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Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Filosofia e Ciências Humanas Escola de Serviço Social AUTORA: Bruna Stephem Da Motta ORIENTADORA: Gabriela M. Lema Icasuriaga Rio de Janeiro 2009 2 Bruna Stephem Da Motta Trabalho de conclusão de curso de Graduação, da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientadora: Prof. ª Dr. ª Gabriela M. Lema Icasuriaga Rio de Janeiro 2009 3 BANCA EXAMINADORA Prof. ª Dr. ª Gabriela Maria Lema Icasuriaga (ESS-UFRJ) Orientadora Presidente da Banca Profª Dr.ª Maristela Dal Moro (ESS-UFRJ) Profª Dr.º Luis Eduardo Acosta Acosta (ESS-UFRJ) Assistente Social Lucélia Ambrózio Irmão Marques (Fundação Bento Rubião e NIAC) Rio de Janeiro, _____ de agosto de 2009. 4 Aos meus pais, Valdir Motta e Fátima Regina, que me proporcionaram a oportunidade de ter chegado até aqui. Ao meu irmão, Thiago Motta pelo carinho. E ao meu amor Rodrigo Novaes pelo apoio e pelo amor demonstrado. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Deus, por cada instante ter me proporcionado coragem e determinação forças para realizar esse trabalho. Agradeço aos familiares que também acreditaram em mim, minha avó pelas orações, pela preocupação em sempre me amparar, muito obrigada! Agradeço à minha família pelo amor e apoio, já que têm sido meu alicerce de sustentação. O exemplo que me deram foi responsável pela concretização dessa conquista. À minha mãe agradeço pela dedicação e confiança que sempre depositou em mim. Sempre acreditou em mim e sabia que eu não a decepcionaria. Ao meu pai agradeço pelo exemplo de perseverança, de grande pai de família deixando que nunca nos faltasse nada, e de sua inabalável firmeza em todos os momentos. Foram imensos os gastos com transporte, alimentação, material escolar, escolas particulares – escolha mantida com muito custo, mas que acabou viabilizando-me ingressar em uma universidade pública. Após o ingresso na universidade os gastos foram ainda maiores. Me manter no Rio de Janeiro para que pudesse estudar exigiu muitos esforços, e por isso só tenho muito a agradecer. Obrigado mãe! Obrigado pai! Sem vocês dois, não sei se conseguiria chegar até onde cheguei. Não posso esquecer também de meu irmão Thiago, que quando iniciei a universidade e tive que morar longe, sentiu minha falta como ninguém. Meu irmão te agradeço, por ter sido sempre compreensivo em me ceder mais tempo no computador para terminar minha monografia. Saiba que você também foi muito importante na construção deste trabalho. Agradeço ao meu amor Rodrigo que, nesses últimos anos, esteve ao meu lado e nessa fase tão decisiva sempre respeitou meus momentos de estudo sem reclamar. Agradeço seu companheirismo, incentivos, por acreditar em mim, as soluções que arranjou 6 para os problemas com o meu computador – rsrsrs - pelo seu amor,...Obrigada por me dizer sou capaz de realizar meus sonhos e por fazer que todos os meus dias sejam repletos de felicidade. Te Amo!!! Aos amigos, agradeço a todos que participaram desta fase da minha vida, às companheiras de estágio que me ajudaram a compreender tudo que estava acontecendo naquele período de descobertas de nossa graduação. Agradeço, em especial, a Lud, Gabi e Pierre que me ajudaram durante o curso, nas disciplinas e nos trabalhos. Trabalhos estes que nem sempre foram tranqüilos por culpa do Pierre que sempre arranjava um jeito de fazer alguma coisa errada fazendo todos se desentenderem – rsrsrsrs. Mas como todo fim tudo acabava dando certo e unindo-nos cada vez mais. Lud e Gabi muito obrigada por me socorrerem nas horas de sufoco. Espero um dia poder retribuir. Abrigada mesmo Amigos! Não posso esquecer das amigas do tempo do colégio, agradeço a Juliana, minha fiel amiga, que está sempre disponível para me aconselhar. Obrigada também pelo auxílio nas correções de português, como é estudante de Letras da UFRJ, tenho certeza que fez uma ótima contribuição para o meu trabalho e que será uma excelente profissional. À minha supervisora de campo de estágio, Lucélia Ambrósio que sempre me permitiu vivenciar a prática profissional de forma reflexiva, depositando sua confiança no meu trabalho e além de ter me orientado com suas palavras de incentivo. À minha orientadora Gabriela Lema, apesar do contato apenas nas aulas de Orientação e Treinamento Profissional, acreditou em mim quando pedi para me orientar. Obrigada pela oportunidade de realizar esse estudo. Enfim, todos aqueles que, de alguma forma, me ajudaram, chegar até aqui e alcançar essa conquista que para mim é muito valiosa. 7 “O futuro tem muitos nomes. Para os fracos é o inalcançável. para os temerosos, o desconhecido. Para os valentes é a oportunidade.” (Vitor Hugo) 8 RESUMO Este trabalho propõe realizar um estudo histórico da inserção e formação profissional do serviço social, em atividades voltadas para o desenvolvimento de comunidade no Brasil, além de levar em consideração os movimentos de mudanças dentro da categoria profissional do Serviço Social. Pretende-se também neste trabalho realizar uma análise das reformas curriculares do curso de Serviço Social, mais precisamente na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Através desta analise, se problematizará a pertinência da disciplina Desenvolvimento de Comunidade no currículo atual ou a apresentação de uma nova proposta de associação entre teoria e prática no trato das intervenções em comunidade. Para o andamento deste trabalho, utilizaram-se alguns procedimentos metodológicos como: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental realizada no setor de Protocolo/Arquivo Morto, pesquisa na Sessão de Ensino da ESS/UFRJ e entrevista com professores e alunos da ESS/UFRJ . 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 11 CAPÍTULO I: ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADE E INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL. 13 1.1. A proposta do Desenvolvimento de Comunidade 13 1.2. O Desenvolvimento de Comunidade no Brasil 16 1.3. Inserção do Serviço Social. 20 1.4. Movimentos de Mudança no Serviço Social 25 CAPITULO II: DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADE E FORMAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL: AS REFORMAS CURRICULARES NA ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL DA UFRJ. 28 2.1. Mudanças Curriculares do Curso de Serviço Social na Escola de Serviço Social /UFRJ 28 2.2. Currículo implementado na ESS/UFRJ em 1970 31 2.3. Currículo implementado na ESS/UFRJ em 1983 34 2.4. Currículo implementado na ESS/UFRJ em 1994 39 2.5. Currículo implementado na ESS/UFRJ em 2001 42 2.6. Currículo implementado na ESS/UFRJ em 2008 46 CAPITULO III: PERTINÊNCIA DA DISCIPLINA DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADE NO ATUAL CURRÍCULO DA ESS/UFRJ. 49 3.1. Demarcação das Entrevistas 49 3.2. Colocações dos professores sobre a disciplina Desenvolvimento de Comunidade e a intervenção em comunidade.49 3.3. Colocações dos alunos sobre a intervenção em comunidade e a formação profissional. 54 3.4. Observações e análise sobre as entrevistas. 57 CONSIDERAÇÕES FINAIS 60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 63 Hemerografia 64 Entrevistas 65 10 ANEXOS 66 Anexo 1 66 Anexo 2 68 11 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo realizar uma análise acerca da formação do curso de Serviço Social da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro a respeito da intervenção em comunidade. Nesse sentido, o trabalho se concentrará em efetuar uma reflexão histórica sobre o Desenvolvimento de Comunidade e o Serviço Social, um levantamento das mudanças curriculares na ESS/UFRJ e analisar as entrevistas com professores e alunos desta unidade de ensino com o intuito de fomentar a discussão sobre a formação curricular correlacionada a intervenção em comunidade. Este trabalho originou-se de questionamentos pessoais e de discussões mantidas com companheiros do curso de Serviço Social desta unidade de ensino sobre a formação profissional e o vínculo teoria e prática nas intervenções em comunidades. Neste sentido, se coloca com particular pertinência a proposta de se realizar um estudo da formação profissional da ESS/UFRJ. A importância do estudo se apóia no fato de está pautada em depoimentos de alunos que estão inseridos em campos de estágio na área da intervenção em comunidade, onde estão vivenciando a prática e apontando suas dificuldades teórico-metodológicas e prático- interventivas. Assim, o Capítulo I deste trabalho - “Origem do Desenvolvimento de Comunidade e inserção do Serviço Social brasileiro” - busca, através de um resgate histórico, relatar no item 1.1 a origem das experiências de Desenvolvimento de Comunidade, o contexto histórico, as propostas e conceitos iniciais. O item 1.2 irá expor como se originou o Desenvolvimento de Comunidade no Brasil. No item 1.3 a inserção do Desenvolvimento de Comunidade no Serviço Social brasileiro e no item 1.4 os movimentos de mudança ocorridos na categoria profissional do Serviço Social. Para construção deste capítulo foi de 12 extrema relevância a abordagem de autores como Balbina Ottoni Vieira, Manuel Manrique