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A sabedoria é a única arma invencível de um povo 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE DISCIPLINA: LEGISLAÇÃO SOCIETÁRIA E COMERCIAL PROFESSOR: ALBERTO SOARES UNIDADE I – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO COMERCIAL E EMPRESARIAL E REVISÃO DE CONCEITOS DE OUTRAS MATÉRIAS JURÍDICAS PERTINENTES SUMÁRIO 1 DIREITO COMERCIAL - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.1 Conceito e objeto do direito comercial - - - - - - - - - - - - - 1.1.1 Conceito - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.1.2 Objeto - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.2 Características e autonomia do direito comercial - - - 1.2.1 Características do direito comercial - - - - - - - - - - - - - - - 1.2.1.1 Cosmopolitismo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.2.1.2 Individualismo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.2.1.3 Onerosidade - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.2.1.4 Informalismo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.2.1.5 Fragmentarismo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.2.1.6 Elasticidade - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.2.2 Autonomia do direito comercial - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.3 Fontes do direito comercial - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- 1.3.1 Fonte primária - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.3.2 Fontes secundárias - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.3.2.1 Usos e costumes comerciais - - - - - - - - - - - - - Uso de fato - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Uso de direito - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Uso de concorrência leal - - - - - - - - - - - - - - - - 1.3.2.2 Analogia - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.3.2.3 Jurisprudência - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.3.2.4 Princípios gerais do direito - - - - - - - - - - - - - - - 1.4 Divisão e períodos do direito comercial - - - - - - - - - - - - 1.4.1 Ramos do direito comercial - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.4.2 Períodos do direito comercial - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.4.2.1 Período subjetivo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.4.2.2 Período objetivo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.4.2.3 Período subjetivo moderno - - - - - - - - - - - - - - - 1.4.3 Fases do direito comercial brasileiro - - - - - - - - - - - - - - 1.5 Comerciante e atos de comércio - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.5.1 Conceito de comerciante - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.5.2 Mercância e atos de comércio - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.5.3 Divisão dos atos de comércio - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.5.3.1 Atos de comércio por natureza - - - - - - - - - - - - 1.5.3.2 Atos de comércio objetivos - - - - - - - - - - - - - - A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 2 1.5.3.3 Atos de comércio por conexão - - - - - - - - - - - - 1.5.4 A forma como critério de comercialidade - - - - - - - - - - - 1.6 Conceito econômico e jurídico de comércio - - - - - - - - - 1.6.1 Comércio: conceito econômico - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.6.2 Comércio: conceito jurídico - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 2 DIREITO EMPRESARIAL - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 2.1 Conceito de direito empresarial - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 2.2 Objeto do direito empresarial - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 2.3 Consequências advindas com o direito empresarial - - EXERCÍCIOS - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - REFERÊNCIAS - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 3 1 DIREITO COMERCIAL A produção e a circulação de bens e serviços remontam tempos que vão desde a Idade Antiga até os tempos modernos e passaram por diversas fases durante o processo de desenvolvimento humano. As práticas mercantis se iniciaram na antiguidade com as relações de troca direta, denominada escambo. Dessa forma, os povos antigos como troianos, egípcios, cretenses, sírios, cartagineses, babilônios e muitos outros promoviam a circulação de seus bens e serviços. Nessa fase antiga, surgiram códigos, leis e ordenações que muito contribuíram para a sistematização da prática mercantil. Arrolam-se os seguintes ordenamentos: o Código de Hamurabi – com disposições expressas sobre empréstimos e juros; a Lex Rhodia de Jactu – com disposições sobre alijamento e outros prejuízos; o Nauticum Foenus – com disposições sobre mútuo e seguro marítimo. Ainda, nessa época, ingressaram no comércio, os termos freguês, frete, armazéns e avarias, todos advindos dos povos árabes. Observando-se o estudo da evolução do processo de desenvolvimento humano, a Idade Média sempre é percebida como marco ou ponto de referência ente a cultura antiga e a moderna. Pois foi nessa fase da história que diversos campos das ciências sociais tiveram suas bases alicerçadas. Nessa idade, as práticas mercantis iniciaram o seu processo de sistematização através de um número maior e relevante de compilações estatutárias pertinentes à atividade de comércio. Entre elas, destacaram-se: as Consuetudines de Gênova; o Constitutum Usus de Pisa; o Líber Consuetudinum de Milão; os Jugements de Oléron; a Tabula Amalfitana; o Guidon de la Mer de Barcelona. O final da Idade Média foi recheado de eventos socioeconômicos e políticos que muito contribuíram para o desenvolvimento da atividade mercantil. Destacam-se aqui: as cruzadas; o surgimento da burguesia; as corporações, as feiras e os mercados; o mercantilismo: conjunto de ideias e práticas econômicas que floresceram na Europa entre 1450 e 1750, baseado, principalmente, no metalismo, ou seja, que a prosperidade dos países parece estar na razão direta da quantidade de metais preciosos que possuam. Com a formação e o fortalecimento dos estados nacionais, surgiram realmente, as primeiras leis ou normas do direito comercial. Tem-se, por exemplo: a Navigation Act – na Inglaterra; a Ordennance sur le Commerce de Terre – na França; a Ordennance sur le Commerce de Mer – também na França; o Código Comercial Napoleônico. Uma síntese da evolução do direito comercial desde a Idade Antiga até então, seria sequenciar sua evolução nos seguintes períodos: corporativismo, mercantilismo, liberalismo e intervencionismo estatal – a partir da primeira grande guerra mundial. O direito comercial, propriamente dito, surgiu na Idade Média, juntamente com a ideia de atividade do comércio como ato de intermediação praticado pelo comerciante. Inicialmente, o direito comercial baseou-se nos costumes difundidos pelas corporações de ofício1; e, posteriormente, passou a ser fundamentado nos atos de comércio, como seu principal suporte de sistematização. 