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NOME (A): Silvani Jesus de Sales - RA 418104512 TURMA: 8º B/Vergueiro TURNO Noturno Relatório de Atividade desenvolvido: ( X ) II - Medida Cautelar na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 347 – Estado de Coisas Inconstitucional no sistema carcerário – vídeos das sessões de julgamento disponíveis em: Início do voto do relator aos 58m38s – https://www.youtube.com/watch?v=_4PAIFC5RlA Retomada do julgamento a 1h44m38s- https://www.youtube.com/watch?v=7GxY7e_zv6E&t=7671s Conclusão: https://www.youtube.com/watch?v=WdvYZOcHZQU&t=424s; SÍNTESE DO JULGADO E ANÁLISE CRÍTICA DA ATIVIDADE: Relator eminente: Marco Aurélio Requerente: Partido Socialismo e Liberdade - PSOL Apresentaram suas ideias na sequência: em primeiro lugar pelo PSOL o Doutor Daniel Antônio de Morais Sarmento e em seguida pela União falou o Ilustre Ministro Luís Inácio Luciano Adams – Advogado Geral e depois pelo Estado de São Paulo usou da palavra o Doutor Thiago Luís Santos Sombra. Ministro Marco Aurélio: Fez o relatório inicial do processo dessa medida cautelar. O partido socialismo e liberdade PSOL busca por meio de arguição de descumprimento do preceito fundamental com pedido de medida liminar que seja reconhecida a figura do “Estado de coisas Inconstitucional” relativamente ao sistema penitenciário brasileiro e a adoção de providências estruturais em face de lesões a preceitos fundamentais dos presos que alegam decorrerem de ações e omissões dos poderes públicos da União, dos Estados e do Distrito Federal. Aponta a adequação da violência ante o preenchimento dos requisitos próprios, violação de preceitos fundamentais decorrentes de atos do poder público e inexistência de outro meio eficaz de sanar a lesividade. Assevera que a superlotação e as condições degradantes do sistema prisional configuram um cenário incompatível com a constituição federal presente a ofensa de diversos preceitos fundamentais consideradas a dignidade da pessoa humana, a vedação de tortura e tratamento desumano, o direito de acesso à justiça e os direitos essenciais à saúde, a educação, trabalho e segurança dos presos. Salienta que a situação resulta de uma multiplicidade de atos comissivos e omissivos dos poderes públicos da União, dos Estados e do Distrito Federal, incluídos os de natureza normativa, administrativa e judicial. Consoante afirma, a União estaria contingenciando recursos do fundo penitenciário deixando de repassá-los aos Estados apesar de encontrarem-se disponíveis e necessários a melhoria do quadro. O poder judiciário há dois não observa os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, nos quais é previsto o direito a audiência de custódia. Sustenta a sistemática ausência de imposição sem a devida motivação de medidas cautelares alternativas a prisão assim como a definição e execução de pena sem serem consideradas as condições degradantes das penitenciárias brasileiras. Ressalta que as autoridades públicas e a sociedade têm conhecimento da situação. Enfatiza que câmara dos deputados mediante a CPI do sistema carcerário e o conselho nacional de justiça CNJ, a partir de mutirões carcerários já produziram relatórios a revelarem o quadro dramático inconstitucional do sistema prisional brasileiro. Cita intervenções da corte Interamericana de direitos humanos e a condenação do Brasil a tomar medidas que erradiquem as situações de risco a proteção a vida e a integridade pessoal, psíquica e moral de pessoas privadas de liberdade em várias penitenciárias do país. Explicita estar se agravando o quadro descrito em virtude do crescimento significativo da população carcerária que de cerca de 90.000 presos em 1.990 chegou em maio de 2014 a 563.000 sem contar os mais de 47.000 em regime de prisão domiciliar. Argumenta que hoje o número deve ultrapassar 600.000. Destaca que outro fato a contribuir com superlotação é o uso abusivo da prisão provisória. Conclui que o presente cenário de forte violação de direitos fundamentais dos presos e falência do conjunto de políticas públicas voltado a melhoria do sistema carcerário, o Supremo em síntese deve determinar cautelarmente: Realização das audiências de custódia; A fundamentação das decisões em que não forem adotadas as medidas cautelares diversas da prisão afim de reduzir o número de prisões provisórias; Consideração do Estado de Coisas inconstitucional quando da aplicação e execução da pena; Que o juiz da execução penal venha abrandar os requisitos temporais para fruição de benefícios de direitos dos presos bem como a pena, O tempo de prisão se constatado que a condição de efetivo cumprimento for significativamente mais severa do que as previstas na ordem jurídica. Que a União libere as verbas do fundo penitenciário nacional, abstendo-se de realizar novos contingenciamentos. PSOL – Doutor Daniel Antônio de Moraes Sarmento Vergonha Nacional! Foi a expressão do decano da Corte em recente seção em que tratou do sistema penitenciário brasileiro. ADIS – INFERNO DANTESCO – Expressões do primoroso voto do ministro Lewandovisky – infelizmente não se trata de exagero, mas do retrato fidedigno da nossa realidade. Celas superlotadas, pessoas dormindo umas em cima das outras, proliferação de doenças infectocontagiosas, falta de acesso à educação, a saúde, a justiça, alimentação inadequada, violações que são ainda mais graves em relação a minorias que estão na prisão, mulheres, homossexuais, transexuais e pessoas com deficiências. Os números como apontou muito bem o relatório do ministro Marco Aurélio são assustadores. O Brasil tem mais de 600.00 presos, mas talvez mais assustador do que o dado numérico presente é a dinâmica do crescimento. Mais de 7% ao ano. O Brasil hoje tem a 4º maior população carcerária, mas caminha a passos largos para se tornar a 3º maior população carcerária do mundo. A Constituição brasileira padece de graves problemas de efetividade, mas em nenhum outro campo a distância entre as promessas generosas da constituição e a realidade é maior, é mais abissal. Não há talvez, desde a abolição da escravidão maior violação de direitos humanos em território nacional. Essa corte é guardiã da constituição e trata-se da mais grave afronta a constituição que tem lugar atualmente no nosso país. Mas se a situação é gravíssima e justiça certamente a intervenção dessa corte e essa corte tem corajosamente se manifestado em inúmeros casos, por outro lado vai ser uma intervenção também muito complexa. O expurgo de algumas normas jurídicas com a fixação da interpretação de outras não solucionará o problema. Portanto, é conveniente um olhar para o direito comparado que mostra que há soluções possíveis para esses litígios muito complexos. Soluções que já foram adotadas em países como os Estados Unidos da América, seja num contexto da segregação racial, seja nos chamados Prision Reform Case, citados no voto do ministro Lewandovisky, na África do Sul que enfrentou muito bem, por exemplo, a questão da falta de acesso a moradia para as pessoas miseráveis e outros países como a Índia, especialmente na Colômbia que formulou essa categoria do Estado de Coisas Inconstitucional, pode se dar esse nome ou qualquer outro, isso não é relevante. O Estado de coisas Inconstitucional se caracteriza quando há uma violação maciça de direitos humanos, uma inércia prolongada das autoridades, um bloqueio constitucional que faz com que as autoridades não atuem e a solução, o equacionamento pressupõe medidas políticas complexas de diversos órgãos, de modo que uma decisão simples, daquelas que são enfim, do arsenal tradicional da jurisdição constitucional, não são suficientes. Mas nessas hipóteses os tribunais devem incidir e a hipótese parece perfeitamente talhada para arguição do descumprimento de preceito fundamental. A ADPF, ministro Gilmar mendes foi um dos responsáveis pela formatação da lei que trata doinstituto, tem exatamente, essa virtude, ela busca chegar onde as outras ações não chegam em proveito da supremacia da constituição, em proveito da garantia dos direitos fundamentais. E todos os pressupostos para o cabimento da ADPF estão configurados. Não há dúvida de que nós temos aqui a violação aos mais fundamentais preceitos da nossa constituição, não há dúvida por outro lado que essa situação dramática que é de fazer corar é vergonha nacional, mas também é de fazer chorar que essa situação dramática se deve a atos dos poderes públicos. Da União quando contigencia as verbas do Funpem, dos Estados que não constroem as vagas indispensáveis para minorar esse