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FONTES DO DIREITO 1.1 CONCEITO 1 1.2 ETIMOLOGIA 1 1.3 TIPOLOGIA 1-4 FONTES MATERIAIS 1 FONTES FORMAIS ESTATAIS 1-3 LEGISLAÇÃO 2 JURISPRUDÊNCIA 2 SÚMULAS (PERSUASIVAS E VINCULANTES) 2 E 3 FONTES FORMAIS NÃO-ESTATAIS 3-4 DOUTRINA, COSTUME E NEGÓCIO JURÍDICO 4 PODER NORMATIVO DOS GRUPOS SOCIAIS 4 1.4 MONISMO JURÍDICO VS. PLURALISMO JURÍDICO 5 Introdução ao Estudo do Direito Professor Ricardo Mauricio 1 1.1 Conceito Fontes do direito são os diversos modos de manifestação da normatividade jurídica que se formam a partir da positivação dos elementos econômicos, políticos e ideológicos que estão presentes na realidade social. O estudo das fontes do direito exige o exame sobre a origem do fenômeno jurídico através de uma investigação zetética. “Ubi societas, ib jus.” Onde há sociedade, há o direito. “Ex facto, oritur jus.” Dos fatos, origina-se o direito. 1.2 Etimologia (campo do conhecimento que estuda a origem dos vocábulos) Fonte provém do latim fons, que significa origem, nascedouro, gênese. 1.3 Tipologia 1.3.1 Fontes materiais são aqueles elementos (extra-jurídicos) econômicos, políticos e ideológicos que oferecem a matéria-prima para a criação das normas jurídicas. Exemplo1: a violência doméstica praticada contra a mulher é a fonte material do direito que serviu para a criação da Lei Maria da Penha. Exemplo2: envelhecimento da população brasileira (que se deu por meio do aumento da expectativa de vida devido a melhoria das condições na qual vivemos, avanço da medicina e tecnológico, e aumento do consumo entre os das terceira-idade) é fonte material do direito que esta servindo para uma Reforma Necessária na Previdência (ampliação da idade da aposentadoria). A violência doméstica praticada contra a mulher é um fato social que exprime a influência dos 3 sub-sistemas. É um fato que possui uma conotação econômica, política e ideológica. O sistema social se compõe de 3 sub-sistemas que se articulam a partir de zonas de convergência e divergência: econômico (produção de riquezas), político (produção de poder) e ideológico (produção de discurso). 1.3.2 Fontes formais são as normas jurídicas propriamente ditas, que projetam no mundo do dever-ser os elementos econômicos, políticos e ideológicos das fontes materiais do direito. 1.3.2.1 Fontes formais estatais são aquelas fontes criadas pelo Estado. As principais são a Legislação e a Jurisprudência. Introdução ao Estudo do Direito Professor Ricardo Mauricio 2 Legislação é o conjunto de normas gerais e abstratas escritas e de origem, predominantemente, parlamentar. Constitue-se na principal fonte jurídica dos sistemas de Civil Law (inspiração Romano-Germânica _ a lei como principal fonte do Direito). A Lei é: - diploma normativo genérico, já que alcança a totalidade da comunidade jurídica. - diploma normativo abstrato, uma vez que regula hipóteses no mundo do dever-ser, que podem se concretizar ou não no mundo ser. - diploma normativo escrito, pois esta corporificada em um texto, gerando, portanto, uma maior seguranca e previsibilidade para as relações sociais. - nem todos os atos de natureza legislativa brotam do poder parlamentar, já que tais atos podem ser exercidos de forma atípica pelo executivo (exemplo: o presidente pode editar medidas provisórias). Jurisprudência consiste no conjunto de decisões judiciais tomadas no mesmo sentido, formando um padrão interpretativo capaz de inspirar futuros julgamentos. Trata-se, ao lado dos costumes, da principal fonte do direito dos sistemas jurídicos de Common Law (inspiração Anglo-Americana). - uma importante fonte do direito, pois possibilitaria a atualização permanente da ordem jurídica, e a progressiva adaptação das normas aos fatos e valores sociais. Exemplo: o reconhecimento jurisprudencial no Brasil dos alimentos gravídicos da guarda compartilhada e da união homoafetiva. - os tribunais podem sintetizar a jurisprudência acumulada e pacificada, através da edição de súmulas: enunciados interpretativos que consubstanciam o entendimento desses órgãos. - as súmulas são, portanto, instrumentos de uniformização da jurisprudência, que oferecem previsibilidade decisória e estabilidade para a aplicação do direito numa dada comunidade jurídica. - existem dois tipos de súmulas: as persuasivas e as vinculantes. As súmulas persuasivas são aquelas de cunho meramente argumentativo, que não possibilitam a vinculação formal dos julgadores submetidos ao tribunal. No Brasil, todos os tribunais podem editar súmulas persuasivas. Introdução ao Estudo do Direito Professor Ricardo Mauricio 3 Exemplo: súmula persuasiva nº 370 do STJ - dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado. opinião pessoal: forma de estabelecer parâmetros uniformes, mas sem violar o principio da liberdade do julgador. As súmulas vinculantes são aquelas formalmente obrigatórias que obrigam o poder judiciário a seguir os seus preceitos. No Brasil, somente o Supremo Tribunal Federal (STF) poderá editar súmulas vinculantes (vide, a Emenda Constitucional nº 45 de 2004). Exemplo: Súmula vinculante nº 11 - veda a possibilidade do uso de algemas no âmbito do processo penal, salvo quando houver risco de fuga do réu ou de vida para o agente de segurança ou vítima. Vantagens: a súmula vinculante realiza o princípio da segurança jurídica [I], ou seja, torna o direito mais previsível; assegura o principio da isonomia decisória [II]; possibilita a conclusão mais rápida do processo (principio da celeridade) [III]; realiza o principio da efetividade, permitindo que o direito possa ser exercido concretamente pelo seu titular [IV]; e realiza o principio da economicidade. [V] Desvantagens: a súmula vinculante compromete a liberdade do julgador para decidir (violação do princípio do livre convencimento judicial) - o juiz se transforma em um “robô” [I]; o distanciamento do STF compromete um exame mais minudente e, portanto, justo dos fatos sociais (abstratização das súmulas vinculantes) [II]; a existência das súmulas vinculantes comprometem o princípio do duplo grau de jurisdição (o direito de recorrer), bem como da ampla defesa [III]; risco de conversão da prestação jurisdicional em uma linha de montagem de decisões (fordismo judicial) [IV]; o STF costuma ser um tribunal conservador, pois a sua composição classista e pouco plural não reflete heterogeneidade da sociedade brasileira [V]; fortalecem demasiadamente o poder judiciário, comprometendo o princípio da separação dos poderes, gerando risco da emergência de uma ditadura do STF (supremocracia) [VI]. ATUALMENTE, VERIFICA-SE UMA TENDÊNCIA DE VALORIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA NO DIREITO PÁTRIO (“COMMONIZAÇÃO” DO DIREITO BRASILEIRO). 1.3.2.2 Fontes formais não-estatais são aquelas fontes jurídicas criadas fora dos limites institucionais do Estado, através dos diversos pólos de poder social. O direito não é criado apenas pelo Estado. Pode ser criado, também, diretamente pela sociedade. No contexto ocidental as fontes estatais tem uma indubitável prevalência. As não-estatais são constituídas pela Doutrina, Introdução ao Estudo do Direito Professor Ricardo Mauricio 4 Costume Jurídico, Negócio Jurídico e Poder Normativo dos Grupos Sociais. Doutrina é um conjunto de obras, pareceres e estudos dos grandes cientistas do Direito (juristas). - Tal produção científica pode ser usada como fundamento para a criação de leis, a elaboração de decisões judiciais e a criação de outras fontes jurídicas, ao oferecer um argumento de autoridade intelectual. - Como por exemplo o livro de Miguel Reale “Lições Preliminares de Direito” . Costume jurídico consiste na reiteraçãode práticas sociais em um mesmo sentido que criam um padrão de normatividade social capaz de vincular bilateralmente os sujeitos de direito, reconhecendo direitos subjetivos e deveres jurídicos. - As normas costumeiras fazem parte do direito não-escrito e figuram como importantes fontes jurídicas, especialmente nos sistemas de Common Law. - Citando casos aná logos, ressalta-se o reconhecimento do cheque pré- datado no direito comercial brasileiro e o surgimento do 13º salário no Brasil. “Communis opinio doctorum.” A opinião comum dos doutos. Negócio Jurídico trata-se do conjunto de manifestações de vontade capazes de criar direitos e deveres jurídicos, dentro do espaço de autonomia privada da vontade. - Tais fontes negociais devem ser criadas, contudo, dentro dos limites estabelecidos no âmbito das fontes estatais (lei e jurisprudência). - Como por exemplo, contratos e testamentos. Poder Normativo dos Grupos Sociais trata-se da prerrogativa jurídico-política oferecida as instituições integrantes da sociedade humana para que as mesmas criem os seus próprios ordenamentos jurídicos em escala microscópica, devendo, todavia, obedecer ao macro ordenamento estatal. - Temos os exemplos como convenções condominiais e regulamentos de empresas. Introdução ao Estudo do Direito Professor Ricardo Mauricio 5 1.4 Monismo Jurídico x Pluralismo Jurídico Monismo Jurídico consiste num paradigma dentro da teoria das fontes do direito que exprime a ideia de uma criação exclusivamente estatal do direito. Tal visão dogmática-positivista foi predominante durante os séculos XVII ao XIX e primeira metade do século XX no mundo ocidental. Sustentou-se a ideia de que existiriam apenas Fontes Estatais do Direito. Pluralismo Jurídico trata-se de um paradigma de inspiração pós-positivista que sustenta a concepção de que o direito é o produto tanto do Estado quanto da sociedade. A convivência do direito estatal com o direito não-estatal nem sempre seria harmoniosa, como por exemplo, o conflito entre o costume e a lei penal diante dos chamados Infanticídios Indígenas. É a visão predominante no mundo ocidental após a Segunda Guerra Mundial, a qual considera o direito como produto do Estado e da sociedade. Na maioria das vezes, a relação entre costume e lei é considerada dialética.