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Valory Kelsen e Weber

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Local: FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL 
FLUMINENSE – Rua Presidente Pedreira, 62, e Rua Tiradentes, 17, - 
Ingá, Niterói RJ 
 
 
4º SEMINÁRIO INTERDISCIPLINAR 
EM SOCIOLOGIA E DIREITO 
 
E AGORA, BRASIL? 
 
ANAIS DO 4º S&D 
ISSN 2236-8736, n.4, v.12 
 
14 e 15 de Outubro de 2014 
 
 
 
 
 
NITERÓI: Ed. PPGSD-UFF 
2014
4º SEMINÁRIO INTERDISCIPLINAR EM SOCIOLOGIA E DIREITO 
Anais 4º S&D, ISSN 2236-8736, n. 4, v. 12 
 
 
COMISSÃO CIENTÍFICA 
 
DOCENTES 
Profa. Dra.Alba Simon (Pós-Doutoranda/PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. Alessandro Farage Figueiredo (USP/FAP) 
Prof. Dr. Alexandre Fernandes Corrêa (UFRJ/Macaé) 
Profa. Dra. Ana Maria Motta Ribeiro (PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. Aurélio Wander Bastos (IUPERJ) 
Profa. Dra. Carla Appollinário de Castro (UFF/Volta Redonda) 
Prof. Dr. Carlos Eduardo Machado Fialho (PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. Delton Ricardo Soares Meirelles (PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. Éder Fernandes (PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. Edson Alvise (PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. Eduardo Manuel Val (PPGDC/UFF) 
Prof. Dr. Enzo Bello (PPGDC/UFF) 
Prof. Dr. Felipe Dutra Asensi (IESP/UERJ) 
Prof. Dr. Fernando Gama de Miranda Netto (PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. Gilvan Luiz Hansen (PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. Ivan Alemão (PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. Joaquim Leonel de Resende Alvim (PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. José Henrique Carvalho Organista (UFF) 
Prof. Dr. Lenin Pires (PPGA/UFF) 
Prof. Dr. Leonardo dos Santos Soares (UFF) 
Prof. Dr. Luís Antônio Cruz Souza (UFMG) 
Prof. Dr. Luís Carlos Fridman (PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. Marcelo Pereira de Mello (PPGSD/UFF) 
Profa. Dra. Márcia Cavendish Wanderley (PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. Marcus Fabiano Gonçalves (PPGSD/UFF) 
Profa. Dra. Maria Alice Chaves Nunes Costa (PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. Napoleão Miranda (PPGSD/UFF) 
Prof. Me. Nilton Soares de Souza (Faculdade Paraíso SG) 
Prof. Dr. Pedro Heitor Barros Geraldo (PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. Valter Lúcio de Oliveira (PPGSD/UFF) 
Prof. Dr. Wilson Madeira Filho (PPGSD/UFF) 
Profa. Dra. Yacy-Ara Froner (UFMG) 
 
 
DISCENTES 
Alessandra de Almeida Braga 
Álvaro dos Santos Maciel 
Daniela Juliano Silva 
Eduardo Helfer de Farias 
Mariana Devezas Rodrigues 
Renata Feno Neves 
Rogério Borba 
Zani Cajueiro Tobias de Souza 
 
 
 
4º SEMINÁRIO INTERDISCIPLINAR EM SOCIOLOGIA E DIREITO 
Anais 4º S&D, ISSN 2236-8736, n. 4, v. 12 
 
 
COMISSÃO EXECUTIVA 
Prof. Dr. Wilson Madeira Filho (PPGSD-UFF) 
Alessandra Dale Giacomin Terra 
Alessandra de Almeida Braga 
Álvaro dos Santos Maciel 
Cláudia Lúcia Moreira Areias 
Daniela Juliano Silva 
Eder Fernandes Mônica 
Eduardo Helfer de Farias 
Mariana Devezas Rodrigues Murias de Menezes 
Nilton Soares de Souza Neto 
Renata Feno Neves 
Rodolfo Bezerra de Menezes Lobato da Costa 
Tauã Lima Verdan Rangel 
Wagner de Oliveira Rodrigues 
Walter Souza Filho 
 
EDIÇÃO DOS ANAIS 
Prof. Dr. Wilson Madeira Filho (PPGSD-UFF) 
Daniela Juliano Silva (PPGSD/UFF) 
Tauã Lima Verdan Rangel (PPGSD/UFF)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4º SEMINÁRIO INTERDISCIPLINAR EM SOCIOLOGIA E DIREITO 
Anais 4º S&D, ISSN 2236-8736, n. 4, v. 12 
 
 
 
PROGRAMAÇÃO 
 
14 de outubro de 2014 
 
9h: Credenciamento 
 
09h30min: Conferencia de Abertura: 
Cidadania, movimentos sociais e 
judicialização da política 
 
Antón Fernandez 
(Universidade de Vigo) 
 
10h: Mesa Redonda 
Avanços e perspectivas da Reforma 
Política 
 
Tobias Tomines Faria 
(Reforma Política Democrática e 
Eleições Limpas / Coalizão) 
 
Kleybson Ferreira 
(Plebiscito Popular da Reforma 
Política) 
 
Mediador: José Antonio Moroni 
(Instituto de Estudos Socioeconomicos- 
INESC) 
____________________ 
 
12h: Almoço 
 
14h: Apresentação de trabalhos em 
GTs 
 
17h: Café 
 
18h: Conjunto Música Antiga da UFF 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 de outubro de 2014 
 
10h: Mesa Redonda: 
Rebeldia sem causa da Educação 
Jurídica? 18 anos da Lei de Diretrizes 
e Bases da Educação 
 
AurélioWander Bastos 
(UCAM) 
 
Roberto Fragalle 
(PPGSD/ UFF) 
 
Mediador: Napoleão Miranda 
(PPGSD/ UFF) 
 
___________________ 
 
12h: Almoço 
 
14h: Apresentação de trabalhos em 
GTs de números ímpares 
 
17h: Café 
 
18h: Lançamento de Livros 
 
18h30min: Encerramento 
Anais do 4º Seminário Interdisciplinar em Sociologia e Direito 
ISSN 2236-8736, n. 4, v. 12 
 
GT 12: TEORIA GERAL DO DIREITO E DO ESTADO CONTEMPORÂNEO 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Com o tema “E AGORA, BRASIL?”, o 4° Seminário Interdisciplinar 
de Sociologia e Direito (4° S&D), realizado pelo Programa de Pós-Graduação 
em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (PPGSD/UFF), 
busca trazer para a Comunidade Científica e Acadêmica a inquietação 
drummoniana com o pós-festa, em tempos onde os metadiscursos encontram-se 
esvaziados e a credibilidade retórica habita o pastiche. 
 
Os objetivos do 4° S&D são: (i) fortalecer um espaço 
interinstitucional para fomentar debates, pesquisas e reflexões interdisciplinares 
entre o Direito e a Sociologia; (ii) promover a interlocução entre discentes e 
docentes de diversos Programas de Pós- Graduação e instituições de pesquisa; 
(iii) incentivar e contribuir para o aperfeiçoamento dos trabalhos de pós-
graduação através da construção de um espaço que una a pesquisa, o ensino e a 
extensão. 
 
Além disso, o 4° S&D busca consolidar perspectivas de análise 
empíricas, pautadas no imprescindível diálogo propiciado pela 
interdisciplinariedade, sobretudo na condição de agente catalizador para a 
dinâmica contemporânea que impulsiona a construção e difusão do 
conhecimento. 
Prof. Dr. Wilson Madeira Filho 
(PPGSD/UFF)
 
Anais do 4º Seminário Interdisciplinar em Sociologia e Direito 
ISSN 2236-8736, n. 4, v. 12 
 
GT 12: TEORIA GERAL DO DIREITO E DO ESTADO CONTEMPORÂNEO 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
A INTERPRETAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL JUSLABORAL DO EMPREGADOR 
POR DANO INJUSTO CAUSADO AO EMPREGADO – ART.7º, XXVIII DA CR/88 - POR MEIO 
DA HERMENÊUTICA FILOSÓFICA - OLIVEIRA, Ariete Pontes de .................................................... 07 
 
MAX WEBER E HANS KELSEN: ALGUMAS CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS ENTRE 
DUAS ABORDAGENS DO DIREITO - VALORY, Eduardo ................................................................... 17 
 
O ESTADO NACIONAL MODERNO: REPRESENTATIVIDADE, LIMITES INTERNOS E 
EXTERNOS - METZGER, Fábio .............................................................................................................. 39 
 
O IMPACTO DOS SISTEMAS ELEITORAIS NO PARLAMENTO: REFLEXÕES SOBRE 
DEMOCRACIA E POLÍTICA A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA COMPARADA ENTRE 
BRASIL E ARGENTINA - NUNES, Lílian Cazorla do Espírito Santo ..................................................... 57 
 
O JUDICIÁRIO MORAL NO ESTADO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO - ARCANJO, Samira 
Costa; PEREIRA, Daniel Nunes ................................................................................................................ 71 
 
SERÁ O DIREITO UMA CIÊNCIA? - FREITAS, Maria Carolina Rodrigues ......................................... 82 
 
SINDICABILIDADE DO MÉRITO ADMINISTRATIVO PELO PODER JUDICIÁRIO: 
REALIDADE NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO? - OLIVEIRA, Larissa Pinha de; CHAGAS, 
Tayná Tavares das; VASCONCELLOS, Úrsula Simões da Costa Cunha .................................................. 101 
 
TEMPORALIDADES DA POLÍTICA: DEMOCRACIA E REPRESENTAÇÃO - NÚÑEZ, Claudio 
Felipe Alexandre Magioli ...........................................................................................................................123 
 
 
 
 
 
Anais do 4º Seminário Interdisciplinar em Sociologia e Direito 
ISSN 2236-8736, n. 4, v. 12 
 
GT 12: TEORIA GERAL DO DIREITO E DO ESTADO CONTEMPORÂNEO 
 
7 
 
A INTERPRETAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL JUSLABORAL 
DO EMPREGADOR POR DANO INJUSTO CAUSADO AO 
EMPREGADO – ART.7º, XXVIII DA CR/88 - POR MEIO DA 
HERMENÊUTICA FILOSÓFICA 
 
 
OLIVEIRA, Ariete Pontes de
1
 
 
É um mal hermeneuta aquele que imagina que poderia ou deveria ter a última 
palavra. (GADAMER). 
 
