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- ADPF 347 Estado de coisas Inconstitucional - Julgado STF

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NOME (A): Silvani Jesus de Sales - RA 418104512 TURMA: 8º B/Vergueiro TURNO Noturno 
 
Relatório de Atividade desenvolvido: 
( X ) II - Medida Cautelar na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 
347 – Estado de Coisas Inconstitucional no sistema carcerário – vídeos das sessões de 
julgamento disponíveis em: Início do voto do relator aos 58m38s – 
https://www.youtube.com/watch?v=_4PAIFC5RlA 
Retomada do julgamento a 1h44m38s- 
https://www.youtube.com/watch?v=7GxY7e_zv6E&t=7671s 
Conclusão: 
https://www.youtube.com/watch?v=WdvYZOcHZQU&t=424s; 
 
SÍNTESE DO JULGADO E ANÁLISE CRÍTICA DA ATIVIDADE: 
Relator eminente: Marco Aurélio 
Requerente: Partido Socialismo e Liberdade - PSOL 
Apresentaram suas ideias na sequência: em primeiro lugar pelo PSOL o Doutor Daniel Antônio 
de Morais Sarmento e em seguida pela União falou o Ilustre Ministro Luís Inácio Luciano Adams 
– Advogado Geral e depois pelo Estado de São Paulo usou da palavra o Doutor Thiago Luís Santos 
Sombra. 
Ministro Marco Aurélio: Fez o relatório inicial do processo dessa medida cautelar. 
O partido socialismo e liberdade PSOL busca por meio de arguição de descumprimento do 
preceito fundamental com pedido de medida liminar que seja reconhecida a figura do “Estado 
de coisas Inconstitucional” relativamente ao sistema penitenciário brasileiro e a adoção de 
providências estruturais em face de lesões a preceitos fundamentais dos presos que alegam 
decorrerem de ações e omissões dos poderes públicos da União, dos Estados e do Distrito 
Federal. Aponta a adequação da violência ante o preenchimento dos requisitos próprios, 
violação de preceitos fundamentais decorrentes de atos do poder público e inexistência de 
outro meio eficaz de sanar a lesividade. Assevera que a superlotação e as condições degradantes 
do sistema prisional configuram um cenário incompatível com a constituição federal presente 
a ofensa de diversos preceitos fundamentais consideradas a dignidade da pessoa humana, a 
vedação de tortura e tratamento desumano, o direito de acesso à justiça e os direitos essenciais 
à saúde, a educação, trabalho e segurança dos presos. Salienta que a situação resulta de uma 
multiplicidade de atos comissivos e omissivos dos poderes públicos da União, dos Estados e do 
Distrito Federal, incluídos os de natureza normativa, administrativa e judicial. Consoante afirma, 
a União estaria contingenciando recursos do fundo penitenciário deixando de repassá-los aos 
Estados apesar de encontrarem-se disponíveis e necessários a melhoria do quadro. O poder 
judiciário há dois não observa os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da 
Convenção Interamericana de Direitos Humanos, nos quais é previsto o direito a audiência de 
custódia. Sustenta a sistemática ausência de imposição sem a devida motivação de medidas 
cautelares alternativas a prisão assim como a definição e execução de pena sem serem 
consideradas as condições degradantes das penitenciárias brasileiras. Ressalta que as 
autoridades públicas e a sociedade têm conhecimento da situação. Enfatiza que câmara dos 
deputados mediante a CPI do sistema carcerário e o conselho nacional de justiça CNJ, a partir 
de mutirões carcerários já produziram relatórios a revelarem o quadro dramático 
inconstitucional do sistema prisional brasileiro. Cita intervenções da corte Interamericana de 
direitos humanos e a condenação do Brasil a tomar medidas que erradiquem as situações de 
risco a proteção a vida e a integridade pessoal, psíquica e moral de pessoas privadas de liberdade 
em várias penitenciárias do país. Explicita estar se agravando o quadro descrito em virtude do 
crescimento significativo da população carcerária que de cerca de 90.000 presos em 1.990 
chegou em maio de 2014 a 563.000 sem contar os mais de 47.000 em regime de prisão 
domiciliar. Argumenta que hoje o número deve ultrapassar 600.000. Destaca que outro fato a 
contribuir com superlotação é o uso abusivo da prisão provisória. 
Conclui que o presente cenário de forte violação de direitos fundamentais dos presos e falência 
do conjunto de políticas públicas voltado a melhoria do sistema carcerário, o Supremo em 
síntese deve determinar cautelarmente: 
 Realização das audiências de custódia; 
 A fundamentação das decisões em que não forem adotadas as medidas cautelares 
diversas da prisão afim de reduzir o número de prisões provisórias; 
 Consideração do Estado de Coisas inconstitucional quando da aplicação e execução da 
pena; 
 Que o juiz da execução penal venha abrandar os requisitos temporais para fruição de 
benefícios de direitos dos presos bem como a pena, 
 O tempo de prisão se constatado que a condição de efetivo cumprimento for 
significativamente mais severa do que as previstas na ordem jurídica. 
 Que a União libere as verbas do fundo penitenciário nacional, abstendo-se de realizar 
novos contingenciamentos. 
 
