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Títulos de Crédito

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TÍTULOS DE CRÉDITOS
1. TÍTULO DE CRÉDITO
Como já foi dito, para Cesare Vivante, título de credito “é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado”.
O novo Código Civil/02 definiu-os no art. 887, como o documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, e que somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. Assim, como documento, ele reporta um fato, ele diz que alguma coisa existe. É a prova da existência de uma relação jurídica, especificamente de uma relação de crédito. Constitui a prova de que certa pessoa é credora de outra, ou mais.
	Ex.: Se alguém assina um cheque e o entrega a determinada pessoa, o título documenta que ele é credor daquela pessoa.
		
- Igual situação, é a nota promissória, letra de câmbio, duplicata ou qualquer outro título de crédito.
- Mas o Título de Crédito não é o único documento disciplinado pelo direito. Assim, temos outros:
 Ex.: 1) contrato de locação
2) a escritura pública de compra e venda de imóvel
	3) a notificação de lançamento fiscal
	4) a sentença judicial condenatória
	5) nota fiscal e a respectiva fatura
	6) certificado de registro de marca
	7) apólice de seguros, etc...
2. DISTINÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS DOS DEMAIS DOCUMENTOS REPRESENTATIVOS DE DIREITOS E OBRIGAÇÕES
1º) O Título de Crédito não se refere unicamente a relações creditícias
 Ex.: a) no título de crédito não se documenta a obrigação de dar, de fazer ou não fazer;
	b) a apólice de seguro é um crédito eventual;
	c) o contrato de locação empresarial concede direitos ao locatário;
2º) Facilidade na cobrança do crédito em juízo.
 Ex.: O Título de Crédito é um título executivo extrajudicial (art. 784, I, NCPC), pois dá ao credor o direito de promover a execução judicial.
3º) Possui o atributo da negociabilidade (regime jurídico-cambial)
a) Torna mais fácil a circulação de crédito;
Facilidade de encontrar terceiros interessados em antecipar-lhe o valor da obrigação (ou parte) em troca da titularidade do crédito;
 Ex.: descontar no banco uma Nota Promissária, Duplicata, cheque pós-datado (contrato de desconto bancário).
	- no vencimento o banco vai cobrar do devedor, lucrando com a diferença entre o valor facial do título e o montante antecipado.
	
Observe que nem todos os documentos representativos são descontáveis pelos bancos.
	- P. ex.: os documentos sujeitos ao regime civil de circulação.
3. PRINCÍPIOS DO DIREITO CAMBIÁRIO
a) Cartularidade
b) Literalidade
c) Autonomia das obrigações cambiais
CARTULARIDADE (documento necessário)
para o exercício dos direitos representados por um Título de Crédito pressupõe-se a sua posse;
somente quem exibe a cártula pode pretender a satisfação de uma pretensão relativamente ao direito documentado pelo título;
quem não se encontra na posse do Título de Crédito não se presume credor;	
esse princípio é a garantia de que o sujeito que postula a satisfação do direito é mesmo o seu titular.
cópias autênticas não conferem a mesma garantia, haja vista que o original pode ter sido transferido a terceiro;
Ex.: é necessário a exibição do original do Título de Crédito na instrução da petição inicial de execução. Não basta a cópia autêntica do título.
evita o enriquecimento indevido;
quem paga o título deve exigir que ele lhe seja entregue, por dois motivos:
1) evitar nova cobrança;
2) para o pagador poder exercer o direito de regresso (quando for o caso) contra outros devedores.
	 h. esse princípio não se aplica inteiramente à duplicata mercantil ou de prestação de serviços;
- Há hipóteses em que a lei permite ao credor desses títulos o exercício dos direitos cambiários, mesmo que não se encontre na posse do documento. 
P.ex.: o protesto por indicações (Lei Duplicatas) quando o credor da duplicata retida pelo devedor protestará fornecendo ao cartório os elementos que a individualizam (nome, valor, etc...);
Também: a duplicata mercantil não restituída pelo devedor, desde que protestada por indicação e acompanhada do comprovante da entrega e recebimento da mercadoria.
Vejamos os seguintes Enunciados do CJF (Conselho da Justiça Federal), referente o art. 889, caput, e § 3º:
Enunciado nº 461: “As duplicatas eletrônicas podem ser protestadas por indicação e constituirão título executivo extrajudicial mediante a exibição pelo credor do instrumento de protesto, acompanhado do comprovante de entrega das mercadorias ou de prestação de serviços”.
Enunciado nº 462: “Os títulos de crédito podem ser emitidos, aceitos, endossados ou avalizados eletronicamente, mediante assinatura com certificação digital, respeitadas as exceções previstas em lei”.
LITERALIDADE (literal)
refere-se aos atos lançados no próprio título de crédito;
os atos documentados em instrumentos apartados, ainda que válidos e eficazes entre os sujeitos envolvidos diretamente, não produzirão efeitos perante o portador do título.
P. ex.: 
1) quitação dada em recibo separado, pois quem paga parcialmente um Título de Crédito deve pedir a quitação na própria cártula; caso contrário, não ficará exonerado do total do valor, se ela vier a ser transferida a terceiro de boa-fé;
 2) inexistência do aval, quando o pretenso avalista apenas se obrigar em instrumento apartado. Se do título não consta a assinatura da pessoa de quem se pretendia o aval, a garantia simplesmente não existe.
c. nenhum credor pode pleitear mais direitos do que o previsto no Título de Crédito;
d. da mesma forma, o devedor não está obrigado a pagar a mais do que o previsto no TC;
e. o titular do TC pode exigir todas as obrigações decorrentes das assinaturas constantes na cambial;
f. tal princípio facilita a circulação do TC, haja vista o crédito documentado no TC, não sendo necessárias outras providências além de uma simples leitura do documento para certificar-se da existência e da extensão do crédito;
g. este princípio não se aplica inteiramente à duplicata, cuja quitação pode ser dada pelo legítimo portador do título, em documento em separado, conf. Lei das Duplicatas (Lei nº 5.474, de 18-7-1968), art. 9º § 1º.
AUTONOMIA (autônomo)
a. o Título de Crédito é autônomo, porque quando um único título documenta mais de uma obrigação, a eventual invalidade de qualquer delas não prejudica as demais.