 
RESUMO: O Estado Democrático de Direito, por meio da normativa constitucional, eleva a pessoa 
humana ao centro do ordenamento jurídico ao dispor que um de seus fundamentos é a dignidade da 
pessoa humana (art.1º, III da CR/88). A essencialidade da pessoa humana e sua dignidade são 
garantidas por meio dos direitos fundamentais, que devem ser efetivados de modo a assegurar a 
emancipação da pessoa humana. No plano juslaboral, a tutela conferida pela ordem jurídica é 
duplamente sentida, pois tutela-se a pessoa humana e também a pessoa do trabalhador por meio dos 
direitos sociais juslaborais. No plano da subjetividade o trabalho é inerente à condição humana, no que 
se denomina de “centralidade do trabalho”. No objetivo, por meio da irradiação dos valores tutelados 
enquanto direitos fundamentais o valor trabalho também é elevado à centralidade do Estado 
Democrático de Direito. Assim, afirmar a centralidade da pessoa humana é afirmar a centralidade do 
valor trabalho. Nesta perspectiva, coloca-se a problemática de interpretação da normativa contida na 
CR/88 em torno da responsabilização do empregador por danos injustos acarretados em desfavor de 
seu empregado. Deve-se continuar interpretando o disposto no art.7º, XXVIII, da CR/88, apenas em 
seu aspecto morfológico? Ou em outra perspectiva: deve-se continuar a interpretar o dispositivo em 
análise em consonância com a hermenêutica clássica? O objetivo da pesquisa é no sentido de buscar a 
superação desta interpretação por meio da aplicação da hermenêutica filosófica, buscando em 
GADAMER a fundamentação de interpretação situada historicamente e pensada a partir dos valores 
eleitos pela CR/88. Para o enfrentamento da temática proposta, a pesquisa pautou-se no método 
teórico-dogmático, operando-se à revisitação bibliográfica do tema proposto. Ao final, defender-se-á a 
superação da interpretação da normativa morfológica contida no art.7º, XXVIII da CR/88 a fim de 
alcançar a efetividade do direito à reparação integral no plano juslaboral. 
 
Palavras-Chave: Estado Democrático de Direito; Centralidade do Trabalho; releitura da 
responsabilidade civil. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O Estado Democrático de Direito é assegurado e fundamentado sobre valores 
 
1
 Doutoranda em Direito do Trabalho pela PUC/MG. Mestre em Direito do Trabalho pela PUC/MG. Professora 
da graduação e pós graduação da Rede de Ensino Doctum, lecionando os conteúdos de Direito do Trabalho, 
Direito Civil (Parte Geral, Obrigação e Contratos e Responsabilidade Civil) e Metodologia da Pesquisa 
Científica. Professora orientadora do Grupo de Iniciação Científica do “Programa Interdisciplinar de 
Capacidade Discente” – PICD na Faculdade Doctum de João Monlevade, Curso de Direito. 
 
Anais do 4º Seminário Interdisciplinar em Sociologia e Direito 
ISSN 2236-8736, n. 4, v. 12 
 
GT 12: TEORIA GERAL DO DIREITO E DO ESTADO CONTEMPORÂNEO 
 
8 
 
eleitos pelo constituinte de 1988. Dentre estes valores tem-se a dignidade da pessoa humana – 
art.1º, III da CR/88, normativa elevada à centralidade do Direito. 
O valor trabalho é inerente à condição humana, no que Christophe Dejoures
2
 
chegou a entender por “centralidade do trabalho” no plano da subjetividade. A CR/88 atenta à 
centralidade do valor de tutela à pessoa e a sua co-relação com o valor trabalho, elevou-o, no 
plano juslaboral, à natureza de direitos fundamentais de natureza social. 
A centralidade da pessoa humana e sua co-relação com o valor trabalho são 
garantidos via efetividade dos direitos fundamentais, dentre todos os que foram estabelecidos, 
a atenção volta-se, no objeto desta pesquisa, à integridade física, psíquica e patrimonial da 
pessoa, resguardados por meio da reparação civil na hipótese de seu desrespeito. 
No plano juslaboral a reparação civil por danos injustos acarretados ao trabalhador 
tem previsão na normativa estabelecida no art. 7º, XXVIII da CR/88, dispondo que a 
responsabilidade do empregador é natureza subjetiva. 
Ocorre que, a interpretação dada ao dispositivo, de modo a observar tão somente a 
sua morfologia, destoa de toda tutela constitucional conferida à pessoa e à centralidade do 
valor trabalho. Esta interpretação deve ser superada por meio da interpretação da 
hermenêutica filosófica, própria do tempo da tutela à pessoa humana e da reparação integral. 
No sentido de buscar a superação de todo fluxo de pensamento e comportamento 
hegemônicos, de interpretação morfológica, formal do disposto no art. 7, XXVIII, objetiva-se 
a interpretação por meio da aplicação da hermenêutica filosófica, a fim de garantir a 
efetividade dos direitos fundamentais de tutela à dignidade da pessoa humana. 
Para tanto, defender-se-á a centralidade do valor trabalho no Estado Democrático 
de Direito como inerente à tutela da pessoa humana, para então, defender a releitura da 
responsabilidade civil do empregador na perspectiva da centralidade da pessoa humana e do 
valor trabalho 
 
2 A CENTRALIDADE DO VALOR TRABALHO NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE 
DIREITO 
 
A Constituição da República de 1988 - CR/88 -, normativa ápice da nossa ordem 
jurídica, inova ao assegurar o Estado Democrático de Direito fundamentado, dentre outros 
 
2
 DEJOURS, Christophe. Prefácio da obra O Direito humano e fundamental ao trabalho: fundamentação e 
exigibilidade. WANDELLI, Leonardo Vieira. São Paulo: LTR, 2012. p. 15. 
 
Anais do 4º Seminário Interdisciplinar em Sociologia e Direito 
ISSN 2236-8736, n. 4, v. 12 
 
GT 12: TEORIA GERAL DO DIREITO E DO ESTADO CONTEMPORÂNEO 
 
9 
 
valores, na pessoa humana e sua dignidade. Segundo Maurício Godinho Delgado
3
 a escolha 
constitucional ao eleger a pessoa humana como ponto central do novo constitucionalismo 
supõe a necessária escolha pela democracia, que deve perpassar toda a sociedade política e 
civil. Defende o autor que sem democracia não há como se assegurar a centralidade da pessoa 
humana e sua dignidade no Estado Democrático de Direito. 
A democracia deve ser compreendida em sua dimensão multidimensional, no 
sentido de superar a perspectiva tão somente política, de modo a alcançar distintas áreas da 
sociedade civil, como a social, econômica, cultural e institucional.
4
 
Assim, no plano político é por meio da democracia que se viabiliza e aperfeiçoa a 
participação da grande maioria da população nas decisões de interesse da coletividade. Instiga 
ainda, o amplo debate de ideias, de modo a efetivar o conceito de liberdade de expressão e 
manifestação. No plano social, a democracia serve de instrumento para superar as 
desigualdades sociais, viabilizando a materialização de uma sociedade justa e solidária. Isso é 
possível pela inter-relação de distintos grupos sociais – aqui pode se falar da democracia no 
plano cultural - e pela construção de políticas públicas destinadas aos grupos sociais 
vulneráveis. No plano econômico, a democracia permite a redistribuição de riquezas. E, por 
fim, no plano institucional, a democracia faz emergir distintas instituições que possibilitam a 
participação das pessoas e sua inclusão na sociedade civile política, como por exemplo, os 
sindicatos, partidos políticos, a imprensa etc. 
5
 
Percebe-se portanto, que a democracia é um dos instrumentos de emancipação da 
pessoa humana em suas distintas relações, seja social, política, econômica e também 
juslaboral; enfim, perpassa as inter-relações da pessoa no âmbito da esfera pública e privada. 
O preâmbulo da CR/88 assegura que o Estado Democrático de Direito destina-se a 
assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade e a segurança. Assim, a 
emancipação da pessoa humana na perspectiva da democracia e do Estado Democrático de 
Direito, será viabilizada por meio da efetivação dos direitos fundamentais. A essencialidade 
dos direitos fundamentais, no sentido de garantir a emancipação da pessoa humana, deve ser 
compreendida como fundamento jusfilosófico de compreensão de toda ordem jurídica 
brasileira. 
 
3
DELGADO, Maurício Godinho. Constituição da República, Estado Democrático de Direito e Direito do 
Trabalho. in Revista de Direito do Trabalho. Ano 38, n.147, jul/set 2012. p.107-108. 
4
 DELGADO, Maurício Godinho. Op.Cit. 
5
 DELGADO, Maurício Godinho. Op.Cit. 
 
