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UNIVERSIDADE CEUMA PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO COORDENADORIA DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL EUNICE COSTA LEITE O BPC EM QUESTÃO: uma análise sobre os direitos da pessoa idosa e pessoa com deficiência. São Luís 2016 EUNICE COSTA LEITE O BPC EM QUESTÃO: uma análise sobre os direitos da pessoa idosa e pessoa com deficiência. Monografia apresentada ao Curso de Serviço Social da Universidade CEUMA, como requisito parcial para obtenção do Grau em Bacharel em Serviço Social. Orientadora Profª: Msc. Maria Anadete Abreu São Luís 2016 EUNICE COSTA LEITE O BPC EM QUESTÃO: uma análise sobre os direitos da pessoa idosa e pessoa com deficiência. Monografia apresentada ao Curso de Serviço Social da Universidade CEUMA, como requisito parcial para obtenção do Grau em Bacharel em Serviço Social. Aprovada em:___/____/____ Nota:_____________ BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________ Profª: Msc. Maria Anadete Abreu (Orientadora) Universidade Ceuma _____________________________________________________ 2° Examinador(a) Universidade Ceuma _____________________________________________________ 3° Examinador(a) Universidade Ceuma AGRADECIMENTOS A Deus, por proporcionar a todos que tornaram minha vida mais afetuosa, além de ter me dado uma família maravilhosa, e amigas sinceras. Deus, que a mim atribuiu alma, e missões pelas quais já sabia que eu iria batalhar, e vencer agradecer é pouco. Por isso lutar, conquistar, vencer e até mesmo cair e perder, e o principal, viver é o meu modo de agradecer sempre. É difícil agradecer todas as pessoas que de algum modo, nos momentos serenos e ou apreensivos, fizeram ou fazem parte da minha vida, por isso agradeço à todos de coração. Agradeço a meus pais Bernardo Sena Soares, e Raimunda Costa Leite Soares, heroína qυе mе dеυ apoio, incentivo nas horas difíceis, de desânimo е cansaço. Ao mеυ Marido, e meus filhos qυе apesar dе todas as dificuldades mе fortaleceu е qυе pаrа mіm foi muito importante. Obrigada meus irmãos е sobrinhos, que nos momentos de minha ausência dedicados ао estudo superior, sempre fizeram entender qυе о futuro é feito а partir da constante dedicação nо presente! Obrigada. A minha orientadora Mª Anadete Abreu Pessoa qυе fez parte da minha formação е qυе vai continuar presentes em minha vida com certeza. Obrigada Deus por mais uma conquista na minha vida. “A democracia não é apenas a lei da maioria, é a lei da maioria respeitando o direito das minorias.” Clement Attlee RESUMO O presente trabalho tem como objetivo, analisar o Benefício de Prestação Continuada- BPC no contexto da proteção social direcionado ao idoso e a pessoa com deficiência, apresentando-se como um grande avanço dos direitos sociais a esses dois segmentos da sociedade. A metodologia utilizada para o estudo foi à pesquisa bibliográfica e documental. Discorre sobre o percurso histórico da proteção social brasileira, seguida da discussão dos programas de transferência de renda, focando no BPC. Descreve acerca dos instrumentos legais e políticas públicas voltadas as pessoas idosos e as deficientes com ênfase na Política de Assistência Social. Conclui que a questão da proteção social brasileira deve ir além do assistencialismo e que para a proteção social realmente acontecer a inclusão social deve ser efetivada dentro dos serviços dispostos a pessoa idosa e com deficiência. Palavras-chave: Idoso. Pessoa com deficiência. BPC. SUMMARY The objective of this study is to analyze the Benefit of Continuous Care - BPC in the context of social protection aimed at the elderly and the disabled, presenting itself as a major advance of social rights to these two segments of society. The methodology used for the study was bibliographic and documentary research. It discusses the historical course of Brazilian social protection, followed by discussion of income transfer policies, focusing on the BPC. It describes the legal instruments and public policies aimed at the elderly and the disabled with an emphasis on Social Assistance Policy. It concludes that the issue of Brazilian social protection must go beyond welfare and that for social protection to actually happen social inclusion must be carried out within the services provided to the elderly and disabled. Keywords: Elderly. People with disabilities. BPC. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BPC Benefício de Prestação Continuada CF Constituição Federal CNAS Conselho Nacional Assistência Social CRAS Centro de Referencia da Assistência Social CREAS Centro de Referencia Especializado em Assistência Social INSS Instituto Nacional de Seguro Social LA Liberdade Assistida LOAS Lei Orgânica da Assistência Social MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome NOB Norma Operacional Básica PAEFI Serviço de Atenção Especializado as Famílias e Indivíduos PAIF Serviço de Atenção Integral a Família PGRM Programa de Garantia de Renda Mínima PNAS Política Nacional de Assistência Social PNI Política Nacional do Idoso PSB Proteção Social Básica SNAS Secretária Nacional de Assistência Social SUAS Sistema único de Assistência Social SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 9 2 O BPC COMO PROTEÇÃO SOCIAL AO IDOSO E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL ................................................................................... 12 2.1 O benefício de prestação continuada: caracterização ...................................... 16 2.2 O Benefício de Prestação Continuada e a Lei nº 8. 742/1993 - Lei orgânica de Assistência Social (LOAS) ............................................................ 18 3 A PROTEÇÃO SOCIAL ESTABELECIDA PELO BPC À PESSOA IDOSA E À PESSOA COM DEFICIÊNCIA NA PNAS E NO SUAS ................................. 21 3.1 Reordenamento da rede de serviços socioassistenciais para a pessoa Idosa e pessoa com deficiência ......................................................................... 29 3.2 Serviços de proteção e inclusão social à pessoa com deficiência ................ 35 4 AVANÇOS LIMITES E POSSIBILIDADES PARA A CONCESSÃO DO BPC COMO UM DIRETO AO IDOSO E PESSOA COM DEFICIÊNCIA .............. 38 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 42 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 45 9 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho teve como objetivo analisar o Benefício de Prestação Continuada- BPC no contexto da proteção social direcionado ao idoso e à pessoacom deficiência, apresentando-se como um grande avanço dos direitos sociais a esses dois segmentos da sociedade que sofrem exclusão duplamente, tanto pela sua condição social como pela condição econômica. O BPC para muitas pessoas significa uma renda mensal certa, que não passa pelas esguelhas do clientelismo, validando ao cidadão sua autonomia. Nesse sentido, percebemos que o aspecto histórico do Brasil consolida um sistema de proteção social que não combate as expressões da Questão Social. Na maioria das vezes, há uma resolução imediata e passageira, impossibilitando intervir na raiz do problema. O programa esforça-se por ensejar a proteção social, amparando as pessoas idosas e deficientes, em face da uma vulnerabilidade social decorrente da velhice e da deficiência, agravada pela insuficiência de renda, na tentativa de garantir sustento e o acesso às demais Políticas sociais e a outras aquisições. O fato de o BPC ser um benefício que não tem ligação com a contribuição com a Previdência Social faz dele um programa diferente e inovador no que tange á garantia de renda no Brasil, já que esses direitos ao longo da historia só eram concedidos a quem trabalhava formalmente e contribuía para à Previdência Social. Tem-se, pois, um programa integrador de direitos sociais, que, fazendo parte da Politica Nacional de Assistência Social, garante a seu beneficiário não só uma renda, mas também uma integração social, fortalecendo os vínculos perdidos por conta de sua vulnerabilidade. Foi na Constituição Federal de 1988 que o Brasil passou a expressar a real importância quanto aos problemas sociais, e a Assistência Social adquiriu o status de Política Pública, passando a compor o tripé da Seguridade Social, juntamente com a Política de Saúde e Previdência, configurando-se como direito do cidadão e dever do Estado. Nesse contexto, foram criadas Políticas Públicas para buscar-se enfrentar a pobreza, presente no Brasil. Muitas foram as tentativas, principalmente os programas de transferência de renda. O BPC revelou-se o programa que garantiu ao idoso e ao deficiente uma melhor condição de vida de ante de suas vulnerabilidades 10 sociais. Na atualidade os Programas de Transferência de Renda trazem o debate, que se pronunciou durante toda a década de 1990, passando a construir, no século XXI, a estratégia principal no eixo da política de Assistência Social e do Sistema Brasileiro de Proteção Social. Compreende os Programas de Transferência de renda como aqueles destinados a efetuar uma transferência monetária da prévia contribuição a famílias pobres. No caso do BPC, concedidos aos idosos e aos deficientes. Este trabalho é de extrema relevância à medida em que se propõe trabalhar em uma análise de um programa nacional de transferência de renda inovador e que atenda ao público excluído pela sociedade. É importante refletir sobre como que esse programa tão significante é efetivado e aplicado aos seus beneficiários. Trata-se de pesquisa exploratória que, para conhecimento do objeto de estudo, se utiliza do Materialismo histórico dialético