Castro, Safira Bezerra Ammann e entre outros acerca do processo histórico que culminou na origem do Desenvolvimento de Comunidade. Ao tratar sobre a abordagem do processo de renovação do Serviço Social, utilizaram-se os estudiosos José Paulo Netto, Maria Ozanira da Silva e Silva e Rosa Lúcia Prédes Trindade. No Capítulo II - denominado “Desenvolvimento de Comunidade e Formação do Serviço Social: As Reformas Curriculares na Escola de Serviço Social da UFRJ.” - intenta- se, recuperar os currículos utilizados na ESS/UFRJ desde sua autonomia até os dias atuais apontando a inclusão e a exclusão das disciplinas relacionadas ao Desenvolvimento de Comunidade e a intervenção comunitária. Tal meta será alcançada através da obordagem metodológica fundamentada em pesquisa bibliográfica e pesquisa documental (realizada no setor de Protocolo/Arquivo Morto e na Sessão de Ensino da Escola de Serviço Social/UFRJ). O último capítulo, cujo título é “Pertinência da Disciplina Desenvolvimento de Comunidade no Atual Currículo da ESS/UFRJ”, fundamenta-se em reflexões críticas das entrevistas realizadas com os professores que ministraram a disciplina Desenvolvimento de Comunidade e com alunos da ESS/UFRJ que estão em processo de estágio em comunidades, expondo a perspectiva da formação profissional no âmbito da intervenção em comunidade. Logo, é nesta intenção que se desenvolve esse trabalho: abordar à formação curricular da ESS/UFRJ em relação a intervenção em comunidade associada a visão dos alunos inseridos em atividades de estagio voltadas para intervenção em comunidade. E a partir de então oferecer sugestões a ESS/ UFRJ para aperfeiçoar o processo de formação profissional dos futuros assistentes sociais. 13 CAPÍTULO I ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADE E INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL. 1.1 A proposta do Desenvolvimento de Comunidade. Para que seja possível entender as origens do Desenvolvimento de Comunidade, é importante ressaltar as transformações e as mediações de forças existentes no contexto histórico mundial. Surgiu após a II Guerra Mundial em um momento marcado pela disputa entre EUA e União Soviética, os quais almejavam o domínio da hegemonia política, econômica e militar no mundo, na chamada “guerra fria”. Nesse cenário de tensões políticas, econômicas e ideológicas, a Organização das Nações Unidas (ONU) emerge buscando estratégias para garantir a ordem mundial, levantando a bandeira da ideologia de um mundo democrático. Manifestou-se então, nos anos 50, uma das primeiras definições do Desenvolvimento de Comunidade, segundo a ONU (apud AMMANN, 1992, p. 32), trata-se de: Um processo através do qual os esforços do próprio povo se unem aos das autoridades governamentais, com o fim de melhorar as condições econômicas, sociais e culturais das comunidades, interagir essas comunidades na vida nacional e capacitá-las e contribuir plenamente para o progresso do país. A ONU e as agências internacionais, durante o período de 1956 a 1961, concentraram programas de Desenvolvimento de Comunidade na Ásia, Afeganistão e Filipinas. 14 O Desenvolvimento de Comunidade inicialmente era empregado pelos países colonizadores - como a Inglaterra – os quais possuíam a intensão de organizar as populações dominadas utilizando métodos de capacitação educacional e profissional, buscando a integração das colônias com o sistema capitalista, assegurando uma maior dominação das mesmas após sua independência. Nos EUA, eram aplicadas ações não muito diferentes, mas com destaque para o aparato técnico que tinha maior vinculação com o serviço social e utilizava como denominação para esse processo o termo “Organização de Comunidade”. Embora, quase não se conhecesse o termo “Organização de Comunidade” nos países europeus, o Desenvolvimento de Comunidade e a Organização de Comunidade compartilhavam de elementos comuns como métodos e técnicas que almejavam o mesmo objetivo de promover a melhoria de vida da comunidade, cujo a própria comunidade se torna agente de seu progresso. Contudo é imprescindível destacar que essas aproximações e comparações entre o Desenvolvimento de Comunidade e a Organização de Comunidade geraram muitos debates. (VIEIRA, 1981) A partir de então, o Desenvolvimento de Comunidade ganha força pela Europa e pelos EUA surgindo uma série de conceitos advindos de conferências e seminários. Sobre as atividades e intervenções nas colônias africanas, o Departamento Colonial do Governo Inglês organizou o seminário “Desenvolvimento da Iniciativa nas Sociedades Africanas”, que em seu relatório (apud VIEIRA, 1981, p.248) informou que: O Desenvolvimento de Comunidade se preocupa com a educação dos povos para que se tornem os agentes de seu próprio progresso; não é portanto, melhoria das condições de vida por uma ação direta externa que se almeja; não somos de opinião que melhores condições fazem melhores cidadãos; o que desejamos são melhores cidadãos promovendo melhores condições. 15 Para Baptista (1976), o Desenvolvimento de Comunidade deve provocar mudanças na estrutura dinâmica da comunidade para constituir-se como um: Processo interprofissional de mobilizaçãoe capacitação da comunidade para integrar-se no processo de desenvolvimento nacional participando consciente e organizadamente nos planos governamentais e de iniciativa privada com vistas mais particularmente ao aumento da produtividade, elevação dos níveis de vida da população e entendimento de suas aspirações. Em Osaka no Japão no ano de 1958, o Desenvolvimento de Comunidade foi definido pelo Grupo de Trabalho da Pré-Conferência da IX Conferência Internacional de Serviço Social1 como: Processo consciente pelo qual as pequenas comunidades geograficamente próximas se associam à comunidade mais desenvolvida e mais ampla (nacional e internacional) para elevar os padrões de vida econômica e social. Isto se consegue primordialmente, através da participação da comunidade local em todas as etapas da seleção de metas, da mobilização de recursos e da execução de projetos, habilitando assim estas comunidades a se tornarem cada vez mais autoconfiantes. (apud VIEIRA, 1981, p.250) O Desenvolvimento de Comunidade primeiramente foi aplicado em áreas rurais visando incitar a agricultura, introduzir novas culturas e instalar a industrialização de produtos agrícolas tendo a finalidade de buscar uma integração e dinamização da comunidade rural, no sentido de uma maior adaptação as exigências do sistema capitalista. Porém, o Desenvolvimento de Comunidade tem suas experiências em zonas urbanas, pois, na medida em que a cidade cresce, possui como objetivo organizar as zonas periféricas e de 1 A conferencia foi instituída em 1932 como entidade permanente destinada a proporcionar a todos os países um foro para debates sobre problemas de bem-estar social. Foi organizada pelo secretario da Liga da Cruz Vermelha, Dr. René Sand, a primeira conferencia foi realizada em Paris em 1928 e a segunda no Canadá em 1930. 16 favelas, buscando os trabalhos urbanísticos, a melhoria das condições de moradia e reinvidicações de serviços públicos. 1.2 O Desenvolvimento de Comunidade no Brasil. Os EUA aplicavam suas ações nos países latinos americanos, pois,de acordo com Ammann (1982, p.30), acreditavam que a “melhoria das condições sociais e econômicas em qualquer parte do mundo livre redundaria em benefícios dos EUA”. Sendo assim, os EUA investiam em seus vizinhos pobres em busca de fortalecer a ideologia capitalista no continente americano implantando, então, uma política de bloqueio à expansão comunista nesse período de Guerra Fria. Logo após a II Guerra Mundial, o Brasil e os EUA selaram um acordo de crescimento, que tinha como proposta promover a educação rural no Brasil e estabelecer um intercâmbio de educação, idéias e métodos entre os dois países. A partir desta aliança, o Brasil recebeu investimentos dos EUA para criação da Comissão Brasileiro-Americana de Educação das Populações Rurais (CBAR)2, além de bolsas de estudos para a especialização de brasileiros nos EUA. Dessa forma, os norte-americanos garantiam a inserção de seus interesses visando a reprodução de seu modelo de extensão agrícola em um país com grande potencial para o progresso econômico em áreas rurais. 2 A CBAR foi implantada em 1947e tinha por objetivo investigar e pesquisar as condições econômicas, sociais e culturais da vida rural brasileira; contribuir para o aperfeiçoamento dos padrões educativos, sanitários, assistenciais, cívicos e morais das populações do campo; preparar técnicas para atender às necessidades da educação de base. Sua vigência foi até 1948, porém muitas das atividades por ela inauguradas tiveram prosseguimento. 