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HUMO I ut.t lJIl TUDOQUE.-VOCEPRECISASABERSOBRE PARANUNCAPASSARO HA Os Manuais do Blefador Administração Antiguidades Arqueologia Arte Moderna Balé Blefe (manual geral do blefador) Computadores Ecologia Editoração Feminismo Filosofia Jazz Jornalismo Lecionar Literatura Marketing Matemática Música Ocultismo Ópera Oratória Predição do Futuro Propaganda Sedução Sexo Teatro Televisão Vinhos Whisky MANUAL DO BLEFADOR TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE ARQUEOLOGIA PARA NUNCA PASSAR VERGONHA PAUL BAHN Tradução e adaptação de SYLVIO GONÇALVES Este livro é uma adaptação do original inglês BluffYour Way inArchaeology por Paul Babn @ da tradução e da adaptação, Ediouro S.A., 1993 SUMÁRIO HAC 2354 Introdução, 6 O que é arqueologia?, 6 Ser um arqueólogo, 8 Tipos de arqueólogos, 14 Arqueologia de campo, 17 Encontrando sítios, 17 Escavação, 18 Leis fundamentais, 23 Levantamentos topográficos, 24 Resgate, 25 Os especialistas, 26 Datação,28 Interpretação, 30 Maldições, 31 Fraudes, 33 Arqueologia impressa, 37 Estratagemas, 39 Alguns nomes para conhecer, 42 Campos de especialização, 48 Arqueólogos famosos, 57 Glossário, 62 ISBN 85-00-92354-7 EmoURO S.A. ($u:)r.-.daBdllor.T.c:nopriItS.A.) SEDI: DI!P. DE VIlNDAS E ExpEDIÇÁo RUA NOVAJERUSAIbI, 345 - RlO DEJAI/EIRO - RJ CORRESPONDeNCIA: CAIXA POSTAL 1880 CEP20001-970 - Rio DE JAI/EIRO - RJ 1'l!L.: (02I)2/iO.ó122 INTRODUÇÃO o QUE É ARQUEOLOGIA? Se História é cascata, arqueologia é sucata. Essa profissão bizarra consiste em procurar, restaurar e estu- dar os refugos deixados pelos seres humanos do passa- do. Os arqueólogos são, portanto, o oposto preciso dos lixeiros, embora costumem vestir-se de forma semelhante. . As pessoas an~igas* não tinham como suspeitar que o lixo do qual se livraram tão prontamente seria um dia resgatado por esses mercadores científicos de trastes e ossos. Se tivessem suspeitado, teriam tomado melhor cuidado com suas coisas e prendido etiquetas para clas- sificar o objeto e o que faziam com ele. Como não fize- ram isso, os arqueólogos precisam descobrir tudo sozi- nhos. A arqueologia é como um enorme e perverso que- bra-cabeças inventado como instrumento de tortura pelo demônio, pois: a) nunca pode ser terminado b) você nunca sabe quantas peças estão perdidas c) a maior parte delas está perdida para sempre d) você não pode trapacear olhando a tampa da caixa. Pessoas pré-históricas nem sempre tiveram a visão de ~sar materiais como pedra ou cerâmica, que sobrevi- venam através das eras, de forma que quantidades ini- magináveis de objetos apodreceram e sumiram. Isso é má notícia para o arqueólogo, mas uma notícia maravi- lhosa para o blefador. Há várias razões para que a arqueologia seja uma área ideal em que se pode tornar-se um blefador completo: ~ Y,m blefador experiente pode obter uma vantagem importante no InICIO d~ qualquer conversa ao se opor ao uso de termos como O Ho- me~ FeIto ~elo Homem, Homem Primitivo, Homem de Neandertal, e assim por diante, por serem tolos e ofensivamente sexistas. Isso abalará por algum tempo o equilíbrio de seu oponente. 1. Na maioria das vezes a evidência está tão dani- ficada que a opinião de alguém é tão válida quan- to a opinião de qualquer outro. Não há como pro- var nada. Quando o assunto é o passado distante, ninguém sabe com clareza. O máximo que pode ser oferecido é um palpite informado. Você de- ve disfarçá-Io sob o título grandioso de "dedu- ção" ou "teoria", ou (ainda mais imponente) "hipó- tese". 2. É particularmente fácil blefar numa conversa so- bre arqueologia com um não-arqueólogo. Isso se deve ao fato de que, embora a maior parte das pessoas manifestem interesse no passado, seus olhos tendem a embaciar depois de ouvir o assunto por alguns minutos. 3. É especialmente fácil nesse ramo fazer-se passar por um expert, repleto de conhecimentos impres- sionantes e esotéricos, porque está cheio de ter- mos obscuros e nomes e lugares exóticos. Mesmo se o grande público tiver ouvido sobre eles, é quase certo de que saberão pouco ou nada a seu respei- to. Será muito útil, portanto, um mínimo de traba- lho de casa. É brincadeira de criança dar a falsa impressão de estar informado, afinal, poucos ousarão desafiar seus fatos e hipóteses. Ante qualquer suspeita de que sua platéia faz parte daquele grande número de pessoas que - graças aos filmes e desenhos animados - acreditam que os primei- ros humanos viveram ao mesmo tempo que os dinossau- ros, utilize essa suspeita como uma oportunidade para um sorriso de escárnio ou um suspiro de pena antes de clarecê-los sobre o intervalo de milhões de anos entre duas formas de vida. Nunca deixe o fato de que nada realmente se sabe obre os acontecimentos passados interpor-se em seu minho: use-o como vantagem. Alguns arqueólogos imi- ntes construíram carreiras sobre blefes convincentes. SER UM ARQUEÓLOGO São necessárias qualidades muito especiais para devotar-se a problemas sem solução e a remexer no lixo de gente morta: palavras como "masoquista", "abelhu- do" e "louco de pedra" logo vêm à mente. É por isso que a excentricidade é o rótulo da profissão. Assim como a dependência ao álcool (na verdade, arqueologia podia ser sinônimo de alcoolismo). Pode-se atribuir esse fato tanto à necessidade de afogar as mágoas frente à incapa- cidade de chegar a soluções como simplesmente a es- quecer o constrangimento em praticar uma profissão ri- dícula por natureza e quase sempre fútil. A imagem popular dos arqueólogos é de uma turma de doidos ou párias cobertos de poeira e teias de aranha. O blefador, entretanto, afirmará, com um sorriso inteli- gente, que isso nem sempre é verdade: alguns deles são apenas distraídos e há até aqueles que se mantêm limpos. Pode-se reconhecer o arquétipo do arqueólogo pela barba, pelo cachimbo curvo, o casaco ou camisa estam- pada deselegante, e pelas sandálias ou botas de cami- nhada - e estamos falando apenas das mulheres. O ca- chimbo costuma ser afetação, um artifício clássico de blefe, usado para transmitir a idéia falsa de que o ar- queólogo é um verdadeiro Sherlock Holmes. A barba empresta um ar de sabedoria e maturidade, mas não pas- sa de um meio para obter cinco minutos a mais na cama. Os casacos servem para ocultar as barrigas protuberan- tes (conseqüentes ao excesso de cerveja), enquanto as camisetas apenas as acentuam. As roupas e calçados dependem da temperatura, das condições e das finanças, e muitas vezes não são troca- dos por dias ou semanas a fio. Deve-se fingir acreditar que isso se deve à distância de uma fonte de água ou toalete, e não a um baixo padrão de higiene pessoal, ou a pura falta de interesse. A maior parte dos arqueólogos, quando inquirida sobre o motivo de devotar as vidas à área, fará conside- rações poéticas sobre: • sua paixão pelo passado • seu desejo de prestar uma modesta contribuição à restauração da história do desenvolvimento hu- mano. Alguns irão até mesmo afirmar que, como Schliemann, a arqueologia foi seu único objetivo de vida desde a infância. Não acredite numa palavra: como bom blefador, deve estar apto a reconhecer egocentrismo a vinte passos. Se um grupo de arqueólogos fosse transportado ao passado numa máquina do tempo, as chances são de que ficariam completamente estupidificados dentro de poucas horas e começariam a gritar por um ar-condicionado, cerveja boa, e sua própria versão de como as coisas seriam no passado. Na verdade, a maior parte das pessoas é atraída pela arqueologia por uma variedade de razões mais práticas. Aqui estão as cinco principais. 1. Às vezes pode ser bastante divertido - já foi definida como a coisa mais divertida que se pode fazer vestido. 2. A perspectiva de atividade/aventura, viagens e encontro com pessoas do sexo oposto. Se você não tem paciência de perder tempo sentado numa praia lendo um livro policial e quer distância dos pacotes de turismo, então a arqueologia de campo pode ser uma boa solução. A maioria dos direto- res de campo insiste que você se aliste pelo me- nos por uma quinzena. Assim não pode fugir hor- rorizado ao descobrir que você é apenas um tra- balhador mal pago, preso a um grupo de pessoas igualmente cansativas, e a maior parte delas le- vando seu trabalho a sério. 3. Fazer um curso universitário que costuma ser con- siderado mais fácil que a maioria. Ao fim dele, alguns estudantes decidem continuar para tirar um Ph.D., tanto porque não pensam em nada melhor 9 para fazer, como por falta de coragem de encarar o mundo real e procurar um trabalho de verdade. Muitos abandonam o curso. Daqueles que conse- guem seu Ph.D., a maioria descobre que o merca- do de trabalho em arqueologia é nulo, que desper- diçaram vários anos, e que tudo o que resta a fa- zer é estudar para ser contador ou fiscal de impos- tos. Neste ponto, sua paixão pelo passado esvanece rapidamente, tendo seu lugar ocupado pela cor- rupção e pela meia-idade. 4. Conseguir um meio de vida (não-recomendado a- , nao ser que suas necessidades materiais sejam mí- nimas? Com disse ChampoIlion, a arqueologia é uma linda amante, mas seu dote é pobre. 