Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Eutanásia Módulo 28 Sumário do conteúdo Este módulo aborda as seguintes áreas relacionadas com a eutanásia: • Critérios para eutanásia • Considerações culturais • Eutanásia como parte do controle populacional de animais recolhidos das ruas • Eutanásia no controle de doenças • Métodos humanitários e considerações legais • Comunicação com os clientes Objetivos de aprendizagem • Ilustrar alguns dos potenciais problemas de bem-estar na hora da morte de um animal • Identificar quais aspectos sociais, culturais, econômicos e legais influenciam a qualidade da morte de um animal • O objetivo deste módulo é ilustrar alguns aspectos dos problemas potenciais de bem-estar na hora da morte de um animal e identificar as influências sociais, culturais, econômicas e legais que afetam a qualidade da morte de um animal. A seção final aborda a perspectiva do cliente no processo de eutanásia. A eutanásia é uma importante questão de bem-estar. Lidar com a morte, em qualquer de seus aspectos, costuma ser difícil. E, no caso da eutanásia, quando se tem que decidir ou praticar a morte, por vezes de um número grande de seres vivos e sencientes, torna-se mais difícil ainda. É uma questão polêmica, sem dúvida, envolvendo desde opiniões radical e absolutamente contrárias à sua utilização, mesmo em casos de impossibilidade de reversão de sofrimento grave, até aquelas mais pragmáticas que a percebem como um método de controle animal. Não entrando no mérito dessa discussão, devemos ressaltar que, no mundo atual, a eutanásia tem produzido reflexões, principalmente por parte das autoridades e dos médicos veterinários, resultando essas reflexões em métodos mais humanitários e numa utilização mais criteriosa. Ainda há muito o que se discutir no sentido de garantir a metodologia “ideal”, que pressuponha o mínimo possível de sofrimento físico e mental, tanto para aqueles que são submetidos à eutanásia quanto para aqueles que a praticam. Mas já se avançou muito nesse sentido e acreditamos que o continuar das discussões nos traga o benefício de apontar-nos um processo cada vez menos árduo, para humanos e animais. Este módulo discorre sobre diferentes métodos de eutanásia praticados em diversos países. O médico veterinário, frente à situação de decidir pela eutanásia, além de sua opinião própria e de seu posicionamento ético, deverá levar em conta a legislação do seu país e os aspectos sociais, econômicos e de bem-estar envolvendo animal e cliente, garantindo assim critérios e metodologia rigorosos. Considerar a perspectiva do cliente no processo de eutanásia O que é eutanásia? Qual é a sua relação com o abate? Abate – o ato de matar animais para o consumo Morte por misericórdia - matar um animal (de preferência, com um mínimo de dor) que sofra de uma doença incurável ou pela impossibilidade de tratamento ou socorro Eutanásia (Grego): eu - bom, thanatos – morte Eutanásia não é o mesmo que abate, ou seja, provocar a morte de animais de produção para fins comerciais. Morte por misericórdia refere-se ao ato de matar (de preferência causando um mínimo de dor) um animal com doença incurável ou em situação de impossível tratamento impossível ou socorro como, por exemplo, no caso de um animal vítima de queda com múltiplos ferimentos ou de pássaros marítimos gravemente expostos a óleo, impossíveis de serem recuperados. Eutanásia – do grego eu “bom”+ thanatos “morte” no sentido de uma “morte fácil”. Uma “morte boa” é aquela que causa um mínimo de medo, dor ou aflição. Para o homem, por exemplo, uma “morte boa” poderia ser considerada a morte durante o sono de uma pessoa idosa. O que é “morte boa”? Alguns argumentam que sofrimento faz parte da vida e que evitar sofrimento encurtando a vida não é natural Muitos pensadores “racionais” concluíram que o sofrimento pode chegar a um ponto em que a morte se justifica para por fim ao sofrimento Este “fim justificado do sofrimento” através do ato de “matar de forma humanitária” é a base da “morte boa”. Algumas pessoas argumentam que o sofrimento faz parte da vida e que evitar o sofrimento encurtando a vida é contra a natureza. Entretanto, muitos pensadores “racionais” chegaram à conclusão de que o sofrimento pode