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GT 12: TEORIA GERAL DO DIREITO E DO ESTADO CONTEMPORÂNEO 
 
10 
 
Segundo Peter-Haberle
6
 
 
a Constituição não é apenas um conjunto de textos jurídicos ou um mero compêndio 
de regras normativas, mas também a expressão de um certo grau de 
desenvolvimento cultural, um veículo de auto-representação própria de um povo, 
espelho de seu legado cultural e fundamento de suas esperanças e desejos. 
 
Neste sentido, ao se reconhecer os direitos fundamentais o sistema jurídico 
caracteriza-se como sistema de valores, cujo fundamento último é a dignidade da pessoa 
humana.
7
 Em assim sendo, pode-se entender que os direitos fundamentais são direitos 
positivados nas Constituições para assegurar os valores reputados como essenciais à 
promoção da dignidade humana, consubstanciando-se no eixo central dos valores 
constitucionais.
8
. 
Numa perspectiva sociológica de interdependência dos direitos fundamentais, que 
pressupõe a interpretação holística, o paradigma do Estado Democrático de Direito visa a 
assegurar os valores inerentes à liberdade, igualdade e solidariedade entre as pessoas. E, por 
consequência, a efetividade deve ser pensada no plano da interdependência. 
 
2.1 A centralidade da pessoa humana e do valor trabalho no Estado Democrático de 
Direito 
 
Os direitos fundamentais, no plano da interdependência, visam a promoção da 
pessoa humana e por consequência, serve à sua emancipação. Assim, pensar a tutela conferida 
ao trabalho no plano do constitucionalismo, dentro do Estado Democrático de Direito, 
pressupõe a tutela à pessoa do trabalhador e ao próprio trabalhador. Neste sentido, pode-se 
afirmar que a efetividade dos direitos fundamentais conforma-se, duplamente, às diretrizes 
constitucionais de promoção à dignidade da pessoa humana. 
Neste raciocínio compreende-se que a normativa constitucional expressa clara 
tutela de centralidade à pessoa humana e aos direitos sociais. Observa Maurício Godinho 
Delgado
9
 que 
 
 
6
 HABERLE, Peter. Teoría de la Constituicíon como ciencia de la cultura. Madrid: Tecnos, 2000. p.34 
7
 ABRANTES, José João. Contrato De Trabalho E Direitos Fundamentais. Coimbra: Almedina, 2005. P.15-16. 
8
 RENAULT, Luiz Otávio Linhares; FABIANO, Isabela Márcia de Alcântara. Eficácia Horizontal Dos Direitos 
Fundamentais Nas Relações De Emprego – Alguma Verdade. in Rev. TST. Vol. 77, no 4, out/dez 2011. 
9
 DELGADO, Maurício Godinho. Op.Cit. p. 111. 
 
Anais do 4º Seminário Interdisciplinar em Sociologia e Direito 
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GT 12: TEORIA GERAL DO DIREITO E DO ESTADO CONTEMPORÂNEO 
 
11 
 
De fato, a pessoa humana, com sua dignidade, está fortemente afirmada em diversos 
títulos da Carta Magna. No Título I, que trata “Dos princípios Fundamentais”; no 
Título II, tratando “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”; no Título VII – “Da 
Ordem Econômica e Financeira”, finalmente, no Título VIII “Da Ordem Social”. 
 
Perceptível, pois, que a ordem jurídica eleva a pessoa humana ao centro de sua 
tutela e, neste sentido, a tutela de centralidade deve ser aplicada aos trabalhadores. 
Ainda mais, os direitos sociais inerentes à tutela juslaboral, que visam a assegurar 
a efetividade da igualdade material, compõe o núcleo da Constituição da República, com 
presença marcante no interior da normativa que trata “Dos Direitos e Garantias 
Fundamentais”10. 
O trabalho e sua centralidade, numa perspectiva subjetiva, toca à pessoa humana, 
não podendo ser dissociado daquele que trabalha, daquele que se obriga a fazer uma 
atividade, de modo a contribuir com a construção da sociedade. 
Segundo Christophe Dejoures
11
 a “centralidade do trabalho” confere ao trabalho 
uma dimensão antropológica, “o que é dizer que o trabalho é indissociável da condição 
humana”, e assim “o direito do trabalho toca um direito fundamental”. 
Pode-se concluir então, que a centralidade da normativa constitucional de tutela 
ao trabalho, por meio dos direitos sociais, é condição de efetividade da tutela da pessoa 
humana afirmada enquanto fundamento do Estado Democrático de Direito. Enfim, não é 
possível afirmar a centralidade da pessoa humana sem afirmar a centralidade do valor 
trabalho, em razão da sua especial condição humana. 
E assim, por meio de interpretação de interdependência dos direitos fundamentais, 
pode-se afirmar a centralidade da pessoa humana e do trabalho por meio dos seguintes 
dispositivos constitucionais: art.1º, III e IV; art.3º, I; art.5º, caput, art.6º; art.7º; art.170, VI e 
VIII. 
Portanto, a centralidade do valor trabalho pode ser afirmada no plano da 
subjetividade, enquanto inerente à condição humana e também na perspectiva objetiva dos 
direitos fundamentais, que pressupõe “[...] uma ordem axiológica de um sistema de valores, 
em que assenta a unidade do ordenamento e cujo valor fundamental é, em última instância, a 
dignidade da pessoa humana.
12” 
 
 
10
 DELGADO, Maurício Godinho. Op.Cit. p. 111. 
11
 DEJOURS, Christophe. Op. Cit. p.15. 
12
 ABRANTES, José João. Op. Cit. p. 16 
 
Anais do 4º Seminário Interdisciplinar em Sociologia e Direito 
ISSN 2236-8736, n. 4, v. 12 
 
GT 12: TEORIA GERAL DO DIREITO E DO ESTADO CONTEMPORÂNEO 
 
12 
 
3 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR NA PERSPECTIVA DA 
CENTRALIDADE DA PESSOA HUMANA E DO VALOR TRABALHO 
 
Como afirmado, a ordem jurídica do Estado Democrático de Direito, em nosso 
Estado, é marcada pela centralidade da pessoa humana e do valor trabalho, o que exige 
interpretação duplicada da efetividade dos direitos fundamentais, de modo a assegurar a 
promoção da dignidade humana da pessoa humana e da pessoa do trabalhador. Nesta 
perspectiva, surge uma problemática: a responsabilidade civil juslaboral do empregador, 
prevista no art.7º, XXVIII
13
 da CR/88, é compatível com a normativa de tutela de centralidade 
da pessoa humana e do valor trabalho no Estado Democrático de Direito, cuja previsão 
também está na CR/88? 
Considerando que os direitos fundamentais, em uma perspectiva de 
interdependência, constituem-se em “[...] parâmetro para interpretação hermenêutica e valores 
superiores de toda a ordem constitucional e jurídica”14, a normativa que perpassa a 
responsabilidade civil do empregador deve ser repensada. 
A princípiopoderiam dizer que não seria possível posicionar-se de forma diferente 
em relação ao disposto no art.5º, XXVIII da CR/88, mas fato é que a nova interpretação, 
baseada na efetividade dos direitos fundamentais, não pode se ater tão somente à morfologia 
estética das normas, devendo ir além, buscando o sentido teleológico da efetividade dos 
direitos fundamentais, e neste caso, a interpretação será baseada na efetividade de tutela à 
pessoa humana-trabalhador vítima de dano injusto. 
 
3.1 A superação da responsabilidade civil subjetiva do empregador pela 
responsabilidade civil objetiva na perspectiva da centralidade da pessoa humana e do 
valor trabalho 
 
A normativa constitucional de previsão da responsabilidade civil do empregador 
por danos injustos acarretados ao trabalhador está prevista no art. 5º, XXVIII da CR/88, de 
modo a estabelecer que esta responsabilização se fundamenta na forma da responsabilidade 
 
13
 Art.5º, XXVIII da CR/88: “seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a 
indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa”. 
14
 EÇA, Vitor Salino de Moura; VILELA, Janaína Alcântara. Os direitos fundamentais sociais: considerações 
sobre sua efetividade. in Direito Material e Processual do Trabalho na perspectiva dos Direitos Humanos. 
LEITE, Carlos Henrique Bezerra; EÇA, Vitor Salino de Moura. São Paulo: LTR, 2014. p.41. 
 