5. Fazer uma carreira. Isso não é fácil, pois a carrei- ra de um arqueólogo já começa em ruínas. Uma carreira arqueológica é considerada um suces- so se o arqueólogo se torna: • uma celebridade nacional (raro) • uma celebridade internacional (muito raro) • ou rico (extremamente raro - "riqueza" e "car- reira arqueológica" são quase termos contraditó- rios). Normalmente consegue-se isso através de uma des- coberta c?m. apelo popular. Virtualmente, todo arqueó- logo protíssíonaí da atualidade afirma não ser caçador de .tesouros, mas um cientista buscando informação, não objetos. Portanto, em qualquer conversa a respeito de tes?uros individuais, o blefador pode marcar pontos en- fatizando, com grande condescendência, que os arqueó- logos da atualidade não cavam para encontrar coisas, mas para descobrir coisas. Embora isso seja verdadeiro na maioria dos casos é amb~m justo afirmar que qualquer arqueólogo fica:ia ufónco e.m encontrar alguma coisa que não apenas se vela se Importante para a área, como também estimu- a imaginação do público. E como pouquíssimas descobertas (apresentadas seriamente) provocariam mais do que um bocejo contido no espectador de tevê ou no leitor de jornais sensacionalistas, tais descobertas preci- sam ser maquiadas com superlativos de blefador: o pri- meiro, o mais antigo, o maior, o mais bem preservado, o mais rico, o mais espetacular de sua espécie. Outro recurso eficaz constitui associar a descoberta a um tópico sempre popular, como: 11 • sexo • violência • canibalismo. Não se esqueça: como o público se importa pouco com ancestrais anônimos, é crucial ligar a descoberta a uma figura lendária ou bem conhecida, preferivelmente de sangue azul (Rei Arthur é o grande favorito). A des- coberta do enésimo esqueleto romano ou pote peruano não despertará nenhum interesse, mas se você apresentá- Ia como a provável avó de Júlio César ou como a escar- radeira de Atahualpa, conseguirá chegar aos noticiários, e talvez aos programas de entrevista. Seus colegas de- monstrarão desprezo, mas ficarão verdes de inveja com a projeção e o aumento de receita que esse tipo de coisa lhe proporcionará. Como blefador, você deve desprezar esse tipo de busca de atenção como "farfalhice de carreiristas ambi- ciosos e sem escrúpulos". Se você mesmo for acusado disso, explique que, infelizmente, esse tipo de coisa é necessária para manter o prestígio da arqueologia frente ao público, sendo com grande relutância que permite que a mídia distorça seu trabalho. Obviamente, não tem nenhuma intenção de impulsionar sua carreira. Não será surpresa descobrir que qualquer um que scolha a arqueologia como profissão é, ou precisa tor- nar-se, um blefador consumado. Os estudantes são blefadores novatos, tentando apren- d r os rudimentos da área para blefar para passar nos xarnes e conseguir uma carreira ou, ao menos, um di- ploma. Isso requer certa quantidade de estudo e redação mas também um pouco de trabalho em sítios arqueológi- cos para ganhar experiência e a estima dos professores. Os conferencistas possuem uma grande carga horá- ria de ensino, não se pode esperar que pensem e sejam originais ao mesmo tempo. São blefadores com muita prática em convencer que sabem muita coisa nesse cam- po de interesse em particular, e que não decoraram tudo às pressas na noite anterior. Ao contrário de conferen- cistas em outras áreas, seu trabalho de verdade começa nas férias de verão, quando realizarão um pouco de pes- quisa, dirigirão algum trabalho de campo, ou tentarão adiantar um pouco o livro que escrevem há anos. Têm como objetivo principal conseguir um salário melhor e reduzir sua carga de trabalho, tornando-se: Acadêmicos sênior, isto é, blefadores avançados. Uma vez que tais alturas estonteantes tenham sido atingidas, é possível sentar-se e descansar sobre os louros. Por exemplo, um arqueólogo chefe de departamento no nor- te da Inglaterra não fez absolutamente nada desde sua tese, há vinte anos, o que lhe valeu o apelido de "trom- bose", o coágulo que bloqueia o sistema. Outros disfar- çam, produzindo regularmente variações do mesmo tra- balho. Um ou dois mantêm-se animados e inventivos, produzindo trabalhos interessantes, mas essas exceções não têm lugar num livro de blefe. Repare que nenhum arqueólogo, nessas posições ou ainda em outras mais avançadas, dará um grama de gló- ria às profissionais mais importantes na arqueologia aca- dêmica, as secretárias, já que são as pessoas mais sãs da área, fazem todo o trabalho pesado, e sem elas a maior parte dos acadêmicos e departamentos simplesmente rui- riam. Arqueólogos profissionais precisam fazer voto de pobreza, embora não (felizmente) de castidade. A maio- ria prefere substituir rendimentos por influência e ócio. Sendo magros de bens (embora gordos de corpo), cons- tantemente precisam suplicar e esmolar para poderem: 12 a) fazer o trabalho de campo b) comparecer a conferências c) ter seus trabalhos publicados. Você deve saber que essas práticas nunca revelam a verdade sobre o baixo grau de importância ou originali- dade do projeto, mas acentuam a natureza potencial e fascinante do trabalho. É triste, mas verdadeiro, dizer que: • A única forma de se conseguir fazer bom dinheiro com arqueologia é blefar de forma a tornar-se professor universitário. • A única forma de se fazer dinheiro alto é vestir jeans apertados, deixar a barba por fazer e a cami- sa entreaberta, ir à televisão e blefar de forma a fazer com que o público pense em você como um especialista na área. • A única forma de se fazer grandes quantidades de dinheiro é escrevendo A Tribo da Caverna do Urso. 13 TIPOS DE ARQUEÓLOGOS Há basicamente duas categorias: o arqueólogo de campo e o arqueólogo de poltrona. Os arqueôlogos de campo são normalmente chama- dos "arqueólogos sujos", termo que não se aplica neces- sariamente às suas mentes ou aparências (bem, às ve- zes). São aqueles que realmente saem para cavar e de- marcar para obter alguma evidência que possa ser investigada. Também tentam fortalecer sua nova ima- gem de "homens de ação" manejadores de chicotes, normalmente com grande fracasso. A maioria dos arqueólogos de campo sabe blefar de forma a fazer com que pensem que seu trabalho é exci- tante, cheio de emoções. Mas é bom que você saiba que, exatamente como o mundo do cinema ou da fotografia de moda, pode parecer glamouroso e desafiador quando visto de fora, mas se você experimentar, logo irá desco- brir os longos períodos nos quais nada acontece. Há compensações, claro: poucas são as profissões que permitem que você viaje regularmente a regiões exóti- cas com uma turma de jovens lascivas, ansiosas em se divertir e obter notas altas. Esse é o mesmo motivo pelo qual as esposas - sofredoras não-arqueólogas - sen- tem-se compelidas a irem também. Arqueólogos de campo estão sujeitos a queimaduras de sol, picadas de insetos, bolhas nos pés e nos joelhos, e ressacas. Os arqueólogos de poltrona escolhem seu papel por uma variedade de razões: ócio, incompetência, falta de vontade de sujar as mãos, ou aversão à luz do sol. Sustentam a imagem tradicional dos arqueólogos como velhos tontos ou, em muitos casos, como jovens tontos. Como não podem, ou não obterão evidência para si mes- mos, precisam voltar-se para outras pessoas. Não obs- tante, conseguem atingir eminência real na área através da prática de um tipo especial de blefe conhecido como "teoria arqueológica", o que é feito de várias formas: 1. Você compensa sua falta de informação questio- nando o conhecimento de todos que o cercam: • Como estava o mamilo do sítio? • Quão representativo era o espécime? 2. Desvia a atenção de sua própria carência de idéias e soluções atacando aqueles que tentam fazer al- gum trabalho e tentando demolir toda sua aborda- gem do assunto. Toda essa fanfarronice e admoestação tem pago di- videndos fantásticos a muitas carreiras, particularmente dentro da "Nova Arqueologia". Se você é suficiente- mente loquaz, rude e agressivo, gerações de estudantes o tratarão com respeito e deferência extraordinários. A isso se chama "a síndrome do babuíno alfa", pois os macacos conquistam o comando com o mesmo tipo de blefe. Mas comportamento por si só é insuficiente: será realmente preciso dizer ou publicar alguma coisa, e esta uma área de blefe intenso. Arqueólogos teóricos (ou "Os Mortos-Vivos", conforme são conhecidos) produ- z m quantidades enormes de papéis e livros, repletos om: a) jargão impressionante b) palavras longas c) equações matemáticas d) diagramas complicados que envolvem montes de linhas, arcos e colunas. Poucas pessoas chegarão a ler esse material além de urros teóricos tentando manter-se atualizados com no- vu. jargões (e procurando algo novo para atacar) e aque- I tudantes suficientemente infelizes para terem os utorcs entre seus professores. onseqüentemente, pouquíssimas pessoas chegam p r cber que a maior parte do texto é inexpressiva, as 15 equações desenxabidas, e os diagramas supérfluos, de forma que a indústria continua a funcionar. Este é um exemplo genuíno de um trabalho teórico: "A noção das contradições estruturais resulta numa mu- dança social relativa à operação de variáveis causativas num ní- vel epistemológico diferente daqueles assumidos em análises de variáveis interconectadas e entidades, resultando em processos morfogênicos de retroalímentação." A despeito de sua sofisticação aparente, este tipo de blefe é notavelmente fácil: basta aprender algumas pala- vras-chave como cognitivo, interpretativo e operacionável; em seguida, ligue-as com jargões apropriados, como es- truturalista, processual ou mesmo pós-processual (não se preocupe sobre o que isso significa - ninguém mais sabe ou sequer se preocupa com isso), e poderá prosse- guir alegremente até que sua platéia/leitores cochilem ou fujam aterrorizados. Caso venha a confrontar-se com um número assus- tador de arqueólogos teóricos (dois), tente primeiro falar positivamente sobre os méritos do trabalho de campo. Se persistirem, tente citar a máxima de Kant de que "conceitos sem percepções são vazios" (isto é, você não pode dominar o todo sem dedicar-se a algumas minúcias - em outras palavras, saia e vá fazer algum trabalho de verdade). Uma crítica vinda de um filósofo alemão deve atingi-I os no coração, ou pelo menos estonteá-los por tempo suficiente para que você dê alguma desculpa e fuja. Os arqueólogos de poltrona tendem a contrair úlce- ras, egomania e ressacas permanentes. A diferença pode ser explicada de forma muito sim- ples: arqueólogos de campo desencavam lixo, arqueólo- gos teóricos escrevem o seu próprio. 