chegar a um ponto em que a morte, desde que induzida de forma humanitária, resultará em um fim justificado do sofrimento. É este “fim justificado do sofrimento” através da “morte humanitária” que é a base da “morte boa”. Os termos “justificado” e “humanitário” são elementos subjetivos desta afirmação; influências pessoais, culturais e políticas podem desempenhar um papel na decisão local final do que é justificado e através de que métodos “humanitários”. Critérios comuns para eutanásia de animais individuais Animais gravemente feridos Animais com doenças terminais envolvendo provável sofrimento Animais agressivos Animais idosos na falta de recursos para atender suas necessidades Existem alguns critérios comumente usados para justificar o “fim do sofrimento” através de uma “morte humanitária” para animais individuais: • Animais gravemente feridos – animais em estado terminal, envolvendo provável sofrimento ou quando dor e estresse já são aparentes. • Animais agressivos – cujas interações com humanos ou com outros animais tendem a causar sofrimento desnecessário ou animais que, devido à sua natureza agressiva, não podem ser mantidos em condições capazes de satisfazer as suas necessidades. • Animais idosos – quando não há recursos para atender as suas necessidades. Muitas vezes é difícil justificar esta categoria. A eutanásia de um cão velho com incontinência ou de um cavalo manco muitas vezes é decidida com base no aumento de trabalho exigido dos humanos que cuidam destes animais – quando a disposição das pessoas de enfrentar o problema começa a falhar, é mais provável que se decida pela eutanásia. Critérios comuns para eutanásia de “grupos” de animais Animais recolhidos das ruas – na inexistência de recursos suficientes para disponibilizar qualidade de vida razoável Parte de um programa de controle populacional, para “bem maior” da população restante No caso de algumas doenças envolvendo responsabilidade legal Animais de experimentação Animais recolhidos das ruas – na inexistência de recursos suficientes para garantir qualidade de vida razoável. Isto, no entanto, não pode ser usado como “solução fácil” para problemas complexos como superpopulação e responsabilidade das pessoas para com os animais que possuem ou abandonaram. (Veja módulos 26 e 27 para discutir mais este assunto.) Animais também são mortos como meio de controle populacional planejado para o “bem maior” da população restante. Esta decisão difícil muitas vezes é o âmago das estratégias de controle populacional de animais, desde cães até burros selvagens. Grupos de animais também são mortos no caso de algumas doenças que envolvem responsabilidade sanitária, normalmente para eliminar animais infectados ou sob risco de infecção, para proteger a saúde do restante da população. Às vezes decisões deste tipo são tomadas em nível político e são muito impopulares a nível local. Exemplos: Peste Suína Africana e Gripe das Aves na Ásia. Animais de experimentação são mortos quando o “sacrifício” ou eutanásia do animal faz parte fundamental do seu uso ou quando limites humanitários são atingidos em um experimento (Veja módulo 25 para mais detalhes). Quem decide? – Pode ser o proprietário O proprietário (às vezes assistido por um médico veterinário) pode decidir que seu animal tem baixa qualidade de vida ou que ele não tem condições de satisfazer as necessidades do animal. Muitos proprietários de animais são conscientes e têm boa noção da condição física do seu animal ou da sua habilidade de lidar com idade, deficiência ou lesão. Outros, no entanto, não têm esta noção e decisões adiadas ou morosas pela eutanásia podem resultar em sofrimento desnecessário causado por estresse, medo ou dor prolongados. Quem decide? – O animal pode estar sofrendo Às vezes um animal pode estar sofrendo e eutanásia é ação pragmática. Na verdade, a falta de ação prática e decisiva pode prolongar desnecessariamente o sofrimento do animal. Muitas ações judiciais relativas ao bem-estar animal baseiam-se na demora “desnecessária” da decisão de terminar o sofrimento de animais doentes, negligenciados ou feridos. Nestas ações, a parte difícil para o tribunal é decidir se o animal sofreu sem necessidade e se o acusado era o responsável pelo