P. ex.: qualquer negócio documentado por Nota Promissória.
>Assim, Antônio vende a Benedito o seu automóvel usado, consentindo receber metade do preço no prazo de 60 (sessenta) dias;
> Nesse caso, a NP representa a obrigação do comprador, na compra e venda do automóvel;
> O ato da compra será chamado de “negócio originário” ou “relação fundamental”;
> Imagine agora que Antônio é devedor de Carlos, em importância próxima (ou igual) ao valor da NP;
> Se Carlos concordar, o débito de Antônio poderá ser satisfeito com a transferência do crédito que titulariza em razão da nota (fará um ENDOSSO);
> Assim, o TC que representava, originariamente, apenas a obrigação de Benedito pagar a Antônio o saldo devedor do valor do automóvel, passou a representar outras relações jurídicas:
1°) a de Antônio satisfazendo sua dívida junto a Carlos;
2º) a de Benedito devedor do título agora em mãos de Carlos.
Portanto, agora, são três relações jurídicas documentadas numa única Nota Promissória.
Como todas as obrigações correspondentes são autônomas umas das outras, eventuais vícios que venham a comprometer qualquer delas não contagiam as demais.
P. ex.: > se o automóvel adquirido por Benedito possui vício redibitório, isso não o exonera de satisfazer a obrigação cambial perante Carlos.
> os problemas relacionados com a compra e a venda do automóvel usado podem influir na relação jurídica entre os participantes da relação originária do título (Antônio e Benedito), mas não interferem minimamente com os direitos dosterceiros de boa-fé para quem o mesmo título foi transferido.
princípio da autonomia representa a garantia efetiva de circulabilidade do Título de Crédito;
c. o terceiro descontador não precisa investigar as condições em que o crédito transacionado teve origem, pois ainda que haja irregularidade, invalidade ou ineficácia na relação fundamental, ele não terá o seu direito maculado.
> Assim: no exemplo acima, Benedito deve pagar a NP a Carlos e, depois, demandar Antônio, para receber o ressarcimento do valor despendido, bem como a indenização correspondente aos danos que sofreu.
Ainda, destacam-se dois subprincípios decorrentes da autonomia (para alguns autores são princípios). São eles: a abstração e a inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé.
ABSTRAÇÃO
	A abstração é a separação da causa ao título por ela originado. Todo TC nasce em razão de uma relação jurídica. Assim, podem ter embasado a emissão do título uma compra e venda, um contrato de mútuo, de aluguel, etc. No título emitido poderá, ou não, constar essa obrigação que deu causa ao seu nascimento. Quando essa relação inicial não for mencionada no título este se torna abstrato em relação ao negócio original. Ele passa a circular sem qualquer ligação com a causa que lhe deu origem. Rompem-se, em definitivo, os vínculos com tal negócio. Logo, verifica-se que esse princípio da abstração nada mais é do que uma das facetas do princípio da autonomia.
	Ressalta-se que, no entanto, todos os títulos gozam de autonomia, mas nem todos são abstratos. 
	P. ex.: Nota promissória e a letra de câmbio (abstratos). 
	Em oposição a tais títulos abstratos existem os causais, que são aqueles que expressamente declaram a relação jurídica que a eles deu a causa.
	P.ex.: A duplicata que só pode ser emitida em decorrência de uma venda efetiva de mercadoria, com prazo não inferior a 30 dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias (arts. 1º e 2º, Lei nº 5474/68) ou prestação de serviço (art. 20), os quais se encontram discriminados no título. É causal, porém, apenas na origem, visto que, após ser colocada em circulação, torna-se independente do negócio originário.
	Dessa forma, a abstração somente aparece quando o título é posto em circulação, ou seja, quando ele passa a vincular duas pessoas que não contrataram entre si (possuidor atual e devedor do título), de modo que são unidos apenas pela cártula. Tal princípio, além de proteger o possuidor de boa-fé, serve para garantir a segurança na circulação do título.
INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS AOS TERCEIROS DE BOA FÉ
	Por este subprincípio (inoponibilidade), o executado em virtude de um título de crédito não pode alegar, em seus embargos, matéria de defesa estranha à sua relação direta com o exequente, salvo provando a má-fé dele. São, em outros termos, inoponíveis aos terceiros as defesas (exceções) não fundadas no título.
	Ainda no exemplo do princípio da autonomia, nos embargos de Benedito, interpostos na execução judicial da nota promissória, a matéria de defesa fica circunscrita apenas à relação jurídica que mantém com o exequente, que é Carlos. Mas que relação é esta? Simples: Benedito é o devedor de uma nota promissória, de que é credor Carlos. Nada mais. Assim, as exceções admitidas, na execução, dizem respeito somente a tal relação, ou seja, à nota promissória.
	
Não podem ser levantadas, nos embargos de Benedito, questões relativas ao vício no automóvel adquirido de Antonio, por que essas são exceções pessoais contra o vendedor do bem, em virtude das quais Carlos não pode ser responsabilizado nem prejudicado. 
3. NATUREZA DA OBRIGAÇÃO CAMBIAL
Diz-se que os devedores de um Título de Crédito são solidários, entretanto, esta afirmação não é inteiramente correta. Vejamos:
- ocorre a solidariedade passiva pela existência de mais de um devedor obrigado pela dívida toda;
- se duas ou mais pessoas são obrigadas perante um sujeito, haverá a solidariedade entre elas se o credor puder exigir a totalidade da obrigação de qualquer uma.
- o credor cambiário pode, atendidos determinados pressupostos, exigir de qualquer um deles o pagamento do valor total da obrigação;
A semelhança entre os devedores cambiários e os solidários cessa nesse ponto. Isso quer dizer que, de comum entre o regime cambial e a disciplina civil da solidariedade existe apenas o fato de o credor poder exercer seu direito, pelo valor total, contra qualquer um dos devedores. 
- quando se trata de discutir a composição, em regresso, dos interesses desses devedores a regra aplicável do Direito Cambial é diferente da pertinente à solidariedade passiva. Assim: 
 a. o devedor solidário que paga ao credor a totalidade da dívida pode exigir em regresso, dos demais devedores a quota-parte cabível a cada um – art. 283 Código Civil/02.
b. no Direito Cambial: nem todos têm o direito de regresso.
P. ex.: o aceitante da letra de câmbio ou o subscritor (emitente) da Nota Promissória após pagarem o título não poderão cobrá-lo de mais ninguém;
nem todos os codevedores respondem regressivamente perante os demais. 
