenças que apresenta esse achado; são as chamadas monolike/monosimile/síndrome da mononucleose – paciente com linfonodomegalia, linfócitos atípicos e febre, sendo as causas Epstein Barr vírus, Citomegalovírus, Hepatite B, HIV, rubéola, toxoplasmose. Das causas da monosímile a que mais faz faringite é o Epstein Barr, assim pensaríamos direto nele. Os anticorpos estranhos que são encontrados na sorologia, como contra hemácias de carneiro e bois, indicam a produção desenfreada de anticorpos pelos linfócitos B que estão infectados, comprovando a doença. Com relação às complicações: tomar cuidado com obstrução da via aérea - a amigdala fica tão grande que o paciente não consegue mais respirar, precisando fazer traqueostomia; paciente pode ter esplenomegalia pelo acúmulo de células de defesa (pode ficar tão grande a ponto de se romper espontaneamente ou por trauma leve). Essas duas complicações são mais frequentes. O 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 27 aumento das tonsilas é tratado com prednisona (corticoide). A ruptura de baço pode ser prevenida pedindo que o paciente evite esportes de contato por 2 a 4 semanas ate que o baço se recupere – não tem muito como tratar. Outras complicações menos comuns são: desenvolvimento de doenças autoimunes (< 5% de ocorrência), como anemia hemolíticia, Guillain-Barré, plaquetopenia e meningite e doenças oncogênicas (< 1%), como câncer de nasofaringe, linfomas e síndrome de Duncan. Na sorologia, a IgM pode oscilar em concentrações (tem períodos de reativação) e IgG pode ficar presente pelo resto da vida. O anticorpo mais importante para dx da doença é o anti- VCA. Entretanto, o exame pode ser identificado como positivo só depois de 2 semanas, devido à produção de anticorpos ser mais lenta; portanto é indicado repetir o teste depois dessa tentativa. Esse comportamento de reativação da IgM é típico de herpes vírus – são vírus que fazem latência, o que faz com que o paciente tenha a doença vez ou outra, nunca se livrando do microrganismo. A reativação é assintomática – esse período é importante porque o vírus está ativo novamente e pode ser transmitido pela saliva. Nunca mais o paciente com EBV vai apresentar a doença com os mesmos sintomas. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 28 AULA 4 CONTROLES DE INFECÇÃO HOSPITALAR Esse assunto pode ser dividido em 3 pilares didaticamente: (1) prevenção das infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS), (2) isolamentos e precauções e (3) higiene das mãos. Os hospitais são ambientes de risco para um paciente; muita coisa pode acontecer durante a sua permanência no local. Portanto, todas as atividades desenvolvidas neles, principalmente as de alto risco, envolvem a atenção à saúde. Os hospitais têm alta periculosidade e alta taxa de óbito. (1) Prevenção de IRAS: atualmente o cenário em que nos encontramos dispõe de diversos avanços tecnológicos, os quais permitem uma maior capacidade de assistência à saúde a partir do uso de dispositivos invasivos, que, por sua vez, levam a um maior risco de infecções hospitalares. Para controlar essa disseminação infecciosa e evitar danos aos pacientes, criaram-se bundles, que são um pacote de intervenções baseado em evidências das melhores práticas. São boas práticas referentes à determinada patologia que individualmente resultam em melhoria da assistência, mas quando implementadas em conjunto, resultam em melhorias ainda mais substanciais. IPCSLCVC: infecção primária da corrente sanguínea laboratorial de cateter venoso central – ou seja, preciso do exame de hemocultura para fazer o diagnóstico. O CVC é um cateter inserido em um grande vaso – é, normalmente, passado pela subclávia ou pela jugular, chegando ao átrio direito do coração. É altamente invasivo e a chance de infecção cardíaca é muito perigosa – alta incidência de mortalidade (cerca de 50% dos casos evoluem para óbito). Entretanto, é uma infecção que pode ser totalmente prevenida, por isso é importante entender como evita-la. Esse tipo de cateter é indicado para administração de drogas vasoativas, processos de diálise, nutrição parenteral, para medir PVC e saturação venosa central. As infecções de corrente sanguínea associadas a CVC estão totalmente relacionadas aos cuidados de higiene: (a) cuidados de passagem de CVC: passar o cateter com técnica adequada, de maneira estéril, com higiene correto, uso de avental, dentre outras medidas; (b) cuidados na manipulação do CVC: toda vez que manuseá-lo é preciso higienizar as mãos e esterilizar o huber do cateter; (c) retirar o cateter quando não precisar estar mais no paciente: é importante avaliar a necessidade de o paciente manter o cateter diariamente, pois sua retirada pode evitar danos posteriores. Essas medidas só não são preventivas quando são realizadas em pacientes oncológicos que estão em quimioterapia, pois esta pode ocasionar mucosite, com perda da mucosa gastrintestinal. Isso leva à translocação bacteriana – as bactérias do TGI podem se deslocar à corrente sanguínea e se aderirem ao cateter. Assim, mesmo que as medidas de prevenção sejam tomadas, não serão eficazes nesse caso de infecção endógena. