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UNIDADE III CONCEITUAÇÃO PRELIMINAR AO ESTUDO DAS PESSOAS JURÍDICAS


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A Sabedoria é a arma invencível de um povo! 
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE 
DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE 
DISCIPLINA: LEGISLAÇÃO SOCIETÁRIA E COMERCIAL 
PROFESSOR: ALBERTO SOARES 
 
UNIDADE III 
 
CONCEITUAÇÃO PRELIMINAR AO ESTUDO DAS PESSOAS JURÍDICAS 
 
SUMÁRIO 
1 TERMINOLOGIA BÁSICA - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 1.1 Pessoa x personalidade jurídica - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 1.1.1 Tipos de pessoas - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 1.1.1.1 Pessoa natural - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 1.1.1.2 Pessoa jurídica - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 1.1.2 Personalidade jurídica - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - 
 1.1.2.1 Início da personalidade jurídica - - - - - - - - - - - 
 1.1.2.2 Fim da personalidade jurídica - - - - - - - - - - - - - 
 1.1.2.3 Desconsideração da personalidade jurídica - - 
 1.2 Capacidade x incapacidade jurídica - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 1.2.1 Capacidade jurídica - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 1.2.2 Incapacidade jurídica - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 1.2.2.1 Cessação da incapacidade jurídica - - - - - - - - - 
 1.3 Representação da pessoa jurídica - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 1.3.1 Preposto - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 1.4 Classificação da pessoa jurídica - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 1.4.1 Pessoa jurídica de direito público interno- - - - - - - - - - - 
 1.4.2 Pessoa jurídica de direito público externo - - - - - - - - - - 
 1.4.3 Pessoa jurídica de direito privado - - - - - - - - - - - - - - - - 
2 OUTRAS DEFINIÇÕES BÁSICAS - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.1 Obrigação - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.1.1 Elementos da obrigação - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.1.2 Classificação da obrigação - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.1.2.1 Obrigações positivas - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.1.2.2 Obrigações negativas - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.1.3 Extinção da obrigação jurídica - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.1.3.1 Principal forma de extinção: pagamento - - - - - 
 2.1.3.2 Dissecação do conceito de pagamento - - - - - - 
 2.1.3.3 Elementos fundamentais do pagamento - - - - - 
 2.1.3.4 Regras do pagamento - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.1.3.5 Tipos de pagamento: direto x indireto - - - - - - - 
 2.1.3.6 Formas de pagamento indireto - - - - - - - - - - - - 
 Pagamento em consignação - - - - - - - - - - - - - - 
 
 
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 Pagamento com sub-rogação - - - - - - - - - - - - - 
 Imputação de pagamento - - - - - - - - - - - - - - - - 
 Dação em pagamento - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 Novação - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 Compensação - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 Confusão - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 Remissão - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.2 Solidariedade - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.3 Responsabilidade - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.3.1 Elementos essenciais da responsabilidade - - - - - - - - - 
 2.3.1.1 Conduta humana - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.3.1.2 Dano - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.3.1.3 Nexo de causalidade - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.3.2 Responsabilidade solidária - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.3.3 Responsabilidade subsidiária - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.4 Nome - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.4.1 Nome da pessoa natural - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.4.2 Nome empresarial - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.4.2.1 Princípios regentes do nome empresarial - - - - 
 Princípio da veracidade - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 Principio da novidade - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.4.2.2 Espécies de nome empresarial - - - - - - - - - - - - 
 Firma - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 Firma individual - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 Firma social - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 Denominação - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.4.3 Nome de fantasia e nome de domínio - - - - - - - - - - - - - 
 2.4.3.1 Nome de fantasia - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.4.3.2 Nome de domínio - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.5 Nome do empresário individual - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.6 Nome do empresário individual de responsabilidade limitada 
 2.7 Nome das sociedades empresárias e das sociedades simples 
 2.7.1 Nome das sociedades empresárias - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.7.2 Nome das sociedades simples - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.8 Nome das demais pessoas jurídicas - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.9 Extinção do direito ao nome empresarial - - - - - - - - - - - - - - - - 
 2.10 Considerações sobre o nome empresarial - - - - - - - - - - - - - - - 
2 TEORIA DA AGÊNCIA - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 EXERCÍCIOS - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 RFERÊNCIAS - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
 
 
 
 
 
 
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1 TERMINOLOGIA BÁSICA 
Para melhor compreensão do estudo das sociedades, e da elaboração dos atos constitutivos que 
representam os instrumentos de registro de empresas junto aos órgãos competentes, é necessário 
que seja feito um estudo dos conceitos básicos que seguem: pessoa, personalidade, capacidade, 
obrigação, responsabilidade, solidariedade, subsidiariedade, nome empresarial etc. 
 
1.1 Pessoa x personalidade jurídica 
Pessoa e personalidade são termos que sempre caminham juntos, quer na psicologia, quer na 
sociologia, quer no direito, que é o foco desse estudo. A pessoa sempre é considerada o sujeito da 
relação jurídica, e a personalidade, como aptidão jurídica sempre está vinculada à pessoa, 
independentemente da consciência ou vontade da pessoa. Sendo assim, a pessoa em qualquer 
estado que se encontre, recém-nascida, louca, velha caduca, todas são igualmente detentoras de 
personalidade jurídica. 
 
Toda pessoa é dotada de personalidade, a qual se inicia com o nascimento, embora os direitos do 
nascituro sejam resguardados pela ordem jurídica, uma vez que ela tem personalidade, mas não 
tem capacidade. 
 
Pessoa é uma palavra que vem do latim persona e que indica um ser ou criatura humana, um 
homem ou mulher, enquanto ser moral. Uma pessoa é um ser consciente, com arbítrio próprio e, 
por isso, partindo do princípio que apresenta plena capacidade mental, é responsável pelos seus 
atos. 
 
Pessoa é o ente físico ou coletivo suscetível de direito e obrigações. É o ser dotado de 
personalidade. Pessoa é o sujeito de direitos e obrigações, entendendo-se por sujeito de direito, 
aquele que é sujeito de um dever jurídico. 
 
Toda pessoa é capaz de direitos e deveres ou obrigações na ordem civil, os quaisexpressam uma 
relação jurídica. Assim, pode-se afirmar que a pessoa é o titular de uma relação jurídica, ou seja, 
toda pessoa tem capacidade para ser titular de direitos e obrigações. 
 
Do exposto, deduz-se que: 
 a relação jurídica é um vínculo que só une pessoas; 
 como esse vínculo entre pessoas se faz pela reciprocidade de direitos e obrigações, então 
apenas as pessoas adquirem direitos e assumem obrigações; 
 em decorrência disso, os sujeitos de direito são as pessoas. 
 
A relação jurídica se materializa através dos fatos jurídicos, que são acontecimentos em virtude dos 
quais as relações de direitos e obrigações nascem e se extinguem. Esses fatos se dividem em: 
 fato jurídico natural: é aquele que advém de um fenômeno natural, sem a intervenção da 
vontade humana, produzindo efeito jurídico, por exemplo, o nascimento, a maioridade, a morte, 
o decurso de tempo etc. 
 fato jurídico humano: é aquele que advém de um acontecimento que depende da vontade 
humana, abrangendo tanto os lícitos como os ilícitos. 
 
1.1.1 Tipos de pessoa 
Os tipos de pessoas são os seguintes: pessoa natural e pessoa jurídica, entretanto, muitos 
defendem um único tipo de pessoa, a natural, já que a pessoa jurídica não passa de uma invenção 
da lei e que, para o exercício de seus direitos e obrigações, ela demanda a atuação de uma pessoa 
natural, denominada, preposto. 
 
1.1.1.1 Pessoa natural 
A pessoa física ou pessoa natural é todo ser humano considerado individualmente, sujeito de 
direitos e de obrigações. A personalidade natural ou personalidade civil começa com o 
nascimento com vida. Não basta, assim, que nasça; é preciso que nasça com vida, que ocorra, 
pelo menos, uma troca oxicarbônica, ou seja, um processo completo de respiração. 
 
 
 
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O começo da personalidade natural inicia-se com o nascimento com vida, ainda que o recém-
nascido venha a falecer instantes depois, ressalvados desde a concepção os direitos do nascituro. 
 
Seguindo essa ordem, os indivíduos são classificados de acordo com a personalidade. A 
personalidade jurídica é a capacidade de uma pessoa adquirir direitos e obrigações. É uma das 
características necessárias para o indivíduo ser considerado um sujeito do direito. 
 
Um indivíduo adquire essa característica após o seu nascimento com vida (nascituro), ou seja, 
mesmo que o recém-nascido sobreviva ou não após ter saído do ventre de sua mãe, tornou-se um 
sujeito do direito. 
 
1.1.1.2 Pessoa jurídica 
Conforme já foi dito, o sujeito da relação jurídica é sempre o homem. Entretanto, pode acontecer 
de organismos que não são homens exercerem a titularidade de direitos e obrigações. Esses 
organismos são as pessoas jurídicas. Trata-se de uma criação da lei. 
 
Pessoa jurídica é toda entidade resultante de uma organização humana, com vida e patrimônio 
próprios, a qual, de forma semelhante às pessoas físicas, sujeita-se a direitos e obrigações. 
 