aspecto considerado “desnecessário” (prolongado, evitável ou sem tratamento) da condição do animal. Quem decide? Um estado de doença pode invocar a lei Às vezes, quem decide é a autoridade estadual ou local – no caso de doenças que invoquem a legislação, demandando o sacrifício local dos animais, ex. febre aftosa, leishmaniose ou raiva. As ações decididas nessas circunstâncias muitas vezes podem parecer draconianas, desconsiderando os desejos e necessidades das pessoas e dos animais. Entretanto, em circunstâncias como estas, autoridades locais podem entender que a suma “importância” da questão permite uma ação direta e decisiva e que diretrizes “generalizadas” evitam tratamento tendencioso ou parcial de determinados grupos ou áreas geográficas. As filosofias a respeito da morte de animais são variadas Budismo – um dos cinco preceitos do Dhammapada – “aquele que destrói vida está cavando as raízes de sua própria vida” Verso hindu – “aquele que mata uma vaca padecerá no inferno por tantos anos quantos pêlos tiver a vaca” Islã – “Não há um animal na terra nem uma criatura voando no ar com duas asas, mas pessoas como você” São Francisco de Assis – “Não ferir nossos humildes irmãos é nossa primeira obrigação para com eles, mas não é o bastante. Temos uma missão maior – servir a eles sempre que necessitem.” As filosofias de diferentes culturas sobre a morte animal e o valor da eutanásia variam. Budismo – Um dos cinco preceitos do Dhammapada – “aquele que destrói vida está cavando as raízes de sua própria vida” . Verso hindu – “aquele que mata uma vaca padecerá no inferno por tantos anos quantos pêlos tiver a vaca”. Islã – “Não há um animal na terra nem uma criatura voando no ar com duas asas, mas pessoas como você”. São Francisco de Assis – “Não ferir nossos humildes irmãos é nossa primeira obrigação para com eles, mas não é o bastante. Temos uma missão maior – servir a eles sempre que necessitem.” O conceito de “servir” se assemelha à visão moderna de que, se usarmos os animais, temos a “obrigação” de satisfazer suas necessidades básicas e dar-lhes a possibilidade de uma “morte boa”. Questões éticas da eutanásia Os humanos às vezes decidem sobre eutanásia com base no conceito de que animais são descartáveis Temos a obrigação de dar aos animais quantidade assim como qualidade razoável de vida? Importa em que estágio de sua vida um animal é eutanasiado se não há sofrimento? Animais têm algumas necessidades básicas – se os homens têm o poder de induzir uma “morte boa”, isso deveria ser considerado uma necessidade dos animais? Os humanos às vezes decidem sobre eutanásia com base no conceito de que animais são descartáveis – muitos médicos veterinários já foram pressionados a eutanasiar animais de companhia saudáveis a pedido do proprietário. Temos a obrigação de dar aos animais quantidade assim como qualidade razoável de vida? Quando se trata do homem, a maioria das pessoas vê a morte de uma pessoa jovem como se esta vida tivesse sido “interrompida” antes de alcançar a “plenitude”. Alguns acham que a “plenitude” da vida dos animais também envolve o tempo – a duração da vida. Se um animal sofre eutanásia com o menor sofrimento possível, importa em que estágio de sua vida isto acontece? Os animais têm algumas necessidades básicas – se os homens têm o poder de induzir uma “morte boa”, isso deve ser considerado uma necessidade dos animais ou seria apenas uma opção da qual o homem pode fazer uso quando se sente motivado a ser “humanitário”? Exemplos de abordagens culturais do ato de matar Até a introdução da Lei para a Proteção Animal em Taiwan, 1998, animais recolhidos das ruas eram mortos através de “afogamento em massa” Alguns países instituíram “dias de atirar em cães” como meio de eliminar animais indesejados Alguns métodos de matar, nos quais os indivíduos são vistos apenas como componentes de um grupo problemático, podem parecer inaceitáveis para uns mas aceitáveis para outros – por exemplo: Até a introdução da Lei para a Proteção Animal em Taiwan, 1998, animais abandonados eram mortos através de “afogamento em massa”. Alguns países instituíram “dias de atirar em cães” como meio de eliminar animais indesejados ou soltos nas ruas. Os proprietários são avisados para