cenário dramático, quando não propiciam acesso a saúde, educação, do poder judiciário quando adota interpretações equivocadas negando por exemplo a aplicabilidade imediata a tratados internacionais de direitos humanos, está configurada também a subsidiariedade porque não há outro mecanismo apto a sanar a lesão ao preceito fundamental. Pois bem, assentado o cabimento dessa ação, passo a falar das medidas cautelares postuladas. Em primeiro lugar, o periculum em mora é evidente. Para todas elas, porque o nosso quadro é absolutamente dramático. Estamos falando da lesão a integridade física e moral de centenas de milhares de pessoas e sabemos que com toda diligencia dessa corte, toda diligencia do relator, o processo de controle abstrato leva pelo menos um ano para ser julgado, há medidas que podem ser adotadas aqui e agora e que minorariam o sofrimento e reversível ao final do processo, de centenas de milhares talvez, mais do que isso, se nós considerarmos os familiares dos presos de pessoas. Pois bem, passo as medidas que foram postuladas na petição inicial: Depois do primoroso voto do ministro Fux, acolhido por essa corte que se assentou aplicabilidade imediata do pacto de San Jose da Costa Rica, da Convenção dos Direitos Civis e políticos, no que tange a audiência de custódia, ou audiência de apresentação como prefere sua excelência, não me parece necessário gastar o meu precioso tempo aqui para afirmar que essa medida deve ser aplicada desde já. E essa postulação está em absoluta convergência com as belíssimas iniciativas do CNJ capitaneadas pelo ministro Ricardo Lewandowsky, de levar a audiência de custódia ao judiciário brasileiro, tem que ser levado, agora é importante que esse Supremo Tribunal Federal, reconheça numa decisão vinculante que essa não é uma faculdade dos tribunais, uma faculdade do juiz, que isso tem que ser aplicado, e inclusive porque onde não for aplicado, há o risco de anulação subsequente dos processos judiciais. Então até em nome da validade desses processos tem que ter audiência de custódia. Segundo pedido, segunda postulação diz respeito ao FUNPEM. O Fundo penitenciário que foi instituído pela lei complementar estadual de 79, que reúne recursos destinados exatamente a promoção de melhorias para o sistema carcerário brasileiro. É absolutamente contraditório, um cenário em que o ministro da justiça responsável pela área afirma que as prisões são masmorras medievais que preferia o suicídio a ter que ser encarcerado numa delas e há dinheiro, há recurso disponíveis no FUNPEM e esses recursos não são gastos, esses recursos são sistematicamente contingenciados. Nós não estamos discutindo em tese, abstratamente, se o FUNPEM pode ou não haver contingenciamento. Nós estamos discutindo nesse cenário presente, nesse cenário atual de descalabro e nessa situação que toca o mínimo do mínimo existencial, me parece longe de dúvida que não é possível esse contingenciamento. Hoje há segunda uma estimativa feita no primoroso voto do ministro Luís Roberto Barroso, 2 bilhões e 200 milhões de reais disponíveis no FUNPEM. E no cenário de crise fiscal o risco de que esses recursos sejam contingenciados apenas aumenta. Esse ponto do FUNPEM o ministro Gilmar Mendes vem sempre destacando e se essa corte avançar nessa questão já será um avanço muito significativo. Terceira postulação diz respeito a necessidade de fundamentação das medidas cautelares alternativas a prisão. O ministro Marco Aurélio vem sempre ressaltando a inversão de valores da nossa cultura em que a prisão provisória se torna a regra e não a exceção. As pessoas primeiro são presas e depois se começa a investigação. Isso entrou no piloto automático, entrou tanto no piloto automático que o fato do legislador federal ter modificado o artigo 319 do CPP prevendo uma série de medidas cautelares alternativas a prisão foi quase indiferente, porque essas medidas não são aplicadas e com grande frequência esses tribunais se quer se dão ao trabalho de justificar porque não as aplicam. Por exemplo, a monitoração eletrônica dos presos, a vedação ao exercício de determinados cargos, de determinadas funções. Conheço, a requerente conhece a existência de um projeto de lei, mais uma bela iniciativa do ministro Lewndowsky em que busca introduzir no CPP essa exigência. Mas no próprio ofício do ministro Lewndowsky encaminhou está dito que essa exigência é extraída diretamente da constituição. Na obrigação de fundamentação das decisões judiciais, do princípio da proporcionalidade, da tutela da liberdade e da presunção de inocência. Então se postula também que seja reconhecida desde já a obrigação de todos os juízes e tribunais brasileiros a cada vez que não aplicam uma dessas medidas e decretam a prisão que o fundamentem. Finalmente, existe a questão da consideração desse quadro dramático do sistema prisional brasileiro pelos juízes, no momento de decretação das medidas cautelares, no momento de fixação das penas, no momento de execução das penas. Para essa questão, a requerente se valeu de um magnífico parecer do professor Juarez Tavares, professor titular de direito penal da UERJ que foi devidamente juntado ao processo. Como ressaltou o ministro Celso Melo, recentemente, o excesso de execução no nosso país é generalizado, não é no estabelecimento prisional A, B ou C em regra as sanções são cumpridas em condições incomparavelmente mais gravosas do que aquelas admitidas pela nossa ordem jurídica, que aquelas presentes na lei de execução penal consentâneas com a nossa ordem constitucional. Ora, o princípio da proporcionalidade e o princípio mais específico da proporcionalidade da pena, ele não se volta apenas ao laboro legislativo, ele também se volta a sua aplicação real e concreta num mundo afinal em que as pessoas vivem. No mundo em que os presos e as presas, os homens e as mulheres vivem, proporcionalidade é e deve ser isso. Pois bem, assentada essa premissa sabe-se que, o juiz hoje, cumprindo a lei, muitas vezes decreta uma prisão cautelar, fixa a pena de prisão, e aí eu acho que cabe uma analogia, com o que a filósofa Hana Arent falou na banalidade do mal. Pessoas que são boas, íntegras, mas que de uma maneira quase que mecânica cumprem uma lei alimentando um sistema que é hediondo, que é odioso, que é infernal, que massacra as pessoas. Então para minorar isso, deve ser levado em consideração esse quadro dramático que em primeiro lugar para que haja ainda mais parcimônia da decretação, aliás, que hoje não há nenhuma, mas para que haja parcimônia na decretação das medidas cautelares penais, especialmente as que constrangem a liberdade e mandam pessoas pra cadeia e em segundo lugar para que a prisão seja vista realmente não como uma última ratio, mas como uma ultimíssima ratio, porque hoje a prisão é mandar o sujeito para o inferno. Em terceiro lugar para que isso seja considerado no contexto da execução da pena, o ministro Barroso num belíssimo voto sobre responsabilidade civil, já enfrentou a questão, mostrando como, enfim, a legislação se assenta numa certa equação, numa equação em que, pra uma um determinado, onde se atribui uma certa gravidade fixa-se uma pena. Isso depois o juiz considera e deve fazê-lo levando em consideração as características específicas do caso etc, etc... Pois bem, num cenáriode abusos e excessos de execução, o juiz da execução penal pode ajustar a pena a tal como ela é cumprida, a própria equação estipulada por quem sentenciou, na medida em que eu altero a intensidade da pena, o grau aflitivo da pena, para que aquela equação seja mantida, não se está mudando a equação, não está alterando enfim, a decisão judicial porque isso está fora do escopo da execução para manter exatamente a mesma equação, a duração da pena, deve diminuir. E essa corte se considerar pertinente, pode estabelecer parâmetros para isso ou pode determinar que outro órgão como o CNJ eventualmente estabeleça esses parâmetros. Senhoras ministras e senhores ministros, eu no início da minha sustentação, falei que o sistema prisional brasileiro era infernal e não acho que seja uma frase exagerada, mas há uma diferença entre o sistema prisional brasileiro e o inferno, o inferno de Dante, por exemplo. No pórtico do inferno de Dante está escrito: “Abandonai toda a esperança vós que entrais”. A esperança está hoje nesta corte, há esperança! Essa corte pode ser a voz daqueles que não tem voz. Pode ser o Bastião de defesa dos mais excluídos dentre os excluídos. Há esperança porque há juízes em Brasília, exatamente porque tem essa esperança, a requerente confia que