PSOL – Doutor Daniel Antônio de Moraes Sarmento 
Vergonha Nacional! Foi a expressão do decano da Corte em recente seção em que tratou do 
sistema penitenciário brasileiro. ADIS – INFERNO DANTESCO – Expressões do primoroso voto do 
ministro Lewandovisky – infelizmente não se trata de exagero, mas do retrato fidedigno da 
nossa realidade. Celas superlotadas, pessoas dormindo umas em cima das outras, proliferação 
de doenças infectocontagiosas, falta de acesso à educação, a saúde, a justiça, alimentação 
inadequada, violações que são ainda mais graves em relação a minorias que estão na prisão, 
mulheres, homossexuais, transexuais e pessoas com deficiências. Os números como apontou 
muito bem o relatório do ministro Marco Aurélio são assustadores. O Brasil tem mais de 600.00 
presos, mas talvez mais assustador do que o dado numérico presente é a dinâmica do 
crescimento. Mais de 7% ao ano. O Brasil hoje tem a 4º maior população carcerária, mas 
caminha a passos largos para se tornar a 3º maior população carcerária do mundo. A 
Constituição brasileira padece de graves problemas de efetividade, mas em nenhum outro 
campo a distância entre as promessas generosas da constituição e a realidade é maior, é mais 
abissal. Não há talvez, desde a abolição da escravidão maior violação de direitos humanos em 
território nacional. Essa corte é guardiã da constituição e trata-se da mais grave afronta a 
constituição que tem lugar atualmente no nosso país. Mas se a situação é gravíssima e justiça 
certamente a intervenção dessa corte e essa corte tem corajosamente se manifestado em 
inúmeros casos, por outro lado vai ser uma intervenção também muito complexa. O expurgo de 
algumas normas jurídicas com a fixação da interpretação de outras não solucionará o problema. 
Portanto, é conveniente um olhar para o direito comparado que mostra que há soluções 
possíveis para esses litígios muito complexos. Soluções que já foram adotadas em países como 
os Estados Unidos da América, seja num contexto da segregação racial, seja nos chamados 
Prision Reform Case, citados no voto do ministro Lewandovisky, na África do Sul que enfrentou 
muito bem, por exemplo, a questão da falta de acesso a moradia para as pessoas miseráveis e 
outros países como a Índia, especialmente na Colômbia que formulou essa categoria do Estado 
de Coisas Inconstitucional, pode se dar esse nome ou qualquer outro, isso não é relevante. O 
Estado de coisas Inconstitucional se caracteriza quando há uma violação maciça de direitos 
humanos, uma inércia prolongada das autoridades, um bloqueio constitucional que faz com que 
as autoridades não atuem e a solução, o equacionamento pressupõe medidas políticas 
complexas de diversos órgãos, de modo que uma decisão simples, daquelas que são enfim, do 
arsenal tradicional da jurisdição constitucional, não são suficientes. Mas nessas hipóteses os 
tribunais devem incidir e a hipótese parece perfeitamente talhada para arguição do 
descumprimento de preceito fundamental. A ADPF, ministro Gilmar mendes foi um dos 
responsáveis pela formatação da lei que trata doinstituto, tem exatamente, essa virtude, ela 
busca chegar onde as outras ações não chegam em proveito da supremacia da constituição, em 
proveito da garantia dos direitos fundamentais. E todos os pressupostos para o cabimento da 
ADPF estão configurados. Não há dúvida de que nós temos aqui a violação aos mais 
fundamentais preceitos da nossa constituição, não há dúvida por outro lado que essa situação 
dramática que é de fazer corar é vergonha nacional, mas também é de fazer chorar que essa 
situação dramática se deve a atos dos poderes públicos. Da União quando contigencia as verbas 
do Funpem, dos Estados que não constroem as vagas indispensáveis para minorar esse cenário 
dramático, quando não propiciam acesso a saúde, educação, do poder judiciário quando adota 
interpretações equivocadas negando por exemplo a aplicabilidade imediata a tratados 
internacionais de direitos humanos, está configurada também a subsidiariedade porque não há 
outro mecanismo apto a sanar a lesão ao preceito fundamental. Pois bem, assentado o 
cabimento dessa ação, passo a falar das medidas cautelares postuladas. Em primeiro lugar, o 
periculum em mora é evidente. Para todas elas, porque o nosso quadro é absolutamente 
dramático. Estamos falando da lesão a integridade física e moral de centenas de milhares de 
pessoas e sabemos que com toda diligencia dessa corte, toda diligencia do relator, o processo 
de controle abstrato leva pelo menos um ano para ser julgado, há medidas que podem ser 
adotadas aqui e agora e que minorariam o sofrimento e reversível ao final do processo, de 
centenas de milhares talvez, mais do que isso, se nós considerarmos os familiares dos presos de 
pessoas. Pois bem, passo as medidas que foram postuladas na petição inicial: Depois do 
primoroso voto do ministro Fux, acolhido por essa corte que se assentou aplicabilidade imediata 
do pacto de San Jose da Costa Rica, da Convenção dos Direitos Civis e políticos, no que tange a 
audiência de custódia, ou audiência de apresentação como prefere sua excelência, não me 
parece necessário gastar o meu precioso tempo aqui para afirmar que essa medida deve ser 
aplicada desde já. E essa postulação está em absoluta convergência com as belíssimas iniciativas 
do CNJ capitaneadas pelo ministro Ricardo Lewandowsky, de levar a audiência de custódia ao 
judiciário brasileiro, tem que ser levado, agora é importante que esse Supremo Tribunal Federal, 
reconheça numa decisão vinculante que essa não é uma faculdade dos tribunais, uma faculdade 
do juiz, que isso tem que ser aplicado, e inclusive porque onde não for aplicado, há o risco de 
anulação subsequente dos processos judiciais. Então até em nome da validade desses processos 
tem que ter audiência de custódia. Segundo pedido, segunda postulação diz respeito ao 
FUNPEM. O Fundo penitenciário que foi instituído pela lei complementar estadual de 79, que 
reúne recursos destinados exatamente a promoção de melhorias para o sistema carcerário 
brasileiro. É absolutamente contraditório, um cenário em que o ministro da justiça responsável 
pela área afirma que as prisões são masmorras medievais que preferia o suicídio a ter que ser 
encarcerado numa delas e há dinheiro, há recurso disponíveis no FUNPEM e esses recursos não 
são gastos, esses recursos são sistematicamente contingenciados. Nós não estamos discutindo 
em tese, abstratamente, se o FUNPEM pode ou não haver contingenciamento. Nós estamos 
discutindo nesse cenário presente, nesse cenário atual de descalabro e nessa situação que toca 
o mínimo do mínimo existencial, me parece longe de dúvida que não é possível esse 
contingenciamento. Hoje há segunda uma estimativa feita no primoroso voto do ministro Luís 
Roberto Barroso, 2 bilhões e 200 milhões de reais disponíveis no FUNPEM. E no cenário de crise 
fiscal o risco de que esses recursos sejam contingenciados apenas aumenta. Esse ponto do 
FUNPEM o ministro Gilmar Mendes vem sempre destacando e se essa corte avançar nessa 
questão já será um avanço muito significativo. Terceira postulação diz respeito a necessidade 
de fundamentação das medidas cautelares alternativas a prisão. O ministro Marco Aurélio vem 
sempre ressaltando a inversão de valores da nossa cultura em que a prisão provisória se torna 
a regra e não a exceção. As pessoas primeiro são presas e depois se começa a investigação. Isso 
entrou no piloto automático, entrou tanto no piloto automático que o fato do legislador federal 
ter modificado o artigo 319 do CPP prevendo uma série de medidas cautelares alternativas a 
prisão foi quase indiferente, porque essas medidas não são aplicadas e com grande frequência 
esses tribunais se quer se dão ao trabalho de justificar porque não as aplicam. Por exemplo, a 
monitoração eletrônica dos presos, a vedação ao exercício de determinados cargos, de 
determinadas funções. Conheço, a requerente conhece a existência de um projeto de lei, mais 
uma bela iniciativa do ministro Lewndowsky em que busca introduzir no CPP essa exigência. Mas 
no próprio ofício do ministro Lewndowsky encaminhou está dito que essa exigência é extraída 
diretamente da constituição. Na obrigação de fundamentação das decisões judiciais, do 
princípio da proporcionalidade, da tutela da liberdade e da presunção de inocência. Então se 
postula também que seja reconhecida desde já a obrigação de todos os juízes e tribunais 
brasileiros a cada vez que não aplicam uma dessas medidas e decretam a prisão que o 
fundamentem. Finalmente, existe a questão da consideração desse quadro dramático do 
sistema prisional brasileiro pelos juízes, no momento de decretação das medidas cautelares, no 
momento de fixação das penas, no momento de execução das penas. Para essa questão, a 
requerente se valeu de um magnífico parecer do professor Juarez Tavares, professor titular de 
direito penal da UERJ que foi devidamente juntado ao processo. Como ressaltou o ministro Celso 
Melo, recentemente, o excesso de execução no nosso país é generalizado, não é no 
estabelecimento prisional A, B ou C em regra as sanções são cumpridas em condições 
incomparavelmente mais gravosas do que aquelas admitidas pela nossa ordem jurídica, que 
aquelas presentes na lei de execução penal consentâneas com a nossa ordem constitucional. 
Ora, o princípio da proporcionalidade e o princípio mais específico da proporcionalidade da 
pena, ele não se volta apenas ao laboro legislativo, ele também se volta a sua aplicação real e 
concreta num mundo afinal em que as pessoas vivem. No mundo em que os presos e as presas, 
os homens e as mulheres vivem, proporcionalidade é e deve ser isso. Pois bem, assentada essa 
premissa sabe-se que, o juiz hoje, cumprindo a lei, muitas vezes decreta uma prisão cautelar, 
fixa a pena de prisão, e aí eu acho que cabe uma analogia, com o que a filósofa Hana Arent falou 
na banalidade do mal. Pessoas que são boas, íntegras, mas que de uma maneira quase que 
mecânica cumprem uma lei alimentando um sistema que é hediondo, que é odioso, que é 
infernal, que massacra as pessoas. Então para minorar isso, deve ser levado em consideração 
esse quadro dramático que em primeiro lugar para que haja ainda mais parcimônia da 
decretação, aliás, que hoje não há nenhuma, mas para que haja parcimônia na decretação das 
medidas cautelares penais, especialmente as que constrangem a liberdade e mandam pessoas 
pra cadeia e em segundo lugar para que a prisão seja vista realmente não como uma última 
ratio, mas como uma ultimíssima ratio, porque hoje a prisão é mandar o sujeito para o inferno. 
Em terceiro lugar para que isso seja considerado no contexto da execução da pena, o ministro 
Barroso num belíssimo voto sobre responsabilidade civil, já enfrentou a questão, mostrando 
como, enfim, a legislação se assenta numa certa equação, numa equação em que, pra uma um 
determinado, onde se atribui uma certa gravidade fixa-se uma pena. Isso depois o juiz considera 
e deve fazê-lo levando em consideração as características específicas do caso etc, etc... Pois 
bem, num cenáriode abusos e excessos de execução, o juiz da execução penal pode ajustar a 
pena a tal como ela é cumprida, a própria equação estipulada por quem sentenciou, na medida 
em que eu altero a intensidade da pena, o grau aflitivo da pena, para que aquela equação seja 
mantida, não se está mudando a equação, não está alterando enfim, a decisão judicial porque 
isso está fora do escopo da execução para manter exatamente a mesma equação, a duração da 
pena, deve diminuir. E essa corte se considerar pertinente, pode estabelecer parâmetros para 
isso ou pode determinar que outro órgão como o CNJ eventualmente estabeleça esses 
parâmetros. Senhoras ministras e senhores ministros, eu no início da minha sustentação, falei 
que o sistema prisional brasileiro era infernal e não acho que seja uma frase exagerada, mas há 
uma diferença entre o sistema prisional brasileiro e o inferno, o inferno de Dante, por exemplo. 
No pórtico do inferno de Dante está escrito: “Abandonai toda a esperança vós que entrais”. A 
esperança está hoje nesta corte, há esperança! Essa corte pode ser a voz daqueles que não 
tem voz. Pode ser o Bastião de defesa dos mais excluídos dentre os excluídos. Há esperança 
porque há juízes em Brasília, exatamente porque tem essa esperança, a requerente confia que 
essa corte vai conceder integralmente a cautelar nos termos em que foi postulada na petição 
inicial. 
 