que, nestes dias, mantenham os seus animais dentro de casa ou com coleira e guia. Todos os cães soltos serão mortos a tiro. A diferença no “valor” dado aos cães neste caso está somente na indicação clara do fato do animal ter dono. Animais sem donos claramente identificados têm menos valor e podem ser mortos a tiro. Quem decide? Animais nas ruas Autoridades locais podem, por exemplo, decidir que a população de animais soltos nas ruas precisa ser reduzida Animais abandonados nas ruas representam um problema significativo no mundo inteiro, tanto em termos de potencial de sofrimento animal quanto em termos de saúde pública. Isto pode fazer com que o bem-estar destes animais seja considerado de baixo valor. Autoridades locais podem, por exemplo, decidir que o número de animais soltos nas ruas precisa ser reduzido e tomar medidas rigorosas para controlar a população aparente, com matanças indiscriminadas, porém, tomando medidas menos rigorosas no sentido de solucionar a causa por trás do desenvolvimento de populações abandonadas (para mais detalhes, veja os módulos 26 e 27). Critérios gerais para um método ideal de eutanásia Imobilização do animal com um mínimo de estresse “Esteticamente” aceitável para o operador e para o cliente Execução com eficiência pela equipe disponível Baixo risco para o operador Garantia de descarte seguro da carcaça Eficiência em relação ao custo O método utilizado para induzir uma “morte boa” não deve causar sofrimento desnecessário. No decorrer dos últimos 50 anos, extensa pesquisa científica levou a uma compreensão melhor, mas ainda imperfeita, das formas através das quais os métodos de matança podem prover a melhor chance de uma “morte boa”. Uma “morte boa” é o provável resultado se os seguintes itens podem ser atingidos: • Imobilização do animal com um mínimo de estresse • “Esteticamente” aceitável para o operador e o cliente • Execução com eficiência pela equipe disponível • Baixo risco para o operador • Garantia de descarte seguro da carcaça • Eficiência em relação ao custo No entanto, se estes critérios são seguidos e ainda existe sofrimento animal, pode ser que o próprio método de eutanásia não seja humanitário, não devendo ser usado. As projeções seguintes citam vantagens e desvantagens de alguns dos métodos comumente utilizados para a eutanásia. Overdose intravenosa de barbitúricos Aspectos legais: • Nos países onde são usados, os barbitúricos são agentes controlados, mas em muitos países seu uso é ilegal • As carcaças dos animais eutanasiados têm de ser descartadas com segurança, uma vez que contêm barbitúricos. Vantagens: Evidências do uso humano sugerem que a indução com barbitúricos não seja aversiva. Depressão dos centros cardíaco e respiratório leva à morte por anóxia. Em animais nervosos, um sedativo administrado (através de injeção subcutânea ou via oral) em tempo de fazer efeito antes da eutanásia pode reduzir o estresse da contenção. Desvantagens: O animal precisa ser imobilizado para se ter acesso a uma veia. Existe a possibilidade de medo e estresse em animais não acostumados ao contato humano. A injeção tem de ser aplicada por uma pessoa competente e a morte do animal tem que ser verificada, uma vez que subdosagem pode apenas resultar em anestesia profunda. Aspectos legais: Nos países onde são usados, os barbitúricos são agentes controlados, mas em muitos países seu uso é ilegal. As carcaças dos animais eutanasiados têm de ser descartadas em condições seguras, uma vez que contêm barbitúricos. Insensibilização por pistola de lança penetrante seguida de destruição de medula espinhal ou exsanguinação Aspectos legais: • Em alguns países, o uso rotineiro de equipamento de êmbolo cativo é restrito a abatedores licenciados, porém, a morte por misericórdia pode ser praticada por qualquer pessoa. Insensibilização com pistola de lança penetrante seguida de destruição de medula espinhal ou exsanguinação. Vantagens: A transferência de energia através do crânio aos tecidos nervosos resulta em rápida insensibilização. É usado em animais de grande porte como gado, ovinos e cabras, contidos individualmente. Após a insensibilização, o animal pode ser removido do recinto de insensibilização para a matança através de exsanguinação