essa corte vai conceder integralmente a cautelar nos termos em que foi postulada na petição inicial. Ministro Luiz Inácio Luciana Adams – Advogado geral. Primeiro ponto que eu destaco, senhoras ministras e senhas ministras e senhor relator, é a complexidade do termo. O termo que está dado aqui não é um problema de contingenciamento, é muito mais profundo do que esse aspecto foi estabelecido pelo autor. O problema que está aqui é um problema de cultura, é um problema de aplicação da legislação. A nossa realidade prisional é uma realidade séria, complexa difícil, dramática, não é uma realidade irreversível e mais que isso, não é uma realidade que é reconhecida internacionalmente como uma realidade que impede o atendimento humanitário, tanto é verdade que os países com o qual o país mantém extradição e nós tivemos um debate recente nas cortes italianas em relação a extradição do réu condenado em que se alegou exatamente isso e a corte italiana reconheceu as condições prisionais brasileiras para recepcionar esse réu condenado a cumpri pena no Brasil. É uma realidade dramática sim, que requer e exige ações e tem ações sendo tomadas. Primeiro lugar e aqui eu não posso fugir da preliminar, o princípio da subsidiariedade, ele existe e existe nesse caso. Tanto existe nesse caso que várias ações, ações diretas, recursos extraordinários de repercussão estão sendo apreciados na corte sobre essa matéria, elas são objetos e são tratadas, cito aqui – danos morais causados aos detentos ADI 570 – repercussão geral 580.252 – progressão do regime, no caso da ausência de vagas, RE 6.411.320 – ADI relativa a audiência de custódia 5240 – são matérias que estão afetas ao IPF, então dizer que há violação é desconhecer dessas matérias que já são apreciadas nessas ações específicas. Mais ainda, voltando aqui ao mérito, o processo de execução orçamentária, os últimos 4 anos desde 2011 – a execução média das lotações autorizadas pelo congresso nacional para aplicação do FUNPEM representam 81,99% da autorização, estou falando de execução. Dessa execução em 2014 que foi quando, um fiscal difícil, não mais difícil que esse ano, mas foi um ano muito difícil, a execução orçamentária chegou a 92% da lotação autorizada. Portanto não há um contingenciamento a impedir a execução e a realização de um projeto. O que há é a complexidade do tema, porque a ação orçamentária direta da união se dá nos presídios federais, e essa ação direta tem gerado inclusive excesso de vagas no âmbito dos presídios federais. Agora, nós temos problemas nos presídios estaduais e nessa nós dependemos da execução dos estados a quais nós não podemos superar. Dos 136 convênios firmados com mais de 1 bilhão e 600 milhões de reais autorizados previstos para execução, 60 foram interrompidos por desistência no estado, por incapacidade de execução, por falta de projeto e assim por diante. Então o processo de execução é muito complexo e essa complexidade impõe sim, e nesse sentido a ação a ADF é uma ação justa, correta, no sentido de provocar o tema, de buscar um entendimento entre os três poderes. Aqui nós tivemos dois grandes pactos republicanos, um conduzido pelo ministro Jobim, outro conduzido pelo ministro Gilmar Mendes, que resultaram em melhorias substanciais do poder público, substanciais para o judiciário. Esse mesmo procedimento tem que ser estabelecido para este caso, mas tem que ser estabelecido a partir de entendimento dos três poderes, porque não é uma ação exclusiva do poder legislativo, não é uma ação exclusiva do poder executivo, é também uma ação do próprio poder judiciário, vide que das 8 petições, dos 8 pedidos, que é feito pela ADPF, 7 se referem ao poder judiciário, somente um se refere ao executivo, como uma ação milagrosa, que é o de contingenciamento, que eu já disse aqui, não é o problema. A opção de contingenciar ou não é uma opção do congresso, ele que delibera quais são as despesas, quais são passíveis de contingenciamento. Mas mesmo nessa despesa passível de contingenciamento, o próprio executivo, dá execuções prioritárias, não é evidentemente a única execução prioritária. Nós temos o bolsa família, nós temos ação de saúde, nós temos ações de educação, nós temos assistência social, então existe uma série de ações que são dramáticas, necessárias, fundamentais, para o país e para a sociedade brasileira e elas estão sendo realizadas. Não ao tempo necessário, mas isso porque a realidade prisional brasileira é contaminada e foi bem-dito aqui pelo advogado, pelos 41% de presos sem condenação. Dos presos temporários 37% são mantidos presos sem condenação final. Se esses presos, se 250.000 presos fossem retirados das cadeias, nós teríamos vagas. Basta lembrar que a dramaticidade dos mutirões carcerários, quando o ministro Gilmar traz a lume e o CNJ traz a lume um preso temporário há 14 anos, é uma insanidade admitir uma temporariedade de 14 anos, essa é a realidade prisional brasileira! E esse tema complexo com todo respeito a autora da ação, não se resolve numa liminar, resolve num entendimento, num esforço conjunto dos poderes. Lembro que recentemente o próprio CNJ firmou convenio com o ministério da justiça para as audiências de custódia e para o sistema alternativo de prisão que é uma solução necessária e para qual a União já despendeu vários e diversos recursos mediante convênio para aquisição de instrumentos que garantam esse tipo de controle dos nossos acusados de parte deles, não digo preso, condenados, estou falando de acusados, assim como de presos. Então, senhoras ministras, senhores ministros, senhor relator, eu diria que o tema é importante, é fundamental, é um tema que vem sendo debatido há muito tempo, e o Supremo tratou isso me parece corretamente na repercussão geral já julgada e que entendeu que a interferência do judiciário é sim legítima, porém, uma coisa é interferir no extremo, numa prisão que não atende requisitos, hoje mesmo, foram identificados um conflito entre quadrilhas numa prisão e o juiz suspendeu a utilização desse sistema, dessa prisão. Isso é uma extrema dura. Agora outra coisa é resolver uma política com efeitos de intervenção nas ações dos poderes a partir de decisões judiciais. Aí nós temos, no nosso entender, evidendentemente a violação de separação dos poderes. O que se precisa buscar é um entendimento nacional sobre isso, um diálogo nacional que passa pelos três poderes, mas não só pelos três poderes, mas pelas federações da república. Passa pelos estados participarem dessa solução de forma ativa e de forma compromissada, e dessa forma se conseguirá efetivamente enfrentar e resolver a curto (espero eu) prazo esse problema. Mas não e com todo respeito evidentementeao processo a mera declaração de liminar no sentido de que obrigam o poder executivo num prazo mínimo minguado de três meses produzir uma política nacional do problema do setor penitenciário no Brasil que não cabe exclusivamente ao poder executivo, pressupõe atuação do estado, que parte de uma análise para resolver todos os problemas. E não é contingenciamento ou retirar o FUNPEM do contingenciamento que vai resolver. Porque nesse caso, já disse, os últimos 4 anos a execução foi quase 100%, no último ano foi 92%, é os dados que nós apresentamos aí pelo próprio departamento penitenciário do ministério da justiça. Agora não é suficiente, não é recurso, não é o gasto, a disponibilidade de recurso não pé suficiente. O que é preciso sim é a mudança de tratamento dos nosso apenados e uma política efetiva de ressocialização, medidas alternativas e controle da qualidade da decisão do apenamento, retirando dessa realidade aqueles que estão simplesmente apenados temporariamente esperando a sua absolvição na prisão e isso sim é um absurdo, isso sim um escândalo. Doutor Thiago Luiz Santos Sombra – falando pelo estado de São Paulo Eu me sinto muito a vontade de falar nessa ação porque embora o ministro Marco Aurélio vá para o meu quase 10º ano de atuação exclusivamente no Supremo, antes eu fui procurador de assistência judiciária em São Paulo, numa época que sequer existia defensoria, e eu era procurador de assistência judiciária numa das regiões mais pobres da cidade, Itaquera, São Miguel Paulista, e lá atuava nessa área criminal. Depois quando eu vim a atuar aqui no Supremo em Brasília, especificamente passei a atuar em ações originárias todas relativas ao sistema prisional, regime disciplinar diferenciado RDD numa ADIN do Ministro Carlos Brito, construção de presídios e convênios com a União, regimes semiaberto, enfim, uma infinidade de ações que vossas