1 Corporações de ofício eram associações que surgiram na Idade Média, a partir do século XII, em virtude da necessidade dos comerciantes de se defenderem contra os abusos dos poderosos, e eram organizadas segundo os vários ramos do comércio. (VIVANTE,2003, p.13). Elas caracterizavam-se por criar suas próprias normas, possuir jurisdição particular, eleger o juiz que dirimia as contendas e, este se guiava pelos usos e costumes adotados pelos comerciantes. Entende-se por corporação de ofício as guildas (associações) de pessoas qualificadas para trabalhar numa determinada função, que se uniam em corporações, a fim de se defenderem e de negociarem de forma mais eficiente A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 4 Claro que a atividade comercial é praticada desde a antiguidade e, naquela época, deveria ser desenvolvida com obediência a regulamentações rudimentares a cerca do comércio, que era praticado mediante a troca de mercadorias por mercadorias (escambo). De acordo com Martins (2007, p. 02-04), “A ideia de atividade de comércio como ato de intermediação que consistia no fato de adquirir determinada quantidade de mercadorias, de diversas qualidades, quer poderiam ser utilizadas pelos vários grupos sociais, a fim de serem trocadas posteriormente por quem delas necessitava surge somente na Idade Média.” E, assim, nasceu a figura do comerciante e, consequentemente, o direito comercial como um conjunto de normas voltadas para a regulamentação das atividades comerciais. 1.1 Conceito e objeto de direito comercial 1.1.1 Conceito direito comercial De acordo com Carvalho de Mendonça (apud BERTOLDI e RIBEIRO, 2014), direito comercial é a disciplina jurídica reguladora dos atos de comércio e, ao mesmo tempo, dos direitos e obrigações das pessoas que os exercem profissionalmente e dos seus auxiliares. Direito comercial é o complexo de normas jurídicas que regulam as relações derivadas das indústrias e atividades que a lei considera mercantis, assim como os direitos e obrigações das pessoas, que profissionalmente as exercem. O direito comercial compreende um conjunto de regras jurídicas que regulam as atividades das empresas e dos empresários comerciais, bem como os atos considerados comerciais, mesmo que esses atos não se relacionem com as atividades das empresas. Ressalta-se o fato de que a teoria dos atos de comércio foi extinta com o advento do Código Civil de 2002. Por essa razão, o próprio conceito de “direito comercial” tecnicamente não representa a matéria jurídica atual, a qual mais precisamente tem a designação de “direito empresarial”. 1.1.2 Objeto do direito comercial São critérios determinantes do cerne do direito comercial: as relações jurídicas mercantis ou relações de mercado definidas pela qualidade do sujeito (o direito comercial como direito de uma corporação profissional, a dos comerciantes); a relação jurídica mercantil definida pela natureza do objeto (o direito comercial como direito dos atos de comércio, verificado nas atividades de transformação e circulação de bens móveis ou semoventes, corpóreos ou incorpóreos, inclusive aquelas atividades que a lei determinou como comerciais, por exemplo, transporte, crédito, seguros entre outras); o direito comercial como direito das relações decorrentes da atividade empresarial. O direito comercial possui objeto vasto e se caracteriza pelos títulos de crédito, marcas e patentes, comércio marítimo, contratos empresariais, atividades financeiras, câmbio e seguros, valores mobiliários, falência e recuperação, matérias estas que permanecem fora do novo Código Civil, apesar de para os títulos de crédito, existir previsão específica no Código Civil, mas que não se esgota, haja vista que leis extravagantes também regulam a matéria. Lei extravagante também conhecida como lei especial, é uma lei que se encontra fora do código que regula certo setor da vida social a que se destina. Com o novo Código Civil, amplia-se o domínio do direito comercial através da teoria da empresa, que inclui o empresário civil, uma vez que este pelo antigo sistema, não estava inserido no regime jurídico mercantil; não podia, portanto, pedir recuperação, falência etc. O direito comercial foi então, ampliado, dado que o risco da atividade econômica, que era restrita ao comerciante, começou também a recair sobre o prestador civil de serviços. Observando-se os elementos acima, constata-se que ficam fora do campo de aplicação do direito comercial: agricultura, pecuária, silvicultura, mineração, a caça, a pesca, e a maioria dos serviços, considerados como atividade civil, sobretudo, aqueles decorrentes de atividade intelectual criativa, como, por exemplo, os serviços profissionais liberais. Resumindo, o objeto do direito comercial é a empresa como unidade serviçal do mercado, cuja existência está amarrada ao intuito de lucro. A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 5 1.2. Características e autonomia do direito comercial O direito comercial é o complexo normativo positivo que focaliza as relações jurídicas derivadas do exercício da atividade empresarial. 1.2.1 Características direito comercial Pela sua natureza e estrutura de direito privado, o direito comercial caracteriza-se e diferencia-se dos outros ramos do direito, sobretudo do direito civil, pelos seguintes traços peculiares: cosmopolitismo, individualismo, onerosidade, informalismo, fragmentarismo e solidariedade presumida, rapidez e elasticidade. 1.2.1.1 Cosmopolitismo Essa característica é também denominada de internacionalidade. Diversas convenções internacionais regulam muitas leis de comércio marítimo e aéreo, e, atualmente, leis uniformes regem a letra de câmbio, a nota promissória e o cheque. Os governos, pelos seus diplomatas, e os comercialistas pesquisam um tipo de sociedade anônima multinacional, ou de tipo europeu, segundo os estudos dos países componentes do Mercado Comum Europeu. A Organização das Nações Unidas (ONU) patrocina estudos para a elaboração de um código de comércio internacional. Significa “aquele que recebe influência cultural de grandes centros urbanos”, ou, sob ótica estritamente jurídica, a possibilidade de aplicação de leis e convenções internacionais ao direito comercial, por exemplo, a Lei Uniforme de Genebra, que dispõe sobre letras de câmbio, notas promissórias e cheque. Em síntese, diz-se que enquanto o Direito Civil tem âmbito nacional, o Direito Comercial tem âmbito internacional. 