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CAUSO MINEIRO “Sapassado, era sessetembro, taveu na cuzinha tomando uma pincumel e cuzinhando um kidicarne cumastumate pra fazê macarronada cum galinhassada. Quascaí de susto quanduvi um barui vinde denduforno parecenum tidiguerra. A receita mandopô midipipoca denda galinha prassá. O forno isquentô, mistorô e o fiofó da galinhispludiu! Nossinhora! Fiquei branco quinein um lidileite. Foi um trem doidimais! Quascaí dendapia! Fiquei sensabê doncovim, noncotô, proncovô. Ópcevê quilocura! Grazadeus ninguem semaxucô!” MUDANÇA LINGUÍSTICA O português foi se afastando do latim e sofrendo algumas alterações: Fonéticas (ao nível dos sons) Semânticas (ao nível da significação) Lexicais (ao nível da formação de palavras) Fatores sociocognitivos “Todos os seres humanos compõem uma única espécie e dispõem dos mesmíssimos recursos intelectuais, da mesmíssima potencialidade cognitiva, do mesmíssimo cérebro e da mesma configuração fisiológica, é mais do que esperável que, no processamento da língua, surjam fenômenos de mudança comuns a todos os idiomas do mundo” (BAGNO, 2014, 71) Tendências universais de mudança; Exemplo: sílaba ideal. CA-MA-RO-TE; Obstrução do ar - liberação do ar; Crianças: prato>pato, flor>fô, branco>banco etc. Japonês: não existem encontros consonantais. Exemplo: strike (greve, em inglês) > sutoraiku; Brasil > Burajiru. Línguas do grupo tupi-guarani: cruz> curuçá; Italiano: nas sílabas travadas do latim, houve assimilação. Ex: octu>otto; absolutu>assoluto. Português brasileiro: poucas as consoantes no final de palavra. Ex: [l], [r] e [s]. Tcheco: Strč prst skrz krk (Enfia o dedo na garganta) Forças centrífugas, forças centrípetas Centrífugas: agem de modo que a língua se afaste cada vez mais do que é para se tornar o que será; Centrípetas: buscam manter a língua na maior estabilidade e imutabilidade possível. Forças centrípetas: instituições sociais Escola: educação sistematizada, cultura associada com as camadas sociais privilegiadas; Tradição literária; Trabalho de gramáticos e dicionaristas; Burocracia em geral; Instituições religiosas; Academias de língua; Meios de comunicação. “Mudanças na língua ocorrem primeiro, e em ritmo mais acelerado, nas comunidades menos sujeitas à pressão das instituições” (BAGNO, 2014, p. 77) Queda do Império Romano Romances Forças sociais centrífugas: variação Labov - provar que, para estudar mudança linguística, é imprescindível estudar a dinâmica social da comunidade; Variação entre gerações: sapo X cuco; Variação entre classes sociais: “uma forma inovadora emerge na fala dos indivíduos das classes média baixa e baixa (D, E) e vai subindo na escala social até ser incorporada pelos falantes das camadas médias e altas (C, B, A). Quando ela se instala nesse último grupo social, o prestígio dos falantes se transfere para a inovação linguística, e a mudança se completa” (BAGNO, 2014, p. 85). Cândido de Figueiredo (1846-1925): “A regra é clara: se a desinência infinitiva é ear, temos passear, passeio, passeias [...]. Se a desinência é iar, temos: alumiar, alumio, alumias [...]. Portanto, odeio, anseia [...] são erros fonéticos. [...] Mas a mais comezinha probidade literária me leva a recomendar outras formas, as formas exactas: odía, ansía [...]. Acresce que estas formas estão, na sua maioria, documentadas e abonadas pelos mais autênticos representantes da literatura portuguesa. [...] Chega-te aos bons, serás um deles”. Analogia fonética com outros verbos terminados em ear, mas com pronúncia em iar; Negociar> Negoceio, Alumiar> Alumeio. Fatores sociocognitivos na mudança linguística a) economia linguística; b) gramaticalização; c) analogia. Economia Linguística Articulação: Dissimilação: Peixe “pâixe” (PE); Epêntese: blatta barata; Haplologia: latim - rostro rosto. No PB: prostado, fragância, frustado; Crase: “coperar”. Morfossintaxe: Sujeito não obrigatório; Francês: a marca de plural no substantivo não ser pronunciada; PB: “Aqueles menino falava pelos cotovelo”. Gramaticalização Quando o uso provoca alterações na gramática: Espanhol: pronome nosotros - origem – nos + otros; PB: a gente - significa o povo em geral; Inglês: “I don’t eat fish” – “ I do not eat fish” (literalmente: Eu não faço comer peixe) – “Comer