17 Após esta iniciativa, surgem várias estratégias para a divulgação do Desenvolvimento de Comunidade como o Seminário Interamericano de Educação de Adultos3, o Manual de Educação de Adultos, a Campanha Nacional de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA)4, a Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR)5 que são inspirados nas experiências norte-americanas. Decorrente das recomendações do Seminário Interamericano de Educação de Adultos, despontou, para o Ministério da Educação e Agricultura, a incumbência de organizar um ensaio de educação de base em área rural com base no método de organização de comunidade. Partindo desta incumbência, a experiência de Itaperuna (1950) foi o primeiro passo concreto do Brasil em Desenvolvimento de comunidade. Em crítica a Missão de Itaperuna Ammann (1992, p.45) coloca que a atuação da equipe técnica foi: Pautada em orientações da sociedade política e reproduzindo no coração do senso comum a ideologia das classes dominantes, promove a modernização do meio rural, sem questionar a estrutura agrária brasileira: camufla as relações de dominação vigentes no campo - e pretende que autoridades, fazendeiros, colonos e assalariados se sintam reunidos em igualdade de condições – e encontrem a solução para os problemas locais; diagnostica as condições sociais do município, tratando apenas do seu índice de socialização, dos recursos vinculados à instrução, ao lazer e à religião e da estabilidade do grupo familiar, sem estabelecer qualquer articulação com a problemática estrutural brasileira. (AMMANN, 1992, p.45) Sendo assim, vê-se que essa experiência tem suas deficiências, porque avaliou os problemas numa dimensão local, apontando soluções pontuais, sem questionar a 3 Seminário Interamericano de Educação de Adultos para o ano de 1949, realizado no Brasil sob o patrocínio da própria UNESCO e da Organização dos Estados Americanos (OEA), tendo reunido especialistas em educação de vários países que desenvolviam, à época, campanhas de educação de Adultos, como o México, Venezuela e Guatemala (Paiva, p. 222, 2003) 4 A CEAA funcionou durante o período de 1947 a 1963. 5 Segundo Ammann (1992) “a ABCAR tinha como objetivo assistência as famílias rurais, principalmente através de atividades do crédito supervisionado e de atividades de “extensão- educação”. Segundo Silva, M.L. (apud AMMANN, 1982, p35) no Brasil a extensão rural é conceituada como um processo de ação educacional que visa provocar mudanças no comportamento das pessoas em relação aos seus conhecimentos, atitudes, hábitos e habilidades”. 18 problemática nacional e fomentar uma discussão que oriente a comunidade na formação de uma opinião pública e na organização de uma representação política que assegure o preparo para luta da cidadania e dos direitos. A partir de então, foram surgindo caminhos para uma série de programas de Desenvolvimento de Comunidade, com destaque ainda em áreas rurais. Assim, pode-se observar a preocupação com a existência de um grande desequilíbrio no Brasil. O país passava por um período de expansão industrial e contava com o esforço de uma população que sofria com grandes dificuldades para se integrar a essa expansão. O contexto político nesse período foi muito importante na abertura dos caminhos para o Desenvolvimento de Comunidade. O Brasil era regido pelo Governo Juscelino Kubitschek (JK), que em seu “Plano de Metas” almejou a intenção de desenvolver o país cinqüenta anos em cinco anos. O objetivo do plano consistiu em investir em áreas que levassem o país ao crescimento econômico. Com isso, existiu uma política de incentivo ao desenvolvimento industrial, implantando fábricas de bens de consumo duráveis e a expansão agropecuária. Na perspectiva de progredir economicamente, a defesa de um sistema educacional forte também passou a ser foco da política de JK. O analfabetismo da população rural era considerado uma barreira para o desenvolvimento econômico. Issoporque, sem o acesso a educação, o analfabeto acabava por vegetar a margem da sociedade, uma vez que não tinha participação econômica no sistema, além de não possuir crédito. Tal fato justificou os seminários e programas com foco na educação para adultos em áreas rurais. No Governo Kubitschek a Campanha Nacional de Educação Rural (CNER), criada em 9 de maio de 1952 durante o período Vargas, foi definitivamente regulamentada e passava a dispor de verbas próprias, sustentadas pelos Decretos números 38.955 e 39.871 19 (AMMANN, 1992, p.48). Para Ammann (1992), a CNER ao invés de abordar a questão rural no contexto estrutural societário, a qual reside as verdadeiras raízes da problemática ela a deslocava para o nível dos indivíduos e da comunidade local. A autora ainda afirma que a CNER deixou: Propositadamente intocável o problema da exploração da força de trabalho agrícola, fato plenamente explicável, pois, na qualidade de instrumento do Estado, comprometido com a ideologia da classe fundamental dominante, cabe à CNER a tarefa de preservar as estruturas e favorecer a consolidação do capitalismo no Brasil, pela via da modernização do meio rural. (AMMANN, 1992, p.49). Apesar da CNER ter como base ideológica o Desenvolvimento de Comunidade, seus verdadeiros objetivos estavam voltados para a modernização do meio rural o que contribui para a expansão do sistema capitalista e para internacionalização econômica do Brasil a interesses dos países monopolistas. Isso faz com que, os projetos de Desenvolvimento de Comunidade fossem em grande parte financiados pelos norte- americanos. Na promessa de desenvolver a região Nordeste, que sofria com os problemas da seca das graves tensões sociais e políticas. O Governo JK criou, em 1959, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) que foi o primeiro programa de âmbito regional e tinha como meta promover e coordenar o crescimento da região Nordeste. Entre os reais motivos que levaram a criação da SUDENE, Ammann (1992, p.143), afirma que estes são: A emergência e a proliferação das Ligas Camponesas como veículo de mobilização e da ação política da classe trabalhadora rural – em uma área marcada pelo problema das secas, pelos altos índices de desemprego e concentração da renda, bem como por tão elevada densidade demográfica – são encaradas como uma ameaça para os grupos no poder em escala nacional e internacional, que temem a irrupção de uma nova Cuba na América Latina. 20 Desse modo, percebe-se que uma das grandes funções da SUDENE seria deter a proliferação das Ligas Camponesas6 evitando o enfrentamento da oligarquia rural, camuflando as questões referentes ao problema rural e favorecendo a expansão do capital monopolista7 advindo das regiões desenvolvidas. 1.3 Inserção do Serviço Social. Em consonância com o período de definição do desenvolvimento de comunidade, iniciaram-se as vinculações com o Serviço Social. Segundo Castro (1986): Os assistentes sociais foram integrados aos planos de desenvolvimento comunitário, já que se considerava que neste campo a sua intervenção seria de grande valia – quer porque mostrassem múltiplas aptidões coincidentes com programas, quer porque na sua formação profissional prévia estavam contemplados conhecimentos acerca de trabalho com grupos e, em muitos casos, acerca da administração de serviços comunitários. (CASTRO, 1986, p.150-151) Desta maneira, a inserção dos assistentes sociais em programas de Desenvolvimento de Comunidade aconteceu devido ao histórico e ao conhecimento da profissão em relação a trabalho com grupos e acerca de administração de serviços comunitários. A experiência de contato com comunidades e populações foi considerada como fator relevante para a vinculação aos programas de Desenvolvimento de Comunidade. A conexão dos assistentes sociais com o Desenvolvimento de Comunidade abriu expectativas para o campo de atuação profissional. O caráter assistencialista da profissão 6 As Ligas Camponesas foram associações de trabalhadores rurais criadas inicialmente no estado de Pernambuco, posteriormente na Paraíba, no Rio de Janeiro mais precisamente em Campos dos Goytacases e em outras regiões do Brasil. Em poucos anos, as Ligas Camponesas passaram a atuar em mais de 30 municípios. Foram lideradas por Francisco Julião, deputado do Partido Socialista Brasileiro (PSB) com apoio do Partido Comunista (PC) e de setores da Igreja Católica. Reuniram milhares de trabalhadores rurais na defesa dos direitos do homem do campo e da reforma agrária, sempre enfrentando a repressão policial e a reação de usineiros e latifundiários. 7 O capitalismo monopolista eleva o sistema de contradições da ordem burguesa nos seus traços de exploração, alienação e transitoriedade histórica, segundo a crítica marxista. (NETTO, 1992). 