1.2.1.2 Individualismo As regras de direito comercial inspiram-se em acentuado individualismo, verificado no fato de que o lucro está diretamente vinculado ao interesse individual, ou seja, é a preocupação imediata do indivíduo. Esse tradicional individualismo, temos de reconhecer, está temperado nos tempos modernos pela atuação do Estado, limitando a liberdade do contrato, que era um dos apanágios do individualismo. A liberdade do contrato, todavia, constitui ainda regra preponderante nas relações mercantis. 1.2.1.3 Onerosidade As relações comerciais envolvem a atividade econômica, sendo assim, a onerosidade sempre estará presente, porque o objetivo do empresário é a obtenção de lucro, não se concebe na atividade comercial a gratuidade. A onerosidade é a regra, e ela se presume. No direito civil, a gratuidade é a constante, em muitos contratos, a começar pelo mandato. O mutum, no direito romano, era contrato entre amigos, passando a ser oneroso com o desenvolvimento do comércio. 1.2.1.4 Informalismo É a característica também denominada de simplicidade. Em face da técnica própria do direito comercial, e de seu objetivo de regular operações em massa, em que a rapidez da contratação é elemento substancial, forçou-se a supressão do formalismo. Em compensação, a boa-fé impera nos contratos comerciais, impondo-se meios de provas mais simples e numerosos do que no direito civil. Observa-se que o Estado impõe, para segurança de terceiros, como na emissão dos títulos de créditoou na constituição de sociedades por ações, regras solenes e extremamente formalistas. Entretanto, cumprida a formalidade inicial, a negociabilidade torna-se extremamente simplificada, ou seja, aqui não há formalidades como no direito civil, por exemplo, a circulação de títulos de crédito no mercado, mediante o endosso do papel. 1.2.1.5 Fragmentarismo O direito comercial é extremamente fragmentário. Não forma um sistema jurídico completo, mas um complexo de normas, que deixa muitas lacunas. Na verdade, muitos estudiosos entendem que A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 6 o direito comercial é um conjunto de normas extraordinariamente fragmentário. Isso ocorre pelo fato de o direito comercial apresentar-se subdividido em diversos ramos, com características peculiares e, na maioria das vezes, independentes umas em relação às outras. Sua existência depende da harmonia com o conjunto de regras de outros diplomas legislativos. 1.2.1.6 Elasticidade O direito empresarial, por transcender os limites do território nacional, precisa estar muito mais atento aos costumes empresariais do que aos ditames legais. Permanece em constante processo de mudanças, adaptando-se à evolução das relações de comércio. Exemplo: contratos de leasing e franchising. 1.2.1 Autonomia do direito comercial Vive-se, atualmente, um momento de transição com a unificação do Direito Civil e do Direito Comercial, dada pelo novo Código Civil, que revogou do artigo 1º ao artigo 456 do Código Comercial de 1850. Isso implica ou representa a perda da autonomia do direito comercial? Muitos deparam com esse questionamento. E você, já se perguntou sobre isso? Nas palavras de Reale (2001, p.6), está a seguinte afirmação: “[...] a unificação (que é parcial) do direito civil e do direito comercial, no campo das obrigações, é de alcance legislativo, e não doutrinário, sem afetar a autonomia daquelas disciplinas”. Sempre que se estuda um novo ramo do direito, importa saber se possui autonomia, que deve ser didática, científica e legislativa. Didaticamente, o direito comercial continua integrando os currículos universitários como disciplina própria, igualmente contando com linhas de pesquisas no ensino de pós-graduação. Do ponto de vista científico, o direito comercial apresenta características próprias, já elencadas e deve ser investigado de acordo com o método indutivo que parte do dado particular para obter generalizações, assumindo a função e a estrutura dos institutos, importância fundamental na interpretação. Sob o enfoque da autonomia legislativa, a Constituição Federal estatui que compete à União legislar sobre direito comercial. Vale registrar, que atualmente, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 1572/11 que visa a instituir o novo Código Comercial, como documento autônomo do Código Civil de 2002. 1.3 Fontes do direito comercial Fonte do direito é o meio técnico de realização do direito objetivo. As fontes são, pois, as matrizes geradoras da ordem jurídica, como as respostas instrumentais que a concretizam. Por fontes do direito comercial, entende-se o modo pelo qual surgem as normas jurídicas de natureza comercial. Essas normas jurídicas comerciais constituem um direito especial, que determina o que seja a matéria comercial e a ela se aplica exclusivamente. Ao lado dessas regras, como cenário, permanecem as regras do direito comum. As fontes são tanto as matrizes geradoras da ordem jurídica como as respostas instrumentais que a concretizam. Por isso não estão dispostas no mesmo nível. Guardam um escalonamento de preferência, que lhes oferece denominações diferentes, conforme os critérios adotados, dividindo- se em fonte primária e secundária. 1.3.1 Fonte primária Também denominada de fonte direta ou imediata. Têm-se as leis comerciais como principal fonte do direito comercial, pois a preponderância da lei é natural e compulsória como fonte principal, ou seja, como expressão genérica da ordem jurídica. No Brasil, o Código Comercial surgiu pela Lei nº 556, de 25 de junho de 1850. Constitui um monumento da cultura jurídica. Foi seguido, após a sua promulgação, pelo Regulamento nº 737, que estabeleceu as regras do processo comercial. A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 7 Além do Código Comercial, o direito comercial brasileiro é constituído de centenas de leis esparsas, que o modificaram ou o acresceram ao longo do tempo. Em síntese, a fonte primária do direito comercial brasileiro é expressa como segue: o Código Comercial, a parte não revogada; o Código Civil de 2002; as normas pertinentes ao direito comercial previstas em diplomas de outros ramos da ordem jurídica; a norma regulamentar derivada do estado; e os tratados e convenções internacionais. 1.3.2 Fontes secundárias Também denominadas de fontes mediatas ou indiretas, são aquelas representadas, principalmente pelos usos e costumes (que não sejam contra a lei), a analogia, os princípios gerais do direito, a doutrina (fonte intelectiva) e jurisprudência. É verdade que nem sempre a lei oferece todas as respostas, mas também é verdade que sua eventual omissão não pode ensejar lacunas no sistema jurídico. Em outras palavras, o órgão judiciário não pode eximir-se de entregar a prestação jurisdicional a pretexto de falta de previsão legal. Nesse caso, a solução é lançar mão do recurso a outros elementos acessórios, coadjuvantes de interpretação como alternativa para dirimir litígios, e, assim, realizar-se a necessária densificação do direito. Em síntese, são fontes secundárias ou indiretas do direito comercial: os usos e costumes; a analogia ou jurisprudência; os princípios gerais de direito. 