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1 2 SUMÁRIO 01. DAS NULIDADES ............................................................................................... 3 02. DA TEORIA GERAL DAS PROVAS ....................................................................... 16 03. DAS PROVAS EM ESPÉCIE................................................................................. 34 04. COMPETÊNCIA ................................................................................................ 68 05. PADRÃO DE RESPOSTAS .............................................................................. 96 3 DAS NULIDADES 1.1 - TEORIA GERAL DAS NULIDADES: a) INTRODUÇÃO Podemos afirmar que no processo penal há uma grande tensão existente em compatibilizar o direito do Estado-acusação perseguir a responsabilização penal do indivíduo que, supostamente, violou a lei penal e o dever do Estado, imposto pela Constituição da República, de garantir aos acusados, de uma maneira geral, a observância do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa, dentre outras garantias fundamentais. Tal tensionamento é bastante perceptível no tema de nulidades, uma vez que há uma tendência natural da acusação e da jurisprudência em relativizar algumas violações a dispositivos inerentes à lei processual, havendo um verdadeiro descompasso entre o que preceitua a doutrina, à luz do que prega a Constituição da República, e a jurisprudência dominante. Em razão disso, o estudo da teoria das nulidades é bastante tormentoso, uma vez que a ausência de uma interpretação uniforme aliada ao casuísmo jurisprudencial e a falta de uma atualização legislativa em consonância com o sistema processual adotado pela Constituição dificultam sobremaneira a análise das invalidades processuais. b) SISTEMA DA TIPICIDADE DOS ATOS PROCESSUAIS Em relação ao sistema processual adotado pelo legislador no que concerne aos atos processuais, bem como as consequências jurídicas advindas de eventual não- observância do modelo padrão estipulado pela lei processual, mister elencar o preciso ensinamento de Heráclito Antônio Mossin (2005, p. 46-47), abordando o sistema adotado pelo legislador processual brasileiro: O processo, sob o quadrante formal, é um conjunto de atos processuais, cuja coordenação ou sucessão encadeada é feita por intermédio do chamado procedimento. Para que esses atos que compõem o procedimento produzam seus efeitos jurídicos dentro e fora do processo e para que a ordem jurídica não pereça, necessário se torna que sejam realizados segundo as formas preconizadas pela lei processual penal. Em circunstâncias desse matiz, cumpre ao legislador estabelecer a constituição intrínseca e extrínseca do ato processual, enfim o modelo segundo o qual deve ser praticado: Forma dat est rei. A isso se chama de tipicidade dos atos processuais 01 Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 4 No tocante ao chamado sistema da tipicidade dos atos processuais ou legalidade dos atos processuais, podemos afirmar que o legislador construiu um modelo pelo qual o juiz, os assistentes e as partes devem se ajustar ao modelo legal, ou seja, todos aqueles que participam da relação processual devem pautar o seu agir em conformidade com aquilo que a lei processual determina. Desta feita, quando há uma inadequação ao modelo proposto pela lei no tipo processual em comento, haverá a atipicidade de tal ato processual, sendo que a consequência jurídica variará de acordo com o grau de violação respectivo, podendo ensejar uma mera irregularidade sem qualquer espécie de sanção processual ou até mesmo acarretar a inexistência do ato, por não conter os requisitos mínimos de formação. b) GRAUS DE ATIPICIDADE De uma maneira geral, a doutrina aponta os seguintes graus de violação: I - ATIPICIDADE IRRELEVANTE – Neste caso a consequência jurídica será a mera irregularidade, não ensejando sanção processual específica, como por exemplo, no caso de a defesa ou a acusação oferecer as razões da Apelação fora do prazo estabelecido pelo artigo 600 do CPP, uma vez que já interpôs o aludido recurso, podendo o Tribunal respectivo conhecer e julgá-lo, inclusive sem as respectivas razões. II – ATIPICIDADE MUITO INTENSA – Neste caso a consequência jurídica será a própria inexistência do ato processual, uma vez que a atipicidade em questão atingiu os requisitos mínimos de formação do ato processual em si, não se situando no plano da validade e sim no plano da existência, como, por exemplo, no caso de uma sentença exarada por pessoa não investida de jurisdição ou alegações finais escritas assinadas somente pelo estagiário do escritório de advocacia. III- ATIPICIDADE ATINGINDO NORMA DE INTERESSE PÚBLICO – Neste caso, haverá a nulidade absoluta, restando o prejuízo presumido em razão da natureza da norma violada. IV – ATIPICIDADE ATINGINDO NORMA QUE ATENDA INTERESSE DAS PARTES – Neste caso haverá a nulidade relativa, devendo a parte comprovar o prejuízo, sob pena de convalidação ou sanatória do ato. 1.2) CONCEITO DE NULIDADE Nulidade é o vício que contamina determinado ato processual, praticado sem a observância da forma prevista em lei, podendo invalidar o ato ou o processo, no todo ou em parte. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 5 1.3) NULIDADE ABSOLUTA E RELATIVA a) nulidades absolutas: São aquelas que devem ser proclamadas pelo magistrado, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, porque produtoras de nítidas infrações ao interesse público na produção do devido processo legal. Ex.: não conceder o juiz ao réu ampla defesa, cerceando a atividade do seu advogado. São nulidades insanáveis, que jamais precluem. O prejuízo da parte é presumido. A única exceção é a Súmula 160 do STF: “É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.” b) nulidades relativas: São aquelas que somente serão reconhecidas caso arguidas pela parte interessada, demonstrando o prejuízo sofrido pela inobservância da formalidade legal prevista para ato realizado. 1.4) VÍCIOS PROCESSUAIS – art. 564 I) JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA – ART. 564, I a) Incompetência A competência absoluta (em razão da matéria e de foro privilegiado) não admite prorrogação; logo, se infringida, é de ser reconhecido o vício como nulidade absoluta, b) Suspeição Se houver suspeição do juiz, caberá às partes, se o próprio Magistrado não se abstiver de funcionar no feito, argui-la, nos termos do art. 98 do CPP. Reconhecida a suspeição, ficarão nulos todos os atos (probatórios e decisórios), como estabelece o art. 101 do CPP. Os motivos legais de suspeição estão elencados no art. 254 do CPP. II) ILEGITIMIDADE DA PARTE (ART. 564, II) No inciso II, erige-se à categoria de nulidade a ilegitimidade de parte. Em se tratando de ilegitimidade do representante da parte, a sanabilidade poderá ocorrer antes da sentença, com a simples ratificação dos atos processuais. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo HighlightFrancine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 6 III) FALTA DE ATOS ESSENCIAIS (FALTA DE FÓRMULAS OU TERMOS) – Art. 564, III Há, no processo, atos considerados essenciais, imprescindíveis para a validade da relação processual. São assim considerados porque a omissão (do ato) de qualquer deles é nulidade absoluta. São atos estruturais, ou essenciais, os alinhados no inciso III do art. 564. Faz- se exceção àqueles elencados nas letras “d” e “e”, segunda parte, e, finalmente, “g” e “h” desse mesmo inciso. O próprio legislador admitiu a sanabilidade desses atos, nos termos do art. 572. O inciso IV do art. 564 cuida da omissão da formalidade que constitua elemento essencial do ato. a) Denúncia ou queixa e a representação (art. 564, III, “a”) A falta de denúncia ou de queixa impossibilita o início da ação penal, razão pela qual este inciso, na realidade, refere-se à ausência das formulas legais previstas para essas peças processuais. Uma denúncia ou queixa formulada sem os requisitos indispensáveis (art. 41, CPP), certamente é nula. * Representação: A falta de representação pode gerar nulidade, pois termina provocando ilegitimidade para o órgão acusatório agir. Entretanto, é possível convalidá-la, se dentro do prazo decadencial. b) Exame de corpo de delito – art. 564, III, “b” Quando o crime deixa vestígios, é indispensável a realização do exame de corpo de delito, direto ou indireto, conforme preceitua o art. 158 deste Código. Assim, havendo um caso de homicídio, por exemplo, sem laudo necroscópico, nem outra forma válida de produzir a prova de existência da infração penal, deve ser decretada a nulidade do processo. Trata-se de nulidade absoluta. c) Defesa do réu – art. 564, III, “c” Preceitua a Constituição Federal que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (art. 5º, LV). Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 7 Nessa esteira, o Código de Processo Penal prevê que “nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor” (art. 261). Assim, a falta de defesa é motivo de nulidade absoluta. c.1) Não nomeação de defensor dativo: É caso de nulidade absoluta. c.2) Ausência de defesa ou deficiência de defesa: Súmula 523 do STF: “No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”. d) Falta de Intervenção do Ministério Público – art. 564, III, “d” É causa de nulidade se o representante do Ministério Público não interferir nos feitos por ele intentados (ação pública), bem como naqueles que foram propostos pela vítima, em atividade substitutiva do Estado-acusação (ação privada subsidiária da pública) e nas ações privadas. e) Falta ou nulidade da citação do réu para se ver processar (Ampla defesa e contraditório e interrogatório) – art. 564, III, “e” e.1) Citação Se o réu não for citado ou se a citação for feita em desacordo com as normas processuais, prejudicando ou cerceando o réu, é motivo para anulação do feito a partir da ocorrência do vício. Trata-se de nulidade absoluta. A falta ou a nulidade da citação estará sanada desde que o interessado compareça antes de o ato consumar-se (art. 570). Porém, haverá nulidade insanável se a falta de citação prejudicar a defesa do acusado, não sendo possível a convalidação do vício apenas pelo comparecimento do réu ao ato. e.2) Interrogatório – art. 564, III, “e” O interrogatório, sendo ato fundamental – mesmo que não imprescindível -, deve sempre ser realizado quando o acusado estiver presente, em qualquer momento do procedimento, a fim de que ele, no exercício de sua defesa pessoal, possa apresentar diretamente a sua versão a respeito do fato, influindo sobre o convencimento do juiz. Por isso, o CPP, estatui, no artigo 564, III, “e”, que há nulidade na falta de interrogatório do réu presente. Cuida-se de nulidade insanável. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 8 e.3) Concessão de prazos à acusação e à defesa: Ao longo da instrução, vários prazos para manifestações e produção de provas são concedidos às partes. Deixar de fazê-lo pode implicar um cerceamento de acusação ou de defesa, resultando em nulidade relativa, ou seja, se houver prejuízo demonstrado. f) Sentença de pronúncia – art. 564, III, “f” - Com a abolição do libelo, a alínea “f” fica restrita à pronúncia. g) Intimação do réu para a sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri – art. 564, III, “g” Tornou-se possível a realização do julgamento em plenário do Tribunal do Júri, mesmo estando o réu ausente (art. 457). Entretanto, é direito do acusado ter ciência de que se realizará a sessão, podendo exercer o seu direito de comparecimento. Logo, a falta de intimação pode gerar nulidade, porém relativa. Por outro lado, se o acusado, ainda que não intimado, comparecer para a sessão, supera-se a falta de intimação, pois a finalidade da norma processual foi atingida, que é permitir sua presença diante do júri. h) Intimação de testemunhas - art. 564, III, “h” Com a abolição do libelo, as partes poderão arrolar suas testemunhas, máximo 5 para cada uma das partes, conforme dispõem os arts. 422 e 423 do CPP. Se não forem intimadas e, sem embargo, comparecerem, a nulidade será considerada sanada, nos termos do art. 572. Não comparecendo, por não terem sido intimadas, a nulidade é absoluta. i) Instalação da sessão do júri – art. 564, III, “i” Trata-se de norma cogente, implicando nulidade absoluta a instalação dos trabalhos, no Tribunal do Júri, com menos de quinze jurados. j) Incomunicabilidade dos jurados – art. 564, III, “j” É causa de nulidade absoluta a comunicação dos jurados, entre si, sobre os fatos relacionados ao processo, ou com o mundo exterior – pessoas estranhas ao julgamento -, sobre qualquer assunto. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 9 k) Inexistência dos quesitos e suas respostas – art. 564, III, “k” Súmula 156 do STF: “É absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, por falta de quesito obrigatório”. l) Acusação e defesa no julgamento pelo Tribunal do Júri – art. 564, III, “l” m) Ausência da sentença – art. 564, III, “m” n) Recurso de ofício – art. 564, III, “n” Na verdade, cuida-se do duplo grau de jurisdição necessário. Em determinadas hipóteses, impôs a lei que a questão, julgada em primeiro grau, seja obrigatoriamente revista por órgão de segundo grau. A importância do tema faz com que haja dupla decisão a respeito. Ex: a sentença concessiva de habeas corpus (art. 574, I). o desrespeito a esse dispositivo faz com que a sentença não transite em julgado, implicando a nulidade absoluta dos atos que vierema ser praticados após a decisão ter sido proferida. Caso a parte interessada apresente recurso voluntário, supre-se a falta do recurso de ofício. o) Intimação para recurso – art. 564, III, “o” As partes têm direito a recorrer de sentenças e despachos, quando a lei prevê a possibilidade, motivo pelo qual devem ter ciência do que foi decidido. Omitindo-se a intimação, o que ocorrer, a partir daí, é nulo, por evidente cerceamento de acusação ou de defesa, conforme o caso. IV) REGULARIZAÇÃO DA FALTA OU NULIDADE DA CITAÇÃO, INTIMAÇÃO OU NOTIFICAÇÃO – ART. 570 Estabelece o art. 570 do CPP que o comparecimento do interessado, ainda que somente com o fim de arguir a irregularidade, sana a falta ou nulidade da citação, intimação ou notificação. Exemplo de como já foi cobrado pela FGV: Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 10 ENUNCIADO DA PEÇA XXII EXAME O magistrado concedeu prazo para as partes se manifestarem em alegações finais por memoriais. O Ministério Público requereu a condenação nos termos da denúncia. O advogado de Leonardo, contudo, renunciou aos poderes, razão pela qual, de imediato, o magistrado abriu vista para a Defensoria Pública apresentar alegações finais. Gabarito Comentado: No conteúdo das Razões Recursais, preliminarmente, deveria o advogado alegar a nulidade da sentença, devendo os atos desde a apresentação das alegações finais pela defesa serem anulados. Isso porque Leonardo tinha advogado constituído nos autos que veio a renunciar. Diante disso, deveria o magistrado intimar o réu, que estava preso, para informar se tinha interesse em constituir novo advogado ou ser assistido pela Defensoria Pública. A decisão do juiz de, de imediato, encaminhar os autos para Defensoria Pública viola o princípio da ampla defesa na vertente da defesa técnica. Certamente houve prejuízo, pois as Alegações Finais foram apresentadas sem qualquer contato do Defensor com o acusado e este foi condenado. DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS Preliminarmente: Nulidade da sentença ou de todos os atos processuais desde as alegações finais apresentadas pela Defensoria Pública (0,25), tendo em vista que não houve intimação do réu para manifestar interesse em indicar novo advogado OU tendo em vista que houve prejuízo para ampla defesa (0,15). Pontuação: 0,00/0,15/0,25/0,40 QUESTÃO 4 – XXIX EXAME OAB Em processo no qual se imputava a Antônio a prática do crime de constituição de milícia privada, foi designada audiência de instrução e julgamento para oitiva das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa. No dia da audiência, as testemunhas de acusação não compareceram, determinando o magistrado, por economia processual, a oitiva das testemunhas de defesa presentes, apesar de o advogado de Antônio se insurgir contra esse fato. Na ocasião, foram ouvidas três testemunhas de defesa, dentre as quais Pablo, que prestou declarações falsas para auxiliar o colega nesse processo criminal. Identificada sua conduta, porém, houve extração de peças ao Ministério Público, que, em 09 de abril de 2019, ofereceu denúncia em face de Pablo, imputando-lhe a prática do crime de falso testemunho na forma majorada. No processo de Antônio, foi designada nova audiência de instrução e julgamento, ocasião em que foram ouvidas as testemunhas de acusação; novamente, Pablo, a seu pedido, prestou declarações, confirmando Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 11 que havia mentido na audiência anterior, mas que agora contava a verdade, o que veio a prejudicar a própria defesa do réu. Com base nas declarações das testemunhas de acusação e nas novas declarações de Pablo, Antônio veio a ser condenado. Pablo, por sua vez, em seu processo pelo crime de falso testemunho, também veio a ser condenado, reconhecendo o magistrado a atenuante do Art. 65, inciso III, alínea b, do Código Penal. Considerando as informações narradas, responda, na condição de advogado(a) de Antônio e Pablo. A) Qual argumento de direito processual poderá ser apresentado por você para desconstituir a sentença condenatória do réu? Justifique. (Valor: 0,65) B) Qual o argumento de direito material a ser apresentado pela defesa técnica de Pablo para questionar a sentença condenatória? Justifique. (Valor: 0,60) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. QUESTÃO 2 – XXII EXAME OAB Em inquérito policial, Antônio é indiciado pela prática de crime de estupro de vulnerável, figurando como vítima Joana, filha da grande amiga da Promotora de Justiça Carla, que, inclusive, aconselhou a família sobre como agir diante do ocorrido. Segundo consta do inquérito, Antônio encontrou Joana durante uma festa de música eletrônica e, após conversa em que Joana afirmara que cursava a Faculdade de Direito, foram para um motel onde mantiveram relações sexuais, vindo Antônio, posteriormente, a tomar conhecimento de que Joana tinha apenas 13 anos de idade. Recebido o inquérito concluído, Carla oferece denúncia em face de Antônio, imputando-lhe a prática do crime previsto no Art. 217-A do Código Penal, ressaltando a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que, para a configuração do delito, não se deve analisar o passado da vítima, bastando que a mesma seja menor de 14 anos. Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de Antônio, responda aos itens a seguir. A) Existe alguma medida a ser apresentada pela defesa técnica para impedir Carla de participar do processo? Justifique. (Valor: 0,60) B) Qual a principal alegação defensiva de direito material a ser apresentada em busca da absolvição do denunciado? Justifique. (Valor: 0,65) 12 QUESTÃO 01 – XXVII EXAME Fausto, ao completar 18 anos de idade, mesmo sem ser habilitado legalmente, resolveu sair com o carro do seu genitor sem o conhecimento do mesmo. No cruzamento de uma avenida de intenso movimento, não tendo atentado para a sinalização existente, veio a atropelar Lídia e suas 05 filhas adolescentes, que estavam na calçada, causando-lhes diversas lesões que acarretaram a morte das seis. Denunciado pela prática de seis crimes do Art. 302, § 1º, incisos I e II, da Lei nº 9503/97, foi condenado nos termos do pedido inicial, ficando a pena final acomodada em 04 anos e 06 meses de detenção em regime semiaberto, além de ficar impedido de obter habilitação para dirigir veículo pelo prazo de 02 anos. A pena privativa de liberdade não foi substituída por restritivas de direitos sob o fundamento exclusivo de que o seu quantum ultrapassava o limite de 04 anos. No momento da sentença, unicamente com o fundamento de que o acusado, devidamente intimado, deixou de comparecer espontaneamente a última audiência designada, que seria exclusivamente para o seu interrogatório, o juiz decretou a prisão cautelar e não permitiu o apelo em liberdade, por força da revelia. Apesar de Fausto estar sendo assistido pela Defensoria Pública, seu genitor o procura, para que você, na condição de advogado(a), preste assistência jurídica. Diante da situação narrada, como advogado(a), responda aos seguintes questionamentos formulados pela família de Fausto: A) Mantida a pena aplicada, é possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos? Justifique. (Valor: 0,65) B) Em caso de sua contratação para atuar no processo, o que poderá ser alegado para combater, especificamente, o fundamento da decisão que decretou a prisão cautelar? (Valor: 0,60)13 FIQUE LIGADO! Edição 69 STJ – NULIDADES NO PROCESSO PENAL 1) A decretação da nulidade de ato processual requer prova inequívoca do prejuízo suportado pela parte, em face do princípio pas de nullité sans grief, previsto no art. 563 do Código de Processo Penal. 2) As nulidades surgidas no curso da investigação preliminar não atingem a ação penal dela decorrente. 3) As irregularidades relativas ao reconhecimento pessoal do acusado não ensejam nulidade, uma vez que as formalidades previstas no art. 226 do CPP são meras recomendações legais. 4) A ausência de intimação pessoal da Defensoria Pública ou do defensor dativo sobre os atos do processo gera, via de regra, a sua nulidade. 5) A nulidade decorrente da ausência de intimação - seja a pessoal ou por diário oficial - da data de julgamento do recurso não pode ser arguida a qualquer tempo, sujeitando-se à preclusão temporal. 6) O defensor dativo que declinar expressamente da prerrogativa referente à intimação pessoal dos atos processuais não pode arguir nulidade quando a comunicação ocorrer por meio da imprensa oficial. 7) A ausência de intimação da defesa sobre a expedição de precatória para oitiva de testemunha é causa de nulidade relativa. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 14 8) A falta de intimação do defensor acerca da data da audiência de oitiva de testemunha no juízo deprecado não enseja nulidade processual, desde que a defesa tenha sido cientificada da expedição da carta precatória. 9) A inversão da ordem prevista no art. 400 do CPP, que trata do interrogatório e da oitiva de testemunhas de acusação e de defesa, não configura nulidade quando o ato for realizado por carta precatória, cuja expedição não suspende o processo criminal. 10) O falecimento do único advogado, ainda que não comunicado o fato ao tribunal, poderá dar ensejo à nulidade das intimações realizadas em seu nome. 11) Na intimação pessoal do réu acerca de sentença de pronúncia ou condenatória, a ausência de apresentação do termo de recurso ou a não indagação sobre sua intenção de recorrer não gera nulidade do ato. 12) A inquirição das testemunhas pelo Juiz antes que seja oportunizada às partes a formulação das perguntas, com a inversão da ordem prevista no art. 212 do Código de Processo Penal, constitui nulidade relativa. 13) A falta de comunicação ao acusado sobre o direito de permanecer em silêncio é causa de nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da comprovação do prejuízo. 14) A ausência do oferecimento das alegações finais em processos de competência do Tribunal do Júri não acarreta nulidade, uma vez que a decisão de pronúncia encerra juízo provisório acerca da culpa. 16) A instauração de inquérito policial em momento anterior à constituição definitiva do crédito tributário não é causa de nulidade da Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 15 15) As nulidades existentes na decisão de pronúncia devem ser arguidas no momento oportuno e por meio do recurso próprio, sob pena de preclusão. 16) A instauração de inquérito policial em momento anterior à constituição definitiva do crédito tributário não é causa de nulidade da ação penal, se evidenciado que o tributo foi constituído antes de sua propositura. 17) É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por prevenção (Súmula 706/STF). 18) A utilização da técnica de motivação per relationem não enseja a nulidade do ato decisório, desde que o julgador se reporte a outra decisão ou manifestação dos autos e as adote como razão de decidir. 19) São nulas as provas obtidas por meio da extração de dados e de conversas privadas registradas em correio eletrônico e redes sociais (v.g. whatsapp e facebook) sem a prévia autorização judicial. 20) O compartilhamento de dados obtidos pela Receita Federal com fundamento no art. 6º da Lei Complementar n. 105/2001, mediante requisição direta às instituições bancárias no âmbito de processo administrativo fiscal, é considerado nulo, para fins penais, se não decorrer de expressa determinação judicial. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 16 DA TEORIA GERAL DAS PROVAS Trata-se de todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade de comprovar a verdade de uma alegação. 2.1) INTRODUÇÃO E CONCEITO TRATA-SE DE TODO E QUALQUER MEIO DE PERCEPÇÃO EMPREGADO PELO HOMEM COM A FINALIDADE DE COMPROVAR A VERDADE DE SUA ALEGAÇÃO. É o conjunto de elementos produzidos pelas partes ou determinado pelo juiz visando à formação do convencimento quanto a atos, fatos e circunstâncias. O termo prova, segundo Guilherme de Souza Nucci, vem do latim “probatio”, que significa ensaio, verificação, inspeção, exame, argumento, razão, aprovação ou confirmação. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: A) NORMALMENTE NO PROCESSO PENAL HÁ UMA CONTROVÉRSIA FÁTICA: IMPUTAÇÃO DOS FATOS PENALMENTE RELEVANTES PELA ACUSAÇÃO X NEGATIVA DE TAIS FATOS PELA DEFESA. NESTE SENTIDO AS PROVAS NO PROCESSO PENAL DESEMPENHAM UMA FUNÇÃO IMPORTANTÍSSIMA. B) NA ATIVIDADE PROBATÓRIA HÁ UMA RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA DOS FATOS, RAZÃO PELA QUAL A ATIVIDADE DO MAGISTRADO POSSUI SEMELHANÇAS COM A ATIVIDADE DO HISTORIADOR, UMA VEZ QUE AMBOS ANALISAM FATOS JÁ OCORRIDOS, ENTRETANTO, COM ALGUMAS DIFERENÇAS, NA MEDIDA EM QUE A ATIVIDADE DO MAGISTRADO POSSUI LIMITES, COMO POR EXEMPLO, EM RELAÇÃO À INADMISSIBILIDADE DE PROVAS ILÍCITAS E, NECESSARIAMENTE, PRECISA CHEGAR A UMA CONCLUSÃO, AINDA QUE NÃO CONVENCIDO DA CULPABILIDADE DO ACUSADO. C) TENDO EM VISTA QUE O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL É DE 1941, APESAR DA OCORRÊNCIA DE ALGUMAS REFORMAS RECENTES, AINDA HÁ UMA NECESSIDADE DE COMPATIBILIZAR O CPP COM A CR/88, PRINCIPALMENTE EM RELAÇÃO ÀS CLÁUSULAS DE RESERVA DE JURISDIÇÃO. (EX. ART. 241 CPP – BUSCA E APREENSÃO DOMICILIAR SEM MANDADO) D) O CPP NÃO REGULAMENTOU TEMAS ESSENCIAIS COMO A INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL, (LEI 12850/13) OU TELEFÔNICA (LEI 9296/96), SENDO NECESSÁRIA A OBSERVÂNCIA DA LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE. 02 Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 17 E) A LEI 11690/08 ALTEROU O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DE MANEIRA SUBSTANCIAL EM RELAÇÃO ÀS PROVAS: E.1) Alterou os artigos referentes às disposições gerais (155/157). E.2) Alterou o artigo 159 do CPP, passando a exigir apenas um perito de natureza oficial. E.3) Alterou o art. 212 do CPP, admitindo que as partes fizessem perguntas de forma direta às testemunhas. E.4) Alterou o art. 386, VI do CPP dispondo que a dúvida fundada sobre a existência de circunstância que exclua o crime ou isente réu de pena é caso de absolvição. 2.2) OBJETO DA PROVA E OBJETIVO A regulamentação dos meios de prova no CPP não é taxativa. Objetivo: Formar a convicção do juiz sobre os elementos necessários para a decisão da causa. Objeto: fatos principais ou secundários, que reclamem apreciação judicial e exijam uma comprovação. Dispensam a necessidade de comprovação: a) fatos axiomáticos: são aqueles considerados evidentes, que decorrem da própria intuição, gerando grau de certeza irrefutável. Ex: A prova da putrefação do cadáver dispensa a prova da morte, pois a primeiracircunstância decorre da segunda. b) fatos notórios: são aqueles que fazem parte do patrimônio cultural indivíduo. Se aplica o princípio notorium non eget probatione (o que é notório dispensa a prova). Ex. crime contra honra do prefeito dispensa a juntada de diploma do mandato. c) presunções legais: são juízos de certeza decorrentes da lei. Podem ser: jure et jure (absoluta) ou juris tantum (relativas). As presunções absolutas não admitem prova em contrário, sendo exemplo a condição de inimputável do indivíduo menor de 18 anos. As presunções relativas, por sua vez, admitem prova em contrário. Neste sentido, oportuno mencionar que havia discordância entre doutrina e jurisprudência acerca da presunção da vulnerabilidade do menor de 14 anos em relação ao crime de estupro de vulnerável, existindo discussão se se configuraria presunção relativa ou absoluta. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 18 Todavia, recentemente restou pacificado entendimento de que se trata de presunção com caráter absoluto, ao ser editada a Súmula 593 do STJ, que dispõe que “o crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente”. Obs: Os fatos incontroversos (admitidos pelas partes) não dispensam a prova = vide art. 156, II, e art. 197 do CPP (não dá para aplicar a regra do processo civil neste caso). 2.3) PRINCÍPIOS Princípios regentes da produção probatória: a) contraditório: significa que toda prova realizada por uma das partes admite a produção de uma contraprova pela outra. Significa garantir a participação das partes no processo, bem como o poder de influência na decisão judicial b) comunhão (aquisição): De acordo com esse princípio as provas pertencem ao processo e não àquela parte que as trouxe. Desta feita, a doutrina apontava que se uma das partes desistir da oitiva de uma testemunha arrolada, o juiz, antes de concordar com a desistência, deveria intimar a parte contrária. Entretanto, a, a lei 11719 trouxe importante inovação, ao introduzir o parágrafo 2º no artigo 401: ...§ 2o A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas, ressalvado o disposto no art. 209 deste Código. Desta feita, pelo texto legal, se a acusação ou a defesa desistirem de uma testemunha arrolada, o juiz não precisa da concordância da parte contrária. Em razão disso, há quem entenda que o princípio da comunhão se aplica após o momento em que determinada prova é juntada ao processo e não antes. c) oralidade: predomínio da prova falada. Prestigia-se a concentração, publicidade e a imediação. Possui como subprincípios: c.1) concentração. Ex. Lei 9099/95 e audiência una de instrução e julgamento no procedimento comum (arts. 394 e seguintes do CPP. c.2) imediação: É necessário assegurar ao juiz o contato físico com as provas no ato de sua obtenção. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 19 d) autorresponsabilidade: partes assumem o ônus da inércia, erro ou negligência. e) não autoincriminação (nemo tenetur se detegere).: princípio da inexigibilidade de produção da prova contra si mesmo, fazendo que o acusado não seja obrigado a realizar alguma conduta positiva que pode lhe incriminar. Ex. Não é obrigado a realizar o exame de etilômetro. QUESTÃO 01 – XXVIII EXAME Matheus conduzia seu automóvel em alta velocidade. Em razão de manobra indevida, acabou por atropelar uma vítima, causando-lhe lesões corporais. Com a chegada da Polícia Militar, foi solicitado que Matheus realizasse exame de etilômetro (bafômetro); diante de sua recusa, foi informado pela autoridade policial, que comparecera ao local, que ele seria obrigado a realizar o exame para verificar eventual prática também do crime previsto no Art. 306 da Lei nº 9.503/97. Diante da afirmativa da autoridade policial, Matheus, apesar de não desejar, viu-se obrigado a realizar o teste do bafômetro. Após conclusão do inquérito policial, com oitiva e representação da vítima, foi o feito encaminhado ao Ministério Público, que ofereceu denúncia imputando a Matheus apenas a prática do crime do Art. 303, da Lei nº 9.503/97, prosseguindo as investigações com relação ao crime do Art. 306 do mesmo diploma legal. Ainda na exordial acusatória, foi requerida a decretação da prisão preventiva de Matheus, pelo risco de reiteração delitiva, tendo em vista que ele seria reincidente específico, já que a única anotação constante de sua Folha de Antecedentes Criminais, para além do presente processo, seria a condenação definitiva pela prática de outro crime de lesão corporal culposa praticada na direção de veículo automotor. No recebimento da denúncia, o juiz competente decretou a prisão preventiva. Considerando as informações narradas, na condição de advogado(a) de Matheus, responda aos itens a seguir. A) Poderia Matheus ter sido obrigado a realizar o teste de bafômetro, conforme informado pela autoridade policial, mesmo diante de sua recusa? Justifique. (Valor: 0,60) B) Qual requerimento deveria ser formulado, em busca da liberdade de Matheus, diante da decisão do magistrado, que decretou sua prisão preventiva em razão de sua reincidência? Justifique. (Valor: 0,65) 2.4) SISTEMAS DE APRECIAÇÃO DAS PROVAS a) SISTEMA DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO O CPP adotou, como regra, o do livre convencimento do juiz, fundamentado na prova produzida sob o contraditório judicial (art. 155, caput, CPP), embora remanesçam exceções com resquícios dos sist. da íntima convicção e da prova tarifada. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 20 Consequências da adoção do Sistema do Livre Convencimento do Juiz: a.1) ausência de limitação quanto aos meios de prova: o CPP não exaure as possibilidades probatórias; Ex: captações ambientais (gravação de conversa de duas ou mais pessoas em local público), serve como prova, embora careça de regulamentação específica. a.2) ausência de hierarquia: inexistência de valor prefixado na legislação. O juiz confere valoração às provas. Ex: pode desprezar a perícia e a confissão do réu. Restrições à liberdade valorativa do julgador: I) obrigação de motivar o decisum: art. 93, IX, CF e art. 381, III, CPP. II) as provas deverão constar dos autos do processo judicial (quod nos est in actis nos est in mundo). III) produção sob crivo contraditório: o art. 155 CPP não proibiu o uso de eventuais provas da fase extrajudicial como elementos de convicção secundário, restrição apenas como fundamento exclusivo de seu convencimento. Obs: as provas realizadas em caráter cautelar, antecipadamente e não sujeitas à repetição dispensam a necessidade de contraditório judicial. Ex: interceptação telefônica (art. 3°, I, Lei n° 9.296/96), busca domiciliar e perícia (exame de conjunção carnal e lesões). b) SISTEMA DA ÍNTIMA CONVICÇÃO: É adotado nos julgamentos afetos ao Tribunal do Júri: Os jurados não estão vinculados às provas existentes no processo e não precisam fundamentar a decisão, podem decidir com base em critérios subjetivos. (art. 593, III, e §3°, CPP). c) SISTEMA DA PROVA TARIFADA, DA VERDADE LEGAL OU DA CERTEZA MORAL DOLEGISLADOR A lei estabelece o valor de cada prova, impede poder discricionário do juiz para decidir contra a previsão legal. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 21 Ex: art. 62 CPP - extinção da punibilidade pela morte do réu exige certidão óbito. Ex.2: Art. 155, parágrafo único, CPP prova estado de pessoas deve ser comprovada via certidão. Súmula 74 do STJ. 2.5) ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO X ELEMENTOS DE PROVA (análise do art. 155 do Código de Processo Penal) Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. A) ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO X ELEMENTOS DE PROVA: ELEMENTO DE INFORMAÇÃO: PRODUZIDOS NA FASE INVESTIGATÓRIA, SEM OBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIA E AMPLA DEFESA (SISTEMA INQUISITORIAL) / FINALIDADE: DECRETAÇÃO DAS MEDIDAS CAUTELARES E FORMAÇÃO DA OPINIO DELICTI DO TITULAR DA AÇÃO PENAL ELEMENTOS DE PROVA: PRODUZIDOS NA FASE JUDICIAL, COM OBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA (SISTEMA ACUSATÓRIO) / FINALIDADE: CONVENCIMENTO DO MAGISTRADO) REGRA GERAL: O MAGISTRADO NÃO PODERÁ FUNDAMENTAR SUA DECISÃO EXCLUSIVAMENTE NOS ELEMENTOS INFORMATIVOS COLHIDOS NA INVESTIGAÇÃO. EXCEÇÃO: PROVAS CAUTELARES, IRREPETÍVEIS OU ANTECIPADAS. B) PROVAS CAUTELARES, IRREPETÍVEIS OU ANTECIPADAS: b.I) PROVA IRREPETÍVEL: NÃO É PRODUZIDA E NEM SUBMETIDA AO CRIVO DO CONTRADITÓRIO (CONTRADITÓRIO IMPOSSÍVEL) – A DOUTRINA EXIGE A CARACTERÍSTICA DA IMPREVISIBILIDADE: Ex. MORTE DE TESTEMUNHA (SE JÁ ERA PREVISÍVEL – ART. 225 CPP) Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 22 b.II) PROVA CAUTELAR: É PRODUZIDA SEM OBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIO (NORMALMENTE NA FASE INVESTIGATÓRIA), SENDO SUBMETIDA AO CONTRADITÓRIO POSTERIORMENTE EM JUÍZO. Ex. PROVA PERICIAL b.III) PROVA ANTECIPADA: PRODUZIDAS EM JUÍZO DE FORMA ANTECIPADA, AINDA QUE NA FASE DE INVESTIGAÇÃO. Ex: art. 225 Código de Processo Penal - ver art. 156, inciso I, CPP) 2.6) ÔNUS DA PROVA A) INTRODUÇÃO Ônus significa uma faculdade cujo exercício é necessário para a consecução de um interesse. I - PODE SER ABSOLUTO OU PERFEITO: QUANDO A NÃO REALIZAÇÃO NECESSARIAMENTE ACARRETARÁ UM PREJUÍZO Ex. NÃO RECORRER DE UMA SENTENÇA CONDENATÓRIA. II - PODE SER IMPERFEITO OU RELATIVO (NÃO NECESSARIAMENTE OCORRERÁ UM PREJUÍZO). Ex. ÔNUS DA PROVA NÃO CONFUNDIR ÔNUS COM OBRIGAÇÃO, UMA VEZ QUE NA OBRIGAÇÃO EXISTE SANÇÃO PARA O CASO DE DESCUMPRIMENTO (testemunha que regularmente intimada não comparece ao ato pode ser conduzida coercitivamente). B) ÔNUS DA PROVA É a faculdade de os sujeitos parciais produzirem as provas sobre as afirmações de fatos relevantes para o processo, cujo exercício poderá levá-los a obter uma posição de vantagem ou impedir que sofram um prejuízo. Não possui caráter absoluto em razão dos poderes instrutórios conferidos ao magistrado e ao princípio da comunhão das provas. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 23 Se divide em: Subjetivo: “quem deverá provar cada fato”. Objetivo: disciplina como o juiz deverá julgar. C) DISTRIBUIÇÃO Uma primeira corrente defende que no processo penal, em razão do princípio da presunção de inocência, o ônus de prova recai inteiramente sobre a acusação, não havendo que se falar em distribuição do ônus da prova. O art. 156 dispõe que a prova da alegação incumbirá a quem fizer. Já uma segunda corrente (majoritária) dispõe que: A) à acusação compete provar a existência do fato imputado e sua autoria, elementos subjetivos de dolo ou culpa, a existência de circunstâncias agravantes e qualificadoras. B) à defesa incumbe provar excludentes de ilicitude, culpabilidade ou tipicidade, atenuantes, minorantes e privilegiadoras. Obs: Importante saber que a lei 11690/08 alterou o art. 386, VI do CPP dispondo que a dúvida fundada sobre a existência de circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena devem ensejar a absolvição do acusado, o que mitigou o ônus da defesa neste ponto. Obs.2: Ônus da prova direito local: analogia à regra do art. 337 CPC. O juiz pode exigir da parte que o alega a respectiva comprovação. 2.7) PODERES INSTRUTÓRIOS DO MAGISTRADO (ARTIGO 156 CPP) Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. Em razão do princípio da busca da verdade e tendo em vista o fato de ser o destinatário das provas, o magistrado possui certa iniciativa probatória, não dependendo única e exclusivamente das partes para formar o seu convencimento. Entretanto, tal atividade é complementar a das partes. A faculdade do juiz na produção antecipada de prova: Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 24 O juiz pode ordenar ex officio a produção antecipada de provas urgentes e relevantes, mesmo antes de iniciada a ação penal, respeitada a necessidade, a adequação e a proporcionalidade. Essa faculdade do art. 156, I, CPP exige interpretação restritiva, sob pena de violação ao sistema acusatório. Requisitos: I - Existência do periculum in mora: relevância e urgência. II - Presença do fumus boni iuris: indício autoria e/ou materialidade. III - Existência de investigação em andamento. IV - Necessidade de procedimento sob análise judicial V - Excepcionalidade da atuação judicial - (Princ. Proporcionalidade). Faculdade do juiz na produção de provas ex officio: a) antes de iniciar a instrução: art. 149, §2°, art. 225, art. 366 CPP. b) após iniciar a instrução: art. 196, art. 209, art. 234, art. 242 CPP. 2.8) PROVAS ILEGAIS, VEDADAS OU PROIBIDAS: A Constituição em seu artigo 5°, inciso LVI, consagrou a regra da inadmissibilidade das provas ilícitas. Neste sentido, a doutrina majoritária sempre traçou uma diferenciação da prova ilícita (obtida com violação a uma regra de direito material) e a prova ilegítima (obtida com violação ao uma regra de direito processual. Além disso, como consequência da sua produção, a prova ilícita deveria ser desentranhada do processo e a prova ilegítima acarretaria a utilização da Teoria das Nulidades. Ocorre que a lei 11690/08, ao alterar o art. 157 do Código de Processo Penal, não fez menção a prova considerada ilegítima, razão pela qual parcela da doutrina, em especial o professor Guilherme de Souza Nucci, passou a sustentar que, após a referida reforma, não haveria diferenciação entre prova ilícita e ilegítima, ensejando o desentranhamento qualquer que seja a modalidade. Entretanto, a doutrina majoritáriaentende que, por se tratar de regra advinda da Constituição da República, em que pese ter havido reforma no CPP, ainda persistiria a diferenciação clássica, a seguir exposta: Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 25 a) PROVAS ILÍCITAS (art. 157 CPP): violação de regras direito material, produzindo reflexos diretos ou indiretos em direitos e garantias constitucionais. Ex: interceptação telefônica e busca e apreensão sem ordem judicial, violação carta lacrada, grampo, coação em interrogatório policial (afrontamento direito ao art. 5°, X, XI, XII, e LXIII, CF). Outros casos de afrontamento indireto à CF: interrogatório judicial de réu sem a presença de advogado ou sem prévia entrevista reservada com defensor (art. 185 CPP e art. 5°, LV, CF) e mediante coação (art. 186 CPP). Consequências do uso de provas ilícitas (art. 157 CPP): desentranhamento e, uma vez preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada, podendo as partes acompanhar o incidente. Obs: na ausência de previsão legal expressa, caberá recurso em sentido estrito em relação ao reconhecimento da ilicitude e no tocante ao desentranhamento e inutilização - (art. 581, XIII, CPP). b) PROVAS ILEGÍTIMAS: São aquelas produzidas a partir da violação de normas de natureza eminentemente processual. Ex: perícia por apenas um perito não-oficial - art. 159, §1°; reconhecimento judicial do réu sem observância das formalidades do art. 226 do CPP; extinção da punibilidade sem juntada de certidão óbito - art. 62 CPP. c) PROVAS ILÍCITAS POR DERIVAÇÃO: (art. 157, §1°, CPP) Embora lícitas na essência, decorrem exclusivamente de prova considerada ilícita ou de ilegalidade manifesta ocorrida anteriormente à sua produção (contaminadas). Antes da reforma de 2008 a qual expressamente previu tal regra, a jurisprudência se valia do art. 573, parágrafo 1°, que dispõe: a nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequência. Com a reforma de 2008, o artigo 157 incorporou de maneira expressa em nosso ordenamento jurídico a Teoria da Árvore dos Frutos Envenenados (fruits of the poisonous tree), a qual exige relação de exclusividade entre a prova posterior e a anterior que lhe deu origem. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 26 Exemplos: Sujeito que confessou a autoria de delito, entretanto, momento antes foi torturado por policiais civis. O professor André Nicoliti em seu blog relatou um caso que julgou como magistrado, no qual, policiais militares abordaram um sujeito na rua, que não se encontrava com drogas em sua posse, entretanto teria admitido (confissão não revestida das formalidades legais) aos policiais que tinha drogas em casa, razão pela qual, em ato contínuo, tais policiais se dirigiram até a residência em questão, encontrando substâncias entorpecentes. OBS: EXCEÇÕES OU LIMITAÇÕES À ADMISSIBILIDADE DA PROVA ILÍCITA POR DERIVAÇÃO: I - Fonte independente: Prevista de forma expressa no artigo 157, parágrafo 1°, parte final e no parágrafo segundo do aludido artigo, a Teoria da Fonte independente dispõe que se, além da prova ilícita, um outro elemento de convicção licitamente produzido conduzir ao objeto da prova em análise não haverá ilicitude. Neste caso, não haverá nexo de causalidade entre a prova que se quer utilizar e a situação de ilicitude ou ilegalidade antes ocorrida. Exemplo: A testemunha João, essencial para a elucidação de um fato, foi descoberta em razão de uma interceptação telefônica não revestida das formalidades legais. Ocorre que uma outra testemunha, sem qualquer relação com aquela interceptação telefônica ilegal, teria referido que João presenciou o referido fato. Neste sentido, o depoimento de João não será considerado ilegal pois decorreu de uma fonte independente. II - Limitação da contaminação expurgada (purged taint limitation) ou limitação da conexão atenuada: Não possui previsão expressa, decorrendo do direito americano. Ocorre quando um acontecimento posterior elide a ilicitude da prova viciada. Diferentemente da fonte independente, na limitação da contaminação expurgada há nexo de causalidade entre a situação de ilegalidade e a prova que se quer utilizar, entretanto este nexo é abrandado ou atenuado pela interferência de um acontecimento posterior. Exemplo: Sujeito que confessa sob tortura na fase policial. Entretanto, posteriormente, na fase judicial, devidamente acompanhado de advogado, vem a confessar a prática delitiva visando atenuar a pena em caso de provável condenação. 27 III - Descoberta inevitável (inevitable discovery): Também não possui previsão expressa, decorrendo do direito americano. Na descoberta inevitável, ainda que não fosse a ilicitude anterior, a prova teria surgido de qualquer modo pelos meios legais. Exemplo: Uma equipe de policiais da Delegacia de Polícia local, sem mandado, violou o domicílio de João, encontrando drogas na referida residência. Ocorre que, naquele momento, uma outra equipe de policiais da Delegacia Especializada no Combate às Drogas, devidamente munida do mandado, se dirigia para a residência em questão com a finalidade de investigar provável crime de tráfico de drogas. OBS: UTILIZAÇÃO DE PROVA ILÍCITA EM FAVOR DO RÉU E EM FAVOR DA SOCIEDADE: A doutrina e jurisprudência entendem ser possível o uso de provas ilícitas em favor do réu quando se tratar da única forma de absolvê-lo ou comprovar um fato importante à sua defesa. Uso da prova ilícita pro societate: Entendimento majoritário: o princípio da proporcionalidade não serve para justificar o uso da prova ilícita em favor da sociedade, mesmo que seja o único elemento para uma condenação. Entendimento minoritário: Norberto Avena defende o uso quando o interesse público exigir, em prevalência da segurança da sociedade, evitando-se a impunidade de criminosos. Ex: organizações criminosas, tráfico drogas e etc. (mal coletivo) QUESTÃO 01 – IV EXAME 2011.1 Maria, jovem extremamente possessiva, comparece ao local em que Jorge, seu namorado, exerce o cargo de auxiliar administrativo e abre uma carta lacrada que havia sobre a mesa do rapaz. Ao ler o conteúdo, descobre que Jorge se apropriara de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), que recebera da empresa em que trabalhava para efetuar um pagamento, mas utilizara tal quantia para comprar uma joia para uma moça chamada Júlia. Absolutamente transtornada, Maria entrega a correspondência aos patrões de Jorge. Com base no relatado acima, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. a) Jorge praticou crime? Em caso positivo, qual(is)? (Valor: 0,35) b) Se o Ministério Público oferecesse denúncia com base exclusivamente na correspondência aberta por Maria, o que você, na qualidade de advogado de Jorge, alegaria? (Valor: 0,9) Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 28 QUESTÃO 02 – EXAME XXI No dia 03 de março de 2016, Vinícius, reincidente específico, foi preso em flagrante em razão da apreensão de uma arma de fogo, calibre .38, de uso permitido, número de série identificado, devidamente municiada, que estava em uma gaveta dentro de seu local de trabalho, qual seja, o estabelecimento comercial “Vinícius House”, do qual era sócio-gerente e proprietário. Denunciado pelaprática do crime do Artigo 14 da Lei nº 10.826/03, confessou os fatos, afirmando que mantinha a arma em seu estabelecimento para se proteger de possíveis assaltos. Diante da prova testemunhal e da confissão do acusado, o Ministério Público pleiteou a condenação nos termos da denúncia em alegações finais, enquanto a defesa afirmou que o delito do Art. 14 do Estatuto do Desarmamento não foi praticado, também destacando a falta de prova da materialidade. Após manifestação das partes, houve juntada do laudo de exame da arma de fogo e das munições apreendidas, constatando-se o potencial lesivo do material, tendo o magistrado, de imediato, proferido sentença condenatória pela imputação contida na denúncia, aplicando a pena mínima de 02 anos de reclusão e 10 dias-multa. O advogado de Vinícius é intimado da sentença e apresentou recurso de apelação. Considerando apenas as informações narradas, responda na condição de advogado(a) de Vinicius: A) Qual requerimento deveria ser formulado em sede de apelação e qual tese de direito processual poderia ser alegada para afastar a sentença condenatória proferida em primeira instância? Justifique. (Valor: 0,65) B) Confirmados os fatos, qual tese de direito material poderia ser alegada para buscar uma condenação penal mais branda em relação ao quantum de pena para Vinicius? Justifique. (Valor: 0,60) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. QUESTÃO 03 – EXAME XXI Mário foi surpreendido por uma pessoa que, mediante ameaça verbal de morte, subtraiu seu celular. No dia seguinte, quando passava pelo mesmo local, avistou Paulo e o reconheceu como sendo a pessoa que o roubara no dia anterior. Levado para a delegacia, Paulo admitiu ter subtraído o celular de Mário mediante grave ameaça, mas alegou que estava em estado de necessidade. O celular não foi recuperado e Paulo foi liberado em razão da ausência da situação de flagrante. Oferecida a denúncia pela prática do delito de roubo, Paulo foi pessoalmente citado e manifestou interesse em ser assistido pela Defensoria Pública. No curso da instrução, a vítima, única testemunha arrolada pelo Ministério Público, não foi localizada, assim como Paulo nunca compareceu em juízo, sendo decretada sua revelia. A pretensão punitiva foi acolhida nos termos do pedido inicial, tendo o juiz fundamentado seu convencimento no que foi dito pelo lesado e pelo acusado na fase extrajudicial, aumentando a pena- base pelo fato de o agente ter ameaçado de morte o ofendido e deixando de reconhecer a atenuante da confissão espontânea porque qualificada. 29 QUESTÃO 01 – EXAME XXII Chegou ao Ministério Público denúncia de pessoa identificada apontando Cássio como traficante de drogas. Com base nessa informação, entendendo haver indícios de autoria e não havendo outra forma de obter prova do crime, a autoridade policial representou pela interceptação da linha telefônica que seria utilizada por Cássio e que fora mencionada na denúncia recebida, tendo o juiz da comarca deferido a medida pelo prazo inicial de 30 dias. Nas conversas ouvidas, ficou certo que Cássio havia adquirido certa quantidade de cocaína, pela primeira vez, para ser consumida por ele, juntamente com seus amigos Pedro e Paulo, na comemoração de seu aniversário, no dia seguinte. Diante dessa prova, policiais militares obtiveram ordem judicial e chegaram à casa de Cássio quando este consumia e oferecia a seus amigos os seis papelotes de cocaína para juntos consumirem. Cássio, portador de maus antecedentes, foi preso em flagrante e autuado pela prática do crime de tráfico, sendo, depois, denunciado como incurso nas penas do Art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06. Considerando os fatos narrados, responda, na qualidade de advogado(a) de Cássio, aos itens a seguir. A) Qual a tese de direito processual a ser suscitada para afastar a validade da prova obtida? (Valor: 0,65) B) Reconhecidos como verdadeiros os fatos narrados, qual a tese de direito material a ser alegada para tornar menos gravosa a tipificação da conduta de Cássio? (Valor: 0,60) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. 