A pessoa jurídica é a denominação dada ao conjunto ou agrupamento de pessoas naturais que se 
unem para atingir seus fins e objetivos. É o ser abstrato, constituído por uma pluralidade de 
pessoas físicas, ao qual o Direito confere personalidade e, em consequência, capacidade de 
adquirir direitos e contrair obrigações. Assim, pode-se afirmar que essas entidades atuam na vida 
jurídica com personalidade emprestada pela lei, diversa da dos indivíduos que a compõem. 
 
Do exposto, extraem-se as seguintes características das pessoas jurídicas: 
 pluralidade de pessoas; 
 personalidade própria, distinta das pessoas que a compõem; 
 patrimônio próprio; 
 vida própria, independente da dos seus membros (elemento de empresa). 
 
As pessoas jurídicas não resultam, necessariamente, de uma sociedade de pessoas naturais. 
Podem ser uma consequência de uma junção de pessoas naturais e jurídicas e de pessoas 
jurídicas com outras pessoas jurídicas. É possível, ainda, o aparecimento de uma pessoa jurídica, 
sem que decorra de sociedade nenhuma. Ë o caso das fundações, nas quais existe uma 
personificação – atribuição de personalidade – a um patrimônio que alguém resolveu destinar a fins 
determinados. 
 
1.1.2 Personalidade jurídica 
É a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações. Personalidade jurídica é a aptidão 
para ser titular autônomo de relações jurídicas. É inerente à capacidade jurídica ou capacidade de 
exercício de direitos, sendo que a capacidade jurídica e a capacidade de exercício de direitos são 
conceitos distintos. 
 
A personalidade se materializa na capacidade que é a aptidão para ser sujeito de direito e 
obrigações a exercer por si ou por outros, nos atos da vida civil. 
 
O direito concede personalidade a certos grupos de pessoas, organizados segundo determinadas 
normas. Esse atributo permite a esses agrupamentos serem titulares de direitos e obrigações. Ao 
conferir aos agrupamentos o atributo da personalidade, o direito faz deles pessoas, chamadas 
costumeiramente pessoas jurídicas (sujeito de direito). 
 
1.1.2.1 Início da personalidade jurídica 
Dado que a pessoa jurídica uma criação do direito, não pode ela surgir arbitrariamente. Terá que 
seguir uma estrutura legal determinada. Uma pessoa jurídica estrutura-se, primeiramente, através 
de um ato jurídico específico do qual devem participar as pessoas que a integram. Esse ato 
jurídico é formalizado através de contrato, de estatuto que deve indicar exatamente seus elementos 
 
 
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caracterizadores: nome (firma ou denominação), domicílio (sede), finalidade de sua atividade, 
duração, natureza jurídica e sócios. 
 
Esse contrato ou estatuto deve ser registrado em repartição competente, ganhando, assim, o novo 
ente personalidade jurídica, com o que passará a ser titular de direitos e obrigações e de 
capacidade de agir. 
 
A existência da pessoa jurídica começa com o seu registro no Registro Público competente, ou 
seja, as pessoas jurídicas simples no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas e as 
pessoas jurídicas empresárias, no Registro do Comércio (Junta Comercial). 
 
1.1.2.2 Fim da personalidade jurídica 
O fim das pessoas jurídicas se dá com a baixa do seu registro no Registro Público competente, 
onde foram inicialmente registradas. Termina a existência da pessoa jurídica de direito privado: 
 pela dissolução deliberada entre os seus membros, salvo o direito da minoria e de terceiros; 
 pela sua dissolução quando determinada por lei; 
 pela sua dissolução em virtude de ato do governo que casse a autorização para seu 
funcionamento. 
 
1.1.2.3 Desconsideração da personalidade jurídica 
A teoria da desconsideração da personalidade jurídica permite que o juiz, em caso de fraude e de 
má-fé, desconsidere o princípio de que as pessoas jurídicas têm existência distinta de seus 
membros e autorize a penhora de bens particulares dos sócios (Código Civil, artigo 50). 
 
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou 
pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público 
quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de 
obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa 
jurídica. 
 
Foi dito que uma das características da pessoa jurídica é a existência de patrimônio distinto do 
patrimônio dos seus sócios e que ela assume todos os atos praticados, entretanto, com o objetivo 
de coibir a utilização temerária e fraudulenta das sociedades por seus próprios sócios é que surgiu 
nos tribunais ingleses e norte-americanos a chamada doutrina do disregard of legal entity, por nós 
conhecida como teoria da desconsideração da personalidadejurídica. Por essa teoria, é permitido 
que os credores invadam o patrimônio pessoal dos sócios que se utilizam maliciosamente da 
sociedade com o objetivo claro de prejudicar terceiros. (BERTOLDI; RIBEIRO, 2014). 
 
Salienta-se que com a aplicação dessa teoria não se pretende anulara personalidade jurídica, mas 
tão somente, afastá-la em situações-limite, onde comprovada a sua utilização em desconformidade 
com o ordenamento jurídico e mediante fraude. 
 
No Brasil, o primeiro diploma legal que acolheu essa teoria foi o Código de Defesa do Consumidor 
(Lei 8.078/90), que, em seu art. 28, estabelece: “O juiz poderá desconsiderar a personalidade 
jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de 
poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social [...].” 
 
Acrescenta-se também que a desconsideração será efetivada quando houver falência, estado de 
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica, provocados por má administração. 
 
O parágrafo 5º do artigo acima determina ainda que “Também poderá ser desconsiderada a pessoa 
jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de 
prejuízos causados aos consumidores”. 
 
1.2 Capacidade x incapacidade jurídica 
Salienta-se o fato de que, embora todo ser humano seja dotado da qualidade de sujeito de direito a 
partir do nascimento e até a morte, nem todos podem exercer pessoalmente seus direitos. A tutela 
 
 
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do ordenamento jurídico leva em consideração as características da pessoa, tais como idade, 
situação mental, condição física, nacionalidade, entre outras. 
 
Algumas características, de forma consensual passaram a ser encaradas como fortes traços de 
preconceito, por exemplo, o sexo, a cor da pele a situação econômica etc. 
 
1.2.1 Capacidade jurídica 
É a aptidão para exercer o direito. É a maior ou menor extensão dos direitos de uma pessoa. É a 
medida jurídica da personalidade. Têm-se duas espécies de capacidade: 
 capacidade de gozo ou de direito: trata-se da aptidão oriunda da personalidade, para adquirir 
direito e contrair obrigações na vida civil; 
 capacidade de fato ou de exercício: trata da aptidão para exercer, por si, os atos da vida civil. 
 
1.2.2 Incapacidade jurídica 
É a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil, formando dois grupos distintos: a absoluta e a 
relativa. 
Incapacidade absoluta – quando houver proibição total do exercício do direito pelo incapaz, 
acarretando a nulidade se o realizar sem a devida representação legal. É o caso: 
 dos menores de 16 anos; 
 dos que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a 
prática dos atos da vida civil; 
 dos que mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. 
Incapacidade relativa refere-se àqueles que podem praticar, por si, os atos da vida civil, desde que 
assistidos por quem de direito os represente sob pena de anulabilidade do ato jurídico. É o caso: 
 dos maiores de 16 e menores de 18 anos; 
 dos ébrios habituais, dos viciados em tóxicos e dos que, por deficiência mental, tenham o 
discernimento reduzido; 
 dos excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; 
 dos pródigos. 
 
1.2.2.1 Cessação da incapacidade jurídica 
A incapacidade cessa: 
 quando o menor atingir 18 anos; 
 pela emancipação dos menores de 18 e maiores de 16 anos: 
a) pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, 
independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor 
tiver dezesseis anos completos; 
b) pelo casamento; 
c) pelo exercício do emprego público efetivo; 
d) pela colação de grau em curso de ensino superior; 
e) pelo estabelecimento civil ou comercial ou pela existência da relação de emprego, desde que 
em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. 
 
1.3 Representação da pessoa jurídica 
As pessoas jurídicas, como tal qualificadas, valem-se das pessoas naturais para a prática de seus 
atos. Esse agir através das pessoas naturais é também disciplinado pelo Direito no sentido de 
garantir não só os interessados de todos os seus integrantes, mas também os interesses de 
terceiros que com ela se relacionem. 
 
 
 
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Assim é que, no ato constitutivo, devem constar a pessoa natural ou as pessoas naturais que vão 
administrar e representar a pessoa jurídica quer em juízo, quer fora dele, ativa e passivamente. 
 
Se não houver a designação no ato constitutivo, a qualquer associado é lícito administrar e 
representar a sociedade. A lei exige que, no mesmo ato constitutivo das pessoas jurídicas, conste 
se seus membros respondem ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. 
 
De acordo com o Código Civil, art. 47, “Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos 
nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo.” E acrescenta pelo art. 48 que “Se a pessoa jurídica 
tiver administração coletiva, as decisões se tomarão pela maioria de votos dos presentes, salvo se o ato 
constitutivo dispuser de modo diverso.” 
 
Salienta-se o fato de que decai em três anos o direito de anular as decisões a que se refere o artigo 48, 
quando violarem a lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude, conforme preconiza o 
parágrafo único desse artigo. 
 
Em síntese, a representação da pessoa jurídica é feita na forma estipulada no estatuto ou contrato 
social, por seus diretores, conselheiros, gerentes, administradores, síndicos etc. ou através de 
mandato. 
 