21 perdeu fôlego e a possibilidade de registrar esforços em prol da superação dos problemas de origem estrutural ganhou espaço. Os assistentes sociais tentaram adequar sua prática a sua formulação idealista, entretanto a dinâmica de trabalho era baseada em normas de funcionamento que impediam a concretização de seus ideais. No Brasil o estudo do Desenvolvimento de Comunidade foi introduzido nas disciplinas do Curso de Serviço Social após o fim da segunda Guerra Mundial. O Regresso dos Assistentes Sociais enviados aos EUA após os acordos assinados entre Brasil e EUA contribuiu para desenvolver essa iniciativa (VIEIRA, 1981). O Serviço Social esteve historicamente ligado aos Seminários e Congressos de âmbito internacional, que consecutivamente desencadearam influências no progresso da profissão. De acordo com Castro (1986), os Seminários Regionais realizados pela Organização dos Estados Americanos (OEA) (1950 e 1951), e os Congressos Pan- Americanos (1945) impulsionaram o reordenamento do Serviço Social na direção do Desenvolvimento de Comunidade. Em Seminários Regionais de Assuntos Sociais, foi concluído: Que o Serviço Social deveria cumprir no futuro uma importante função no desenvolvimento de programas vinculados a [...] cooperativismo, educação operária, habitação e planejamento, inserindo-os na ótica da Organização e do Desenvolvimento de Comunidade. (CASTRO, 1986, p.161) A OEA influenciava na formação profissional e na prática do Serviço Social nos países da América latina, viabilizando a ideologia da proposta norte-americana do Desenvolvimento de Comunidade. Sobre os interesses norte-americanos, Castro (1986) corroba que: Tudo isto deve ser visualizado como integrante da ampla estratégia com o qual os países desenvolvidos – e especialmente os Estados Unidos – procuravam criar as condições (políticas, administrativas e culturais) mas propícias para integrar e dinamizar o desenvolvimento do capitalismo. (CASTRO, 1986,p. 134-135) 22 Por influência norte-americana o Serviço Social brasileiro utilizava como método “Organização de Comunidade”, todavia, devido à repercussão dos seminários e conferências internacionais que utilizavam o método do “Desenvolvimento de Comunidade”, despontou nas escolas de Serviço Social do Brasil a iniciativa de estudar a diferença entre o “Desenvolvimento de Comunidade” e “Organização de Comunidade”. Em 1960, muitas escolas consideraram oportuna a unificação de ambos os conceitos. A partir de então, adotou-se o nome “Desenvolvimento e Organização de Comunidade” (DOC) (VIEIRA, 1981). Em 1964, instaurou-se no Brasil a ditadura militar, que buscava eliminar os movimentos sociais que lutavam por reformas de base, particularmente, os setores de esquerda, garantindo com essa eliminação a permanência do Brasil na áreade influência dos EUA. O regime militar afetou profundamente a vida da população, dos movimentos sociais, das Ligas Camponesas e das experiências de desenvolvimento de comunidade, porque todos foram desmobilizados ou paralisados. Originou então, uma nova correlação de forças neste período, instaurada pela classe dominante. Logo, os movimentos sociais, os programas e projetos passaram a obedecer às novas regras, uma vez que os movimentos sociais representavam uma ameaça para o sistema capitalista. Os programas e projetos de desenvolvimento de comunidade apesar das dificuldades instauradas durante o período populista8 encontrava espaço para integrar as classes subalternas as lutas de classe devido as conquistas da classe trabalhadora. 8 O Governo Vargas buscava a extinção dos partidos políticos e investia em uma série de medidas para reprimir as oposições e controlar a opinião pública8. Essa política buscava anular as influências da esquerda, 23 No contexto do golpe militar de 1964, vários assistentes sociais que atuavam em programas e projetos de Desenvolvimento de Comunidade são demitidos ou tem suas atividades controladas. Os Movimentos de Educação de Base (MEB)9, tiveram seus objetivos redefinidos e seu assessoramento aos sindicatos rurais e suas atividades políticas controladas. Com isso o MEB assumiu um caráter de movimento evangelizador com propósito de alfabetização e catequese. Após essa redefinição das metas, o MEB é deslocado para o Norte do país. Essa estratégia visava retomar as condições iniciais do movimento, visto que na região Norte nem os profissionais nem a população tiveram contato com o MEB que desenvolvia seu caráter político. Essa estratégia do regime militar demonstra com clareza a finalidade de eliminar os movimentos sociais e implantar a dominação das classes dirigentes. Nesse período, o Desenvolvimento de Comunidade é adotado com grande freqüência, tanto no âmbito regional quanto no âmbito nacional, mas sempre com suas atividades controladas. O Projeto Rondon - criado a partir de uma experiência piloto informal em 1967, sendo formalizado a partir de janeiro de 1968 o Projeto Rondon/1 (PR/1) - de âmbito nacional ganha destaque. Devido à proporção atingida, o projeto passa a exigir cada vez mais estrutura como uma coordenação geral (âmbito nacional) e desejando transformar o operariado num setor sob seu controle para ser usado na disputa política. Apesar da repressão, conquistou o apoio das massas populares garantindo: a estabilidade do emprego depois de dez anos de serviço; o descanso semanal; a regulamentação do trabalho de menores; da mulher e do trabalho noturno; a criação da Previdência Social; a instituição da carteira profissional para maiores de 16 anos que exercessem um emprego e a jornada de trabalho que foi fixada em 8 horas de trabalho. Essa política buscava anular as influências da esquerda, desejando transformar o operariado num setor sob seu controle para ser usado na disputa política. 9 Os Movimento de Educação de Base (MEB) tinham como objetivos: a alfabetização de base das populações rurais e despertar com métodos do desenvolvimento de comunidade,a iniciativa de organização e a preparação para receber a modernização do meio rural. Segundo Ammann (1992), “à medida que evolui e se aprofunda seu contato com a problemática dos trabalhadores rurais, à medida ainda, que se vai maturando o sentimento” nacional-popular “[...], os princípios e objetivos do MEB se vão tornando menos religiosos e mais políticos, menos comprometidos com a hierarquia católica e mais engajados às reinvidicações e ações da classe trabalhadora. 24 coordenações regionais. Sendo assim, em 06 de novembro de 1970, pelo Decreto 67.505/70, o "Projeto Rondon" é transformado em "Órgão da Administração Direta", subordinado ao Ministério do Interior. Segundo Ammann (1992), o objetivo do Projeto Rondon consistia em: Proporcionar a compreensão pela juventude, da realidade nacional em toda a sua problemática e complexidade, a fim de conscientizar as futuras lideranças, criando uma mentalidade nacional de participação comunitária favorável às mudanças necessárias. (AMMANN, 1992, p.119) Nas ações realizadas pelo Projeto Rondon, as equipes de professores e universitários aproximavam-se de pequenas localidades no interior e identificavam seus problemas locais e tentavam solucioná-los. Dessa forma apresentava a mesma característica de muitos outros projetos de desenvolvimento de comunidade, realizando apenas ações locais e deixando inalteradas as estruturas básicas condicionantes da problemática global da exploração das classes subalternas interioranas. (AMMANN, 1992) O Projeto Rondon pode ser considerado uma tentativa do governo militar de tentar integrar a juventude e os profissionais, no caso os assistentes sociais, que lutavam pelas reformas estruturais, a participarem dos projetos de desenvolvimento que visavam manter a mesma estrutura e crescer em prol da sociedade capitalista. Ao inserir-se em programas e projetos de Desenvolvimento de Comunidade, o Serviço Social sofreu mudanças no eixo da intervenção profissional: a atuação era uma prática voltada para atendimentos individuais e grupais objetivando o tripé: ordem, moral e higiene. Quando a profissão foi engajada ao Desenvolvimento de Comunidade, ganhou-se uma modalidade de atuação mais abrangente. (TRINDADE, 2002) Os processos educativos até então assumidos pelos assistentes sociais atingem indivíduos e pequenos grupos; com o desenvolvimento de comunidade os profissionais se engajam num trabalho voltado a parcelas mais abrangentes da 25 população. Isso traz algumas inovações aos procedimentos interventivos do Serviço Social. (TRINDADE, 2002, p.31) Em 1967, é realizado o seminário de Araxá, que contou com a participação de 38 assistentes sociais de vários Estados e, em 1970, o Seminário de Teresópolis, que contou com a participação de 35 assistentes sociais de vários Estados, ambos realizados pelo Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais – CBCISS. Do Seminário de Araxá, derivou o Documento de Araxá que apresentou uma síntese do Serviço Social, no momento, e a necessidade de uma revisão teórica e metodológica da prática dos Assistentes Sociais. Segundo Aguiar (1989): O Documento, quando analisa a questão do Desenvolvimento de Comunidade, colocam quais seriam as funções do Serviço Social nesse processo, afirmando no § 95: “As funções do Serviço Social em DC são principalmente orientadas para deflagração dos processos de conscientização, motivação e engajamento de lideranças individuais, de grupos, e instituições no sentido do desenvolvimento”.