30 FIQUE LIGADO! Edição 105 STJ – PROVAS NO PROCESSO PENAL 1) As provas inicialmente produzidas na esfera inquisitorial e reexaminadas na instrução criminal, com observância do contraditório e da ampla defesa, não violam o art. 155 do Código de Processo Penal – CPP visto que eventuais irregularidades ocorridas no inquérito policial não contaminam a ação penal dele decorrente. 2) Perícias e documentos produzidos na fase inquisitorial são revestidos de eficácia probatória sem a necessidade de serem repetidos no curso da ação penal por se sujeitarem ao contraditório diferido. 3) A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo. (Súmula n. 455/STJ). 4) A propositura da ação penal exige tão somente a presença de indícios mínimos de materialidade e de autoria, de modo que a certeza deverá ser comprovada durante a instrução probatória, prevalecendo o princípio do in dubio pro societate na fase de oferecimento da denúncia. 5) A incidência da qualificadora rompimento de obstáculo, prevista no art. 155, § 4º, I, do Código Penal, está condicionada à comprovação por laudo pericial, salvo em caso de desaparecimento dos vestígios, quando a prova testemunhal, a confissão do acusado ou o exame indireto poderão lhe suprir a falta. 6) É válido e revestido de eficácia probatória o testemunho prestado por policiais envolvidos em ação investigativa ou responsáveis por prisão em flagrante, quando estiver em harmonia com as demais provas dos autos e for colhido sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. 7) O reconhecimento fotográfico do réu, quando ratificado em juízo, sob a garantia do contraditório e ampla defesa, pode servir como meio idôneo de prova para fundamentar a condenação. 8) A folha de antecedentes criminais é documento hábil e suficiente a comprovar os maus antecedentes e a reincidência, não sendo necessária a apresentação de certidão cartorária. 9) Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil. (Súmula n. 74/STJ). 10) O registro audiovisual de depoimentos colhidos no âmbito do processo penal dispensa sua degravação ou transcrição, em prol dos princípios da razoável duração do processo e da celeridade processual, salvo comprovada demonstração de necessidade. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 31 FIQUE LIGADO! Edição 111 STJ – PROVAS NO PROCESSO PENAL 1) É possível o arrolamento de testemunhas pelo assistente de acusação (art. 271 do Código de Processo Penal), desde que respeitado o limite de 5 (cinco) pessoas previsto no art. 422 do CPP. 2) O réu não tem direito subjetivo de acompanhar, por sistema de videoconferência, audiência de inquirição de testemunhas realizada, presencialmente, perante o Juízo natural da causa, por ausência de previsão legal, regulamentar e principiológica. 3) Em delitos sexuais, comumente praticados às ocultas, a palavra da vítima possui especial relevância, desde que esteja em consonância com as demais provas acostadas aos autos. 4) Nos delitos praticados em ambiente doméstico e familiar, geralmente praticados à clandestinidade, sem a presença de testemunhas, a palavra da vítima possui especial relevância, notadamente quando corroborada por outros elementos probatórios acostados aos autos. 5) É possível a antecipação da colheita da prova testemunhal, com base no art. 366 do CPP, nas hipóteses em que as testemunhas são policiais,tendo em vista a relevante probabilidade de esvaziamento da prova pela natureza da atuação profissional, marcada pelo contato diário com fatos criminosos. 6) Não há cerceamento de defesa quando a decisão que indefere oitiva de testemunhas residentes em outro país for devidamente fundamentada. 7) 7) É ilícita a prova colhida mediante acesso aos dados armazenados no aparelho celular, relativos a mensagens de texto, SMS, conversas por meio de aplicativos (WhatsApp), e obtida diretamente pela polícia, sem prévia autorização judicial. 8) 8) É desnecessária a realização de perícia para a identificação de voz captada nas interceptações telefônicas, salvo quando houver dúvida plausível que justifique a medida. 9) 9) É necessária a realização do exame de corpo de delito para comprovação da materialidade do crime quando a conduta deixar vestígios, entretanto, o laudo pericial será substituído por outros elementos de prova na hipótese em que as evidências tenham desaparecido ou que o lugar se tenha tornado impróprio ou, ainda, quando as circunstâncias do crime não permitirem a análise técnica. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 32 FIQUE LIGADO! Edição 117 STJ – INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA NO PROCESSO PENAL 1) A alteração da competência não torna inválida a decisão acerca da interceptação telefônica determinada por juízo inicialmente competente para o processamento do feito. 2) É admissível a utilização da técnica de fundamentação per relationem para a prorrogação de interceptação telefônica quando mantidos os pressupostos que autorizaram a decretação da medida originária. 3) O art. 6º da Lei n. 9.296/1996 não restringe à polícia civil a atribuição para a execução de interceptação telefônica ordenada judicialmente. 4) É possível a determinação de interceptações telefônicas com base em denúncia anônima, desde que corroborada por outros elementos que confirmem a necessidade da medida excepcional. FIQUE LIGADO! Edição 111 STJ – PROVAS NO PROCESSO PENAL 10) O laudo toxicológico definitivo é imprescindível para a configuração do crime de tráfico ilícito de entorpecentes, sob pena de se ter por incerta a materialidade do delito e, por conseguinte, ensejar a absolvição do acusado. 11) É possível, em situações excepcionais, a comprovação da materialidade do crime de tráfico de drogas pelo laudo de constatação provisório, desde que esteja dotado de certeza idêntica à do laudo definitivo e que tenha sido elaborado por perito oficial, em procedimento e com conclusões equivalentes. 12) É prescindível a apreensão e a perícia de arma de fogo para a caracterização de causa de aumento de pena prevista no art. 157, § 2º-A, I, do Código Penal, quando evidenciado o seu emprego por outros meios de prova. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 33 FIQUE LIGADO! Edição 117 STJ – INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA NO PROCESSO PENAL 5) A interceptação telefônica só será deferida quando não houver outros meios de prova disponíveis à época na qual a medida invasiva foi requerida, sendo ônus da defesa demonstrar violação ao disposto no art. 2º, inciso II, da Lei n. 9. 296/1996. 6) É legítima a prova obtida por meio de interceptação telefônica para apuração de delito punido com detenção, se conexo com outro crime apenado com reclusão. 7) A garantia do sigilo das comunicações entre advogado e cliente não confere imunidade para a prática de crimes no exercício da advocacia, sendo lícita a colheita de provas em interceptação telefônica devidamente autorizada e motivada pela autoridade judicial. 8) É desnecessária a realização de perícia para a identificação de voz captada nas interceptações telefônicas, salvo quando houver dúvida plausível que justifique a medida. 9) Não há necessidade de degravação dos diálogos objeto de interceptação telefônica, em sua integralidade, visto que a Lei n. 9.296/1996 não faz qualquer exigência nesse sentido. 10) Em razão da ausência de previsão na Lei n. 9.296/1996, é desnecessário que as degravações das escutas sejam feitas por peritos oficiais. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 34 DAS PROVAS EM ESPÉCIE Trata-se de todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade de comprovar a verdade de uma alegação. 3.1) PROVA PROIBIDA – ART. 157 A CF/88, no artigo 5º, LVI, dispõe serem “inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”, isto é, conseguidas mediante a violação de normas de Direito Constitucional ou Material. Prova vedada ou proibida é, portanto, a produzida por meios ilícitos, em contrariedade a uma norma legal específica. A prova vedada comporta duas espécies: A) Prova ilegítima: Quando a norma afrontada tiver natureza processual, a prova vedada será chamada de ilegítima. Ex: o documento exibido em plenário do Júri, com desobediência ao disposto no art. 479, “caput”, CPP. B) Prova ilícita Quando a prova for vedada, em virtude de ter sido produzida com afronta a normas de direito material, será chamada de ilícita. Ex: confissão obtida com emprego de tortura (Lei 9455/97), uma apreensão de documento realizada mediante violação de domicílio (art. 150 CP), a captação de uma conversa por meio de crime de interceptação telefônica (Lei 9296/96, art. 10). 