1.3.1 Preposto 
É a pessoa designada para dirigir um serviço ou um negócio por delegação da pessoa competente. 
É o representante legal, com poderes de decisão, estabelecidos, no documento de propositura. 
 
No Brasil, o preposto é o representante, ou seja, a pessoa que representa outra. É também o 
delegado, aquele que é autorizado por alguém para representá-lo, aquele que tem seu cargo 
dependendo de autoridade superior. 
 
Preposto é aquele que representa o titular de uma empresa, dirige um serviço, pratica algum ato 
por delegação da pessoa competente, que é o preponente, aquele que constitui o preposto, em seu 
nome, sob sua dependência. 
 
O preposto pode ser um auxiliar direto, um empregado, um subordinado, uma pessoa que recebe 
ordens de outra, ou um profissional liberal designado para uma atividade específica. São os 
colaboradores permanentes ou temporários, com ou sem vínculo empregatício, que recebem 
poderes para representar a empresa perante terceiros. 
 
Entre os profissionais liberais, constituem exemplos clássicos de prepostos, os advogados e os 
contadores. 
 
1.4 Classificação da pessoa jurídica 
O nascimento da pessoa jurídica tem início com um ato jurídico ou com normas. Levando-se em 
conta essa formalidade, pode-se então classificar tais pessoas em: 
 pessoas jurídicas de direito público interno e externo; 
 pessoas jurídicas de direito privado. 
 
1.4.1 Pessoas jurídicas de direito público interno 
Pessoas jurídicas de direito público são aquelas geralmente criadas por lei, constituindo-se na 
representação jurídica de países, estados e municípios, além de outros entes que formam a 
chamada Administração Pública. 
 
São aquelas que nascem em razão de criação constitucional, lei especial e de tratados 
internacionais. Como exemplo, tem-se: 
 a União; 
 cada um dos estados da União; 
 os municípios legalmente constituídos; 
 o Distrito Federal e as autarquias; 
 as demais entidades de caráter público, criadas por lei. 
 
 
 
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As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus 
agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado o direito regressivo contra os 
causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. 
 
1.4.2 Pessoas jurídicas de direito público externo 
Pessoas jurídicas de direito público externo são, portanto, aquelas regulamentadas por normas de 
Direito Internacional e reconhecidas pela legislação interna. 
 
São aquelas que nascem de tratados internacionais. Têm-se aqui: 
 os estados soberanos: Brasil, França, Rússia, Tunísia... 
 a Santa Sé (Vaticano); 
 as entidades internacionais tais como 
ONU – Organização das Nações Unidas; 
FAO – Organização de Alimentos e Agricultura das Nações Unidas; 
FMI – Fundo Monetário Internacional; 
OEA – Organização dos Estados Americanos; 
 
1.4.3 Pessoas jurídicas de direito privado 
Aquelas que iniciam pelo agrupamento de pessoas sem a necessidade de qualquer ato 
administrativo de concessão ou autorização, salvo casos especiais. Como exemplos, têm-se: 
 as sociedades; 
 as fundações; 
 as associações. 
 
O processo de origem da pessoa jurídica de direito privado apresenta duas fases distintas: a fase 
do ato constitutivo e a do registro público. 
 
As pessoas jurídicas de direito público gozam de uma posição jurídica diferenciada em razão da 
supremacia dos interesses que o direito as encarregou de tutelar; já as de direito privado estão 
sujeitas a um regime jurídico caracterizado pela isonomia, inexistindo valoração diferenciada dos 
interesses definidos por elas. 
 
2 OUTRAS DEFINIÇÕES BÁSICAS 
Para dar continuidade a esse estudo, é necessário que se definam os seguintes termos: obrigação, 
solidariedade, responsabilidade, subsidiariedade, empresário e nome empresarial. 
 
2.1 Obrigação jurídica 
É o vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa tem de fazer ou de deixar de fazer alguma 
coisa. É o vínculo jurídico oriundo da lei ou de ato da vontade que compele a alguém a dar, a fazer 
ou não fazer algo economicamente apreciável em proveito de outrem. 
 
A obrigação se caracteriza como o vínculo jurídico transitório entre credor e devedor cujo objeto 
consiste numa prestação de dar, fazer ou não fazer. 
 
Em sentido amplo, obrigação refere-se a uma relação entre pelo menos duas partes e para que se 
concretize, é necessária a imposição de uma dessas e a sujeição de outra em relação a uma 
restrição de liberdade da segunda. O objeto dessa restrição da liberdade é a obrigação. 
 
Difere do dever, pois este não carece da sujeição de uma das partes. O dever refere-se a uma alta 
probabilidade da concretização de determinado comportamento, através da análise da interação 
entre a parte e a situação e a previsão de seu desenrolar. O dever aprecia o resultado do livre-
arbítrio individual, sem tentar influenciá-lo decisivamente; isso difere da obrigação.. 
 
2.1.1 Elementos da obrigação 
A obrigação é constituída de elementos subjetivos, objetivos e de um vínculo jurídico: 
 elemento subjetivo: formado pelos envolvidos: credor e devedor. 
 
 
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 elemento objetivo: formado pelo objeto da obrigação: a prestação a ser cumprida. 
 vínculo jurídico: determinação que sujeita o devedor a cumprir determinada prestação em favor 
do credor. 
 
2.1.2 Classificação da obrigação 
As obrigações podem ser classificadas em positivas e negativas, dependendo da prestação 
estabelecida. As positivas determinam a realização de alguma ação pelo devedor (obrigação de dar 
ou de fazer), enquanto as negativas determinam que o devedor se abstenha (deixar de fazer), de 
realizar alguma ação. 
 
A importância prática da classificação decorre da regulamentação legal tradicionalmente diferente 
com referência às obrigações de fazer e às obrigações de dar, em confrontação com a obrigação 
negativa, que importa numa abstenção, ou seja, em não praticar algum ato. 
 
2.1.2.1 Obrigações positivas 
As obrigações são positivas quando a prestação do devedor implica dar ou fazer alguma coisa. A 
obrigação de dar consiste em transferir a posse ou transmitir a propriedade de um objeto ao credor, 
enquanto a obrigação de fazer importa na realização de atos ou serviços no interesse do credor. 
A obrigação de “dar” e a de “fazer” podem ser assim expressas: 
 
 obrigação de dar - pode ser coisa certa ou incerta. No primeiro caso, o devedor não pode trocar 
a coisa contratada por outra (coisa determinada ou determinável); no segundo caso a coisa é 
indeterminada, tornando-se determinada no prazo em que for estipulado no contrato ou no 
momento da transmissão (tradição) da coisa. Quando se torna determinada, passa a ser uma 
obrigação de dar coisa certa. 
 Obrigação de fazer - consiste na prestação de um serviço por parte do devedor. 
 Obrigação nula - refere-se à troca de valores. 
 
2.1.2.2 Obrigações negativas 
As obrigações são negativas quando importam em uma abstenção. Assim, nesse tipo de 
obrigação, o devedor se abstém de fazer algo ou de dar algo. 
 
A abstenção é, portanto, o não agir através do qual o devedor cumpre sua obrigação de não fazer 
determinada coisa ou não se insurgir contra o agir autorizado de outrem. 
 
As obrigações negativas constituem modalidade obrigacional recorrente em nosso Direito, 
perceptível em diversas ocasiões cotidianas, como componente resultante das regras que 
disciplinam a vida em sociedade. 
 
A despeito de aparentarem ocorrer em casos reduzidos, essas obrigações estão presentes em 
diversos normativos, bem como em contratos variados e, não raras vezes, são objeto de sentença, 
o que põe em destaque sua relevância jurídica e sua importância social. 
 
Por sua natureza especial, diferente das obrigações de dar e fazer, que comportam um comando 
comissivo, as obrigações negativas regulam as abstenções necessárias por parte daqueles que 
devem um não fazer, ou seja, um comportamento omissivo em relação ao credor, que tem o direito 
de exigir que o devedor se abstenha de realizar certos atos. 
 
Ao contrário da obrigação positiva, que exige um comportamento comissivo do devedor 
obrigado, na obrigação negativa o comportamento que se lhe impõe é de inércia, de não fazer, 
logo, omissivo. Enquanto na obrigação positiva a omissão importa em descumprimento, na 
obrigação negativa a omissão revela obediência. 
 
2.1.3 Extinção da obrigação jurídica 
A obrigação jurídica se extingue, via de regra, pelo seu adimplemento ou cumprimento, liberando-
se, dessa forma, o devedor. 
 
 
 
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O cumprimento significa pagamento, solução voluntária pelo devedor da prestação ao devida ao 
credor. O pagamento é a principal forma de extinção da obrigação, já que a obrigação nasce para ser 
satisfeita. A maioria das obrigações são cumpridas através do pagamento, de modo que o devedor fica 
liberado e isento do processo de cobrança que deveria ser impetrado pelo credor. 
 
2.1.3.1 Principal forma de extinção 
 Pagamento - (CC, arts. 304/333) 
Pagamento, em sentido estrito, é a execução voluntária da prestação de dar, fazer ou não fazer, no 
tempo, forma e lugar convencionados, por exemplo, pagar uma dívida em dinheiro; entregar ou 
restituir uma coisa; pintar um quadro prometido; não impedir a servidão de passagem do vizinho; 
obrigar-se a não levantar um muro. 
 