 P. ex.: os devedores anteriores respondem perante os posteriores, mas estes não podem ser acionados por aqueles.
em regra, o regresso cambiário se exerce pela totalidade e não pela quota-parte do valor da obrigação; apenas excepcionalmente, como na hipótese de avais simultâneos e parciais, é que se verifica, entre os coavalistas, a partição proporcional da obrigação.
 
c. existe uma hierarquia entre os devedores de um mesmo título de crédito;
d. em relação a cada título, a lei determina quem será o devedor principal e quem serão os demais codevedores.
P. ex.: > Na letra de câmbio, é devedor principal >> o aceitante.
	 > Na nota promissória e no cheque, é devedor principal >> o emitente.
	 > Na duplicata, é devedor principal >> o sacado.
Por sua vez, os endossantes e avalistas são, em todos os títulos, codevedores/coobrigados.
Essa hierarquia é importante, porquê:
- Se pode citar a antecipação do vencimento do Título de Crédito só na falência do devedor principal;
- A necessidade de protesto para a cobrança dos codevedores/coobrigados;
 - Facultativo o protesto para a execução contra o devedor principal.
Ainda, quanto à hierarquia:
- O avalista pode cobrar em regresso do seu avalizado, mas não ao contrário;
- O endossante pode cobrar uma letra de câmbio do sacador, mas este não tem ação contra aquele.
Portanto > os devedores de Título de Crédito não são, propriamente solidários.
4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS
a. quanto ao modelo
	- vinculados > obedecem ao padrão exigido na lei (duplicata, cheque);
	- livres > não existe padrão de utilização obrigatória (nota promissória e letra de câmbio);
b. quanto à estrutura
- ordem de pagamento > (manda pagar) decorrem 3 situações jurídicas a partir de sua emissão: sacador, sacado, tomador/credor/beneficiário (cheque, duplicata, letra de câmbio).
- promessa de pagamento (promete pagamento) > decorrem 2 situações jurídicas: promitente (sacador) que promete pagar e para o beneficiário da promessa que receberá o valor prometido. Ex. Nota Promissória
c. quanto as hipóteses de emissão
- causais > somente quando autorizada por lei. Ex.: duplicata mercantil ou duplicata de serviços.
- limitada > em algumas hipóteses na lei está autorizada. Ex.: Letra de Câmbio não pode ser sacado para crédito de compra e venda.
- não causais ou abstratos> podem ser criados em qualquer hipótese. Ex.: cheque, nota promissória.
d. quanto à circulação
- ao portador > não ostenta o nome do credor. Ocorre por mera tradição (o cheque é possível somente até o valor de R$ 100,00). A Lei nº 8021/90 proibiu títulos ao portador.
- nominativos à ordem > identificam o titular do crédito e se transferem por endosso.
- nominativos não à ordem > que tambémidentificam o credor, mas circulam por cessão civil de crédito.
CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO CAMBIÁRIO
Para estudarmos a constituição do crédito cambiário, iremos partir da letra de câmbio, a qual possui todos os elementos necessários e facilita a compreensão e o entendimento dos demais títulos.
1. SAQUE
Saque é o ato de criação, de emissão da letra de câmbio. Após este ato cambial, o tomador/credor/beneficiário estará autorizado a procurar o sacado para, dadas certas condições, poder receber dele a quantia referida no título.
	
 A letra de câmbio é uma ordem de pagamento. Isto significa que do seu saque, de sua criação, decorrem o surgimento de três situações jurídicas distintas. São três diferentes complexos de direitos e obrigações que nascem juntamente com o título. 
 Em primeiro lugar, tem-se a situação jurídica daquele que dá a ordem de pagamento, que determina que certa quantia seja paga por uma pessoa a outra. Quem se encontra nesta situação é chamado de sacador. 
 Em segundo lugar, há a situação jurídica daquele para quem a ordem é dirigida, ou seja, é o destinatário da ordem, que deverá, dentro das condições estabelecidas, realizar o pagamento ordenado. A pessoa nesta situação é denominada de sacado. 
 Finalmente, existe a situação jurídica do tomador/beneficiário da ordem de pagamento, ou seja, aquele em favor de quem se fez dita ordem, e que, por isso, é o credor da quantia mencionada no título. Quem se encontra nesta terceira situação jurídica é conhecido por tomador (beneficiário). 
 São, portanto, três situações jurídicas distintas, que surgem com a prática de um ato cambial chamado saque. 
Ex.: a redação do título, desse modo, Será algo como: “aos trinta dias do mês de dezembro de 2016, pagará V.Sa. (sacado) por essa única via de letra de câmbio, a importância de R$ 20.000,00 ao Sr. Fulano de Tal (tomador/beneficiário). 
Local, data e assinatura, CPF, RG (do sacador)”.
 Emitido pelo sacador, o título é entregue ao tomador/beneficiário, que deverá procurar o sacado, normalmente duas vezes: a primeira, para consultá-lo sobre se aceita ou não aceita cumprir a ordem; caso aceite, a segunda, será para receber o pagamento. É importante que se atente ao ato do sacado, isto é, ele não está obrigado a aceitar a letra de cambio para efetuar o pagamento. No momento em que ele aceitar, ficará obrigado pelo pagamento, sendo a partir daí o devedor principal.
 Mas o saque produz um outro efeito, também: o de vincular o sacador ao pagamento da letra de câmbio. O sacado é que se encontra na posição de destinatário da ordem de pagamento; ele é que, em princípio, deverá pagar o título. No entanto, se não o fizer, ou se não se realizarem as condições da obrigação do sacado, o tomador poderá cobrar a letra de câmbio do próprio sacador, que, ao praticar o saque, tornou-se codevedor do título.
 Embora o saque crie três situações jurídicas distintas, a lei faculta que uma mesma pessoa ocupe mais de uma dessas situações. Assim, a letra poderá ser sacada em benefício do próprio sacador, isto é, a mesma pessoa ocupando, simultaneamente, as situações jurídicas de sacador e tomador/beneficiário, ou ainda, sobre o próprio sacador – a mesma pessoa ocupando, simultaneamente, as situações jurídicas de sacador e sacado.