1.3.2.1 Usos e costumes comerciais Usos e costumes são fontes importantes do direito comercial e significam a prática efetiva e repetida de uma determinada conduta. É a observância uniforme e constante de certas práticas e regras pelos empresários em seus negócios. Por ter sido inicialmente um direito consuetudinário, fundado nos estilos dos comerciantes medievais, o direito comercial mantém tradicionalmente o prestígio dos usos e costumes como regra subsidiária de suas normas. As codificações, surgidas no século passado, sintetizaram os usos e costumes já incorporados nos repositórios organizados pelas corporações. O legislador das codificações não podia, portanto, desconhecer ou desprezar a inteligência inventiva e a engenhosa capacidade técnica dos comerciantes de criarem normas práticas, para assegurar o desenvolvimento de seus negócios, com instrumentos novos e descerrando novos horizontes. Na linguagem corrente, não se faz distinção entre as expressões usos e costumes. Alguns autores, todavia, procuram distinguir esses termos, vendo nos costumes uma regra mais imperativa do que os usos, os quais seriam simplesmente convencionais. Os usos comerciais surgem espontaneamente. Um comerciante, em seus hábitos, fixa determinada norma, que vai sendo adotada por outros. De individual, o uso torna-se geral. A princípio, em determinada praça, que são os usos locais, expandindo-se depois para outras, formando os usos regionais ou nacionais. No comércio exterior, são os usos internacionais. O uso deve ser mantido de modo uniforme por certo tempo, e é observado como se fosse uma regra do direito e, portanto, com a convicção de que não se pode violá-lo impunemente. Assim, a exigência de sua formação consiste em prática uniforme, constante e por certo tempo. São exercidos de boa-fé e conforme as máximas comerciais, não podendo se contrapor à lei, quando esta for imperativa. A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 8 Jean Bodin,filósofo francês (1530-1569), costumava fazer as seguintes observações sobre as relações entre os costumes e as leis: "um rei faz leis, súditos produzem costumes”. Na verdade, existe uma diferença entre ambos: um costume estabelece-se gradualmente no decorrer de anos, enquanto as leis são instantâneas; costume não necessita ser imposto, leis devem ser impostas; costume não exige castigo, leis necessitam de penalidades; mas enquanto uma lei pode quebrar costumes, costumes não podem derrogar leis. Os usos e costumes integram-se nos contratos como cláusulas implícitas ou tácitas, e de tal forma ingressam nos negócios, de sorte que seu uso constante os tornam implícitos, sendo desnecessário enunciá-los expressamente. Recebem eficácia da simples vontade das partes. Os usos não podem ser opostos à norma legal. Não podem ser contra a lei. A assertiva deve ser tomada, todavia, em termos, pois na lei comercial há que distinguir as normas de ordem pública das normas simplesmente supletivas da vontade das partes. É óbvio que, não sendo a regra legal imperativa, de ordem pública, pode ser substituída por um uso a que as partes deem intencionalmente preferência. Em resumo são requisitos de aplicabilidade dos usos e costumes comerciais: continuidade – a prática deve ser continuada por longo período de tempo; uniformidade – a prática deve ser uniforme; conformidade legal a prática não deve ser contrária ao princípio da boa-fé, nem às tradições comerciais; não deve ser contrária à lei, à ordem pública e aos costumes comerciais. assentamento na Junta Comercial. Os usos são assentados na Junta Comercial, com respaldo no art. 32, inciso II, letra “e”, da Lei nº 8.934/94. Podem os usos ser classificados como usos propriamente ditos; conhecidos como usos de direito, e usos interpretativos, chamados também de usos de fato ou usos convencionais. Usos de fato São práticas comerciais cuja constante cria uma regra não escrita tão comum em determinados contratos, que mesmo não sendo escrita é subentendida. Por exemplo, as regras sobre avarias de produto. Usos de direito São imperativos que têm força de lei. Os usos interpretativos ou convencionais são os que decorrem da prática espontânea dos comerciantes em suas relações comerciais. São aqueles que derrogam a lei. Por exemplo, a lei civil veda a cobrança de juros sobre juros. Como essa afirmação não estar pacificada na doutrina, verifica-se a cobrança de juros sobre juros em certos tipos contratos. Usos de concorrência leal São aqueles que se destinam a evitar prejuízos dos comerciantes, vítimas de atos de concorrência desleal, porém não expressamente mencionados em lei. 1.3.2.2 Analogia Analogia é definida como o "ponto de semelhança, entre coisas diferentes" (FERREIRA, 2005, p. 12). A analogia, conforme afirma Nader (2008, p. 194), "é um recurso técnico que consiste em se aplicar, a uma hipótese não prevista pelo legislador, a solução por ele apresentada para outra hipótese fundamentalmente semelhante à não prevista". Secco (2007, p. 291) explica que a analogia "implica existir uma semelhança entre a hipótese tomada como padrão (aquela que está disciplinada por lei) e a hipótese a ser resolvida (sem que haja norma disciplinadora a respeito). A lei existente para uma situação é „arrastada‟ para suprir a falta de lei na outra". Esse autor vai além, ao dividir a analogia em "analogia legis" e "analogia juris". A primeira é resultado da utilização de determinada lei aplicável à hipótese semelhante em um caso que não esteja disciplinado em lei específica. A segunda, por sua vez, é a que resulta da aplicação de princípios jurídicos em casos similares. A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 9 Como exemplo clássico e tradicionalmente didático, citados por Secco (2007, p.292), têm-se: a) “se a lei diz que o indivíduo que causa prejuízo a outrem deve reparar o dano, o mesmo princípio deve estender-se, por analogia, às pessoas jurídicas; b) [...]; c) se a lei admite influência do dolo como causa de nulidade dos contratos, analogicamente, aplicará a mesma regra aos negócios jurídicos”. Para Ferraz Jr. (2001, p.126), "a analogia é forma típica de raciocínio jurídico pelo qual se estende a facti species de uma norma a situações semelhantes para as quais, em principio não havia sido estabelecida". Sendo assim, a analogia pode ser entendida como uma forma de análise mais acurada de casos complexos, tratando-se, portanto