ou destruição do tecido nervoso da cabeça e da medula espinhal através de um bastão flexível. Desvantagens: É importante que o procedimento seja executado por uma pessoa treinada no uso e posicionamento correto da pistola. O intervalo entre insensibilização e matança dever ser curto (segundos, não minutos) para assegurar que o animal não recupere a consciência. A boa manutenção da pistola é imprescindível. Aspectos legais: Em alguns países, o uso rotineiro de equipamento de bala cativa é restrito a abatedores licenciados, porém, morte por misericórdia pode ser praticada por qualquer pessoa. Insensibilização por percussão não penetrante seguida de exsanguinação Aspectos legais: • Em alguns países, o uso rotineiro de equipamento de êmbolo cativo é restrito a abatedores licenciados, porém, a morte por misericórdia pode ser praticada por qualquer pessoa. Insensibilização por percussão não penetrante seguida de exsanguinação. Vantagens: A transferência de energia através do crânio aos tecidos nervosos resulta em rápida insensibilização. É usada em animais de grande porte como gado, ovinos e cabras, contidos individualmente. Após a insensibilização, o animal pode ser removido do recinto de insensibilização para a matança através de exsanguinação. Desvantagens: É importante que o procedimento seja executado por uma pessoa treinada no uso e posicionamento correto da pistola. O intervalo entre insensibilização e matança deve ser curto (segundos, não minutos) para assegurar que o animal não recupere a consciência. Aspectos legais: Em alguns países, o uso rotineiro de equipamento percussor não penetrante está restrito a abatedores licenciados, porém, morte por misericórdia pode ser praticada por qualquer pessoa. Insensibilização elétrica seguida de exsanguinação Aspectos legais: Em muitos países, o uso de insensibilização elétrica para matança rotineira está restrito a abatedores licenciados e a eutanásia de ovinos e suínos com este equipamento, em caso de epidemia, deve ser executada por pessoal treinado Vantagens: A insensibilização elétrica pode induzir inconsciência muito rapidamente (aproximadamente 200 ms). É geralmente usada em ovinos e suínos. Após a insensibilização, o animal pode ser morto através de exsanguinação ou destruição do tecido nervoso da cabeça e medula. A insensibilização elétrica é o melhor método de eutanásia para grandes números de animais em fazendas, por exemplo no caso de uma epidemia. Desvantagens: O uso de insensibilização elétrica requer equipamento que geralmente só se encontra disponível em abatedouros. Este equipamento pode ser transportado em casos de eutanásia a campo. Treinamento específico para o uso do equipamento é essencial. Aspectos legais: Em muitos países, o uso de insensibilização elétrica para matança rotineira está restrito a abatedores licenciados e a eutanásia de ovinos e suínos com este equipamento, em um caso de epidemia, deve ser executada por pessoal treinado. Matança por percussão de pequenos mamíferos, aves e peixes Aspectos legais: • O uso de matança por percussão para animais de laboratório é regulamentado • Na Grã-Bretanha, por exemplo, pelo Decreto de Procedimentos Científicos em Animais, de 1986. Vantagens: Mamíferos pequenos (< 1 kg), pequenos répteis (< 500 g), pequenas aves (< 250 g) e peixes podem ser efetivamente insensibilizados/mortos usando um bastão curto e pesado ou batendo a cabeça contra uma superfície dura. A morte tem de ser verificada através da parada da circulação. Peixes devem ser exsanguinados através de corte de guelras após a insensibilização. Desvantagens: O treinamento na utilização da percussão e na contenção do animal é importante para assegurar a insensibilização/morte na primeira tentativa. Aspectos legais: O uso de matança por percussão para animais de laboratório é regulamentado - na Grã-Bretanha, por exemplo, pelo Decreto de Procedimentos Científicos em Animais, de 1986. No Brasil, a Resolução CFMV Nº 714, de 20 de junho de 2002, que dispõe sobre procedimentos e métodos de eutanásia em animais, recomenda os seguintes métodos: a) Roedores e outros pequenos mamíferos - barbitúricos, anestésicos inaláveis, CO², CO, cloreto de potássio com anestesia geral prévia; b) Répteis - barbitúricos, anestésicos inaláveis (em algumas espécies), CO² (em algumas espécies); c) Aves - barbitúricos, anestésicos inaláveis, CO², CO, pistola; d) Peixes - barbitúricos, anestésicos inaláveis, CO², tricaína metano sulfonato (TMS, MS222), hidrocloreto de benzocaína, 2-fenoxietanol. Uso de pistola Para cavalos e burros, na impossibilidade de superdosagem de barbitúricos, o uso de pistola é um método de matar esteticamente aceitável e humanitário Quando a aplicação de uma superdosagem de barbitúricos em cavalos ou burros não for possível, o uso de pistola é um método esteticamente aceitável e humanitário de induzir a morte. O método provoca insensibilidade imediata e causa dano irreversível ao tecido nervoso resultando em morte. Muitos cavalos e burros são eutanasiados com este método, mas é preciso que seja executado por uma pessoa competente, usando a arma adequada, assim como ser considerada a segurança das pessoas e de outros animais. No Brasil, a Resolução CFMV Nº 714, de 20 de junho de 2002, recomenda, em relação aos cavalos, o uso de barbitúricos, cloreto de potássio com anestesia geral prévia e pistola de ar comprimido. Tiro com espingarda Aspectos legais: Em muitos países, posse e uso de armas de fogo são controlados por lei. Vantagens: Adequado somente para espécies silvestres ou para espécies não contidas (ou de contenção impossível) como cervídeos, búfalos, gado selvagem e para espécies criadas em zoológicos. A eutanásia pode ser praticada “a campo”, sem necessidade de transporte ou contenção. Desvantagens: O treinamento, exatidão e escolha da arma adequada são essenciais. Tiros na cabeça, no coração ou no alto da nuca induzem rápida inconsciência e morte, mas ferir sem matar pode causar sofrimento sério. O uso de armas de fogo pode representar um verdadeiro perigo a outros animais e pessoas na vizinhança. Aspectos legais: Em muitos países, posse e uso de armas de fogo são controlados por lei. A recomendação, no Brasil, através da Resolução CFMV Nº 714, de 20 de junho de 2002, para animais selvagens de vida livre é o uso de barbitúricos intra-venosos (IV) ou intra-peritonais (IP), anestésicos inaláveis, cloreto de potássio com anestesia geral prévia. Diante da total impossibilidade do uso dos métodos recomendados para esses animais, a Resolução admite o uso dos seguintes métodos (“aceitos sob restrição”): CO², CO, Nitrogênio (N²), argônio, pistola de ar comprimido, pistola, armadilhas (testadas cientificamente). Para animais de zoológicos, os métodos recomendados são: barbitúricos, anestésicos inaláveis, CO², CO, cloreto de potássio com anestesia geral prévia. Um tiro pode ser um método eficiente de morte por misericórdia para animais em uma emergência Vantagens: Animais de grande porte, especialmente animais de fazendas, podem precisar ser sacrificados se, por exemplo, ficarem seriamente feridos em acidentes de trânsito nas rodovias ou caírem em armadilhas. Uma espingarda usada de uma distância de 30 cm, apontada para a testa, entre os olhos e as orelhas (ver o ponto exato para cada espécie no módulo 22), é um método eficaz de eutanásia. Desvantagens: O uso de espingardas a distância ou por outras razões a não ser emergência não é recomendado. Por questão de segurança, deve ser mantida uma distância de 30 cm do animal. Aspectos legais: Posse e uso de armas de fogo são controlados por lei em muitos países. Para alguns animais o melhor método de eutanásia não está claro Para pequenos cetáceos encalhados – superdosagem de etorfina ou barbitúricos ou tiro de espingarda na cabeça. Para maiores cetáceos encalhados – nenhum método confiável de eutanásia humanitária disponível Para cetáceos pequenos encalhados é possível usar uma superdosagem de etorfina ou barbitúricos. Uso de espingarda também é possível, mas deve-se procurar a opinião de especialistas (RSPCA – Cetáceos encalhados – Guia para médicos veterinários). Para cetáceos maiores, nenhum método de eutanásia confiável está disponível. A pressão da sociedade para preservar e resgatar mamíferos marinhos é grande e a expectativa do público é que sejam protegidos de dano a qualquer custo, inclusive evitando a eutanásia. Entretanto, como no caso de qualquer outro animal, é necessário avaliar o seu potencial