03 Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 35 QUESTÃO 1 - EXAME XXX Beto e Juca eram vizinhos em um prédio que veio a ser atingido por incêndio. Em razão das longas obras que seriam necessárias para recuperar os apartamentos, decidem se hospedar em quarto de hotel por 06 meses, novamente sendo vizinhos de quarto. Em determinada data, policiais militares surpreenderam Juca entrando com uma sacola preta no seu quarto do hotel, ficando claro que ele estava fugindo ao avistar os agentes da lei. Diante disso, ingressaram no quarto e apreenderam 100g de maconha, que estavam na sacola que Juca trazia consigo, e mais 50g de cocaína que estavam sendo guardadas no cômodo, sendo confirmado por Juca que o material seria destinado à venda. Em seguida, os policiais optaram por fazer diligência também no quarto vizinho, que era de Beto, apreendendo uma série de documentos que, após investigação, foi verificado que estavam relacionados a um crime de estelionato. O Ministério Público ofereceu denúncia em face de Juca pela prática de dois crimes de tráfico em concurso, tendo em vista que guardava cocaína e trazia consigo maconha. Já Beto, exclusivamente em razão da documentação apreendida, foi denunciado pelo crime de estelionato. Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado(a) dos denunciados, responda aos itens a seguir. A) Qual argumento deve ser apresentado pela defesa técnica, em busca da absolvição de Beto? Justifique. (Valor: 0,60) B) Qual argumento a ser apresentado pela defesa técnica para questionar a capitulação jurídica constante na denúncia em face de Juca? Justifique. (Valor: 0,65) 3.2) PROVAS ILÍCITAS POR DERIVAÇÃO E A TEORIA DOS “FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA” (ART. 157, §§1º E 2º, CPP) As denominadas provas ilícitas por derivação dizem respeito àquelas provas em si mesmas lícitas, mas a que se chegou por intermédio da informação obtida por prova ilicitamente colhida. É o caso da confissão extorquida mediante tortura, que venha a fornecer informações corretas a respeito do lugar onde se encontra o produto do crime, propiciando a sua regular apreensão. Esta última prova, a despeito de ser regular, estariacontaminada pelo vício na origem. Outro exemplo seria o da interceptação telefônica clandestina – crime punido com pena de reclusão de dois a quatro anos, além de multa (art. 10 da Lei 9296/96) – por intermédio da qual o órgão policial descobre uma testemunha do fato que, em depoimento regularmente prestado, incrimina o acusado. Haveria, igualmente, ilicitude por derivação. Consequência da admissão da prova ilícita: O novo artigo 157 do CPP expressamente determina o desentranhamento dos autos das provas ilícitas. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 36 QUESTÃO 1 - EXAME 2010-02 José da Silva foi preso em flagrante pela polícia militar quando transportava em seu carro grande quantidade de drogas. Levado pelos policiais à delegacia de polícia mais próxima, José telefonou para seu advogado, o qual requereu ao delegado que aguardasse sua chegada para lavrar o flagrante. Enquanto esperavam o advogado, o delegado de polícia conversou informalmente com José, o qual confessou que pertencia a um grupo que se dedicava ao tráfico de drogas e declinou o nome de outras cinco pessoas que participavam desse grupo. Essa conversa foi gravada pelo delegado de polícia. Após a chegada do advogado à delegacia, a autoridade policial permiti u que José da Silva se entrevistasse particularmente com seu advogado e, só então, procedeu à lavratura do auto de prisão em flagrante, ocasião em que José foi informado de seu direito de permanecer calado e foi formalmente interrogado pela autoridade policial. Durante o interrogatório formal, assisti do pelo advogado, José da Silva optou por permanecer calado, afirmando que só se manifestaria em juízo. Com base na gravação contendo a confissão e delação de José, o Delegado de Polícia, em um único ato, determina que um de seus policiais atue como agente infiltrado e requer, ainda, outras medidas cautelares investigativas para obter provas em face dos demais membros do grupo criminoso: 1. quebra de sigilo de dados telefônicos, autorizada pelo juiz competente; 2. busca e apreensão, deferida pelo juiz competente, a qual logrou apreender grande quantidade de drogas e armas; 3. prisão preventiva dos cinco comparsas de José da Silva, que estavam de posse das drogas e armas. Todas as provas coligidas na investi ação corroboraram as informações fornecidas por José em seu depoimento. Relatado o inquérito policial, o promotor de justiça denunciou todos os envolvidos por associação para o tráfico de drogas (art. 35, Lei 11.343/2006), tráfico ilícito de entorpecentes (art. 33, Lei 11.343/2006) e quadrilha armada (art. 288, parágrafo único). Considerando tal narrativa, excluindo eventual pedido de aplicação do instituto da delação premiada, indique quais as teses defensivas, no plano do direito material e processual, que podem ser arguidas a partir do enunciado acima, pela defesa de José. Indique os dispositivos legais aplicáveis aos argumentos apresentados. 3.3) PROVAS ILÍCITAS E A INVIOLABILIDADE DO SIGILO DAS COMUNICAÇÕES. COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS A interceptação em sentido estrito e a escuta telefônica, quando feitas fora das hipóteses legais ou sem autorização judicial, não devem ser admitidas, por afronta ao direito à privacidade. A) BASE JURÍDICA Art. 5º, inciso XII – CRFB/88 - É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal O referido dispositivo constitucional aborda a questão do sigilo das comunicações, o qual pode ser dividido em quatro grupos, quais sejam: 1) o sigilo das correspondências; Francine Araujo Highlight 37 2) o sigilo das comunicações telegráficas; 3) o sigilo das comunicações de dados; 4) o sigilo das comunicações telefônicas. A doutrina diverge quanto à extensão da ressalva feita pelo legislador constitucional (“salvo neste último caso), surgindo as seguintes posições: I) a ressalva feita pelo legislador constituinte somente inclui o sigilo das comunicações, razão pela qual os grupos (1, 2 e 3), gozam de inviolabilidade absoluta (GRINOVER E SCARANCE FERNANDES) II) a ressalva feita pelo legislador constituinte incluiu o sigilo das comunicações telefônicas e o sigilo das comunicações de dados (interpretação hermenêutica e a forma como o inciso XII foi redigido – NORBERTO AVENA, PAULO RANGEL E STF NA PET. 577-DF). B) ABRANGÊNCIA DA LEI 9.296/96 Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática. Aplica-se a lei, a teor de seu art. 1º, “à interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza”. Por mais amplitude que se pretenda atribuir ao conceito, permanece ele limitado à escuta e eventual gravação de conversa telefônica, quando praticada por terceira pessoa, diversa dos interlocutores (com ou sem conhecimento de um deles). Ficam excluídas do regime legislativo as gravações clandestinas de telefonemas próprios, assim como as gravações entre presentes. C) CLASSIFICAÇÃO (INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA LATO SENSU - GÊNERO) C.1) interceptação telefônica stricto sensu: terceiro viola a conversa telefônica de 2 ou mais pessoas, registrando ou não os diálogos, sem que nenhum dos interlocutores tenha conhecimento. C.2) escuta telefônica: terceiro viola a conversa telefônica mantida entre 2 ou mais pessoas, com ciência de um ou alguns dos interlocutores de que os diálogos estão sendo captados. C.3) gravação telefônica: um dos interlocutores simplesmente registra (grava) a conversa que mantém com o outro, não há a figura de terceiro. Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight Francine Araujo Highlight 38 Obs: Art. 5°, XII, CF: a proteção constitucional alcança somente as duas primeiras formas de interceptação acima. Logo, não tutela a gravação, devendo este meio de prova ser considerado lícito, mesmo sem autorização judicial, salvo se obtido com traição de confiança ou segredo profissional (STF e STJ). D) REQUISITOS LEGAIS PARA A CONCESSÃO DA QUEBRA DO SIGILO TELEFÔNICO: a) Ordem do juiz competente para o julgamento da ação principal: Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática. Somente o juiz competente para o julgamento da ação principal poderá determinar a quebra do sigilo telefônico, jamais o Promotor de Justiça ou o Delegado de Polícia poderão fazê-lo. Obviamente que se trata de juiz que exerça jurisdição penal, seja esta eleitoral, militar, ou comum, já que a interceptação será realizada para prova em investigação criminal e em instrução processual penal. Assim, o juiz que determinar a quebra do sigilo será o competente para a ação principal. b) Indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios
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