O pagamento pressupõe a existência de uma dívida e a vontade de extingui-la (animus solvendi), 
intenção de pagar ou saldar uma dívida, devendo, em tese, ser feito pelo devedor ao credor. São 
sinônimos de pagamento: solução (solutio), cumprimento, adimplemento, implemento, execução, 
entre outros. 
 
O cumprimento da obrigação, também denominado pagamento ou solução do débito, é a 
execuçãoda prestação pelo devedor na forma estabelecida no ato jurídico ou na lei, de acordo 
com as normas fixadas quanto ao modo, tempo e lugar de sua realização. 
 
Ressalta-se o fato de que não havendo relação jurídica, o pagamento será indevido e dará direito 
ao devedor de reaver judicialmente o valor que pagou sem justo motivo. 
 
O pagamento é a morte natural da obrigação, ou a realização real da obrigação, entretanto, 
pagamento não significa apenas a entrega de uma soma em dinheiro, mas em sentido amplo, o 
cumprimento voluntário de qualquer espécie de obrigação. Assim sendo, no primeiro sentido, o 
pagamento é o modo de cumprir as obrigações de dar, ou mais particularmente, de dar somas em 
dinheiro. No segundo sentido, pagamento é a satisfação do prometido em qualquer variedade de 
obrigação. 
 
Um exemplo explicativo das afirmações acima, verifica-se na seguinte situação: 
A paga a B para pintar um quadro, de modo que a obrigação de B será fazer o quadro, o 
pagamento de B será realizar o serviço. Observa-se que B paga a sua obrigação, executando o 
serviço de pintura, que é avaliado em dinheiro, mas não dinheiro propriamente dito. Isso comprova 
que nem sempre o pagamento da obrigação se realiza com o dinheiro. 
 
O leigo tende a achar que todo pagamento é em dinheiro, mas nem sempre, pois em linguagem 
jurídica pagar é executar a obrigação, seja essa obrigação de dar uma coisa, de fazer um serviço 
seja de se abster de alguma conduta: não-fazer algo. 
 
2.1.3.2 Dissecação do conceito de pagamento 
Em um sentido mais amplo, o pagamento é o ato jurídico formal, unilateral, que corresponde à 
execução voluntária e exata por parte do devedor da prestação devida ao credor, no tempo, 
modo e lugar previstos no título constitutivo (contrato, lei ou sentença). 
 
Dissecando o conceito acima, deve-se aludir os seguintes termos: formal, unilateral, voluntário e 
exato, tempo, modo e lugar. 
a) Formal - o pagamento é formal, pois demanda prova cabal por meio da emissão do recibo, 
que, em direito, é chamado de quitação, e deve atender às formalidades do art. 320. Muitas 
vezes, em pequenos contratos, não se pede o recibo para não perder tempo, é um hábito que 
as pessoas têm e como já foi abordado, trata-se de um costume, que é uma fonte secundária 
do direito. 
 
Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor 
e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar 
do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. 
 
b) Unilateral – o pagamento é um ato unilateral, pois é de iniciativa do devedor, que é o sujeito 
passivo da obrigação (e sujeito ativo do pagamento). 
 
 
 
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c) Voluntário e exato – o pagamento é voluntário e exato, ou seja, ele é derivado da vontade 
própria do devedor, sem nenhum tipo de coação e o valor deve ser exato. Com base nessa 
afirmação, observe o seguinte: se o pagamento for decorrente de uma execução judicial, então 
não será tecnicamente pagamento, porque deixou de ser voluntário, pois foi feito sob 
intervenção judicial; além de voluntário, o pagamento deve ser exato, por exemplo, se A deve 
cinquenta reais a B e pagou com um livro, tecnicamente isso não será pagamento, porque não 
é exato. 
De qualquer maneira, em ambos os casos, mesmo pagando sob força judicial, ou pagando 
coisa diferente da devida, se o credor aceitou e se satisfez, isso é o que importa. Mas 
tecnicamente, em linguagem jurídica, pagamento é aquele voluntário e exato. 
 
d) Prestação - é o objeto da obrigação, e é uma conduta humana que pode ser um dar, um fazer 
ou um omitir-se (não fazer). Pagar é cumprir esta prestação. 
 
e) Tempo, modo e lugar - o pagamento precisa atender a estas regras previstas no contrato na 
lei ou na sentença que fez nascer a obrigação, respeitando a data, o lugar e a maneira de 
pagar. 
 
2.1.3.3 Elementos fundamentais do pagamento 
O pagamento demanda legalmente os seguintes elementos: o vínculo obrigacional e os sujeitos: 
ativo e passivo, representados por quem deve pagar e a quem deve pagar, respectivamente. 
 
a) Vínculo obrigacional 
É a causa, o fundamento do pagamento. Não havendo vínculo, não há que se falar de 
pagamento, do contrário, ficará caracterizado pagamento indevido. 
 
b) Sujeito ativo do pagamento (arts. 304/307) 
O sujeito ativo do pagamento é o devedor (solvens), que é o sujeito passivo da obrigação. É 
aquele que deve pagar, embora, nada impeça que um terceiro pague a obrigação, afinal de 
contas, o credor mais quer é receber. 
 
c) Sujeito passivo do pagamento (arts. 308/312) 
O sujeito passivo do pagamento é o credor (accipiens), que é sujeito ativo da obrigação. É 
aquele que deve receber, nada impedindo que o recebimento seja feito por seu representante 
legal. 
 
2.1.3.4 Regras do pagamento 
Aqui são abordadas algumas regras sobre o objeto do pagamento e sua prova (arts. 313/326). 
Entre as principais regras de pagamento, destacam-se: 
 a satisfação voluntária (animus solvendi); 
 a não obrigatoriedade de aceitação de recebimento de prestação diferente; 
 a aceitação espontânea de recebimento de prestação diferente; 
 a não obrigatoriedade de aceitação de recebimento de partes quando deve ser paga por inteiro. 
 
A primeira regra alude à satisfação voluntária (animus solvendi) e rigorosa da prestação: dar uma 
coisa, fazer ou não fazer um serviço ou abster-se de uma conduta, considerando-se que o 
pagamento é voluntário e exato. 
 
A segunda regra revela o fato de que o credor não pode ser obrigado a receber prestação 
diferente, ainda que muito valiosa, conforme o art. 313 do CC/02, que expressa: “O credor não é 
obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.” 
 
A terceira regra expressa o fato de que o credor pode aceitar receber prestação diferente, mas 
não pode ser forçado a aceitá-la, conforme evidencia o art. 356 “O credor pode consentir em 
receber prestação diversa da que lhe é devida.” 
 
A quarta regra referencia o fato de que o credor não pode ser obrigado a receber por partes uma 
dívida que deve ser paga por inteiro. Essa afirmação está prevista no art. 314 com a seguinte 
redação: “Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser 
obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou.” 
 
 
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Essa regra apresenta as seguintes exceções: o art. 962, que dispõe sobre o concurso de credores, 
assunto do final do semestre, e o art. 1.997, que dispõe sobre pagamento feito pelos herdeiros de 
dívida do falecido. 
 
Primeira exceção: concurso de credores 
Art. 962. Quando concorrerem aos mesmos bens, e por título igual, dois ou mais credores da 
mesma classe especialmente privilegiados, haverá entre eles rateio proporcional ao valor dos 
respectivos créditos, se o produto não bastar para o pagamento integral de todos. 
 
Segunda exceção: dívidas da herança 
Art. 1.997. A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido; mas, feita a partilha, só 
respondem os herdeiros, cada qual em proporção da parte que na herança lhe coube. 
 
2.1.3.5 Tipos de pagamento: direto x indireto 
Os tipos de pagamento da obrigação jurídica se expressam nas seguintes categorias: pagamento 
direto e indireto. 
 
Pagamento direto 
É aquele que se verifica quando da ocorrência da execução voluntária da obrigação. Nesse tipo de 
pagamento, identifica-se a satisfação exata da prestação que constitui o objeto da obrigação, ou seja, o 
devedor se exonerará da obrigação, entregando efetivamente a coisa devida. 
 
O pagamento direto é aquele em que se aplica o efetivo cumprimento da obrigação, realizando-se 
a satisfaçãodo débito ao qual se submeteu o devedor, e consequente extinção da divida, 
aplicando-se a liberação do vínculo obrigacional. 
 
Pagamento indireto 
Pagamento indireto é aquele em que a extinção da obrigação se dá de forma diversa da 
originariamente convencionada, podendo ocorrer por: 
a) pagamento em consignação; 
b) pagamento com sub-rogação; 
c) imputação do pagamento; 
d) dação em pagamento; 
e) novação; 
f) compensação; 
i) confusão; 
j) remissão das dívidas. 
 
Pagamento indireto ou especial é um meio de extinção de obrigação onde a satisfação do credor e 
liberação do devedor não se efetivam em decorrência da realização da prestação, mas em virtude 
da aplicação de determinados pressuposto legais que garantem o efeito liberatório. 
 
2.1.3.6 Formas de pagamento indireto 
Existem diversas formas de pagamento especiais, entre as quais se cumpre destacar a sub-
rogação, imputação do pagamento, consignação, dação e pagamento, novação, compensação, 
confusão e remissão. 
 
É importante ressaltar que no pagamento indireto nem sempre há a plena satisfação obrigação, 
muito embora se obtenha a liberação do devedor, o que demonstra a existência de várias 
particularidades presentes neste modo de extinção, sendo, portanto, necessário dedicar atenção a 
cada um destes institutos. 
 