(AGUIAR, 1989, p. 133) 1.4 Movimentos de Mudança no Serviço Social. Embora já houvesse uma tendência de renovação da profissão e questionamento do seu conservadorismo desde os anos 50 até os anos 70, o projeto profissional hegemônico do Serviço Social continuava sendo de cunho conservador tradicionalista. A partir de então, os movimentos de mudança no Serviço Social começam a ganhar fôlego, mais precisamente com a Reconceituação do Serviço Social e com a Intenção de Ruptura. O movimento de Reconceituação caracteriza-se em seus primeiros momentos pelo distanciamento da profissão com a Igreja Católica, pois havia a necessidade de ruptura com o caráter conservador da profissão e a construção de uma nova proposta para a mesma. A Reconceituação constituí-se de três vertentes que objetivavam mudaras bases do Serviço 26 Social: 1) a Perspectiva Modernizadora que buscava resgatar os vieses do desenvolvimento enfatizando uma operativa embasada nas Ciências Sociais de lastro neopositivista.; 2) Reatualização do Conservadorismo que recusa a modernização em função do seu valor neopositivista, é inspirada na fenomenologia, mas originalmente travada por valores católicos convencionais, esta corrente buscava resgatar traços inteiramente tradicionais da profissão. 3) Intenção de Ruptura busca uma ruptura com a herança conservadora - teórico- ideológica e prático-profissional do Serviço Social.(SILVA E SILVA, 2006) Segundo Silva e Silva (2006), as duas primeiras vertentes não diferiam muito do que se propunha a profissão originalmente, elas foram maneiras de prosseguir com o que estava posto. A autora ainda destaca que a única perspectiva que realmente pretende algo novo no fazer e no pensar profissional é a vertente da Intenção de Ruptura. A construção da perspectiva da Intenção de Ruptura originou-se através do trabalho de um grupo de profissionais, que ganhou hegemonia na Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Minas Gerais, e derivou o Método BH. O Método BH foi a primeira formulação brasileira da Intenção de Ruptura, que reunia critérios teóricos, metodológicos e interventivos articulando a profissão de forma orgânica com os interesses das classes exploradas e subalternas. Segundo Netto, “eles elaboraram uma crítica teórico-prática ao tradicionalismo profissional e propõem [...] uma alternativa que procura romper com o tradicionalismo no plano teórico – metodológico, no plano da concepção e da intervenção profissionais e no plano da formação.” (NETTO, 1994, p.262-263). Contudo, esse processo foi interrompido por uma crise em 1975. Tal fato direcionou os esforços para elaboração da intenção de ruptura a ser visto de modo “marginal ao 27 desenvolvimento do Serviço Social no Brasil” (NETTO, 1994, p. 263). Apenas no final dos anos 70 e inicio dos anos 80, esta recupera-se e emerge em Belo Horizonte. A intenção de ruptura emerge no âmbito universitário por meio do acúmulo e direcionamento de forças para a produção teórica, norteando a profissão a sua maturidade teórica. Após esse período em que a intenção de ruptura se consolidou academicamente, iniciou então um terceiro momento “que ainda vivemos”, no qual a intenção de ruptura “se espraia para o conjunto da categoria profissional” (NETTO, 1994, p. 266). Segundo Trindade (2002) o Serviço Social se laiciza e se moderniza assumindo atividades de planejamento, avaliação de programas, coordenação e acompanhamento. Assim novos instrumentos de intervenção passam a fazer parte do cotidiano profissional, exigindo o domínio de um arsenal técnico mais sofisticado. A autora ainda complementa que: Apesar das transformações ocorridas a renovação profissional do serviço social estava sintonizada às exigências e demandas postas pelas propostas e praticas “desenvolvimentistas” dos vários governos ditatoriais. A principio, os profissionais “modernizadores” propõem superar as limitações da prática profissional consolidada ao longo das décadas de 30 a 60; no entanto, o máximo que conseguem é imprimir aos tradicionais métodos de Caso, Grupo e Comunidade um revestimento teórico-técnico mais sofisticado. (TRINDADE, 2002, p.33) 28 CAPÍTULO II DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADE E FORMAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL: AS REFORMAS CURRICULARES NA ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL DA UFRJ 2.1. Desenvolvimento e Organização de Comunidade e o histórico curricular do Curso de Serviço Social na Escola de Serviço Social /UFRJ. O curso de Serviço Social foi criado no Rio de Janeiro de 1936 vinculado à Escola de Enfermagem Ana Néri que, naquele instante estava recém integrada à Universidade do Brasil. Naquela época, prevalecia a idéia de que o Serviço Social tinha muito em comum com a enfermagem. De acordo com Pougy, a Escola Ana Néri passou a reunir duas frentes de ensino: Enfermagem e Serviço Social, cujo “ambos os cursos tinham um estudo básico comum” (POUGY, 1993, p. 62). A organização das disciplinas oferecidas à primeira turma do curso de Serviço Social vinculado à Escola Ana Néri, obedeceu a seguinte estrutura: QUADRO 1 Disciplinas da primeira turma do Curso de Serviço Social de 1937-Escola Ana Néri 1º Ano 2º Ano 3º Ano Anatomia e Filosofia Alimentação ou Nutrição Estágios em diferentes Instituições e Obras Sociais Higiene Anatomia e Filosofia Trabalhos Práticos Higiene Mental Direito 29 Essas disciplinas retratavam bem o ensino que era aplicado, com destaque para a grande influência da Igreja Católica na formação do Assistente social. A formação deveria levar em conta vários aspectos que se faziam presente na vida do homem tais como a vida mental, física, moral10, econômica e jurídico-social. Em 1947, registrou-se a inclusão de disciplinas mais próximas da natureza temática do Serviço Social: • Introdução ao Serviço Social; • Social, Técnicas e Estágios; • Administração em Serviço Social; • Tratamentos Individuais de Casos; 10 A formação pessoal deveria dar ao Assistente Social uma formação moral muito sólida. Microbiologia Ética Patologia Geral Fisiologia Problemas da Maternidade Microbiologia Primeiros Socorros Oftalmologia Serviço Social Otorrinolaringologia Sociologia Primeiros Socorros Técnica de Enfermagem Patologia Técnica de Serviço Social Puericultura Serviço Social Sociologia Técnica de Enfermagem Biblioteconomia Demografia e Estatística Direito Civil e Constitucional Direito Comercial e Penal Direito de Menores Legislação Social Economia Política Psicologia Pedagogia FONTE: Silvia Regina Romano Arienti. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Educação/UFRJ. Ago. 1989. 30 • Serviço Social de Grupo; • Serviço Social de Comunidade. O ensino do Serviço Social foi regulamentado pela Lei nº 1.889, de 11 de junho de 1953, onde é mencionada a inclusão de varias disciplina no curso. QUADRO 2 Disciplinas que compunham o currículo do curso de Serviço Social de acordo com a Lei de Regulamentação do Ensino de Serviço Social de 1953 1. Sociologia 2. Higiene Mental 3. Psicologia 4. Pesquisa Social 5. Estatística 6. Economia Social 7. Ética Geral 8. Política Social 9. Direito Civil 10. Serviço Social do Trabalho 11. Direito Constitucional 12. Técnicas Auxiliares 13. Higiene 14. Moral Profissional 15. Medicina e Saúde no Trabalho 16. Serviço Social da Família 17. Atividades de Grupo 18. Puericultura 19. Introdução ao Serviço Social 20. Economia Domestica 21. Círculos de Estudos 22. Administração de Obras 23. Legislação Social 24. Aspectos PsicoPedagógicos do Comportamento do Menor 25. Serviço Social do Menor 26. Trabalho de Conclusão do Curso 27. Supervisão de Pesquisa O primeiro currículo mínimo surgiu após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961. Em 1962, o Conselho Federal de Educação (CFE) aprovou o currículo 31 mínimo do Serviço social através do parecer CFE 286/62 de 19 de outubro de 1962 e portaria do MEC de 04 de dezembro de 1962 (ARIENTI, 1989, p. 56). A portaria Ministerial 519 de 14/06/65 estabeleceu que o curso de Serviço Social passaria a ter duração em horas-aula de 3 para 4 anos de duração11 a partir de 1966. Por meio do Decreto nº 60.455 de 13 de março de 1967, o curso de Serviço Social ganha autonomia, originandoa Escola de Serviço Social da UFRJ – ESS/UFRJ. Esta, nos primeiros anos, aderiu ao currículo que foi aprovado em 1967. No ano de 1968, aconteceram novas alterações nesse currículo, sendo acrescentadas as seguintes matérias: • Política e Desenvolvimento; • Aspectos Médico-Social; Filosofia; • Antropologia; • Problemas Sociais; • Administração; • Psicologia Social. 2.2. Currículo implantado na ESS/UFRJ em 1970. Em 1970, a ESS/UFRJ implementou um novo currículo, que foi resultado da implementação da Reforma Universitária12. Esse currículo foi muito discutido, já que a Reforma Universitária abrangia todo o Brasil, ou seja, surgiram perspectivas advindas de 11 A partir de 1969, a Escola passou a ser organizada em Departamentos: I– Fundamentos do Serviço Social; II – Métodos e Técnicas de Serviço Social; III – Política Social e Serviço Social Aplicado. 12 O objetivo do governo militar, ao consolidar as propostas da lei nº 5.540/68, era desenvolver um modelo amplamente difundido na Europa e em universidades dos Estados Unidos (como Harvard e Yale): o humboldtiano, entendendo que o ensino deveria vir acompanhado da pesquisa de forma a sistematizar a produção de novos conhecimentos por meio da investigação. 