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direito penal 22-05

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22/05/2013
 Recapitulando: para o marxismo, uma das funções da penitenciária no início da revolução industrial era penalizar os indivíduos com condutas que prejudicavam o capitalismo e com isso obter trabalho forçado, já que a mão de obra era rara. Mas, então qual seria a explicação para os dias de hoje? Quais seriam as condutas que prejudicariam o sistema capitalista e que por isso seriam punidas?
Uma das políticas dos países com o desenvolvimento avançado para aumentar a mão de obra era a política de incentivo a natalidade. Um desses incentivos foi a criminalização do aborto, logo não é só o discurso religioso, por trás disso há outras intenções. Então, mais tarde o alto desemprego foi deliberadamente por conta dessas políticas e quando isso se tornou um problema, os malthusianos começaram a colocar a culpa nos trabalhadores que se reproduziam mais rápido do que os alimentos. Um dos problemas foi a tamanha insatisfação dos trabalhadores que não tinham espaço no mercado e assim não tinham meios de sobreviver e ao mesmo tempo havia uma contradição, já que a vadiagem era crime, o outro problema era que por conta disso os indivíduos passavam a ir para o “desvio”, praticavam condutas alternativas, outro problema seriam as revoltas (movimento ludista), outro problema para o capital seriam as organizações (greves, sindicatos, tentativa de formar partidos), e para responder a isso o Estado criminalizou essas condutas. A questão é que se tem uma categoria de trabalhadores que aos olhos do capital, são absolutamente imprestáveis, sua única função seria criar volume, mas nada diretamente ligada ao capital para serem demandadas para a esfera produtiva. 
O que acontece hoje não é mais capturar o trabalhador para trabalhar, o problema é eliminar fisicamente esses trabalhadores, do ponto de vista concreto. Durante 10 anos na Inglaterra no principio do capitalismo, foram aplicadas 7.500 penas de morte, muitas delas porque os trabalhadores quebravam as maquinas. Então a penitenciária, na visão marxista, seria utilizada para o controle da atividade política do trabalhador, criminalizar sua organização política, e também eliminar os mais “inconvenientes”. A justificativa, do ponto de vista marxista, seria pelo discurso do positivismo criminológico que vai enxergar o criminoso como um doente, um animal, uma abominação orgânica. Então se tem uma construção ideológica nessa perspectiva. E isso legitima o funcionamento desse sistema penal. Hoje nós temos no capitalismo atual, pela primeira vez, temos o mundo das finanças superando em rentabilidade o mundo da esfera produtiva. Hoje, por uma decisão da própria elite capitalista, eles entenderam que vão fazer com que o negócio de especulação financeira seja mais rentável que a produção. Isso foi decidido mais ou menos na década de 70, porque foi quando ocorreu a crise do Estado de bem-estar social, crise fiscal, inflação, por conta do trabalhador norte americano e europeu ter se tornado muito caro. A alternativa para se reduzir o custo produtivo foi deslocar toda a base de produção para a china, e o problema foi que com isso gerou-se uma crise de empregabilidade. E com isso, a capacidade da população de demandar diminui, e esse problema não tem solução, se faz uma derrama de crédito, endivida monstruosamente a sociedade. 
Em 1929 uma família média norte americana tinha 40% de sua renda comprometida com dividas e isso foi um dos fatores que fez com que a crise de 29 ocorresse. Porque se a capacidade de consumo futuro está comprometida, o empresariado vai tomar sua resolução produtiva em cima disso, não produzindo mais porque não conseguirá vender. Em 2008, uma família média norte americana tinha 100% da sua renda comprometida em dividas. Então devia 100% em financiamento e mais 40%. Se você migrar pra base da pirâmide socioeconômica, vai encontrar endividamento de mais de 300%. Não só nos EUA, mas, também ele tem um problema de demanda efetiva porque não tem emprego. E isso foi uma decisão do próprio capitalismo. O segundo problema foi a mudança significativa do modo de produzir. Inserção do método toyotista de produção (ideia de que produzir não é empregar), e com isso há uma queda em investimento em políticas públicas (não só nos EUA) para inserir esse pessoal no mercado de trabalho.
