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Apostila sobre Títulos de Crédito- versão final

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INPG/INSTITUTO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO
TÍTULOS DE CRÉDITO
TÍTULOS DE CRÉDITO
Apostila I – Títulos de Crédito
Pós-Graduação em Direito Empresarial
BELO HORIZONTE, NOVEMBRO 2010.
PARTE I - INTRODUÇÃO
I.I - O CRÉDITO E A ECONOMIA
1. Conceitos de Crédito
a. Conceito jurídico: Crédito é um vínculo jurídico entre sujeito ativo e sujeito passivo pelo qual o ativo pode exigir o cumprimento da obrigação. Ou seja, é o direito que o credor (sujeito ativo) tem de exigir do devedor (sujeito passivo), o cumprimento de uma obrigação. Onde há crédito há obrigação.
b. Conceito econômico: Crédito é a troca de um bem (ou valor) presente por um bem (ou valor) futuro, é uma troca feita no tempo. A maioria das operações de crédito decorre, basicamente, de dois contratos: compra e venda a prazo e mútuo (empréstimo de coisa fungível). Ora este é o sentido que nos interessa.
2. Elementos do crédito
Em uma operação de crédito existem, basicamente, dois elementos:
a. Confiança (creditum = ato de fé): deve ser entendida sob seus aspectos objetivo e subjetivo;
Elemento objetivo: o devedor tem a capacidade financeira de quitar seu débito;
Elemento subjetivo: que tem os atributos morais (a vontade) de quitar esse débito.
O credor da prestação futura confia no devedor. A confiança está implícita no crédito. A confiança pode não repousar exclusivamente na pessoa do devedor, repousando, por exemplo, no fiador. À medida que houve intensificação na concessão do crédito, a este elemento foram agregadas garantias que podem ser reais ou fidejussórias.
b. Tempo: Correspondente ao período compreendido entre a prestação atual (por quem concede o crédito: o credor) e o momento da prestação futura a ser cumprida pelo devedor, beneficiário do crédito.
3. Função do Crédito
Atualmente vivemos em uma sociedade de consumo. A riqueza de um país não é mais medida pela sua reserva de moeda, mas sim pela pujança de sua economia. Neste cenário, o crédito permite ao cidadão (empresário ou não) acesso a determinado bem que naquele momento não teria condições de adquirir à vista, gerando assim aumento de produção, que gerará consumo, que gerará emprego e, por conseguinte torna-se mais forte a economia do país.
Assim, a função do crédito é salvar o capital da esterilidade, é fecundar o capital, gerar crescimento econômico. Um capital estagnado é estéril, pois não produz riqueza alguma. Portanto, principalmente neste século XXI, para salvar da esterilidade o capital, gerando crescimento econômico, é necessário fornecer crédito para que as empresas produzam e cumpram sua função social.
I.II ACEPÇÃO ECONÔMICA DOS TÍTULOS DE CRÉDITO: FUNÇÃO, HISTÓRIA E REQUISITOS
1. Função econômica dos títulos de crédito
Os títulos de créditos foram os meios criados pelo Direito para dotar a economia dos meios para circulação fácil e segura do crédito. Se aplicássemos as regras do Direito Comum, leia-se Direito Civil, para transmitir direitos, com certeza não haveria uma circulação fácil ou segura do crédito.
Nos Estados Unidos e na Inglaterra, os títulos de crédito chamam-se instrumentos negociáveis, o que demonstra o caráter gerador de recursos deste documento através de sua negociabilidade. O título de crédito é o documento na qual vai materializar-se aquela prestação futura. Materializado, o credor pode negociar esse papel.
2. Considerações históricas sobre títulos de crédito
Para alguns autores, o título de crédito (letra de câmbio) foi objeto de criação dos judeus expulsos da França. Outros atribuem a sua criação aos genoveses ou aos gibelinos desterrados de Florença. E alguns ainda atribuem sua criação aos romanos.
Todavia, pesamos não serem plausíveis essas afirmações seja porque, com relação aos judeus expulsos da França e aos genoveses ou aos gibelinos desterrados de Florença, essas pessoas chegavam a outras terras sem seus bens indispensáveis para a garantia do crédito e, assim, obviamente não tinham crédito, o que inviabiliza, desta forma a criação do título de crédito por esses povos. Já com relação aos romanos, segundo IVANA GADELHA PAIVA (2002) – Antecedentes históricos da lei uniforme de Genebra:
“No Direito Romano, o capital não circulava através do crédito, pois a obrigação consistia em uma ligação pessoal entre credor e devedor, aderia ao corpo do devedor. A partir do evento da Lex Poetelia Papiria, substituiu-se a garantia pessoal e corporal do devedor pela do seu patrimônio, conquanto permanecesse formal e rígida a transmissão do crédito através da cessão.” [footnoteRef:2] [2: PAIVA, Ivana Gadelho. Título da obra. Local, editora, ano.] 
O que também inviabiliza a criação dos títulos de crédito pelos romanos, não se podendo assim afirmar com certeza a exata origem dos títulos de crédito.
Pensamos ser lógico que, para que um título como a letra de câmbio pudesse surgir, haveria necessidade de ocorrer uma evolução natural das coisas. Primeiro haveria de surgir a necessidade do câmbio, segundo a utilidade do documento de câmbio e por fim sua aceitação. Se houvesse necessidade de câmbio, utilidade de determinado documento e sua aceitação; seu progresso seria natural. 
A teoria mais aceitável, ao menos a nosso ver, é a que de que os títulos de crédito tiveram origem na idade média, nas cidades-Estados italianas, provavelmente a partir do século XIII e seguindo até o século XVII, com o surgimento das Ordenações de Comércio, em 1673.
Segundo os autores que defendem essa origem, alguns fatos podem ser dados como certos para entendermos o surgimento dos títulos de crédito (letra de câmbio) e, por consequência, sua evolução.
O primeiro deles é a multiplicidade de pequenas cidades-Estados italianas, onde cada uma mantina sua própria moeda. Ora, sendo assim, com o comércio florescente naquela região, principalmente por meio das conhecidas feiras medievais, era comum a necessecidade da troca de moeda, principalmente por parte de comerciantes de outras cidades e que não tinham a moeda local.
Se, por exemplo, um comerciante chegava a Nápolis, vindo de Roma ou outro lugar para comprar, tinha de ter a moeda local. Assim, haveria sempre de fazer o câmbio de sua moeda de origem para a moeda local para fazer negócio.
Some-se a isso o fato de que, naquela época, o transporte de grandes quantidades de dinheiro vivo para efetuar compras em outras cidades era extremamente arriscado, pois se tratando de longas distâncias a serem percorridas em caminhos ermos havia grandes chances de o comerciante ser alvo de criminosos.
Desta forma, segundo alguns autores, foi aos poucos surgindo a figura do banqueiro que realizava a troca de moedas na própria feira ou efetuava o câmbio à distancia (trajetício) através de uma carta (littera) enviada a outro banqueiro na cidade destino do comerciante solicitando a este que entregasse ao portador daquela carta determinada quantia em moedas destino, eis que o portador havia deixado com ele quantiadade suficiente de moedas local a fim de cobrir o câmbio, obviamente de uma taxa, e que em negócio posterior ambos fariam a compensação.
Dizem que assim surgiu a littera di cambi (carta de câmbio) que permitiu aos comerciantes maior segurança nas viagens, eis que não mais carregavam dinheiro vivo, e ainda facilitava o comércio entres as cidades-Estados italianas que possuíam moeda própria alavancando assim o comércio naquela região e posteriormente para o mundo. 
Como acima dito, embora não haja na doutrina um consenso quanto a origem da letra de câmbio - primeiro título de crédito - os autores costumam dividir sua história em três períodos, quais são: o período italiano, o período francês e o período alemão.
O chamado período Italiano perdura até 1673. Usava-se apenas como instrumento de troca de moedas, não era tida como meio de pagamento. Havia necessidade de constar da carta que o Banqueiro já possuía em suas mãos a quantia referente ao valor a ser trocado na moeda local.
Já o Período Francês, perdura até 1848, a letra de câmbio passa a ser utilizada como instrumento depagamento, pelo endosso, mas continuava necessitando de indicar seu lastro, isto é, a razão de sua emissão, que indicava a provisão em mãos do Banqueiro de soma em moedas equivalente ao montante retirado no destino.
No período alemão, em de cerca de 1848, passa a ser tratado como título de crédito como hoje os conhecemos, tornando-se abstrato, não precisando indicar mais o lastro, isto é, a razão de sua emissão, que indicava a provisão em mãos do Banqueiro de soma em moedas equivalente ao montante retirado no destino.
A partir daí o título passou a valer por si só, e para sua validade não dependia mais de prévio depósito de dinheiro em mãos dos banqueiros.
Período Moderno - em 1930, em Genebra, com a Conferência de Genebra, foi adotado o regulamento uniforme sobre letras de câmbio e notas promissórias aprovado pela anterior convenção havida em Haia no ano de 1912. Pela LUG é dado tratamento extremamente parecido em vários países do mundo.
3. Requisitos econômicos dos títulos de crédito
O Direito, ao criar o título de crédito, dota a economia de meios para circulação fácil e segura do crédito. Ele vence a barreira do tempo, fazendo com que a prestação futura se materialize na presente através do título de crédito. O credor não precisa esperar o pagamento do devedor. O credor pode negociar a prestação futura que está materializada no título. Ex.: pode-se descontar no banco o título.
		