32 todas as partes do país. Representantes do Nordeste defendiam que fossem mantidas as disciplinas Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo e Serviço Social de Comunidade. Nesse o período o Movimento de Reconceituação do Serviço Social estava em andamento, mas as alterações no currículo de 1970 sofreram maior influência do MEC que do Movimento. O currículo dividiu-se entre disciplinas do primeiro ciclo - que eram integrantes do currículo unificado ao Centro de Filosofia e Ciências Humanas - e disciplinas do ciclo profissional - Política Social, ética Profissional, Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo e Serviço Social de Comunidade - que foram fixadas pelo CFE no Parecer 242/70. As demais correspondem as matérias adicionadas pela ESS/UFRJ. QUADRO 3 Currículo de 1970 da Escola de Serviço Social/ UFRJ Primeiro Ciclo Ciclo Profissional Iniciação Universitária I Serviço Social de Caso I Política Social e Serviço Social Iniciação Universitária II Serviço Social de Caso II Síntese em Serviço Social Filosofia I Serviço Social de Grupo I Ética Profissional Filosofia II Serviço Social de Grupo II Métodos de Pesquisa Sociologia I Serviço Social de Comunidade I Pesquisa em Serviço Social Sociologia II Serviço Social de Comunidade II Recursos Sociais Econômicos da Comunidade Psicologia I Estágio de Serviço Social I Direito I- Constitucional Psicologia II Estágio de Serviço Social II Direito II -Civil Antropologia Cultural Estágio de serviço Social III Direito III- Trabalho e Previdência Estudo dos Problemas Brasileiros I Estagio de Serviço Social IV Direito IV- Penal e do Menor Economia Estágio de Serviço Social V Estatística I 33 Teoria do Serviço Social I Estágio de Serviço Social VI Estatística II Teoria do Serviço Social II Serviço Social Aplicado I Família Ética Geral Serviço Social Aplicado II Menor Psicologia Social SS Serviço Social Aplicado III Saúde Sociologia do Desenvolvimento SS Serviço Social Aplicado IV Trabalho Introdução à Ciência Política Administração em Serviço Social I Estudo de Problemas Brasileiros II Administração em Serviço Social II QUADRO 4 Disciplinas Eletivas do Currículo de 1970 da ESS/UFRJ Eletivas do Primeiro Ciclo Eletivas do Ciclo Profissional História Econômico-Social do Brasil Serviço Social Aplicado IV Meios de Comunicação Serviço Social e Instituições de bem- Estar Dinâmica de Grupo Serviço Social e Patologia Social Demografia Serviço Social e Educação de Base Canto Orfeônico e/ ou outras que viessem a ser aprovadas segundo regulamentação própria. Medicina Social Psicopatologia Sociologia do Desenvolvimento Organização Racional do Trabalho Direito do Menor e Projetos de Serviço Social A política desenvolvimentista instituída no Brasil por Juscelino Kubitschek e posteriormente pela Ditadura Militar influenciava os programas sociais e o estabelecimento dos programas que fomentavam o Desenvolvimento de Comunidade. O governo neste período mantinha a preocupação em preparar os assistentes sociais para a implementação dos programas sociais do governo (ARIENTI, 1989). Em vista disso, no currículo 34 implementado pela ESS/UFRJ em 1970 (Quadro 3) nota-se a presença das disciplinas Serviço Social de Comunidade I, Serviço Social de Comunidade II e Recursos Sociais Econômicos da Comunidade. Em tais disciplinas, era acentuada a preocupação em capacitar o Assistente Social para eliminar o mau funcionamento social das comunidades, fundamentando a prática do Serviço Social com base funcionalista/positivista. Sendo assim, os currículos da década de 1970 (não apenas o da ESS/UFRJ, mas também de outros cursos de Serviço Social) apenas incitaram a formação técnica e o distanciamento dos Assistentes Sociais do campo político. Até então, a ESS/UFRJ tinha caráter homogêneo, o corpo docente ainda estava vinculado a formação profissional do Serviço Social Tradicional. A partir de 1975, a abertura de concurso público para novos docentes e a chegada dos novos docentes de formação variada com diferentes ideologias e com novas propostas fazem com que a ESS/UFRJ perca sua homogeneidade, emergindo novas tensões e disputas por hegemonia na condução e direção do curso. 2.3. Currículo implantado na ESS/UFRJ em 1983. A ESS/UFRJ implementou um novo currículo, em 1983, que sofreu grande influência das mudanças que estavam acontecendo na sociedade brasileira, assim como das ocorridas no Serviço Social através dos movimentos de mudança da categoria. O novo currículo foi sugerido pela Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social (ABESS), que questionava sobre o currículo vigente na ESS/UFRJ. O atual currículo adotou nitidamente uma linha de transformação social sob influência do ingresso de Cientistas 35 Políticos e Assistentes Sociais de orientação Marxista que entraram para o quadro de docente. QUADRO 5 Currículo de 1983 adotado pela ESS/UFRJ 1º PERÍODO 2º PERÍODO 3º PERÍODO 4º PERÍODO Antropologia Cultural Sociologia I Estrutura de Classes e Estratificação Social Pratica do Serviço Social II Sociologia Geral Filosofia II Ideologia e Instituições Metodologia Reconceituada SS Filosofia I Ética Geral Introdução a Ciência Política (SS) Desenvolvimento da Comunidade Form Soc Econ e Polit: Brasil Economia Direito e Legislação Social Política Social I Psicologia I CB Psicologia Social SS Ética Profissional em Serviço Social Administração em Serviço Social I Metodologia do Trabalho Cientifico Historia do Serviço Social Pratica do Serviço Social I Atividades Acadêmicas Optativas Teoria do Serviço Social I Teoria do Serviço Social II Metodologia Clássica do SS 5º PERÍODO 6º PERÍODO 7º PERÍODO 8º PERÍODO Métodos Quant Aplic ao SS Política Social e Marginalidade Seminário de Trabalho de Conclusão de Curso I Teoria do Serviço Social III Pesquisa em Serviço Social Metodologia Aplicada II Metodologia Aplicada III Seminário de Trabalho de Conclusão de Curso II Movimentos Sociais, Cidadania e Serviço Social Estagio em Serviço Social II Estagio em Serviço Social III Metodologia Aplicada IVAdministração em Serviço Social II Atividades Acadêmicas de Livre Escolha Atividades Acadêmicas Optativas Trabalho de Conclusão de Curso Planejamento e Proj Sociais Atividades Acadêmicas Optativas Estagio em Serviço Social IV Política Social II Atividades Acadêmicas Optativas Metodologia Aplicada I Estagio em Serviço Social I 36 O currículo de 1983 foi marcado pela perspectiva de uma formação profissional com maior presença de traços políticos e vinculação aos movimentos populares. O mesmo evidencia uma base filosófica marxista, que pode ser percebida no Manual de Estudante de 1993, que propõe no seguinte trecho que: “ o Assistente Social problematize a realidade social e busque sua transformação num esforço conjunto com setores populares” (apud ARIENTI, 1989, p.145). Realizando uma comparação entre o currículo de 1970 e de 1983, foi possível constatar que houve uma grande reestruturação no curso e no currículo. O curso passou a ser dividido em períodos e não mais em ciclos. As disciplinas introdutórias que no currículo de 1970 localizavam-se no primeiro ciclo sofreram algumas alterações. As disciplinas Disciplinas Eletivas Educação Física Desportiva I Práticas Educativas e Serv Soc Educação Física Desportiva II Tópicos Esp na Metodol do SS Fundamentos do Serv Social D Serv Soc e Pesq Participante Fundamentos do Serv Social E Tendência Funcionalista no SS Serv Soc e Proc de Comunicação Tendência Fenomenológica no SS Métodos Qualit Aplic ao SS Teoria Psicanalítica e SS Top Esp de Pesq em Fund do SS Serv Soc e Dinâmica de Grupo Filosofia e Serviço Social Projetos de Serviço Social Fundamentos do Serv Social A Política Social A Fundamentos do Serv Social B Política Social da Família Filosofia do Serviço Social B Política Social da Saúde Fundamentos do Serv Social C Política Social do Trabalho Tendência Histor-Estrut no SS Pol Soc da Ocupação Esp Urbano Top Esp em Mov Sociais e SS Política Social da Educação Práticas Educativas e Serv Soc Top Esp em Política Social Tópicos Esp na Metodol do SS 37 Iniciação Universitária I, Iniciação Universitária II, Sociologia II, Estudos dos Problemas Brasileiros I foram excluídas. As disciplinas Psicologia I e Psicologia II foram substituídas por Psicologia I CB e Psicologia Social e Serviço Social. As disciplinas que, no currículo de 1970, estavam localizadas no Ciclo Profissional também sofreram alterações. As disciplinas Serviço Social Aplicado I Família, Serviço Social Aplicado II - Menor, Serviço Social Aplicado III - Saúde, Serviço Social Aplicado IV - Trabalho, Serviço Social de Caso I, Serviço Social de Caso II, Serviço Social de Grupo I, Serviço Social de Grupo II foram excluídas. As disciplinas Direito I - Constitucional, Direito II – Civil, Direito III – Trabalho e Previdência e Direito IV – Penal e do Menor também foram excluídas, cedendo lugar a disciplina Direito e Legislação Social. Estas alterações revelam no novo currículo uma perspectiva de formação profissional sem ênfase em ações interventivas específicas. O conteúdo da disciplina Política Social e Serviço Social foi realocado em Política Social I, Política Social II e Política Social e Marginalidade. Para complementar a discussão em torno das Políticas Sociais foram oferecidas disciplinas eletivas relacionadas a essa temática. Já as disciplinas Ética Profissional e Ética Geral cederam lugar a Ética Profissional em Serviço Social. Em relação as disciplinas ligadas a intervenção comunitária, ocorreu a exclusão da disciplina