Ministro Luiz Inácio Luciana Adams – Advogado geral. 
Primeiro ponto que eu destaco, senhoras ministras e senhas ministras e senhor relator, é a 
complexidade do termo. O termo que está dado aqui não é um problema de contingenciamento, 
é muito mais profundo do que esse aspecto foi estabelecido pelo autor. O problema que está 
aqui é um problema de cultura, é um problema de aplicação da legislação. A nossa realidade 
prisional é uma realidade séria, complexa difícil, dramática, não é uma realidade irreversível e 
mais que isso, não é uma realidade que é reconhecida internacionalmente como uma realidade 
que impede o atendimento humanitário, tanto é verdade que os países com o qual o país 
mantém extradição e nós tivemos um debate recente nas cortes italianas em relação a 
extradição do réu condenado em que se alegou exatamente isso e a corte italiana reconheceu 
as condições prisionais brasileiras para recepcionar esse réu condenado a cumpri pena no Brasil. 
É uma realidade dramática sim, que requer e exige ações e tem ações sendo tomadas. Primeiro 
lugar e aqui eu não posso fugir da preliminar, o princípio da subsidiariedade, ele existe e existe 
nesse caso. Tanto existe nesse caso que várias ações, ações diretas, recursos extraordinários de 
repercussão estão sendo apreciados na corte sobre essa matéria, elas são objetos e são tratadas, 
cito aqui – danos morais causados aos detentos ADI 570 – repercussão geral 580.252 – 
progressão do regime, no caso da ausência de vagas, RE 6.411.320 – ADI relativa a audiência de 
custódia 5240 – são matérias que estão afetas ao IPF, então dizer que há violação é desconhecer 
dessas matérias que já são apreciadas nessas ações específicas. Mais ainda, voltando aqui ao 
mérito, o processo de execução orçamentária, os últimos 4 anos desde 2011 – a execução média 
das lotações autorizadas pelo congresso nacional para aplicação do FUNPEM representam 
81,99% da autorização, estou falando de execução. Dessa execução em 2014 que foi quando, 
um fiscal difícil, não mais difícil que esse ano, mas foi um ano muito difícil, a execução 
orçamentária chegou a 92% da lotação autorizada. Portanto não há um contingenciamento a 
impedir a execução e a realização de um projeto. O que há é a complexidade do tema, porque a 
ação orçamentária direta da união se dá nos presídios federais, e essa ação direta tem gerado 
inclusive excesso de vagas no âmbito dos presídios federais. Agora, nós temos problemas nos 
presídios estaduais e nessa nós dependemos da execução dos estados a quais nós não podemos 
superar. Dos 136 convênios firmados com mais de 1 bilhão e 600 milhões de reais autorizados 
previstos para execução, 60 foram interrompidos por desistência no estado, por incapacidade 
de execução, por falta de projeto e assim por diante. Então o processo de execução é muito 
complexo e essa complexidade impõe sim, e nesse sentido a ação a ADF é uma ação justa, 
correta, no sentido de provocar o tema, de buscar um entendimento entre os três poderes. Aqui 
nós tivemos dois grandes pactos republicanos, um conduzido pelo ministro Jobim, outro 
conduzido pelo ministro Gilmar Mendes, que resultaram em melhorias substanciais do poder 
público, substanciais para o judiciário. Esse mesmo procedimento tem que ser estabelecido para 
este caso, mas tem que ser estabelecido a partir de entendimento dos três poderes, porque não 
é uma ação exclusiva do poder legislativo, não é uma ação exclusiva do poder executivo, é 
também uma ação do próprio poder judiciário, vide que das 8 petições, dos 8 pedidos, que é 
feito pela ADPF, 7 se referem ao poder judiciário, somente um se refere ao executivo, como uma 
ação milagrosa, que é o de contingenciamento, que eu já disse aqui, não é o problema. A opção 
de contingenciar ou não é uma opção do congresso, ele que delibera quais são as despesas, 
quais são passíveis de contingenciamento. Mas mesmo nessa despesa passível de 
contingenciamento, o próprio executivo, dá execuções prioritárias, não é evidentemente a única 
execução prioritária. Nós temos o bolsa família, nós temos ação de saúde, nós temos ações de 
educação, nós temos assistência social, então existe uma série de ações que são dramáticas, 
necessárias, fundamentais, para o país e para a sociedade brasileira e elas estão sendo 
realizadas. Não ao tempo necessário, mas isso porque a realidade prisional brasileira é 
contaminada e foi bem-dito aqui pelo advogado, pelos 41% de presos sem condenação. Dos 
presos temporários 37% são mantidos presos sem condenação final. Se esses presos, se 250.000 
presos fossem retirados das cadeias, nós teríamos vagas. Basta lembrar que a dramaticidade 
dos mutirões carcerários, quando o ministro Gilmar traz a lume e o CNJ traz a lume um preso 
temporário há 14 anos, é uma insanidade admitir uma temporariedade de 14 anos, essa é a 
realidade prisional brasileira! E esse tema complexo com todo respeito a autora da ação, não se 
resolve numa liminar, resolve num entendimento, num esforço conjunto dos poderes. Lembro 
que recentemente o próprio CNJ firmou convenio com o ministério da justiça para as audiências 
de custódia e para o sistema alternativo de prisão que é uma solução necessária e para qual a 
União já despendeu vários e diversos recursos mediante convênio para aquisição de 
instrumentos que garantam esse tipo de controle dos nossos acusados de parte deles, não digo 
preso, condenados, estou falando de acusados, assim como de presos. Então, senhoras 
ministras, senhores ministros, senhor relator, eu diria que o tema é importante, é fundamental, 
é um tema que vem sendo debatido há muito tempo, e o Supremo tratou isso me parece 
corretamente na repercussão geral já julgada e que entendeu que a interferência do judiciário 
é sim legítima, porém, uma coisa é interferir no extremo, numa prisão que não atende 
requisitos, hoje mesmo, foram identificados um conflito entre quadrilhas numa prisão e o juiz 
suspendeu a utilização desse sistema, dessa prisão. Isso é uma extrema dura. Agora outra coisa 
é resolver uma política com efeitos de intervenção nas ações dos poderes a partir de decisões 
judiciais. Aí nós temos, no nosso entender, evidendentemente a violação de separação dos 
poderes. O que se precisa buscar é um entendimento nacional sobre isso, um diálogo nacional 
que passa pelos três poderes, mas não só pelos três poderes, mas pelas federações da república. 
Passa pelos estados participarem dessa solução de forma ativa e de forma compromissada, e 
dessa forma se conseguirá efetivamente enfrentar e resolver a curto (espero eu) prazo esse 
problema. Mas não e com todo respeito evidentementeao processo a mera declaração de 
liminar no sentido de que obrigam o poder executivo num prazo mínimo minguado de três 
meses produzir uma política nacional do problema do setor penitenciário no Brasil que não cabe 
exclusivamente ao poder executivo, pressupõe atuação do estado, que parte de uma análise 
para resolver todos os problemas. E não é contingenciamento ou retirar o FUNPEM do 
contingenciamento que vai resolver. Porque nesse caso, já disse, os últimos 4 anos a execução 
foi quase 100%, no último ano foi 92%, é os dados que nós apresentamos aí pelo próprio 
departamento penitenciário do ministério da justiça. Agora não é suficiente, não é recurso, não 
é o gasto, a disponibilidade de recurso não pé suficiente. O que é preciso sim é a mudança de 
tratamento dos nosso apenados e uma política efetiva de ressocialização, medidas alternativas 
e controle da qualidade da decisão do apenamento, retirando dessa realidade aqueles que estão 
simplesmente apenados temporariamente esperando a sua absolvição na prisão e isso sim é um 
absurdo, isso sim um escândalo. 
 