16 ARQUEOLOGIA DE CAMPO Em algum momento de suas carreiras, a maior parte dos arqueólogos, com a exceção dos teóricos, realmente sai e tenta obter alguma informação nova. ENCONTRANDO SíTIOS A forma mais simples de encontrar sítios é pergun- tando a alguém que saiba onde eles estão. O blefador esperto deve estar ciente de que os sítios mais importan- tes não são encontrados por arqueólogos - na verdade, são achados acidentalmente por fazendeiros, trabalha- dores de construção ou fotógrafos aéreos; sítios subma- rinos são descobertos por pescadores e mergulhadores; cavernas são achadas por crianças (no caso de Lascaux), e até mesmo por cães (no caso de Altamira). Os ladrões profissionais de túmulos (diga huaqueros no México, tombaroli na Itália) são mais aptos a descobrirem túmu- los antigos que qualquer arqueólogo. Entretanto, é o úl- timo que investiga os sítios e quem obtém toda a publi- cidade e glória. A área em particular na qual escolhem para traba- lhar é supostamente selecionada de forma a responder perguntas de relevância específica de seu interesse de pesquisa. Na prática, as razões reais dependem de um ou de todos os fatores abaixo: • clima • presença de um amante • piscinas • bares da região. Por essas razões, a França é particularmente popu- r. Também oferece comida soberba e uma sensível ndência francesa a colocar tetos sobre as escavações. Outro fator importante é a situação política - guer- não é um cenário saudável para trabalho arqueológico campo. Esse é o motivo pelo qual a maioria dos ar- 17 queólogos americanos deixou o Irã quando o Aiatolá subiu ao poder. Infelizmente, muitos resolveram mudar- se para o (temporariamente) seguro Afeganistão. Seja qual for a área, há duas formas principais de obter informações novas: escavação e levantamento to- pográfico. ESCAVAÇÃO O público pensa que os arqueólogos passam a maior parte de seu tempo cavando. Na verdade, não são todos os que cavam, e apenas uns poucos cavam todo o tempo. O blefador deve saber explicar condescendentemente que processar e analisar descobertas costuma levar mais tempo que a escavação em si, sendo, portanto, apenas o estágio preliminar: os meios para um fim, não o próprio. Qualquer escavação que esteja ao alcance do públi- co costuma ser visitada com freqüência irritante por ci- dadãos honestos que pensam que elas existem para sua diversão. Devem ser tratados com a maior cortesia e respeito no caso de: a) tencionar contribuir financeiramente para o pro- jeto, ou b) estar ligados a alguém importante, com poderes para encerrar o trabalho. Dependendo de sua opinião a respeito dos visitan- tes, os diretores devem atribuir aos cavadores mais char- mosos (ou mais chatos) a tarefa de conceder visitas guia- das. Os próprios diretores assumirão essa tarefa apena para VIPs. Como os visitantes normalmente possuem alcance li- mitado de questões e comentários, os blefadores devem estar familiarizados com as mais comuns, de forma a prepa- rar respostas dignas de G. B. Shaw ou Oscar Wilde: • E aí, acharam algum ouro? • Continuem que vão acabar chegando à Austrália, rá-rá. 18 • Qual é a idade disso? Como você sabe? • Por que as pessoas viviam em buracos no chão? • Perdeu suas lentes de contato, hein? • Aquilo ali é um osso de dinossauro? • Quando vocês acabarem, que tal cavar meu jar- dim? • Ei Indiana, onde estão o chapéu e o chicote? • O que fazem quando chove? • Acho o Michael Wood ótimo, e você? Já foi dito que não existe uma forma usual ou corre- ta de se cavar um sítio, mas um monte de formas erra- das. Essa é uma informação valiosa para o blefador no comando de um projeto desse tipo. Você pode desprezar quaisquer críticas a respeito de métodos por serem inaplicáveis às circunstâncias particulares e únicas, pre- sentes no sítio. Na verdade, existem duas formas básicas de proce- der à escavação: Verticalmente (para ver as diferentes camadas), e Horizontalmente (para expor áreas mais extensas de uma camada em particular). A maioria dos diretores mantém estratégias flexí- veis de forma a tirar vantagem de qualquer circunstância pecial que se apresente, ou para camuflar quaisquer rros que possam ser cometidos. É bom saber, portanto, uc em vez de serem cuidadosamente planejadas desde início, a maioria das escavações prossegue de forma tabanada, na base do cavar, errar e tentar de novo. Entretanto, é aconselhável obter o máximo possível informação a respeito do que existe embaixo da su- rfície antes de começar a cavar. Isso ajuda a evitar o ibaraço de: a) descobrir que está cavando no lugar errado b) não encontrar nada 19 c) descobrir mais do que estava preparado para des- cobrir. Portanto, toda uma variedade de equipamentos e téc- nicas sofisticadas deverá ser utilizada, o que permite aos estudantes mais tecnicamente orientados produzir ma- pas vagos a respeito do que existe embaixo do solo. Esses glorificados detectores de metais incluem magne- tômetros, medidores de resistência específica do solo e diversos outros modos de passar energia através do chão. Caso os recursos não permitam isso, pode-se introduzir sondas no solo a intervalos freqüentes. Há alguns anos, um arqueólogo inglês acabou cavando pelo subsolo londrino por não ter encontrado um sítio adequado. Em toda escavação encontramos uma série de per- sonagens comuns. O diretor de escavação é um tipo de general. Ele (na maior parte das vezes é um ele) planeja a estratégia ge- ral, mas deixa todo o trabalho pesado para a infantaria, tratando apenas com a papelada: suprimentos, contas, permissões, cartas de solicitação e daí em diante. Os supervisores de sítio ou oficiais - normalmente estudantes graduados - atuam como ligação entre o general e a infantaria e geralmente exercem bastante influência. Ocasionalmente têm alguma noção do que está sendo feito no sítio e por quê. Os cavadores ou infantaria - não-graduados, con- denados locais ou cidadãos voluntários - são bucha de canhão, normalmente cumprindo todo o trabalho cansa- tivo e mantendo-se num estado de ignorância feliz sobre o que está sendo feito e por quê. Surpreendentemente, alguns até mesmo pagam dinheiro para serem tratado dessa forma. Sua tarefa básica é remover areia de um lugar para outro, ocasionalmente peneirando-a antes d amontoá-Ia. Os blefadores precisam saber que durante a mai I parte do tempo ocorre pouquíssima escavação: a areia revolvida com colheres de trolha e varrida para o canto, o que é muito lento mesmo. Na maior parte do mundo () 20 transporte da areia é feito com pás, baldes e carrinhos de mão. No Japão, entretanto, onde a mecanização é pródi- ga, mesmo os sítios arqueológicos menores têm sua areia removida com o auxilio de uma série de esteiras rolantes que conduzem a areia para o local em que será empilhada. Outras tarefas excitantes incluem lavar as descober- tas (em sua maior parte, pedaços de pedra, osso ou va- 'os), escrever pequenos números nelas e desenhá-Ias, mpacotá-las, e catalogá-Ias. Antigamente toda essa in- formação era coletada em cadernos de escavação, junta- mente com mensurações exatas da localização precisa da posição dos objetos no sítio. Não importava tanto se aqueles cadernos eram precisos - notícias confortadoras para o cavador adepto do blefe - já que há poucas oisas que embotem mais a mente do que entender as notações de alguma outra pessoa, de forma que os li- vros normalmente jamais eram examinados de novo. Hoje m dia, nas escavações mais avançadas, essas informa- ões são gravadas diretamente em computadores, o que não apenas significa que as máquinas processam todos o planos de sítio com muito mais facilidade e rapidez que o estudantes, mas também que as informações mais irrele- vantes e inúteis podem ser ignoradas ainda mais rápido. O uso de computadores, claro, também confere à . cavação a ilusão de usar tecnologia de ponta - não mporta que sejam apenas tão úteis e precisos quanto a nforrnação que lhes foi depositada em primeiro lugar, ue por sua vez depende da qualidade e da vigilância o escavadores, assim como dos operadores de compu- dor. Matriciais de computador, mapas e diagramas fa- m seu relatório parecer terrivelmente impressionante profissional, e possuem a vantagem extra de dificultar leitor o exame atento de sua evidência. Alguns diretores - provavelmente aqueles que ti- ram uma infância merecidamente solitária - proíbem u os cavadores falem no trabalho. Isso torna comple- ente intolerável um trabalho que já é chato por natu- . Por viverem dias de trabalho incessantemente te- os, não é de admirar que a maioria dos cavadores 21 deseje secretamente fazer uma descoberta excitante, tal- vez um cadáver, ou mesmo algum tesouro valioso. En- tretanto, isso não é desejável, pois pode atrair multidões ao sítio ou provocar reclamações e ameaças por parte dos moradores da localidade que não queiram que seus ancestrais sejam perturbados. E é claro que sempre há a possibilidade de maldições. Cavadores precisam de joelhos fortes para suportar longas horas de trabalho ajoelhado sobre tábuas ou terra bruta: neste caso, pode ser útil ser católico ou japonês. Pode-se dividir os sítios em dois tipos: 1. Terreno molhado (cheio de mato úmido) 2. Terreno seco (sem nenhum mato úmido). O complexo de superioridade dos arqueólogos de terreno úmido deve-se ao privilégio de encontrar mate- riais perecíveis que teriam se desintegrado em sítios de terreno seco. Em contrapartida, correm o risco de con- trair bicho-do-pé. Os arqueólogos de terreno seco costumam se enxo- valhar muito menos, mas correm risco de contrair pneumoconiose (se o sítio for realmente seco). Trabalhar em qualquer tipo de sítio ajuda a pegar um bronzeado (menos na Inglaterra), desenvolver mús- culos e perder peso (menos na França). Muita gente acha que uma escavação deve parecer uma temporada de 18 a 30 dias numa colônia de férias. Algumas até são, mas na maioria costuma haver um sistema de patentes em operação, com as cavadoras mais atraentes oferecendo assistência primeiro ao diretor, depois aos supervisores, e em último lugar aos camaradas cava- dores. Alguns diretores franceses são famosos por atraí- rem "turmas" de americanas às suas escavações. Nunca admita a alguém de patente mais alta que esta é sua primeira escavação, ou que você não sabe o que está fazendo. Além de ser tão potencialmente emba- raçoso quanto admitir virgindade, uma confissão dessa natureza fará com que lhe dirijam as tarefas humilhantes que as mãos mais experientes procuram evitar, como: 22 • cavar latrinas • fazer café ou ambos. Aconselha-se que seu equipamento e roupas aparen- tem bom uso e você deverá assumir um ar de falsa autoconfiança e negligência sobre todo o empreendi- mento. LEIS FUNDAMENTAIS Existem algumas leis fundamentais na escavação arqueológica com as quais você deveria familiarizar-se: 1. A parte mais interessante do sítio estará sob sua pilha de despojos, ou pelo menos fora da área que escolheu cavar. 