excelências volta e meia frequentam e analisam aqui e agora recentemente como professor universitário da universidade de Brasília também é um tema que faz parte das pesquisas o que significa que estamos aqui tendo um diálogo franco sem lados opostos especificamente na busca de soluções factíveis para uma causa que eu considero que seja das mais importantes do país. Agora eu queria começar suscitando porque vinha pensando especificamente se o problema que nós vamos discutir aqui é o sistema prisional ou é a jurisdição constitucional, ou se é as duas coisas. E para isso eu começaria levantando três preliminares formais. A primeira delas, é um vício formal que há na petição inicial. Ela requer, a imposição de fundamentação de todas as prisões cautelares desse país, motivadas quando não substituídas por cautelares convencionais. O curioso é que há uma inversão aqui, ela pressupõe que os juízes não façam ou não adotem esse tipo de comportamento, o que não é verdade, porque se fosse, o Supremo não faria outra coisa, a não ser julgar só Habeas Corpus com base nesse fundamento. Então esse é o primeiro ponto. O segundo ponto é que requer a fundamentação, mas sequer apontou como preceito fundamental o artigo 93 inciso 9º - esse é um vício formal da inicial e há outro detalhe, a ADPF não pode se prestar a ser um código de conduta da magistratura. Não é o mecanismo a ser utilizado para determinar que juízes no Brasil fundamentem as suas decisões numa inversão de valores, se não houvessem juízes que não fundamentassem as substituições de prisões cautelares por medidas cautelares convencionais. Fosse isso o Supremo além desses HC’s teria que agora passar a julgar as reclamações de todas essas ações e de todas as faltas de fundamentação que virão por força de uma decisão proferida nessa ação dessa ADPF. Além dos HC’s que os ministros recebem, receberão reclamações decorrentes de não fundamentação de recurso de medidas cautelares. A segunda preliminar é o problema da subsidiariedade, o ministro Adams mencionou a 5240 julgada na semana passada. O ministro Lewandowsky tem conduzido com maestria no CNJ medidas administrativas ferrenhas para implementação, já são 14 estados que realiza essa audiência de custódia, foi julgado na semana passada esse assunto, um julgamento brilhante, apoiado pelo estado, tribunal de justiça, todo um esforço conjunto para tentar implementar. O grande problema, é, bom se semana passada isso foi julgado, qual é o impacto, qual é o objetivo dessa ADPF? Para que que serviria se isso já está em fase de implementação por parte dos tribunais de justiça, esse é um ponto que merece ser considerado e que demonstra muito claramente que não há subsidiariedade como requisito dessa ADPF. E o terceiro requisito aqui que falha também essa, com todo respeito a inicial, diz respeito aos casos de repercussão geral, já decididos por essa corte. Eu computei o RE 592.581 relativo as obras emergenciais, o RE 580 referente aos danos morais, o 582.242, a ADIN 4162 do RDD – do regime disciplinar diferenciado e por último, aqui foi objeto na semana passada, o estado do Rio Grande do Sul, ou seja, o Supremo tem resolvido no controle difuso ou na repercussão geral todos esses temas, isso não é uma matéria que seria compatível com controle concentrado e com uma ADPF nos moldes em que apresentaram. E aqui eu trago uma outra observação ministro Celso de Melo, que diz respeito a uma ADPF que vossa excelência foi relator, inclusive do governador do estado de São Paulo, relativa as desapropriações que tentávamos empreender no estado, e que foi reconhecida a falta de subsidiariedade pelo fato do sistema recursal ou de outras medidas que foram adotadas, serem capazes de se equacionar e de se obter o mesmo resultado. A ADPF 249 é proposta pelo governador do estado de São Paulo em relação ao decreto de desapropriações. Então vejam vossas excelências, eu não gostaria aqui de que a ADPF se transformasse em um mecanismo de condensação de tese, não é esse o objetivo dela, não gostaria que a ADPF se transformasse em um novo mandado de injunção 107 que foi prematuramente afundando e que só agora vossas excelências têm conseguido restabelecer a valiosa função do mandado de injunção. Não se presta a isso, a ADPF não merece ter esse papel e sobretudo que vossas excelências tem lidado com tanta maturidade jurisdicional e política no desenvolvimento desse instituto. Agora vamos passar especificamente ao mérito e a realidade. São Paulo tem a maior população carcerária do país. São 9.000 presos, por mês. Em 2011 foram 101.363 presos basicamente 300 presos por dia. Em 2013 112.930 por ano, 340 presos por dia, em 2014 110.090 presos, 9174 por mês, 305 por dia. Temos uma população carcerária de 222. 856 presos para 161 unidades prisionais. Então vejam vossas excelências, ainda que fosse possível construir uma penitenciária por mês naquele estado seria impossível dar conta da crescente avalanche da população carcerária e é aqui que essa ADPF comete um pecado mortal, ela se foca nas causas, nas consequências e ignora as causas, as causas do sistema carcerário são muito mais profundas do que aquilo que ela se propõe. E aí, o grande ponto que eu quero basicamente mencionar é que ela tenta corrigir uma cachoeira sem esquecer o início onde começa ou onde o rio desagua. Vejam vossas excelências, que o estado de São Paulo tem aqui no Supremo, eu já computei, quase 20 ações civis originárias, relativas a convênios com a União em que o estado é ameaçado de inscrição permanente no SIAF por algum tipo de discussão dos convênios. É notória a crescente população carcerária, mas os problemas são notórios também, licenciamentos ambientais, procedimentos licitatórios impugnados por ações civis públicas, só para que os senhores tenham uma ideia, o tempo médio de planejamento de uma unidade prisional em São Paulo, que é um tempo altamente eficiente, varia de 20 a 24 meses, para que nós concebamos e o estado de São Paulo já realiza PPP em sistema prisional tamanha a necessidade de eficiência. Foram criadas 6.273 vagas sóno semiaberto o que hoje totaliza em torno de 117.000 vagas. E eu queria aqui enfatizar um aspecto importante são os mutirões carcerários, o ministro Gilmar Mendes quando a frente do CNJ foi certamente um marco na gestão dele a quantidade de mutirões carcerários realizados. O estado de São Paulo agora está partindo e investindo de forma incisiva no monitoramento eletrônico dos seus presos e tem ampliado significativamente, o ministro Lewandowsky é uma testemunha viva disso, o sistema, de audiência de custódia. Nós temos implantado sistemas de acompanhamento psicológico, identificação de deficiências de presos, são 61 centrais de penas alternativas com mais ou menos 13000 presos submetidos a tratamentos de cumprimentos de prisão e de penas inferiores, a um custo de $26,00 por mês, um dos menores custos desse pais, um dos maiores índices de ressocialização. Só para os senhores terem uma ideia, são basicamente 18.000 audiências, tele audiências realizadas. São especificamente 8 os principais projetos em parceria com a iniciativa privada e com organizações da sociedade civil. Projeto educação das prisões, projeto progresso, projeto da família, e lamentavelmente eu teria que dizer aos senhores que esse estado de coisas inconstitucional não irá proporcionar uma realidade melhor do que nós temos aqui. Ele não vai ter a capacidade de mudar o cenário dramático em que se vive, assim como ele não vai ter a capacidade de reconhecer que ainda que não seja o ideal as coisas têm começado a mudar e o supremo tem um papel importante nesse processo de mudança. Agora um aspecto que me chama muito a atenção é essa necessidade desse diálogo democrático que o supremo tem estabelecido com os demais poderes e o CNJ. Agora que tipo de provimento jurisdicional que se espera num controle abstrato em termos de representatividade democrática de uma decisão dessa natureza que envolva outros poderes? Aqui o que a gente basicamente vê é um típico caso de transplante legal, não sei se vossas excelências conhecem transplante legal é um termo muito utilizado por autores da doutrina americana, em que o ministro mangabeira é um dos precursores e que tem sido retomado agora por comparativistas críticos mais recentes, especificamente pelo professor Hugo Maddei em que há uma crítica muito grande desses transplantes legais, de outros países sobretudo da Europa e Estados Unidos, em que nós trazemos sem a devida particularidade. Esse estado inconstitucional de coisas é um