de sofrimento, evitando-se tentativas prolongadas e fora da realidade de relançar ao mar um animal moribundo, idoso ou severamente ferido, quando o ato mais humanitário teria sido eutanásia sem demora desnecessária. Deslocamento cervical de aves Deslocamento cervical é amplamente usado para matar aves, mas não é considerado um método “ideal” Deslocamento cervical é amplamente usado para matar aves, mas não é considerado um método ideal. Recentes pesquisas demonstraram que, enquanto o deslocamento cervical rompe o tecido nervoso medular, o fornecimento de sangue para o cérebro pode continuar por um período significativo, causando sofrimento. Uma alternativa para o deslocamento cervical para aves é um golpe deferido com um aparelho mecânico especialmente desenhado que, além de induzir inconsciência, leva à morte por destruição irreversível da função cerebral. Um aparelho deste tipo pode ser visto em www.awtraining.co.uk. No Brasil, o deslocamento cervical para a eutanásia de aves não é método recomendado, sendo aceito sob restrições (é permitido somente diante da total impossibilidade do uso dos métodos recomendados) através da Resolução CFMV Nº 714/2002. Os métodos recomendados pelo CFMV são: barbitúricos, anestésicos inaláveis, CO², CO e pistola. Métodos de eutanásia considerados NÃO aceitáveis internacionalmente Congelamento Afogamento Inanição Imersão em etanol Uso de equipamento de microondas não especializado Injeção intra-peritoneal de barbitúricos (em geral) Utilização de gás (induzindo intoxicação ou anoxia) Decapitação (em geral) Os seguintes métodos de eutanásia NÃO são recomendados: • Congelamento (morte lenta) • Afogamento (medo, estresse, aversivo) • Inanição (morte muito lenta) • Imersão em etanol (medo, estresse, aversivo) • Uso de equipamento de microondas não especializado (aquecimento local não controlado) • Injeção intraperitonial de barbitúricos (em geral muito doloroso porque o agente irrita os tecidos do peritônio) • Utilização de gás (indução de intoxicação ou anóxia, provocando medo e ansiedade durante a indução) • Decapitação (em geral e, particularmente, em espécies de grande porte, o corte do pescoço não pode ser executado dentro de um espaço de tempo que possa ser considerado “imediato” e em animais como aves e répteis há possibilidade do animal permanecer consciente) Outros métodos considerados inaceitáveis quando utilizados sozinhos incluem indução de embolia, queimar, uso de cloridrato, clorofórmio, cianeto, descompressão, formalina, produtos químicos de uso doméstico e solventes, agentes bloqueadores do sistema neuromuscular, hipotermia, enforcamento, espancamento, estricnina e agentes curariformes. O avanço da ciência do bem-estar animal indica que os métodos aqui relacionados têm potencial de causar dor, estresse ou uma morte lenta Uma “classificação” dos métodos de eutanásia Para o animal individual podendo ser contido adequadamente – recomenda-se barbitúrico intravenoso (particularmente para cães e gatos abandonados) Para cavalos e burros – recomenda-se superdosagem de barbitúrico ou uso de pistola Para animais de fazenda de grande porte – uso de corredor/tronco e pistola de lança penetrante seguido de exsanguinação ou destruição de medula espinhal Para animais de grande porte “livres” - tiro exato na cabeça, coração ou nuca é uma solução que combina eficiência com o fato de evitar o estresse da captura. Para grupos de animais em epidemias (aves, suínos) – insensibilização seguida de exsanguinação devem ser consideradas Quais métodos de eutanásia podem produzir uma “morte boa”? • Para um animal individual que pode ser contido adequadamente, administração intravenosa de barbitúricos provavelmente é a melhor opção para uma “morte boa”. Este método é recomendado para cães e gatos abandonados. • Para cavalos e burros recomenda-se superdosagem de barbitúricos ou uso de pistola. • Para animais de fazendas de grande porte, uso de corredor/tronco e insensibilização com pistola de lança penetrante, seguido de exsanguinação ou destruição de tecido nervoso, garantem rápida perda de sensibilidade e morte. • Para animais “livres” de grande porte, tiros executados com exatidão na cabeça, coração ou nuca são uma solução que combina