Buscar

Principais Julgados STF e STJ PENAL 2016 Prof. Marcos Paulo

Prévia do material em texto

JURISPRUDÊNCIA STJ e STF 2016 (Prof. Marcos Paulo) 
 
 Informativo 583 STJ - Inviolabilidade do sigilo de dados em aparelho celular 
e reserva de jurisdição 
 
Precedentes: 
STF, 2ª T, HC 91.867 
STF, 1ª T, HRC 132.062 (Informativo 849) 
 
O sigilo de dados é tutelado pelo art. 5º, XII, CRFB, primordialmente sob a ótica da 
transmissão de dados, já que o preceito versa sobre o sigilo das comunicações (por 
isso, o art. 1º, parágrafo único, Lei 9.296/96 foi considerado constitucional). Mas atinge 
também os dados armazenados, que, enquanto extensão da intimidade e privacidade, 
também encontram tutela no art. 5º, X, CRFB. 
 
Partindo dessa premissa, quando reveladores da vida privada, o acesso a dados se dá 
apenas mediante determinação jurisdicional ou por consentimento do titular. 
 
Essa orientação abrange o vasculhamento dos dados armazenados em computador, 
exigindo-se ordem judicial, a não ser que o proprietário da máquina consinta. 
Computadores são uma concentração de dados da vida privada. Por isso, STF entende 
que a apreensão de computador para acesso dos dados se dá apenas por meio de 
determinação judicial ou se o proprietário do computador autorizar. 
 
No Informativo 849, entendeu a 1ª Turma (por 3x2) que, pertencendo o computador a 
determinado órgão, é acervo deste. Logo, é válido o consentimento daquele que o 
ocupa, mesmo transitoriamente, na ausência do titular, que vem a ser quem o manuseia. 
Teoria do Órgão. 
 
Discute-se se registros telefônicos (chamadas feitas e recebidas) seriam reveladores da 
intimidade. Mesmo autores bastante garantistas (como Nicolitt) respondem 
negativamente. Também foi essa a impressão do legislador, considerado o art. 17 da 
Lei 12.850/13. E assim entendeu a 2ª Turma, no HC 91.857, admitindo, a partir de uma 
situação flagrancial, que os policiais, fortes no art. 244 CPP, apreendessem o aparelho 
celular e verificassem as chamadas feitas e recebidas, que são dados telefônicos. 
 
Essa orientação não se potencializa para os smartphones, considerados os demais 
dados nele armazenados. Assim decidiu o STJ nos informativos 583 e 590, na linha do 
próprio STF. Para tanto, ou se tem o consentimento do titular ou determinação 
jurisdicional. 
 
Situação de flagrante de homicídio. Polícia realiza busca pessoal, apreende aparelho 
de telefone celular e vai nas chamadas realizadas pelo celular e identificou coautor, 
acessando registros telefônicos. Não se trata de comunicações telefônicas, protegidas 
pelo sigilo. Haveria invasão à privacidade e intimidade se tivesse acesso ao conteúdo 
das conversas, e não simplesmente ao registro dos números discados. Art. 17, Lei 
12.850/13 expressamente autoriza a requisição direta junto às companhias telefônicas 
da conta reversa, para acessar as chamadas efetuadas e chamadas recebidas. 
Polícia apreende o celular de suposto acusado de crime. STJ entendeu que as 
conversas de whatsapp são protegidas pela cláusula de reserva de jurisdição, ou seja, 
somente o juiz de direito pode autorizar a análise dessas conversas, ou caso o 
proprietário consinta. 
 
 
Por outro lado, nos informativos 814 e 815, assentou o Pleno do STF que o sigilo de 
dados bancários e financeiros tutelado pela Constituição é o externo, ou seja, não 
divulgável ao público. Não se trata de sigilo interno, na medida em que a instituição 
financeira tem acesso. 
Transfere-se a tutela desse sigilo à administração tributária, que, tal qual a instituição 
financeira, poderá acessá-lo. 
Na medida em que esse acesso é constitucional segundo o STF, eventuais informações 
reveladoras de crime também serão lícitas, permitindo o compartilhamento com o 
Ministério Público (Informativo 822 STF e 577 STJ). 
A princípio, entendia-se que o acesso a esses dados armazenados só poderia se dar 
por determinação judicial e para fins estritamente penais. 
STF entendeu que esse sigilo seria fundamentalmente externo, ou seja, dirigido à 
coletividade, e não interno. O sigilo interno não é absoluto, podendo o Fisco ter acesso 
aos dados bancários e financeiros. 
Tendo acesso, a Receita Federal se depara com indicativo de crime. A revelação dessa 
informação traduziria prova lícita, pois o acesso a esses dados pela Receita foi avalizado 
pelo STF. 
 