Para que o título cumpra sua função (promover a circulação fácil e segura do crédito), deve atender a dois requisitos:
a. Que a aquisição do título de crédito implique a aquisição do direito nele materializado: A pessoa que adquire o título está adquirindo o direito que está nele materializado, nem mais nem menos.
b. Que a posse do título (bem móvel) seja necessária e, às vezes, suficiente para o exercício do direito nele contido.
I.III – TÍTULOS CIVIS X TÍTULOS DE CRÉDITO
Como acima dito, caso aplicássemos as regras do Direito Comum, leia-se Direito Civil, para transmitir direitos materializados em um título, certamente não haveria uma circulação fácil ou segura do crédito.
Cumpre-nos distinguir o direito materializado em um título civil comum e o materializado em um título de crédito:
	Direito em um documento comum
	Direito em um título de crédito
	
- O direito existe até sem o documento, que, embora útil, e às vezes necessário como prova, não é imprescindível para a existência do direito. Ex: locação, posse (usucapião). Há outros meios de prova desses direitos.
	
- Materializada a prestação futura em um título de crédito, sem esse título o direito não existe. O direito depende do título para existir. O título é constitutivo do direito.
	
- O direito pode ser transferido sem o documento que pode ou não acompanhar a respectiva cessão de direito.
	
- O direito só pode ser transferido com a entrega do título a quem se transfere. Não há como transferir o direito sem a entrega do título.
	
- O direito pode ser exigido sem o documento, valendo a quitação (recibo) dada pelo credor ao devedor, como prova oponível erga omnes da extinção do direito.
Exemplo: Se o devedor não é notificado da transferência e paga para o antigo credor que lhe dá a quitação, seu ato é válido (art. 292/CC).
	
- O direito só pode ser exigido com a apresentação e a entrega do título ao devedor que satisfaz a obrigação.
Exemplo: O devedor A paga ao credor primário B sem exigir a entrega do título de crédito. Acontece que B negociou o título que agora se encontra em posse de X. Quando este apresentar o título, A terá de pagá-lo, ainda que apresente a quitação dada por B.
	
- A respectiva cessão transfere um direito derivado. O mesmo direito que é do cedente, deriva para o cessionário. Significa que o cessionário fica vulnerável às defesas que o devedor tinha contra o credor original. O cessionário é sucessor do cedente (art. 294/CC). Conseqüência: Não há segurança na transferência.
	
- O direito do endossatário (adquirente do título) é autônomo e independente em relação ao direito que foi do portador anterior do título. Dessa forma, o cessionário fica invulnerável perante o devedor.
1. Transferência do direito de crédito
Existem dois meios para transferir o direito de crédito:
Cessão Civil (ou Cessão de Crédito): É um contrato, isto é, um acordo de vontades, regulado pelos artigos 286 a 298 do Código Civil.
Endosso: É um meio específico, próprio dos títulos de crédito, porém não único. Deve ser acompanhado da tradição. Não é um contrato, é um ato unilateral de vontade.
A conseqüência da transferência de direito em cada uma dessas formas é muito diferente. Na cessão civil, o cessionário deve notificar o devedor para que não pague ao cedente. Fazendo isso, se o devedor pagar ao cedente, a quitação dada pelo mesmo não vale. O devedor pagou mal e terá que pagar novamente. Se o devedor não fosse notificado, a quitação dada pelo cedente valeria (art. 292 CC).
2. Efeitos da Cessão Civil e do Endosso
Fig.1 Cessão civil:
C terá o mesmo direito de B. Tudo o que seria oponível contra B pode ser oposto contra C. Todas as exceções (defesas) que o devedor tinha contra o credor primitivo poderão ser alegadas contra todos os cessionários, uma vez que o direito destes é derivado.
		Fig. 2 Endosso (Tc = título de crédito):
O credor do título de crédito pode cobrar de todos os que o assinaram, pois, a responsabilidade é solidária. O endossante não pode usar contra o credor, no exemplo acima, X, as exceções que tinha contra B, pois, o direito transferido é autônomo. Ou seja, se A (devedor) assina um título de crédito em favor de B (credor / cedente) e este, o endossa para C (cessionário 1), que por sua vez o endossa para D (cessionário 2), chegado o título à posse de X, as eventuais defesas que A tem contra B são inoponíveis a X. 
Se, a título de exemplo, A dá um recibo de quitação do título a B, mas não retém o título e este chega às mãos de X, A não poderá opô-lo a X.
PARTE II- TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
II.I – TÍTULOS DE CRÉDITO: CONCEITUÇÃO JURÍDICA
Observados todos os aspectos introdutórios, passemos então aos estudos dos títulos de crédito.
 
Conceito clássico de título de crédito é do célebre doutrinador CESARE VIVANTE. O autor italiano o conceitua com a maior precisão títulos de crédito, sendo sua conceituação abraçada pelo Código Civil de 2002. Diz o doutrinador italiano:
	
“Título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele contido”.[footnoteRef:3] [3: VIVANTE, Cesare. Instituições do Direito Comercial,. São Paulo, editora Miranelli, 2005.] 
Analisemos o artigo 887 do Código Civil, verbis:
Art. 887 - O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.
	
Percebam que é redundante a última parte do dispositivo. Ora, se o título de crédito é criado por lei, óbvio é que somente produzirá efeitos quando preencher os requisitos previstos pela lei criadora. Assim, demonstra-se que não só neste artigo como em outros tantos nosso legislador não segiu a melhor redação.
II.II – CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
	
Equiparam-se a bem móvel, ou seja, podem ser dados em penhora, caução, alienação
	
Negociabilidade
	
Executividade (Títulos executivos)
	
Transferência opera efeitos pró-solvendo, salvo disposição em contrário
	
São obrigações quesíveis/quérable
II.III – REQUISITOS/PRINCÍPIOS GERAIS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
 
a. Cartularidade/ Incorporação: O direito cambial está contido no documento. Da propriedade do documento deriva a titularidade da pretensão ante o devedor. É a conexão entre documento e direito, própria dos títulos de crédito. Assim, um indivíduo que tenha contra outro uma razão de débito, transfunde esse seu compromisso em um documento, com base no qual se compromete a efetuar a prestação a favor de qualquer um que se encontre na posição de proprietário do próprio documento.
A conexão direito/documento é irreversível, no sentidode que a aquisição do direito se torna um efeito da aquisição do documento: a titularidade de um ocasiona a titularidade do outro, ou seja, da propriedade do título deriva a titularidade da pretensão creditícia ante o devedor, uma vez que o direito está materializado na cártula.
Assim, Vivante nos mostra que o título de crédito é um documento de apresentação, ou seja, o credor deve apresentá-lo para satisfazer seu direito. Uma vez que a prestação futura é materializada no documento, há um entrelaçamento entre eles, a tal ponto que um não existe sem o outro.
FERRI chamou isso de função legitimatória, pois, quem tem a propriedade do documento está legitimado a adquirir o direito nele consignado. Noutros termos, ao adquirir um documento, adquire-se o direito nele contido e, dessa forma, aquele que adquiriu o título tem a legitimidade de cobrar o direito que está materializado no título.
b. Literalidade: Em Direito cambial vale o que está escrito na cártula. Conjugando os dois princípios, temos que o Direito cambial só é exercitável com a apresentação do título e só é transferível com a transferência do título através do endosso.
Assim, podemos dizer que este princípio manifesta-se como uma forma de proteção do interesse do devedor cartular que é posto a salvo de qualquer exigência do portador do título que não encontre correspondência no texto do documento, seja com referência ao objeto, seja quanto à modalidade da prestação.
Significa que a letra do título expressa o conteúdo e, ao mesmo tempo, os limites da pretensão acionável do portador. Assim, o devedor cartular poderá opor ao portador só as defesas baseadas no contexto literal do título e, entre elas, principalmente, a relativa à não correspondência entre a pretensão do portador e os dados constantes no título. A explicação parece-nos evidente: se a titularidade do direito não repousa sobre uma relação jurídica estabelecida com o devedor, nem sobre a sucessão dessa relação, mas sobre a propriedade do título, é natural que os limites do direito sejam expressos pela letra do documento, tendo em vista a incorporação do crédito ao documento.
A literalidade não exclui a possibilidade de o título estar vinculado a um negócio estranho a ele. Exemplo: Ao realizar um contrato e assinar um título de crédito, as partes acordaram o valor de R$ 500.000,00, porém, quando da redação do título houve um equívoco e se registrou o valor de R$ 50.000,00. Em caso de execução, só poderão ser cobrados 50 mil, pois o título não vale mais nem menos do que está nele contido. Os demais R$ 450.000,00 deverão ser cobrados em sede de processo de conhecimento, com base no contrato, se este não possuir os requisitos básicos dos títulos de crédito, hipótese em que o credor poderá promover execução com base no contrato.
O título vinculado a um negócio jurídico estranho é chamado título dependente. Em obediência ao princípio da literalidade, no corpo do título dependente deve constar expressamente o negócio jurídico ao qual se vincula. Exemplo: “nota promissória vinculada ao contrato de compra e venda do imóvel X celebrado entre A (comprador) e B (vendedor)”. Suponhamos agora que este título, emitido por A em favor de B, circule através de endossos, chegando às mãos de Z. Na contingência de uma execução ajuizada em desfavor de A, ainda assim este poderá opor a Z a inexecução do contrato celebrado com B para tentar se furtar ao pagamento do título.
c. Autonomia: As obrigações contidas em um título de crédito são autônomas entre sí, o que vale dizer que a nulidade da obrigação anterior não afeta a obrigação posterior. Em outras palavras, é a independência da situação creditória, de cada um dos portadores do título, da situação dos portadores precedentes, tanto sob o aspecto da titularidade, quanto do conteúdo do direito mencionado no título.
As declarações cambiárias constam da assinatura da figura interveniente no título, não sendo necessária explicação sobre o teor da declaração, bastando a aposição da assinatura. 
Lembramos que cada declaração cambiária implicará a assunção de obrigações, isto é, quem apuser sua assinatura num título de crédito ficará obrigado e a ele vinculado, podendo ser chamado a pagar seu valor. São várias as declarações cambiárias que à frente serão estudadas: emissão, saque, aceite, aval e endosso; todas elas se fazem pela assinatura no título e representam obrigações cambiárias. Essas obrigações são autônomas, não podendo uma subordinar-se ou condicionar-se a outras. Noutros termos, cada assinatura aposta no título representa uma obrigação autônoma em relação às demais. Quando num título houver diversos coobrigados, vários avalistas e endossantes, todos poderão ser cobrados, não podendo um alegar que só pagará se os outros também pagarem. 
Pelo mesmo motivo, as obrigações cambiárias são também solidárias. Neste sentido, cumpre trazer à luz o artigo 265 do Código Civil, verbis:
Art. 265 - A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.
Esta solidariedade cambial decorre da lei, ao contrário da solidariedade civil decorre do acordo de vontades. Neste sentido, vale colacionar o artigo 47 da Lei Uniforme de Genebra, verbis:
Art. 47 - Os sacadores, aceitantes, endossantes ou avalistas de uma letra são todos solidariamente responsáveis para com o portador.
Alguns autores defendem que do princípio da Autonomia das obrigações cambiárias decorrem dois “sub-princípios” que são o da abstração e o da inoponibilidade das excessões pessoais a terceiros de boa-fé.
Já outros autores entendem que na verdade se tratam de outros princípios aplicados aos títulos de crédito.
Todavia, para melhor entendermos esses princípios/sub-princípios, vamos analisá-los em dois aspectos:
1. Antes do título circular: A e B têm uma relação econômica qualquer em razão da qual B se torna credor de A, e A emite um título de crédito para B. Existirão, portanto, duas relações conexas, porém autônomas:
Fig. 3 Antes do título circular:
Numa relação direta ou imediata, essa autonomia é muito tênue, pois entre A e B há uma relação direta, isto é, a autonomia do direito cartular de B é menos nítida. Se B não recebe espontaneamente de A a prestação devida, e move uma execução contra A com base no título de crédito (relação cartular), A pode embargar a execução alegando a relação fundamental. Noutros termos, A pode obstruir o direito cartular de B, opondo uma relação extracartular, isto é, a relação fundamental. 
Isso se deve ao princípio da economia processual. Na hipótese de A, a despeito de possuir provas de que não é devedor, ser obrigado a pagar a prestação em razão da execução movida por B com fundamento no título de crédito emitido em seu favor, teria de ajuizar nova ação de conhecimento para que seja declarado o pagamento indevido, pois a vedação ao enriquecimento sem causa é princípio geral de direito. A necessidade de propositura de nova ação feriria o princípio da economia processual. Destarte, é lícito ao A opor a relação causal em sede de embargos à execução fundada em título de crédito. Essa possibilidade existe, portanto, não porque o direito de B deixou de ser autônomo, mas em função de economia processual. 
O direito de B é autônomo, pois a execução movida contra A se fundará exclusivamente no título de crédito. Se o direito cartular de B não fosse autônomo, a execução teria que fazer referência à causa debendi, o que não acontece. Como B tem o título de crédito, ele não tem que provar que é credor de A em razão de uma determinada relação fundamental, isto é, inverte-se o ônus da prova, cabendo a A o ônus de provar que não é devedor. 
	