Doutor Thiago Luiz Santos Sombra – falando pelo estado de São Paulo 
Eu me sinto muito a vontade de falar nessa ação porque embora o ministro Marco Aurélio vá 
para o meu quase 10º ano de atuação exclusivamente no Supremo, antes eu fui procurador de 
assistência judiciária em São Paulo, numa época que sequer existia defensoria, e eu era 
procurador de assistência judiciária numa das regiões mais pobres da cidade, Itaquera, São 
Miguel Paulista, e lá atuava nessa área criminal. Depois quando eu vim a atuar aqui no Supremo 
em Brasília, especificamente passei a atuar em ações originárias todas relativas ao sistema 
prisional, regime disciplinar diferenciado RDD numa ADIN do Ministro Carlos Brito, construção 
de presídios e convênios com a União, regimes semiaberto, enfim, uma infinidade de ações que 
vossas excelências volta e meia frequentam e analisam aqui e agora recentemente como 
professor universitário da universidade de Brasília também é um tema que faz parte das 
pesquisas o que significa que estamos aqui tendo um diálogo franco sem lados opostos 
especificamente na busca de soluções factíveis para uma causa que eu considero que seja das 
mais importantes do país. Agora eu queria começar suscitando porque vinha pensando 
especificamente se o problema que nós vamos discutir aqui é o sistema prisional ou é a 
jurisdição constitucional, ou se é as duas coisas. E para isso eu começaria levantando três 
preliminares formais. A primeira delas, é um vício formal que há na petição inicial. Ela requer, a 
imposição de fundamentação de todas as prisões cautelares desse país, motivadas quando não 
substituídas por cautelares convencionais. O curioso é que há uma inversão aqui, ela pressupõe 
que os juízes não façam ou não adotem esse tipo de comportamento, o que não é verdade, 
porque se fosse, o Supremo não faria outra coisa, a não ser julgar só Habeas Corpus com base 
nesse fundamento. Então esse é o primeiro ponto. O segundo ponto é que requer a 
fundamentação, mas sequer apontou como preceito fundamental o artigo 93 inciso 9º - esse é 
um vício formal da inicial e há outro detalhe, a ADPF não pode se prestar a ser um código de 
conduta da magistratura. Não é o mecanismo a ser utilizado para determinar que juízes no Brasil 
fundamentem as suas decisões numa inversão de valores, se não houvessem juízes que não 
fundamentassem as substituições de prisões cautelares por medidas cautelares convencionais. 
Fosse isso o Supremo além desses HC’s teria que agora passar a julgar as reclamações de todas 
essas ações e de todas as faltas de fundamentação que virão por força de uma decisão proferida 
nessa ação dessa ADPF. Além dos HC’s que os ministros recebem, receberão reclamações 
decorrentes de não fundamentação de recurso de medidas cautelares. A segunda preliminar é 
o problema da subsidiariedade, o ministro Adams mencionou a 5240 julgada na semana 
passada. O ministro Lewandowsky tem conduzido com maestria no CNJ medidas administrativas 
ferrenhas para implementação, já são 14 estados que realiza essa audiência de custódia, foi 
julgado na semana passada esse assunto, um julgamento brilhante, apoiado pelo estado, 
tribunal de justiça, todo um esforço conjunto para tentar implementar. O grande problema, é, 
bom se semana passada isso foi julgado, qual é o impacto, qual é o objetivo dessa ADPF? Para 
que que serviria se isso já está em fase de implementação por parte dos tribunais de justiça, 
esse é um ponto que merece ser considerado e que demonstra muito claramente que não há 
subsidiariedade como requisito dessa ADPF. E o terceiro requisito aqui que falha também essa, 
com todo respeito a inicial, diz respeito aos casos de repercussão geral, já decididos por essa 
corte. Eu computei o RE 592.581 relativo as obras emergenciais, o RE 580 referente aos danos 
morais, o 582.242, a ADIN 4162 do RDD – do regime disciplinar diferenciado e por último, aqui 
foi objeto na semana passada, o estado do Rio Grande do Sul, ou seja, o Supremo tem resolvido 
no controle difuso ou na repercussão geral todos esses temas, isso não é uma matéria que seria 
compatível com controle concentrado e com uma ADPF nos moldes em que apresentaram. E 
aqui eu trago uma outra observação ministro Celso de Melo, que diz respeito a uma ADPF que 
vossa excelência foi relator, inclusive do governador do estado de São Paulo, relativa as 
desapropriações que tentávamos empreender no estado, e que foi reconhecida a falta de 
subsidiariedade pelo fato do sistema recursal ou de outras medidas que foram adotadas, serem 
capazes de se equacionar e de se obter o mesmo resultado. A ADPF 249 é proposta pelo 
governador do estado de São Paulo em relação ao decreto de desapropriações. Então vejam 
vossas excelências, eu não gostaria aqui de que a ADPF se transformasse em um mecanismo de 
condensação de tese, não é esse o objetivo dela, não gostaria que a ADPF se transformasse em 
um novo mandado de injunção 107 que foi prematuramente afundando e que só agora vossas 
excelências têm conseguido restabelecer a valiosa função do mandado de injunção. Não se 
presta a isso, a ADPF não merece ter esse papel e sobretudo que vossas excelências tem lidado 
com tanta maturidade jurisdicional e política no desenvolvimento desse instituto. Agora vamos 
passar especificamente ao mérito e a realidade. São Paulo tem a maior população carcerária do 
país. São 9.000 presos, por mês. Em 2011 foram 101.363 presos basicamente 300 presos por 
dia. Em 2013 112.930 por ano, 340 presos por dia, em 2014 110.090 presos, 9174 por mês, 305 
por dia. Temos uma população carcerária de 222. 856 presos para 161 unidades prisionais. Então 
vejam vossas excelências, ainda que fosse possível construir uma penitenciária por mês naquele 
estado seria impossível dar conta da crescente avalanche da população carcerária e é aqui que 
essa ADPF comete um pecado mortal, ela se foca nas causas, nas consequências e ignora as 
causas, as causas do sistema carcerário são muito mais profundas do que aquilo que ela se 
propõe. E aí, o grande ponto que eu quero basicamente mencionar é que ela tenta corrigir uma 
cachoeira sem esquecer o início onde começa ou onde o rio desagua. Vejam vossas excelências, 
que o estado de São Paulo tem aqui no Supremo, eu já computei, quase 20 ações civis 
originárias, relativas a convênios com a União em que o estado é ameaçado de inscrição 
permanente no SIAF por algum tipo de discussão dos convênios. É notória a crescente população 
carcerária, mas os problemas são notórios também, licenciamentos ambientais, procedimentos 
licitatórios impugnados por ações civis públicas, só para que os senhores tenham uma ideia, o 
tempo médio de planejamento de uma unidade prisional em São Paulo, que é um tempo 
altamente eficiente, varia de 20 a 24 meses, para que nós concebamos e o estado de São Paulo 
já realiza PPP em sistema prisional tamanha a necessidade de eficiência. Foram criadas 6.273 
vagas sóno semiaberto o que hoje totaliza em torno de 117.000 vagas. E eu queria aqui enfatizar 
um aspecto importante são os mutirões carcerários, o ministro Gilmar Mendes quando a frente 
do CNJ foi certamente um marco na gestão dele a quantidade de mutirões carcerários 
realizados. O estado de São Paulo agora está partindo e investindo de forma incisiva no 
monitoramento eletrônico dos seus presos e tem ampliado significativamente, o ministro 
Lewandowsky é uma testemunha viva disso, o sistema, de audiência de custódia. Nós temos 
implantado sistemas de acompanhamento psicológico, identificação de deficiências de presos, 
são 61 centrais de penas alternativas com mais ou menos 13000 presos submetidos a 
tratamentos de cumprimentos de prisão e de penas inferiores, a um custo de $26,00 por mês, 
um dos menores custos desse pais, um dos maiores índices de ressocialização. Só para os 
senhores terem uma ideia, são basicamente 18.000 audiências, tele audiências realizadas. São 
especificamente 8 os principais projetos em parceria com a iniciativa privada e com organizações 
da sociedade civil. Projeto educação das prisões, projeto progresso, projeto da família, e 
lamentavelmente eu teria que dizer aos senhores que esse estado de coisas inconstitucional não 
irá proporcionar uma realidade melhor do que nós temos aqui. Ele não vai ter a capacidade de 
mudar o cenário dramático em que se vive, assim como ele não vai ter a capacidade de 
reconhecer que ainda que não seja o ideal as coisas têm começado a mudar e o supremo tem 
um papel importante nesse processo de mudança. Agora um aspecto que me chama muito a 
atenção é essa necessidade desse diálogo democrático que o supremo tem estabelecido com os 
demais poderes e o CNJ. Agora que tipo de provimento jurisdicional que se espera num controle 
abstrato em termos de representatividade democrática de uma decisão dessa natureza que 
envolva outros poderes? Aqui o que a gente basicamente vê é um típico caso de transplante 
legal, não sei se vossas excelências conhecem transplante legal é um termo muito utilizado por 
autores da doutrina americana, em que o ministro mangabeira é um dos precursores e que tem 
sido retomado agora por comparativistas críticos mais recentes, especificamente pelo professor 
Hugo Maddei em que há uma crítica muito grande desses transplantes legais, de outros países 
sobretudo da Europa e Estados Unidos, em que nós trazemos sem a devida particularidade. Esse 
estado inconstitucional de coisas é um exemplo. Para aos senhores terem ideia essa sentença 
da Colômbia é de 1998, em 2001 uma missão do Aquinur, foi a Colômbia e constatou três anos 
depois que as coisas continuavam exatamente a mesma coisa. O juiz da Suprema corte, da corte 
constitucional Sul Africana, Edwuin Cameron, mencionou recentemente que a África do Sul não 
queria se basear num modelo brasileiro de ativismo judicial, porque lá eles achavam que o 
caminho deles de democracia era melhor que o nosso. É esse o exemplo de ativismo, o ativismo 
judicial sempre foi praticado no Supremo e graças a Deus, o Supremo atuou de forma a corrigir 
oportunamente várias dessas medidas, agora uma das questões que me coloca é será que o 
supremo, quer ao invés de corrigir pontualmente, se tornar um coordenador institucional de 
política pública? Nós vamos trocar uma governança administrativa por uma governança 
jurisdicional? Será que o Supremo não acha que é mais importante o fortalecimento da 
democracia, num diálogo democrático com os demais poderes? E aí que eu trago uma menção 
ao ministro Luiz Roberto Barroso, num debate importante em Harward, até que em um 
determinado momento o professor que achava importante o ativismo numa democracia jovem 
como o Brasil para corrigir determinados caminhos. Mas a pergunta que ele fez é: E quando essa 
democracia começa a envelhecer? Como é que a democracia se sustenta ao longo do tempo 
sem a falta de diálogo e de criação de responsabilidades para os demais poderes? E 
aproveitando, ele também menciona que cortes constitucionais deveriam evitar determinadas 
decisões que não fossem capazes de implementar e uma das maiores críticas da corte 
constitucional da colômbia é que ela não teve capacidade de implementar, de seguir essa 
sentença a qual ela menciona. O Brasil não precisa se espelhar no modelo colombiano, não 
tenho nada contra transplantes legais, mas o transplante legal é refletido no nosso modelo. 
Coordenador institucional de políticas públicas não é o papel do Supremo, o supremo tem 
trabalhado muito bem e dentro de uma representatividade democrática considerável. O 
professor Virgílio Afonso da Silva num artigo espetacular chama a atenção para esses processos 
de deliberação que as vezes escondem algumas práticas e regras que comprometem a 
legitimidade constitucional da corte. Eu tenho minhas sérias dúvidas se o Supremo não colocará 
sua legitimidade constitucional no julgamento de uma ADPF como essa em que ele pretende 
atravessar, ser o dono da bola, do apito, da camisa, definir o horário em que o jogo começa e o 
jogo termina, sem criar responsabilidades ao demais poderes. Esse modelo de governança 
administrativa ele não é o melhor, não tem sido talvez o melhor, nem na velocidade que se 
espera, mas talvez trazer ao Supremo esse modelo não vai ser a melhor das soluções, essa corte 
não deve se apequenar e atuar como ordenadora de despesa, ou chefe de repartição. Não 
convém ao Supremo atuar com esse tipo de patamar. E eu gostaria de encerrar aqui com a 
citação do ministro Marco Aurélio em homenagem aos seus 25 anos de um grande professor da 
URFJ Carlos Alexandre de Azevedo Campos que é professor, foi orientando do Doutor e 
professor Daniel Sarmento e que traz uma análise dos pressupostos desse estado de coisas 
inconstitucional. O fato é, nós não precisamos desse modelo de decisão jurisdicional aqui e o 
sistema carcerário menos ainda. Medidas tem sido implementada e elas tem plenas condições 
de aos poucos se atingir o objetivo que se pleiteiam sem prejuízo da legitimidade democrática 
do Supremo. Eu só ressalto então, basicamente pra concluir o ministro Ricardo Lewandowsky 
que o Aquinur fez um julgamento prévio, o auto comissariado das nações unidas fez um 
julgamento prévio da sentença 143 antes que vossas excelências precisassem fazer. Eu costumo 
acreditar que o supremo não vai cair na sedução após tantos anos o estágio de amadurecimento 
jurisdicional em que o supremo tem dado e contribuído para a democracia. Seduções são 
comuns em cortes constitucionais. Essa eu tenho certeza que vossas excelências, com a altura e 
com o desempenho que tem realizado no aprimoramento da jurisdição constitucional não farão. 
O modelo de responsabilidade democrática ele é compartilhado, ele não pode ser exclusivo do 
judiciário ou apenas nas mãos do executivo ou do poder legislativo. É com essas razões que o 
governo do estado de São Paulo através da procuradoria geral pede a vossas excelências que 
não conheça da ADPF pelas preliminares formais apresentadas, e caso conhecidas que indefiram 
o pedido preliminar. Muito obrigado! 
 