 É importante que, ao preencher a letra de câmbio, sejam observados alguns requisitos para tornarem possível o seu saque e para não a descaracterizá-la como documento cambial. Entretanto, alguns requisitos são necessários para sua configuração:
- a expressão “letra de câmbio” inserta no próprio texto do título, não bastando constar fora do texto, mesmo que com destaque; tal expressão deverá ser na língua empregada na redação do título;
- o mandado puro e simples, ou seja, não sujeito a nenhuma condição, de pagar quantia determinada;
- o nome do sacado e sua identificação pelo número de sua Carteira de Identidade, de inscrição no CPF, do Título Eleitoral ou Carteira Profissional;
- o lugar do pagamento ou a indicação de um lugar ao lado do nome do sacado, o qual será tomado como lugar do pagamento e como domicílio do sacado;
- o nome do tomador, o que quer dizer que não se admite letra de câmbio sacada ao portador;
- local e data do saque, podendo ser a indicação deste substituída por menção de um lugar ao lado do nome do sacador;
- assinatura do sacador;
 A época do vencimento deve, também, constar da letra, mas, à sua falta, não se descaracterizará o instrumento como o título de crédito por que a lei dispõe que, neste caso, a letra será à vista.
 Saliento que, por força do art. 3º do Decreto n. 2.044/1908, em consonância com a interpretação que lhe deu a Súmula 387 do STF (Supremo Tribunal Federal), e o art. 891 do Código Civil/02, os requisitos da letra de câmbio – assim também de qualquer título de crédito – não precisam constar do instrumento no momento do saque. Poderá ela ser sacada incompleta, como poderá circular incompleta. Os requisitos devem estar totalmente cumpridos antes da cobrança ou do protesto do título. Entende-se que o portador de boa-fé é procurador bastante do sacador para completar a letra de câmbio emitida com omissões. É claro, se preencher o título em desacordo com o avençado (combinado, contratado), ou com a realidade dos fatos, terá o portador agido de má-fé, e deixará, por isso, de ser considerado procurador do emitente do título.
 Assim, sem o atendimento desses requisitos, o escrito poderá, eventualmente, servir à tutela de direitos, no âmbito civil (quer dizer, como simples instrumento de prova da existência da obrigação, numa ação de conhecimento), mas não poderá circular, ser protestada ou executada como uma cambial. Por isso, a letra de câmbio é considerada um documento formal, no sentido de que deve ostentar certos elementos para fundamentar a aplicação do regime jurídico-cambial.
 O saque (assim como os demais atos cambiários) pode ser praticado por procurador, com poderes especiais. A lei uniforme admite expressamente a hipótese, inclusive, para disciplinar a exorbitância dos poderes pelo mandatário. Desse modo, é plenamente jurídico que a pessoa se obrigue, em decorrência de ato cambial, por meio de procurador. Esta autorização denomina-se de cláusula-mandato.
2. ACEITE
O ato cambiário pelo qual o sacado concorda em acolher a ordem incorporada pela letra de câmbio se chama “aceite”. O sacado de uma letra de câmbio não tem nenhuma obrigação cambial pelo só fato de o sacador ter-lhe endereçado a ordem de pagamento. Estará vinculado ao pagamento do título apenas se concordar em atender a ordem que lhe é dirigida. O sacado, em nenhuma hipótese, está obrigado a cumprir o ordenado por esta espécie de título de crédito.
Nada obriga o sacado a aceitar a letra de câmbio, nem sequer a prévia existência de obrigação perante o sacador ou o tomador. O sacado somente assumirá obrigação cambial, pelo aceite, se o desejar. É o aceite ato de sua livre vontade. Se, por acaso, é ele devedor do sacador ou do tomador, por obrigação derivada de ato, negócio, fato ou relação jurídica diversa, caberá, evidentemente, a ação própria para a cobrança do devido, mas inexiste qualquer forma de obrigá-lo à prática do aceite.
O aceite resulta da simples assinatura do sacado lançada no anverso do título, mas poderá ser firmado também no verso, desde que identificado o ato praticado pela expressão “aceito” ou outra equivalente. 
O aceitante é o devedor principal da letra de câmbio. Isto significa que, no vencimento, o credor do título deverá procurar, inicialmente, o aceitante para cobrar o seu pagamento. Somente na hipótese de recusa de pagamento pelo devedor principal (aceitante), é que o credor poderá cobrar o título, em determinadas condições, dos coobrigados. Cada título de crédito, em espécie, tem o seu devedorprincipal, em relação ao qual se aplica esta regra. 
Ex.: Suponha-se que Antonio envolveu-se com Benedito em um acidente de trânsito, por culpa deste último. Mesmo que Benedito reconheça a responsabilidade, e o dever de ressarcir os danos que causou, ele pode se recusar, validamente, a documentar sua obrigação por meio da letra que Antonio resolva sacar e lhe endereçar. 
Não há meios jurídicos que possam vincular o sacado ao pagamento da letra de câmbio, contrariamente à sua vontade (na duplicata, a regra é diferente).
Como o sacado não está obrigado a aceitar a letra de câmbio, a recusa do aceite é comportamento lícito. A lei, no entanto, reserva para a recusa do aceite uma determinada consequência, com vistas a resguardar os interesses do tomador/beneficiário do título. 
Trata-se do vencimento antecipado, previsto no art. 43 da LU (Lei Uniforme de Genebra). Se o sacado não aceitar a ordem de pagamento que lhe foi dirigida de imediato do sacador, posto que o vencimento originariamente fixado para a cambial é antecipado com a recusa do aceite. Lembre-se que o aceite na letra de câmbio é facultativo, porém irretratável.
Igual consequência ocorre quando a recusa é parcial, ou seja, no caso de aceite limitativo ou modificativo. Aceite limitativo é o aceite em que o sacado concorda em pagar apenas uma parte do valor do título. Pelo aceite limitativo o sacado reduz o valor da obrigação que ele assume. O sacador havia lhe ordenado o pagamento de R$ 20.000,00 e ele, ao assinar a letra, escreve “aceito até R$ 7.000,00”.
Pelo aceite modificativo, o sacado introduz mudanças nas condições de pagamento da letra de câmbio, postergando o seu vencimento, por exemplo, ou alterando a praça em que deve realizá-lo. Tanto na hipótese do aceite limitativo, como na do modificativo, opera-se a recusa parcial do aceite. Com tais tipos de aceite opera-se o vencimento antecipado do título, podendo o tomador executá-lo, de imediato e pela totalidade, contra o sacador, isto é, o sacador deve honrar o cumprimento do título junto ao tomador/beneficário, mas poderá depois cobrá-lo em regresso, do aceitante parcial.