Anais do 4º Seminário Interdisciplinar em Sociologia e Direito 
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GT 12: TEORIA GERAL DO DIREITO E DO ESTADO CONTEMPORÂNEO 
 
13 
 
civil subjetiva. Ou seja, para que o trabalhador possa ser reparado, a princípio, deve-se apurar 
a culpa do empregador no evento danoso. 
Em uma leitura clássica da temática percebe-se que a doutrina e tribunais têm 
entendido pela responsabilização de natureza subjetiva, conforme se depreende da leitura do 
art.7º, XXVIII da Constituição Federal de 1988. 
Após o advento do Código Civil de 2002, especialmente com a disposição do 
parágrafo único do art. 927 do Código Civil, o Tribunal Superior do Trabalho avançou no 
sentido de buscar a interpretação da responsabilidade juslaboral, aplicando a 
responsabilização objetiva, mas somente nos casos em que a atividade do empregador 
impuser risco ao empregado
15
. Esta interpretação ainda é subsidiária, aplicando-se como regra 
a natureza jurídica da responsabilidade juslaboral subjetiva, que se coloca contra o “[...] o 
tempo e a história
16”. 
Segundo Luis Roberto Barroso
17
 toda interpretação é fruto de uma época, de um 
momento histórico, devendo inclusive o intérprete, por dever ético, expor a sua pré-
compreensão acerca matéria analisada. 
Neste sentido tem-se que a interpretação a ser dada à reparação civil devida pelo 
empregador deve ser objetiva, no sentido de superar a filosofia individualista para então 
aplicar a hermenêutica filosófica, situando temporalmente a referida interpretação. 
A interpretação de responsabilidade civil na forma subjetiva, atenta tão somente à 
morfologia da normativa do art.7º, XXVIII da CR/88, destoa da nossa historicidade, de nosso 
tempo e experiências, isso porque o tempo é de tutela à vítima do dano injusto, de modo a 
garantir-lhe proteção integral (centralidade da pessoa humana) e no caso do trabalhador, tem-
se ainda, a centralidade do valor trabalho. 
A responsabilidade civil subjetiva foi fruto de interpretação do Estado Liberal, 
mínimo, de tutela ao patrimônio e ainda formalista e positivista. Ocorre porém, que “em plena 
era da tão festejada invasão da filosofia pela linguagem, de um modo ou de outro, continua-se 
a produzir o velho debate “formalismo-realismo””18 
 
15
 Neste sentido: PROCESSO Nº TST-RR-800-11.2006.5.04.0251, Rel. Márcio Eurico Vitral Amaro. 
www.tst.gov.br. Acesso em 18 de agosto de 2104. 
16
 SILVA, Antônio Álvares. Greve no Serviço Público Depois da Decisão do STF. São Paulo: LTR, 2008. p.91. 
17
 BARROSO, Luís Roberto. Diferentes, mas iguais: o reconhecimento jurídico das relações homoafetivas no 
Brasil. in RENAULT, Luiz Otávio Linhares; VIANA, Márcio Túlio; CANTELLI, Paula Oliveira. Discriminação. 
2ª.ed. São Paulo: LTR, 2010.p.34 
18
 STRECK, Lênio. Aplicar a “letra da lei” é uma atitude positivista? in revista NEJ-Eletrônica. V. 15, n.1, 
jan/abr 2010. in www.univali.br/periodicos. Acesso em 15 de março de 2011. p.162. 
 
Anais do 4º Seminário Interdisciplinar em Sociologia e Direito 
ISSN 2236-8736, n. 4, v. 12 
 
GT 12: TEORIA GERAL DO DIREITO E DO ESTADO CONTEMPORÂNEO 
 
14 
 
Hoje, o tempo é outro, a experiência e a pré-compreensão são dadas pela 
normativa da CR/88, da efetividade dos direitos fundamentais. Ou seja, a responsabilidade 
civil objetiva, normativa a ser aplicada nas relações juslaborais por danos injustos sofridos 
pelos trabalhadores, situa-se em consonância com o Estado Democrático de Direito, que exige 
a efetividade dos direitos fundamentais e dentre eles, o da reparação integral, que por sua vez, 
coaduna-se com o princípio da solidariedade, no sentido de impor o dever de cooperação entre 
os sujeitos. 
Portanto, esta interpretação é marcada pela pré-compreensão de que a CR/88 é o 
filtro da leitura da ordem jurídica, estabelecendo que os direitos fundamentais são essenciais à 
promoção da pessoa humana. Neste sentido aponta Lênio Streck: “Quando olho (interpreto) 
um texto, este já me vem filtrado a partir da ideia que tenho da Constituição, isto é, minha 
interpretação está condicionada pela minha pré-compreensão”19 
Deste modo, os reflexos desta mudança interpretativa do Direito atingem o 
instituto da responsabilidade civil, que deve ser teorizado a partir dos princípios da dignidade 
humana, da solidariedade e da reparação integral. Trata-se de nova hermenêutica, que eleva a 
pessoa humana ao centro do sistema jurídico, cujos direitos fundamentais devem ser 
efetivados. Dentre esses direitos destaca-se o restabelecimento da ordem patrimonial ou 
extrapatrimonial, desorientada pela prática de dano injusto. 
20
 
 
NOTAS CONCLUSIVAS 
 
A proposta de nova interpretação à responsabilidade civil juslaboral do 
empregador é valoração fundamentada na busca pela efetividade dos direitos fundamentais da 
pessoa do trabalhador, de modo a garantir a centralidade da pessoa e do valor trabalho. 
A forma com que vem se manifestando as interpretações em casos de acidentes 
(danos injustos) no ambiente juslaboral
21
 em nossos Tribunais é mostra da mais clara 
interpretação formalista desencontrada de toda ordem constitucional de tutela à pessoa e à 
 
19
 STRECK, Lênio. Hermenêutica Jurídica E(M) Crise: uma exploração hermenêutica da construção do Direito. 
Porto Alegre: Livraria do Advogado. 4ª.ed. 2004. p.322. 
20
 RENAULT, Luiz Otávio Linhares; OLIVEIRA, Ariete Pontes de. A (in)efetividade do direito fundamental à 
reparação por danos injustos no plano do Direito do Trabalho. artigo inédito. 
21
 “Um trabalhador rural que perdeu a visão ao ter o globo do olho esquerdo perfurado não será indenizado pelo 
empregador. Ele não conseguiu provar na Justiça que cumpria ordens do patrão quando decidiu, na noite de um 
domingo, consertar a ferramenta que utilizaria na roçagem da mata para plantio de cacau.” Processo AIRR-906-
13.2010.5.08.0124. in www.tst.gov.br. Acesso em 19 de agosto de 2014. 
 
Anais do 4º Seminário Interdisciplinar em Sociologia e Direito 
ISSN 2236-8736, n. 4, v. 12 
 
GT 12: TEORIA GERAL DO DIREITO E DO ESTADO CONTEMPORÂNEO 
 
15 
 
centralidade do trabalho. 
A releiturada responsabilização juslaboral do empregador, passando então à 
natureza de responsabilidade objetiva, insere-se no contexto atual de (re)pensar as 
possibilidades da democracia e dos direitos fundamentais. 
Por fim, a responsabilização jurídica juslaboral, exige assim, (re)leitura de sua 
natureza jurídica, objetivando atender ao Estado Democrático de Direito e a busca da 
efetivação dos direitos fundamentais, vez que a Constituição, como norma dialética do 
ordenamento jurídico, assegurou tutela especial ao sujeito trabalhador, elegeu como base dos 
direitos sociais, o valor trabalho, e ainda, como fundamento do Estado Democrático de 
Direito tem-se a dignidade da pessoa humana, e por fim, é objetivo do Estado Democrático a 
busca de uma sociedade justa, igualitária e solidária. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ABRANTES, José João. Contrato de Trabalho e Direitos Fundamentais. Coimbra: Almedina, 
2005. 
 
BARROSO, Luís Roberto. Diferentes, mas iguais: o reconhecimento jurídico das relações 
homoafetivas no Brasil. in RENAULT, Luiz Otávio Linhares; VIANA, Márcio Túlio; 
CANTELLI, Paula Oliveira. Discriminação. 2ª.ed. São Paulo: LTR, 2010. 
 
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agosto de 2014. 
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agosto de 2014. 
 
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16 
 
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MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos À Pessoa Humana: uma leitura civil-constitucional 
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OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni. Argumentação jurídica e direitos fundamentais. in 
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Trabalho e justiça social: um tributo a Maurício Godinho Delgado. São Paulo: LTR, 2013. 
 
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p.162. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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17 
 
MAX WEBER E HANS KELSEN: ALGUMAS CONVERGÊNCIAS E 
DIVERGÊNCIAS ENTRE DUAS ABORDAGENS DO DIREITO 
 
VALORY, Eduardo
22
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A doutrina sociológica compreensivo-explicativa, de Max Weber, e a Teoria Pura 
do Direito, de Hans Kelsen, apresentam-se como duas das mais famosas teorizações a respeito 
do fenômeno jurídico no século XX. Embora ambas as abordagens tenham se notabilizado por 
pretenderem lançar, a primeira na dimensão sociológica e a segunda na dimensão jurídica, as 
bases para as reflexões “científicas” acerca do Direito na contemporaneidade, mostram-se 
pouco estudadas – apesar de já apontadas - as evidentes e profundas semelhanças entre as 
perspectivas e as conclusões decorrentes da Sociologia Jurídica de Weber e da Ciência do 
Direito de Kelsen. 
Diversos são os pontos de contato entre as teorizações de Weber e Kelsen sobre o 
Direito. Em verdade, os dois compartilharam da preocupação com a estruturação, em suas 
respectivas áreas, de ciências autônomas e metodologicamente orientadas; defenderam, com 
base na mesma distinção neokantiana entre o plano da realidade (o âmbito do ser) e o plano 
da normatividade (o âmbito do dever-ser), a necessidade de diferenciação entre os trabalhos 
da Sociologia do Direito e os trabalhos da Ciência do Direito; conceberam, de forma muito 
parecida, o Direito como uma ordem ou conjunto de imperativos de conduta direcionados aos 
indivíduos; identificaram, no fenômeno jurídico, a existência de inexorável conexão entre o 
Direito e a coação; observaram o Estado como uma entidade intimamente relacionada à 
espécie de Direito vigente contemporaneamente... 
Por outro lado, em função da própria diferença entre as perspectivas adotadas e os 
problemas colocados – isto é, uma perspectiva empírico-sociológica, de Weber, e uma 
perspectiva ideal-normativa, de Kelsen - divergências importantes também são observadas em 
seus pensamentos. Os dois estudiosos discreparam no que se refere à possibilidade de 
objetivação total da pesquisa científica sobre o Direito; diferiram acerca das interações e 
 
