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Resumo Expandido II SIPEL UENP CORREÇÃO

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2º Simpósio de Pesquisa em Letras (SIPEL) 
12 a 16 de setembro de 2016 – UENP/CJ
Anais SIPEL 2016 - ISSN 2358-7644
FORMAÇÃO DO LEITOR
CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DE DISCURSO
Érica Neri Camargo (UEL - PROFLETRAS)
ericaneri@hotmail.com
Orientadora: Sheila Oliveira Lima (UEL/CLCH) 
sheilaol@uol.com.br
Resumo
Pretendemos com este trabalho de dissertação do mestrado profissional em Letras (PROFLETRAS) estabelecer uma interlocução com outros estudos, sujeitos e discursos já realizados sobre a formação do leitor e a contribuição da Análise de discurso (AD) para as práticas de leitura e para a compreensão dos discursos presentes em textos de livros didáticos. Entendemos a necessidade de buscar a compreensão de como são desenvolvidas as práticas de leitura e os estudos de textos da esfera jornalística e em que medida eles contribuem para a formação de um leitor considerado proficiente. Leitor esse que seria capaz de ler e dialogar com outros sujeitos por meio do texto, entender as condições de produção e reconhecer e atribuir sentido a diversos gêneros textuais, das mais variadas esferas sociais. Esse foi o fator motivador de nossa inquietação, buscar compreender por que e como isso acontece, a quem interessaria a manutenção ou mudança desse quadro e qual deve ser a postura do professor diante disso. Indo mais além, pretendemos verificar se essas práticas de análise textual e de leitura têm proporcionado, de fato, um percurso formativo que, possibilite ao estudante posicionar-se e interferir criticamente em sua realidade social, com uma postura transformadora. Escolhemos para isso os livros didáticos de 9º ano, das duas coleções mais escolhidas no município de Arapongas-PR, para os triênios 2014-2016 e 2017-2019. A intenção é, ao final do percurso de pesquisa, propor oficinas de reflexão e prática de estudo textual aos professores da rede pública, pautadas nas concepções de leitura da AD, com o objetivo de contribuir para a ampliação de seu repertório e arcabouço teórico, para que os docentes possam ter à disposição outros elementos para suas práticas de leitura. 
Palavras-chave: Formação do leitor; Práticas de leitura; Livro didático; Análise de discurso.
Fundamentação teórica
Formar leitores proficientes é temática recorrente nos estudos da área educacional. A Análise de Discurso (AD), desenvolvida por Michel Pêcheux na França, e, no Brasil, por Eni Orlandi, pode contribuir para um ensino significativo das práticas de leitura. Os estudos da AD trazem a compreensão de que a leitura é um ato de produção, uma prática social e histórica, e que há diferentes modos de leitura. O texto não traz em si o significado, ele deve ser visto em relação ao discurso e com multiplicidade de sentidos, construído a partir de outros textos e discursos. É por meio dele que o leitor estabelecerá a interação com outros sujeitos, vozes e histórias para a construção de sentidos. Assim, a prática da leitura pelo viés discursivo oferece condições ao leitor para compreender sua relação com o mundo, discursos, ideologias, poderes e saberes, e ter condições para intervir em suas realidades e contextos para transformá-los. 
A leitura é um produto e ao mesmo tempo uma prática social e histórica, deve ser considerada como um ato de produção. “Já podemos considerar como um adquirido, na perspectiva da análise de discurso, o fato de que a leitura é produzida” (ORLANDI, 2003, p. 193) e, como toda produção conta com um processo, com etapas, com caminhos a serem percorridos até que se chegue ao produto final: a construção de sentidos. Assim, é imprescindível conceber a leitura como um ato de interlocução entre o leitor e o autor, sujeitos sociais, e da escrita como instrumento de referência para a construção do sentido da leitura (ORLANDI, 2003). “A leitura [...] é uma questão de natureza, de condições, de modos de relação, de trabalho, de produção de sentidos, em uma palavra: de historicidade.” (ORLANDI, 2006, p. 9).
Para a realização da leitura, há que se debruçar sobre uma materialidade: o texto. Em sala de aula, o texto não deve ser tratado como objeto que já traz em si o significado, pois ele não é uma unidade fechada. Ele deve ser visto em relação ao discurso, com sua imensa carga simbólica e multiplicidade de sentidos, construído a partir de outros textos, de diálogo com outras vozes. Segundo Orlandi (2003, p. 193), “a leitura é o momento de constituição do texto, o momento privilegiado do processo de interação verbal, uma vez que é nele que se desencadeia o processo de significação”. Ainda segundo a autora, (2008, p. 64), 
“(...) se vemos no texto a contrapartida do discurso – efeito de sentidos entre locutores – o texto não mais será uma unidade fechada nela mesma. Ele vai se abrir, enquanto objeto simbólico, para as diferentes possibilidades de leituras (...)”. 