	Para evitar que a recusa do aceite produza o vencimento antecipado da letra de câmbio, o sacador pode valer-se de expediente previsto pelo art. 22 da LU, consistente na cláusula “não-aceitável”. Uma letra de câmbio com esta cláusula não poderá ser apresentada ao sacado para aceite. O credor somente poderá apresentar o título ao sacado no seu vencimento e, para pagamento, portanto. 
 Com este expediente, a negativa do sacado em acolher a ordem que lhe fora dirigida não importará em nenhuma consequência prática excepcional em relação ao sacador, posto que a recusa do aceite ocorre após o vencimento do título, época em que ele já deveria estar preparado para a eventualidade de honrá-lo. 
Uma solução intermediária, prevista em lei também, é a proibição, pelo sacador, de apresentação da letra para aceite, antes de uma determinada data. Com isto, a eventual recusa do aceite e consequente vencimento antecipado do título ficam postergados para uma data futura. Também é possível ao sacador fixar um prazo de apresentação ao aceite, forçando, assim, a pronta definição das consequências da vontade do sacado.
	Ex.: A letra contendo cláusula “não-aceitável” terá a seguinte redação: “aos 20 dias do mês de dezembro de 2016, pagará V.Sa. por esta única via de letra de câmbio, não aceitável, a importância de 20.000,00”.
	A inobservância da cláusula não-aceitável não prejudica os interesses do sacador. Quer dizer, se a letra não-aceitável é apresentada antes do vencimento (ou antes da data limite fixada pelo sacador), da eventual recusa do aceite não se segue a possibilidade de cobrança imediata do sacador. Para exigir o pagamento do sacador, deverá o tomador aguardar o vencimento preordenado da letra, ou o termo a quo nela fixado para a apresentação.
Salvo nas hipóteses em que o sacador define um prazo diverso, a letra de câmbio deve ser apresentada pelo sacador ao sacado até o máximo previsto em lei. Vejamos:
- À vista > o tomador deverá procurar o sacado até o máximo de 1 (um) ano após o saque (art. 34). Neste caso, no entanto, a letra não é a rigor, apresentada a aceite, mas, propriamente para pagamento. Nada impede, contudo, que a letra à vista seja aceita pelo sacado e, em seguida, paga;
- A certo termo da vista > será aquela cujo vencimento se opera com o transcurso de lapso temporal em que a data do aceite é o termo a quo, o tomador deverá apresentá-la ao sacado para aceite até o prazo de 1 (um) ano após o saque (art. 23). Neste tipo de letra de câmbio, não é possível ao sacador inserir a cláusula “não-aceitável” (art.22);
- A certo termo da data > é aquela cujo vencimento se opera com o transcurso de lapso temporal em que a data do saque é o termo a quo;
- Em data certa > devem ser apresentadas a aceite, pelo tomador, até o vencimento fixado para o título (art. 21). 
A inobservância desses prazos pelo credor acarreta a perda do direito de cobrança do título contra os coobrigados (art. 53). Apresentado o título ao sacado, este tem o direito de pedir que ele lhe seja reapresentado no dia seguinte, nos termos do art. 24 da Lei Uniforme. É o chamado prazo de respiro (24 horas), que se destina a possibilitar ao sacado a realização de consultas ou a meditação acerca da conveniência de aceitar ou recusar o aceite.
Assim, em regra, a letra deverá ser apresentada para pagamento no dia de seu vencimento, salvo se esse recair em dia não útil, caso em que deve ser apresentada no dia útil seguinte. Vencido o título, caso o tomador não apresente a letra para pagamento, começa a fluir o prazo para protesto, que na letra de câmbio deverá ser feito no dois dias úteis seguintes ao vencimento (art. 44 da LU).
3. ENDOSSO
 É o ato cambiário que opera a transferência do crédito representado por título “à ordem”. A alienação do crédito fica, ainda, condicionada à tradição do título, em decorrência do princípio da cartularidade. A cláusula “à ordem” pode ser expressa ou tácita. Ou seja, basta que não tenha sido inserida a cláusula “não à ordem” na letra de câmbio (ou nos outros títulos) para que seja transferível por endosso.
 O alienante do crédito documentado por uma cambial é chamado de endossante ou endossador; o adquirente (o que recebe), de endossatário. Com o endosso, o endossante, evidentemente, deixa de ser credor do título, posição jurídica que passa a ser ocupada pelo endossatário. Também é evidente que somente o credor pode alienar o crédito, e, portanto, somente o endossador. Assim, o primeiro endossante de qualquer letra de câmbio será, sempre, o tomador/beneficiário; o segundo endossante, necessariamente, o endossatário do tomador; o terceiro, o endossatário do segundo endossante e assim sucessivamente.
	Nos demais títulos, como o cheque, o tomador/beneficiário será o primeiro endossante. Na Nota Promissória, o tomador/beneficiário também será o primeiro endossante. Já na duplicata o primeiro endossante será o sacador/emitente da referida duplicata.
Em outras palavras, o endossante sempre será a pessoa credora do título de crédito, o qual fará a transferência de seu crédito para outra pessoa.
 	Não há qualquer limite para o número de endossos de um título de crédito; ele pode ser endossado diversas vezes, como, simplesmente, não ser endossado. Caso ocorra de não ser endossado, o próprio tomador/beneficiário é quem será o credor do título.
 	Assim, o endosso produz, em regra, dois efeitos:
1º) transfere a titularidade do crédito representado, do endossante ao endossatário;
2º) vincula o endossante ao pagamento do título, na qualidade de codevedor/coobrigado. Há endossos que não produzem um ou outro destes efeitos.
 	O endosso pode ser de duas espécies: o “em branco”, quando não identifica o endossatário, ou o “em preto”, quando o identifica. Resulta o endosso da simples assinaturado credor do título lançado no seu verso, podendo ser feita sob a expressão “Pague-se a Antônio Silva” (endosso em preto), ou simplesmente “Pague-se” (endosso em branco), ou sob outra expressão equivalente. O endosso poderá, também, ser feito no anverso do título, mas, neste caso, é obrigatória a identificação do ato cambiário praticado, ou seja, não poderá o endossante se limitar a assinar a letra.
 	O endosso em branco transforma a letra, necessariamente sacada nominativa, em título ao portador. O endossatário de um título por endosso em branco poderá transferir o crédito nele representado por mera tradição, hipótese em que não ficará coobrigado.