 E o que eles irão fazer? Cuidado para não dizer que pobreza é crime, pois pobreza é certo perfil de criminalidade que incomoda a reprodução social capitalista. Então é fácil de entender isso, que começa no Estados Unidos com toda a força na década de 70, onde começa uma queda do volume geral de emprego na sociedade norte americana e uma queda da capacidade de crescimento de riqueza, que pode indicar queda da produtividade. Antes um crescimento de riqueza, significava um crescimento da produtividade e logo, crescimento de empregos, o que não é mais a realidade atual, fazendo com o que os métodos de produção sejam mais efetivos, inserindo robôs, tecnologia de ponta, etc. Essa situação de diminuição da rentabilidade do capital na esfera produtiva, diminuição de emprego e cortes significativos nas áreas sociais, e ao mesmo tempo se observa um crescimento absurdo na taxa de encarceramento nos EUA. 
Na Europa, se tem 99 presos a cada 100 mil habitantes, nos EUA se tem 772 presos a cada 100 mil habitantes. Porque esse processo de dilapidação do Estado de bem-estar social foi muito mais violento nos EUA, já na Europa foi mais difícil. Então os trabalhadores europeus não querem abrir mão de seus direitos sociais, então o empresariado europeu vai deixar essas pessoas passarem 15, 20 anos com taxa de desemprego de 28%. Eles vão voltar atrás. E isso não tem solução, porque foi a decisão das burguesias desses países. O problema é o que fazer com os integrados sociais desintegralizados, ou seja, integrados nessa ordem capitalista, mas não tem lugar na produção de consumo, a solução é prendê-los. Essa é a realidade atual pela visão marxista. O aumento da taxa de encarceramento é um jeito de diminuir a miséria nesse cenário. É claro que no modelo contemporâneo também temos a transformação da penitenciária num negócio, o que funciona mais no ambiente norte americano, aqui nem tanto. Aqui bastou construir o minha casa, minha vida do que presídios. Mas nos EUA quem vai construir presídios será o empresariado. E lá dentro da prisão não estão todos os criminosos, os que lá estão, cometerão crimes que prejudicam fundamentalmente o capital. Basicamente crimes contra a propriedade privada. Então é criminalizar a pobreza, e não o trabalhador. 
Quando você começa a observar estatisticamente o sistema, percebe que a maioria dos detentos é presa por crimes leves. E o problema é que quando a ferocidade do sistema se volta contra os encarcerados, se volta tratando-os como se fossem todos estupradores, por exemplo. Então a maior parte está presa por pequenos delitos ou por tráfico, não o traficante armado, a maioria é desarmada, com pouca quantidade de droga, de dinheiro e todos desempregados. O pessoal de Brasília é a favor da violência do sistema penal porque eles sabem que o sistema não os pega. Porque ele cometem crimes que necessitam de recursos, como lavagem de dinheiro. Então, se o menino da favela furta, ele é considerado marginal e vagabundo; e se o menino de classe média tira cópia de um livro violando direitos autorais ele é visto com bons olhos mesmo sendo crime. Nós temos que ter uma visão cautelosa quanto a isso, pois é um processo desumanizador, pois nos barbarizamos com essa violência que vai impedindo que possamos evoluir. O discurso repressivo da criminalização é tomado pelo sistema político porque ele sabe que isso tem uma produtividade maravilhosa, as pessoas se emocionam, a pessoa ganha voto, é um discurso pouco inteligente, hipócrita que criminaliza os mais fracos e tem espaço na mídia. Então temos que ter um olhar para essa cultura punitiva com o máximo de desconfiança. Essa é mais uma visão sobre o sistema penal, que pela perspectiva marxista, o sistema penal não tem funcionado nem para contercriminalidade, não tem punido injustiças, não tem neutralizado perigosos, mas tem criminalizado, sobretudo esse “lupem” proletariado, a atividade política trabalhadora.