Doutora Ela Vianco – Vice procurador da República 
Obrigada senhor presidente, senhores ministros, senhoras ministras, meu estimado Daniel 
Sarmento, porque faz muita falta ao ministério público federal, também meu colega Thiago 
Sombra, da universidade de Brasília, ministro Adams, que estava até pouco. Todos os três 
fizeram magníficas sustentações orais e eu pedi a palavra pelo ministério público para de um 
lado dizer da simpatia da adesão que o ministério público tem com relação a motivação desta 
ADPF, do reconhecimento que tem do estado de coisas inconstitucional na situação carcerária 
brasileira. Mas também por outro lado, manifestar a preocupação com as medidas cautelares 
pleiteadas. É um conjunto que se todas essas, tudo que se deseja com essas medidas cautelares 
fosse concretizado e basicamente isso pelo judiciário, realmente nós não teríamos essa 
superlotação. Mas a questão que se colocaé que a forma como essas cautelares, elas foram 
requeridas, são de uma generalidade, de uma falta de praticidade e de uma certa inocuidade, 
porque muitas delas é o que diz a lei, então o Supremo Tribunal federal vai repetir o que diz a 
lei, algumas delas também, já foi referido, elas de alguma forma, esse reconhecimento de teses 
já foi realizado pelo STF e eu lembro um que não consta aqui que é o reconhecimento, o 
julgamento ainda não terminou, mas o reconhecimento da necessidade de descriminalizar o 
porte para consumo pessoal, porque essa é uma situação que realmente ela tem levado o 
sistema da justiça criminal a um massivo encarceramento e que tem recaído de uma forma 
exponencial em relação as mulheres. Eu acho curioso que uma das medidas que não foram 
pensadas é cautelares é o limite ao encarceramento que em alguns países da Europa já constitui 
um aspecto que está sendo, dentro da política de seu orçamento, o quanto que cada país vai 
gastar ao encarceramento de pessoas, mas naturalmente isso não consta e nem será objeto da 
discussão. Com relação a medida das últimas duas cautelares, elas também me preocupam 
demais porque uma delas se refere a determinação ao CNJ que coordene mutirões carcerários, 
isso já aconteceu como lembrado, quando era presidente o ministro Gilmar Mendes e fez 
história, foi muito importante, mas me parece que não é exatamente essa função do CNJ, de 
fazer ou coordenar mutirões carcerários, mutirões carcerários tem que ser feito pelo juiz de 
execução em cada comarca, se existir na comarca juiz de execução, mas o juízo de execução em 
cada estado, então quando se coloca também isso, essa responsabilidade no CNJ se esquece da 
responsabilidade que cada juízo estadual tem no sentido de zelar pela legalidade e pela 
constitucionalidade da execução penal. Com relação também a última cautelar requerida que é 
o imediato discontingenciamento das verbas existentes no FUNPEM, me parece uma cautelar 
nesse sentido muito perigosa de consequências inclusive desastrosas, por algumas razões que 
foram mencionadas pelo advogado geral da união e também porque coloca toda a 
responsabilidade do estado de coisas inconstitucional a união por uma suposta burocratização, 
não só no descontingenciamento, mas na execução dos convênios. É preciso lembrar e isso eu 
faço com a experiência de ter sido membro do conselho nacional de política criminal e 
penitenciaria, que existem vários dispositivos que portarias que atendem ao regramento de 
política criminal e penitenciaria que é um órgão da execução penal, está previsto na lei de 
execução penal e, normas que são obrigatórias, como por exemplo no caso de prisão para 
mulheres que tenham o local adequado para que elas possam ficar com suas crianças, durante 
o período em que elas poderão... elas terão o direito de aleitar, amamentar as crianças, os 
lugares de convivência, enfim, várias regras que não são obedecidas pelo estado, o conselho 
nacional de política criminal e penitenciaria exige e normas que fazem parte nos convênios no 
repasse de recursos, então simplesmente descontigenciar, deixar uma liberdade total para os 
estados, isso significa abrir a porta para o descomprometimento com obediência a essas normas 
e tornar esse estado de coisas mais inconstitucional, e também nessa minha experiência eu 
verifiquei que muitos estados simplesmente devolvem o dinheiro, ou usam em coisas que não 
tem nada a ver com o setor penitenciário, de modo que repetindo, quer dizer, o ministério 
público tem todo o interesse em que uma solução seja encontrada e que medidas cautelares 
até possam ser deferidas, mas que não exatamente com essa abrangência ou essa generalidade 
ou sem o mínimo de cuidado, para que se forem deferidas elas possam causar ainda mal 
maiores. Então são essas considerações senhores ministros, senhoras ministras que eu gostaria 
de colocar esperando e tendo a certeza que esse plenário encontrará o melhor caminho para 
dar uma resposta a esse estado de coisa. 
 