22
 Advogado, bacharel em Direito pela PUC-Rio, pós-graduado em Direito pela FEMPERJ/UNESA, mestre em 
Teoria e Filosofia do Direito pela UERJ e bacharelando em Filosofia pelo IFCS-UFRJ. E-mail: 
evalory@hotmail.com 
 
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GT 12: TEORIA GERAL DO DIREITO E DO ESTADO CONTEMPORÂNEO 
 
18 
 
nexos entre a Sociologia Jurídica e a Ciência do Direito, como disciplinas e campos de 
estudos; contenderam em torno da natureza da coação que seria própria do Direito; chegaram 
a conclusões distintas ao teorizarem sobre as correlações conceituais existentes entre o Estado 
e o Direito. 
Com o fim de explorar esses tópicos de paralelismo entre as obras dos dois 
autores, bem como destacar algumas de suas idéias contrastantes sobre o fenômeno jurídico, 
com as limitações inerentes a um artigo, é que se realizao presente estudo. Obviamente não 
se tem a pretensão de esgotar o tratamento de todas as sobreposições ou discordâncias, 
convergências ou divergências entre as visões de Weber e Kelsen sobre o Direito, ou mesmo 
executar um aprofundamento analítico de cada temática tratada. A intenção geral, mais 
modesta e sóbria, é fazer um contraponto expositivo entre determinadas teses da extensa 
produção dos dois autores que podem interessar tanto a sociólogos quanto a juristas, lançando 
luz, nesse caminho, a alguns elementos para o desenvolvimento de mais pesquisas e 
discussões relativas às obras desses dois importantes teóricos do Direito. 
 
2 A QUESTÃO DA METODOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS: OS OBJETIVOS 
DE WEBER E KELSEN 
 
Já destacando um primeiro traço de proximidade entre as doutrinas de Max Weber 
e Hans Kelsen, é importante ressaltar o fato de que ambos os autores se inserem em um 
mesmo ambiente filosófico–cultural em que surgiam as primeiras manifestações da 
denominada “crise da modernidade”. Max Weber, nascido em 1864, e Hans Kelsen, nascido 
em 1881, situam-se, dentro da história das idéias, exatamente no interior do período em que se 
iniciam os debates e reflexões que, mais à frente – ao longo do século XX −, culminariam no 
que se convencionou chamar de “pós-modernidade”23. Os dois estudiosos tiveram contato, em 
sua formação intelectual, com as primeiras manifestações de crítica e questionamento
24
 da 
“visão de mundo moderna”, isto é, a visão alicerçada sobre os pressupostos filosófico-
científicos – e, então, uma metafísica − da onipotência da razão, da imoderada possibilidade 
 
23A respeito da “condição pós-moderna”, “modernidade líquida” ou “hipermodernidade”, dentre outras 
semelhantes denominações, ver BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar, 1998; e LYOTARD, Jean- François. A condição pós-moderna. 13ª ed. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 
2011. 
24Não é demais lembrar que data de 1886 a obra “Além do bem e do mal – Prelúdios de uma filosofia do futuro”, 
de Friedrich Nietzsche, encarada, de modo geral, como um dos marcos iniciais das críticas às concepções de 
mundo modernas que prevaleciam desde o século XVII. 
 
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19 
 
de discursos universalizantes, da domesticabilidade do mundo em direção ao “progresso” e, o 
que mais interessa para o presente estudo, a convicção na capacidade das ciências explicarem 
todas as parcelas do real e, assim, satisfazerem as necessidades humanas. 
Nesse sentido, a análise das obras de Weber e de Kelsen deixa bem evidente que 
suas concepções se inserem em um momento de transição, mudança de conceitos e 
instabilidades na cultura ocidental e seu tradicional modo de pensamento. Em verdade, em 
termos teóricos, as produções desses dois pesquisadores se caracterizam por, precisamente, 
colocarem-se a meio-caminho entre o então predominante paradigma cientificista moderno – 
distinguido, para o que nos interessa, pela crença na unidade metodológica da ciência, na 
viabilidade de uma intelecção abrangente das “leis necessárias” que governariam os 
fenômenos da realidade e, dessa forma, em juízos de conhecimento dotados dos atributos de 
certeza e de objetividade – e um paradigma cognitivo “pós-moderno” – tal como o 
entendemos, relacionado com a demarcação de maiores limites às pretensões cognitivas, a 
flexibilização do conceito de “lei científica”, a necessidade de utilização de conclusões 
centradas em juízos de probabilidade e a tomada de consciência da existência de certo grau de 
subjetivismo, e até mesmo relativismo, inerente aos conhecimentos produzidos.
25
 
O que se está a dizer é que, por estarem sob os influxos tanto de doutrinas 
científicas baseadas no paradigma da modernidade então imperante, quanto de correntes 
contestadoras desse estado de coisas, os dois autores deixam transparecer em suas obras 
elementos de ambas as abordagens, constituindo-se, na realidade, em produções que tentam 
conciliar e acomodar as diversas inconsistências que começavam a ficar evidentes. No que se 
refere estritamente às Ciências Humanas, se é certo que ainda desejam, em seus diferentes 
campos de estudo, estruturar e construir disciplinas científicas metodologicamente fundadas, 
no entanto, já conscientes das limitações e dificuldades que suas pesquisas e projetos 
deveriam contornar, deixam de lado antigas e arraigadas concepções derivadas dos 
pressupostos científicos do período anterior. Grande parte dos esforços de Weber e Kelsen, 
portanto, dirige-se para a inovação das questões colocadas, dos objetivos perseguidos e das 
 
25
Apesar de não concordarmos seja com suas descrições do fenômeno da pós-modernidade seja com suas 
conclusões sobre as implicações para as ciências, Boaventura de Souza Santos e François Lyotard percebem o 
emergir, ao longo do século XX, de uma “ciência pós-moderna” que rompe com a cientificidade de traços 
modernos – afirmação a qual não contestamos. Cf. SANTOS, Boaventura de Souza. Introdução a uma ciência 
pós-moderna. Rio de Janeiro: Editora Graal, 2012; e LYOTARD, Jean- François. A condição pós-moderna. Op. 
Cit., capítulo 13. No ponto, embora estejamos convencidos de que é possível falar, a partir de certa perspectiva, 
em uma “ciência pós-moderna”, Javier Echeverría, sem deixar de reconhecer as mudanças pelas quais a ciência 
passou ao longo do último século, lança muito oportunas críticas à maior parte dos autores que tratam da ciência 
a partir da ótica da pós-modernidade (ECHEVERRÍA, 2003, p. 260-265). 
 
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20 
 
metodologias empregadas na análise científica da cultura. 
Weber, diferentemente de boa parte de seus antecessores, já não partilha da idéia 
da possibilidade de redução, pelo instrumental da razão, de todos os fenômenos ocorridos em 
sociedade a um conjunto de leis gerais e infalíveis (WEBER, 2009a, p. 17-18)
26
 que, quando 
descoberto e determinado pelo cientista social, o habilitaria a explicar definitivamente toda a 
dinâmica dos acontecimentos passados e predizer, sem hesitações, seus efeitos futuros. Suas 
idéias sobre o papel da Sociologia contrastam bastante, por exemplo, com o positivismo da 
“física social”, de Auguste Comte, ou o naturalismo do “evolucionismo social”, de Herbert 
Spencer. Muito embora Weber deixe claro que a sociologia tenha por finalidade a fixação de 
“regularidades de fato” que expliquem-compreensivamente as ações sociais e, assim, 
ofereçam aos homens a previsibilidade de acontecimentos delas decorrentes, tais enunciados 
científicos seriam sempre, inexoravelmente, probabilísticos (WEBER, 2001, p. 133). Em 
outra perspectiva, repudiando as tentativas, muito difundidas à época, de irrefletida aplicação 
das abordagens epistemológicas das Ciências da Natureza ao estudo das Ciências Sociais, o 
autor entende que o exame das ações sociais, pela própria natureza valorativo-significacional 
de seu específico objeto, não poderia desconsiderar as premissas axiológicas que orientariam 
os atores sociais e mesmo os sociólogos (WEBER, 2001, p. 132-133 e p.126-127). 
Kelsen, rompendo com longa tradição predominante na Ciência Jurídica ocidental 
– expressa, em essência, na identificação da Ciência do Direito com alguma forma de 
“dogmática jurídica” – entende que as prescrições de Direito, a linguagem deontológica da 
qualse originam as normas jurídicas, seriam um “quadro”, uma “moldura de sentido” com 
conteúdo relativamente indeterminado e ambíguo que, oferecendo com sua semântica 
linguística um amplo leque de interpretações, não permitiria ao cientista do Direito a 
formulação de uma sistematização conceitual absolutista do direito vigente, muito menos 
qualquer idealização de uma concepção dura de segurança jurídica (KELSEN, 2010c, p.366; 
KELSEN, 2006b, p. 387 e seguintes). “A interpretação jurídico-científica não pode fazer 
outra coisa senão estabelecer as possíveis significações de uma ordem jurídica.” (KELSEN, 
2006b, p. 395) No mesmo sentido, rejeitando todas as formas de doutrinas jusnaturalistas que 
confundiam o Direito com a Moral ou defendiam a capacidade da razão humana determinar 
uma legislação universal, perfeita e atemporal, Kelsen ressalta a relatividade, subjetividade e 
 
26Raymond Aron denomina essa característica da obra sociológica weberiana de “inacabamento”, cf. ARON, 
Raymond. As etapas do pensamento sociológico. 8° ed. Lisboa, Portugal: Ed. Publicações Dom Quixote, 2007, 
p. 481. 
 