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 29 PAV: pneumonia associada à ventilação mecânica. É a mais importante infecção. O tubo de respiração aumenta os riscos de infecção, pois o paciente intubado perde a resposta de defesa mucociliar e o reflexo de tosse; sua fisiologia de defesa das vias aéreas superiores fica prejudicada e isso favorece a instalação de bactérias e sua migração até as vias inferiores. O tubo serve, também, como uma “ponte de migração” para as bactérias da cavidade oral e da orofaringe para os pulmões ou para o TGI. O ventilador fazendo a demanda de ar nos pulmões pode fazer injuria tecidual, processo chamado de barotrauma, o que facilita a adesão bacteriana nesse tecido. Um aspecto muito ruim quanto ao desenvolvimento de PAV é que o paciente precisa ficar mais tempo na ventilação mecânica, mais tempo na UTI, mais tempo na enfermaria do hospital após a alta da UTI e tudo isso aumenta a taxa de mortalidade! Outros fatores que podem propiciar a PAV são: as mãos do profissional da saúde que manipula o tubo e o ventilador mecânico (contaminação cruzada), sondas gástricas, a administração de antibióticos, uso de quimioterápicos e imunossupressores, secreção mucosa eliminada pelo tubo endotraqueal (pode formar biofilme), uso de sedativo (inibe a resposta imunológica) e cirurgias em si. O bundle da ventilação mecânica é: (a) elevar a cabeceira do leito do paciente entre 30 e 45 graus: melhora a mecânica ventilatória e diminui o acúmulo de secreção por ação da gravidade; (b) interrupção diária da sedação e avaliação das condições de extubação (retirada do tubo); (c) prevenção de úlcera péptica; (d) prevenção de TVP: prática indiretamente relacionada a infecções, (e) realização de higiene oral do paciente com clorexidine: auxiliana diminuição da carga bacteriana da cavidade oral e (f) aspiração subglótica contínua, se for possível e acessível ao centro de saúde. ITUSVD: infecção do trato urinário por sonda vesical de demora. Segue os mesmos riscos da intubação orotraqueal. O bundle envolve medidas como: (a) evitar instalação de sondas desnecessárias: é importante não manter o paciente com o risco que o dispositivo lhe traz. Considerar usar uropen quando possível em homens e cateterização intermitente; (b) inserir a sonda com técnica asséptica: tudo deve ser estéril para sua aplicação; (c) manter a sonda conforme recomendações de guidelines e (d) revisar diariamente a necessidade da sonda, removendo-a sempre que possível. Em relação a essas infecções o controle hospitalar envolve ações como: conhecer a realidade local, ter comunicação adequada entre os profissionais, ser visto como parceiro na prevenção, propor medidas viáveis, sensibilizar a equipe multiprofissional, ser parte da equipe (visitas a UTIs), analisar e desenvolver os dados, medir adesão em conjunto com a equipe e conhecer a rotatividade dos profissionais. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 30 (2) Isolamentos e precauções: o isolamento pode ser de contato ou respiratório. O respiratório, por sua vez, pode ser por aerossol (máscara n95 ou bico de pato) ou por gotícula (máscara cirúrgica). Isolamento de contato: realizar higienização das mãos com álcool 70% antes e após o contato com o paciente e nas proximidades do seu leito. É obrigatório o uso do avental de contágio – vestir para entrar no quarto e retira-lo antes de sair. Além disso, sempre que entrar no quarto, vestir luvas e retira-las antes de sair. Cuidado especial com o grupo ESKAPE (Enterococcus R Vanco; Staphylococcus MRSA; Klebsiella ESBL ou KPC; Acinetobacter R CBP; Pseudomonas R CBP e Enterobacter ESBL). Isolamento respiratório: Aerossol: tuberculose pulmonar* ou laríngea, sarampo, varicela, Herpes Zoster disseminado ou em imunossuprimido e situações específicas de H1N1. Realizar higienização das mãos com álcool 70% antes e após o contato com o paciente e nas proximidades do leito. O uso da máscara n95 é obrigatório antes de entrar no quarto do paciente; retira-la após sair do quarto. Proteção do profissional da saúde. Gotícula: caxumba*, coqueluche, influenza, meningite por Neisseria meningitidis e por Haemophilus influenzae. Realizar higienização das mãos com álcool 70% antes e após o contato com o paciente e nas proximidades do seu leito. O uso da máscara cirúrgica (simples) é obrigatório; coloca-la antes de entrar no quarto do paciente e retira-la após sair. Proteção do