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Ensaio: A violência no Brasil na contemporaneidade (Focault)

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A violência no Brasil na contemporaneidade
Tiago Severino Vieira
10 de setembro de 2016
A punição ao longo da história passou por vários modelos diferentes, modelos estes que eram utilizados para obter o melhor resultado possível. Em Roma temos a expulsão da cidade como um dos castigos possíveis. A expulsão em Roma tem uma perspectiva diferente, pois para o Romano era algo bem impactante abandonar sua terra natal, a terra romana, sendo condenado ao ostracismo. Outra forma de punição, era a galés, onde os condenados trabalhavam como punição e reduziam a população de zonas de baixa renda. A punição foi utilizada e ainda é utilizada para se obter algo, um meio de se chegar a algo, seja esse algo a redução da população em uma determinada região ou ostracismo.[0: SILVA, Emerson Luis Souza e. Condenado as Gales. Revista de história. Disponível em <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/condenados-as-gales>. Acessado no dia 10 de setembro de 2016. ]
Ao longo da história, a punição que mais impacta a sociedade moderna pelo modo que era feita é o suplício. O suplício consistia na punição corporal dos condenados, sendo altamente regulado, seguindo um procedimento formal. Foucalt, em sua obra “ Vigiar e punir” relata o suplício, apresentando como era feito e quando deveria ser feito. 
Apenas no século XIX, que as prisões foram institucionalizadas e consequentemente os castigos corporais foram abandonados . 
Todavia, na modernidade surgiram novos modelos de punições com alto teor de violência. Estas punições não são executadas pelo Estado, e sim por poderes poderes paralelos. Geralmente, esses poderes paralelos ocorre em regiões que possuem pouca presença do Estado, fazendo com que outros poderes fazem seu “papel”. No Brasil, temos as facções e milícias que praticam diversos tipos de punições, sendo estas semelhantes em alguns aspectos com o suplício.
Foucault apresenta duas exigências que o suplício deve cumprir.
... o suplício faz parte de um ritual. É um elemento na liturgia punitiva, e que obedece a duas exigências. Em relação à vítima, ele deve ser marcante: destina-se, ou pela cicatriz que deixa no corpo, ou pela ostentação de que se acompanha, a tornar infame aquele que é sua vítima; o suplício, mesmo se tem como função “purgar” o crime, não reconcilia; traça em tomo, ou melhor, sobre o próprio corpo do condenado sinais que não devem se apagar; a memória dos homens, em todo caso, guardará a lembrança da exposição, da roda, da tortura ou do sofrimento devidamente constatados. E pelo lado da justiça que o impõe, o suplício deve ser ostentoso, deve ser constatado por todos, um pouco como seu triunfo. O próprio excesso das violências cometidas é uma das peças de sua glória: o fato de o culpado gemer ou gritar com os golpes não constitui algo de acessório e vergonhoso, mas é o próprio cerimonial da justiça que se manifesta em sua força. (FOUCAULT,1999.p37) [1: FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão; tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 1987, p.36 e 37.]
O modo que os traficantes encontram de punir os que ousam a desafiá-los assemelha bastante do suplicio em alguns pontos. Pois a punição dada pelo criminoso almeja fazer com que o corpo do “condenado” sofra, que ela sinta dor e sofrimento a ponto de que sua morte se dê apenas quando o mandante da ação esteja confortável para poder considerar que a infração cometida esteja paga. Proporcionando o máximo de sofrimento possível. Um ponto a ser diferenciado, é a ideia de que atualmente não pretende-se purgar o corpo do condenado, apenas o intuito de fazer com que ele pague o que cometeu.