A ampliação da concepção de texto se dá, portanto, quando este passa a ser visto como uma possibilidade de produção de sentidos. Esses sentidos, atribuídos na e pela leitura, se darão por meio do texto, do conhecimento prévio e historicidade do sujeito leitor, ou seja, de acordo com toda a sua subjetividade que será acionada no momento da leitura, não apenas, mas também, seus conhecimentos linguísticos. Orlandi (2006, p. 9) ainda acrescenta
O leitor não interage com o texto (relação sujeito/objeto), mas com outro(s) sujeito(s) (leitor virtual, autor, etc). A relação, como diria A. Schaff (em sua crítica ao fetichismo sígnico, 1966), sempre se dá entre homens, são relações sociais; eu acrescentaria, histórias, ainda que (ou porque) mediadas por objetos (como o texto). Ficar na “objetalidade” do texto, no entanto, é fixar-se na mediação, absolutizando-a, perdendo a historicidade dele, logo, sua significância.
A partir dessa compreensão, de que a leitura é um ato de produção, e que há diferentes modos de leitura, já que o sujeito leitor interage com outros sujeitos e discursos, é importante verificar se as estratégias de leitura e compreensão chegam ao nível da análise dos discursos e se proporcionam ao aluno a construção de caminhos de leitura para comparar e diferenciar discursos. A AD contribui para compreender como os enunciados, e com eles os discursos presentes nos textos, concorrem para a formação da subjetividade dos estudantes.
	
Metodologia
O trabalho será desenvolvido a partir de uma postura de caráter argumentativo, apresentando interpretação das ideias levantadas por meio da revisão bibliográfica. Como estudo teórico, de natureza reflexiva, apresentará uma sistematização, ordenação e interpretação dos dados, em consonância com a visão de Marconi e Lakatos (2003), com vistas a propor uma ampliação teórico-metodológica para docentes de Língua Portuguesa.
“Fazer pesquisa é um caminhar intencional que permite a visão de muitas estradas e rumos.” (BUFREM, 2011, p. 5). E, no reconhecimento desses caminhos, “procurar fundamentar teoricamente nossas experiências. Isso porque o caminho não é um andar às cegas e a trajetória da pesquisa não se faz por ensaio e erro.” (Idem, 2011, p. 5). 
Entendendo se tratar de uma temática ainda carente de produções científicas, e de uma postura teórica com inúmeras possibilidades de ampliação, conduziremos esta pesquisa de natureza qualitativa, explicativa e bibliográfica sob os estudos da área da Análise de Discurso, que já em si, traz uma análise de abordagem epistemológica interpretativista, que de certo modo, pode ser retratada como hermenêutica. (SOUZA JUNIOR, 2009). O caráter desta pesquisa, portanto, é qualitativo, com vistas a realizar reflexões sobre as práticas de leitura realizadas na escola e propor um aporte teórico-metodológico baseado na Análise de Discurso para ampliar as abordagens de práticas pedagógicas de compreensão dos textos. 
Tendo em vista a concepção de leitura baseada na Análise de Discurso, a intenção é realizar uma análise discursiva das práticas de leitura em textos da esfera jornalística constantes em livros didáticos de Língua Portuguesa, adotados no município deArapongas-PR. Assim, serão tomadas como objeto de análise, as duas coleções mais utilizadas nas escolas públicas de Arapongas no triênio 2017-2019, delimitando o volume correspondente ao 9º Ano do Ensino Fundamental. 
O motivo para essa escolha é o fato de que o 9º ano é a série final da etapa considerada Fundamental, na qual se espera que o estudante tenha se apropriado de alguns conhecimentos, como consta do Caderno de Expectativas de Aprendizagem (p. 83), como habilidades de leitura, em que o aluno “Reconheça o posicionamento ideológico no texto”. Nas duas coleções que serão pesquisadas, é nessa série que os textos da esfera jornalística, escolhidos para esta pesquisa, são destacados para estudo.
Para que as práticas de leitura e estudos do texto presentes nos livros didáticos passem a também adotar como pressuposto teórico a AD, acreditamos que é a partir de uma revisão bibliográfica nessa área que poderemos colaborar para esse desenvolvimento. Sendo assim, a revisão de estudos já realizados e a interpretação desses dados é o que norteará o desenvolvimento do trabalho. Espera-se confirmar com o método escolhido a hipótese levantada de que os estudos do texto não chegam ao nível discursivo, em que as vozes e posições ideológicas são identificadas.