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21 
 
mutabilidade do Direito positivo, expondo, conceitualmente, a independência das normas 
jurídicas de quaisquer conformidades com valores pressupostos
27
. 
Por outro lado, tanto Max Weber como Hans Kelsen continuam a ter como fim 
último de suas obras, na linha dos pressupostos filosóficos-científicos da modernidade, a 
elevação de suas respectivas disciplinas de estudo ao mesmo patamar das já consagradas 
Ciências da Natureza, como a Física, Química ou Biologia, isto é, a transformação da 
Sociologia e da Ciência do Direito, apesar das especificidades impostas por seus objetos de 
estudo, em atividades verdadeiramente científicas. O projeto de Weber, sua Sociologia 
Compreensivo-explicativa, e a teorização jurídica de Kelsen, sua Teoria Pura do Direito, 
destacam-se na História das Idéias como duas das mais obstinadas e intransigentes tentativas 
de garantir cientificidade e objetividade aos juízos de cognitivos proferidos em seus distintos 
departamentos. Nesse sentido, dão continuidade, no ponto, à confiança na possibilidade, 
mesmo que mitigada e limitada ao seu uso meramente teórico-contemplativo, de uma 
“racionalidade” que fundamentaria o conhecimento científico do mundo da cultura. 
No que se refere à diretriz metodológica a ser adotada pelo pesquisador das 
Ciências Humanas e aos enunciados a serem proferidos pela Sociologia (aí incluída a 
Sociologia Jurídica) e pela Ciência do Direito, as teorizações de Weber e Kelsen, de modo 
geral, são muito semelhantes, se não idênticas. Com vistas à garantia de cientificidade e 
objetividade aos conhecimentos produzidos, ambos sustentam, e talvez esta seja a marca mais 
conhecida de suas produções e o ponto pelo qual mais batalharam, a necessidade de que o 
estudioso das Ciências Humanas se portasse de maneira imparcial e a-valorativa ao longo de 
suas atividades. Para Weber e Kelsen, a postura do cientista dos fenômenos humanos, seja do 
Direito seja da Sociologia, deveria ser axiologicamente neutra, meramente contemplativa 
frente aos objetos de estudo que desejassem examinar. A ciência só seria ciência caso os 
pesquisadores se colocassem a compreender e explicar os problemas que lhes fossem postos 
de maneira objetiva, livre de subjetivismos ou comprometimentos ideológicos, atitude que se 
resguardaria unicamente mediante a adstrição aos fatos concretamente evidenciados 
socialmente. Portanto, a atividade científica deveria ter por base e resultado os juízos de 
realidade sobre a sociedade – juízos que exprimiriam a inteligibilidade sobre como as coisas 
efetivamente são e funcionam –, e não juízos de valor a respeito da estimativa, positiva ou 
 
27
Esse relativismo filosófico e moral, núcleo da doutrina kelseniana, é exposto em praticamente todas as obras do 
jurista. Cf. KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Op. Cit., p. 78; KELSEN, Hans. Absolutismo e relativismo 
na filosofia e na política. In KELSEN, Hans. A Democracia. 2. ed. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2000; 
KELSEN, Hans. O problema da justiça. 7. ed. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2011. 
 
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22 
 
negativa, dos próprios fenômenos humanos que são postos a conhecimento. 
A partir da mesma diferenciação de raiz neokantiana entre os planos do ser e do 
dever-ser, as dimensões dos fatos e dos valores, os juízos de realidade e os juízos de valor, 
afirmam que a Sociologia e a Ciência do Direito, na condição de “ciências”, somente 
poderiam se voltar para a observação e explicação de seus objetos de estudo, isto é, a 
contemplação e descrição das regularidades empiricamente verificadas nos fenômenos 
culturais que analisam. Influenciados pelo neokantismo da Escola de Baden  Wilhelm 
Windelband e, especialmente, Heinrich Rickert
28
  Weber e Kelsen distinguem, por 
conseguinte, a “relação referida a valores”  pressupostos valorativos motivadores das 
pesquisas sobre as práticas culturais e base de quaisquer investigações das ciências do espírito 
 dos “juízos de valor”, atos concretos de valoração decorrentes da união entre valorações e 
vontade; separam, em termos substantivos, o saber teórico e o saber prático; a razão e a fé; os 
juízos de fato sobre os valores e os juízos de valor acerca dos fins a serem realizados; o ser tal 
como evidenciado e o dever-ser reputado digno de ser concretizado. Tal como Kelsen fará 
mais à frente no tratamento das prescrições jurídicas, Weber separa os planos do “ser” (do 
fato, da realidade, do objeto empírico de conhecimento) e do “dever-ser” (das normas, dos 
valores e das concepções de mundo julgados dignos de serem realizados). Ao cientista – 
como homem teórico interessado no conhecimento – caberia a formulação de hipóteses com 
base em um comportamento estritamente contemplativo da realidade social constatada (ser), e 
não uma ação valorativa, positiva ou negativa, a respeito de seu objeto de exame científico 
(dever-ser). 
Dessa forma, ao cientista social não incumbiria posicionar-se em relação a como 
deveria ser a sociedade ou suas instituições – função essa dos homens políticos, homens de 
ação -, mas sim tentar compreender e explicar esses fatos tal como se lhe apresentam a exame. 
Os dois pensadores concluem que as Ciências Humanas não estariam capacitadas a oferecer, 
como conhecimento científico, juízos de valor sobre o modo de ordenação das realidades 
sociais, ou seja, nada seria mais anticientífico, na visão desses autores, do que pesquisadores, 
que tratam de fatos, oferecendo orientações sobre o que necessitaria ser feito concretamente 
 
28
 Para comentários sobre a relação do pensamento de Weber com o neo-criticismo de Rickert, veja-se FREUND, 
Julien. Sociologia de Max Weber. 5ª ed. Trad. de Luís Cláudio de Castro e Costa. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 
2010, p. 42. A respeito dos aspectos neokantistas dos trabalhos de Kelsen, ver PAULSON, Stanley L. La 
distinción entre hecho y valor: la doctrina de los dos mundos y el sentido de inmanente: Hans Kelsen como 
neokantiano. Op. cit.. Para uma brevíssima exposição do pensamento de Rickert no que se refere às ciências da 
cultura, ver: LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência do Direito. Tradução de José Lamego. 5. ed. Lisboa, 
Portugal:Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 2009, p. 125 e seguintes. 
 
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23 
 
na sociedade ou no Direito. Para Weber, a “Sociologia”, ciência ocupada da explicação 
compreensiva das ações sociais, não poderia ser confundida com a “Política Social”, exercida 
pelos homens políticos que desempenham, motivados por suas constelações de valores, as 
próprias ações sociais (WEBER, 2011, p. 38-39; WEBER, 2001, p. 107-117). Kelsen, da 
mesma maneira, distingue incisivamente a “Ciência do Direito”, disciplina de estudo do 
fenômeno social-normativo “Direito”, da “Política do Direito”, identificada pela figura dos 
reais aplicadores e criadores das normas jurídicas (KELSEN, 2010a, p. XXVIII; KELSEN, 
2006b, Capítulos I e III).
29
 Ambos autores, assim, ressaltam a diferença conceitual entre 
sujeitos cognitivos – que exercem a ciência – e objetos do conhecimento – no caso, as obras 
culturais criadas por outros homens. 
Em verdade, essas semelhanças quanto às diretrizes de neutralidade axiológica e 
postura meramente descritiva e contemplativa dos objetos de conhecimento (que 
possibilitariam o conhecimento científico e objetivo da cultura), mais que mera coincidência 
de pensamentos, são fruto da influência direta das obras de Weber nas pesquisas de Kelsen. 
Como nos informa Norberto Bobbio, na primeira edição de sua obra seminal que daria 
origem, mais à frente, à Teoria Pura do Direito, “Problemas capitais da teoria jurídica do 
Estado desenvolvidos a partir da teoria da proposição jurídica”, de 1911, o então jovem 
jurista Hans Kelsen não só faz menções às obras de Weber, famosas à época, como chega a 
transcrever passagens de seu conhecido ensaio “A ‘objetividade’ do conhecimento na Ciência 
Social e na Ciência Política”, de 1904 (1989, p. 57-58). Nesse sentido, tanto a distinção entre 
as dimensões dos fatos e dos valores, do ser e do deve-ser - e, em consequência, entre os 
juízos de realidade e os juízos de valor -, quanto a diferenciação gnosiológica entre sujeito 
cognitivo e objeto do conhecimento, centrais nas obras dos dois teóricos, podem ser 
reconduzidas aos mesmo pressupostos filosófico-científicos elaborados pelo neokantismo da 
escola de Baden, tal como assimilados primeiramente por Weber. 
 
3 A SOCIOLOGIA JURÍDICA E A CIÊNCIA DO DIREITO 
 
Com alicerce nessas razões de ordem metodológica acerca do estudo científico do 
mundo da cultura, e como mais um aspecto de convergência entre os seus projetos, é de se 
destacar a luta de ambos os autores para fundamentar a autonomia de suas ciências frente aos 
 
29
 Compare-se com as observações de Max Weber em WEBER, Max. A “objetividade” do conhecimento na 
Ciência Social e na Ciência Política. Op. Cit., p.107-117. 
 