 	A lei veda ao endossante limitar o endosso a uma parte do valor do título, considerando nulo o endosso parcial. Outrossim, o endosso condicional, em que a transferência do crédito fica subordinada a alguma condição, suspensiva ou resolutiva, não é nulo, mas referida condição será ineficaz, porque a lei a considera não escrita.
 	A doutrina costuma reunir sob a rubrica de endosso impróprio aquele que não produz o efeito de transferir a titularidade do crédito documentado pela letra de câmbio, mas legitima a posse sobre a cártula exercida pelo seu detentor. Com efeito, em determinadas circunstâncias, poderá o credor da letra, ou de outro título, transferir-lhe a titularidade do crédito representado. No caso de o credor do título incumbir a um seu procurador o recebimento desse título, deverá praticar um ato cambiário específico destinado a legitimar a posse do seu mandatário sobre ele. 
Caso tal ato não seja praticado, no próprio título, o devedor que efetuar o pagamento não se liberará, validamente, em virtude da aplicação dos princípios da cartularidade e da literalidade. O endosso impróprio que legitima a posse do procurador do credor é o endosso-mandato.
Lembre-se que no endosso-mandato, conforme Súmula 476 do STJ, o endossatário de título de crédito só responde por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário. 
Outro exemplo de endosso impróprio é o endosso-caução, em que o título de crédito, considerado bem móvel, é onerado por penhor, em favor de um credor do endossante. No endosso-caução, o crédito não se transfere para o endossatário, que é investido na qualidade de credor pignoratício do endossante. Cumprida a obrigação garantida pelo penhor, deve o título retornar à posse do endossante.
Somente na eventualidade de não cumprimento da obrigação garantida, é que o endossatário por endosso-caução apropria-se do crédito representado pela letra. O endossatário por endosso-caução não pode endossar o título, salvo para praticar o endosso-mandato.
Para reforçar: o tipo de endosso tem repercussão na responsabilidade pelo protesto. Dessa forma, conforme determinação contida na Súmula 475 do STJ, o endossatário responde pelos danos decorrentes de protesto indevido do título que recebe por endosso translativo contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas.
 	Já o endosso que não produz o efeito de vincular o endossante ao pagamento do título é o endosso “sem garantia”, previsto na Lei Uniforme em seu art. 15. Com esta cláusula, o endossante transfere a titularidade da letra, sem se obrigar ao seu pagamento.
 	O ato jurídico transladador da titularidade de crédito de efeitos não cambiais é a cessão civil de crédito. Este difere do endosso em dois níveis: 
quanto à extensão da responsabilidade do alienante do crédito perante o adquirente, e
quanto aos limites de defesa do devedor em face da execução do crédito pelo adquirente.
 	Quanto ao primeiro aspecto, acentue-se que o endossante responde, em regra, tanto pela existência do crédito quanto pela solvência do devedor. Em outros termos, o endossatário poderá executar o crédito contra o endossante, caso o devedor não tenha realizado o pagamento deste. Já o cedente responde, em regra, apenas pela existência do crédito e não pela solvência do devedor. 
 	No tocante ao segundo aspecto, o devedor poderá defender-se, quando executado pelo cessionário, arguindo matérias atinentes a sua relação jurídica com o cedente, mas não poderá defender-se, quando executado pelo endossatário, arguindo matérias atinentes a sua relação jurídica com o endossante.
 Há alguns endossos que produzem efeitos de cessão civil de crédito. Ou seja, endossos em que o endossante não responde, em regra, pela solvência do devedor e em que o endossatário não adquire obrigação autônoma. 
 
 	São duas as hipóteses de endossos com efeitos de cessão civil, a saber:
a) - endosso praticado após o protesto por falta de pagamento ou do transcurso do prazo legal para a extração desse protesto (também chamado de endosso póstumo);
b) - endosso de título com a cláusula “não à ordem”.
 	Em relação a esta última hipótese de endosso com efeitos de cessão civil de crédito, faz-se necessário observar que o título de crédito pode ser emitido com a cláusula “não à ordem”, ou seja, transmissível mediante cessão civil de crédito. Essa cláusula pode ser inserida pelo sacador e, assim, desnaturar todo e qualquer endosso que venha a ser feito no título de crédito, ou pode ser inserida por um endossante, proibindo que o título seja novamente endossado. 
 	A forma de inserir na cártula tal proibição é por meio da cláusula “não à ordem”, posto que, assim, a transferência da titularidade do crédito representado somente poderá operar-se pela cessão civil de crédito e não mais pelo endosso. 
 	Por esta razão, é que a lei estabelece que o endosso de um título de crédito no qual foi inserido a cláusula “não à ordem” tem, a rigor, os efeitos de cessão civil. Assim sendo, como forma de desestimular situações como estas, o endossante que inserir a cláusula “não à ordem”, em seu endosso, ou seja, que proibir novos endossos no título de crédito, não garante o seu pagamento senão para o seu próprio endossatário. Quem adquirir o crédito representado por título de crédito endossado com a cláusula “não à ordem” ao alienante não terá a garantia nem deste, que é cedente, nem do endossante anterior, que proibira novos endossos.
4. AVAL
 	O pagamento de um título de crédito pode ser, total ou parcialmente, garantido por aval. Por este ato cambial de garantia, uma pessoa, chamada avalista, garante o pagamento do título em favor do devedor principal ou de um coobrigado. O devedor em favor de quem foi garantido o pagamento do título é chamado de avalizado.
 É importante salientar, novamente, que o CC/02, menciona em seu § único do art. 897, que é vedado o aval parcial, entretanto, a LU diz que pode ser parcial, valendo, portanto, a LU (art. 903, CC/02: “Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código”).
O avalista é responsável da mesma forma que o seu avalizado, diz o art. 32 da Lei Uniforme (LU) e art. 899 Código Civil Novo. Isto não significa, contudo, uma atenuação do princípio da autonomia. A obrigação do avalista é autônoma em relação à do avalizado, como esclarece a própria lei. Eventual nulidade da obrigação do avalizado não compromete a do avalista. 
 	Quando a lei equiparou as responsabilidades de um e de outro coobrigado, pretendeu, em suma, apenas prescrever que o avalista responde pelo pagamento do título perante todos os credores do avalizado e, uma vez realizando o pagamento, poderá voltar-se contra todos os devedores do avalizado (ação de regresso), além do próprio evidentemente.