Pagamento em consignação - (CC, arts. 334/345) 
O pagamento em consignação encontra amparo no direito brasileiro nos artigos 334 a 345 do 
Código Civil de 2002, os quais dispõem e estabelecem as condições necessárias para que possa 
haver tal tipo de extinção por meio indireto da obrigação. 
 
 
 
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Pagamento por consignação é a modalidade específica de pagamento que extingue a obrigação, 
mediante o depósito da coisa devida, nos casos e formas legais (CC, art. 334). Como exemplos 
desse tipo de pagamento, tem-se o deposito em banco do valor de uma dívida recusada; o 
deposito em juízo do valor de um carro cujo credor foi declarado ausente. 
 
Diniz (2007, p. 244), ao versar sobre pagamento em consignação dispõe o seguinte: “É um modo 
especial de liberar-se da obrigação, concedido por lei ao devedor, se ocorrerem certas hipóteses 
excepcionais, impeditivas do pagamento”. Apenas nos casos previstos em lei poderá o devedor ou 
terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida (CPC, 
art. 890, com redação da Lei n. 8.951/94). 
 
O artigo 890, § 1º a 4º, do Código de Processo Civil admite uma possibilidade de consignação 
extrajudicial, a qual prevê um depósito feito diretamente em estabelecimento bancário, sem a 
necessidade de um juiz ou advogado para que se realize tal ação. 
 
Os principais efeitos da aplicação deste instituto é a liberação do devedor de sua obrigação e a 
extinção da obrigação. Também são liberados de suas obrigações os fiadores e impõem ao credor 
o ressarcimento das custas causadas por sua recusa em receber a obrigação do devedor. 
 
Pagamento com sub-rogação - (CC, arts. 346/351) 
Verifica-se o pagamento com sub-rogação quando a dívida de alguém é paga por um terceiro, que 
adquire o crédito e satisfaz o credor, mas não extingue a dívida, nem libera o devedor, que passa a 
dever a esse terceiro. 
 
O termo sub-rogação, do latim sub rogare ou sub rogatio, e pode ser compreendido como o ato de 
substituir, alterar, trocar uma coisa por outra, preservando, entretanto, os mesmos ônus e atributos 
da coisa trocada, ou ainda de uma pessoa por outra, quando neste caso há a substituição de 
indivíduos, assumindo o substituto a mesma posição e situação da pessoa substituída. 
 
Pagamento com sub-rogação é a transferência dos direitos do credor originário para quem pagar 
ou emprestar (solvens) a quantia necessária para resgatar obrigação alheia; por exemplo, se o 
fiador pagar o aluguel do afiançado ou lhe emprestar o dinheiro para tanto. Assim sendo, quando 
um fiador quita a dívida assumida pelo devedor original junto ao credor e passa, a partir de então, a 
ocupar a posição de credor, sub-rogando para si os direitos deste último, podendo exigir do 
devedor tal pagamento. 
 
Existe a sub-rogação pessoal e a real ou objetiva. 
Sub-rogação pessoal 
A sub-rogação pessoal, é aquela que, como sugere o próprio nome, trata de substituição de 
pessoas e pode ser compreendido como o cumprimento por um terceiro, de certa obrigação que 
originariamente foi assumida por uma pessoa, tendo como consequência a substituição de 
credores, muito embora se mantenham os direitos e obrigações previstos entre as partes. 
 
Votando ao exemplo do fiador, tem-se que dívida é quitada por um terceiro, o fiador, que adquire 
para si o crédito ao pagar o credor. Verifica-se assim que há uma substituição de pessoas, sem 
haver, no entanto, a extinção da dívida nem a liberação do devedor, que passa a ter o dever de 
pagar ao fiador. É válido ressaltar que sempre deve haver um pagamento antes da substituição. 
 
Diniz (2007, p.246), disserta acerca sub-rogação pessoal e esclarece o seguinte: 
 
Efetivado o pagamento por terceiro, o credor ficará satisfeito e não mais terá o 
poder de reclamar do devedor o adimplemento da obrigação; porém, como o 
devedor não solveu o débito, continuará a ter o dever de prestá-lo ante o terceiro 
solvente, alheio à relação negocial primitiva, até que o pagamento de sua parte 
extinga o liame obrigacional. Fácil é denotar que esse instituto visa tutelar os 
direitos do terceiro que efetua o pagamento de dívida de outrem, possibilitando-lhe 
tomar o lugar do credor que foi pago, de modo que a relação obrigacional só se 
extingue no que concerne ao credor satisfeito. Logo, o devedor não se exonerará 
do vínculo negocial, visto que ele sobreviverá relativamente ao terceiro que pagou o 
débito, a quem passa a titularidade do crédito com todos os seus acessórios, isto é, 
garantias reais ou fidejussórias. 
 
 
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Como percebemos o pagamento por sub-rogação gera dois efeitos necessários em decorrência de 
sua aplicação, a saber, a liberação em função da extinção, ou satisfação do débito junto ao credor 
originário, comumente chamado de efeito liberatório, e o efeito translativo que surge em virtude da 
transferência do vinculo obrigacional para o novo credor. 
 
Espécies de pagamento com sub-rogação pessoal 
No Direito Brasileiro, são admitidas as seguintes formas sub-rogação pessoal: 
 sub-rogação aplicada por força da lei, denominada de sub-rogação legal; e 
 sub-rogação por convenção entre as partes. 
 
Sub-rogação legal 
A substituição por força da lei é chamada de sub-rogação legal e está prevista no artigo 346 do 
CC/02 e pode ocorrer principalmente nas seguintes circunstancias: 
 
Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor: 
I. do credor que paga a dívida do devedor comum; 
II. do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que 
efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; 
III. do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em 
parte. 
 
Os casos em que se aplicam o Inciso I ocorrem quando, por exemplo, duas ou mais pessoas são 
credoras do mesmo devedor, podendo neste caso ser aplicada a sub-rogação legal se qualquer um 
dos credores pagar ao credor que possui prioridade no pagamento do crédito, o valor devido. 
 
Sobre o Inciso II, tem-se o seguinte: 
 
A hipoteca é um direito real de garantia incidente sobre imóveis. Em geral, quando 
uma pessoa pretende obter um empréstimo, o credor, antes de fornecer o 
numerário, costuma exigir garantias e, em especial, uma garantia real, a exemplo 
da hipoteca de um imóvel do devedor, uma fazenda, por exemplo. Neste caso, o 
proprietário terá o seu bem gravado (pela hipoteca), podendoo credor hipotecário 
reavê-lo em mãos de quem quer que seja, por força do chamado “direito de 
sequela”. Nada impede, porém, que o devedor aliene o bem hipotecado a um 
terceiro, ciente da hipoteca (aliás, toda hipoteca deve ser registrada no Cartório de 
Registro Imobiliário). Este adquirente (o comprador da fazenda), portanto, 
objetivando liberar o imóvel, poderá pagar a soma devida ao credor hipotecário, 
sub-rogando-se em seus direitos. (GAGLIANO, 2011, p.200) 
 
O caso previsto no inciso III é o mais comumente empregado, pois trata de situações onde um 
terceiro, juridicamente interessado no cumprimento da obrigação, faz a quitação do débito e sub-
roga para si os direitos do credor. 
 
Sub-rogação convencional 
É aquela ocorre quando a substituição é definida por escrito entre as partes nas relações 
contratuais, ou seja, é aquela decorrente da manifestação da própria vontade dos interessados e 
está prevista nas condições estabelecidas no artigo 347 do CC/02: 
 
Art. 347. A sub-rogação é convencional: 
I. quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os 
seus direitos; 
II. quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a 
condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito. 
 
Em qualquer modalidade em que se aplique a sub-rogação, quer seja ela legal quer seja 
convencional, o sub-rogado passa a adquirir para si o próprio crédito do sub-rogante, recebendo, 
juntamente com todos os seus acessórios, o crédito da obrigação. 
 
 
 
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Por fim, diz-se que a sub-rogação não pode vir a oferecer-se como uma fonte de lucros ou de 
vantagens. O credor sub-rogado não pode obter vantagem na aplicação do instituto, ficando seu 
direito limitado ao valor que desembolsou para satisfazer a obrigação, com todos os seus 
acessórios. 
 
Sub-rogação real 
A sub-rogação real é a substituição de coisa por coisa, um objeto pelo outro. Assim, quando a sub-
rogação trata de coisas ou objetos, convencionou-se chamar de sub-rogação real ou objetiva, e sua 
fundamentação legal está expressa no artigo 1.848 do Código Civil Brasileiro de 2002, com ênfase 
para o § 3º, onde se lê o seguinte: 
 
Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador estabelecer 
cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de incomunicabilidade, sobre os bens da 
legítima. 
§ 1º Não é permitido ao testador estabelecer a conversão dos bens da legítima em outros de 
espécie diversa. 
§ 2º Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser alienados os bens gravados, 
convertendo-se o produto em outros bens, que ficarão sub-rogados nos ônus dos primeiros. 
(BRASIL, 2008, p.379) 
 
Imputação do pagamento - (CC, arts. 352/355) 
Imputar é indicar, direcionar, dirigir o pagamento. Imputar o pagamento é determinar em qual dívida 
entre as dívidas favorecidas a um mesmo credor o pagamento está incidindo, por exemplo, se A 
deve a B mil reais decorrentes de um empréstimo e outros mil reais decorrentes de uma pichação 
no muro da frente da casa de B (um dos filhos de A picharam o muro da frente da casa de B). Se, 
nesse instante, A só pode pagar apenas uma dessas dívidas, então precisa dizer a B, qual dívida 
está sendo quitada. 
 