Princípios limitadores do direito penal numa ordem jurídica constitucional e democrática (num Estado democrático de direito)
Observem princípios não são meras peças decorativas da ordem jurídica, é importante para que saibamos maneja-los e argumentar a partir deles, não será algo a ser resolvido dentro do direito penal, é algo do campo da teoria do direito e da argumentação jurídica que devemos continuar a estudar. Os princípios, em primeiro lugar, são normas jurídicas que tem um posicionamento de superioridade no ordenamento jurídico. Então isso significa que são normas que servem para controlar normas e ações. Então, por exemplo, Dilma não pode enviar uma proposta para o congresso nacional de redução da maioridade penal, pois essa proposta de lei necessariamente deve ser iniciada pelo poder legislativo. Por conta do principio da legalidade, mas lido em o que deve ser legalidade no Estado democrático de direito. A diferença de um Estado autoritário para um Estado de direito é que no autoritário há uma centralização do processo legislativo pelo executivo. Então, o nosso código nacional nasceu por um decreto e quem o colocou foi o então presidente Vargas que decidiu que fosse daquele jeito. E para evitar essa concentração de poder que você impede que o presidente da república possa legislar penalmente. Na parte especial do código diz que se alguém calunia o presidente da república, instaurado o processo a exceção da verdade não existe, no caso de ser contra o presidente, não há possibilidade de quem alegou ter o direito de provar o que falou, então há crime. Em regra admite-se a exceção da verdade, salvo se constituído fato for imputado ao presidente da república. Do ponto de vista probatório dava para colocar o Lula no julgamento do mensalão, mas por articulação de poder, por conta das consequências que a criminalização do Lula iria representar, como a falta de legitimidade já que ele tem 80% de aprovação e uma má impressão no âmbito internacional.
Então, princípios são vetores superiores, normas jurídicas que servem para balizar as ações principalmente do Estado, no que diz respeito à ordem jurídica penal. A competência, em material penal, dividida pela constituição diz que só pode legislar sobre matéria penal o congresso nacional e isso está dentro da ideia de princípio da legalidade. Então o principio funciona como um instrumento de interpretação para verificar se uma conduta é válida penalmente ou não. É um instrumento hermenêutico, argumentativo, pois a partir dele você construirá uma argumentação para tornar válida ou inválida uma medida. E é um instrumento de decisão para quem é responsável por solucionar determinado caso. Então o principio é um vetor de interpretação, de argumentação e de decisão para quem autoridade para isso. E também um vetor de controle, sobretudo das ações do Estado na dimensão penal. O principio é também orientador das políticas criminais do executivo, do judiciário e do legislativo. Mas o executivo pode legislar em matéria penal? Não, mas pode formular políticas de segurança pública. Então, por exemplo, o fato de ter um blindado do Estado com uma caveira na porta, aquilo simboliza a morte, um grupo de extermínio que aparece nas favelas a hora que quer, invadindo até a casa do sujeito honesto que é apenas pobre. 
O principio da legalidade que tem sua primeira indicação no art. 5º, inciso II da constituição que diz que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Só que o significado lei penal tem significado mais especifico. No inciso XXXIX diz que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. Cominação é a indicação do quanto de pena pode ser aplicada por aquele fato definido por crime. Exemplo: art. 121 Código penal, onde diz que matar alguém tem pena de 6 a 20 anos, essa pena tem cominação legal abstrata. O juiz estabelece a concretização da pena no caso concreto, mas ele também o faz dentro de parâmetros legais que são pré-estabelecidos pela legislação. Então, indo ao art. 22, inciso I da constituição que diz: compete privativamente à União legislar sobre: direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho. Então quer dizer que cabe especialmente a União, então não cabe a estados e municípios ou estados federados, legislar em matéria penal. E o início de matéria penal tem que se dar no congresso nacional. O executivo não pode legislar em matéria penal por medida provisória. Então quando falamos de lei, estamos estabelecendo também limites formais da atividade legislativa em matéria penal. Esses limites estão a partir do art. 59 da constituição que são Do Processo Legislativo, isso indica o conjunto de regras que estabelecem o controle da atividade legislativa. Então, não se pode criar uma lei penal de qualquer forma, devem-se seguir esses limites. Há também limites materiais para legislar em matéria penal.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Qual é a função do princípio da legalidade?