 
DOS PEDIDOS DA ADPF Nº 347 
 
Ajuizada no mês de junho do ano de 2015, a ADPF nº 347 postula o reconhecimento do “estado 
de coisas inconstitucional” a qual vive o atual sistema carcerário brasileiro por atos de omissão 
e comissão praticados pelo poder público e que ferem os direitos fundamentais dos apenados. 
A ação tem a maior finalidade de além do deferimento das cautelares interpostas, que seja 
providenciado um novo método abrangente a todo o sistema, uma nova realidade para a prática 
da execução penal. 
Nesse seguimento, a possibilidade do réu que for condenado a cumprir pena em regime 
fechado, esgotadas todas as demais alternativas de pena, esta servirá de ressocialização do 
apenado, com um trabalho direcionado à assistência de saúde física e psicológica, um lugar onde 
esta pessoa tenha seus direitos constitucionais garantidos pelo Estado, que não fique só no 
papel, mas na prática também. 
Com esse intuito, entre as deficiências estudadas pelo Partido Político Socialismo e Liberdade, 
foram tema dos pedidos da ADPF em comento oito medidas que solucionariam mais da metade 
da inconstitucional realidade carcerária, pedidos que passem a ser analisados um a um. 
Primeiramente, que os julgadores de todas as instancias, expliquem o motivo de na maioria dos 
casos, não aplicarem as penas alternativas a privação da liberdade provisória, prevista no artigo 
319 do código de Processo Penal. Senão vejamos: 
“Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: 
I – comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar 
e justificar atividades; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). 
II – proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias 
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar 
o risco de novas infrações; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). 
III – proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias 
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; (Redação dada pela 
Lei nº 12.403, de 2011). 
IV – proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária 
para a investigação ou instrução; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). 
V – recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou 
acusado tenha residência e trabalho fixos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). 
VI – suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou 
financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; 
(Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). 
VII – internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou 
grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi- imputável (art. 26 do 
Código Penal) e houver risco de reiteração; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). 
VIII – fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, 
evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; 
(Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). 
IX – monitoração eletrônica. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). 
…(revogados) 
§ 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título, podendo 
ser cumulada com outras medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).” 
Em segundo, o cumprimento dos artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da 
Convenção Interamericana de Direitos Humanos para que seja realizado dentro de noventa dias 
a audiência de custódia do preso preventivo, possibilitando a este o comparecimento perante o 
juiz no prazo de vinte e quatro horas, a contar do momento da prisão. 
Em terceiro, quase um clamor para que os juízes e tribunais consideram a verdadeira situação 
do sistema prisional brasileiro, analisando o grau de intensidade dos delitos cometidos e visando 
a necessidadeda aplicação das medidas cautelares penais na execução de cada caso concreto. 
O quarto pedido, reforçando o primeiro postulado, é no sentido de que sejam impostas medidas 
alternativas à prisão preventiva, que seja seriamente usado o já mencionado artigo 319 do CPP, 
deixando para aplicar a prisão preventiva em casos mais severos e que causem de fato algum 
risco para a vítima ou para a sociedade. 
Nessa perspectiva, foi citada também a abrangência dos requisitos temporais para a utilização, 
em tempo certo, dos direitos e benefícios dos apenados quando verificada a situação mais 
severa aplicada ao preso do que a prevista no ordenamento jurídico, como por exemplo, a 
progressão de regime, o livramento condicional e a suspensão condicional da pena. 
O sexto pedido é no sentido de que o juízo da execução penal progrida a pena nos casos de 
constatação de qualquer irregularidade estatal, como a prevista no item anterior. 
Logo, foi requerido também que o Conselho Nacional de Justiça providencie mutirões 
carcerários com o fim de revisar a execução penal dos encarcerados brasileiros para que seja 
averiguada a ocorrência de presos irregulares, conforme já discutido nos pedidos anteriores. 
Por fim, como medida cautelar foi solicitada que a União libere o valor contido no Fundo 
Penitenciário Nacional para que não mais haja o retardamento ou a inexecução de parte da 
programação de despesa prevista na Lei Orçamentária. 
Por conseguinte, no mérito da demanda foi requerido que haja a declaração do “estado de 
coisas inconstitucional” do sistema penitenciário brasileiro, bem como a deliberação para que o 
Governo Federal encaminhe ao STF, dentro do prazo de três meses, um plano nacional que 
proponha uma solução, no decorrer dos próximos três anos, para o abominável sistema prisional 
brasileiro. Plano este que contenha soluções para os principais problemas de violação aos 
direitos fundamentais e humanos dos detentos e que será, depois de devidamente aprovado, 
encaminhado para os Estados e Distrito Federal. 
 
DOS VOTOS DOS MINISTROS 
 
No dia 27 de agosto de 2015 se iniciou o julgamento das cautelares. O primeiro a votar foi o 
relator, ministro Marco Aurélio, o qual fez a observação que o Brasil é o terceiro país no mundo 
com a maior população presidiária. Ressaltou que o déficit prisional é gigantesco e um dos 
maiores males do sistema carcerário. Sendo assim, a falha no sistema é geral, ocorrendo a mais 
vasta violação dos direitos fundamentais dos detentos no tocante à dignidade da pessoa 
humana, aos princípios constitucionais e ferindo de morte direitos adquiridos como o Pacto 
Internacional dos Direitos Civis e Políticos e a Convenção contra a Tortura, além da própria Lei 
de Execução Penal. No entendimento do relator, para que seja reconhecido o estado de 
inconstitucionalidade é necessária a responsabilidade do executivo, Legislativo e Judiciário, além 
da União, Estados e Distrito Federal, uma vez que a formulação e a implementação de políticas 
públicas quanto de interpretação e aplicação da lei penal é carente quanto a sua aplicabilidade 
correta. 
Após o voto do ministro Marco Aurélio, o julgamento foi suspenso, retornando no dia 03 de 
setembro do mesmo ano com o voto do ministro Edson Fachin, que concordou, em parte, com 
o relator. 
Ato contínuo, Fachin considerou que a ação deve ser admitida, no tocante as cautelares, se 
pronunciou a favor da realização de audiências de custódia, no prazo máximo de noventa dias, 
de modo a viabilizar o comparecimento do preso perante o juiz em até vinte e quatro horas 
contadas do momento da prisão; dos mutirões carcerários, com a finalidade de viabilizar a 
revisão de todos os processos de execução penal em curso no país e do contingenciamento dos 
valores contidos no fundo penitenciário. 
Em seu voto, o Ministro Luís Roberto Barroso também concordou com os dois primeiros votos 
ministrais nos três pontos, entretanto, expandiu o prazo de cumprimento para um ano. 
Ademais, concedeu de ofício a cautelar para determinar que o Governo Federal envie ao relator, 
no prazo de um ano, análise da situação em termos quantitativos e pecuniários, para que a Corte 
tenha elementos adequados para julgar o mérito da ADPF em comento. 
O ministro Teori Zavascki, também foi a favor da realização de audiências de custódia o mais 
breve possível, bem como deferiu o pedido quanto ao fundo penitenciário. Em suas palavras: 
“Aparentemente o problema está na falta de projetos, e não na falta de dinheiro, mas essa tese 
eu já ouvi em outras oportunidades, e concordo que seja uma medida adequada”. 
Na sequência, a Ministra Rosa Weber seguiu o relator ao conceder o pleito quanto à audiência 
de custódia, com observância dos prazos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça e ao 
descontingenciamento de recursos do Fundo penitenciário, acolhendo o prazo sugerido pelo 
Ministro Edson Fachin. 
Adiante, o Ministro Luiz Fux concordou integralmente com o relator. Ponderou que alguns 
magistrados não motivam suas decisões, apesar de ser regra prevista no ordenamento jurídico. 
“Portanto, há um estado de coisas inconstitucional”. 
A Ministra Carmen Lúcia também seguiu o entendimento do ministro relator, enfatizou ainda, a 
necessidade de haver um diálogo com a sociedade a respeito do tema. Nesse sentido, a ministra 
demonstrou expectativa de uma melhora na atual situação carcerária do país com a elaboração 
de projetos que dará efetivo cumprimento as leis existentes. 
Por conseguinte, o voto do Ministro Gilmar Mendes foi pelo deferimento da realização das 
audiências de custódia e em relação ao descontingenciamento do fundo penitenciário. Ainda, 
aferiu que a utilização da tecnologia da informação na execução penal proporcionaria benefícios 
como a estatística confiável da situação prisional do país. Nessa continuidade, sugeriu a criação 
de plano de trabalho para apresentar treinamento aos juízes sobre o sistema prisional e medidas 
alternativas a restrição da liberdade. 
O Ministro Celso de Mello foi mais um que acompanhou integralmente o voto do relator. 
Afirmou ainda, que os valores do fundo penitenciário nacional não podem ter outra finalidade 
senão aquela para qual foi criada. 
Por fim, o Ministro Ricardo Lewandowski da mesma maneira adotou totalmente o voto do 
relator, reconhecendo o "estado de coisas inconstitucional" em que se encontra o Brasil na 
atualidade quando se trata de execução penal. 
Diante de todo o exposto, se vislumbra que todos os ministros que participaram do julgamento 
reconheceram o atual ‘estado de coisas inconstitucional’ do sistema carcerário brasileiro. 
Não se manifestaram quanto à imposição da preparação e implementação de planos pela União 
e Estados, sob monitoramento judicial. Do mesmo modo, sobre a exigência de fundamentação 
das decisões que não aplicarem medidas cautelares diversas da prisão e a imposição de penas 
adequados ao agravamento do injusto cometido. 
 