Imputação do pagamento é a operação pela qual o devedor de mais de uma dívida liquida e 
vencida, da mesma natureza ou espécie, a um só credor, indica qual das dívidas está pagando por 
ser tal pagamento inferior ao total das dívidas, conforme apregoa o art. 352 do CC/02. 
 
Art. 352. “A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o 
direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos.” 
 
Imputação do pagamento é a indicação a qual das dívidas da mesma natureza de um só devedor a 
um mesmo credor deva ser satisfeita, quando o pagamento for insuficiente para saldá-las todas; 
por exemplo, certo devedor tem as seguintes dívidas: um empréstimo de R$ 1.000,00 e um aluguel 
mensal de R$500,00, cujo credor é uma única pessoa; se remetidos apenas R$ 800,00, estes 
somente podem ser imputados ao aluguel. 
 
De acordo com Acquaviva (2009, p.454) a imputação do pagamento é uma “forma de extinção de 
obrigações mediante a qual, em dívidas da mesma natureza, líquidas e vencidas, com unicidade de 
devedor e de credor, se determina qual delas será considerada extinta, em caso de oferecimento 
de pagamento.” 
 
Requisitos básicos da imputação 
Para que haja a imputação do pagamento, presume-se a necessidade de alguns requisitos básicos, 
que podem observados no próprio texto legal, quais sejam: 
 dualidade ou pluralidade de dívidas de mesma natureza; é preciso que haja mais de uma dívida, 
todas vencidas, da mesma natureza, por exemplo, a obrigação de dar dinheiro; 
 unicidade de devedor e credor ou identidade das partes; 
 insuficiência do valor em relação ao montante das dívidas líquidas e vencidas; é necessário que 
o pagamento seja menor do que a soma das dívidas. É necessário que haja a possibilidade de o 
pagamento quitar mais de uma dívida integralmente e não bastar para todas. 
 
 
 
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Espécies de imputação 
O ordenamento jurídico brasileiro pressupõe as seguintes espécies de imputação do pagamento: 
 imputação por indicação do devedor (art.352); 
 imputação por indicação do credor (art.353); 
 imputação em virtude da lei (art.355); 
 imputação com base no capital e juros. 
 
a) Imputação do devedor (art. 352) 
O devedor é o primeiro que pode definir, dizer, imputar o que está sendo pago. Partindo-se do 
pressuposto de que houve um pagamento que irá solver uma ou mais dívidas, mas não quitará a 
dívida toda. A primeira regra, de acordo com o código, é que quem paga faz a imputação. Portanto, 
a primeira possibilidade de imputar é do devedor. E este imputa dizendo o que pagará primeiro. 
 
Cabe ao devedor fazer a imputação, dizer qual dívida está quitando, e deve ser orientado a quitar 
logo a dívida de juro maior e a dívida com garantia (exemplo: hipoteca, penhor, fiança), porque, 
dessa forma, o devedor libera a coisa dada em garantia, e, no caso da fiança, o devedor libera o 
fiador. 
 
b) Pelo credor (art. 353) 
Pode acontecer de o devedor não imputar, não declarar o que está pagando. Nesse caso, abre-se 
a possibilidade de o credor direcionar aquilo que está sendo recebido. Se o devedor não exerce 
seu direito de imputar, esse direito passa ao credor, mesmo havendo recusa do devedor. 
 
Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o 
pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita 
pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo. 
 
Se o devedor não imputar, o credor poderá fazê-lo (art. 353), devendo o credor ser orientado por 
seu advogado para pedir a quitação na dívida de juro menor e na dívida quirografária (dívida sem 
garantia). 
 
c) Imputação Legal (art. 355) 
Se não houver imputação pelo devedor nem pelo credor, haverá imputação legal em que a lei dará 
direcionamento para os pagamentos. O primeiro critério usado pela lei é que a imputação se fará 
nas dívidas líquidas e vencidas (quais venceram primeiro), portanto o primeiro critério é 
cronológico. 
 
Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação será feita na dívida 
mais onerosa. A dívida mais onerosa é aquela que traz maiores consequências para o devedor, 
tanto financeiras como outras consequências desfavoráveis. É evidente que o valor é um indicativo 
de onerosidade, mas é preciso pensar nas consequências mais desfavoráveis. 
 
O requisito acima (da onerosidade)só será analisado se todas as dívidas forem vencidas ao 
mesmo tempo, mas em um primeiro momento se analisará o vencimento, em segundo plano, a 
onerosidade. 
 
Art. 355. “Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à 
imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem 
todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa.” 
 
d) Capital x juros (art. 354) 
É a imputação em que se considera primeiro os juros vencidos e depois o capital, salvo estipulação 
em contrário, ou renuncia do credor, ou seja, quitar primeiro o capital. É uma imputação em 
beneficio do credor. É evidente que é mais interessante para o credor que o pagamento seja para 
os juros, a não ser que o este renuncie a esse direito. É direito do credor que o pagamento seja 
imputado primeiro aos juros. Os juros são frutos, aqueles bens que nascem do bem inicial. Os juros 
nascem do capital. E se houver a imputação do capital, não há mais que falar em juros. 
 
 
 
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Art. 354. “Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois 
no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital.” 
 
Dação em pagamento - (CC, arts. 356/359) 
Esse instituto jurídico consiste na entrega de objeto diferente do prometido. A dação em pagamento 
é o acordo pelo qual o credor consente em receber do devedor outra coisa, diversa da obrigação 
ajustada, extinguindo-a (CC, art. 356), por exemplo, se José aceitar de receber de João um carro 
fusquinha no lugar do previsto barco de passeio; ou se receber voluntariamente a permuta de um 
cruzeiro pelas ilhas do Caribe pela construção de uma casa na praia do Cumbuco. 
 
Observe que na dação em pagamento, pode-se substituir dinheiro por coisa móvel ou imóvel. Coisa por 
outra; dinheiro por título de crédito; coisa por obrigação de fazer etc. 
 
Esta forma de pagamento consiste em um acordo entre as partes onde se admite a possibilidade 
de extinguir a obrigação através da entrega de um objeto diferente daquele que originariamente 
havia sido convencionado para a quitação do débito. A dação em pagamento remete ao verbo dar, 
e é proveniente do latim datio in solutum, ou pro soluto. 
 
Acquaviva (2009, p. 267), define dação em pagamento como um dos modos de extinção das 
obrigações, consistente no pagamento de dívida mediante a entrega de um objeto diverso do 
convencionado. Opera-se com o consentimento do credor. 
 
O artigo 359 do CC/02 versa sobre evicção, que ocorre quando o pagamento ao credor é feito 
através de objeto do qual o devedor não possuía propriedade, ou seja, sua propriedade pertencia a 
um terceiro, e define que neste tipo de ocorrência deve ser restabelecida a obrigação inicial, 
tonando nula a quitação da obrigação e resguardados os direitos de terceiros. 
 
Requisitos básicos da dação em pagamento 
Entre as condições que dão suporte a esse instituto, destacam-se: 
a) existência de um débito vencido; 
b) animus solvendi (vontade de solver a dívida) 
c) diversidade do objeto oferecido, em relação à dívida originária; 
d) consentimento do credor na substituição. 
 
É indispensável o aceite do credor, pois não pode o devedor por mera liberalidade obrigar o credor 
a receber prestação adversa da avençada na relação contratual, sendo também indispensável que 
a dívida já esteja vencida, porque senão será considerada uma retificação do que foi pactuado 
entre credor e devedor, tratando-se de uma renegociação e não de uma dação em pagamento. 
 
Novação - (CC, arts. 360/367) 
É a modificação objetiva ou subjetiva da relação jurídica originária. Novação é a extinção de uma 
obrigação, sem seu pagamento, pela substituição da primitiva por uma nova; por exemplo, a 
incorporação dos juros de um empréstimo vencido ao capital; se o pai assumir a dívida pelo filho, 
liberando-o. Novação é a criação de uma nova obrigação para extinguir a anterior. 
 
O termo novação é proveniente do latim novare, que pressupõe, sugere uma inovação e no âmbito 
do direito civil ocorre quando, através de um acordo, as partes cessam a obrigação original, 
substituindo-a por uma nova. Apresenta-se, portanto, como um meio de extinção de obrigação, 
muito embora não satisfaça o débito. 
 
A novação implica a extinção de uma obrigação com a criação imediata de uma nova obrigação, é 
diferente de renegociação ou refinanciamento. Um exemplo, desse instituto, é caso de um pai, 
preocupado com a dívida do filho que não tenha condições de solver a dívida, procura o credor e 
lhe propõe a substituição do devedor, emitindo novo título de crédito. Se o credor aceitar, emitindo 
novo título e inutilizando o primeiro, ficará extinta a dívida do filho, substituída pela do pai. 
 