peixe é coisa que não faço”; Analogia Tendência a regularizar formas irregulares: “Como se lembrará qualquer um que já tenha tentado aprender uma língua estrangeira, quanto mais ordem e regularidade se puder apreender, menos formas individuais será preciso memorizar. [...] Se não fosse possível extrair padrões recorrentes da massa de informações novas a ser absorvida, nossas mentes simplesmente se atolariam nos detalhes. Por isso não admira que as crianças ajam na suposição de que quase tudo na língua deve seguir regras simples e regulares, e daí vêm os erros mimosos do tipo “um afoto”, “se eu sesse”, “mais grande” etc. Um caso muito citado é o de um espertinho de fraldas que, quando apresentado a um garfo (fork) com apenas três dentes, estudou o objeto atentamente e, com a maior naturalidade, decretou que se tratava de um threek.” (Guy Deutscher) PB: verbos impedir, expedir, despedir conjugavam eu impido, eu expido, eu despido etc. (como em espanhol até hoje).Por analogia com a conjugação de pedir (eu peço), aqueles verbos passaram a se conjugar como este; Infinitivo ponhar no lugar do clássico pôr - sonho está para ponho, assim como sonhar está para ponhar. Com isso, o verbo pôr, altamente irregular, se torna regular; ANALOGIA FONÉTICA: falar (< fabulare): a evolução regular teria levado à forma fabrar, mas resultou em falar por suposta analogia com calar; ferrolho (< veruculu, “espeto pequeno”): o /f/ se deveria à influência do vocábulo ferro; floresta (< forest [francês antigo] < forestis “bosque que fica fora da cidade”): a ocorrência do /l/ tem sido atribuída à influência de flor, flora; noventa (< nonaginta): o /v/ resultaria da analogia com nove; sim (< sic): a nasalização se explicaria por influência analógica do vocábulo não, com o qual o advérbio tem conexão de sentido. O nome Tiago, por exemplo, é resultante da análise equivocada de Sant’Iago (Santo Iago) como San Tiago. O mesmo vale para Telmo, que provém de Sant’Elmo (Santo Elmo) e não de San Telmo. A palavra obispo foi reduzida a bispo por se considerar que o inicial era o artigo, o mesmo valendo para batina que era na origem a veste abatina (do abade) ANALOGIA MORFOLÓGICA: Pretérito Imperfeito eu amava tu amavas ele amava nós amávamos (amabámus) Pretérito Mais-que-perfeito eu amara tu amaras ele amara nós amáramos (amarámus) Pretérito perfeito do Subjuntivo: Se eu esquecesse. Se eu _______. (manter) 1) Policiais não deteram os criminosos 2) Foram chamados os que ainda não deporam na CPI 3) O juiz já interviu no caso 4) Ele não tinha intervido no caso 1) Policiais não deteram os criminosos Deve ser por isso que os criminosos fogem. O verbo DETER é derivado de TER, logo deve seguir sua conjugação. Se eles TIVERAM, o correto é DETIVERAM. 2) Foram chamados os que ainda não deporam na CPI Assim ninguém vai depor. Os derivados do verbo PÔR devem seguir sua conjugação. Se eles PUSERAM, o correto é DEPUSERAM. 3) O juiz já interviu no caso Se “interviu”, foi mal. O verbo INTERVIR deve seguir a conjugação do verbo VIR. Se ele VEIO, “o juiz já INTERVEIO no caso”. 4) Ele não tinha intervido no caso Assim não dá. O particípio do verbo VIR é VINDO (igual ao gerúndio). O correto, portanto, é “Ele não tinha INTERVINDO no caso”. ANALOGIA SINTÁTICA Formas convergentes Apresentam forma idêntica mas étimos diferentes; Essas formas convergentes podem ter origem nos processos regulares de evolução fonética. Também podem se originar formas convergentes por meio da entrada, no léxico, de empréstimos recentes. É o caso de manga (“fruta”), provinda do malaio, e de manga (“parte do vestuário”), provinda do latim. Formas divergentes Provêm de um étimo comum que se desdobrou em mais de uma palavra na formação do léxico português. Trata-se de um fenômeno de muito maior interesse para o estudo da língua do que o da convergência de formas. Formação popular e erudita Formação popular: palavras que sofreram as transformações regulares verificadas no curso da evolução do idioma. Formação erudita: foram introduzidas conscientemente no léxico por empenho de intelectuais, escritores, filósofos e, mais recentemente, cientistas com o intuito de prover a língua de vocábulos técnicos, literários, eruditos etc.
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