2. Depois de o título circular
Fig. 4 Depois de o título circular:
O direito de C é independente e autônomo em relação ao direito que foi de B. Uma vez que título entra em circulação ele se abstrai da causa que lhe deu origem. Desta forma C não adquiriu o mesmo direito que foi de B. Ao contrário, C adquiriu o direito que está materializado no título de crédito. A relação fundamental não circula, massim permanece imóvel, estática entre as partes contratantes (A e B). Entre B e C há outra relação fundamental distinta da relação fundamental entre A e B.
Ao contrário do que acontece na cessão civil, C não é sucessor de B. Se C move uma execução em desfavor de A, este não pode opor a C as exceções pessoais que tem contra B. Este é o chamado princípio da inoponibilidade de exceções pessoais, que permite que o título circule com segurança. Este princípio encontra-se positivado nos seguintes dispositivos legais:
Lei interna sobre letra de câmbio e nota pomissória (Decreto nº 2.044/1908):
Art. 51 - Na ação cambial, somente é admissível defesa fundada no direito pessoal do réu contra o autor, em defeito de forma do título e na falta de requisito necessário ao exercício da ação.
LUG (promulgada pelo Decreto nº 57.663/66):
Art. 17 - As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador as exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.
Lei do Cheque (Lei nº 7.357/85):
Art. 25 - Quem for demandado por obrigação resultante de cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor. 
Estas normas, que visam dar segurança à circulação do título de crédito, podem, por vezes, ensejar alguma injustiça. Pode haver, por exemplo, um conluio entre B e C que, na verdade, não estão realizando nenhum negócio jurídico, mas ainda assim B endossa o título para C para que, nas mãos deste, A não possa opor as exceções pessoais que tem contra B. Porém, para o legislador, o mais importante é a segurança da circulação do título de crédito.
Na cessão civil, este princípio não vige, pois A (devedor) pode usar contra terceiros (cessionários) todas as defesas pessoais que tinha contra B (cedente) – art. 294 do novo Código Civil e 1.072 do Código Civil de 1916. Isso demonstra a insegurança da cessão civil e fragilidade das regras do direito civil para tutelar o direito cambiário (de cunho comercial).
Se existe uma autonomia de direito, existe autonomia das obrigações, o que é um corolário do princípio da autonomia das obrigações cambiais, segundo o qual cada signatário do título crédito assume uma obrigação autônoma e independente das demais. Em relação ao cheque, o princípio denomina-se apenas princípio da autonomia das obrigações, uma vez que o cheque não pode ser chamado cambial, pois, trata-se de título cabiariforme. Este princípio encontra-se positivado nos seguintes dispositivos legais:
Lei interna sobre LC e NP (Decreto nº 2.044/1908):
Art. 43 - As obrigações cambiais são autônomas e independentes umas das outras. O significado da declaração cambial fica, por ela, vinculado e solidariamente responsável pelo aceite e pelo pagamento da letra, sem embargo da falsidade, da falsificação ou da nulidade de qualquer outra assinatura.
LUG (promulgada pelo Decreto nº 57.663/66):
Art. 7º - Se a letra contém assinaturas de pessoas incapazes de se obrigarem por letras, assinaturas falsas, assinaturas de pessoas fictícias, ou assinaturas que por qualquer outra razão não poderiam obrigar as pessoas que assinaram a letra, ou em nome das quais ela foi assinada, as obrigações dos outros signatários nem por isso deixam de ser válidas.
	
(...)
Art. 32 - O dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele afiançada. A sua obrigação mantém-se, mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser nula por qualquer razão que não seja um vício de forma. Se o dador de aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra contra a pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta em virtude da letra. 
Lei do Cheque (Lei nº 7.357/85):
Art. 13 - As obrigações contraídas no cheque são autônomas e independentes. 
Parágrafo único - A assinatura de pessoa capaz cria obrigações para o signatário, mesmo que o cheque contenha assinatura de pessoas incapazes de se obrigar por cheque, ou assinaturas falsas, ou assinaturas de pessoas fictícias, ou assinaturas que, por qualquer outra razão, não poderiam obrigar as pessoas que assinaram o cheque, ou em nome das quais ele foi assinado. 
(...)
Art. 31 - O avalista se obriga da mesma maneira que o avaliado. Subsiste sua obrigação, ainda que nula a por ele garantida, salvo se a nulidade resultar de vício de forma. 
Parágrafo único - O avalista que paga o cheque adquire todos os direitos dele resultantes contra o avalizado e contra os obrigados para com este em virtude do cheque. 
Exemplo: na cessão civil de A para B, este é absolutamente incapaz. A cessão é válida, pois B é sujeito de direitos e pode receber cessão, ele não pode ser sujeito de obrigações. Assim, se B fizer uma cessão do direito que recebeu de A para C, tal cessão é nula e todas as demais subseqüentes, pois B não poderia ter feito cessão por ser absolutamente incapaz.
Em conseqüência, em obrigações cambiais, como já dito, cada assinatura de um título, obriga o signatário solidariamente com os demais. O credor pode cobrar de um ou outro ou de todos. Essa solidariedade dos signatários de um título de crédito decorre da lei (art. 47 da LUG). A obrigação assinada, por exemplo, por um absolutamente incapaz é nula. Contudo, os demais signatários podem ser executados normalmente. Este princípio visa a garantir a segurança dos títulos de créditos.
Ver art. 13 e 31, Lei 7.357/85 - A lei se contenta com a aparência.
II.IV – Natureza jurídica/Fontes do Direito Cambiário
Como já dito quando tratamos da evolução histórica dos títulos de crédito, a letra de câmbio surgiu aproximadamente no séc. XIII, durante a Idade Média, e não tinha as características que tem hoje. Ela era apenas um documento probatório da relação causal que era um contrato de câmbio. Posteriormente, o título de crédito deixou de ser um documento probatório, para se tornar um documento constitutivo de um direito distinto de sua causa. Ele passa a ser capaz de moldar todo tipo de contratos, não só compra e venda. A Alemanha foi a primeira a dar a última evolução aos títulos de créditos em uma lei de 1848 sobre letras de câmbio e notas promissórias. Várias teorias se formaram para tentar explicar a natureza jurídica das obrigações cambiais: a teoria contratualista e as demais não contratualistas.
a. Teoria contratualista: Para essa teoria, a fonte do direito cartular é um contrato cambiário, isto é, um acordo de vontades entre o emitente do título A e credor do título B. Contudo, por essa teoria, a relação originária do título não se confunde com a relação cartular uma vez que o título de crédito não é mero instrumento probtório da relação originária, mas, constitui direito novo, autônomo e originário.
	