exemplo. Para aos senhores terem ideia essa sentença da Colômbia é de 1998, em 2001 uma missão do Aquinur, foi a Colômbia e constatou três anos depois que as coisas continuavam exatamente a mesma coisa. O juiz da Suprema corte, da corte constitucional Sul Africana, Edwuin Cameron, mencionou recentemente que a África do Sul não queria se basear num modelo brasileiro de ativismo judicial, porque lá eles achavam que o caminho deles de democracia era melhor que o nosso. É esse o exemplo de ativismo, o ativismo judicial sempre foi praticado no Supremo e graças a Deus, o Supremo atuou de forma a corrigir oportunamente várias dessas medidas, agora uma das questões que me coloca é será que o supremo, quer ao invés de corrigir pontualmente, se tornar um coordenador institucional de política pública? Nós vamos trocar uma governança administrativa por uma governança jurisdicional? Será que o Supremo não acha que é mais importante o fortalecimento da democracia, num diálogo democrático com os demais poderes? E aí que eu trago uma menção ao ministro Luiz Roberto Barroso, num debate importante em Harward, até que em um determinado momento o professor que achava importante o ativismo numa democracia jovem como o Brasil para corrigir determinados caminhos. Mas a pergunta que ele fez é: E quando essa democracia começa a envelhecer? Como é que a democracia se sustenta ao longo do tempo sem a falta de diálogo e de criação de responsabilidades para os demais poderes? E aproveitando, ele também menciona que cortes constitucionais deveriam evitar determinadas decisões que não fossem capazes de implementar e uma das maiores críticas da corte constitucional da colômbia é que ela não teve capacidade de implementar, de seguir essa sentença a qual ela menciona. O Brasil não precisa se espelhar no modelo colombiano, não tenho nada contra transplantes legais, mas o transplante legal é refletido no nosso modelo. Coordenador institucional de políticas públicas não é o papel do Supremo, o supremo tem trabalhado muito bem e dentro de uma representatividade democrática considerável. O professor Virgílio Afonso da Silva num artigo espetacular chama a atenção para esses processos de deliberação que as vezes escondem algumas práticas e regras que comprometem a legitimidade constitucional da corte. Eu tenho minhas sérias dúvidas se o Supremo não colocará sua legitimidade constitucional no julgamento de uma ADPF como essa em que ele pretende atravessar, ser o dono da bola, do apito, da camisa, definir o horário em que o jogo começa e o jogo termina, sem criar responsabilidades ao demais poderes. Esse modelo de governança administrativa ele não é o melhor, não tem sido talvez o melhor, nem na velocidade que se espera, mas talvez trazer ao Supremo esse modelo não vai ser a melhor das soluções, essa corte não deve se apequenar e atuar como ordenadora de despesa, ou chefe de repartição. Não convém ao Supremo atuar com esse tipo de patamar. E eu gostaria de encerrar aqui com a citação do ministro Marco Aurélio em homenagem aos seus 25 anos de um grande professor da URFJ Carlos Alexandre de Azevedo Campos que é professor, foi orientando do Doutor e professor Daniel Sarmento e que traz uma análise dos pressupostos desse estado de coisas inconstitucional. O fato é, nós não precisamos desse modelo de decisão jurisdicional aqui e o sistema carcerário menos ainda. Medidas tem sido implementada e elas tem plenas condições de aos poucos se atingir o objetivo que se pleiteiam sem prejuízo da legitimidade democrática do Supremo. Eu só ressalto então, basicamente pra concluir o ministro Ricardo Lewandowsky que o Aquinur fez um julgamento prévio, o auto comissariado das nações unidas fez um julgamento prévio da sentença 143 antes que vossas excelências precisassem fazer. Eu costumo acreditar que o supremo não vai cair na sedução após tantos anos o estágio de amadurecimento jurisdicional em que o supremo tem dado e contribuído para a democracia. Seduções são comuns em cortes constitucionais. Essa eu tenho certeza que vossas excelências, com a altura e com o desempenho que tem realizado no aprimoramento da jurisdição constitucional não farão. O modelo de responsabilidade democrática ele é compartilhado, ele não pode ser exclusivo do judiciário ou apenas nas mãos do executivo ou do poder legislativo. É com essas razões que o governo do estado de São Paulo através da procuradoria geral pede a vossas excelências que não conheça da ADPF pelas preliminares formais apresentadas, e caso conhecidas que indefiram o pedido preliminar. Muito obrigado! Doutora Ela Vianco – Vice procurador da República Obrigada senhor presidente, senhores ministros, senhoras ministras, meu estimado Daniel Sarmento, porque faz muita falta ao ministério público federal, também meu colega Thiago Sombra, da universidade de Brasília, ministro Adams, que estava até pouco. Todos os três fizeram magníficas sustentações orais e eu pedi a palavra pelo ministério público para de um lado dizer da simpatia da adesão que o ministério público tem com relação a motivação desta ADPF, do reconhecimento que tem do estado de coisas inconstitucional na situação carcerária brasileira. Mas também por outro lado, manifestar a preocupação com as medidas cautelares pleiteadas. É um conjunto que se todas essas, tudo que se deseja com essas medidas cautelares fosse concretizado e basicamente isso pelo judiciário, realmente nós não teríamos essa superlotação. Mas a questão que se colocaé que a forma como essas cautelares, elas foram requeridas, são de uma generalidade, de uma falta de praticidade e de uma certa inocuidade, porque muitas delas é o que diz a lei, então o Supremo Tribunal federal vai repetir o que diz a lei, algumas delas também, já foi referido, elas de alguma forma, esse reconhecimento de teses já foi realizado pelo STF e eu lembro um que não consta aqui que é o reconhecimento, o julgamento ainda não terminou, mas o reconhecimento da necessidade de descriminalizar o porte para consumo pessoal, porque essa é uma situação que realmente ela tem levado o sistema da justiça criminal a um massivo encarceramento e que tem recaído de uma forma exponencial em relação as mulheres. Eu acho curioso que uma das medidas que não foram pensadas é cautelares é o limite ao encarceramento que em alguns países da Europa já constitui um aspecto que está sendo, dentro da política de seu orçamento, o quanto que cada país vai gastar ao encarceramento de pessoas, mas naturalmente isso não consta e nem será objeto da discussão. Com relação a medida das últimas duas cautelares, elas também me preocupam demais porque uma delas se refere a determinação ao CNJ que coordene mutirões carcerários, isso já aconteceu como lembrado, quando era presidente o ministro Gilmar Mendes e fez história, foi muito importante, mas me parece que não é exatamente essa função do CNJ, de fazer ou coordenar mutirões carcerários, mutirões carcerários tem que ser feito pelo juiz de execução em cada comarca, se existir na comarca juiz de execução, mas o juízo de execução em cada estado, então quando se coloca também isso, essa responsabilidade no CNJ se esquece da responsabilidade que cada juízo estadual tem no sentido de zelar pela legalidade e pela constitucionalidade da execução penal. Com relação também a última cautelar requerida que é o imediato discontingenciamento das verbas existentes no FUNPEM, me parece uma cautelar nesse sentido muito perigosa de consequências inclusive desastrosas, por algumas razões que foram mencionadas pelo advogado geral da união e também porque coloca toda a responsabilidade do estado de coisas inconstitucional a união por uma suposta burocratização, não só no descontingenciamento, mas na execução dos convênios. É preciso lembrar e isso eu faço com a experiência de ter sido membro do conselho nacional de política criminal e penitenciaria, que existem vários dispositivos que portarias que atendem ao regramento de política criminal e penitenciaria que é um órgão da execução penal, está previsto na lei de execução penal e, normas que são obrigatórias, como por exemplo no caso de prisão para mulheres que tenham o local adequado para que elas possam ficar com suas crianças, durante o período em que elas poderão... elas terão o direito de aleitar, amamentar as crianças, os lugares de convivência, enfim, várias regras que não são obedecidas pelo estado, o conselho nacional de política criminal e penitenciaria exige e normas que fazem parte nos convênios no repasse de recursos, então simplesmente descontigenciar, deixar uma