Estar na escola pública, diariamente convivendo e interagindo com os estudantes e com toda a comunidade escolar, traz a possibilidade real de se atentar com maior sensibilidade e propriedade para questões já muito discutidas e que ainda carecem de debate, como os anseios, as necessidades, as dificuldades, as contradições e as deficiências como um todo, sejam das pessoas ou da estrutura, sejam das funções ou do sistema. Contudo, isso não garante que o docente conseguirá distanciar-se dessa realidade para analisá-la com o olhar de pesquisador, pois, sendo sujeito-ator dessa mesma realidade, é também constituído nela e por ela. Assim, o afastamento das funções docentes, durante o período de elaboração desta pesquisa, torna-se essencial para amenizar o problema do distanciamento. Isso pode contribuir com maior substancialidade para o desenvolvimento de uma pesquisa sobre a escola, sobre as próprias práticas pedagógicas e sobre, fundamentalmente, o ensino da leitura e a formação do estudante como leitor mais proficiente, ou seja, uma leitura que atenda às expectativas de aprendizagem para o final do período do Ensino Fundamental. 
É importante considerar que tratar da pesquisa em educação exige aportar conhecimentos de outras áreas, ancorar-se em perspectivas outras que não somente de sua própria área, o que a limitaria muito, para uma exploração mais ampla e satisfatória dos problemas educacionais. “Constata-se que para compreender e interpretar grande parte das questões e problemas da área de educação é preciso recorrer a enfoques multi/inter/transdisciplinares e a tratamentos multidimensionais” (ANDRÉ, 2006). Diante disso, justifica-se a opção pela Análise de Discurso para tratar do tema proposto, visto que sua base teórica é considerada um entremeio de diversas áreas, principalmente a Linguística, a Psicanálise e a História, entre outras.
Resultados
A ausência de um nível mais profundo de análise textual compromete a formação de um leitor crítico. Reiteramos que é necessária essa formação para que os sujeitos possam compreender sua relação com o mundo, compreender como os discursos, poderes e saberes nos atravessam historicamente e nos constituem e, assim, compreender a sociedade e ter condições para intervir em suas realidades e contextos e transformá-las, saber fazer a leitura crítica do que a mídia apresenta, entender um discurso político, ter condições de posicionar-se diante de temas polêmicos da atualidade, etc. Mais que identificar as posições discursivas do texto é preciso que o ensino de leitura dê condições ao leitor de ele assumir suas próprias posições subjetivas em relação aos discursos que o circundam, que o afetam, de que faz parte, que produz. Trata-se da formação do leitor, da sua constituição enquanto sujeito-leitor.
Como resultado deste trabalho, esperamos não que o professor se aproprie de um roteiro, mas da concepção de que para se ler proficientemente um texto da esfera jornalística, tem-se que atingir o nível do discurso e interagir com ele. Portanto, a necessidade de o professor compreender os mecanismos discursivos presentes nos textos e levar essa reflexão para os alunos, de forma a avançar a outros níveis de compreensão do texto/discurso. “Compreender é saber como um objeto simbólico (enunciado, texto, pintura, música, etc.) produz sentidos” (ORLANDI, 2007, p.26). Com isso, há a possibilidade de que os docentes de Língua Portuguesa possam ampliar a forma de análise, contribuindo para uma reflexão de fato crítica do texto, dos seus discursos e relações de poder implícitas e também explícitas no texto. Para isso, será formulada uma oficina de estudo de textos com enfoque para a prática discursiva da leitura, alicerçada na concepção de leitura da Análise de Discurso de linha francesa. 
 
Considerações Finais
Consideramos que a prática atual nos estudos do texto, apresentados nos livros didáticos de 9º ano, não realizam a discussão dos sentidos estabelecidos nos textos a partir da posição sócio-político-cultural (hegemonia) que ressoam no e pelo discurso. Por se tratar de um estudo em andamento, consideramos a possibilidade de surgirem outras questões relacionadas ao tema, sejam para ampliar ou redirecionar o trabalho. Nossa busca, sendo guiada pela Análise de Discurso, traz em si a abertura para surgimento de inúmeros caminhos a partir da interpretação dos dados. Dessa forma, teremos como âncora a necessidade de contribuir para uma ampliação das práticas de leitura, sob a concepção teórica da AD de linha francesa, calcada nos estudos da professora Eni Orlandi.
	
Referências
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