Controlar o Estado na sua violência punitiva. Então primeira coisa submeter à lei penal ao controle, não só a lei penal, mas também a lei penal. Submeter a ação do Estado no exercício daquilo que em direito penal se chama de jus (ou ius) puniendi, ou seja, o direito que o Estado tem de exercer a atividade punitiva, mas ele não o pode fazer de qualquer modo, tem que haver um controle formal para o Estado fazer isso, e isso só se pode fazer por intermédio de lei, e essa lei necessariamente tem que satisfazer condições formais, tem que ser aprovada no Congresso Nacional, tem que ser sancionada pelo Presidente da República, ela tem que ser publicada e além disso essa lei não pode violar direitos fundamentais individuais., ou seja, ela tem que respeitar os limites do artigo 5 da constituição. Então a uma direção direta aqui entre o direito penal e o direito constitucional. Por exemplo, você não pode destruir o princípio da anterioridade penal. O executivo não pode ser colocado no centro de decisão da formação da legislação penal e processual penal, o legislativo é quem deve exerce essa função, só que obviamente, sabe qual é a característica central do poder? O poder é o anti-direito. A característica central do poder é não querer conhecer limites. A todo tempo o poder está querendo avançar e desrespeitar limites. E a função do direito é exatamente encapsular o poder, conter o poder por intermédio nobre. E, sobretudo num contexto onde há um apelo tão excessivo, apaixonado por segurança pública, a tendência é que o ambiente político queira oferecer a essa demanda regras excessivas, então a necessidade de você limitar isso com princípios, e o princípio da legalidade não é o controle, ele é um dos controles. A gente tá falando de princípios e cada um deles vai exercer uma função.
	Então, por exemplo, e preste atenção que isso não é só acessório, a legalidade tem uma dimensão formal e uma dimensão material. Vamos imaginar o seguinte, eu tenho parâmetros constitucionais para regular a ação do Estado em questões penais. Os princípios constitucionais, dos quais estamos falando, eles são vetores hermenêuticos, normas superiores e servem para balizar a ação do Estado no direito penal. A questão é a seguinte, eles são tão importantes que a própria constituição proíbe a sua alteração, como por exemplo, o princípio da legalidade, o princípio da anterioridade legal, o princípio do devido processo legal. Diante disso a constituição coloca um inciso no art. 60 da constituição, o 4º, a impossibilidade de você reformar, diminuir, suprimir princípios constitucionais inscritos nos direitos fundamentais individuais, isso quer dizer que esses princípios tem uma posição máxima no sistema jurídico, não dá pra propor uma projeto de emenda constitucional para alterá-los, eles são intocáveis, dogmas constitucionais.Então a promessa do princípio da legalidade é o controle do Estado no exercício punitivo, não é só controlar o legislativo, é controlar o executivo e controlar o judiciário. Por exemplo, e aqui surge uma questão muito interessante, até onde vai esse princípio? Se a gente aplicar o princípio da legalidade no sistema penal, você paralisa o sistema penal, porque ele funciona em regra na base da exceção. O que nos escandaliza é o seguinte, ele pode funcionar mais ou menos na legalidade, na ilegalidade ele funciona em regra, a questão é que essa ilegalidade pode se tornar mais ou menos grotesca. Então por exemplo, caso concreto, você é um juiz de direito, e os presos da sua comarca estão encarcerados na mais absoluta ilegalidade, primeiro que eles estão cumprindo pena dentro de delegacia, primeira violação e a outra, as condições do encarceramento são completamente ilegais e aí surge pra você uma tensão de um lado o princípio da legalidade e do outro segurança pública. E aí vai surgir pra você