liberdade total para os estados, isso significa abrir a porta para o descomprometimento com obediência a essas normas e tornar esse estado de coisas mais inconstitucional, e também nessa minha experiência eu verifiquei que muitos estados simplesmente devolvem o dinheiro, ou usam em coisas que não tem nada a ver com o setor penitenciário, de modo que repetindo, quer dizer, o ministério público tem todo o interesse em que uma solução seja encontrada e que medidas cautelares até possam ser deferidas, mas que não exatamente com essa abrangência ou essa generalidade ou sem o mínimo de cuidado, para que se forem deferidas elas possam causar ainda mal maiores. Então são essas considerações senhores ministros, senhoras ministras que eu gostaria de colocar esperando e tendo a certeza que esse plenário encontrará o melhor caminho para dar uma resposta a esse estado de coisa. DOS PEDIDOS DA ADPF Nº 347 Ajuizada no mês de junho do ano de 2015, a ADPF nº 347 postula o reconhecimento do “estado de coisas inconstitucional” a qual vive o atual sistema carcerário brasileiro por atos de omissão e comissão praticados pelo poder público e que ferem os direitos fundamentais dos apenados. A ação tem a maior finalidade de além do deferimento das cautelares interpostas, que seja providenciado um novo método abrangente a todo o sistema, uma nova realidade para a prática da execução penal. Nesse seguimento, a possibilidade do réu que for condenado a cumprir pena em regime fechado, esgotadas todas as demais alternativas de pena, esta servirá de ressocialização do apenado, com um trabalho direcionado à assistência de saúde física e psicológica, um lugar onde esta pessoa tenha seus direitos constitucionais garantidos pelo Estado, que não fique só no papel, mas na prática também. Com esse intuito, entre as deficiências estudadas pelo Partido Político Socialismo e Liberdade, foram tema dos pedidos da ADPF em comento oito medidas que solucionariam mais da metade da inconstitucional realidade carcerária, pedidos que passem a ser analisados um a um. Primeiramente, que os julgadores de todas as instancias, expliquem o motivo de na maioria dos casos, não aplicarem as penas alternativas a privação da liberdade provisória, prevista no artigo 319 do código de Processo Penal. Senão vejamos: “Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: I – comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). II – proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). III – proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). IV – proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). V – recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). VI – suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). VII – internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi- imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). VIII – fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). IX – monitoração eletrônica. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). …(revogados) § 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).” Em segundo, o cumprimento dos artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos para que seja realizado dentro de noventa dias a audiência de custódia do preso preventivo, possibilitando a este o comparecimento perante o juiz no prazo de vinte e quatro horas, a contar do momento da prisão. Em terceiro, quase um clamor para que os juízes e tribunais consideram a verdadeira situação do sistema prisional brasileiro, analisando o grau de intensidade dos delitos cometidos e visando a necessidadeda aplicação das medidas cautelares penais na execução de cada caso concreto. O quarto pedido, reforçando o primeiro postulado, é no sentido de que sejam impostas medidas alternativas à prisão preventiva, que seja seriamente usado o já mencionado artigo 319 do CPP, deixando para aplicar a prisão preventiva em casos mais severos e que causem de fato algum risco para a vítima ou para a sociedade. Nessa perspectiva, foi citada também a abrangência dos requisitos temporais para a utilização, em tempo certo, dos direitos e benefícios dos apenados quando verificada a situação mais severa aplicada ao preso do que a prevista no ordenamento jurídico, como por exemplo, a progressão de regime, o livramento condicional e a suspensão condicional da pena. O sexto pedido é no sentido de que o juízo da execução penal progrida a pena nos casos de constatação de qualquer irregularidade estatal, como a prevista no item anterior. Logo, foi requerido também que o Conselho Nacional de Justiça providencie mutirões carcerários com o fim de revisar a execução penal dos encarcerados brasileiros para que seja averiguada a ocorrência de presos irregulares, conforme já discutido nos pedidos anteriores. Por fim, como medida cautelar foi solicitada que a União libere o valor contido no Fundo Penitenciário Nacional para que não mais haja o retardamento ou a inexecução de parte da programação de despesa prevista na Lei Orçamentária. Por conseguinte, no mérito da demanda foi requerido que haja a declaração do “estado de coisas inconstitucional” do sistema penitenciário brasileiro, bem como a deliberação para que o Governo Federal encaminhe ao STF, dentro do prazo de três meses, um plano nacional que proponha uma solução, no decorrer dos próximos três anos, para o abominável sistema prisional brasileiro. Plano este que contenha soluções para os principais problemas de violação aos direitos fundamentais e humanos dos detentos e que será, depois de devidamente aprovado, encaminhado para os Estados e Distrito Federal. DOS VOTOS DOS MINISTROS No dia 27 de agosto de 2015 se iniciou o julgamento das cautelares. O primeiro a votar foi o relator, ministro Marco Aurélio, o qual fez a observação que o Brasil é o terceiro país no mundo com a maior população presidiária. Ressaltou que o déficit prisional é gigantesco e um dos maiores males do sistema carcerário. Sendo assim, a falha no sistema é geral, ocorrendo a mais vasta violação dos direitos fundamentais dos detentos no tocante à dignidade da pessoa humana, aos princípios constitucionais e ferindo de morte direitos adquiridos como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e a Convenção contra a Tortura, além da própria Lei de Execução Penal. No entendimento do relator, para que seja reconhecido o estado de inconstitucionalidade é necessária a responsabilidade do executivo, Legislativo e Judiciário, além da União, Estados e Distrito Federal, uma vez que a formulação e a implementação de políticas públicas quanto de interpretação e aplicação da lei penal é carente quanto a sua aplicabilidade correta. Após o voto do ministro Marco Aurélio, o julgamento foi suspenso, retornando no dia 03 de setembro do mesmo ano com o voto do ministro Edson Fachin, que concordou, em parte, com o relator. Ato contínuo, Fachin considerou que a ação deve ser admitida, no tocante as cautelares, se pronunciou a favor da realização de audiências de custódia, no prazo máximo de noventa dias, de modo a viabilizar o comparecimento do preso perante o juiz em até vinte e quatro horas contadas do momento da prisão; dos mutirões carcerários, com a finalidade de viabilizar a revisão de todos os processos de execução penal em curso no país e do contingenciamento dos valores contidos no fundo penitenciário. Em seu voto, o Ministro Luís Roberto Barroso também concordou com os dois primeiros votos ministrais nos três pontos, entretanto, expandiu o prazo de cumprimento para um ano. Ademais, concedeu de ofício a cautelar para determinar que o Governo Federal envie ao relator, no prazo de um ano, análise da situação em termos quantitativos e pecuniários, para que a Corte tenha elementos adequados para julgar o mérito da ADPF em comento. O ministro Teori Zavascki, também foi a favor da realização de audiências de custódia o mais breve possível, bem como deferiu o pedido quanto ao fundo penitenciário. Em suas palavras: “Aparentemente o problema está na falta de projetos, e não na falta de dinheiro, mas essa tese eu já ouvi em outras oportunidades, e concordo que seja uma medida adequada”. Na sequência, a Ministra Rosa Weber seguiu o relator ao conceder o pleito quanto à audiência de custódia, com observância dos prazos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça e ao descontingenciamento de recursos do Fundo penitenciário, acolhendo o prazo sugerido pelo Ministro Edson Fachin. Adiante, o Ministro Luiz Fux concordou integralmente com o relator. Ponderou que alguns magistrados não motivam suas