de um processo de raciocínio lógico pelo qual o juiz estende um preceito legal a casos não diretamente compreendidos na descrição legal. Em síntese, tem-se que diante de uma hipótese não contemplada pela lei, pode-se aplicar a norma pertinente a um caso semelhante, aqui denominado de analogia. Isso significa dizer que fatos de igual natureza devem observar disciplina idêntica. Deduz-se, então, que o uso da analogia se dará quando houver à necessidade de uma interpretação mais complexa, para se preencher as lacunas da lei. 1.3.2.3 Jurisprudência Jurisprudência é o conjunto de decisões tomadas pelos tribunais de determinada jurisdição, decorrentes de interpretações de leis, que devem ser aplicadas a casos concretos. Jurisprudência é a coletânea das decisões proferidas pelos Tribunais, resultantes da manifestação do pensamento coletivo, a que se chega através do voto individual de cada integrante da Turma Julgadora, convergente e no mesmo sentido dos votos dos demais membros (SECCO, 2007). É, também, "a interpretação dada à lei pelos julgadores, estabelecendo, de certa forma, o parâmetro pelo qual deverão ser julgados todos os casos idênticos" (SECCO, 2007, p. 306). Outrossim, designa, segundo orientação dada por Coelho (2004, p. 264), "o conjunto de princípios e doutrinas contidos nas decisões dos juízos e tribunais". Por outro lado, a jurisprudência é classificada por Secco (2007) em: a) secundum legem; e, b) praeter legem. A primeira é a interpretação dada à lei pelos juízes, com harmonia entre o texto legal e o sentido atribuído a ele. A segunda preenche as lacunas deixadas pela lei, é a considerada, efetivamente, fonte subsidiária do Direito. 1.3.2.4 Princípios gerais de direito Também são fontes subsidiárias. Estão no sistema jurídico e são descobertos pela analogia júris. Não geram normas; apenas revelam normação implícita, mediante invocação das ideias superiores, reitoras do ordenamento. A definição ideal de princípios gerais de direito é feita por Miguel Reale (apud SECCO, 2007, p. 300): A nosso ver, princípios gerais de direito são enunciações normativas de valor genético, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para a sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas. Cobrem, desse modo, tanto o campo da pesquisa pura do Direito quanto o de sua atualização prática. [...] A maioria dos princípios gerais de direito, porém, não constam de textos legais, mas representam contextos doutrinários ou dogmáticos fundamentais. Os princípios gerais do direito contêm múltipla natureza: a) são decorrentes das normas do ordenamento jurídico, ou seja, dos subsistemas normativos; princípios e normas não funcionam separadamente; ambos têm caráter prescritivo; atuam os princípios como fundamento de integração do sistema normativo e como limite da atividade jurisdicional; b) são derivados das ideias políticas e sociais vigentes, ou seja, devem corresponder ao subconjunto axiológico e ao fático, que norteiam o sistema jurídico, sendo, assim, um ponto de união entre consenso social, valores predominantes, aspirações de uma sociedade com o sistema de direito; A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 10 Conforme Venosa(2003), "os princípios gerais de direito são regras oriundas da abstração lógica do que constitui o substrato comum do Direito", sendo, portanto, de grande importância para o legislador, "como fonte inspiradora da atividade legislativa e administrativa do Estado". 1.4 Divisão e períodos do direito comercial 1.4.1 Ramos do direito comercial O direito comercial pode ser segmentado da seguinte forma: teoria geral do direito comercial – compreende a parte da teoria, do conteúdo, a sua conceituação, seus objetivos etc.; direito das empresas e das sociedades – compreende o estudo do empresário, das sociedades; direito industrial – compreende o estudo da indústria manufatureira; direito cambiário ou cartular – compreende o estudo dos títulos de crédito; direito das obrigações mercantis – compreende o estudo das operações e contratos mercantis, destacando-se: o direito bolsístico; o direito bancário; o direito securitário; o direito dos transportes; direito falimentar ou concursal – compreende o estudo das falências, recuperação de empresas e liquidação extrajudicial; direito da navegação o transporte por água – (comércio marítimo); o transporte pelo ar – (navegação aérea). 1.4.2 Períodos do direito comercial 1.4.2.1 Período subjetivo Sabe-se que tudo na vida, seja pessoas, organizações, seja países, o conhecimento, passa por distintos períodos, nem sempre lineares e constantes; às vezes, marcados por marchas e contramarchas. Com o direito comercial não foi diferente e teve alguns períodos até chegar ao atual, que é chamado de período subjetivo moderno. Em seus primórdios, o direito comercial era corporativista – corporações de ofícios, associações, burguesia. Assim, diz-se que transcorreu um período inicial onde o direito comercial era um direito corporativo, classista, só aplicado a uma classe, uma categoria específica. Isso aconteceu com o esfacelamento do Império Romano e a pulverização em vários estados ou nações; vários feudos, em que cada qual tinha seu critério organizador, regras e autoridades próprias. Cada feudo com seu domínio, poder, cada qual com seu suserano e vassalos e recursos diferentes. Os próprios comerciantes criaram então regras para se relacionarem com outros comerciantes, a fim de garantir a fluidez da circulação econômica. Através de suas corporações passaram a criar condições para que eles mesmos, à margem do estado, pudessem organizar suas atividades. Esse é o chamado período subjetivo. Com o passar dos tempos, percebeu-se que pessoas não comerciantes passaram a praticar atos que eram considerados comerciais, como o uso de títulos de crédito, entre eles a letra de câmbio. A partir daí, iniciou-se o processo paulatino de estender a proteção do regime jurídico mercantil àqueles que não eram comerciantes, mas que exerciam a sua profissão com a organização dos diversos fatores de produção. 