2. Você fará sua descoberta mais importante no último dia, quando estará pressionado pelo tempo e pelos fundos (isso é conhecido como a Lei de Howard Carter, que encontrou Tutancâmon imediatamente antes de ter as verbas cortadas por Lorde Carna- von). 3. Encontrar qualquer coisa valiosa dependerá de aumentar sua escavação, e em qualquer caso não será o que você esperava. 4. Na dúvida, abra uma fenda. 5. Só falsifique registros quando for absolutamente necessário: isso é para os blefadores mais cínicos, que confiam no conhecimento de que cada sítio é único, que a escavação o destrói, e que ninguém jamais poderá refazer seu trabalho e provar que você estava errado. isas úteis para levar a uma escavação: • Equipamento de camping • Roupas velhas, incluindo camisas estampadas com a frase "Arqueólogos fazem aquilo em buracos". • Uma colher de pedreiro pontuda (na França, pre- ferem chave de fenda, o que pode lhe dizer algu- 23 ma coisa a respeito dos franceses). Faça a colher parecer suficientemente velha e usada para fazê- 10 passar por veterano. • Repelente de insetos • Seguro (caso uma trincheira desabe sobre você) • Camisinhas • Abridor de garrafas e saca-rolhas. LEVANTAMENTO TOPOGRÁFICO A alternativa de escavação atualmente em voga é o levantamento topográfico. Requer caminhadas sistemá- ticas por um sítio ou terreno, examiná-Io meticulosa- mente à procura de traços arqueológicos de todos os tipos - muros, estruturas, pedaços de pedra ou cerâmi- ca, etc., cuja localização é cuidadosamente mapeada, e seus padrões, estudados. Fãs de levantamento orgulham- se muito de seu trabalho, estando conscientes de que os escavadores consideram levantamento uma relação po- bre, e que a escavação é o único meio de ter certeza de que há vida abaixo da superfície. Na verdade, cada ati- vidade possui forças diferentes: a escavação revela mui- to sobre uma área pequena; o levantamento revela pouco sobre uma área grande. O levantamento é ótimo para se blefar, porque na maioria das vezes os objetos nem mesmo são coletados, tendo apenas sua presença e localização anotadas. Por- tanto, cada levantamento é único e nunca poderá ser repetido com exatidão. Em conseqüência, ninguém pode checar seus dados, e a única forma de desafiar-lhe as afirmações é escavando toda a área na qual realizou o levantamento. Costuma-se considerar o levantamento topográfico como um segundo em qualidade, praticado quando não se possui permissão, verbas ou mão-de-obra para uma escavação. Mas já se concluiu que o levantamento topo- gráfico é mais rápido e muito menos custoso que a esca- vação; é menos destrutivo, e praticamente não requer 24 nenhum equipamento além de mapas, estudantes e cal- çados resistentes. Coisas úteis para levar num levantamento topográfico: • Equipamento de camping • Roupas velhas, incluindo camiseta estampada com a frase "Arqueólogos fazem aquilo sistematica- mente em toda a paisagem". • Chapéu de couro e, dependendo do clima, guar- da-chuva • Uma bússola • Pomada para picadas de insetos • Dicionário de frases locais (verifique os verbetes "Cuidado com o touro", "Cerca eletrificada", "Cam- po minado", etc. RESGATE Algumas pessoas são escavadores profissionais, vin- culados a grupos dirigidos por autoridades regionais. A maior parte de seu trabalho consiste em escavar rapida- mente sítios que se encontram, por diversos motivos, ob ameaça de destruição. Essa atividade requer peque- nas estratégias globais: o material é desenterrado pelo bem dele, para preservá-lo para a posteridade. Seus co- legas acadêmicos que afirmam executar escavações de pesquisa sob planejamento costumam zombar desse tipo de procedimento. Naturalmente, o blefador deve elevar arqueologia de resgate às alturas quando encontrar um pesquisador, e vice-versa. 25 Os ESPECIALISTAS Alguma coisa deve ser feita com toda a informação reunida no campo, e é nesse momento que uma grande quantidade de pessoas, muitas delas fora do próprio ramo arqueológico, são chamadas para fazer seus trabalhos. ESPECIALISTAS EM FERRAMENTAS DE PEDRA Estes indivíduos são responsáveis por dividir peda- ços de pedra trabalhada em categorias diferentes de acordo com sua forma e estilo e tentar adivinhar para que eram usados. Nos últimos tempos esta tarefa tem-se tornado mais fácil devido à observação de resíduos em suas pon- tas, através de microscópios poderosos - a detecção de sangue humano em algumas ferramentas de pedra pré- históricas sugere que alguns trabalhadores eram tão de- sajeitados quanto os atuais. Os blefadores devem evitar piadinhas sem graça em relação a esses profissionais, como dizer que sua ali- mentação principal é sopa de pedra. Poucos especialistas são mais tenazes que aqueles que dedicaram uma vida inteira a pedaços de pedra, mas a eles seguem de perto os: ESPECIALISTAS EM CERÂMICA Como diz o velho ditado inglês, é preciso ser um jarro rachado para amar um jarro rachado, mas, na ar- queologia, pedaços de cerâmica (ou "cacos") são quase tão numerosos e indestrutíveis quanto as ferramentas de pedra, sendo, portanto, uma tremenda sorte que algumas pessoas escolham dedicar-se a essa linha de trabalho. Tentar reconstruir jarros despedaçados é uma tarefa frus- trante e delicada, como um quebra-cabeças tridimensio- nal, especialmente se uma ou várias peças estão faltando ou não se encaixam. Um dos requisitos essenciais para 26 essa atividade é possuir índole serena, pois é muito fácil cometer erros. ZOÓLOGOS Freqüentemente os arqueólogos dependem de zoó- logos para identificar os restos de animais que exumam. A vida dos especialistas em ossos é mais fácil que a de seus colegas botânicos (veja abaixo), pois os fragmentos de ossos são maiores, mais bem preservados e mais ime- diatamente identificáveis que os restos de plantas. Por conseguinte, um número cada vez maior de arqueólogos sente-se capaz de fazer esse trabalho, autodenominando- se "zooarqueólogos" ou "arquezoólogos". O blefador, claro, preferirá sempre a versão alternativa à que estiver sendo usada. Alguns se especializam ainda mais, em ossos de peixe, ou de pássaros ou roedores, ou, ainda, em cascas de moluscos. Caracóis é um assunto particularmente fácil de ser dominado. BOTÂNICOS Os arqueólogos dependem de botânicos para identi- ficar quaisquer pedaços de vegetação que possam ser desenterrados (madeira, sementes, caroços, grãos), não importa quão chamuscados ou saturados de umidade es- tejam. Os botânicos costumam extrair o material com uma sonda depois de retirar sedimentos do sítio através de uma máquina de flotação ou de um filtro. Em segui- da, precisam examinar cuidadosamente esse material anti- go através de microscópios e fazer o possível para tentar entendê-Io. As coisas ficam um pouquinho mais interessantes se mistura vier de um estômago. O Homem de Tollund, o adáver preservado da Idade do Ferro do primeiro sécu- I A.C., que foi descoberto num pântano dinamarquês m um laço em torno do pescoço, possuía uma quanti- de de remanescentes vegetais no estômago, indicando 27 que sua última refeição fora um tipo de mingau compos- to de sementes e grãos. Ao comer uma reconstituição dessa papa insípida, Mortimer Wheeler anunciou que, se era isso que o Homem de Tollund comia em casa, pro- vavelmente cometera suicídio. Alguns botânicos se especializam no estudo de pó- len (o blefador profissional se referirá a eles como polinologistas). Grãos de pólen sobrevivem surpreen- dentemente bem, podendo revelar muito sobre a vegeta- ção e o clima do passado, demonstrando o que estava florescendo em lugares e períodos diferentes. O estudo do pólen é, entretanto, uma disciplina que, por requerer bastante dedicação, costuma irritar o nariz de muita gente. ANALISTAS DE COPRÓLITOS Coprólitos são excrementos fósseis de animais e humanos que podem ser encontrados em sítios arqueoló- gicos, especialmente naqueles ou muito secos ou muito alagados. Infelizmente, por representarem a evidência mais direta do que era realmente ingerido, precisam ser extraídos e identificados. Um pequeno número de intré- pidos especialistas ao redor do mundo sabe como tratar os coprólitos com elementos químicos, de forma a reobte- rem sua forma, textura, e até mesmo cheiro, originais. Dizem que um especialista americano é capaz de reconhecer algumas substâncias em coprólitos tratados (como o alcaçuz) apenas pelo cheiro. Esses especialistas costumam ser injustamente desprezados pela maioria dos outros acadêmicos apenas pela natureza pouco gloriosa de seu trabalho. DATAÇÃO Os cientistas são responsáveis pelo serviço valiosfssi- mo de prover a arqueologia com uma cronologia absoluta. Os arqueólogos lhes dão pedaços de carvão, osso, cerâ- mica e assim por diante, e os cientistas realizam suas 28 mágicas para dizer a idade desses objetos. Os físicos devem sentir-se muito populares, pois as pessoas lhes ficam perguntando sobre datas; a vida da arqueologia mudou depois que ela se uniu à física. Tudo o que os blefadores precisam saber são os no- mes impressionantes e os rudimentos de alguns dos prin- cipais métodos: 1.Dendrocronologia As árvores sofrem um aumento anual em seu nú- mero de anéis, e como a espessura de cada anel varia de acordo com as condições climáticas do ano (grande cres- cimento em anos favoráveis, etc.), uma série não rompida de anéis pode ser calculada e estendida séculos para trás confrontando-se seqüências idênticas preservadas em madeiras modernas e antigas. Depois disso, qualquer árvore encontrada na área pode ter seus anéis compara- dos à seqüência-mestra, e sua idade estabelecida com precisão. 