decisões, apesar de ser regra prevista no ordenamento jurídico. “Portanto, há um estado de coisas inconstitucional”. A Ministra Carmen Lúcia também seguiu o entendimento do ministro relator, enfatizou ainda, a necessidade de haver um diálogo com a sociedade a respeito do tema. Nesse sentido, a ministra demonstrou expectativa de uma melhora na atual situação carcerária do país com a elaboração de projetos que dará efetivo cumprimento as leis existentes. Por conseguinte, o voto do Ministro Gilmar Mendes foi pelo deferimento da realização das audiências de custódia e em relação ao descontingenciamento do fundo penitenciário. Ainda, aferiu que a utilização da tecnologia da informação na execução penal proporcionaria benefícios como a estatística confiável da situação prisional do país. Nessa continuidade, sugeriu a criação de plano de trabalho para apresentar treinamento aos juízes sobre o sistema prisional e medidas alternativas a restrição da liberdade. O Ministro Celso de Mello foi mais um que acompanhou integralmente o voto do relator. Afirmou ainda, que os valores do fundo penitenciário nacional não podem ter outra finalidade senão aquela para qual foi criada. Por fim, o Ministro Ricardo Lewandowski da mesma maneira adotou totalmente o voto do relator, reconhecendo o "estado de coisas inconstitucional" em que se encontra o Brasil na atualidade quando se trata de execução penal. Diante de todo o exposto, se vislumbra que todos os ministros que participaram do julgamento reconheceram o atual ‘estado de coisas inconstitucional’ do sistema carcerário brasileiro. Não se manifestaram quanto à imposição da preparação e implementação de planos pela União e Estados, sob monitoramento judicial. Do mesmo modo, sobre a exigência de fundamentação das decisões que não aplicarem medidas cautelares diversas da prisão e a imposição de penas adequados ao agravamento do injusto cometido. DAS CAUTELARES DEFERIDAS Por mais que, como disposto acima, todos os ministros tenham reconhecido o atual “estado de coisas inconstitucional” em que vive os detentos que cumprem pena nos presídios brasileiros. Das oito cautelares postuladas na petição inicial da arguição de descumprimento de preceito fundamental em análise, apenas duas foram deferidas no julgamento do dia 09 de setembro de 2015. O Supremo Tribunal Federal deferiu parcialmente as cautelares postuladas no tocante às audiências de custódia e no que diz respeito ao Fundo Penitenciário Brasileiro. Para tanto, decidiu por outorgar aos Juízes e Tribunais o comando para que passem a realizar audiências de custódia, no prazo culminante de noventa dias, de modo a viabilizar o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária em até vinte e quatro horas contadas do ato da prisão. Como segunda cautelar deferida, os ministros abrangeram a liberação do saldo cumulado no Fundo Penitenciário Nacional para ser utilizado com o fim para o qual foi criado, vetando novas inexecuçõesou o retardamento das despesas previstas na lei orçamentária. Por multiplicidade de votos, o Supremo aceitou proposta do Ministro Luís Roberto Barroso para determinar à União e ao Estado de São Paulo que forneçam informações sobre a situação do sistema carcerário no prazo de um ano, para que os elementos da pesquisa sirvam como parâmetro para o julgamento do mérito da ação. DA INEXISTÊNCIA DAS AUDIÊNCIAS DE CUSTÓDIA NO ESTADO, ABUSO DA PRISÃO PREVENTIVA, MAUS TRATOS E DA VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA DOS PRESIDIÁRIOS. Primeiramente, para se tratar de audiências de custódia, como passo primordial é necessário ter o conhecimento de que é um projeto criado pelo presidente do Conselho Nacional de Justiça, ministro Ricardo Lewandowski, em outubro de 2015. Tal projeto tem a finalidade de tornar possível um primeiro contato do acusado com a autoridade judiciária, apresentado- o, em um período de no máximo vinte e quatro horas a um juiz. Na audiência de custódia o magistrado poderá analisar se houve algum tipo de tortura ou maus tratos ao acusado, bem como a legalidade ou ilegalidade do ato da prisão em flagrante, se esta preenche ou não os requisitos necessários para sua efetivação, observados as garantias constitucionais e os direitos fundamentais da pessoa humana. Logo, após manifestação da defesa constituída ou da defensoria pública, bem como parecer do Ministério Público, o juiz analisará o caso e notará se existe a possibilidade de conceder a liberdade provisória, com ou sem fiança, a probabilidade de relaxar a prisão, caso constatada alguma ilegalidade ou substitui-la por algumas das medidas cautelares diversas constantes no artigo 319 do Código Penal. Ainda, converter a prisão em flagrante em prisão preventiva, no caso de o juízo encontrar indícios de que o acusado traz risco para o convívio social. Nesse ínterim, após deixar claro o que é a audiência de custódia, bem como é o seu proceder, vale lembrar que ela também está prevista no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e na Convenção Interamericana de Direitos Humanos. Assim, a luz do constante nos pactos e tratados elencados acima e na efetivação do projeto criado pelo ministro Lewandowskis, se vislumbra a ampla diferença que a realização das audiências traria ao sistema prisional brasileiro caso fossem utilizadas por todos os Estados. O CNJ celebrou com alguns Estados brasileiros um termo de compromisso que constava que os estados começariam a executar as audiências de custódia, o que na verdade já ocorreu, mas não se trata de uma “praxe” na execução penal, nos Estados em que foi implantado o projeto, há casos de presos preventivos esperando há mais de seis meses pela realização da audiência de custódia. Dessa maneira, se verifica que o projeto apenas existe na teoria, pois que na prática, em alguns Estados, as audiências de custódia não passam de dados irrisórios, uma vez que os acusados esperam com sua liberdade cessada por meses ou até anos e muitas vezes acabam se tornando vítimas do sistema, quando após responderem todo o processo criminal decreta-se sua inocência. Outro ponto a ser abordado é referente ao abuso da prisão preventiva. Inicialmente, também importante ressaltar que a prisão preventiva é uma medida cautelar que depende de no mínimo três requisitos para sua decretação. Quais são eles: Prova da existência do crime (materialidade) + indício suficiente de autoria + uma das situações descritas no artigo 312 do Código de Processo Penal, a saber: a) garantia da ordem pública; b) garantia da ordem econômica; c) conveniência da instrução criminal; d) garantia de aplicação da lei penal. (NUCCI, 2010, p. 601). Assim, devidamente preenchidos os requisitos elencados acima o juízo deve atentar se houve a ocorrência de uma ou das três condições básicas que configuram a necessidade da decretação ou manutenção da prisão preventiva, uma vez que omissa essa análise pode se configurar abuso da medida cautelar em comento. De tal sorte, a autoridade que conduz o inquérito ou a instrução criminal, precisa ter em mente que tudo deve ser analisado cuidadosamente, a gravidade do delito, as circunstâncias do fato, se este realmente existe, sua materialidade, tudo na intenção de não prender ou manter preso quem poderia ter sua pena substituída, ter sua liberdade concedida, mesmo que provisoriamente. Consequentemente, é notório que atualmente existe o acontecimento de uma série de constrangimentos ilegais causados aos presos provisórios, uma vez que muitos são encarcerados e esquecidos, se quer são analisadas profundamente a gravidade do delito, a repercussão social do caso ou se essa pessoa presa realmente traz riscos à sociedade caso seja posta em liberdade. Portanto, nas palavras do autor “a prisão preventiva tem a finalidade de assegurar o bom andamento da instrução criminal, não podendo está se prolongar indefinidamente, por culpa do juiz ou por atos procrastinatórios do órgão acusatório” (NUCCI, 2010, p. 600). Noutra banda, como se não bastasse a inexecução das audiências de custódia cumulada com a prisão preventiva “perdida de vista”, os encarcerados do sistema prisional brasileiro ainda passam por diversas situações de violação dos seus direitos humanos e fundamentais previsto na Carta Magna. A Lei nº 7.210/84, chamada de Lei de Execução Penal, traz no seu artigo primeiro o seguinte: “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar decisões para a harmônica integração social do condenado e do internado” Todavia, diante da realidade fática das penitenciárias brasileiras não precisa ser nenhum especialista