Essa teoria não explica o fato de que quando o título circula, A não pode opor a C as exceções pessoais que tem contra B, já que a fonte da obrigação contratual seria o contrato realizado entre A e B. Também não explica o fato de que o adquirente de boa-fé não é obrigado a restituir um título a quem dele foi injustamente desapossado. A lei legitima a posse do terceiro de boa fé.
Vejamos a LUG (promulgada pelo Decreto nº 57.663/66):
Art. 16 - O detentor de uma letra é considerado portador legítimo se justifica o seu direito por uma série ininterrupta de endossos, mesmo se o último for em branco. Os endossos riscados consideram-se, para este efeito, como não escritos. Quando um endosso em branco é seguido de outro endosso, presume-se que o signatário deste adquiriu a letra pelo endosso em branco.
Se uma pessoa foi por qualquer maneira desapossada de uma letra, o portador dela, desde que justifique o seu direito pela maneira indicada na alínea precedente, não é obrigado a restituí-la, salvo se a adquiriu de má-fé ou se, adquirindo-a, cometeu uma falta grave.
Se a fonte do direito cartular fosse contratual, a possedo terceiro que, ainda que de boa-fé, adquirir um título de crédito de alguém que não é seu legítimo proprietário, seria viciada.
	
Como a teoria contratual não consegue justificar estes aspectos, ela logo perde força e dá lugar a outra.
b. Teoria da declaração unilateral de vontade: Essa teoria surgiu em 1839, com KARL EINNERT [footnoteRef:4], prega que a fonte da obrigação cambiária, do direito cartular, é uma manifestação unilateral de vontade do signatário, manifestação esta que é abstrata, isto é, inteiramente desvinculada da relação causal que a gerou e da qual se liberta, e não causal. Por essa teoria, A não vai se obrigar perante B, mas perante o público em geral. Esta teoria justifica perfeitamente os dois aspectos suscitados acima e por isso teve grande penetração doutrinária. [4: A teoria de Einnert foi a base de um novo conceito de letra de câmbio, que era até então considerada como acessória do contrato de câmbio trajetício (cf. LEO, Gómez. Manual de derecho cabiário. Buenos Aires: Depalma,1994, p.41).] 
Contudo, foi questionado o fato de poder o devedor primitivo do título de crédito opor as eventuais exceções pessoais que contra o credor tivesse, o que não poderia acontecer no caso de ser a fonte da obrigação uma manifestação unilateral de vontade. TULIO ASCARELLI justificou esta possibilidade utilizando o já estudado princípio da economia processual, o que é uma justificativa bastante aceitável.
A teoria da declaração unilateral de vontade se subdivide em duas outras, de acordo com o momento em que surge a obrigação cartular do emitente do título de crédito:
1) Teoria da Criação: nascida em 1857, na Alemanha com BECKER, desenvolvida e aperfeiçoada por KUNTZE: a obrigação cambiária surge no momento em que o devedor assina o título de crédito e sua eficácia fica submetida a uma condição suspensiva, qual seja o título de crédito entrar em circulação, ainda que contra a vontade do emissor. Os efeitos dessa teoria são graves, pois se o título for roubado, perdido ou extraviado logo após a sua emissão, entrando, em seguida, em circulação, já existirá a obrigação cambiária para o devedor.
	
2) Teoria da Emissão: elaborada por STOBBE e WINDSCHEID - a obrigação cambiária surge no momento em que o subscritor assina o título e, voluntariamente o coloca em circulação. Destarte, nas hipóteses de o título ser roubado, furtado, perdido ou extraviado antes de entrar em circulação, não haverá para o emissor a obrigação cambiária.
O parágrafo único do art. 905 do Código Civil abraça a teoria da criação, ao menos no que tange aos títulos ao portador e revela a tendência do legislador brasileiro:
Art. 905 - O possuidor de título ao portador tem direito à prestação nele indicada, mediante a sua simples apresentação ao devedor.
Parágrafo único - A prestação é devida ainda que o título tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente.
O art. 909, por sua vez, aproxima-se da teoria da emissão, mas não ilegítima a propriedade do terceiro de boa-fé. 
Art. 909 - O proprietário, que perder ou extraviar título, ou for injustamente desapossado dele, poderá obter novo título em juízo, bem como impedir sejam pagos a outrem capital e rendimentos.
Parágrafo único - O pagamento, feito antes de ter ciência da ação referida neste artigo, exonera o devedor, salvo se se provar que ele tinha conhecimento do fato.
Nosso legislador adotou a teoria da declaração unilateral de vontade, e temperou os rigores da teoria da criação com nuances da teoria da emissão. O portador injustamente desapossado do título ao portador dispõe de uma ação judicial para tentar recuperar o título. Trata-se da ação de anulação e substituição de títulos ao portador previsto no CPC nos arts. 907 a 913, no Capítulo III, do Título de Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa. 
c) Teoria da Aparência: Concebida por MOSSA na mesma linha de pensamento de Einnert e da teoria da criação. Essa teoria também se funda na declaração unilateral de vontade constante do título, mas, defende que os portadores de boa fé do título devem contar com a aparência criada pela declaração unilateral constante do título de forma que em havendo conflito entre os interesses do emitente do título e do terceiro que confiou na aparência por ele criada há que se privilegiar o interesse do portador do título.
Notem que a aplicação da teoria da aparência visa proteger o credor de boa fé do título e assim garantir maior segurança jurídica às relações cambiais, facilitando a circulação dos títulos de crédito. 
Essa teoria encontra-se plasmada no artigo 308 do Código Civil:
Art. 308 - O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.
		
Daí infere-se que a entrega da prestação só exonera o devedor quando feita ao credor legítimo ou quem de direito o represente. Todavia, há excessão prevista no artigo 309 também do Código Civil:
Art. 309 - O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor.
Se o devedor paga a alguém que, aparentemente, era o verdadeiro credor (credor putativo), se exonera da obrigação. 
Em matéria de títulos de crédito, a lei cambial torna legítima a posse daquele que, de boa-fé, adquire o título de quem não é o verdadeiro proprietário, não sendo obrigado a restituí-lo (LUG, art. 16, supra). O terceiro de boa-fé não é obrigado a devolver o título de crédito àquele que de quem foi injustamente desapossado. Exemplo: art. 39 da lei do cheque:
Art. 39 - O sacado que paga cheque “à ordem” é obrigado a verificar a regularidade da série de endossos, mas não a autenticidade das assinaturas dos endossantes. A mesma obrigação incumbe ao banco apresentante do cheque a câmara de compensação.
O sacado (banco) tem a obrigação de verificar a regularidade do endosso, mas não a autenticidade da assinatura, pois, presume-se, pela aparência, que ela é verdadeira. Os endossantes podem não ser clientes do banco.
d) Teoria mista/ Teoria do duplo sentido da vontade: Criada por Cesare Vivante, visando conciliar as teorias contratualistas e não contratualistas não se filiou a nenhuma das duas teorias, criando a sua própria. Consoante esta, a vontade do subscritor, do emissor, tem um duplo sentido. Perante o portador imediato B, o emissor A do título se obriga pelo contrato. Portanto, ao ser cobrado por B, A pode opor a ele as defesas pessoais que eventualmente tenha. 
Perante terceiros, por exemplo, C (portadores mediatos), A quis se obrigar pela manifestação unilateral de vontade e, por isso, não pode opor a eles as exceções pessoais que eventualmente tenha contra o credor direto.
Vivante afirma, portanto, que a vontade do emitente, que é una e indivisível, tem duplo sentido: contrato e manifestação unilateral de vontade. Contudo, isso é inconcebível, pois a declaração de vontade é indivisível, não pode ter duplo sentido. Por isso, a teoria de Vivante não conseguiu muitos adeptos e nem se sobrepor em relação às demais.
Por final, podemos afirmar que o código civil brasileiro de 2002 adotou a teoria da criação como regra geral, mas, com relação aos casos do terceiro que age com má fé para adquirir o título, aplica-se a regra da teora da emissão. (art.896 cc) (art.909 cc)
II.V – Classificação dos Títulos de Crédito
Classificam-se os títulos de crédito – pelo menos quanto a maior parte da doutrina – segundo quatro critérios: circulação, natureza, causa de emissão e estrutura.
1. Quanto à circulação (CC) 
Quanto ao critério da circulação, os títulos de crédito podem ser classificados como:
 
a. Títulos ao Portador – São aqueles em que o nome do beneficiário (titular do direito nele materializado) não consta do referido título e, por isso, presume-se titular do direito aquele que está na posse do título. Considerando a característica de o título de crédito equiparar-se a bem móvel, esses títulos circulam pela simples tradição, não necessitando assim de endosso (CC, art. 904).
No Brasil,a emissão de títulos ao portador ficou bastante limitada após a publicação da Lei nº 8.021 de 12/4/1990.
 Lembramos que se o Cheque for emitido ao portador, nos termos da Lei nº 9.069, de 29/6/1995 (art.69), poderá possuir valor máximo de R$ 100,00.
Por fim, convém informar que os títulos ao portador somente podem ser emitidos com autorização de lei especial (CC, art. 907).
 