 	O avalista antecipado de sacado (na letra de câmbio) que recusa o aceite responde pelo valor do título na exata medida em que assumiu, com o aval, uma obrigação autônoma, independente de qualquer outra representada no mesmo título de crédito.
 	O aval resulta da simples assinaturado avalista no anverso da letra de câmbio (por exemplo), sob alguma expressão identificadora do ato praticado (“por aval” ou equivalente) ou não. Se o avalista pretender firmar no verso do título, somente poderá fazê-lo identificando o ato praticado.
 	O aval é a adesão que uma pessoa empresta por sua assinatura, depois de criado o título, obrigando-se sem qualquer delonga. Dessa forma, se aparecer outra assinatura, que não a do proprietário do título no verso ou anverso, será do avalista, que garante o pagamento do título em favor do devedor.
 	O aval pode ser “em branco” ou “em preto”. Do primeiro tipo é o aval que não identifica o avalizado; do segundo, aquele que o identifica. O aval em branco, determina o art. 31 da LU, é dado em favor do sacado na letra de câmbio ou do devedor principal nos demais títulos. É ele avalizado pelo aval em branco.
 	Normalmente, deve-se mencionar a quem o aval é prestado, o que caracteriza o aval em preto. Se o aval for em preto, a favor do endossador (ou endossante), a responsabilidade do avalista é de 12 meses. Não havendo tal indicação, o aval será em branco e, nesse caso, é prestado ao devedor, sendo de três anos a responsabilidade do credor.
 	Além disso, o próprio CC/02, em seu art. 900, estabelece que o aval feito posteriormente ao vencimento do título produz os mesmos efeitos do aval anteriormente dado.
	Cabe aqui salientar três situações importante que são inerentes ao instituto do aval: 
o aval somente pode ser praticado em títulos de crédito; 
o aval determina a autonomia em relação à obrigação do avalizado; e, 
não há o benefício de ordem.
Ainda sobre o aval, convém salientar o seguinte: No art. 1647, inciso III, do CC/02, diz que “[...] nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: III – prestar fiança ou aval”. Ocorre que no Enunciado nº 114 do CJF menciona: “art. 1647: o aval não pode ser anulado por falta de vênia conjugal, de modo que o inciso III do art. 1647 apenas caracteriza a inoponibilidade do título ao cônjuge que não assentiu”. 
O CJF segue no assunto em pauta com o Enunciado nº 132: “Proposição sobre o art. 1647, III, do novo CC/02: outorga conjugal em aval. Suprimir as expressões ‘ou aval’ do inciso III do art. 1647 do novo CC”. Apresenta como justificativa o seguinte: “exigir anuência do cônjuge para a outorga de aval é afrontar a Lei Uniforme de Genebra e descaracterizar o instituto. Ademais, a celeridade indispensável para a circulação dos títulos de crédito é incompatível com essa exigência, pois não se pode esperar que, na celebração de um negócio corriqueiro, lastreado em cambial ou duplicata, seja necessário, para a obtenção de um aval, ir à busca do cônjuge e da certidão de casamento, determinadora do respectivo regime de bens”.
	
Pagamento e cadeia cambiária
Ex.: Na letra de câmbio 
 Aceitante
Sacador 
							 Avalista
	 Tomador/credor/beneficiário A B C
> se o sacado aceitar ele passa a ser o aceitante e em consequência será o devedor principal.
> o credor poderá fazer endosso para A e A poderá fazer endosso B, e B endossar para C, mas C exigiu um avalista de B.
> assim, C poderá cobrar de qualquer um, ou seja, do aceitante, que é o devedor principal, do tomador/credor, de A, e de B ou seu avalista.
> o Tomador poderia exigir uma avalista do aceitante.
> C é o credor final do título de crédito.
> para C poder cobrar do Tomador/credor, de A, de B e seu avalista, deverá realizar o protesto necessário. 
> para cobrar do Aceitante (devedor principal) não é necessário o protesto.
Ex.: Na Nota Promissória
 						 Avalista
Sacador/ Tomador/credor/beneficiário A B C
Subscritor 
 Endosso Endosso Endosso
aqui a situação muda um pouco.
o sacador/emitente/subscritor é o devedor principal
Não tem aceitante, vai direto para o tomador/credor.
O credor pode endossar para A, e A para B, e B para C, mas C exigiu um avalista de B.
C é o credor final do título de crédito.
 Poderia o A exigir um avalista do tomador.
 Poderia B exigir um avalista de A.
Para cobrança, o procedimento é o mesmo. Protesto necessário para os coobrigados.
Observações importantes:
	A quitação deve ser dada no próprio título, com a entrega deste a quem efetuou o pagamento.
	Quem efetuar o pagamento deve conferir a regularidade da cadeia cambiária de endossos.
	O protesto é facultativo contra o aceitante e seus avalistas, mas obrigatório para regresso contra os demais coobrigados.
	É possível incluir cláusula que dispense o protesto contra todos (se incluída pelo sacador) ou contra alguns (se incluída por endossantes ou avalistas).
	O protesto da letra de câmbio pode se dar:
Por falta de pagamento;
Por falte de aceite;
Por falta de data de aceite nas letras a certo termo da vista.
Para a cobrança judicial:
	- Ação de execução cambial > nesta as matérias a serem alegadas em defesa são restritas.
A Prescrição ocorre em:
3 anos contra o devedor principal e avalista, a partir do vencimento.
1 ano do protesto, contra endossantes e avalistas.
6 meses do pagamento ou ajuizamento de execução, em relação a direito de regresso.
Cobrança após a prescrição:
	- Ação de conhecimento
	- Ação monitória
5. FIANÇA (não é cambial)
 	A fiança está regulada nos art. 818 ao 839 do Código Civil Novo. O ato de garantia de efeitos não cambiais é a FIANÇA, que se distingue do aval quanto à natureza da relação com a obrigação garantida. A obrigação do fiador é acessória em relação à do afiançado, conforme art. 837 CC/02, ao passo que a obrigação do avalista é autônoma, independente da do avalizado. Como consequência desta distinção, a lei concede ao fiador o benefício de ordem, art. 827 do CC, o qual é inexistente para o avalista.
Vejamos os aspectos principais:
 	Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra. Não é juridicamente possível que uma mesma pessoa seja, simultaneamente, devedora (afiançada) e fiadora. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva. 