na área para se saber que tal norma não é eficaz. A prisão não cumpre o seu dever de punir e ressocializar como institui a LEP. Nesse sentido, se observa a violação dos direitos constitucionais garantidos pela Carta Magna em seu artigo 5º e que deveriam ser respeitados, mas que não é o que acontece. Senão vejamos: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; L – às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;” Logo, basta uma pesquisa na rede mundial de computadores, uma lida nos jornais e vista de casos que aparecem todos os dias na televisão para se notar que a sociedade fecha os olhos para os absurdos desumanos que acontecem dentro das penitenciárias. Não existe dignidade da pessoa humana, não existem condições físicas e psicológicas dentro de um lugar onde as facções criminosas comandam, onde os colegas de celas violam a integridade física do outro, onde o próprio agente penitenciário quer mandar e desmandar nos apenados, obrigando-os a cometerem abusos sexuais com os demais, por exemplo. As penitenciárias brasileiras atualmente não passam de um lugar onde se semeia o ódio, a vingança e a injustiça. Os apenados são tratados da pior maneira possível, sem nenhuma condição de saúde, higiene, alimentação e vestuário precário. É evidente o descaso com os encarcerados. O sistema prisional atual é falho desde o início, quando o apenado coloca seus pés pela primeira vez dentro do estabelecimento prisional. São ofensas, discriminações, preconceitos, espancamentos diários, uma verdadeira afronta e que fere de morte os direitos conquistados pelo país ao tratar da convenção internacional dos direitos humanos cumulada com o descumprimento dos princípios constitucionais elencados na Carta Máxima. O TERROR DA SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA BRASILEIRA. A maior causa da crise do sistema carcerário brasileiro é sem sombra de dúvidas a superlotação. A falta de investimento cumulada com o abandono pelo poder públicotraz como consequência a reincidência, as rebeliões e tudo o que de negativo pode aprender um ser humano encarcerado no Brasil. Na verdade, a suspensão da liberdade, do direito de ir e vir do apenado não funciona na prática como aduz a teoria, onde o preso deveria ter acesso à educação e ao trabalho, para ter a oportunidade de voltar a conviver com a sociedade sem trazer riscos a ela. O que acontece atualmente é o aperfeiçoamento para o crime, onde é impossível, diante de tanta desumanização ressocializar alguém. Importante destacar a violação dos direitos fundamentais dos apenados, bem como o descumprimento da Lei de Execução Penal. Nesse enfoque, cabe lembrar a falta de fiscalização judicial no cumprimento das penas. Ora, os direitos fundamentais elencados na Carta Magna deveriam ser postos em prática com maior satisfação por quem quer que seja perante um apenado. A sociedade, como dito anteriormente, fecha os olhos para o descaso com os encarcerados brasileiros. Sendo assim, tanto as autoridades governamentais como as judiciárias ao invés de contribuírem para a recuperação dos que cumprem pena em regime fechado, só ajudam a piorar o sistema. A realidade é cruel, em casos de crimes mais violentos os presidiários são tratados como verdadeiros lixos dentro das carceragens, mas o que não é lembrado é que esse indivíduo já abalado pelo delito cometido ou por qual razão cometeu tal delito, com o tratamento desumano que lhe é fornecido jamais sairá do “mundo do crime”. Noutro aspecto, a LEP se cumprida como redigida, não teríamos essa abominação carcerária brasileira. No que tange a ressocialização do apenado a norma é cristalina ao elencar o rol de direitos assistenciais que os encarcerados deveriam ter para que posse possível o seu retorno a sociedade da melhor maneira possível. “Art. 10 – A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso. Art. 11 – A assistência será: I – material; II – à saúde; III – jurídica; IV – educacional; V – social VI – religiosa.” Contudo, o sistema prisional não funciona, é preso provisório encarcerado junto com preso sentenciado, é maus tratos, humilhação, abuso sexual e moral, discriminação, falta de condições mínimas de higiene, vestuário, saúde. Outro índice que contribui e muito para a superlotação é a demora no julgamento dos recursos, ou os presos que já cumpriram suas penas, mas que por falta de mutirão carcerário continuam presos. Por fim, diante de tudo, o que se observa é a falta de comprometimento do Estado, de regularização da administração presidiária, uma mistura de comissão e omissão do poder público. Nesse segmento o Brasil só tende a aumentar os índices de superlotação carcerária o que se observa e que o sistema prisional este abandonado, existem apenas projetos de lei, mas nada emergente que realmente mude essa triste realidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS DO RELATÓRIO Após o curso da análise que trata este trabalho, foi possível verificar que os direitos fundamentais dos encarcerados brasileiros são violados diariamente em um sistema que não funciona, que não ressocializa o preso, pelo contrário, o devolve ainda mais violento e sem nenhuma condição básica de saúde e humanitária para o convívio em sociedade. No entanto, das cautelares deferidas na referida ação, estão mencionadas primeiramente a realização de audiência de custódia, a qual possibilitaria ao preso em flagrante a averiguação da real necessidade de mantê-lo encarcerado e se há a probabilidade de sair da prisão mediante o pagamento de fiança ou a aplicação de uma medida punitiva de caráter educativo. Sendo assim, dando ao apenado o direito de ter seu caso reanalisado por um juiz, que verá a legalidade da sua prisão em tempo excessivamente curto. De outro lado, o que mais foi frisado no que diz respeito as medidas cautelares deferida foi a possibilidade do arbitramento de medida alternativa a prisão, conforme elencado no artigo 319 do CPP, analisando sempre a gravidade do delito cometido pelo réu, o que também de qualquer sorte não ocorre nos tribunais brasileiros. Razão pela qual as penitenciárias se encontram superlotadas. Quando se entra no mérito da demanda, importante salientar que o intuito de analisar a presente ADPF está na possibilidade de mudança do sistema prisional futuro, ao passo que hoje em dia se verifica a falta de respeito para com o ser humano que se encontra com sua liberdade privada. Conforme se verificou no decorrer do trabalho, é desumano o tratamento que o preso tem dentro da cadeia, onde não há as condições mínimas do básico de saúde, higiene e alimentação, onde os mesmos sofrem a violência física e psicológica, tanto pelos demais detentos como pelos agentes públicos que lá trabalham. Nesse ínterim, por óbvio que o sistema precisa de melhorias, no mais, de que adianta ter a ação interposta, as cautelares deferidas se o governo não apoia. O que o sistema prisional brasileiro necessita é de uma reforma geral, onde os presos novos não se comuniquem com os antigos e considerados mais perigosos, para que não acabem se tornando vítima das facções existentes dentro das penitenciárias, como vem ocorrendo até então. Por isso, não basta apenas se ter a legislação em mãos, se precisa de uma maior atenção do poder público para que a liberdade do indivíduo seja cessada em última instancia, devendo sempre ser analisado o grau de gravidade do ilícito cometido. Entretanto, não podendo ser alterado o regime da prisão, que seja sempre realizado nos complexos prisionais o mutirão carcerário, para que os presos não fiquem “esquecidos” dentro das cadeias, que haja uma melhor administração dos presídios do país, para que o Pacto dos Direitos Civis e Políticos, juntamente com a Convenção Interamericana de Direitos Humanos sejam devidamente cumpridos, obtendo assim uma melhor execução do processo penal. Referências: ARAUJO. Luiz Alberto David. Curso de direito constitucional. 9ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2005; Constituição da República Federativa do Brasil de 1988; Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941; Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984; NUCCI. Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 6ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp. Acesso em: 10 18,30 e 31 de março de 2016; COSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, disponível em:http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e- execucao-penal/audiencia-de-custodia. Acesso em: 26 de abril de 2016, 20:20;
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