2. Termoluminescência Não há necessidade alguma de saber como isso funciona. Apenas esteja ciente de que é principalmente usado para datar cerâmica. Ao que parece, pode-se adi- vinhar há quanto tempo um objeto foi aquecido através da medição da quantidade de luz desprendida quando é reaquecido. Não é considerada eficiente com restos or- gânicos, mas é possível datar alimentos através de: 3. Datação por radiocarbono Usado em substâncias orgânicas, este método mede a minúscula quantidade de isótopos radioativos de car- bono 14 deixado nelas - depois da morte de um orga- nismo, a quantidade de C14 que ele contém diminui gradativamente na mesma proporção que a correspon- dência de propaganda que recebia. Datas de radiocarbono são um paraíso para blefado- res. Consistem em um algarismo seguido por um sinal positivo ou negativo e outro algarismo: por exemplo 2450 ± 80 BP significa que a idade do objeto em anos eve variar entre 2530 a 2370 antes do presente - mas 29 há apenas 66% de possibilidade de que se encontre nes- se período de tempo. Poucas pessoas conseguem se lembrar de datas de radiocarbono com alguma precisão, de forma que você pode chutar qualquer algarismo que soe como estando na ordem correta de magnitude. Se for desafiado, diga que seu algarismo é calibrado (ou seja, corrigido em função da imprecisão dos variados e complexos cálculos de radiocarbono). Houve muitas tentativas de produzir "curvas de calibramento" padronizadas (datando objetos e anéis de árvore de idade conhecida e vendo o quão errado o C14 está em cada caso), e cada uma resultou em algo diferente. Quando confrontado com uma data de radiocarbono, o blefador pode recorrer a diversos estratagemas: a) Questionar sua precisão (se não for calibrado), ou a precisão de seu calibramento. b) Perguntar a respeito de que material a data foi obtida - datas a partir de conchas, por exemplo, são extremamente imprecisas. c) Comentar que uma simples data de radiocarbono não é de muita valia - hoje em dia apenas uma série inteira delas é considerada confiável. Além disso, qualquer data pode ser colocada em questão apenas pondo-se em dúvida a forma pela qual o espécime foi coletado e sugerindo-se que deve ter sido contaminado de alguma forma. Pouquíssimas datas ar- queológicas podem sobreviver a esse tipo de inquisição, e seu oponente sempre terá de se curvar aos seus rigores científicos ou correr o risco de parecer perigosamente dogmático ou descuidado. INTERPRETAÇÃO O blefador deve estar ciente de duas tendências bá- sicas na arqueologia: 1. As datas para as diversas invenções (como a cerâ- mica) ou eventos (por exemplo, a chegada de hu- manos na Austrália) são constantemente empur- radas para trás. 2. O local de origem dos diferentes objetos de estu- do arqueológico, incluindo as próprias pessoas, mudam ao redor do globo à medida que novas descobertas são feitas. Como Breuil disse a res- peito das origens humanas, "O berço da humani- dade está em pedaços". Portanto, a arte de interpretar evidências arqueoló- gicas é dar-se espaço para manobrar à luz das descober- tas futuras. As deficiências da interpretação arqueológica de- vem ser evidentes: na verdade, a arqueologia tem sido descrita como "a reconstituição de padrões não-observáveis de comportamento a partir de pistas indiretas em amos- tras ruins". Para seu benefício, o blefador astuto pode voltar à questão com uma parábola sobre um arqueólogo do futuro tentando encontrar lógica num sítio arqueoló- gico do século vinte - construções com arcos dourados seriam identificados como locais de adoração onde re- feições rituais eram preparadas; a divindade principal é obviamente um rato com calças vermelhas e luvas bran- cas (sua imagem é encontrada em toda parte, especial- mente em roupas); e a garrafa de Coca-Cola seria um símbolo fálico ou uma estatueta feminina, de acordo com as predileções do intérprete. MALDIÇÕES É crença popular - graças aos filmes, quadrinhos e jornais sensacionalistas - que os arqueólogos que pro- fanam tumbas ou sítios sagrados caem vítimas de hor- ndas maldições. O caso mais famoso é o da tumba de utancâmon, pois o financiador do trabalho, Lorde arnarvon, morreu alguns meses depois que a tumba foi scoberta em 1922. Os blefadores devem fazer pouco 50 dessa crença, sugerindo que Tutancâmon poderia 31 ter planejado uma morte mais espetacular para Carnarvon do que fazê-lo cair vítima de pneumonia (na verdade, é provável que sua morte tenha sido provocada pela inala- ção, num corredor que levava à tumba, de um fungo en- contrado na poeira seca dos excrementos de morcegos). Também pode ser comentado que Howard Carter, que realmente descobriu e despojou a tumba, e profanou o corpo, morreu de causas naturais 17 anos depois. Muitas mortes seguintes a profanações arqueológi- cas de tumbas e outros sítios podem na verdade ser atri- buídas a uma causa mais mundana: a arqueologia é um negócio sujo, no qual se convive com quinquilharias velhas e materiais orgânicos decompostos. Seria de ad- mirar se não houvessem germes e esporos ocasionais à espreita em algum lugar entre os escombros, e como os arqueólogos não são conhecidos por sua higiene, podem muito bem fazer lanches nos sítios com as mãos estando menos que imaculadas. Aos escavadores, por exemplo, são recomendados vacinas antitetânica e sabonetes carbólicos. Os arqueólogos podem ser afligidos por uma varie- dade de outras maldições, especialmente em trabalho de campo. 1)Resfriados, gripes, ou pior (especialmente na Grã -Bretanha) 2) Bolhas, queimaduras de sol, desabamento d trincheiras 3) Caminhadas (conhecidas como "A vingança de Montezuma) 4) Nativos zangados 5) Saqueadores de túmulos 6) Falta de descobertas (a maldição do "sítio est ril") e, a pior de todas, 7) Escassez de álcool. Um tipo diferente de maldição moderna é o apar I mento de um exército de entusiasmados amadores pOI 32 tando det.ectores de metais. Por alguma razão, essas pes- soas se divertem desenterrando pedaços velhos de metal ou moedas, sentindo-se ainda mais emocionadas ao acha- rem algum tesouro escondido. Se for preciso confrontar- se com pessoas assim, o arqueólogo blefador deve pre- gar-lhes com. ares benevolentes contra seu sempre to- cante conhecimento de sítios arqueológicos e estimulá- los a restringir suas atividades a praias e pilhas de refu- go (embora a maioria dos arqueólogos gostaria mesmo é que fossem cavar em campos minados). . .Entretanto, ao confrontar-se com um arqueólogo pro- fissional, o blefador deverá falar em defesa do entusiasta de detec~ão. de metais, enquanto se esforça para conde- nar a maroria. Os arqueólogos ficam irritados com essa questão sobr~ desenterrar metais, e desejariam que as pessoas os deixassem enferrujar em paz até que fossem escavados de forma conveniente, dentro do contexto ar- queológico. Muitos acham que qualquer um que saqueie uma ça, do passado para benefício próprio (seja um ladrão tumu~o~ ou um arqueólogo que sucumbe a publicar m relat?no) roubou alguma coisa insubstituível de toda humanidade. Portanto, é aconselhável, mesmo que você nha um senso de ridículo pronunciado, dar a entender leva o assunto a sério. Afinal, é o único que nos ta. AUDES As pessoas são extremamente fáceis de ser engana- • os arqueólogos não são exceção. Durante os anos ta . delas caírar.n nas garras de blefadores inescrupu- • tendo acreditado na autenticidade de fraudes. preciso saber que um dos primeiros falsificadores cidos foi um ing~ês, Edward Simpson (1815-c.1875), tornou conhecido como Flint Jack ("J ack Sílex") bém, menos apropriadamente, como Willie Fós il. .nou-se prolífico forjador de utensílios de sílex, in. ntos antigos e cerâmica, freqüentemente p. 111 33 do-os a especialistas e amadores como espécimes genuí- nos. Mais piadista que vigarista, apenas gostava de levar as pessoas para um passeio e eventualmente dar am?stra pública de sua perícia. Flint Jack foi uma. espécie de "arqueólogo aleijado", pois tinha uma péssima P?stu.ra de corpo, um fraco pela bebida e morr~u na mlsé~I~. Ainda há controvérsia na França a respeito de um SitIO chamado Glozel, aberto na década de 20, que continha uma série de fraudes tão óbvias quanto surpreendentes, supostamente demonstrando que desenhos da Idade ?o Gelo, cerâmicas da Idade do Bronze e pranchas de argila do oriente próximo coexistiram nesse mesmo local pert? de Vichy. Alguns arqueólogos ainda relutam em repudi- ar o sítio, e muitos não-arqueólogos ainda o sustentam como um exemplo da cegueira da arqueologia frente a fatos constrangedores e uma civilização desconhecida. Um americano até mesmo "decifrou" as pranchas de Glozel, afirmando demonstrarem que o local era