um problema, e aí? Se você olhar a lei de execuções penais, lá está dizendo que as condições do encarceramento tem que ser assim, então olha o problema, você pode ter criminalizado o sujeito com base na lei, e você fala “julgo porque sou obrigado a cumprir a lei” só que por outro lado você não cumpre a lei na hora da execução. E aí o que acontece? É um cumprimento seletivo da legalidade, você enche a boca para dizer que tá cumprindo a lei, mas essa lei é cumprida parcialmente. Você cumpre a lei para criminalizar, mas a criminalização e o cumprimento da pena se faz de qualquer forma, e aí a questão é: pode haver relaxamento da execução penal por flagrante violação da legalidade? É lógico que pode! Não sei se vocês se recordam de um juiz de Minas Gerais, Livingsthon José Machado, conhecido como o louco pelo Jornal Nacional, porque ele fez isso. Ele virou pro governador e disse o seguinte “Você é responsável, esses seres humanos estão aqui dentro onde cabem 18 tem 180” “Mas são todos criminosos” “Correto eu não estou negando isso” “São todos apenados” “Correto, não estou discutindo isso, mas a questão é que o cumprimento da sentença não se pode fazer de qualquer modo e aí você vai ter que tomar uma decisão” “São perigosos” e aí você volta lá pra criminologia positiva, seres perigosos tem que ser mantidos enjaulados e pouco importam as condições de encarceramento, ou reconhecer o seguinte, a prisão é totalmente ilegal. Porque veja bem, não é só o fato de prender e encaminhar ao estabelecimento carcerário, a questão é que a execução da pena tem que se fazer com base no princípio da legalidade. E cuidado para você deixar as coisas muita arrumadinhas na sua cabeça agora, porque você não sabe de qual lado você vai estar, você pode estar na posição de advogado, e aí você precisa apresentar uma argumentação válida judicialmente para aquele magistrado, que o seu cliente não tem o direito de ser encarado naquelas condições, o que você vai apresentar? O princípio da legalidade, e se ele negar? Recorre, e se negar de novo? Recorre, você vai até o Supremo, porque esta é uma questão constitucional. E quem faz controle de constitucionalidade em abstrato? O Supremo. Você vai dizer o seguinte “O meu cliente está preso ilegalmente” “Mas como assim? Há uma sentença penal condenatória” “Sim, mas o problema não é esse, eu não questiono a sentença penal condenatória, eu discuto as condições nas quais ele está sendo encarcerado, porque as condições nas quais ele está sendo encarcerado, são condições pautadas pela ilegalidade” Aí pode isso? Não, deve!
	Por exemplo, pegaram o Daniel Dantas e colocaram uma algema, foi o maior auê em Brasília. Alegaram o princípio da violação a dignidade humana, isso porque colocaram uma algema no cara. Por quê? Porque tem uma boa defesa, pediram habeas corpus e conseguiram. Se você julgar a questão do ponto de vista legal, está amparadíssima, tecnicamente é perfeita. Sabe qual é a diferença? 57% da população carcerária esperam a mesma medida e não tem, é a seletividade. 
Julgamento do mensalão
	O tribunal tem uma função interessante, o julgamento não só produz uma consequência jurídica no caso do Dirceu, ele produz uma outra consequência, ele vai ser sempre o José Dirceu do Mensalão, ele vai ficar marcado.
Leis Vagas, indeterminadas ou imprecisas:
Olha só, tudo o que eu estou falando aqui é norma. E qual é a característica da norma? Norma descreve a realidade? Não! Então isso tem que entrar a ferro e fogo na sua cabeça. Porque qual é a tendência do aluno de direito quando estão começando os seus estudos? Que isso não serve para nada, é exatamente esses princípios, essa norma, que você vai usar como elemento discursivo para fundamentar uma medida, ou para invalidar alguma coisa, isso tem aplicabilidade, não pode desprezar o caráter operativo desses princípios. 