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24 
 
demais ramos do conhecimento. As obras de Max Weber e de Hans Kelsen, sempre 
enveredando por discussões gnosiológicas, são caracterizadas pela forte crítica a outros 
teóricos e correntes de pensamento de seu tempo que, conscientes ou não, identificavam a 
Ciência do Direito com a Sociologia ou, igualmente, inseriam as atividades desenvolvidas por 
essas disciplinas de estudo nos campos da Psicologia, Antropologia, Ética, Filosofia Política 
etc. Dessa forma, no que interessa para este trabalho, uma importante conclusão partilhada 
por Weber e Kelsen é a idéia de que a Ciência do Direito e a Sociologia do Direito, âmbitos 
cognitivos dotados de independência funcional, seriam duas disciplinas diversas, com 
diferentes objetos de conhecimento e distintos objetivos. De fato, praticamente com os 
mesmos argumentos, sustentam, principalmente em contestação a pensadores adeptos de 
variantes do “sociologismo jurídico” – como Hermann Kantorowicz, da “Escola de Direito 
Livre”30, e Eugen Ehrlich, do “Movimento Sociológico do Direito”31 – que a Ciência Jurídica 
não poderia confundida com a Sociologia Jurídica. 
Os dois pensadores apontam a necessidade de se diferenciar a “validez ideal”, 
inerente aos regramentos normativos pertencentes a um mesmo conjunto de prescrições de 
condutas humanas, da “validez real” (como denomina Bobbio, em alusão a conceito que se 
relaciona, em parte, ao fenômeno da “efetividade normativa” do Direito), relacionada às 
influências e efeitos que concreta e empiricamente despertariam no comportamento dos 
indivíduos em sociedade (BOBBIO, 1989, p. 61). Em outras palavras, tanto Weber quanto 
Kelsen ressaltam, com esteio na já mencionada ótica neocriticista que distinguia a dimensão 
fática da dimensão valorativa, a impossibilidade de se misturar o plano sociológico e empírico 
do “ser social” com plano normativo, hipotético e ideal do “dever-ser”: as normas jurídicas 
pertenceriam ao mundo meta-empírico do Direito, jamais se confundindo com o fato social do 
concreto comportamento humano e os preceitos normativos verdadeiramente observados 
como causas desse agir. Weber, comentando a relação das prescrições do Direito com o 
mundo sócio-empírico, deixa evidente essa conclusão: 
 
Quando se fala de ‘direito’, ‘ordem jurídica’, deve-se observar muito rigorosamente 
a diferença entre os pontos de vista jurídico e sociológico. Quanto ao primeiro, cabe 
perguntar o que idealmente se entende por direito. Isto é, que significado, ou seja, 
que sentido normativo, deveria corresponder, de modo logicamente correto, a um 
complexo verbal que se apresenta como norma jurídica. Quanto ao último, ao 
 
30
 Sobre a doutrina de Kantorowiczm veja-se TREVES, Renato. Sociologia do Direito. 3 ed. São Paulo: Ed. 
Manole, 2004, p.115 e seguintes. 
31
A respeito do pensamento de Ehrlich, ver TREVES, Renato. Sociologia do Direito. Op. Cit., p.119 e seguintes. 
 
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contrário, cabe perguntar o que de fato ocorre, dado que existe a probabilidade de as 
pessoas participantes nas ações da comunidade – especialmente aquelas em cujas 
mãos está uma porção socialmente relevante de influência efetiva sobre essas ações -
, considerarem subjetivamente determinadas ordens como válidas e assim as 
tratarem, orientando, portanto, por elas suas condutas. (...) A consideração jurídica 
ou, mais precisamente, a dogmático-jurídica, propõe-se a tarefa de investigar o 
sentido correto de normas cujo conteúdo apresenta-se como uma ordem que 
pretende ser determinante para o comportamento de um círculo de pessoas de algum 
modo definido, isto é, de investigar as situações efetivas sujeitas a essa ordem e o 
modo como isso ocorre. (WEBER, 2009a, p. 210) 
 
O objetivo de Weber, em suas palavras, é estabelecer a Sociologia, ou seja, “uma 
ciência que pretende compreender interpretativamente a ação social e assim explica-la 
causalmente em seu curso e em seus efeitos” (WEBER, 2009a, p. 3). A partir do princípio de 
que toda ação em sociedade, como regra, seria racionalmente dirigida e motivada, Weber 
supõe a possibilidade de a Sociologia determinar objetivamente as prováveis causas e 
resultados previsíveis de cada fenômeno social empiricamente observado, enunciando, sempre 
que possível, teses de regularidades probabilísticas. Em sua visão, como já se expôs, a 
pesquisa sociológica deveria emitir “explicações-compreensivas”. Tais “explicações-
compreensivas”,posição que combina a corrente da “explicação” (“Erklären”) com a corrente 
da compreensão (“Verstehen”)32, se dariam, primeiramente, pela captação empática e 
interpretação do sentido social subjetivo que cada ator - indivíduo, entidades ou associações - 
atribui a suas próprias ações concretamente realizadas em coletividade, e, em um segundo 
momento, evoluiriam para a análise e inter-relacionamento causal de acontecimentos 
socialmente verificados, assim, ao fim, explicando-os. No que diz respeito especificamente ao 
Direito, a Sociologia Jurídica, portanto, teria por fim o estudo dos comportamentos reais, 
fáticos e empiricamente evidenciados dos membros de um agrupamento humano em relação 
ao Direito em vigor, isto é, se voltaria, em essência, para a fixação da explicação-
compreensiva do conteúdo de uma ordem jurídica, da crença dos homens na validade de certo 
Direito e das razões motivadoras do cumprimento ou descumprimento das normas 
estatuídas...(FREUND, 2010, p. 178 e seguintes) 
 
32
 A corrente da explicação (“Erklären”), que identifica na metodologia das ciências naturais, no exame das 
causas e efeitos dos acontecimentos, o paradigma para a pesquisa também nas ciências humanas, postula a 
elucidação dos objetos de estudo culturais exclusivamente por uma análise dos nexos causais-naturalísticos 
envolvidos em sua ocorrência. A corrente da compreensão (“Verstehen”), diferentemente, aponta a apreensão das 
vivências subjetivas dos fenômenos sociais, a percepção dos nexos de meios e fins conscientemente 
estabelecidos pelos homens, como o único meio viável para a execução das investigações das obras do espírito. 
Max Weber, entretanto, considera as duas metodologias não só complementares como intrinsecamente 
correlacionadas, uma vez que, em sua concepção, os indivíduos, por seus comportamentos, naturalmente 
sobreporiam os dois elementos julgados pelos teóricos como “inconciliáveis”. 
 
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Kelsen, por sua vez, motivado pelo intento construir uma verdadeira Ciência 
Jurídica, fazia questão de destacar que “desde o começo foi meu (seu) intento elevar a 
Jurisprudência, que – aberta ou veladamente – se esgotava quase por completo em 
raciocínios de política jurídica, à altura de uma genuína ciência, de uma ciência do 
espírito.”(KELSEN, 2006a, p. XI) Em direção à instituição de uma Teoria Geral do Direito 
positivo, cujos conceitos, como conhecimento científico, pudessem ser aplicáveis a todos os 
ordenamentos jurídicos independentemente de seus diversificados conteúdos, a Ciência 
Jurídica kelseniana pretende “responder a esta questão: o que é e como é o Direito. Mas já 
não lhe importa a questão de saber como deve ser o Direito, ou como deve ele ser feito. É 
ciência jurídica e não política do Direito.” (KELSEN, 2006b, p. 1) Essa atividade 
investigativa, como ciência interessada em conhecimentos objetivos, deveria ser 
desempenhada, sempre, com a observância do “princípio da pureza metodológica”, diretriz 
que demarcaria a pesquisa estritamente ao exame das normas jurídico-positivas e, desse 
modo, excluiria da análise da Ciência Jurídica tudo aquilo que não pudesse, rigorosamente, 
denominar-se como Direito posto. A Teoria Pura do Direito, assim, atribui à Ciência do 
Direito a função de conhecimento e descrição das relações lógico-formais que se 
estabeleceriam entre os diversos preceitos de uma ordem jurídica. Trata-se, então, não do 
estudo do plano do ser social – dos concretos acontecimentos socialmente verificados com 
relação ao Direito – mas sim uma análise acerca das prescrições dever-ser idealmente 
vigentes em uma sociedade – ou seja, um exame sobre o que deveria ser feito. 
Com base nessas concepções acerca de suas disciplinas, como se nota, os 
pensamentos de ambos os autores se harmonizam no sentido de afirmar a distinção entre os 
objetos de conhecimento da Sociologia do Direito e da Ciência Jurídica. Weber e Kelsen 
partilham da mesma visão de que enquanto a Ciência do Direito teria por objeto de 
conhecimento as prescrições jurídicas de comportamento, normalmente estabelecidas em leis, 
a Sociologia Jurídica teria por objeto de conhecimento problemas afetos ao efetivo 
comportamento dos indivíduos frente ao Direito.
33
 O estudo das normas jurídicas e de suas 
inter-relações lógicas e de sentido, questões pertencentes ao mundo do dever-ser, seriam 
tarefas atribuídas à Ciência do Direito; a análise da eficácia social das normas jurídicas, dos 
reais e efetivos comportamentos diante do Direito e das concretas motivações envoltas na 
 
33
Segundo Norberto Bobbio, essa ótica compartilhada por Max Weber e Hans Kelsen, de diferenciar os métodos 
de trabalho da Ciência do Direito e da Sociologia do Direito, já estava presente nos escritos de George Jellinek, 
cf. BOBBIO, Norberto. Kelsen y Max Weber. Op. Cit., p. 64. 
 