b. Títulos Nominativos [footnoteRef:5] – São os títulos que têm como beneficiária pessoa determinada e que circulam atravé de documento de transferência ou registro em livro do emitente, não podendo ser transferido a terceiros mediante endosso. Seria o caso das ações das sociedades anônimas[footnoteRef:6]. [5: Acreditamos que com base no disposto nos artigos 921/924 do CC, FÁBIO ULHOA defende uma classificação alternativa, no Brasil, reconhecendo a existência de títulos nominativos à ordem e não à ordem. Assim, segundo este autor os títulos de crédito, quanto à circulação, dividem-se em ao portador, nominativos à ordem e nominativos não à ordem. ] [6: Cf. MARTINS, Fran. “Curso de Direito Comercial”, Rio de Janeiro, Forense, 1972, p.29/21.] 
Todavia, entendemos que não se podem considerar ações de sociedade anônima como verdadeiros títulos de crédito uma vez que estas não decorrem de uma operação de crédito e seu possuidor somente adquire direitos de sócio. O proprietário de uma ação de sociedade anônima não pode, com base nela, ajuizar ação de execução em face da companhia pretendendo receber o valor mencionado na ação. Poderá, isso sim, vender sua ação a terceiros através de um corretor de valores mobiliários e aí transformar aquele título em dinheiro. Frise-se ainda que a ação de companhia não é regida pelos princípios cambiários e tampouco possui as caracteríticas dos títulos de crédito.
 
c. Título à ordem – São aqueles que possuem como beneficiária pessoa determinada, mas, podem ser transferidos através do endosso seguido da tradição. A circulação não é tão simples quanto aquela relativa aos títulos ao portador nem tão burocrática quanto a relativa aos títulos nominativos. Para tranferir o direito inserido na cártula basta o endosso seguido da tradição. 
Alguns títulos de crédito, como a letra de câmbio e nota promissória não necessitam da existência da cláusula “à ordem” para que circulem por endosso. É que a lei uniforme de genebra, influenciada pela legislação cambiária alemã de 1848 considera que a denominação constante do documento (cláusula cambiária) basta para lhe atribuir a natureza de ser “à ordem”, o mesmo pode ser dito com relação ao cheque, assim, vejamos:
Lei do Cheque (Lei nº 7.357/85 – art. 17 § 1º dispositivo da lei sobre endosso):
Art. 17 - O cheque pagável a pessoa nomeada, com ou sem cláusula expressa ‘’ à ordem’’, é transmissível por via de endosso.
(...)
LUG (art. 11§ 1º dispositivo da lei sobre endosso):
Art. 11 - Toda letra de câmbio, mesmo que não envolva expressamente a cláusula à ordem, é transmissível por via de endosso.
	(...)
d. Título não à ordem: Quando o emitente/sacador do título de crédito não tiver interesse que este circule pela forma e com os efeitos cabiários deverá iserir expressamente no mesmo a cláusula “não à ordem”, expressão equivalente ou então riscar a cláusula “à ordem” no título. Desta forma, o título só será transmissível pela forma e com os efeitos da cessão civil de crédito.
Por ser a cláusula à ordem ínsita a alguns títulos de crédito, apenas o emissor do título pode excepcionar a regra inserindo de maneira expressa a cláusula “não à ordem”, expressão equivalente (ex.: intransferível, instransmissível, etc.) ou riscando a cláusula “à ordem” do título.
Lei do Cheque (Lei nº 7.357/85 – art. 17, §1º):
Art. 17 (...) § 1º - O cheque pagável a pessoa nomeada, com a cláusula ‘’não à ordem’’, ou outra equivalente, só é transmissível pela forma e com os efeitos de cessão.
LUG (art. 11: 1º dispositivo da lei sobre endosso):
Art. 11 - (...) Quando o sacador tiver inserido na letra as palavras "não a ordem", ou uma expressão equivalente, a letra só é transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de créditos.
Se como acima dito for iserida expressamente no título a cláusula “não à ordem”, expressão equivalente ou então riscada a cláusula “à ordem” esse só poderá ser transferido pela forma e com os efeitos de uma cessão civil de crédito (contrato), o que significa dizer que nesse caso, o emissor do título poderá alegar contra o cessionário as defesas que tem contra o cedente, pois será contrato de cessão com todos os seus efeitos. 
Lembramos que o cedente não responde pela solvência do devedor, salvo expressa estipulação em contrário (art. 296 C.C). Noutros termos se, no contrato de cessão, não houver cláusula estipulando que o cedente permanece responsável pela solvência do devedor, o cedente não tem que pagar para o cessionário se este não conseguir receber do devedor.
No endosso, ao contrário, regra é que o cedente responda solidariamente com o devedor pelo pagamento do título.
Normalmente usa-se tal cláusula quando se quer maior vinculação do cumprimento do contrato por uma das partes com o pagamento pela outra, pois, proibindo a circulação do título emitido “pró-solvendo”, caso o devedor não cumpra sua parte no contrato e transfira o título, esta terá os efeitos de cessão civil e assim poderá ser o emitente opor ao cessionário do título as excessões de contrato não cumprido eximindo-se do pagamento.
2. Quanto à natureza (CARVALHO DE MENDONÇA) Leva em conta o conteúdo da relação atestada pelo título de crédito. 
a. Títulos de crédito propriamente ditos (próprios): Crédito é a troca de um bem presente por um bem futuro. A maioria das operações de crédito decorre, basicamente, de dois contratos: compra e venda a prazo e mútuo (empréstimo de coisa fungível). Assim títulos de crédito próprios são todos aqueles títulos que atestam uma verdadeira operação de crédito e correspondem a documentos de legitimação por serem documentos constitutivos de direito novo, autônomo e originário, resultando de uma declaração cambial autônoma e completamente separada da relação que lhe deu origem e dela não são documentos probatórios.
 
Ressalte-se ainda que somente os títulos de crédito próprios têm como função circular o direito de crédito nele incorporado através de sua negociabilidade, servindo assim de instrumento de desenvolvimento econômico na sociedade de consumo em que vivemos.
 Exemplos de títulos de crédito próprios:
- Decreto 2.044 de 31/12/1908, Lei Cambial - trata das Letras de Câmbio e Nota Promissória, peramnecendo válida naquilo em que não conflita com a LUG, por exemplo, protesto.
- Lei uniforme de Genebra sobre Letra de Câmbio e Nota Promissória: Essa lei foi promulgada pelo decreto 57.663/66 e revogou o decreto 2.044 naquilo em que este é conflitante com aquele.
- Decreto-Lei 167, de 1967 – Títulos de Créditos Rurais: Cédula de Crédito Rural, Nota Promissória Rural e Duplicata Rural. Todo título de crédito denominado cédula sempre admite que, no seu corpo, seja dada garantia real, a cédula pode sempre estar garantida por hipoteca ou penhor. Nenhum outro título pode trazer este tipo de garantia.
- Lei 5.474, de 18/06/1968 – Duplicata: É um título criado no Brasil e desconhecido em grande parte do mercado internacional. É um título de crédito causal que trás consigo a causa que lhe dá origem. A causa pode ser uma compra e venda ou uma prestação de serviço. Se a duplicata não corresponder efetivamente a uma dessas duas operações, sua emissão caracteriza crime previsto no art. 172 CP. 
- Decreto-Lei 413, de 1969 – Cédula de Crédito Industrial e Nota de Crédito Industrial: é lei supletiva à lei criadora dos títulos de crédito comerciais.
- Lei 10.931, de 02/08/2004, Art. 26 – Cédula de Crédito Bancário: A cédula de crédito bancário tem sido largamente utilizada pelos bancos porque, até então, estes vinham perdendo demandas judiciais reiteradamente em função de o extrato de conta corrente não ser documento hábil para demonstrar aliquidez da dívida, por ser um documento unilateral produzido pelo banco. Dispensado o protesto para cobrar de endossantes, avalistas e outros garantidores nos termos do artigo 44 da referida lei.
 