Então por exemplo, um dos elementos centrais da lei penal, é claro que o congresso nacional está andando para isso, mas se ele legisla descumprindo esses princípios, o que que acontece? Você invoca a violação da norma e portanto a correção da norma, ou no mínimo a não aplicabilidade ao seu cliente. Pode fazer isso? Claro. Então, por exemplo, jurisdição constitucional, controle de constitucionalidade difuso. Você fala para o magistrado que essa normal é inconstitucional por isso, isso, isso, isso, isso, o magistrado acolhe, ele deixa de aplicar a norma para o caso do seu cliente, e o resto? Não, você não tem compromisso com o resto, você é responsável pela causa daquele indivíduo ali. E o juiz então diz que não aplica essa norma porque ela é inconstitucional. Levando-se isso em consideração, um dos princípios presentes corolários no principio da legalidade, é o princípio da taxatividade. O que que indica esse princípio?
Vejam bem, é um dever ser, não quer dizer que a coisa concretamente se resolva dessa forma. A redação das leis penais deve ser o mais rigorosa possível, isso é o ideal a ser atingido. Deve-se deixar pouca margem para conceitos indeterminados, conceitos podem caber qualquer coisa, por exemplo, lei 7.210, a lei de execuções penais, foi a pouco tempo alterado, onde se incluiu um novo regime de execução penal mais rigoroso, chamado de regimente disciplinar diferenciado.
Então o princípio da taxatividade exige um rigor discursivo, um controle ao máximo semântico, na hora de compor a redação da lei, que ela não dê margem a muita indeterminação semântica, que ela não seja muito geral, muito vaga, muito imprecisa. Porque senão aí perde o sentido de ser lei.
“o regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.”Art. 52 da Lei 7.210, parágrafo 1º:
O que é o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD)? Em algumas circunstancias você torna a execução da pena daquele indivíduo muito mais grave, por exemplo, ele não pode receber visita íntima, ele fica preso 22hr por dia. Na prática, muitas vezes ele fica preso 24hr por dia, porque o presídio não tem condições para isso. Muitas vezes, a família não tem condições de visita-lo. Porque há um processo de interiorização dos presídios em São Paulo e muitas vezes a família não tem dinheiro para ir até lá. E aí ela não vai e ele fica totalmente isolado, pode ter certeza que isso não faz bem para a cabeça. 
Imagina ficar preso em condições sanitária violadoras de qualquer padrão mínimo de dignidade animal, não estou falando de humana não. Se você levar um funcionário da Anvisa e outro do Ibama no presídio, eles interditam na hora e mandam prender todo mundo que encarcerou aqueles sujeitos lá. Vocês ficariam chateados? Faríamos uma rebelião por dia, mas sabe qual é o problema? Fazer rebelião é falta grave e aí você entra na RDD, é a criminalização da rebelião. Então quer dizer, nem descontente você pode ficar.
Presos provisórios – o cara não foi sentenciado, ter sentença condenatória transitada e julgada. Ainda paira dúvida. Até ele ser considerado culpado,ele é inocente. Parece que não.
Alto risco para a ordem e a segurança – isso depende de uma avaliação política, e eu vou dizer como isso acontece na prática. Quando o PCC começou a tocar fogo nos ônibus, teve um moleque lá do interior do Espírito Santo, embalado por aquela ideia de ser bandidão, porque isso mexe com a cabeça do menino, ele é um ser humano como você, só que seus referenciais de idealidade são outros. Aí o moleque foi pegou um litro de gasolina, parou um ônibus, mandou os passageiros descerem e tacou fogo no ônibus, que que aconteceu? Pegaram ele, levaram para uma prisão federal lá no Paraná e aplicaram a RDD nele. E ele foi ligado ao PCC, porque ele foi considerado um alto risco. Exatamente porque cabe qualquer cosia aqui, não tem critério objetivo, como você caracteriza alguém como alto risco? Entra qualquer um.
Estabelecimento penal – não faça rebelião, eu posso te colocar a comida mais miserável, porque preso não vota, eu posso te colocar as condições sanitárias mais miseráveis, colocar você para dormir com 50 onde cabem 3, fazer rodízio de sono e se você reclamar, perigo pra instituição, para a penitenciaria, todo mundo pro RDD. Como não tem lugar para colocar todo mundo, vocês perderam o banho de sol, vocês perderam o futebol, perderam tudo.
“
estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.