1.4.2.2 Período objetivo O estado incorporou o direito comercial, constituído até então basicamente de regras consuetudinárias, fruto de costumes e convenções. Veio o Código Comercial Napoleônico, de 1807, que adotou a teoria dos atos de comércio. Estabeleceu que eram mercantis determinados atos apresentados numa lista e quem fizesse da prática desses atos, profissão habitual, tornava- se comerciante. Este era o período objetivo. Objetivo porque se o ato estivesse arrolado na lista, era reputado mercantil. A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 11 1.4.2.2 Período subjetivo moderno Chega-se então ao período atual com a contemporânea teoria da empresa. Evoluiu-se do direito que regulava a mera prática de atos e seus autores para o direito da atividade econômica organizada, que tanto pode abarcar objeto civil quanto mercantil, desde que a atividade seja feita de forma estruturada, organizada, articulando os fatores de produção. Passou-se assim, a abranger o empresário civil prestador de serviço, pouco importando o objeto de sua atividade, mas sim a organização dos distintos fatores de produção (capital, mão-de-obra, tecnologia, matéria- prima, insumos), visando ao lucro. O quadro a seguir resume esses períodos: 1º período: subjetivo, classista, corporativista; 2º período: objetivo – regula atos praticados por comerciantes e não comerciantes, desde que reputados pela lei como mercantis – teoria mista; 3º período: subjetivo moderno – ideia de empresa e as questões a ela relacionadas. 1.4.3 Fases do direito comercial brasileiro 1808 até 1850 – data da promulgação do Código Comercial Brasileiro; 1850 até 1930 – data que assinala o fim da Primeira República; 1930 até hoje – período de início da intervenção estatal na atividade privada. Desde a sua promulgação em 1850 até então, diversas leis, decretos e resoluções complementaram o Código Comercial. Entretanto a maior modificação ocorrida se deu com o Código Civil de 2002, que revogou toda a primeira parte do Código Comercial. 1.5 Comerciante e atos de comércio 1.5.1 Conceito de comerciante É a pessoa física ou jurídica, que realiza em caráter profissional, atos de intermediação, com o intuito de lucro. É a pessoa física ou jurídica que de maneira profissional, procura, na qualidade de intermediário, fazer circular as riquezas com o intuito de obter lucro. Comerciante é a pessoa que pratica atos de comércio (mercancia), habitualmente com o intuito de lucro. Em se tratando de direito comercial, comerciante é o sujeito mercantil que realiza os atos de comercio, e, nesse contexto, o direito comercial deixou de ser o direito dos comerciantes e se tornou o direitos dos atos de comércio. 1.5.2 Mercância versus atos de comércio Para entender a essência dos atos de comércio, basta compreender o que vem a ser mercância. De acordo com o art. 19 do Regulamento nº 737 de 1850, considera-se mercância: a compra e venda ou troca de efeitos móveis ou semoventes, para vender por grosso ou retalho, na mesma espécie ou manufaturados, ou para alugar o seu uso; as operações de câmbio, banco e corretagem, expedição, consignação e transporte de mercadorias, de espetáculos públicos; as empresas de fábricas, de comissões de depósito; os seguros, fretamento, riscos e quaisquer contratos relativos ao comércio marítimo; a armação e expedição de navios. Atos de comércio são os atos que servem para caracterizar a matéria comercial e, consequentemente, o campo de atuação do direito comercial. São atos praticados pelos comerciantes, necessários ao exercício de sua profissão e os reputados pela lei como comerciais. Por exemplo, a letra de câmbio e nota promissória. Qualquer pessoa que praticar um desses atos estará praticando atos de comércio. São atos praticados pelo comerciante em função de sua profissão e aqueles que a lei discricionariamente reputa de comerciais. A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 12 1.5.3 Divisão dos atos de comércio A legislação comercial brasileira adotou a teoria dos atos de comércio, com a homologação do Regulamento 737, de 25 de novembro de 1850, atualmente revogado, mas que regulamentava a ordem judicial no processo comercial. O seu artigo 19 relacionavam os atos de comércio que eram reconhecidos pelo direito brasileiro, a saber: 1.5.3.1 Atos de comércio por natureza Também chamados de atos subjetivos são aqueles que nascem das atividades dos comerciantes. São aqueles que constituem o exercício normal do comércio. Exemplo. As operações de compra e venda ou troca, revenda de coisas móveis ou semoventes para os vender a grosso ou a retalho, na mesma espécie ou manufaturados, ou para alugar o seu uso; as empresas de fábricas, de comissões, de depósito, de expedição, consignação, etransporte de mercadorias. (Art. 19 do Regulamento nº 737 de 1.850). 1.5.3.2 Atos de comércio objetivo São atos que não possuem características próprias. A sua existência é subordinada à vontade do legislador. São aqueles reputados comerciais por determinação da lei. Por exemplo: as operações com letra de câmbio e nota promissória; as operações de câmbio (art. 19 do Regulamento nº 737 de 1.850); as operações bancárias (art. 19 do Regulamento nº 737 de 1.850); as operações de mediação nos negócios comerciais – corretagem (art. 19 do Regulamento nº 737 de 1.850); as operações com bilhete de mercadorias; as operações relativas a seguros, fretamento, risco e quaisquer contratos relativos ao comércio marítimo (art. 19 do Regulamento nº 737 de 1.850); as operações de armação e expedição de navios (art. 19 do Regulamento nº 737 de 1.850); as operações de espetáculos públicos (art. 19 do Regulamento nº 737 de 1.850); as operações de empresas de construção civil (por força da Lei de nº 4068/62); os atos referentes às sociedades anônimas, por exemplo, operações com imóveis; as operações de seguros; as operações com títulos da dívida pública; as operações relativas à navegação aérea. 1.5.3.3 Atos de comércio por conexão Também conhecidos por atos de comércio por dependência ou atos acessórios – são aqueles que, em sua essência são civis, mas se transformam em comerciais quando praticados com a finalidade de facilitar o exercício da profissão comercial. Exemplo: a compra de um balcão, de uma vitrina. Atenção! Na transação de compra e venda de um par de sapatos, tem-se que: o comerciante – pratica um ato comercial; o freguês – pratica um ato civil. 1.5.4 A forma como critério de comercialidade Independentemente do objetivo da atividade e das suas características, a lei determinou que se considerassem comerciais quaisquer atividades exercidas através de sociedade anônima. Trata- se, pois, do critério de comercialidade não pelo objetivo, mas pela forma. Exemplo. Se um produtor rural exerce atividade agrícola, explorando sua fazenda, está fora do direito comercial, se, porém, se reúne a mais um, no mínimo, e constitui uma SA – sociedade anônima para a exploração da mesma fazenda, passará para o âmbito do direito comercial. Trata-se de um ato de comércio por força da lei. A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 13 1.6 Conceito econômico e jurídico de comércio 1.6.1 Comércio: conceito econômico O conceito econômico de comércio trata da produção e geração de riqueza. Sendo assim, comércio, do ponto de vista econômico, é o ramo de produção econômica que faz aumentar o valor dos produtos pela interposição entre produtores e consumidores a fim de facilitar