DAS CAUTELARES DEFERIDAS 
Por mais que, como disposto acima, todos os ministros tenham reconhecido o atual “estado de 
coisas inconstitucional” em que vive os detentos que cumprem pena nos presídios brasileiros. 
Das oito cautelares postuladas na petição inicial da arguição de descumprimento de preceito 
fundamental em análise, apenas duas foram deferidas no julgamento do dia 09 de setembro de 
2015. O Supremo Tribunal Federal deferiu parcialmente as cautelares postuladas no tocante 
às audiências de custódia e no que diz respeito ao Fundo Penitenciário Brasileiro. 
Para tanto, decidiu por outorgar aos Juízes e Tribunais o comando para que passem a realizar 
audiências de custódia, no prazo culminante de noventa dias, de modo a viabilizar o 
comparecimento do preso perante a autoridade judiciária em até vinte e quatro horas 
contadas do ato da prisão. 
Como segunda cautelar deferida, os ministros abrangeram a liberação do saldo cumulado no 
Fundo Penitenciário Nacional para ser utilizado com o fim para o qual foi criado, vetando 
novas inexecuçõesou o retardamento das despesas previstas na lei orçamentária. 
Por multiplicidade de votos, o Supremo aceitou proposta do Ministro Luís Roberto Barroso para 
determinar à União e ao Estado de São Paulo que forneçam informações sobre a situação do 
sistema carcerário no prazo de um ano, para que os elementos da pesquisa sirvam como 
parâmetro para o julgamento do mérito da ação. 
 
 
 
DA INEXISTÊNCIA DAS AUDIÊNCIAS DE CUSTÓDIA NO ESTADO, ABUSO DA PRISÃO 
PREVENTIVA, MAUS TRATOS E DA VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA DOS PRESIDIÁRIOS. 
Primeiramente, para se tratar de audiências de custódia, como passo primordial é necessário 
ter o conhecimento de que é um projeto criado pelo presidente do Conselho Nacional de Justiça, 
ministro Ricardo Lewandowski, em outubro de 2015. Tal projeto tem a finalidade de tornar 
possível um primeiro contato do acusado com a autoridade judiciária, apresentado- o, em um 
período de no máximo vinte e quatro horas a um juiz. 
Na audiência de custódia o magistrado poderá analisar se houve algum tipo de tortura ou maus 
tratos ao acusado, bem como a legalidade ou ilegalidade do ato da prisão em flagrante, se esta 
preenche ou não os requisitos necessários para sua efetivação, observados as garantias 
constitucionais e os direitos fundamentais da pessoa humana. 
Logo, após manifestação da defesa constituída ou da defensoria pública, bem como parecer do 
Ministério Público, o juiz analisará o caso e notará se existe a possibilidade de conceder a 
liberdade provisória, com ou sem fiança, a probabilidade de relaxar a prisão, caso constatada 
alguma ilegalidade ou substitui-la por algumas das medidas cautelares diversas constantes no 
artigo 319 do Código Penal. 
Ainda, converter a prisão em flagrante em prisão preventiva, no caso de o juízo encontrar 
indícios de que o acusado traz risco para o convívio social. Nesse ínterim, após deixar claro o que 
é a audiência de custódia, bem como é o seu proceder, vale lembrar que ela também está 
prevista no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e na Convenção Interamericana de 
Direitos Humanos. Assim, a luz do constante nos pactos e tratados elencados acima e na 
efetivação do projeto criado pelo ministro Lewandowskis, se vislumbra a ampla diferença que a 
realização das audiências traria ao sistema prisional brasileiro caso fossem utilizadas por todos 
os Estados. 
O CNJ celebrou com alguns Estados brasileiros um termo de compromisso que constava que os 
estados começariam a executar as audiências de custódia, o que na verdade já ocorreu, mas não 
se trata de uma “praxe” na execução penal, nos Estados em que foi implantado o projeto, há 
casos de presos preventivos esperando há mais de seis meses pela realização da audiência de 
custódia. Dessa maneira, se verifica que o projeto apenas existe na teoria, pois que na prática, 
em alguns Estados, as audiências de custódia não passam de dados irrisórios, uma vez que os 
acusados esperam com sua liberdade cessada por meses ou até anos e muitas vezes acabam se 
tornando vítimas do sistema, quando após responderem todo o processo criminal decreta-se 
sua inocência. Outro ponto a ser abordado é referente ao abuso da prisão preventiva. 
Inicialmente, também importante ressaltar que a prisão preventiva é uma medida cautelar que 
depende de no mínimo três requisitos para sua decretação. Quais são eles: 
Prova da existência do crime (materialidade) + indício suficiente de autoria + uma das situações 
descritas no artigo 312 do Código de Processo Penal, a saber: a) garantia da ordem pública; b) 
garantia da ordem econômica; c) conveniência da instrução criminal; d) garantia de aplicação da 
lei penal. (NUCCI, 2010, p. 601). Assim, devidamente preenchidos os requisitos elencados acima 
o juízo deve atentar se houve a ocorrência de uma ou das três condições básicas que configuram 
a necessidade da decretação ou manutenção da prisão preventiva, uma vez que omissa essa 
análise pode se configurar abuso da medida cautelar em comento. 
De tal sorte, a autoridade que conduz o inquérito ou a instrução criminal, precisa ter em mente 
que tudo deve ser analisado cuidadosamente, a gravidade do delito, as circunstâncias do fato, 
se este realmente existe, sua materialidade, tudo na intenção de não prender ou manter preso 
quem poderia ter sua pena substituída, ter sua liberdade concedida, mesmo que 
provisoriamente. Consequentemente, é notório que atualmente existe o acontecimento de uma 
série de constrangimentos ilegais causados aos presos provisórios, uma vez que muitos são 
encarcerados e esquecidos, se quer são analisadas profundamente a gravidade do delito, a 
repercussão social do caso ou se essa pessoa presa realmente traz riscos à sociedade caso seja 
posta em liberdade. Portanto, nas palavras do autor “a prisão preventiva tem a finalidade de 
assegurar o bom andamento da instrução criminal, não podendo está se prolongar 
indefinidamente, por culpa do juiz ou por atos procrastinatórios do órgão acusatório” (NUCCI, 
2010, p. 600). Noutra banda, como se não bastasse a inexecução das audiências de custódia 
cumulada com a prisão preventiva “perdida de vista”, os encarcerados do sistema prisional 
brasileiro ainda passam por diversas situações de violação dos seus direitos humanos e 
fundamentais previsto na Carta Magna. A Lei nº 7.210/84, chamada de Lei de Execução Penal, 
traz no seu artigo primeiro o seguinte: “A execução penal tem por objetivo efetivar as 
disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar decisões para a harmônica 
integração social do condenado e do internado” 
Todavia, diante da realidade fática das penitenciárias brasileiras não precisa ser nenhum 
especialista na área para se saber que tal norma não é eficaz. A prisão não cumpre o seu dever 
de punir e ressocializar como institui a LEP. 
Nesse sentido, se observa a violação dos direitos constitucionais garantidos pela Carta Magna 
em seu artigo 5º e que deveriam ser respeitados, mas que não é o que acontece. Senão vejamos: 
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, 
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; 
L – às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos 
durante o período de amamentação;” 
Logo, basta uma pesquisa na rede mundial de computadores, uma lida nos jornais e vista de 
casos que aparecem todos os dias na televisão para se notar que a sociedade fecha os olhos 
para os absurdos desumanos que acontecem dentro das penitenciárias. 
Não existe dignidade da pessoa humana, não existem condições físicas e psicológicas dentro de 
um lugar onde as facções criminosas comandam, onde os colegas de celas violam a integridade 
física do outro, onde o próprio agente penitenciário quer mandar e desmandar nos apenados, 
obrigando-os a cometerem abusos sexuais com os demais, por exemplo. 
As penitenciárias brasileiras atualmente não passam de um lugar onde se semeia o ódio, a 
vingança e a injustiça. Os apenados são tratados da pior maneira possível, sem nenhuma 
condição de saúde, higiene, alimentação e vestuário precário. 
É evidente o descaso com os encarcerados. O sistema prisional atual é falho desde o início, 
quando o apenado coloca seus pés pela primeira vez dentro do estabelecimento prisional. São 
ofensas, discriminações, preconceitos, espancamentos diários, uma verdadeira afronta e que 
fere de morte os direitos conquistados pelo país ao tratar da convenção internacional dos 
direitos humanos cumulada com o descumprimento dos princípios constitucionais elencados na 
Carta Máxima. 
O TERROR DA SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA BRASILEIRA. 
 