”Parágrafo 2º
 
Fundadas suspeitas – vocês já ouviram falar nisso? Ora se é fundada, não é suspeita. Essas fundadas suspeitas vem do processo inquisitorial espanhol, se o réu do processo não encara o inquisidor, imagina você sendo julgado pelo inquisidor e com risco de ir para a fogueira, você encarando ele assim, você ficaria com medo? Obviamente você não encararia, o não encarar, era uma prova inequívoca que você estava com um conluio com o diabo, porque olha só, quem determina isso é quem está com o poder.
Isso cabe qualquer coisa, sobrou para o menino ser relacionado com o PCC, porque se ele tocou fogo no ônibus, ele faz parte do PCC. Premissa maior – colocar fogo, premissa menor – no ônibus, logo, vinculado com o PCC, esse é um raciocínio lógico perfeito. Só que o problema é o seguinte, se ele tivesse uma defesa de verdade. 
Então o Princípio da Taxatividade, enquanto que o corolário derivado do Princípio da Legalidade, ele exige um controle semântica sobre a redação das leis penais. A lei não deve ser vaga, imprecisa e indeterminada em seus termos. É claro que certo nível de indeterminação é próprio da linguagem, mas que não seja um negócio tão absurdo como fundada suspeita.
Leis Penais em Branco:
Muitas vezes o legislador faz o seguinte, ele cria o conceito muito indeterminado e coloca a indeterminação para ser delimitada pelo poder executivo. Art. 129, parágrafo 11, ele lida com o crime de violência doméstica, ela é uma modalidade especial de lesão corporal, quando a lesão corporal é praticada entre pessoas que mantém algum vínculo afetivo, não necessariamente ser parente ou cônjuge. Uma pessoa que frequenta a casa demais. Não é violência que acontece no âmbito da casa, ela pode acontecer na rua. A agride o seu namorado, ou seu ex-namorado, é um crime de violência doméstica se provoca lesões corporais. 
“
na hipótese do 
§
9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência.”
Então aí eu tenho uma majorante, um aumento de pena na condição que a vítima tenha deficiência. O que é deficiência? Alguns autores vão dizer que esse tipo de artigo é inconstitucional, porque ele atribui ao legislativo o alcance da lei penal e quem ter que fazer isso é o poder legislativo e não o executivo, mas atribui ao executivo. Alguns diriam o seguinte, tem um decreto do executivo indicado o que é portador de deficiência, mas espera aí, vai entregar ao ponto de vista material a redação ao executivo, nem todos acham que isso é uma medida inconstitucional. O poder de deficiência tem uma fragilidade física e psíquica maior, o pressuposto é esse, cabe isso aqui?
“
Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença 
contagiosa
.”Art. 268
Doença contagiosa – o que é isso? Quem determina isso é o executivo. Então quer dizer que eu posso ampliar ou diminuir. Ou seja, alguém pratica uma conduta como essa, o sujeito será tipificado, quer dizer, ele vai praticar essa conduta, dependendo não da moldura penal estabelecida pelo legislativo, mas por um decreto do poder executivo. Se o poder executivo mandar tirar isso aí de doença contagiosa, ou deixa e ele fica escolhendo as doenças contagiosas. 
Alguns autores consideram que o poder executivo não pode ser o fiel da balança, a determinação não pode ser dele. Aí a solução? A solução não se apresenta aí, eu sei que não pode ser do princípio da taxatividade essa, de o executivo ser o determinante do conteúdo da lei penal, porque no final das contas ele está legislando na prática, é ele que está determinando o parâmetro, o critério de fixação da lei penal. O nome disso é administrativização do direito penal, é uma das características centrais de um direito penal autoritário.
Quem criou o RDD foi o governador de São Paulo, podia? Não, ele quis colocar a força, aí o congresso se apressou e legislou sobre isso, mas partiu dele. A administrativização do direito penal é transformar o executivo num formulador de legislação penal, isso é perigosíssimo, legislar com base em decreto, porque você não tem mediação, não tem embate de forças, ele vai lá e coloca a força do jeito que ele quiser.
PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA
	São dois princípio aí que a gente pode enunciar, o primeiro deles é o seguinte, o direito penal deve ser orientado pela ideia de ultima ratio, isso significa que para tentar solucionar problemas de conflitualidade social, o direito penal deve ser o recurso último, a última coisa que deve ser usada para solucionar um conflito social. Parece que a gente está vivendo exatamente o contrário, tem conflito a gente já quer resolver com pena de prisão, criminalizar, ou seja, o direito penal, primeira coisa, os conflitos devem ser solucionados numa instancia de politização, no sentido de que não vou usar o direito para resolver isso, não vou usar a entidade pública para resolver isso, vamos para a via negocial. Porque esses conflitos envolvem contradições criadas pela própria sociedade, conflitos em torno de luta pela terra, luta por moradia, luta por emprego, luta por direitos de minorias, a conflitualidade social, é algo normal na sociedade descomplexa, de bens plurais, tentar gerenciar conflitos sociais com direito penal é uma prova de que a sociedade não tolera a ideia de diferença e pluralidade que é base da democracia. Querer resolver tudo com base no crime, é não reconhecer a ideia de conflito. Se tiver que usar a instancia jurídica para tentar resolver conflito, que se use elementos não penais, cíveis, estabeleça sansões cíveis, pecuniárias, administrativas, a sansão penal deveria ser utilizada em último caso. O nosso problema contemporâneo é exatamente o contrário, quando temos um problema, a primeira coisa que a população e a mídia fazem é isso, dizer que tem que ter lei penal, que tem que subir as penas, e a gente sabe que nada disso resolve, porque penitenciaria não é solução de problema, penitenciaria estigmatiza, desumaniza, estereotipa, o sujeito é preso e a família dele é presa também. Ele é preso, é a família que fica sem o pai, o cara que tá preso é a fonte de renda, já não é mais, sabe o que tá acontecendo? A feminização do tráfico, o pai é preso e a mulher diz que não tem como sustentar os seus filhos, ela vai e entra pro tráfico, ela é presa também, e os filhos viram órfãos de pais vivos. Depois que eles saem da prisão não conseguem trabalham porque foram presos e se conseguem é apenas uma sub-ocupação. A penitenciaria não é parte de solução, ela intensificaos problemas, ela faz com que os problemas fiquem muito mais graves e ela não consegue reduzir conflitualidade, ela aumenta, porque ela gera revolta. O sistema é seletivo, você joga o cara lá dentro, ele se desumaniza, aí você não entende o grau de violência que tem, o cara foi assaltar, ele já matou, ele passou pelo sistema, vai lá ver se ele não é reincidente, ele está por aqui com o mundo. Porque além da exclusão, na hora que você aplicou, a cadeia deu um inferno na terra para ele, o sistema é muito bruto. A gente tem a maluquice de achar que ninguém vai para a cadeia no Brasil, hoje temos 500mil presos e vejam bem quem é que está preso, por que está preso e como está preso. Então essa ideia de ultima ratio você não pode usar o direito penal para lidar com conflitos sociais, você não vai resolver os problemas, pelo contrário, você vai voluma-los. Você não vai solucionar o conflito em torno do patrimônio, você vai não vai solucionar os conflitos políticos que se passam na sociedade, com direito penal. Ao contrário, você vai acabar com a própria dinâmica da democracia. Então demandar o sistema penal loucamente, essa tara de punição, é acabar com a vida democrática e ela está com base na conflitualidade. Nós temos que arrumar outro mecanismo, o direito penal não vai resolver, temos que parar de acreditar nisso. Resocializar que nada, papo furado. 
	Isso é uma indicação do Estado de Direito, é normativo, não significa que na prática seja assim. Então para que serve isso? Para você utilizá-lo como instrumento de controle dessa tara maluca de legislar, legislar, legislar, para tentar frear isso, por exemplo, isso poderia ser aplicado no caso da redução da maioridade penal, se você não concorda com a medida, é um instrumento retórico, vai dizer o seguinte, direito penal não vai resolver esse problema, expandir o direito penal para os menores de 18 anos não vai resolver o problema, só vai intensificar o problema, porque quem serão os menores que vão ser presos?

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