a troca de mercadorias. Comércio é a atividade humana, de caráter especulativo, que consiste em pôr em circulação a riqueza produzida, tornando disponíveis bens e serviços. Como fato social e econômico, o comércio é uma atividade humana que põe em circulação a riqueza produzida, aumentando-lhe a utilidade. Mais do que troca o comércio é aproximação. A economia de troca (economia de escambo) evoluiu para a economia de mercado (economia monetária). O produtor já não mais produz para a troca, visando ao imediato transpasse de sua mercadoria em contraposição com a aquisição da de outro, com quem opera. Passa a produzir para vender, adquirindo moeda, para aplicá-la como capital em novo ciclo de produção. Pode, assim, o produtor especializar-se numa só linha de produção, para a qual se considera mais hábil ou que melhor proveito lhe proporciona. Aparelha-se, dessa forma, o comércio para desempenhar a sua função econômica e social, unindo indivíduos e aproximando os povos, tornando-se elemento de paz e solidariedade, numa intensa ação civilizadora. Em seus fundamentos, portanto, encontra-se arraigada a ideia de troca. É o tráfico mercantil, expressão comum para designar a atividade comercial. Mas para vender a riqueza produzida é necessário transportá-la para lugares onde, não existindo ou sendo escassa, adquira maior utilidade, ou desejabilidade, como falam os economistas atuais. A noção econômica apresentada por Rocco (apud BERTOLDI e RIBEIRO, 2014, p.29) é a de que: "o comércio é aquele ramo de produção econômica que faz aumentar o valor dos produtos pela interposição entre produtores e consumidores, a fim de facilitar a troca das mercadorias". Em síntese, diz-se que o conceito econômico de comércio, refere-se à atividade humana de caráter especulativo, que consiste em pôr em circulação a riqueza produzida, tornando disponíveis bens e serviços. 1.6.2 Comércio: conceito jurídico Do o ponto de vista jurídico, comércio é o complexo de atos de intromissão/troca entre produtor e o consumidor, que, habitualmente, com fins de lucros, realizam, promovem, ou facilitam a circulação dos produtos da natureza e da indústria, para tornar mais fácil e pronta a oferta. Desse conceito, extraem-se os seguintes elementos integrantes do comércio, essenciais para a sua caracterização jurídica e a do comerciante: mediação ou troca, fim lucrativo e profissionalidade (habitualidade ou continuidade). Na mediação ou troca se concretizam os atos de intromissão ou mediação entre produtor e consumidor; os fins lucrativos materializam a especulação como remuneração dos fatores de capital utilizados no bem ou serviço; de sorte que os atos de intromissão ou mediação existentes entre produtor e consumidor ocorrem de forma habitual e não eventual. Juridicamente, comércio é o complexo de operações efetuadas entre produtor e consumidor, exercidas de forma habitual, visando ao lucro, com o propósito de realizar, promover ou facilitar a circulação de produtos da natureza e da indústria, na forma da lei. Quando o direito se preocupa com as atividades do comércio, para tutelá-lo com regras jurídicas, amplia por demais o seu conceito. Daí o conceito econômico não se ajustar nem coincidir com o seu conceito jurídico. Muitas atividades, relacionadas com a circulação da riqueza - como as empresas agrícolas e artesanais, mineração, os negócios imobiliários - escapam ao conceito jurídico de comércio, embora se compreendam em seu conceito econômico. E, no entanto, muitas atividades, que escapam ao conceito econômico, integram-se no seu conceito jurídico, por exemplo, as letras de câmbio e as notas promissórias, que podem ser sacadas ou emitidas por pessoas não comerciantes para fins civis. Um paralelo entre o conceito econômico e o jurídico de comércio se evidencia no seguinte quadro: A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 14 Conceito econômico Conceito jurídico mediação/troca mediação/troca ramo de produção econômica fins lucrativos aumento do valor dos produtos (geração de riqueza) habitualidade (não eventualidade, implicando profissionalidade) 2 DIREITO EMPRESARIAL Com a promulgação do Código Civil de 2002, foi inserido no ordenamento jurídico brasileiro o direito empresarial, revogando-se o direito comercial, juntamente com a primeira parte do Código Comercial. Perdeu valia aquele direito comercial, que era sustentado e regulado pela teoria dos atos de comércio, dependendo assim, da descrição legal dos atos comerciais para determinar quais atividades eram tuteladas. Quantas atividades ficavam de fora da tutela daquele direito! Como forma de resolver o problema de inúmeras atividades econômicas não contempladas à luz dos atos de comércio, adveio o direito empresarial, fundamentado na teoria da atividade da empresa, sendo esta a atividade economicamente organizada com o fim de lucro. Ressalta-se o fato de a substituição do direitocomercial pelo direito empresarial ou a substituição do termo comerciante pelo termo empresário, vai além do que se imagina. Observa-se, pois, a modificação de toda uma base teórica por outra de maior extensão e, consequentemente, mais compatível com a realidade do País. O atual direito empresarial regula a atividade economicamente organizada, com o fim de lucro, e desenvolveu-se a partir do direito comercial. A compreensão dessa afirmação remonta todo o processo de historicidade do direito comercial, destacadamente, os atos de comércio, que tão pobremente constituía o objeto de estudo daquela disciplina. Observa-se que somente as atividades elencadas na seção (1.5) desse estudo constituem atividades dos comerciantes, e, sendo assim, vários grupos de atividades econômicas eram excluídos, haja vista a prestação de serviços, as atividades: de extrativismo, agropecuária, mineração, compra e venda de imóvel, transporte de pessoas, entre outras. Assim, as pessoas que exploravam de forma organizada essas atividades não podiam aproveitar ou se beneficiar do instituto da recuperação empresarial, falência, de linha de créditos especiais para comerciantes. Essas atividades, apesar de lucrativas e de açambarcarem boa fatia da economia, deixavam a pessoa que as praticava excluídas das disposições comerciais e sob a regulamentação do direito civil. 