 Informativo 813 STF / 562 STJ - Indivisibilidade da ação penal privada 
A queixa-crime é norteada pelos princípios da oportunidade e conveniência, mas, uma 
vez optando pela demanda, deve ser em face de TODOS os autores e partícipes cujas 
identidades sejam conhecidas e contra quais exista justa causa. Caso algum não seja 
incluído, haverá renúncia tácita, que se estende aos demais por força do art. 49 CPP, 
extinguindo-se a punibilidade. 
É diferente se a vítima não dispõe de justa causa contra todos e demanda somente em 
face daqueles em relação aos quais exista justa causa, o que não ofende a 
indivisibilidade. Sobrevindo a justa causa no curso da ação penal, deve aditar a queixa 
para incluir, sob pena de renúncia tácita. 
 
 Informativo 815 STF, HC 126.536/ES – Interceptação telefônica e 
competência 
Esse informativo merece retificação, pois dá a entender que a legalidade da 
interceptação telefônica depende exclusivamente da reserva de jurisdição, ou seja, de 
ter sido autorizada por uma autoridade judicial, competente ou não. Mas isso não reflete 
o que foi decidido (até porque o próprio art. 1º, caput, Lei 9.296/96 dispõe que a 
interceptação dependerá de ordem do juiz competente). Na verdade, o tema versa sobre 
juízo aparentemente competente. 
Teoria da competência jurisdicional aparente. 
Considerado um inquérito em andamento, a interceptação telefônica foi determinada 
pelo juízo competente para intervir na investigação (Juiz da Central de Inquérito). 
Acontece, durante a interceptação, que foram relevadas informações pertinentes a 
crime objetivo de ação própria em andamento perante outro Juízo. A defesa sustentou 
que a medida deveria ter sido implementada por esse último Juízo. No entanto, quando 
o pedido de interceptação foi formulado, não se tinha ciência disso, sendo o juiz da 
Central de Inquérito realmente ou aparentemente competente. 
Encontro fortuito de provas ou serendipidade. O aproveitamento da prova é 
perfeitamente possível. 
 
 Informativo 574 STJ - Suspensão condicional do processo e extinção da 
punibilidade / Condições aditivas 
Art. 89, Lei 9.099/95. Art. 1º traz condições legais e o art. 2º autoriza a possibilidade de 
determinar outras condições. 
Assentou o STJ, na linha do STF, que a inclusão de prestação pecuniária e de prestação 
de serviços à comunidade não traduzem antecipação de pena, porque vêm sob a 
roupagem de outras condições da suspensão da pena. 
 
Art. 89, Lei 9.099/95. O §3º traz causas de revogação obrigatória e o §4º traz causas de 
revogação facultativa. Possibilidade de revogar a suspensão depois de terminado o 
prazo. 
 
STJ decidiu, na linha do STF, que as causas revocatórias operam automaticamente, 
podendo ao juiz declará-las, mesmo se já encerrado o prazo, independentemente se a 
causa é obrigatória ou facultativa. O provimento do juiz se limitaria a declarar uma 
situação preexistente (ex tunc), que é a revogação da suspensão. 
Muitos Tribunais inferiores adotam apenas parcialmente essa orientação (TJRJ). Não 
abraçam a tese se a causa revocatória for facultativa, pois nesses casos, o juiz tem a 
liberdade de, querendo, conservar a suspensão do processo, não se podendo afirmar 
que a revogação ocorreria automaticamente. 
 
 Informativo 849 STF, RHC 137.368/RS 
A ementa do informativo dá a entender que o Tribunal teria validado o conteúdo de prova 
ilícita por meio de outras provas lícitas, mas não foi o que aconteceu. 
No caso concreto, o réu foi pronunciado por homicídio doloso, associando a embriaguezao dolo eventual. O exame de etilômetro (bafômetro) foi declarado ilícito, desentranhado 
dos autos, sendo rabiscadas as referências a ele na pronúncia e acórdãos. Não se 
entendeu pela nulidade desses pronunciamentos, porque a ratio decidendi não se 
resumia ao laudo do exame, mas também à prova oral e à confissão alusiva à ingestão 
de bebida alcóolica, que por si sós seriam capazes de sustentar a pronúncia pelo dolo 
eventual. Em momento algum se cogitou a validação de prova ilícita por meio de outras 
sequencialmente obtidas. Os depoimentos não foram decorrência do resultado do 
exame, para se cogitar da teoria dos frutos envenenados. Foram provas obtidas 
concomitantemente. 
 
 Informativo 819 (2ª Turma) / Informativo 826 (1ª Turma) STF 
Na linha do STJ, o STF também entende ser da competência constitucional do Júri (art. 
5º, XXXVIII, d, CRFB) avaliar se a embriaguez revela dolo eventual ou culpa consciente, 
sendo assim factíveis as pronúncias que admitem tal associação. 
A associação da embriaguez a dolo eventual ou culpa consciente é matéria estritamente 
jurídica.

Continue navegando