Serviço Social de Comunidade I, Serviço Social de Comunidade II e a inclusão das disciplinas Desenvolvimento de Comunidade e Movimentos Sociais, Cidadania e Serviço Social, levando em consideração que o novo currículo busca uma formação profissional mais próxima dos movimentos sociais, então é justificável a inclusão de disciplinas que almeja traçar uma formação profissional em sintonia com a proposta do 38 currículo, legitimando então o questionamento dos Assistentes Sociais junto às comunidades. Acrescentaram-se neste currículo as disciplinas Metodologia Clássica do Serviço Social, Metodologia Reconceituada do Serviço Social, Metodologia Aplicada I, Metodologia Aplicada II, Metodologia Aplicada III e Metodologia Aplicada IV que remetem em seu conteúdo teorias, métodos e técnicas do Serviço Social Tradicional e teorias, métodos, técnicas e outras construções emergentes no Serviço Social da época. Os níveis de Estágio também modificaram-se, no currículo antigo eram divididos em Estagio I, II, III, IV, V e IV. No novo currículo houve uma pequena redução passando para 5 níveis de estágio. Não constava no currículo anterior disciplinas dedicadas a trabalhar a realização de entrevistas e observação direta, a participação em reuniões de grupos sociais e organizações populares, o registro das informações em diário de campo, a sistematização e interpretação dos dados e a elaboração de relatório. No currículo de 1983, esse ponto foi solucionado com a inclusão das Disciplinas Prática do Serviço Social I e Pratica do Serviço Social II. A disciplina Planejamento e Projetos Sociais também ganhou espaço no novo currículo, pois o assistente social neste período deixou de ser mero executor de Projetos Sociais ganhando destaque profissional como Formulador de Projetos Sociais. Assim, percebe-se que no currículo de 1970, existiam muitas disciplinas metodológicas, privilegiando a técnica como eixo principal da formação profissional. No currículo de 1983 a formação profissional perdeu um pouco a especificidade, deixando para as disciplinas eletivas a preocupação de aprofundar algumas questões especificas. Contudo, as mudanças no novo currículo provocaram uma efervescência no aspecto político da formação do assistente social. 39 2.4. Currículo implantado na ESS/UFRJ em 1994. A ESS/UFRJ ainda passou por mais três mudanças de currículos em 1994, 2001 e 2008/2. O currículo que começou a ser implantado em 1994 teve diversas influências, tanto de mudanças ocorridas na sociedade brasileira, quanto dos rebatimentos destas na categoria Profissional e as mudanças próprias ao amadurecimento da formação profissional. O grande destaque nas mudanças da categoria profissional acontece pela aprovação do Código de Ética Profissional de 1993, que adota como Princípios Fundamentais: O reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes (autonomia, emancipação e pleno desenvolvimento dos indivíduos sociais), a defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; ampliação e consolidação da cidadania; defesa do aprofundamento da democracia; posicionamento em favor da eqüidade e da justiça social; garantia do pluralismo e opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia e gênero. (CRESS-7ª Região, 2000). QUADRO 6 Currículo de 1994 adotado pela ESS/UFRJ 1º PERÍODO 2º PERÍODO 3º PERÍODO 4º PERÍODO Antropologia Form Soc Econ e Polit: Brasil Ética Profissional Fundamentos Hist, Teor e Metod SS IV Cultural Sociologia I Fundamentos Hist, Teor e Metod Serviço Social II Fundamentos Hist, Teor e Metod Serviço Social III Pesquisa Social e Serviço Social II Filosofia I Teoria Social e Serviço Social Pesquisa Social e Serviço Social I Movimentos Sociais, Cidadania e Serviço Social Economia Proc de Trabalho e Serviço Social Analise Institucional e Serv.Social Política Social III 40 Psicologia I CB Política Social I Desenvolvimento da Comunidade Administração em Serviço Social Direito e Legislação Social Política Social II Metodologia do Serviço Social Aplicado I Fundamentos Hist, Teor e Metod Serviço Social I Seminário de Pratica do SS I Estagio Supervisionado em Serviço Social I 5º PERÍODO 6º PERÍODO 7º PERÍODO 8º PERÍODO Fund Hist, Teor e Metod Serviço Social V Acumulação Capitalista e Decomposição Social Seminário de TCC I Seminário de Pratica do SS II Planejamento e Proj Sociais Metodologia do Serviço Social Aplicado III Metodologia do Serviço Social Aplicado IV Seminário de TCCII Previdência Social Estagio Supervisionado em Serviço Social III Estagio Supervisionado em Serviço Social IV Trabalho de Conclusão de Curso Metodologia do Serviço Social Aplicado II Atividades Acadêmicas Optativas Atividades Acadêmicas Optativas Atividades Acadêmicas Optativas Estágio Supervisionado em Serviço Social II Atividades Acadêmicas Optativas Disciplinas Eletivas Psicologia Social SS Política Social da Família Língua Portuguesa I Política Social da Saúde Top Esp de Pesq em Fund do SS Política Social do Trabalho Filosofia e Serviço Social Pol Soc da Ocupação Esp Urbano Fund Hist, Teor e Metod SS VI Política Social da Educação Teorias Antropológicas e SS Top Esp em Política Social Top Esp Fund Hist, Teor, MetodSS Política Social e Assistência Poder Local e Serviço Social Tópicos Especiais em SS I SS e Processo de Trabalho Tópicos Especiais em SS II Top Esp em Mov Sociais e SS Tópicos Especiais em SS III Praticas Educativa e Serv Soc Expressões Questão Social I Tópicos Esp na Metodol do SS Expressões Questão Social II Teoria Psicanalítica e SS Expressões Questão Social III Ideologia e Serviço Social Top Esp em Proc Sociais e SS 41 Poder Local e Serviço Social Relações de Gênero e Serv Soc Proc de Form Identidade e SS Violência, Relações Soc e SS SS e Questão Fundiária SS e Questão Urbana Em relação ao currículo de 1983, as disciplinas que dizem respeito aos Fundamentos do Serviço Social também se transformaram. Foram incluídas as disciplinas - Fundamentos Históricos e Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I, Fundamentos Históricos e Teóricos e Metodológicos do Serviço Social II, Fundamentos Históricos e Teóricos e Metodológicos do Serviço Social III, Fundamentos Históricos e Teóricos e Metodológicos do Serviço Social IV e Fundamentos Históricos e Teóricos e Metodológicos do Serviço Social V - substituíram respectivamente as disciplinas História do Serviço Social, Teoria do Serviço Social I, Teoria do Serviço Social II, Metodologia Clássica do Serviço Social, Metodologia Reconceituada do Serviço Social e Teoria do Serviço Social III. Aquelas dedicadas as técnicas de pesquisa também alteraram-se. Foram incluídas as disciplinas Pesquisa Social e Serviço Social I e Pesquisa Social e Serviço Social II em substituição as disciplinas Métodos Quantitativos Aplicados ao Serviço Social e Pesquisa em Serviço Social. As disciplinas de Políticas Sociais absorveram o conteúdo de outras disciplinas. A disciplina Política Social I absorveu o conteúdo da disciplina Introdução a Ciência Política, Política Social II somou-se como conteúdo da disciplina Política Social e a disciplina Política Social III juntou-se com o conteúdo da disciplina Política Social III. Ainda ocorreram substituições nas disciplinas relacionadas a prática profissional. As disciplinas Seminário da Prática do Serviço Social I e Seminário da Prática do Serviço Social II substituíram as disciplinas Prática do Serviço Social I e Prática do Serviço Social 42 II. As disciplinas de Estágio também sofreram alterações, passaram de 5 níveis para 4 níveis. As disciplinas Psicologia Social e Serviço Social e Ideologia e Instituições foram realocadas na grade curricular para qualidade de disciplinas eletivas. Foram acrescentadas ainda neste currículo as disciplinas Processo de Trabalho e Serviço Social e Acumulação Capitalista e Decomposição Social. A última tratava de questões sobre os impactos da crise econômica e as novas estratégias de sobrevivência nas grandes cidades, a economia informal, as novas formas de pobreza e manifestações da "questão social", as diversas formas de corrupção política, social e cultural, o fenômeno da exclusão social e a questão da violência. Percebe-se também que as Disciplinas relacionadas a intervenção em comunidade como Desenvolvimento de Comunidade e Movimentos Sociais Cidadania e Serviço Social não sofreram alterações, reafirmando a sua proposta no currículo anterior. 