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criação e aplicação do Direito, como questões situadas no mundo empírico-social do ser, 
seriam atividades da alçada da Sociologia. Exatamente em razão dessa distinção entre seus 
objetos de conhecimento, não poderia deixar de haver importantes diferenças quanto aos 
métodos da Sociologia Jurídica e da Ciência do Direito. A Sociologia do Direito 
desenvolveria suas pesquisas em torno da inteligibilidade de “nexos de causa e efeito”, 
conexões de causalidade entre um acontecimento social (como causa) e outra ocorrência 
social (como efeito), fenômenos da dimensão da realidade fática. (WEBER, 2001, p. 129; 
WEBER, 2009a, p. 11-12) Já a Ciência do Direito, ocupada com o exame das normas e de 
suas relações lógicas e de sentido, teria por centro a formulação de “nexos de imputação” 
entre as diversas normas pertencentes à dimensão ideativa do Direito.
34
 Tal diferenciação, nos 
aspectos substanciais, é a mesma no pensamento dos dois autores. 
Se é certo que ambos os autores convergem em diversos aspectos referentes à 
metodologia aplicável às Ciências Humanas e aos objetos e às funções confiados à Sociologia 
Jurídica e à Ciência do Direito, dois importantes pontos de distanciamento são evidentes entre 
as duas doutrinas. A primeira divergência também se refere à própria abordagem 
metodológica: Max Weber, apesar de sempre pugnar e defender, de forma contundente, a 
necessidade de se buscar um máximo de objetivação na atividade científica, conclui – ao 
contrário do que sustenta, aparentemente, Kelsen – pela impossibilidade de uma completa 
exclusão de premissas subjetivas e valorativas no tratamento científico das questões culturais 
– o que justificaria o fato de Weber, em seus textos metodológicos, sempre apresentar o termo 
“objetividade” entre aspas. Para o autor, pelas próprias características do objeto de 
conhecimento das disciplinas de estudo dos fenômenos culturais, bem como por seus 
específicos processos científicos, não seria possível uma total neutralidade axiológica do 
pesquisador. Enquanto Kelsen, segundo nos parece, crê na possibilidade de plena separação 
entre os valores individuais incorporados pelos cientistas e os resultados de seus estudos das 
prescrições normativas, Weber aponta, com lucidez, que a busca de objetividade do 
conhecimento científico nas Ciências da Cultura, embora obrigatória para a garantia da 
cientificidade, não pode se iludir frente à realidade de que o próprio investigador é um 
indivíduo detentorde valores e que ele próprio está inserido em uma realidade social 
valorativa. Seja ao determinar um específico acontecimento como problema social digno de 
 
34Sobre a explicação da noção de “imputação” e sua diferenciação da relação de causa-efeito, veja-se KELSEN, 
Hans. Teoria Pura do Direito. Op. Cit., p. 84 – 101. No mesmo sentido, em artigo específico sobre a temática, 
KELSEN, Hans. Acerca de las fronteras entre el método jurídico y el sociológico. In: El otro Kelsen. Correas, 
Óscar (org.). México: Ed. Universidad Nacional Autónoma de México, 1989, p. 307 – 316. 
 
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ser estudado, seja durante a análise e seleção das relações de causa-efeito dos fenômenos 
sociais, o pesquisador, nas Ciências da Cultura, estaria inexoravelmente sujeito a inserir 
determinados valores no interior das atividades científicas (WEBER, 2001, 124-132). 
Outra diferenciação relevante entre as construções dos pensadores diz respeito às 
relações entre a Ciência do Direito e a Sociologia Jurídica. Hans Kelsen, diferentemente de 
Weber, convence-se de que a Sociologia do Direito, muito embora seja uma disciplina de 
estudo diversa da Ciência Jurídica, não poderia ser completamente autônoma frente a esta 
última. O autor observa que a Sociologia Jurídica, ao se incumbir da análise dos efetivos 
comportamentos humanos frente às abstratas e hipotéticas prescrições do Direito, deveria, 
necessariamente, depender da Ciência do Direito, vez que seria esta – a Ciência Jurídica – 
que, por suas atividades, definiria as normas jurídicas que direcionariam os trabalhos a serem 
desenvolvidos pela Sociologia do Direito. Em outras palavras, se a Sociologia do Direito 
estuda a conduta humana (o ser efeivo) à luz do Direito (o dever-ser ideal), e se é a Ciência 
Jurídica que definiria quais seriam esses preceitos, logo a Sociologia Jurídica estaria, em sua 
visão, subordinada à própria Ciência do Direito. (KELSEN, 2010b, p. 257-258) Weber, ao 
contrário, não se posiciona por qualquer vinculação entre as duas ciências. Embora expresse 
que a qualificação de um determinado sistema de normas como sendo um “Direito” dependa 
de uma análise empírica da presença em sociedade de seus elementos constitutivos, não 
conclui daí a existência de qualquer relação de mútua dependência ou prioridade lógico-
cognitiva entre as diferentes disciplinas da Ciência do Direito e da Sociologia Jurídica. Os 
dois campos de estudo, para o autor, seriam autônomos um do outro, não se visualizando 
quaisquer hierarquizações ou relações de subordinação. 
 
4 DIREITO, ESTADO E COAÇÃO 
 
A definição conceitual sobre o que seria o Direito e a relação do fenômeno 
jurídico com a figura do Estado, novamente, deixam entrever notáveis proximidades entre 
Weber e Kelsen. Guardadas as particularidades que serão expostas, ambos os pensadores, em 
substância, concebem o Direito como sendo um conjunto de imperativos de conduta humana 
dotados de coercitividade, ou seja, observam o fenômeno jurídico como uma multiplicidade 
de prescrições de dever-ser que, com a função de estabelecer em coletividade uma expectativa 
futura de conduta dos seres humanos, utiliza-se de sanções coativas para sua garantia e fiel 
 
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observância. Para Max Weber, o Direito seria uma “ordem” cujos preceitos seriam impostos 
pela probabilidade de emprego da coação (física ou psíquica); as normas jurídicas, assim, se 
qualificariam como “máximas” voltadas a regular, sob ameaça de sanções coativamente 
aplicadas, o comportamento de indivíduos envolvidos em relações sociais. Essas ordenações 
estabelecidas pelas normas jurídicas, segundo o próprio objetivo que se propõem, por sua vez, 
exigiriam a existência de um quadro institucionalizado de pessoas especificamente voltado 
para a fiscalização do cumprimento de suas prescrições e a execução das sanções estatuídas. 
Em suas palavras, “Uma ordem é denominada Direito, quando está garantida externamente 
pela probabilidade da coação (física ou psíquica) exercida por determinado quadro de 
pessoas cuja função específica consiste em forçar a observação dessa ordem ou castigar sua 
violação.” (WEBER, 2009a, p. 21) Mais à frente, pontifica: “Para nós, o decisivo no conceito 
de ‘direito’ (que para outros fins pode ser definido de maneira completamente diferente) é a 
existência de um quadro coativo.” (WEBER, 2009a, p. 21)35 
 Hans Kelsen, em conclusão muito semelhante, trata o fenômeno do Direito como 
uma “técnica social específica” de regulação da vida em sociedade. Concebido como “técnica 
social”, o Direito visa intervir na sociedade, conformando-a, mediante a imposição de 
comportamentos humanos, de acordo com os padrões valorativos de seu criador. Entretanto, 
diferentemente de outros conjuntos de prescrições de conduta humana, as normas jurídicas se 
destacariam pela “especificidade” da utilização da coação para a motivação dos 
comportamentos. O Direito, para Kelsen, não poderia ser confundido com a moral, a religião 
etc., cujos preceitos não seriam reforçados por sanções coativas socialmente organizadas. O 
fenômeno jurídico, como sistema de normas direcionadas ao regramento do comportamento 
dos indivíduos em coletividade, é garantido por medidas coativas de diferenciadas espécies: 
“(...) a técnica social que consiste em obter a conduta social desejada dos homens através da 
ameaça de uma medida de coerção a ser aplicada em caso de conduta contrária.” (KELSEN, 
2010b, p. 27-28) 
 
Uma outra característica comum às ordens sociais a que chamamos Direito é que 
elas são ordens coativas, no sentido de que reagem contra as situações consideradas 
indesejáveis, por serem socialmente perniciosas – particularmente contra condutas 
humanas indesejáveis – com um ato de coação, isto é, com um mal – como a 
privação da vida, da saúde, da liberdade, de bens econômicos e outros-, um mal que 
é aplicado ao destinatário mesmo contra sua vontade, se necessário empregando até 
 
35
A matéria, como nos expõe Renato Treves, é polêmica: veja-se TREVES, Renato. Sociologia do Direito. Op. 
Cit., 158. 
 
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30 
 
a força física – coativamente, portanto. (KELSEN, 2006b, p. 35) 
 
Tanto Weber quanto Kelsen, como se observa, apontam a característica da coação 
como essencial ao conceito de Direito. Da mesma maneira, os dois autores partilham da visão 
de que é a possibilidade de emprego de uma sanção coativa - em resguardo e realização 
empírica de suas prescrições - que qualificaria determinadas normas como sendo Direito. No 
entanto, e isto é importante para que se compreenda as relações entre o Direito e o Estado na 
obra dos autores, a natureza dessa sanção coativa, caracterizadora do próprio conceito de 
Direito, difere em seus pensamentos. Weber, apesar de apontar o emprego da coação como a 
marca distintiva do Direito – expressa como uma sanção retributiva frente a comportamentos 
estabelecidos pelas normas jurídicas –, não relaciona a substância dessa sanção coativa, 
necessariamente, com a utilização empírica da força física. O pensador entende que para a 
qualificação de um conjunto de normas como coativo – e, assim, como Direito –, seria 
bastante a mera possibilidade de

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