um bazar que vendia ungüentos, amuletos e dispositivos para ga- rantir a potência sexual. A fraude mais famosa ocorreu em 1912 na Inglater- ra, quando o Homem de Piltdown, um "elo perdido", foi alardeado como o mais antigo inglês. Um bom exemplo da falta de humor dos arqueólo- gos: não sentiram nada de podre no ar quando Piltdown lhes apresentou um utensílio de osso no formato de um bastão de críquete. PSEUDO-ARQUEOLOGIA Hã muito que os arqueólogos se acostumaram a li· dar com indivíduos inofensivos, obcecados pelo destino das dez tribos perdidas de Israel, a localização do conu nente perdido de Mu, ou pela idéia bizarra de que. tudo na paisagem britânica pode ser ligado através de Iinha retas até formar o desenho dos signos do zodíaco. maioria dos museus e outras instituições são infestad por sua cota de doidos que acreditam que a Atlântid ficava em Glasgow, ou que o número de blocos da Grau 34 de Pirâmide é misteriosamente igual ao número de pa- lavras da Bíblia. Um homem, entretanto, elevou esse ti- po de coisa a novas alturas (ou profundidades, depen- dendo de seu ponto de vista), e num livro como esse merece uma seção só sua como a epítome do blefe ar- queológico. Obscuro gerente de hotel suíço, duas vezes conde- nado por fraude e desfalque, Erich vou Dâníken escre- veu em 1968 um livro chamado Eram os Deuses Astro- nautas?, que juntamente com seus numerosos sucesso- res análogos, vendeu mais de 25 milhões de exemplares em mais de 32 países - provavelmente mais de que todos os livros de arqueologia combinados. Suas idéias não eram originais, mas ficaram asso- ciadas ao seu nome. Colocadas de forma simples, atri- buem tudo no passado humano que parece difícil ou bizarro (grandes monumentos, desenhos enigmáticos) a visitantes do espaço exterior. A despeito de acreditar ou não nesse conceito de "deuses astronautas", ele o tor- nou muito mais conhecido e respeitado do que qualquer teoria arqueológica, a suprema conquista para um blefa- dor. Poucos acadêmicos se incomodaram em escrever li- vros para se opor a essa teoria, em parte porque achavam que isso estaria abaixo de sua dignidade, e em parte porque livros assim jamais venderiam. Como é antiético deixar que farsantes desse tipo passem impunes, você deveria manter alguns fatos básicos na manga - mas apenas uns poucos, pois o fã padrão de von Dâniken é o tipo de pessoa que mexe os lábios enquanto lê. Não será preciso estudar profundamente seus livros: apenas uma assada de olhos em um deles, ou mesmo um exame das iguras, será suficiente para que compreenda sua abor- agem e truques de prestidigitador. Mas, por outro lado, se vier a confrontar-se com Iguém que já é antidãnickeniano, você será forçado a ncontrar alguma coisa positiva para dizer a respeito te. Defenda que seus livros são auxílios úteis para 35 ensinar estudantes a como não escrever, e como se re- conhece: • lógica falsa • truques de apresentação • distorções espalhafatosas da verdade, e • seleção matreira de fatos. Depois de ser desafiados, admitirão prontamente que muitos textos arqueológicos podem servir ao mesmo pro- pósito. 36 ARQUEOLOGIA IMPRESSA Embora atualmente os países adiantados possuam incontáveis livros e jornais devotados à arqueologia, apenas uma pequena porcentagem é dedicada a disseminar co- nhecimento entre colegas, tendo sua atenção voltada exclusivamente ao público, que normalmente paga a conta pelo trabalho. A vasta maioria das publicações arqueo- lógicas é produzida com apenas um objetivo em mente: promoção pessoal. Ao candidatar-se a empregos ou a fundos de pesqui- sa, um arqueólogo precisa apresentar uma lista de publi- cações com o curriculum vitae, e uma lista impressio- nante pode fazer grande diferença para fins promocionais: não importa a qualidade, apenas a extensão. Tamanho é documento no meio acadêmico. Como poucos arqueólogos conseguem manter uma produção de idéias inovadoras e de estudos variados, a maioria aplica uma grande dose de blefe nessa área. Isso irá requerer a publicação de resmas de abstração sem significado com nenhuma aplicação possível ou rele- vância para o mundo real (veja Arqueologia teórica); ou, mais comumente, reciclagem sem fim de um mesmo trabalho. A essa última prática, chamamos "a Síndrome de Enid Blyton", que permite atingir uma grande lista de publicações com um mínimo de esforço. Como os títu- los e jornais são diferentes, você estará à vontade - os juízes não podem ler tudo, e a maioria dos jornais é lida penas por algumas pessoas. Portanto, esse blefe é fácil de ser levado durante a maior parte do tempo. Na verdade, é autoperpetuante, pois à medida que você publica, fica mais fácil publicar; qualquer um fora do sistema ou com alguma coisa nova e original a dizer será sempre citado pelos blytonia- os, e, logo, prejudicado. Também significa que, til nferências, todo mundo já sabe o que todo 11\111111 •• ais irá dizer, e portanto podem dcdi ar 11 11\ 11I11 I' 111 tempo a secar o bar. :J7 Os jornais normalmente precisam cobrir as confe- rências para obter privilégios. Também será preciso ble- far com o fundo de estímulo à pesquisa de forma a conven- cê-Ios da enorme importância que a conferência repre- senta para o seu ramo. Na verdade, pouca coisa nova é dita em eventos desse tipo: suas principais funções são socializar, fofocar, mulherar, caçar emprego e, em geral, provar que você ainda está por aí. Livros são problemas muito mais complexos que jornais, pois normalmente exigem muita pesquisa e re- dação. Mais uma vez, porém, há alguns ótimos atalhos para o blefador especialista. 1. Aprenda a enrolar bastante (vide Arqueologia teórica) 2. Sintetize o trabalho dos outros (roubar de um só autor é plágio, mas, de muitos, é pesquisa), ou, melhor ainda, 3. Sintetize seu próprio trabalho misturando seus ve- lhos artigos e dando-lhes forma de livro. Os poucos sortudos que conseguem blefar para a fama logo descobrirão que os editores estão ávidos por lhes pagar dinheiro para colocar seu nome na capa de um livro para o qual contribuíram apenas com um prefá- cio insignificante. Outra forma artística de pôr seu nome na capa de um livro é editá-Io, o que requer apenas escrever para uma certa quantidade de pessoas perguntando-lhes se gostariam de contribuir com um capítulo para um pres- tigioso volume novo. Muitos ficarão tão lisonjeados com o convite, ou eufóricos pela perspectiva de adicionar outro item às suas listas de publicação, que começarão a trabalhar imediatamente; num passe de mágica um livro com o trabalho duro de outras pessoas sai sob o seu nome. Um ou dois arqueólogos em ambos os lados do Atlântico possuem tanta prática nesse truque que costu- mam editar pelo menos um livro por ano. Podem ser insuflados de ar quente, mas qualidade de conteúdo é irrelevante para a percepção da produtividade. 38 ESTRATAGEMAS Evasivas Uma regra básica para blefadores em publicação arqueológica é evitar dogmatismo e encher seu trabalho com "talvezes" e "possivelmentes", o que proporciona maior chance de bater em retirada de forma organizada e digna em caso de ataque ou em caso de provarem que você está errado. Ofuscação Outra forma de pôr as críticas para escanteio é fazer sua prosa ficar tão obscura e tortuosa que ninguém, nem mesmo você, estará completamente certo do que foi dito ao terminar de lê-Ia. Este efeito de nuvem de fumaça, particularmente comum no trabalho teórico, é muito útil quando é provado que você estava errado, ou quando descobertas novas alteram a situação: você pode sim- plesmente alegar que foi mal entendido e que não disse nada dessa natureza. Enchendo Outro estratagema em publicações consiste em in- cluir muitas listas e tabelas, que ninguém se dará ao trabalho de verificar ou ler, mas que servirão para fazer seu trabalho parecer acadêmico e completo. De forma semelhante, alguns autores, muitos deles franceses, co- locam uma longa bibliografia no fim, contendo fontes numerosas e impressionantes - sendo a maior parte delas jamais referida no texto. É apenas decorativa, mas muito útil, pois dificilmente alguém lerá o trabalho in- teiro e notará as ausências. ão-publicação Alguns arqueólogos passam anos, até décadas, sem publicar nada digno de nota. Isso será ainda mais sério dessa forma estiverem negando a seus colegas e ao mundo em geral informações que desencavaram ou ob- tiveram de outro modo. São muitos os casos desse tipo 39 ao redor do mundo, alguns envolvendo sítios famosíssi- mos. Ao invés de condenarem ao ostracismo os indiví- duos envolvidos, os arqueólogos geralmente tratam-nos com a maior cortesia e apenas resmungam pelas suas costas. Há uma série de razões básicas para não-publica- ção: . 1. Preguiça, letargia ou complacência (principalmente entre aqueles com completo domínio sobre seu trabalho e que, portanto, não precisam se preo- cupar em ter seu rendimento avaliado). 2. Incompetência. Isso toma muitas formas: alguns mal podem juntar duas frases, quanto mais produ- zir um relatório detalhado ou um ensaio. Outros são desleixados de berço, de forma que perdem suas anotações e até descobertas, em meio às ca- madas estratigráficas que formam em seus escri- tórios e laboratórios. Um ou dois até se tornaram famosos por serem tão distraídos que costumam esquecer em trens seus manuscritos, notas e des- cobertas insubstituíveis. 3. Terror. Alguns têm nervos tão frágeis que o pró- prio pensamento de se exporem a críticas é tortu- rante. Claro, o fato de que não publicam também é atacado, mas isso é considerado o menor dos dois males num ramo onde, faça o que fizer, você certamente será estraçalhado por alguém. 