Por exemplo: A fiança é contrato benéfico, pois se o contrato de locação previu que sua prorrogação só se daria por escrito, a ausência de anuência dos fiadores à prorrogação que se deu automaticamente, mas não por escrito, exonerou-os da garantia prestada, pela ocorrência da novação. Assim, o fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu, pois a responsabilidade do fiador se restringe aos termos do pactuado no contrato.
 	Caso o fiador seja analfabeto não tem eficácia a fiança prestada por essa pessoa. O analfabeto só poderá prestar fiança pessoalmente por instrumento público, ou por instrumento particular se for representado no ato por procurador legalmente constituído.
 	Pode-se estipular a fiança, ainda que sem consentimento do devedor ou contra a sua vontade. As dívidas futuras poderão ser objeto de fiança, mas o fiador, nesse caso, não será demandado senão depois que se fizer certa e líquida a obrigação do principal devedor. Não sendo limitada, a fiança compreenderá todos os acessórios da dívida principal, inclusive as despesas judiciais, desde a citação do fiador. 
Por exemplo: Se houve acordo entre o locador e locatário para majorar o aluguel em valores superiores os reajustes legais, sem a intervenção do fiador, a responsabilidade deste se limita ao que foi pactuado no contrato original.
 	A fiançapode ser de valor inferior ao da obrigação principal e contraída em condições menos onerosas, e, quando exceder o valor da dívida, ou for mais onerosa que ela, não valerá senão até o limite da obrigação afiançada. As obrigações nulas não são suscetíveis de fiança, exceto se a nulidade resultar apenas de incapacidade pessoal do devedor. A regra é de que a nulidade da obrigação principal produz a da acessória, mas a desta não influi na primeira. Entretanto, há uma exceção: caso a obrigação principal for nula em virtude da incapacidade do devedor (relativa ou absoluta), esta não contamina a fiança, que remanesce válida, ainda que anulada a obrigação principal.
 	Quando alguém houver de oferecer fiador, o credor não pode ser obrigado a aceitá-lo se não for pessoa idônea, domiciliada no município onde tenha de prestar a fiança, e não possua bens suficientes para cumprir a obrigação. Se o fiador se tornar insolvente ou incapaz, poderá o credor exigir que seja substituído. A essência do contrato de fiança é a de proporcionar ao credor do afiançado a satisfação da obrigação por este assumida. Se o fiador perde a capacidade de continuar a prestar a garantia, tornando-se insolvente, abre-se para o credor o direito de pedir a substituição do fiador.
 	O fiador demandado pelo pagamento da dívida tem direito a exigir, até a contestação da lide, que sejam primeiro executados os bens do devedor. O fiador que alegar este benefício de ordem (art. 827 CC), deve nomear bens do devedor, livres e desembargados, quantos bastem para solver o débito. 
Não aproveita este benefício se o fiador: 
- o renunciou expressamente; 
- se se obrigou como principal pagador, ou devedor solidário; ou 
- se o devedor for insolvente, ou falido.
 	A fiança conjuntamente prestada a um só débito por mais de uma pessoa importa o compromisso de solidariedade entre ela, se declaradamente não se reservarem o benefício da divisão. Se estipulado este benefício, cada fiador responde unicamente pela parte que, em proporção, lhe couber no pagamento. 
Por exemplo: Os contratos de fiança, muitas vezes, não trazem com clareza, explicitado, se as assinaturas de ambos os cônjuges correspondem à fiança prestada por um, acompanhada da outorga do outro, ou se ambos são, conjuntamente, fiadores. Se um cônjuge pré-morre ao outro, e este é também fiador do negócio, apenas a relação ao falecido se limita a fiança. É necessário que haja explícita referência à qualidade de fiador do outro cônjuge. Na ausência de expressa referência do outro cônjuge, presume-se que a participação do outro cônjuge tem a mera natureza de outorga conjugal.
 	Assim, a esposa do fiador que se limita a dar outorga uxória (autorização) à fiança prestada por seu marido, em atendimento à exigência legal, não adquire a condição de fiadora. O acordo realizado apenas entre locadora e locatário, com o qual não consentiu a esposa do fiador, não pode ser executado em relação a esta.
 	O fiador que pagar integralmente a dívida fica sub-rogado nos direitos do credor: mas só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva quota. A parte do fiador insolvente distribuir-se-á pelos outros. O fiador também tem direito aos juros do desembolso pela taxa estipulada na obrigação principal, e, não havendo taxa convencionada, aos juros legais da mora.
 	O devedor responde também perante o fiador por todas as perdas e danos que este pagar, e pelos que sofrer em razão da fiança.
 	O fiador poderá exonerar-se da fiança que tiver assinado sem limitação de tempo, sempre que lhe convier, ficando obrigado por todos os efeitos da fiança, durante 60 dias após a notificação do credor.
 	A obrigação do fiador passa aos herdeiros, mas a responsabilidade da fiança se limita ao tempo decorrido até a morte do fiador, e não pode ultrapassar as forças da herança.
 	O fiador pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais, e as extintivas da obrigação que competem ao devedor principal, se não provierem simplesmente de incapacidade pessoal, salvo o caso do mútuo feito a pessoa menor. 
 
 	Ainda que solidário, o fiador, ficará desobrigado:
se, sem consentimento seu, o credor conceder moratória ao devedor;
se, por fato do credor, for impossível a sub-rogação nos seus direitos e preferências;
se credor, em pagamento da dívida, aceitar amigavelmente do devedor objeto diverso do que este era obrigado a lhe dar, ainda que depois venha a perdê-lo por evicção (perda total ou parcial que sofre o adquirente duma coisa em consequência de decisão judicial promovida pelo verdadeiro dono).
 	 Se for invocado o benefício da excussão (executar judicialmente os bens de um devedor principal) e o devedor, retardando-se a execução, cair em insolvência, ficará exonerado o fiador que o invocou, se provar que os bens por ele indicados eram, ao tempo da penhora, suficientes para a solução da dívida afiançada.
 	Assim: o aval não pode ser confundido com a fiança, pois nesta é necessária a participação de ambos os cônjuges, dependendo do regime de bens dos mesmos, enquanto que, no aval, basta a assinatura de um dos cônjuges para ter validade. Ainda, o aval é forma de garantia do pagamento do título. Ele é dado mediante a assinatura de um terceiro no anverso ou verso do título; fora do título não tem valor. A fiança é aposta no próprio contrato.
BIBLIOGRAFIA conforme a estabelecida no Plano de Ensino.

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