2.1 Conceito de direito empresarial Conforme já foi dito a teoria dos atos de comércio foi substituída pela teoria da empresa, cuja essência se sedimenta na ampla noção da atividade empresarial, como aquela que é exercida de forma organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços, com o intuito de lucro, sendo, portanto, denominada de atividade econômica. Com base nessa premissa, pode-se afirmar que o “direito empresarial é definido como um complexo de regras que disciplina a atividade econômica organizada, dirigida à satisfação das necessidades do mercado, e todos os atos nos quais essa atividade se concretiza.” (TOMAZETTE, 2016, p.15, grifo nosso) Esse ramo do direito está regulado no Livro II do Código Civil de 2002, apontando a empresa como elemento do núcleo central, apesar de a legislação não conceituar o termo empresa. O que se tem realmente é o conceito de empresário expresso no art. 966, cuja dissecação remete à atividade economicamente organizada para a produção ou circulação de bens e serviços. 2.2 Objeto do direito empresarial Conforme as abordagens até aqui, comentadas, entende-se que o empresário, a despeito de ser o sujeito do direito empresarial, não é a sua peça motriz, pois, esse ramo do direito tem a empresa, ou a atividade empresarial, como seu objeto. É a teoria da empresa com destaque na atividade econômica que faz a base do direito empresarial. A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 15 Ainda sobre a afirmação acima, tem-se que, com a vigência do Código Civil de 2002, o conceito de empresa sob o prisma da teoria da atividade empresária, não é o conceito jurídico expresso na seção (1.6.2), mas sim, o econômico, que se vincula à ideia central da organização dos fatores da produção: terra ou natureza, trabalho, capital, tecnologia e capacidade administrativa, indispensáveis à realização da atividade econômica. Neste sentido Coelho (2002, p.18) afirma que é a atividade, cuja marca essencial é a obtenção de lucro com o oferecimento ao mercado de bens ou serviços, gerados estes mediante a organização dos fatores de produção – força de trabalho, matéria-prima, capital e tecnologia. Se se retomar o conceito de empresário com base no art. 966 do CC/02, que diz ser empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços, deduz-se, concomitantemente, que a empresa, implícita nesse conceito, passa a representar a atividade exercida pelo empresário. Isso permite concluir que a empresa não é um sujeito de direito, mas sim, objeto. 2.3 Consequências advindas com o direito empresarial A vigência do Código Civil de 2002, provocou a substituição da teoria dos atos de comércio pela teoria da empresa e o direito comercial passa a ser baseado e delimitado na atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços, libertando-se da arbitrária divisão das atividades econômicas segundo o seu gênero, como previa a teoria dos atos de comércio. Com a teoria da empresa, o direito comercial, agora, direito empresarial, passa a ser baseado e delimitado na atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços, libertando-se da arbitrária divisão das atividades econômicas segundo o seu gênero, como previa a teoria dos atos de comércio. A teoria dos atos de comércio fundamentava-se no elemento nuclear da troca, sobretudo para as atividades integrantes daqueles atos. Essa teoria foi afastada ou suplantada pela teoria da empresa, caracterizada pela atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços. Essa mudança possibilitou que atividades antes não tuteladas pelo direito comercial, tais como as decorrentes da prestação de serviço, o extrativismo, a agricultura e a pecuária, a mineração, dali em diante puderam ser inseridas e contempladas pelos institutos antes proibidos, por exemplo, a falência. Com a teoria da atividade empresarial, a empresa passou a ser o centro do direito empresarial, com conceituação econômica: toda atividade organizada, com o fim de lucro, gerando também o conceito de empresário como todo aquele que exerce a atividade empresarial é considerado o sujeito de direito de direito, enquanto a empresa é objeto de direito. (VENOSA. 2008). Com essa mudança, o direito que antes regulamentava os atos de comércio e o comerciante, agora passou a se preocupar, sobretudo, com a atividade economicamente organizada. De acordo com Martins (2007, p. 15, grifo nosso), O direito empresarial não se trata de um direito novo, mas de novas formas empregadas pelo direito comercial, para melhor amparar o desenvolvimento do comércio. Constituindo a empresa em um organismo subordinado ao empresário, apesar de este dela fazer parte, como objeto de direito não poderá ter regras próprias a regulá-la independentemente. O chamado direito das empresas, quando se refere às empresas comerciais, é o mesmo direito comercial; se, entretanto, uma regra jurídica se referir a uma empresa não comercial, teremos uma regra a regular fatos simplesmente econômicos, mas não-comerciais. Muitos doutrinadores entendem que o direito empresarial não trouxe nenhuma novidade substancial para o direito comercial, apenas houve uma subdivisão do segundo para permitir que atividades antes reguladas pelo direito civil, fossem tuteladas por esse. Esse pensamento reflete no conceito de empresário e de comerciante. Em síntese, a mudança de teoria que fundamenta o direito empresarial apresenta as seguintes consequências: a) a substituição do elemento nuclear da troca para a atividade empresarial, o que possibilitou que as atividades não protegidas, agora o fossem; A Sabedoria é a única arma invencível de um povo 16 b) a retirada dos atos de comércio, sem vinculação entre si e que dependia de descrição legal para a sua configuração, e a inserção da empresa como a atividade economicamente organizada, com o fim de lucro; c) a passagem da pessoalidade do Direito Comercial, com a figura do comerciante, para a impessoalidade do Direito Empresarial, que é organizado a partir da empresa. EXERCÍCIOS 01) Qual o conceito econômico de comércio? 02) Qual o conceito jurídico de comércio? 03) Quais os elementos essenciais que caracterizam o comércio, conforme sua conceituação clássica? 04) Qual o papel do Estado frenteà atividade comercial? 05) Qual o conceito de direito comercial? 06) Quais as características do direito comercial? 07) Quais são as fontes do direito comercial? 08) O que são usos e costumes comerciais? 09) De que espécies podem ser os usos e costumes comerciais? 10) Quais os requisitos básicos para que determinada prática seja considerada uso comercial? 11) Como se provam os usos e costumes comerciais? 12) Qual o principal diploma legal que disciplina o direito comercial no Brasil? 13) As normas do direito comercial são simplesmente desvinculadas do direito civil? 14) Qual o campo de aplicação do direito comercial? 15) O que é mercância? 16) Como se divide o direito comercial? 17) Como se compreende o período subjetivo do direito comercial? 18) A transação de produto agrícola corresponde a um ato de comércio? 19) O que estuda o direito cambiário? 20) Em se tratando das relações de direito, como você interpreta a compra de um par de sapatos feita por você? 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