Natureza Jurídica 
A novação não produz como pagamento, a satisfação imediata do crédito, constituindo assim, 
modo extintivo não satisfatório, tem natureza contratual, pois depende da vontade das partes, 
 
 
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jamais se operando por força de lei. Esse instituto depende sempre de uma convenção firmada 
entre os sujeitos da relação obrigacional. Nesse sentido, afirma-se que, em regra, não existe 
“renovação legal”. 
 
Os principais efeitos surgidos em decorrência da novação é a extinção da obrigação anterior, assim 
como todas as ações inerentes ao débito precedente, e criação de uma nova relação obrigacional, 
sem ligação alguma com a obrigação extinta. 
 
Requisitos básicos da novação 
São requisitos indispensáveis do instituto da novação: 
a) existência de uma obrigação anterior; 
b) a criação de uma nova obrigação; 
c) animus novandi (intenção de novar). 
 
Requisito “a” 
É essencial a existência de obrigação jurídica anterior, pois a novação visa exatamente a 
sua substituição. A obrigação a ser novada deverá ser válida, pois não se pode novar o que não 
existe, nem extinguir o que não produz efeito jurídico (art.367). 
 
Art. 367. Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação 
obrigações nulas ou extintas. 
 
A obrigação anulável poderá ser confirmada pela novação, pois tem existência, enquanto não for 
rescindida judicialmente (declarada nula), sendo assim, a nova obrigação terá que ser válida 
também, pois se for nula, ineficaz será a novação, subsistindo a dívida primitiva. 
 
Requisito “b” 
A constituição de uma nova obrigação com a finalidade de extinguir a anterior. Para 
configurar a novação é necessário que haja alteração substancial entre a dívida anterior e a nova 
(troca de sujeito ou troca/alteração de objeto). 
 
Não haverá novação quando se verificar alterações secundárias na dívida (exclusão de uma 
garantia; alteração do prazo; estipulação de juros) que caracterizam a renegociação, por exemplo, 
a situação de refinanciamento com o banco não é novação. 
 
Existem situações, que precisam ser bem definidas para caracterizar a novação, por exemplo, 
tenho um cheque especial há 10 anos, cansado de pagar juros, resolvi cancelar o cheque especial, 
mas naquele momento não tenho dinheiro para quitar o débito do especial, o banco me oferece um 
empréstimo para eu quitar o cheque especial, isto é uma novação. 
 
É muito comum a obtenção, pelo devedor, de novação da dívida contraída junto ao banco, 
mediante quitação do título primitivo e renovação do débito por novo prazo, com a emissão de 
outra nota promissória, nela se incluindo os juros do novo período, despesas bancárias etc. 
 
Poderá ocorrer a vedação da novação, quando o contrato trouxer em cláusula que, mesmo que se 
faça alguma alteração substancial, não poderá haver novação, neste caso, deverá prevalecer o que 
ficou definido no contrato. 
 
Requisito “c” 
É imprescindível que o credor tenhaa intenção de novar. A novação importará a renúncia ao 
crédito e aos direitos acessórios da dívida anterior, devendo tal intenção ser manifestada 
expressamente ou de modo claro e inequívoco, pois a novação não se presume, e na dúvida, a 
novação não ocorrerá (art. 361). 
 
Espécies de novação 
Conforme o item da obrigação que que ser alterado e, por causa disso, extinguir a obrigação em 
detrimento de outra, tem-se as seguintes modalidades de novação: a objetiva, a subjetiva e a 
mista. 
 
 
 
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Novação objetiva 
Nesse tipo de novação, altera-se o objeto da prestação (art. 360 - I) 
Exemplo. O devedor não está em condições de saldar a dívida em dinheiro, propõe ao credor, que 
aceite a substituição da obrigação em dinheiro por prestação de serviço, extinguindo a primeira 
obrigação. 
 
Novação subjetiva 
A novação subjetiva implica realizar a alteração dos sujeitos da relação jurídica (art. 360- II e III) 
Pode ocorrer por substituição do devedor (quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este 
quite com o credor) ou por substituição do credor (quando, em virtude de obrigação nova, outro 
credor é substituído ao antigo, ficando o devedor desobrigado com o credor primitivo). 
 
A novação subjetiva por substituição do devedor (novação passiva) poderá ocorrer sem o 
consentimento deste. Por exemplo, o pai pode substituir o filho na dívida contraída, com o 
consentimento do filho ou sem ele. 
 
A novação subjetiva por substituição do credor (novação ativa) ocorre por um acordo de vontades, 
onde o credor primitivo deixa a relação e um terceiro toma o seu lugar, ficando o devedor 
desobrigado quanto ao credor primitivo, estabelecendo novo vínculo com o segundo credor. Um 
exemplo seria imaginar que A deve certa quantia a B, que, por sua vez, deve igual importância 
para C. Então, por acordo firmado entre os três, A pagará diretamente a C, sendo que B se retirará 
da relação, ficando extinto o crédito de B em relação a A, constituindo nova relação entre A e C. 
 
Novação mista 
A novação mista implica a ocorrência simultânea da novação objetiva e subjetiva, ou seja, a 
alteração de sujeitos e de objeto. 
 
A novação mista não está descrita juridicamente, decorre da fusão da novação objetiva e da 
novação subjetiva, configurando-se quando ocorre ao mesmo tempo, mudança do objeto da 
prestação e de um dos sujeitos da relação jurídica. 
 
Um exemplo para esse tipo de novação seria o fato de um pai assumir uma dívida em dinheiro do 
filho (novação subjetiva), mas com a condição de pagá-la mediante prestação de serviço (novação 
objetiva). 
 
Na novação, a insolvência do novo devedor corre por conta e risco do credor, que o aceitou, não 
cabendo ação de regresso contra o devedor primitivo, pois o principal efeito da novação é 
extinguir a dívida anterior (art. 363). 
 
Compensação - (CC, arts. 368/380) 
A compensação é o meio de extinção de obrigações entre pessoas que são, ao mesmo tempo, 
credoras e devedoras uma da outra, até onde aquelas se equivalerem (CC, arts. 368 e 371); por 
exemplo, se José deve R$ 1.000,00 a João, que, por sua vez, deve R$ 800,00 a José, então, a 
extinção da obrigação operar-se-á até esse último valor (R$ 800,00), a João, cabendo apenas 
pagar a José a diferença de R$ 200,00, assim, ocorrendo a compensação parcial. 
 
Art. 368 – “Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas 
obrigações extingue-se, até onde se compensarem”. A compensação visa eliminar a circulação 
inútil da moeda, evitando duplo pagamento, podendo ser total ou parcial. 
 
A compensação configura-se em um meio indireto de se extinguir uma obrigação quando ocorre a 
incidência de obrigações recíprocas em situações onde as partes são, ao mesmo tempo, credoras 
e devedoras entre si, levando-se em consideração para a aplicação deste instituo uma questão de 
simplicidade e lógica. Visa-se com isso diminuir a possibilidade de duplo pagamento. É preciso que 
um credor e um devedor, em um determinado momento, se tornem devedor e credor 
reciprocamente. 
 
 
 
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Quando as obrigações se equivalerem ocorre a neutralidade das mesmas e tem-se a extinção da 
totalidade do débito, outrossim, quando houver divergências entre as obrigações, aplica-se uma 
redução proporcional ao valor maior. Tomando-se por base esse raciocínio, tem-se: 
 compensação total – quando os valores são iguais as duas obrigações; e 
 parcial, se os valores forem desiguais. Nesse último caso, há uma espécie de desconto: 
abatem-se até a concorrente quantia. O efeito extintivo estende-se aos juros, ao penhor, às 
garantias fidejussórias e reais, à cláusula penal e aos efeitos da mora, pois, cessando a dívida 
principal, cessam seus acessórios e garantias. (MENDONÇA, 1956, p.615) 
 
Natureza jurídica 
A compensação como meio indireto de extinção da obrigação é tratada nos arts. 368 a 380 do 
CC/02, os quais versam sobre as eventualidades em que pode ser aplicada, as condições, as 
espécies, vedações e efeitos da mesma. 
 
O efeito maior dessa forma de pagamento indireto é o de: 
 
[...] operar a extinção de obrigações recíprocas, liberando os devedores e 
retroagindo à data em que a situação fática se configurou. Dessa forma, apesar de 
ter sido alegada posteriormente, operará (ipso jure) desde o instante em que o réu, 
cobrado de uma prestação, se tornar credor do autor. Tal efeito retroativo alcança 
ambas as dívidas, com todos os seus acessórios, de modo que os juros e as 
garantias do crédito deixam de existir a partir do momento em que se tiver a 
coexistência de dívidas. (DINIZ, 2007, p. 311) 
 
Espécies de compensação 
Em se tratando de espécies, verifica-se a possibilidade dos seguintes tipos de compensação, a 
saber, convencional, legal ou judicial (processual), as quais podem ser definidas e caracterizadas 
nos parágrafos seguintes. 
 
Compensação convencional 
Também denominada de voluntária, essa espécie de compensação decorrente da autonomia 
privada, resultante de um acordo de vontades, pressupondo-se o princípio da liberdade de 
negociação entre as partes, através da qual se admite a compensação de dívidas líquidas, 
inexigíveis e de coisas infungíveis, desde que não acarrete violação das normas de ordem pública, 
o que se pode verificar no artigo 373 do CC/02: 
 
Art. 373. A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto: 
I – se provier de esbulho, furto ou roubo; 
II – se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos; 
III – se uma for de coisa não suscetível de penhora. 
 