2.5. Currículo implantado na ESS/UFRJ em 2001. A partir de 1997, a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa de Serviço Social (ABEPSS) depois de várias reuniões e conferências chegou a conclusão da necessidade de uma nova revisão curricular. Iniciou-se um movimento de revisão curricular nas escolas e faculdades de Serviço Social de todo o país. A ESS/UFRJ aderiu a esse movimento designando uma Comissão de Revisão Curricular, que produziu uma série de documentos que foram levados para os departamentos e ao centro acadêmico e posteriormente discutidos em reuniões e plenárias entre os professores e os alunos. O novo currículo busca 43 adaptar a formação profissional do Assistente Social as novas realidades da sociedade brasileira. QUADRO 7 Currículo de 2001 adotado pela ESS/UFRJ 1º PERÍODO 2º PERÍODO 3º PERÍODO 4º PERÍODO Teoria Sociológica e Serviço Social Direito e Legislação Social Serviço Social II Serviço Social III Introdução ao Serviço Social Serviço Social I Ética Profissional Identidades Culturais e Serviço Social no Brasil Filosofia e Serviço Social Antropologia Social e Serviço Social A Questão Social no Brasil A Questão de Gênero no Brasil Introdução ao Trabalho Cientifico no Serviço Social Estado, Classes e Movimento Sociais Psicologia Social e Serviço Social Direitos Humanos no Brasil Economia Política e SS Trabalho e Questão Social Pesquisa Social e Serviço Social Política Social e Serviço Social I Teoria Política e Serviço Social Economia do Brasil Contemporâneo e Serviço Social Pratica Profissional Orientação e Treinamento Profissional I Técnicas de Intervenção Social Estagio Supervisionado I 5º PERÍODO 6º PERÍODO 7º PERÍODO 8º PERÍODO Serviço Social IV Serviço Social Contemporâneo Avaliação Monitoramento em Serviço Social Orientação de TCC II Administração e Orçamento em Serviço Social Analise Indicadores Sociais para o Serviço Social Orientação Treinamento Profissional IV Trabalho de Conclusão de Curso Política Social e Serviço Social II Planejamento e Projetos em Serviço Social Orientação de TCC I Atividades Extracurriculares Orientação Treinamento Profissional II Orientação Treinamento Profissional III Núcleo Temático III Atividades Acadêmicas Optativas Núcleo Temático I Núcleo Temático II Estagio Supervisionado IV Estagio Supervisionado II Estagio Supervisionado III Atividades Acadêmicas Optativas Atividades Acadêmicas Optativas 44 Este currículo apresenta alterações importantes. Logo nas disciplinas introdutórias, foram acrescentadas as disciplinas Teoria Sociológica e Serviço Social, Introdução ao Serviço Social, Filosofia e Serviço Social, EconomiaPolítica e Serviço Social e Teoria Política e Serviço Social que incorporaram os conteúdos das respectivas disciplinas: Sociologia I e Serviço Social, Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I, Filosofia I, Economia e Política Social I. As disciplinas Serviço Social III e Serviço Social IV incorporaram os conteúdos das disciplinas Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social IV e Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social V. A disciplina Psicologia Social e Serviço Social voltou para grade curricular como disciplina obrigatória e absorveu o conteúdo de Psicologia I CB. Alguns conteúdos de disciplinas que estavam na qualidade de eletivas no currículo anterior foram incorporados a novas disciplinas do atual currículo. Isso aconteceu com as disciplinas eletivas Formação Social Econômica e Política do Brasil, Violência, Relações Sociais e Serviço Social e Relações de Gênero e Serviço Social. As mesmas tiveram seu conteúdo alocado na grade Disciplinas Eletivas Políticas Públ de Saúde Mental Língua Portuguesa I Poder Local e Serviço Social Ss e Processo de Trabalho Ss e Questão Urbana Ss e Questão Fundiária Tópicos Especiais em Ss I Tópicos Especiais em Ss II Tópicos Especiais em Ss III Expressões Questão Social I Expressões Questão Social II Expressões Questão Social III Oficina Temática Serv Social 45 curricular obrigatória nas disciplinas Economia do Brasil Contemporâneo e Serviço Social, Direitos Humanos no Brasil e A Questão de Gênero no Brasil. Em análise as disciplinas ligadas a prática profissional, nota-se a inclusão da disciplina Orientação e Treinamento Profissional – OTP em 4 níveis. As disciplinas de OTP devem oferecer suporte aos alunos em estágio, levantando questionamentos das demandas vivenciadas no campo de estágio. Neste currículo de 2001, identifica-se a exclusão da disciplina Desenvolvimento de Comunidade. As discussões voltadas para intervenção comunitária perdem espaço neste currículo. Algumas foram realocadas para disciplinas eletivas, e outras incorporadas em disciplinas que tratam do processo histórico do Serviço Social. O currículo de 2001, de acordo com o currículo pleno aprovado em 03/05/2001, pretendia formar assistentes sociais que desenvolvessem em seu perfil profissional uma perspectiva de criticidade13, competência14 e compromisso sóciocêntrico15, fazendo-se possível o entrecruzamento das mesmas: Para o projeto pedagógico da ESS/UFRJ, o assistente social a ser formado deve traduzir concretamente estas criticidade, competência e compromisso em termos 13 O traço crítico diz respeito tanto a uma posição em face da sociedade brasileira quanto diante dos desafios profissionais. No primeiro caso, trata-se de formar um profissional com a mais clara consciência da urgência de transformar a nossa sociedade, redimensionando as suas estruturas e instituições para responder às inadiáveis exigências de democratização social e econômica postas pela massa da população trabalhadora. No segundo caso, trata-se de formar um profissional capaz de identificar alternativas, avaliar prioridades e apreciar as implicações das soluções escolhidas - um assistente social apto a compreender o significado social da sua intervenção profissional. 14 A competência envolve três níveis distintos, embora interligados: o da competência teórica, consistente no domínio das principais matrizes teóricas das ciências sociais e humanas e da produção registrada do Serviço Social; o da competência técnica, supondo o conhecimento das técnicas de pesquisa e de intervenção; e o da competência política, implicando a qualificação para analisar conjunturas, instituições, relações de forças e possibilidades de implementação de projetos e intervenção. 15 O compromisso sociocêntrico relaciona-se a uma visão social de mundo assente numa concepção ética radicalmente humanista, racionalista e universalista – visão para a qual a liberdade e a cultura são valores em si, para a qual as possibilidades da genericidade humana têm primazia sobre quaisquer particularismos. 46 de inquietação, sensibilidade e abertura para com a problemática social do Brasil tanto em termos profissionais imediatos (donde a importância de um tratamento sistemático da realidade que rebate diretamente no espaço geo-social onde incide a ação da UFRJ) quanto em termos de seu envolvimento com movimentos cívicos e estritamente profissionais (participação em organizações da sociedade civil e em entidades da categoria). (CURRICULO PLENO ESS/UFRJ , p. 8-9 , 2001) 2.6. Currículo implantado na ESS/UFRJ em 2008. Em 2008, ocorre uma nova mudança curricular com objetivo de adequar a grade curricular ao sistema de créditos adotados pelo Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (SIGA) da UFRJ. Além disso, acomodaram-se neste currículo, as disciplinas que estavam com a carga horária considerada insuficiente para garantia do rendimento de seu conteúdo, como a disciplina Política social II, sendo dividida em Política Social II e Política Social III e esta subdividida em A,B e C. QUADRO 8 Currículo de 2008 adotado pela ESS/UFRJ 1º PERÍODO 2º PERÍODO 3º PERÍODO 4º PERÍODO Teoria Sociológica e Serviço Social Direito e Legislação Social Serviço Social II Serviço Social III Introdução ao Serviço Social Serviço Social I a Questão Social no Brasil Ética Profissional Filosofia e Serviço Social Antropologia Social e Serviço Social Psicologia Social e Serviço Social Identidades Culturais e Serviço Social no Brasil Introdução ao Trabalho Cientifico no Serviço Social Estado, Classes e Movimentos Sociais Direitos Humanos no Brasil Administração e Orçamento em Ss Economia Política e SS Trabalho e Questão Social Política Social e Serviço Social I Política Social e Serviço Social II Teoria Política e Serviço Social Economia do Brasil Pratica Profissional 47 Contemporâneo e Serviço Social 5º PERÍODO 6º PERÍODO 7º PERÍODO 8º PERÍODO Serviço Social IV Serviço Social Contemporâneo Planejamento e Projetos em Serviço Social Avaliação Monitoramento em Serviço Social Pesquisa Social e Serviço Social Analise Indicadores Sociais para o Serviço Social Orientação e Treinamento Profissional III Orientação e Treinamento Profissional IV Política Social e Serviço Social III - A. a Questão de Gênero no Brasil Orientação de TCC I Orientação de TCC II Política Social e Serviço Social III - B. Orientação Treinamento Profissional II Núcleo Temático II Trabalho de Conclusão de Curso Política Social e Serviço Social III - C. Núcleo Temático I Estagio Supervisionado III Estagio Supervisionado IV Orientação Treinamento Profissional I Estagio Supervisionado II Atividades Acadêmicas Optativas Oficina Temática Serviço Social Técnicas de Intervenção Social Atividades Extracurriculares Estagio Supervisionado I Atividades Acadêmicas Optativas Disciplinas Eletivas Políticas Públ de Saúde Mental Língua Portuguesa I Poder Local e Serviço Social Ss e Processo de Trabalho Ss e Questão Urbana Ss e Questão Fundiária Tópicos Especiais em Ss I Tópicos Especiais em Ss II Tópicos Especiais em Ss III Expressões Questão Social I Expressões Questão Social II Expressões Questão Social III 48 Neste currículo atualmente em vigor não encontra-se uma disciplina que trate da intervenção em comunidade
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