eficiência com o fato de evitar o estresse da captura. • Para situações que envolvam grupos grandes em epidemias (aves, suínos), devem ser consideradas a indução de inconsciência seguida de exsanguinação (para aves maiores como perus) ou insensibilização/morte por pistolas mecânicas (galinhas, patos). Eutanásia no Brasil Resolução Nº 714 do CFMV A Resolução Nº 714, de 20 de junho de 2002, do Conselho Federal de Medicina Veterinária, dispõe sobre procedimentos e métodos de eutanásia em animais no Brasil. Esta resolução deve ser considerada por todos os médicos veterinários, em todas as áreas de atuação, quando da necessidade de matar um animal. São relacionados os métodos recomendados e aqueles aceitos com restrições, que só devem ser empregados diante da total impossibilidade do uso dos métodos recomendados. Os métodos considerados inaceitáveis são enumerados no artigo 14. Art. 14. São considerados métodos inaceitáveis: I - Embolia Gasosa; II - Traumatismo Craniano; III - Incineração in vivo; IV - Hidrato de Cloral (para pequenos animais); V - Clorofórmio; VI - Gás Cianídrico e Cianuretos; VII - Descompressão; VIII - Afogamento; IX - Exsanguinação (sem sedação prévia); X - Imersão em Formol; XI - Bloqueadores Neuromusculares (uso isolado de nicotina, sulfato de magnésio, cloreto de potássio e todos os curarizantes); XII - Estricnina. Parágrafo único. A utilização dos métodos deste artigo constitui-se em infração ética. Comunicação com o cliente sobre a morte do seu animal Decidir pôr fim à vida de um animal pode ser uma decisão difícil para um cliente A oportunidade de discutir os motivos que levam à decisão pela eutanásia pode ajudar o dono O procedimento deve ser marcado com tempo para conversar e dar explicações e para que o procedimento possa ser executado sem pressa Alguns clientes se sentem culpados depois da eutanásia O cliente deve sentir que a vida e a morte do seu animal foram importantes e que a eutanásia não foi um simples ato de rotina para o médico veterinário. Decidir pôr fim à vida de um animal pode ser uma decisão difícil para um cliente. Pode ser uma decisão difícil para o médico veterinário também, já que ele tem responsabilidade para com o animal assim como para com o cliente (veja módulo 10). Às vezes o custo de manter um animal vivo é um fator decisivo quando um proprietário opta por eutanásia. Sejam quais forem as circunstâncias, a qualidade de vida do animal é muitas vezes a preocupação principal e pode ser muito útil para o proprietário poder discutir os motivos que levam à decisão a favor da eutanásia. O procedimento deve ser marcado para que haja tempo para conversar e dar explicações e para conduzir o procedimento sem pressa. Alguns clientes se sentem culpados depois da eutanásia. Eles podem se sentir egoístas ou insensíveis por ter participado da decisão. Explicar que estes sentimentos são normais e as razões que levaram você a tomar a decisão pode ajudar. O cliente também pode sentir tristeza profunda, principalmente nos casos de animais de estimação. Os clientes devem sentir que a vida e a morte do seu animal foram importantes e que a eutanásia não foi um simples ato de rotina para o médico veterinário. Conclusão Dependendo do uso do animal e se ele é tratado como indivíduo ou como parte de um grupo, diferentes critérios para a eutanásia podem ser aplicados Métodos de eutanásia podem ser avaliados seguindo diferentes critérios Determinados métodos de sacrifício não são humanitários e nunca devem ser praticados Comunicação competente com o cliente antes da eutanásia é importante Referências bibliográficas 2000 Report of the AVMA Panel on Euthanasia http://www.avma.org/resources/euthanasia.pdf WHO/WSPA, 1990: Guidelines for Dog Population Management. RSPCA, 2000: Stranded Cetaceans – Guidelines for Veterinary Surgeons. CLOSE, B. et al, 1997: Recommendations for euthanasia of experimental animals, Laboratory Animals 31, 1-32 GLATSON, A. R., 1998: The control of zoo populations with special reference to primates. Animal Welfare 7, 269-281 LAMBOOY, E. et al, 1985: “Euthanasia of mink with carbon monoxide” Veterinary Record 116, 416 SINGER, P., 1989: “All animals are equal”. Animal Rights and Human Obligations. Prentice Hall.
Compartilhar