4. Estar ocupado demais. Conferencistas novos ten- de~ a acumular a carga de ensino mais pesada, aSSImcomo todos os trabalhos que ninguém mais pode executar, como participar de comitês de bi- blioteca, corrigir exames e conduzir excursões a museus. Outros estão simplesmente preocupados demais em construir suas carreiras para darem alguma atenção a pequenos assuntos, como siste- mas de ética. 5. A esteira transportadora. A muitos arqueólogos, surpreendentemente, é permitido manter escava- 40 ções e pesquisas sem ter de publicar qualquer coisa sobre o que já realizaram. Isso logo produz uma grande provisão de informações e descobertas, a maioria das quais jamais será analisada, quanto mais publicada. Como fenômeno, dá uma ilusão de atividade constante. Na verdade, é o melhor estratagema de todos. Pouquíssimos são os arqueólogos que admitem seus erros, escritos ou de qualquer outra forma. Mesmo em retratações escritas, geralmente afirmam que sua colo- cação original estava correta, mas que as circunstâncias mudaram. Assim, a crítica a seu primeiro trabalho pode ser desviada pelo comentário "Isso é o que eu pensava naquela época, mas mudei de idéia desde então". Você nunca pode fazê-Ios explicar com clareza como vêem o problema no presente. Para alguém acostumado a esse tipo de manobra, é fácil demais recuar em curvas e sobre sua própria pista. Os blefadores sempre devem dar a impressão de le- rem bastante sobre a área não apenas em seus livros e artigos, mas também nas conversas. Quando perguntado se já leu algum livro novo, deve responder que está aguardando lançarem a brochura (pou- quíssimos livros sérios de arqueologia chegam a sair em brochura), e então comece a falar sobre o problema sem- pre crescente do preço elevado dos livros. Outro estrata- gema eficaz quando perguntado sobre um livro específi- co ou artigo é demonstrar entusiasmo e dizer que está terrivelmente ocupado, mas morrendo de vontade de lê- 10 assim que seu tempo limitado permitir; então vire a mesa perguntando a opinião de seu interlocutor. 41 ALGUNS NOMES PARA CONHECER Se, numa festa, lhe perguntarem o que faz e você confessar que está trabalhando na tipologia das flautas de barro desenterradas perto de Stoke Poges, não conse- guirá entreter a platéia por mais de dois segundos e meio. Todo aspirante a blefador arqueológico precisa, portan- to, saber alguma coisa sobre pessoas e lugares mais exó- ticos que irão interessar aos outros, preferivelmente aque- les que continuem enigmáticos ou controversos e para os quais não há ainda nenhuma resposta completa. Aqui estão alguns para serem escolhidos: Stonehenge Um dos poucos sítios arqueológicos ingleses dos quais o mundo inteiro ouviu falar, esta estrutura única na Planície de Salisbury consiste de um "henge" (área circular demarcada por bancos de areia e um fosso) com grandes pedras ("megalitos") dispostos verticalmente em seu interior. As pedras maiores chegam a ter lajes hori- zontais sobre elas (duas verticais e uma verga formam um "trílito"), usando um sistema de junta de encaixe - ou seja, saliências nas pedras horizontais se adaptam a concavidades correspondentes nas vergas. Não se sabe exatamente como as pedras horizontais puderam ser fi- xadas ali, embora não pareça provável que tenham sido recrutados deuses astronautas. As pedras maiores (sarsens) são locais, mas as pe- dras azuis (que realmente são azuladas e raiadas de rosa) possivelmente foram trazidas do País de Gales - talvez lá houvesse desconto para compras grandes. Os escavadores dividiram o desenvolvimento do sítio, cobrindo um pe- ríodo que se estende de 3000 a 1100 A.C., numa série completa de fases (1, II, Hl a,b,c) que ninguém pode lembrar. Se você for perguntado sobre isso, pode esca- par do assunto de forma elegante afirmando que discor- 42 da da seqüência e explicando que está à espera do re- latório completo da escavação para fazer você mesmo a ordenação das evidências. Stonehenge é geralmente considerado um sítio ri- tual (qualquer coisa em arqueologia sem função óbvi~ é classificado como ritual). Possui claramente algum SIg- nificado astronômico, pois está alinhado de acordo com o nascer do sol no solstício de verão. Entretanto, ante- cipa os druidas por muitos séculos, não ~a~endo ?el hu- ma evidência de ligação, seja com religião, seja com sacrifício humano. O que não impede que uma turma de pessoas vestidas com pijamas brancos vá até lá todo junho para executar algum tipo de cerimônia pseudo- druida. Nos últimos anos, Stonehenge também tornou-se o foco de invasões solstícias de hippies, que presumivel- mente veneram a construção como o primeiro rock group. Reúnem-se ali para entregarem-se a conflitos rituais com a polícia e dar graças ao sol nascente por suas mesa- das. Camac Uma coleção de pedras pré-históricas imóveis na Bretanha, que não deve ser confundida com Kar?a~ (um enorme templo egípcio). As pedras correm enflleuad.as por quilômetros através da paisagem, parecendo as VIS- tas intermináveis de montes de cupim no norte da Aus- trália. Os blefadores deveriam, entretanto, apontar com cuidado tais similitudes, ou os ouvintes impressionáveis concluirão automaticamente que os megalitos de Carnac foram erigidos por um grupo de aborígines com sauda- des de casa. Sítios como Carnac são sopa no mel para o blefador, pois ninguém tem a mínima idéia de ~ara que servia~ essas pedras. São, como sempre, consideradas como ri- tuais, e (inevitavelmente) acredita-se que possuam algu: ma finalidade astronômica, mas o seu chute pessoal sera tão bom quanto qualquer outro. Você deveria saber que ssas pedras imóveis são chamadas de menires. Se isso 43 trouxer à baila as histórias em quadrinhos do Asterix, comente que, embora engraçadas, as histórias são ar- queologicamente falsas, pois avançam a era dos megali- tos pré-históricos milhares de anos à frente, de forma a coexistir com os tempos romanos. Comentários desse ti- po podem marcã-lo como um desmancha-prazeres, mas confirmarão suas credenciais como um perseguidor da precisão dos fatos. o exército de barro Como de praxe, a maior descoberta dos últimos tem- pos foi feita por não-arqueólogos; no caso, campônios chineses que perfuravam o solo em busca de água. O que encontraram perto de Xian foram milhares de figu- ras de barro de soldados e cavalos em tamanho natural enfileiradas. Estavam ali apenas para guardar, na morte, o imperador Qin Shihuangdi (3Q século AiC,}, que se encontra enterrado sob um grande monte a uma certa distância. Essa estranha prática foi, ao menos, uma pro- va de que é possível massacrar pessoas no pós-vida: senão, para que você iria querer levar todo seu exér- cito? As tropas estavam claramente bem equipadas e ar- madas, demonstrando que o exército chinês não estava falido à época. Arqueólogos ansiosos estão se pergun- tando o que irá aparecer em seguida: a marinha de barro do Imperador? Nazca Mistério intrigante, essa planície no Peru está co- berta por milhares de linhas retas que se estendem por quilômetros, correndo paralelas ou entrecruzando-se, as- sim como estrias formando desenhos gigantescos de ani- mais, pássaros, peixes, aranhas, etc. Os sulcos foram abertos há muitos séculos por pedras em movimento so- bre o solo, de forma a revelar a areia mais clara abaixo. Maria Reiche, matemática alemã, passou várias décadas tentando provar que as marcas possuíam função astro- nômica; não é preciso dizer que foram consideradas ri- 44 tuais. Von Dâniken insiste que o sítio é um tip d ti ro- porto para discos voadores; outros propõem qu os nazcanianos possuíam conhecimento e tecnologia para elevarem-se em balões (como muitos arqueólogos, ti- nham muito conhecimento sobre ar quente). Os blefado- res devem tentar sugerir que as pessoas de Nazca eram apenas muitíssimo altas. Não há evidências para isso, mas também não há para os balões. Incas e Astecas Muitas pessoas, incluindo a maioria dos estudantes calouros, encontram dificuldades em lembrar qual des- ses dois povos viveu no Peru e qual no México, e qual foi destruído por Cor tez e qual por Pizarro. Os blefado- res podem manter esses fatos básicos nas pontas de suas línguas, apenas lembrando que: • Inca e Peru têm ambos quatro letras. Tanto Peru quanto Pizarro começam com P. • Asteca, México e Cortez têm todos seis letras. A devastação dessas duas grandes civilizações pe- la ambição espanhola é um dos episódios mais trágicos da História. Alguns vêem a devastação das praias espa- nholas pelos turistas ingleses como uma justiça poé- tica. Os Incas edificaram templos e fortes imponentes a partir de imensos blocos de pedra artisticamente conec- tados (embora provavelmente não por astronautas de pas- sagem). Tinham pilhas de ouro, mas nenhuma escrita: usavam barbantes com nós em seu lugar, e mesmo Champollion teria queimado as pestanas para decifrá- los. Seu sítio mais famoso é Machu Picchu, que soa co- mo alguém espirrando. Os Astecas estão associados com grandes templos construídos em camadas e assemelhados às pirâmides e com o sacrifício de milhares de inimigos para apaziguar a fome voraz de seus deuses. Se insistirem no assunto, você pode desviar as perguntas mencionando a existên- cia de outros grupos na Mesoamerica (não México, por 45 favor), como os Toltecas, Mixtecas, Zapotecas, Chichime- cas e Maias. Apenas um especialista em Novo Mundo saberia como todos esses se dispõem espacial e crono- logicamente, mas como tais cientistas são raros, você pode chutar à vontade. O mais famoso sítio mesoamericano é Chichén Itzá; descubra sua própria forma de lembrar qual é qual - não podemos dar-lhe tudo de bandeja. Ilha de Páscoa A maioria das pessoas está familiarizada com as gigantescas cabeças de pedra que guarnecem essa dimi- nuta ilha no Pacífico (embora os blefadores devam recu- sar-se a chamá-Ias "cabeças", pois as cabeças na verda- de possuem tronco, mas ficaram enterradas até o pesco- ço com o passar dos anos). Infelizmente, a maioria das pessoas também está familiarizada com as afirmações de von Dãniken de que as pedras vulcânicas daqui são duras demais para serem esculpidas por ferramentas de pedra, e que de qualquer modo não há árvores para pro- verem rolamentos e alavancas para mover os monstros. Conseqüentemente deve ter sido obra (surpresa!) dos astronautas de novo. Na verdade, a rocha é excepcionalmente mole e fá- cil de ser esculpida, e há ainda milhares de martelos de pedra e centenas de estátuas não-terminadas ainda na pedreira, assim como uma ampla evidência, por pólen e outros restos botânicos, de que a ilha inteira era original- mente coberta por grandes palmeiras, admiravelmente adequadas para o uso como rolamentos, etc. Os blefadores devem tentar desviar a conversa so- bre a Ilha de Páscoa (sempre use os nomes nativos para ela, Rapa Nui e Umbigo do Mundo) das estátuas para as incríveis esculturas de vulvas em pedra. Na cultura da Ilha de Páscoa, o clitóris era deliberadamente aumenta- do desde a mais tenra idade, e as garotas tinham de abrir as pernas sobre duas rochas para exibi-los a sacerdotes em certas cerimônias. Os maiores eram honrados com sua imortalização em pedra, e suas orgulhosas detento- ras ganhavam os melhores guerreiros como maridos. 