Compensação convencional é a que resulta de um acordo de vontades entre as partes, 
independente dos requisitos legais para compensação. 
 
Compensação legal 
É a que decorre da lei, e opera-se automaticamente, de pleno direito. 
O devedor que desejar reconhecer a compensação legal, poderá ajuizar ação declaratória, onde o 
juiz, reconhece e declara a compensação, dependendo sempre de provocação do interessado, pois 
jamais poderá ser declarada de ofício. 
A compensação poderá ser arguida em contestação, em reconvenção e nos embargos a execução. 
 
Esse tipo de compensação toma por base as prerrogativas legais, ou seja, em decorrência de 
dispositivo legal, independentemente da vontade das partes interessadas na lide, realizando-se 
mesmo que uma das partes se oponha a tal preceito, onde o juiz a reconhece e declara sua 
realização, sendo necessária, entretanto, a provocação. 
 
Requisitos da compensação legal 
a) Reciprocidade das obrigações (art. 368) 
 
 
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É preciso que haja um credor e um devedor, e que em determinado momento se tornem credor 
e devedor reciprocamente. 
 
b) Liquidez e exigibilidade das dívidas (art. 369) 
As dívidaslíquidas são aquelas cujo valor seja certo e determinado, devendo as mesmas estar 
vencidas (exigível). 
 
Nas obrigações condicionais ou a termo, a compensação só será permitida após o implemento 
da condição ou depois do vencimento do termo. 
 
c) Fungibilidade das obrigações (art. 369) 
É necessário que as prestações sejam fungíveis, da mesma natureza, devendo ainda ser 
homogêneas entre si, por exemplo, uma dívida em dinheiro, só compensa com dívida em 
dinheiro; dívidas de sacas de café, só compensam com dívidas de sacas de café. 
 
O Art. 370 restringe a compensação também quanto à qualidade da prestação, não se 
compensarão as dívidas da mesma natureza, se estas forem diferentes na qualidade, quando 
especificado no contrato, por exemplo, se uma das dívidas for de café do tipo “A” (qualidade 
especificada), só se compensará com outra dívida também de café tipo “A”. 
 
Compensação judicial 
Esse tipo de compensação, também denominado processual: é aquela que ocorre em virtude de 
devido processo legal, portanto, realizada em juízo, pronunciada e constituída por um magistrado 
através de ato decisório ao perceber no processo a ocorrência de tal instituto. 
 
A compensação judicial ou processual é determinada por ato decisório do magistrado, que 
perceber no processo o fenômeno, em cumprimento das normas aplicáveis à compensação legal. 
Entretanto, será necessário que cada uma das partes alegue o seu direito de crédito contra a outra. 
Por isso o réu precisará reconvir, procurando elidir, no todo ou em parte, o pedido do autor. 
 
Verifica-se que neste caso opera-se a reconvenção, que na prática se apresenta como uma nova 
ação movida pelo réu em oposição ao pedido do autor da demanda original, devendo a mesma 
possuir conexão com a ação inicial e ser postulada dentro do prazo de defesa do processo em 
questão, por exemplo, se “A” ajuizar ação para cobrar de “B” a importância de R$ 10.000,00 e “B” 
na reconvenção cobra de “A” a importância de R$ 8.000,00, sendo ao final ambas as ações 
julgadas procedentes, o juiz condenará “B” a pagar somente R$ 2.000,00, fazendo assim, a 
compensação das dívidas. 
 
Reconvenção é um instituto de direito processual, pelo qual o réu formula uma pretensão contra o 
autor da ação. A reconvenção ocorre quando o réu processa o autor, no prazo de defesa. Por 
exemplo: o autor A inicia uma ação de cobrança contra B, mas B acredita que ele é quem possui o 
direito de cobrar A, então, em face da ação de cobrança de A, pela reconvenção, B diz: "Eu não lhe 
devo, é você quem me deve". 
 
Não haverá compensação se: 
 1°) as dívidas forem provenientes de atos ilícitos ( furto e roubo); 
 
 2°) as dívidas se originarem de comodato ou depósito, pois baseiam-se na confiança mútua, 
somente se admitindo o pagamento mediante a restituição da coisa emprestada ou depositada, 
pois ninguém pode apropriar-se de coisa alegando compensação, uma vez que a obrigação de 
restituir não desaparece. 
 
 3°) a dívida for proveniente de alimentos, sendo estes de natureza incompensável, porque sua 
satisfação é indispensável para a subsistência do alimentando. 
 
 4°) uma das dívidas for impenhorável, pois a compensação pressupõe dívida judicialmente 
exigível (exemplo: salário) 
 
 5°) prejuízo do direito de terceiro. 
 
 
 
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Diversidade de causa 
Em regra, a diversidade de causa não impede a compensação das dívidas se ambas forem da 
mesma natureza. Por exemplo, dívidas em dinheiro (líquidas e vencidas) compensarão, mesmo se 
a causa de uma delas for proveniente de um contrato de mútuo e a outra for proveniente de um 
contrato de compra e venda. 
 
Confusão - (CC, arts. 381/384) 
No direito, em toda espécie de obrigação, presume-se a atuação de, no mínimo, dois atores, a 
saber, o sujeito ativo e o passivo, onde um deles exerce direitos e o outro, obrigações, e que, de 
modo genérico, apresentam-se como pessoas distintas entre si. Confusão é o que se dá quando as 
situações de credor e devedor se confundem na mesma pessoa. 
 
Entretanto, quando o papel desses dois atores recai sobre a mesma pessoa, tem-se o que é 
chamado de confusão, tornando-se extinta a obrigação, pois não é aceitável que em uma relação 
jurídica o mesmo sujeito possa ser credor e devedor de si mesmo. 
 
Confusão é a reunião das qualidades de credor e devedor (total ou parcialmente) na mesma 
pessoa, relativamente à mesma relação jurídica, por ato inter vivos ou mortis causa, extinguindo o 
crédito (CC, art.381). 
 
Um exemplo inter vivos 
Seria o fato de a empresa “A” dever para a empresa “B”, e, posteriormente, a empresa “B” adquire 
a empresa “A”, tornando-se assim um só patrimônio, ou seja, credor e devedor na mesma pessoa, 
fato que ocasionará a confusão e a extinção da obrigação. 
 
Um exemplo mortis causa 
Seria o fato de o filho dever certa quantia para o pai e o pai veio a falecer, sendo o filho o único 
herdeiro, ou seja, credor e devedor na mesma pessoa, ocorrendo assim, a confusão e a extinção 
da obrigação, pois o filho não poderá dever para ele mesmo. 
 
A confusão pode ocorrer também no âmbito dos direitos reais, tomando então o nome de 
consolidação; por exemplo, se o usufrutuário adquirir a propriedade do bem; ou se o dono do 
prédio serviente se tornar proprietário do dominante. 
 
Para Diniz (2007, p.354), “Confusão, no direito obrigacional, é a aglutinação, em uma única pessoa 
e relativamente à mesma relação jurídica, das qualidades de credor e devedor, por ato inter vivos 
ou causa mortis, operando a extinção do crédito.” 
 
Espécies de confusão 
Em se tratando de espécies, na confusão podem ocorrer dois tipos de aplicação, que seriam a total 
ou própria, que incide nos casos onde se abarca a totalidade da dívida, extinguindo a obrigação 
em sua totalidade; e parcial ou imprópria, a que se aplica na ocorrência de divergência entre 
valores da obrigação, ou seja, onde se abatem apenas parte do débito ou crédito, pelo fato de a 
confusão se efetivar apenas em relação a uma parte do débito ou do crédito. 
 
Natureza jurídica 
O Código Civil Brasileiro de 2002 prevê o instituto da confusão nos artigos 381 a 384. Sua 
finalidade e efeito principal é a extinção da obrigação e de todos os seus acessórios, como por 
exemplo, a fiança e o penhor. 
 
No entanto, se a confusão ocorrer entre devedor e fiador, não se extingue a obrigação original, 
apenas declina a obrigação acessória, pois há o entendimento de que ninguém pode ser fiador de 
si mesmo. Identificando-se a ocorrência da confusão, extingue-se o vínculo obrigacional sem a 
necessidade de exigência de manifestação das vontades das partes. 
 
Requisitos da confusão 
São requisitos básicos da confusão: 
 reunir em uma única pessoa as qualidades de credor e devedor; 
 existir uma única obrigação; 
 
 
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 inexistir separação de patrimônios, por exemplo, pessoa física/ pessoa jurídica. 
 
Efeitos da confusão 
A confusão extingue não só a obrigação principal como também os acessórios, como a fiança, 
porém, a recíproca não é verdadeira. Por exemplo, a obrigação principal (aluguel) contraído pelo 
devedor permanece, se a confusão se deu entre credor e fiador (fiador que compra o imóvel), 
extinguindo-se a fiança, mas não a obrigação principal. 
 
Por fim, diz-se que a cessação da confusão (art. 384) restabelece a obrigação com todos os seus 
acessórios; por exemplo, a anulação de testamento já cumprido e que implicou em confusão; outro 
exemplo, a anulação da incorporação da empresa credora pela devedora. 
 
Remissão das dívidas - (CC, arts. 385/388) 
A remissão ou perdão é o que ocorre quando o credor perdoa a dívida do devedor. Remissão das 
dívidas é o perdão voluntário dado pelo credor a débitos de natureza