paciente. Todo mundo que entra no quarto do paciente em isolamento respiratório deve usar a máscara, mas o paciente só a usa para sair do quarto (e sempre usa a cirúrgica). (3) Higiene das mãos: a partir de 2002 houve uma mudança de paradigma que estabeleceu que o uso do álcool para higiene das mãos é superior à lavagem com sabonete. Entretanto, a lavagem não está eliminada, mas é pontual em algumas situações. As mãos são a principal via de transmissão de microrganismos durante a assistência prestada aos pacientes. Dados da OMS (organização mundial da saúde) mostram que, de maneira geral, os profissionais têm somente 38% de adesão ao higiene das mãos, ou seja, as pessoas não fazem. Quanto maior a demanda de serviços, menor é a adesão – o profissional não tem tempo de higienizar de maneira correta. É com o objetivo de interromper a cadeia de transmissão dos microrganismos no ambiente hospitalar que se higienizam as mãos. Levam-se cerca de 40 a 60 segundos para lavar as mãos da maneira correta, ou seja, dispende bastante tempo; esse é principal motivo de 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 31 os profissionais não lavarem as mãos frequentemente. Portanto, baseado nisso, introduziu-se o uso do álcool, que leva menos tempo para ser aplicado e é mais efetivo. O álcool elimina mais as bactérias, tem ação mais rápida e efetiva. Lavar a mão nos 40 segundos determinados é raridade; na prática o tempo que se leva para o profissional lavar a mão é menor que isso, o que torna a técnica ineficaz. Existe, ainda, a questão do ambiente: a higienização das mãos é importante à beira do leito, entretanto, o tempo que leva até você chegar ao leito após ter lavado as mãos é o suficiente para contaminar novamente. Desse modo, o ideal seria que cada leito tivesse uma pia ao lado. Já o álcool é mais acessível, pode ser usado na beira do leito. Os 5 momentos da higienização: Antes do contato com o paciente (no lugar da assistência); Antes de qualquer procedimento asséptico; Após risco de exposição a fluidos corporais – se você mexeu com alguma sonda ou curativo do paciente; Após o contato com o paciente; Após o contato com áreas próximas ao paciente. Vale muito para UTIs. É importante saber que o uso de luvas não substitui a higienização das mãos, pois a luva é porosa e pode permitir a passagem de microrganismos. As luvas podem prevenir a contaminação das mãos dos profissionais e evitar a transmissão de patógenos – deve- se calçá-las antes de qualquer procedimento, coloca-la sobre a manga do avental e descarta-la logo após seu uso no lixo de resíduos infectantes. A lavagem com agua e sabão ainda é recomendada para as situações em que as mãos estejam visivelmente sujas. A ideia do álcool é que seja mais usado após a remoção do material orgânico e da sujidade. O bundle de mudanças envolvem medidas tais como: (1) deixar álcool prontamente disponível no ponto de assistência e tratamento do paciente, (2) o requerimento de uma liderança adequada, com suporte administrativo e de recursos financeiros para priorizar a adesão à higienização das mãos em uma unidade de serviço de saúde, (3) a mudança de comportamento dos praticantes. A estratégia de implantação envolve um programa multidisciplinar para melhorar essa adesão dos profissionais da saúde às práticas recomendadas. Vigilância e medidas de controle de infecção: Enfatizar o rastreamento de pacientes colonizados – swab nasal e retal. Cuidar com a admissão de pacientes provenientes de outros serviços e com antecedentes de internação recente, em home care e em diálise. Monitorar as unidades críticas, como de terapia intensiva, hematologia, oncologia, transplantes. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 32 Cuidar com os casos de transmissão cruzada: transmissão de bactérias de uma pessoa para outra ou de pessoas para o ambiente hospitalar e do ambiente para as pessoas através do contato. Fazer o uso correto de luvas de procedimento e cirúrgica. Pensar sempre na precaução padrão, não deixar de lado a higiene das mãos, sempre usar equipamentos de proteção individual ao manipular secreções. Prestar atenção quando medidas de precaução de contato ou isolamento respiratório forem indicadas. Desprezar a máscara cirúrgica quando ela ficar umedecida e saber que é um objeto de uso individual. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES INFECTOLOGIA 33 AULA 5 SEPSE O termo “sepse” vem do grego “septikoks”, aquilo que causa putrefação. Até 2015 o conceito de sepse se referia a todo caso que tinha dois dos quatro sinais de SIRS (síndrome da resposta inflamatória sistêmica), causados por uma infecção: Febre ou hipotermia Taquicardia (FC > 90 bpm) Taquipneia (FR > 20 ipm) ou PaCO2 < 32 mmHg ou necessidade
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