46 Embora as mulheres modernas compartilhem de uma ambição semelhante, são tímidas demais para se abrirem tanto a pessoas estranhas. Austrália Como um todo, a arqueologia australiana é uma área valiosa para o blefador por ser estudada há apenas 28 anos, e dificilmente qualquer um fora da Austrália sabe alguma coisa sobre ela. Deixe pasma sua platéia mencionando nomes de sítios como Lago Mungo, Kutikina, Pântano Kow e Caverna da Sorte dos Iniciantes. Também é uma das áreas mais ricas para arte rupestre, com milhares de sítios e milhões de motivos. Alguns sítios ainda são sagrados para os aborígines, que lhes conferem nomes evocativos como Darangingnarri ("Cami- nho para a mulher com pernas abertas"). CAMPOS DE ESPECIALIZAÇÃO Há uma ampla variedade de subdisciplinas interes- santes dentro da arqueologia para nelas se concentrar. Um blefador precisa apenas ser um "especialista" em qualquer assunto que a outra pessoa não entenda nada. Egiptologia Não é o assunto mais vivo da área (afinal, é caracte- rizado pelo Livro dos Mortos), mas permanece popular por causa de seus monumentos imponentes e fotogêni- cos, mistérios, escrita desenhada, deuses estranhos e te- souros espetaculares. A maioria dos filmes com temas arqueológicos transcorre no Egito, e normalmente fala a respeito de múmias e maldições. Portanto, se quiser ble- far em arqueologia, obviamente precisa saber um pou- quinho sobre essa civilização. É fácil blefar em egiptologia porque a maior parte dos não-arqueólogos ouviu falar apenas de um punhado de pessoas (Tutancâmon, Cleópatra e talvez Quéops e Nefertite) e sítios (Vale dos Reis, as Pirâmides, Abu Simbel). Portanto, pode deixá-los pasmos sem muita di- 47 ficuldade mencionando um par de faraós obscuros co- mo Sesostris ou Sheshonk. Caso venha a encontrar-se com qualquer pessoa que tenha feito excursão ao Egito, não precisa demonstrar nenhuma perícia. Apenas dei- xe-a falar pelos cotovelos sobre sua experiência e im- pressões. Para demonstrar conhecimento íntimo dos aspectos menos familiares da vida no Antigo Egito, você poderia mencionar os papiros (absolutamente genuínos) que dão a receita de uma poção para conquistar o amor de uma mulher: o homem precisa misturar algumas caspas do escalpo de uma pessoa assassinada com alguns grãos de cevada e caroços de maçã, e depois adicionar um pouco de seu próprio sangue e sêmem, e finalmente o sangue do carrapato de um cachorro preto. Esta mistura, se adi- cionada à bebida da dama, traria conseqüências devasta- doras. Outra fórmula de conquista, planejada para fazer uma mulher gostar de fazer amor, era esfregar a espuma da boca de um garanhão no "obelisco" do amante. Se for desafiado a traduzir alguns hieróglifos, in- vente alguma coisa tola e religiosa que soe plausível, e sua platéia estará satisfeita. Por exemplo: "ó Rei dos Dois Reinos, Amado de Nut, a Mãe Divina, e de Re, teus inimigos prostam-se ante tua carruagem conquistadora". Outro blefe particularmente eficaz é falar em termos de dinastias - "isso provavelmente data do início da 13· dinastia" - pois todos ficarão impressionados e nin- guém ousará admitir que não sabe do que está falando. Mesmo a maioria dos arqueólogos não-egiptólogos não terá a menor idéia de como atribuir datas (muito menos faraós) às dinastias. Tutancâmon, incidentalmente, foi da 181 dinastia. Sesostris da 12°, e Sheshonk da 22°. o Oriente próximo Exatamente o mesmo se aplica à arqueologia do orient próximo, pois apenas especialistas podem lembrar a di- ferença entre Suméria, Babilônia, Assíria, Acádico, Hitita e outros menos cotados. A mera referência à 31 dinastia de Ur deve estabelecer a profundidade de seu conheci 48 mento, enquanto uma menção ao (Rei) Nabonidus com- provará sua perícia. Os únicos aspectos da arqueologia do oriente próxi- mo com os quais você precisa familiarizar-se são as tumbas reais de Ur com seus tesouros de ouro; os grandes sítios elevados conhecidos como "montes artificiais" e as enormes torres em degraus chamadas zigurates (significando pi- cos de montanhas). A mais famosa delas foi a torre de Babel (Babilônia): sua construção, de acordo com a Bí- blia, terminou em desastre, o que prova que zigurates fazem mal à saúde. Os blefadores também devem estar cientes de que os pergaminhos do Mar Morto consistem de milhares de fragmentos de livros em hebraico antigo, com cerca de 2000 anos de idade, encontrados por pastores quando arremessavam uma pedra dentro de uma caverna perto do Mar Morto. Quando se espalhou a notícia sobre a importância de suas descobertas, os pastores receberam a importância de trinta e três centavos de libra por pole- gada quadrada delas. O blefador profissional terá cuidado em diferenciar arqueólogos bíblicos sérios, que investigam as terras bí- blicas, dos fanáticos que tomam a bíblia como um evan- gelho e ainda tentam achar pedaços da Arca de Noé no Monte Ararat. Deciframento Arte em extinção, pois a maioria dos primeiros es- critos já foram decifrados, limita-se agora a adivinhar o que o médico escreveu em sua receita ou é aplicada por ecretárias quando têm de datilografar a partir de gar- anchos. Entretanto, esteve a todo vapor nos dois últi- os séculos, com muitos tipos de quebra-cabeças instigantes ara ser solucionados ao redor do mundo. Jean François Champollion (1790-1832) foi um dos imeiros decodificadores. Como escreveu um livro aos 2 anos, e aos 13 estava lendo árabe, sírio e copto, vo- pode imaginar que intolerável menino-prodígio 49 Champollion deve ter sido. Em 1808 começou a traba- lhar na Pedra de Rosetta (que tinha textos idênticos em egípcio e grego) e por volta de 1822 havia realizado a decifração dos hieróglifos. A maioria dos outros decifradores tiveram menos sorte e, ao invés de terem uma cola acessível como aquela, precisaram começar de fragmentos. Um antigo escrito que merece a atenção dos blefa- dores é aquele da civilização Indu, pois ainda não foi solucionado. Portanto, poderá dizer qualquer coisa so- bre ele sem ser corrigido por ninguém. Uma escrita ain- da mais obscura é de Rongo Rongo da Ilha de Páscoa, que sobrevive apenas como caracteres esculpidos em 26 peças de madeira. Os ilhéus modernos são ocasional- mente pedidos para traduzir aqueles textos, mas tendem a dizer uma coisa diferente a cada vez, o que significa que eles mesmo são ótimos blefadores. Arte rupestre Seu estudo é uma das atividades mais divertidas da arqueologia, que requer a localização e registro de gra- vuras antigas e pinturas nas rochas. Aqueles envolvidos precisam ser durões (a maior parte da arte se encontra em cavernas profundas, montanhas altas ou áreas muito quentes) e incluem muitos dos personagens mais excên- tricos que alguém poderia encontrar. Na ausência dos artistas originais, é impossível sa- ber muito sobre esses desenhos, e essa é portanto uma área ideal para o blefe. Melhor ainda, muitos lugares são quase inacessíveis: por exemplo, as cavernas tendem a conter estalactites afiadas, fendas, águas profundas, guano, mosquitos, e até, em algumas partes do mundo, abelhas assassinas. Uma caverna em Dordogne, piedosament fechada ao público, se encontra abaixo do vilarejo d Domme e sempre serviu como seu esgoto. A entrada através de uma carvoeira no jardim dos fundos de al guém, a caverna fede, e é sábio não examinar muito d perto as substâncias viscosas pelas quais têm de se pa. saroOcasionalmente, durante a visita, outra carga é des 50 pejada de uma casa acima. O propósito da expcdíç ro ver um único e medíocre desenho de bisão da Idade do Gelo. Poucos especialistas retomam para uma segunda visita. I ~ Arqueologia subaquática Escavar em terra já é difícil, mas algumas pessoas gostam de tornar as coisas ainda mais complicadas, e trabalhar embaixo d'água é o equivalente arqueológico a ficar em pé numa rede. Os blefadores podem comentar com bom humor que o nome de George Bass, o melhor praticante dessa atividade, combina perfeitamente com ele ["bass" é o nome de um peixe em inglês]. A maior parte do trabalho é feito no leito marítimo , em portos ou em lagos, mas ocasionalmente também envolve sítios incomuns como o grande "cenote" ou poços sagrados maias em Chichén Itzá, nos quais, de acordo com os registros espanhóis, eram atiradas em sacrifício grandes quantidades de ouro e mulheres virgens. Você pode comentar com segurança que a última afirmativa não é correta, pois o trabalho dos mergulhadores e dragadores nos quatro metros de água
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