b. Títulos de crédito impropriamente ditos (impróprios): São aqueles que não atestam uma operação de crédito e não visam a circulação do direito de crédito. Sua função precípua é servir de documento probatório do negócio que o gerou Ainda assim, são considerados títulos de crédito, porque além de exercer a função de legitimação (legitima o proprietário como titular dos direitos nele iseridos) circulam com as mesmas garantias dos títulos de crédito.
São exemplos de títulos de crédito impróprios:
1) Títulos que conferem ao seu portador a livre disposição de mercadorias:
- Decreto 1.102, de 21/11/1903 – Conhecimento de Depósito e Warrant – Carvalho de Mendonça elaborou o projeto. Tal decreto criou os armazéns gerais no Brasil – estabelecimentos comerciais destinados à guarda de mercadorias, ao depósito de mercadorias. São normalmente localizados em pontos estratégicos, por exemplo, em regiões portuárias, ou aeroportuárias, onde as mercadorias aguardam exportação.
Quando o armazém recebe a mercadoria, ele emite dois títulos em favor do depositante que podem estar unidos ou separados. Um é o conhecimento de depósito (título impróprio) e o outro é o warrant (título de crédito próprio)
O artigo 15 do Decreto 1.102 dispõe sobre as formalidades do conhecimento de depósito e warrant.
O conhecimento de depósito é o título que representa a mercadoria que está depositada. Confere a livre disposição da mercadoria, isto é, representa a propriedade da mercadoria. Para transferí-la, basta que o proprietário endosse o conhecimento de depósito.
O Warrant confere um direito de crédito sobre a mercadoria, um direito de penhor sobre a mercadoria ao depositante. Se o proprietário pretende empenhar a mercadoria, ele endossa o warrant em favor, por exemplo, de um banco. O banco se torna credor pignoratício das mercadorias. Uma vez emitidos os títulos, essas mercadorias não podem ser penhoradas (ato judicial), o que pode ser objeto de penhora são os títulos (conhecimento de depósito e warrant) - Decreto 1.102/03, art. 17.
Obs: O warrant é considerado título de crédito próprio, pois ele confere crédito. 
- Decreto 19.473 de 10/12/1930 – Conhecimento de transporte (ou de carga ou de frete): É emitido pela transportadora. Ele representa a mercadoria, isto é a propriedade, a ser transportada. Do conhecimento consta o nome do remetente e do destinatário da mercadoria. Esse conhecimento é imprescindível para a retirada da mercadoria no local de destino. Para transferir a propriedade da mercadoria, endossa-se o conhecimento de frete. 
2) Títulos de exação - são destinados a pagamento imediato:
Lei nº 7.357/85(Cheque). O cheque não é título de crédito próprio porque ele é ordem de pagamento à vista (considera-se não escrita qualquer menção contrária), ele não molda uma operação a prazo. É também objeto de direito uniforme, unificado com a lei interna brasileira, do que resultou a lei do cheque brasileira.
3. Quanto à Causa de Emissão
Os títulos de crédito podem ainda ser classificados quanto à causa de sua emisão e, com base nesta dividem-se em títulos de crédito causais e títulos de crédito abstratos.
a. Os títulos de crédito causais são aqueles gerados, obrigatoriamente, por uma causa determinada em lei, tanto que devem constar em seu corpo, como requisitos obrigatórios, elementos relativos à sua causa. Assim é com a duplicata, que nasce da compra e venda mercantil ou da prestação de serviços; da cédula de crédito insustrial que somente pode ser emitida em decorrência de um financiamento dado a quem se dedica à atividade industrial – segundo o STJ não é exequível cédula de crédito industrial, cujo financiamento é aplicado em finalidade diversa daquela prevista na lei de regência [footnoteRef:7]; do conhecimento de depósito e warrant, que são emitidos após o depósito de mercadorias em armazéns gerais e assim outros títulos. [7: RSTJ 130/104] 
b. Os títulos de crédito abstratos são aqueles que podem ser gerados a partir de qualquer causa, podem moldar qualquer obrigação, uma vez que a lei de regência não predetermina causa alguma para sua emissão. Assim ocorre com a letra de câmbio, nota promissória, cheque e outros. Os direitos decorrentes do título podem ser exercitados desvinculados da sua relação causal por serem abstratos. 
4. Quanto à estrutura
Os títulos de crédito, quanto sua estrutura, se classificam em ordem de pagamento e promessa de pagamento.
a. As ordens de pagamento geram, no momento da criação do título, três situações jurídicas distintas: a do sacador/emitente, que determinou a realização do pagamento; as do sacado, para quem é dirigida a ordem e que deve cumpri-la se atendidas as condições para tanto; e a do tomador, que é o beneficiário da ordem, a pessoa em favor de quem ela foi passada. Ex: Cheque, letra de câmbio e duplicata.
b. A Promessa de pagamento dá ensejo apenas a duas situações jurídicas, a do emitente/sacador que assume a obrigação de pagar, e a do beneficiário da promessa. Ex: nota promissória.
Em síntese, na ordem de pagamento o emitente manda que o sacado à vista do título pague ao credor a quantia nele determinada. Já na promessa de pagamento o emitente/ sacador assume o compromisso de pagar o valor inserido no título na data pactuado.
 
PARTE III- DECLARAÇÕES CAMBIÁRIAS, PAGAMENTO E PROTESTO
III.I DECLARAÇÕES CAMBIÁRIAS
A expressão declaração cambiária significa a manifestação de vontade mediante a aposição da assinatura no título de crédito no sentido de criar, completar, garantir ou transferir o título de crédito.
Toda e qualquer declaração cambial constitui-se pela aposição da assinatura do declarante que, sendo pessoa capaz[footnoteRef:8], fica vinculado ao título de crédito garantindo-lhe o pagamento. [8: Como já sabemos, não sendo o declarante capaz este não se vincula à obrigação cambial, mas sua assinatura não invalida o título e nem afeta as demais declarações válidas tendo em vista o princípio da autonomia das obrigações.] 
Em regra, todo signatário do título de crédito se torna devedor solidário. No direito civil, a solidariedade decorre de lei ou de contrato (acordo de vontades). A solidariedade, nos títulos de crédito, decorre da lei. 
LUG:
Artigo 47
Os sacadores, aceitantes, endossantes ou avalistas de uma letra são todos solidariamente responsáveis para com o portador.
O portador tem o direito de acionar todas estas pessoas individualmente, sem estar adstrito a observar a ordem por que elas se obrigaram.
O mesmo direito possui qualquer dos signatários de uma letra quando a tenha pago.
A ação intentada contra um dos coobrigados não impede acionar os outros, mesmo os posteriores àquele que foi acionado em primeiro lugar.
Convém ainda ressaltarmos que a declaração cambial será regida pela lei vigente à data de sua emissão. Assim, se, por exemplo, uma nota promissória foi emitida após a promulgação do Decreto 2.044/1908 e anteriormente à promulgação da LUG, a emissão será regida tão-somente pelo Decreto. Contudo, se esta mesma nota promissória for endossada já na vigência da LUG, o endosso será regido pelas normas relativas ao instituto constantes da LUG. 
Cumpre ressalvar que toda declaração cambial, sem exceções, para que produza efeitos, deve ser lançada no próprio título de crédito. Fora do título são ineficazes.
Oportuno ressalvar ainda que o Brasil adota a reserva de nº 2 do Anexo II das Convenções sobre LC e NP, segundo a qual lhe é facultado dispor acerca de como pode ser suprida a falta de assinatura, desde que por uma declaração autêntica escrita na letra se possa constatar a vontade daquele que deveria ter assinado. Assim, qualquer declaração cambial pode ser dada pela própria pessoa ou por mandatário com poderes especiais.
As declarações cambiais dividem-se em: 
a. Declaração cambial necessária ou originária → Emisão ou Saque;
b. Declaraçõescambiais eventuais ou sucessivas → Aceite, endosso e Aval.
1. Declaração cambial necessária ou originária: Uma única manifestação de vontade (declaração cambial) é suficiente para transformar o papel em título de crédito. Corresponde ela à declaração principal já que sem ela não existirá o título. Sendo regular a declaração cambial, com atendimento aos requisitos impostos pela lei, constitui-se aquele papel em uma ordem de pagamento ou em promessa de pagamento.
 Uma vez criado, o título está apto a receber futuras declarações cambiais. Por esta razão foi chamada de declaração (ou manifestação) originária, porque dá origem ao título de crédito. Todas as demais declarações (ou manifestações) serão sucessivas e eventuais (poderão existir ou não).
As declarações cambiais originárias são o Saque e a Emissão. Emissão e saque são termos que buscam identificar a criação do título de crédito, somente após a emissão ou saque é podemos falar em título de crédito.
A declaração cambial originária, se emitida por uma pessoa plenamente capaz, além de criar a cambial, vincula a pessoa signatária como principal devedora. Já se a declaração cambial for falsa ou se o declarante for uma pessoa incapaz, a declaração existe extrinsecamente, mas, é intrinsecamente inválida, pois, quem assinou não tinha capacidade para vincular-se cambialmente. Todavia, ainda assim o título estará criado, mas o pretenso signatário não se tornará devedor, vinculando todos aqueles que assinarem no título.
Na nota promissória, se for a declaração originária (emissão) intrinsecamente válida, o criador assume também a posição de devedor direto e principal. Na letra de câmbio, ao contrário, o criador (sacador) é um obrigado indireto. Não se pode perder de vista que há conseqüências diferentes caso seja o declarante obrigado direto ou indireto já que para executar obrigados indiretos, em regra, há que haver prévio protesto no curto prazo concedido pela lei, o que não se pode dizer com relação ao obrigado direto.
Já com relação à letra de câmbio, é interessante notar que ao sacar (criar) uma letra de câmbio o sacador não responde como devedor direto e principal do título, pois, assinando o sacado o título este deixa de ser mero sacado, sem responsabilidade, para se tornar aceitante, devedor solidário e obrigado principal e direto do título de crédito. Frise-se, contudo, que sua declaração não é originária e mesmo se o sacado não assinar o título, isto é, se não se tornar aceitante, ainda assim a cártula será título de crédito, criado no momento da aposição da assinatura do sacador (declarante originário).
LUG:
Art. 28 - O sacado obriga-se pelo aceite pagar a letra à data do vencimento.
Na falta de pagamento, o portador, mesmo no caso de ser ele o sacador, tem contra o aceitante um direito de ação resultante da letra, em relação a tudo que pode ser exigido nos termos dos artigos 48 e 49.
	