Outro ponto que se assemelha é a punição regulada, não sendo apenas como uma mera vingança. A infração cometida pela pessoa interfere em qual castigo ela terá. Um exemplo é o caso dos estupradores, que como punição sofre o mesmo crime cometido, a violência sexual por parte de outros detentos quando está em um sistema prisional ou até fora, por parte de outros criminosos que condenam o ato. Outro exemplo são as punições dadas para aqueles que deduram algo, os “x-9” ou “dedo-duro”, elas tendem a ser pesadas, pois envolve uma traição, uma quebra de confiança, cabendo assim uma punição maior pelo desapontamento proporcionado. A punição dada pelos criminosos, não possui um procedimento tão organizado e detalhado como o suplício relatado pelo Foucault em sua obra “Vigiar e punir”. Mas apresenta de certa maneira, formas de punir que visam um pagamento proporcional pela infração cometida. 
O alto grau de regulação pode ser percebido neste trecho do texto de Focault:
O suplício repousa na arte quantitativa do sofrimento. Mas não é só: esta produção é regulada. O suplício faz correlacionar o tipo de ferimento físico, a qualidade, a intensidade, o tempo dos sofrimentos com a gravidade do crime, a pessoa do criminoso, o nível social de suas vítimas. Há um código jurídico da dor; a pena, quando supliciante, não se abate sobre o corpo ao acaso ou em bloco; ela é calculada de acordo com regras detalhadas: número de golpes de açoite, localização do ferrete em brasa, tempo de agonia na fogueira ou na roda (o tribunal decide se é o caso de estrangular o paciente imediatamente, em vez de deixá-lo morrer, e ao fim de quanto tempo esse gesto de piedade deve intervir), tipo de mutilação a impor (mão decepada, lábios ou língua furados). (FOUCAULT,1999.p36 e 37)
Mais um ponto a ser mencionado é questão do castigo reforçando o poder, seja este pode oriundo da lei ou de algum poder paralelo como os criminosos. Assim a punição faz com que o poder tende ao aumentar, visto que a autoridade estaria sendo reforçada.
A autoridade sendo reforçada é um ponto almejado com a punição. O castigo sendo cumprido é uma forma de dizer para aqueles ao redor o que podem acontecer com eles caso façam alguma irregularidade. Assim quando alguém é punido, esta pessoa serve como exemplo para todos, reforçando o poder daquele que esta punindo. O traficante quando assassina um usuário de drogas por não pagamento, um miliciano quando bate em um morador por alguma divida atrasada, os dois pretendem punir e darem exemplo para os demais. 
O crime na modernidade é cometido contra a lei, algo impessoal, que atinge a propriedade. Porém antigamente, era diferente. A pessoa ao cometer o crime estava agindo contra o monarca quebrando sua autoridade e sua ordem, era algo pessoal. Assim também, em certos casos atuais. A infração cometida pelas pessoas dentro de uma comunidade dominada por criminosos é encarada em muitos casos com um crime contra o “chefe” local, sendo que este chefe impõe sua ordem na comunidade, ordem que é respeitada por grande parte grande parte da comunidade, que não sentem uma atuação do Estado. O criminoso com seu orgulho e sensação de poder em suas mãos enxerga uma afronta como algo destinado a si, não respeitando suas ordens. Quando um “chefe local” determina que está proibido assaltos, estupros, assassinatos dentro de uma determinada localidade, ele pretende que essa ordem seja obedecida, pois caso não seja, sua vida e liberdade está em perigo porque com o crime ocorrido terá mais presença de policias, o que é perigoso para seus negócios e sua vida pessoal.
A punição cometida por facções ou milicianos, apesar de não apresentarem uma regulamentação extensa, possui particularidades parecidas com o suplício. O castigo como uma forma de lição e de propaganda do poder, a proporcionalidade entre as infrações e o castigo, e a busca pelo sofrimento do corpo alheio faz com que o suplício ainda perpetue nos dias atuais.
Referência Bibliográfica
 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão; tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 1987.
SILVA, Emerson Luis Souza e. Condenado as Gales. Revista de história. Disponível em <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/condenados-as-gales>. Acessado no dia 10 de setembro de 2016.

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