A maior causa da crise do sistema carcerário brasileiro é sem sombra de dúvidas a superlotação. 
A falta de investimento cumulada com o abandono pelo poder públicotraz como consequência 
a reincidência, as rebeliões e tudo o que de negativo pode aprender um ser humano 
encarcerado no Brasil. Na verdade, a suspensão da liberdade, do direito de ir e vir do apenado 
não funciona na prática como aduz a teoria, onde o preso deveria ter acesso à educação e ao 
trabalho, para ter a oportunidade de voltar a conviver com a sociedade sem trazer riscos a ela. 
O que acontece atualmente é o aperfeiçoamento para o crime, onde é impossível, diante de 
tanta desumanização ressocializar alguém. Importante destacar a violação dos direitos 
fundamentais dos apenados, bem como o descumprimento da Lei de Execução Penal. Nesse 
enfoque, cabe lembrar a falta de fiscalização judicial no cumprimento das penas. Ora, os direitos 
fundamentais elencados na Carta Magna deveriam ser postos em prática com maior satisfação 
por quem quer que seja perante um apenado. A sociedade, como dito anteriormente, fecha os 
olhos para o descaso com os encarcerados brasileiros. Sendo assim, tanto as autoridades 
governamentais como as judiciárias ao invés de contribuírem para a recuperação dos que 
cumprem pena em regime fechado, só ajudam a piorar o sistema. A realidade é cruel, em casos 
de crimes mais violentos os presidiários são tratados como verdadeiros lixos dentro das 
carceragens, mas o que não é lembrado é que esse indivíduo já abalado pelo delito cometido ou 
por qual razão cometeu tal delito, com o tratamento desumano que lhe é fornecido jamais sairá 
do “mundo do crime”. 
Noutro aspecto, a LEP se cumprida como redigida, não teríamos essa abominação carcerária 
brasileira. No que tange a ressocialização do apenado a norma é cristalina ao elencar o rol de 
direitos assistenciais que os encarcerados deveriam ter para que posse possível o seu retorno a 
sociedade da melhor maneira possível. 
“Art. 10 – A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o 
crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. 
Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso. 
Art. 11 – A assistência será: 
I – material; 
II – à saúde; 
III – jurídica; 
IV – educacional; 
V – social 
VI – religiosa.” 
Contudo, o sistema prisional não funciona, é preso provisório encarcerado junto com preso 
sentenciado, é maus tratos, humilhação, abuso sexual e moral, discriminação, falta de condições 
mínimas de higiene, vestuário, saúde. Outro índice que contribui e muito para a superlotação é 
a demora no julgamento dos recursos, ou os presos que já cumpriram suas penas, mas que por 
falta de mutirão carcerário continuam presos. 
Por fim, diante de tudo, o que se observa é a falta de comprometimento do Estado, de 
regularização da administração presidiária, uma mistura de comissão e omissão do poder 
público. Nesse segmento o Brasil só tende a aumentar os índices de superlotação carcerária o 
que se observa e que o sistema prisional este abandonado, existem apenas projetos de lei, mas 
nada emergente que realmente mude essa triste realidade. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS DO RELATÓRIO 
Após o curso da análise que trata este trabalho, foi possível verificar que os direitos 
fundamentais dos encarcerados brasileiros são violados diariamente em um sistema que não 
funciona, que não ressocializa o preso, pelo contrário, o devolve ainda mais violento e sem 
nenhuma condição básica de saúde e humanitária para o convívio em sociedade. 
No entanto, das cautelares deferidas na referida ação, estão mencionadas primeiramente a 
realização de audiência de custódia, a qual possibilitaria ao preso em flagrante a averiguação 
da real necessidade de mantê-lo encarcerado e se há a probabilidade de sair da prisão 
mediante o pagamento de fiança ou a aplicação de uma medida punitiva de caráter educativo. 
Sendo assim, dando ao apenado o direito de ter seu caso reanalisado por um juiz, que verá a 
legalidade da sua prisão em tempo excessivamente curto. 
De outro lado, o que mais foi frisado no que diz respeito as medidas cautelares deferida foi a 
possibilidade do arbitramento de medida alternativa a prisão, conforme elencado no artigo 319 
do CPP, analisando sempre a gravidade do delito cometido pelo réu, o que também de qualquer 
sorte não ocorre nos tribunais brasileiros. Razão pela qual as penitenciárias se encontram 
superlotadas. 
Quando se entra no mérito da demanda, importante salientar que o intuito de analisar a 
presente ADPF está na possibilidade de mudança do sistema prisional futuro, ao passo que hoje 
em dia se verifica a falta de respeito para com o ser humano que se encontra com sua liberdade 
privada. 
Conforme se verificou no decorrer do trabalho, é desumano o tratamento que o preso tem 
dentro da cadeia, onde não há as condições mínimas do básico de saúde, higiene e alimentação, 
onde os mesmos sofrem a violência física e psicológica, tanto pelos demais detentos como pelos 
agentes públicos que lá trabalham. 
Nesse ínterim, por óbvio que o sistema precisa de melhorias, no mais, de que adianta ter a ação 
interposta, as cautelares deferidas se o governo não apoia. O que o sistema prisional brasileiro 
necessita é de uma reforma geral, onde os presos novos não se comuniquem com os antigos 
e considerados mais perigosos, para que não acabem se tornando vítima das facções 
existentes dentro das penitenciárias, como vem ocorrendo até então. 
Por isso, não basta apenas se ter a legislação em mãos, se precisa de uma maior atenção do 
poder público para que a liberdade do indivíduo seja cessada em última instancia, devendo 
sempre ser analisado o grau de gravidade do ilícito cometido. Entretanto, não podendo ser 
alterado o regime da prisão, que seja sempre realizado nos complexos prisionais o mutirão 
carcerário, para que os presos não fiquem “esquecidos” dentro das cadeias, que haja uma 
melhor administração dos presídios do país, para que o Pacto dos Direitos Civis e Políticos, 
juntamente com a Convenção Interamericana de Direitos Humanos sejam devidamente 
cumpridos, obtendo assim uma melhor execução do processo penal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências: 
ARAUJO. Luiz Alberto David. Curso de direito constitucional. 9ed. São Paulo: Editora Saraiva, 
2005; 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988; 
Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941; 
Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984; 
NUCCI. Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 6ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010. 
SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, disponível em: 
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp. Acesso em: 10 18,30 e 31 
de março de 2016; 
COSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, disponível em:http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e-
execucao-penal/audiencia-de-custodia. Acesso em: 26 de abril de 2016, 20:20;

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