Assim, não devemos confundir declaração originária (saque ou emissão) com obrigação principal. Às vezes são coincidentes (emissor da nota promissória) outras não (sacador da letra promissória [declaração originária] e aceitante [obrigação principal]).
2. Declarações cambiais eventuais ou sucessivas. Criado o título, as demais declarações podem surgir ou não, dependendo do interesse das partes envolvidas. É que somente a primeira declaração é indispensável. As demais surgem segundo a conveniência das partes interessadas. Se a assinatura torna o signatário obrigado no título, cada nova assinatura representa mais uma declaração, mais uma obrigação, aumentando a garantia oferecida ao credor do título, por força do maior número de assinaturas e de pessoas vinculadas ao pagamento dele. Assim, quanto mais assinaturas constarem num título de crédito, maior garantia ele oferecerá ao beneficiário.
As declarações cambiais eventuais são o aceite, endosso e aval.
a. Aceite é a declaração cambial eventual, sucessiva e facultativa (na letra de câmbio, o que não ocorre na duplicata), pela qual o signatário, chamado até então sacado, reconhece dever o valor do título e promete cumprir a ordem contra ele dada, pagando ao tomador ou a outrem à sua ordem, tornando assim o devedor direto e principal da letra de câmbio.
Convém esclarecermos que mesmo sem o aceite a letra de câmbio é valida e o título poderá circular até o final pagamento.
A declaração cambiária do aceite decorre de ato unilateral de vontade do sacado, sendo abstrato porque desvinculado da relação causal que gera o título, e formal porque só pode ser formalizado no título, não se admitindo em documento separado.
O aceite é facultativo porque se origina de livre manifestação de vontade do sacado, que não pode ser compelido a efetivá-lo, sem necessidade de fundamentar a recusa, que não lhe gera qualquer efeito cambiário.
Se houver recusa do aceite pelo sacado, comprovada através de protesto, produz ela efeitos quanto aos devedores indiretos (sacador, endossantes e respectivos avalistas) eis que gera o vencimento antecipado do título, podendo assim, os devedores indiretos serem acionados antes do vencimento do título.
Diz-se que o aceite é uma declaração eventual porque sua falta não desnatura o documento como letra de câmbio, não sendo, portanto, requisito essencial, tanto que consta do art. 1º da LUG.
LUG
Art. 1º - A letra contém:
1 - A palavra "letra" inserta no próprio texto do título é expressa na língua empregada para a redação desse título;
2 - O mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada;
3 - O nome daquele que deve pagar (sacado);
4 - A época do pagamento;
5 - A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento;
6 - O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga;
7 - A indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada;
8 - A assinatura de quem passa a letra (sacador).
O aceite é uma declaração cambial sucessiva porque a assinatura do sacado é lançada no título após a firma do sacador (declaração originária). É puro e simples, exprimindo-se pela palavra “aceite” ou qualquer outra palavra equivalente. A simples assinatura do sacado, lançada no verso do título vale como aceite. 
Por derradeiro, esclarecemos que o sacado pode recusar total ou parcialmente o aceite (restritivo ou modificativo) caso em que ocorrerá o vencimento antecipado do título ficando o aceitante vinculado pelo que aceitou.
A lógica da permissão do aceite parcial é de que já que sacado não é obrigado a aceitar a letra, nada impede que aceite parcialmente a ordem de pagamento dada pelo sacador, obrigando-se apenas pelo que aceitou. Percebam que a admissão do aceite parcial harmoniza-se com a norma que não permite ao portador da cambial recusar pagamento parcial.
LUG
Art. 26 - O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma parte da importância sacada.
Qualquer outra modificação introduzida pelo aceite no enunciado da letra equivale a uma recusa de aceite. O aceitante fica, todavia, obrigado nos termos do seu aceite.
Art. 39 - O sacado que paga uma letra pode exigir que ela lhe seja entregue com a respectiva quitação.
O portador não pode recusar qualquer pagamento parcial.
No caso de pagamento parcial, o sacado pode exigir que desse pagamento se faça menção na letra e que dele lhe seja dada quitação.
b. Endosso é a declaração cambial eventual e sucessiva, pela qual o signatário transfere o título a terceiro e, por consequência, transfere também o direito cambial emergente do título. Seu signatário é denominado endossante e o beneficiário do endosso chama-se endossatário. O endosso produz para o endossante uma obrigação subsidiária e de regresso, porque, em última análise, é uma promessa indireta de pagamento, já que o endossante pode responder pelo pagamento do título, se este não for pago pelo obrigado principal e se houver protesto cambial em tempo hábil (primeiro dia útil seguinte ao vencimento).
O endosso expressa-se por uma ordem pura e simples dada pelo endossante, para que o sacado pague a um terceiro o valor do título, podendo ser o endosso ao portador/em brancoou em preto/nominativo, neste figurando o nome do beneficiário do endosso (endossatário). O termo endosso decorre do fato de ser lançado no dorso do título de crédito. No direito moderno quando o endosso identifica a pessoa do endossatário (endosso em preto/nominativo), pode ser formalizado no verso ou no anverso do título. Tratando-se, no entanto, de endosso ao portador/em branco, resultante da simples assinatura do endossante, deve ser aposto no verso do título ou na folha anexa.
LUG
Art. 13 - O endosso deve ser escrito na letra ou numa folha ligada a esta (anexo).
Deve ser assinado pelo endossante.
O endosso pode não designar o beneficiário, ou consistir simplesmente na assinatura do endossante (endosso em branco).
Neste último caso, o endosso para ser valido deve ser escrito no verso da letra ou na folha anexa.
O endosso em branco faz com que a cambial circule apenas com a tradição, não sendo exigido novo endosso. Desta forma, o portador da cambial endossada em branco está legitimado para exigir os direitos incorporados no título. 
Como acima dito o endosso é declaração cambiária e, por isso, não se confunde com a cessão civil. Na cessão o cedente transfere um direito “velho” (seu próprio direito) ao cessionário que fica à mêrce de possíveis vícios que invalidam o negócio. Já no endosso o endossatário recebe um direito “novo” emergente do título e não o direito do endossante. Lembremos que pelo princípio da autonomia das obrigações e pelo princípio da abstração: criado um título e este entrando em circulação, cada obrigação cambial nele assumida é autônoma das demais não se contaminando assim por vícios presentes nas obrigações anteriores.
O endosso deve ser puro e simples Qualquer condição a que fique subordinado considera-se não escrita.
Apesar de a LUG prever anulidade do endosso parcial, entendemos que o endosso parcial não pode ser nulo, mas sim ineficaz, para não interromper a série de endossos, caso exista. Acreditamos que o entendimento lançado no art.12 da LUG seja mais um erro de tradução do texto originalmente redigido em francês para a língua portuguesa.
O endossante, salvo cláusula em contrário, garante tanto o aceite, quanto o pagamento da letra de câmbio, e, da mesma forma, é responsável pelo pagamento da nota promissória, do cheque e da duplicata. Trata-se de efeito que decorre da lei e do princípio geral do direito cambiário, pelo qual quem apõe sua assinatura no título de crédito torna-se obrigado pelo pagamento como devedor solidário. O endossante garante o aceite porque pode ter sua obrigação exigida antes do vencimento, como devedor indireto, solidário e de regresso, sendo este o efeito vinculante do endosso.
A integração do endossante como devedor na relação cambiária, visa proteger o terceiro adquirente do título, e, assim, facilitar sua circulação.
O endossante é devedor indireto porque sua obrigação só pode ser exigida se o portador comprovar, pelo protesto, que apresentou o título ao devedor e este não efetuou o pagamento. 
Pode o endossante, por cláusula inserida no título, eximir-se da responsabilidade pelo aceite e pagamento. Assim, é válida e tem eficácia qualquer expressão que denote a intenção do endossante não garantir o aceite e/ou o pagamento do título, como, por exemplo, “endosso sem garantia”, “endosso sem responsabilidade” etc.
Pode ainda o endossante proibir novo endosso se igualmente inserir no título de crédito cláusula proibitiva de novo endosso. Desta forma, também tem validade e eficácia qualquer expressão que demonstre a proibição de novo endosso, como por exemplo, “endosso proibido novo endosso”.
Frise-se que o endosso proibitivo de novo endosso não impede a circulação do título de crédito, apenas retira a responsabilidade do endossante que proibiu novo endosso com relação ao pagamento do título de crédito à pessoa a quem a o título for posteriormente endossado.
 
LUG
Art. 15 - O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação como do pagamento da letra.
O endossante pode proibir um novo endosso, e, neste caso, não garante o pagamento as pessoas a quem a letra for posteriormente endossada. 
Dependendo de sua finalidade, o endosso pode ser próprio ou impróprio. Endosso próprio, translativo ou regular é aquele que se visa à transferência do título de crédito. Dá-se endosso impróprio, não translativo, ou irregular, quando tem por fim apenas a transferência do exercício dos direitos resultantes do título, e se subdivide em endosso-mandato e endosso-caução.
De qualquer forma, todas as espécies de endosso relembrem-se, devem ser lançadas no corpo do próprio título ou em folha anexa. Assim, por exemplo, se uma instituição financeira protesta duplicata sem lastro e argúi como defesa em um processo de indenização por danos morais ter agido apenas como mandatário do sacador, deve juntar o título protestado constando nele expressamente a cláusula “endosso mandato” ou outra expressão semelhante, caso tal cláusula não conste do título a ela endossado tem-se que o endosso foi translativo e não endosso mandato.
LUG
Art. 18 - Quando o endosso contém a menção "valor a cobrar" (valeur em recouvremente), "para cobrança" (pour encaissement), "Por procuração" (par procuration), ou qualquer outra menção que implique um simples mandato, o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas só pode endossá-la na qualidade de procurador.
Os coobrigados, neste caso, só podem invocar contra o portador as exceções que eram oponíveis ao endossante.
O mandato que resulta de um endosso por procuração não se extingue por morte ou sobrevinda incapacidade legal do mandatário.
Art. 19 - Quando o endosso contém a menção "valor em garantia", "valor em penhor" ou qualquer outra menção que implique uma caução, o portador pode exercer todos os direitos.
Emergentes da letra, mas um endosso feito por ele só vale como endosso a título de procuração.
Os coobrigados não podem invocar contra o portador as exceções fundadas sobre as relações pessoais deles com o endossante, a menos que o portador, ao receber a letra, tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor. 
Quando comprovadamente verifica-se que o endosso ocorreu após o vencimento do título de crédito, esse é denominado de endosso póstumo ou tardio. É que, normalmente, o endosso próprio/translativo só pode ocorrer até o vencimento do título, que corresponde à sua vida normal. Vencido, o título não deve circular mais por endosso. Por isso, o legislador procurou dar tratamento diferente ao endosso quando realizado após o vencimento do título.
Caso um título de crédito vencido, mas antes de ser protestado, ou antes de se findar o prazo para se fazer o protesto, for endossado, o efeito desse endosso será o mesmo do endosso anterior.
Se endossado o título após o protesto ou após o período para protesto, o efeito desse endosso é de uma cessão civil de crédito e o direito do endossatário não é autônomo, mas derivado do direito do endossante. 
Por derradeiro, convém esclarecermos uma suposta incoerência com o acima dito quanto à responsabilidade do endossante e os termos do artigo 914 do Código Civil. É que o Código Civil, em seu artigo 914 tomou como regra a irresponsabilidade do endossante pelo endosso dado, ressalvando “cláusula expressa em contrário”. Em verdade, tal disposição não se aplica aos títulos típicos e nominados das leis especiais. O código Civil, quando trata dos “títulos de crédito” regulamento aos chamados títulos atÍpicos, ou seja, aqueles que não são previstos e regulamentados por lei especial como se retira do artigo 903 daquele diploma.
Código Civil
Art. 903 - Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste código.
c. Aval é uma declaração cambial sucessiva, eventual, pela qual o signatário, pessoa estranha a relação cartular, ou que nela já figure, assume a obrigação cambiária autônoma e incondicional de garantir total ou parcialmente, no vencimento, o pagamento do título. 
É uma garantia típica cambiáriaque não existe fora do título de crédito. É escrito no próprio título ou numa folha anexa [footnoteRef:9]. O avalista garante o pagamento do título de crédito. Inexiste em qualquer outro documento fora do título de crédito. [9: Folha anexa dá-se quando, não cabendo mais assinaturas no título, utiliza-se uma folha de papel que a ele vai colada para receber novas assinaturas.] 
Quem presta o aval chama-se avalista. Aquele por quem o aval é dado chama-se avalizado. O avalista se obriga da mesma maneira que seu avalizado, isto é, sua obrigação tem o mesmo grau da do avalizado. Não sendo o avalizado indicado pelo avalista no ato do aval, entende-se que o avalista equipara-se ao sacador da letra de câmbio e do cheque, ao comprador da duplicata ou ao subscritor da nota promissórias, conforme o caso.
O aval, quando dado na face do título (anverso), pode resultar na simples assinatura do avalista, desde que não seja assinatura do sacado ou emitente ou do aceitante. Se, ao contrário, a assinatura for aposta no verso, deve constar a expressão “bom para aval”, “por aval”, ou expressão equivalente.
O aval é garantia fidejussória específica dos títulos de crédito. Se o pretenso título de crédito, no qual foi dado o aval, apresenta vício de forma, não pode ser considerado título de crédito. Logo, não há que se falar em validade do aval, uma vez que não foi dado em título de crédito. O credor desse documento não tem nem mesmo ação ordinária contra o pretenso avalista.
O Código Civil, depois de dizer que o título pode ser garantido por aval (art. 897), declara que “é vedado o aval parcial”. Mas dispondo no artigo 903 que “salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os título de crédito pelo disposto neste código”, é certo que a vedação ao aval parcial não se aplica aos títulos de crédito que são regulamentados por lei especial. Dessa forma, aplica-se aos títulos de crédito regulamentados por lei especial o disposto no artigo 30 da LUG acerca do aval parcial, podendo este ocorrer.
A introdução da permissão de aval parcial na LUG se deu por iniciativa do Ministro Plenipotenciário de Portugal JOSÉ CAIEIRO DA MATTA, que muito lutou para ver sua posição vencedora. Porém, na prática, tal aval revela-se de total inutilidade. Ora, ninguém, exigindo um aval no título, vai permitir que este seja parcial, porque é o credor que conduz isso e exige do devedor a garantia que quiser, sob pena de não realizar o negócio. Por isso, não é direito de devedor algum, que se submete à vontade do credor. 
LUG
Art. 30 - O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte garantido por aval.
Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um signatário da letra.
Art. 31 - O aval é escrito na própria letra ou numa folha anexa.
Exprime-se pelas palavras "bom para aval” ou por qualquer fórmula equivalente; e assinado pelo dador do aval.
O aval considera-se como resultante da simples assinatura do dador aposta na face anterior da letra, salvo se se trata das assinaturas do sacado ou do sacador.
O aval deve indicar a pessoa por quem se dá. Na falta de indicação, entender-se-á ser pelo sacador.
 
Art. 32 - O dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele afiançada.
A sua obrigação mantém-se, mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser nula por qualquer razão que não seja um vício de forma.
Se o dador de aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra contra a pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta em virtude da letra. 
Art. 77 - (...) São também aplicáveis às Notas Promissórias as disposições relativas ao aval (artigos 30 a 32); no caso previsto na última alínea do Art. 31, se o aval não indicar a pessoa por quem é dado, entender-se-á ser pelo subscritor da Nota Promissória.
Lei do Cheque (Lei nº 7.357/85):
Art. 31 - O avalista se obriga da mesma maneira que o avaliado. Subsiste sua obrigação, ainda que nula a por ele garantida, salvo se a nulidade resultar de vício de forma. 
Parágrafo único - O avalista que paga o cheque adquire todos os direitos dele resultantes contra o avalizado e contra os obrigados para com este em virtude do cheque. 
Convém chamarmos a atenção para o teor do parágrafo 3º do artigo 32 da LUG, acima colacionado. O dispositivo em comento contém incorreção jurídica no que toca à expressão "sub-rogado”. A sub-rogação pressupõe que o sub-rogado adquire os mesmos direitos e privilégios do credor primitivo, o que não acontece na hipótese em comento, consoante será demonstrado a seguir. Na lei do cheque, o parágrafo único do art. 31 (acima colacionado) corrige esta incorreção.
Na vigência do Decreto 2.044/1908, importantes questões acerca dos direitos do avalista eram suscitadas. Por exemplo, no caso de haver mais de um aval em branco, um abaixo do outro, os avais seriam sucessivos ou simultâneos? A Jurisprudência, mais uma vez influenciada por JOÃO EUNÁPIO BORGES, consolidou-se no sentido de que o aval não é sucessivo, mas simultâneo, porque são todos avalistas de um mesmo avalizado. Súmula 189, do STF: “Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não sucessivos”.
Na solidariedade cambial, há sempre relação de anterioridade ou posterioridade entre os devedores, razão pela qual há direito de regresso (em sentido restrito) do obrigado que cumpre a obrigação contra os anteriores.
Na solidariedade civil passiva não há anterioridade ou posterioridade entre os devedores, razão pela qual, quando um dos devedores solidários cumpre a prestação, a solidariedade se extingue. Logo, aquele que cumpre a obrigação deve ajuizar ação ordinária contra os demais para exigir de cada um a respectiva quota-parte. 
Assim, no caso de um aval simultâneo, o avalista que paga pode, em sede de ação ordinária, pretender receber dos demais a quota-parte de cada um. Não poderá ajuizar execução, pois, em primeiro lugar, o título perdeu a literalidade, isto é, dele consta um valor superior ao que é de direito do avalista que pagou e, em segundo, não há solidariedade cambial entre os avalistas. 
Esta era uma possibilidade construída jurisprudencialmente. Assim, o avalista contra quem a ação ordinária era proposta poderia contestá-la alegando que a solidariedade civil não se presume, mas resulta da lei ou do contrato, o que, em ambas as hipóteses, não ocorrem na hipótese suscitada.
Exemplo, Fig 5: 
X avalizou A. Y apôs sua assinatura abaixo da de X, avalizando em branco. 
Executada a nota, Y paga. 
Y poderá executar: A, não X. Y poderá, contudo, ajuizar ação ordinária contra X, pretendendo receber dele R$ 500.000,00.
Com o advento da LUG, essa discussão não tem mais cabimento e os próprios conceitos de aval sucessivo e aval simultâneo perdem o sentido, porque a lei é taxativa ao dispor que o avalista que paga o título adquire todos os direitos dele resultantes contra o avalizado e contra os obrigados para com este em virtude do título. 
Outro Exemplo, Fig 6:
X avalizou em branco e Y avalizou em branco. Z avalizou B. C move execução. 
Z paga. Z poderá executar B, A, X e Y.
X paga. Poderá executar A. Não poderá executar Y e nem B, pois o aval em branco presume-se dado ao subscritor da NP, isto é, A.
No exemplo acima, percebe-se claramente o porquê da inadequação do termo “sub-rogação”. O avalista (X) adquire os direitos do avalizado (B), não do credor primitivo (Z). Logo, não há sub-rogação, pois tal situação contraria a definição do instituto explanada acima.
Em relação ao aval de aval, há que se considerar, inicialmente, que a lei não o veda. O avalista de avalista que paga o título adquire os direitos do seu avalizado, isto é, do primeiro avalista. Também a ação ordinária jurisprudencialmente construída não tem mais cabimento face à clareza da LUG.
Por derradeiro, acerca do aval, convém informamos que alguns autores entendem que o aval dado posteriormente ao vencimento do título não produz efeitos cambiais, mas o de simples fiança. Contudo, pela inexistência de norma regulando o assunto, pensamos ser mais acertado

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