como método de abordagem, compreendendo-se que a realidade analisada é cheia de contradições e que o sistema econômico influencia sobremaneira a vida das pessoas; e que as desigualdades sociais são fruto da relação Capitalismo x Trabalho e se enfatizam com a evolução do Capitalismo. Com vistas ao alcance dos objetivos da pesquisa, foi realizado o seguinte procedimento metodológico: Pesquisa Bibliográfica – realizada a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. Para melhor explanação do conteúdo referente à temática desta investigação social, o trabalho foi dividido em quatro capítulos, sendo estes: Introdução, Capítulo II, Capítulo III, Capítulo IV, e a seção Considerações Finais. Nesse excurso epistemológico, na Introdução faz-se um apanhado do que será problematizado neste trabalho, a fim de orientar para o começo da contextualização que será feito nos capítulos subsequentes. No capítulo II, intitulado o BPC como proteção social ao idoso e pessoas com deficiência no Brasil, expõe-se o BPC como um programa de proteção social direcionados ao idoso e ao deficiente, assim como a caracterização do BPC e sua efetivação na Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). O capítulo III, intitulado a proteção social estabelecida pelo BPC à pessoa 11 idosa e a pessoa com deficiência na PNAS e no SUAS, apresenta a proteção social estabelecida pelo BPC à pessoa idosa e a pessoa com deficiência na PNAS e no SUAS, assim como apresentando a rede de serviços socioassistenciais para a pessoa idosa e deficiente, concluindo com os serviços de proteção e inclusão social à pessoa com deficiência. O capítulo IV, intitulado avanços limites e possibilidades para a concessão do BPC como um direto ao idoso e pessoa com deficiência, disserta sobre os avanços e possibilidades para a concessão do BPC como um direito ao idoso e a pessoa com deficiência, apresentando assim as principais falhas na concessão do programa assim como os avanços na proteção social apresentado por ele. No que se refere à seção Considerações Finais, enfatizam-se os aspectos da análise geral do objeto de estudo. 12 2 O BPC COMO PROTEÇÃO SOCIAL AO IDOSO E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL Observa-se que, a partir do final do século XIX, ou seja: logo após a II Guerra Mundial nasceu um modelo oficial para a Proteção social disposta a cumprir a missão estadual de assegurar o estado de bem-estar social. Nasceu assim uma inevitável história visando o enfrentamento dos estragos causados pelo a II Guerra Mundial. Surgiu então o Welfare State que se iniciou na Inglaterra a partir de 1942, se estendendo-se até 1945 e 1975, tendo como base os três pilares1 (PEREIRA, 1999). Nota-se no pensamento de Pereira (1999) que o Welfare State teve início no fim do século XIX início do século XX, visando amenizar as lacunas deixadas após o término da II Guerra. Segundo ele, essa foi a maneira que o Estado encontrou para garantir aos cidadãos o bem- estar social. Ressalta Pereira (1999) que o Welfare State surgiu pela primeira vez na Inglaterra no ano de 1942 e perdurou de 1945 a 1975; ele se fundamentava sob a ótica dos três pilares. Couto (2008, p. 52) define o Welfare State como: [...] implementador de políticas sociais baseadas nos princípios dos direitos sociais universais, igualitários e solidários. Sendo assim, o Estado utilizava de sua estruturação para poder beneficiar economicamente a população mais carente, com intuito de diminuir as desigualdades sociais. O início do sistema de proteção social no Brasil situa-se no período demarcado entre os anos de 1930 e 19432, período este que ensejou grandes transformações na sociedade brasileira. No dizer de Nepp (1994 apud SILVA; YAZBEK; GIONANNI, 2011, p. 25): Trata-se de um período marcado por grandes transformações socioeconômicas, pela passagem do modelo de desenvolvimento agroexportador para o modelo urbano- industrial. Nesse mesmo contexto, 1 Os três pilares, a defesa do pleno emprego, com John Maynard Keynes, com vistas ao meio de regulação econômica e social; a construção da Seguridade Social, com William Beveridge, que uniu ações no âmbito da Assistência Social, Saúde, Trabalho e Educação, com base no keynesianismo; e a sistematização dos direitos de cidadania, com T. H. Marshall, que rompeu com a visãoque aliava a política social ao paternalismo. (PEREIRA, 2008, p. 214). 2 Período conhecido como Era Vargas, onde vários direitos trabalhistas foram criados, e por isso Vargas era Chamado de Pai dos pobres. 13 ocorre também um profundo reordenamento no que diz respeito às funções do Estado Nacional, quando o Estado passa a assumir, mais extensivamente, a regulamentação ou provisão direta no campo da educação, saúde, previdência, programas de alimentação e nutrição, habitação popular, saneamento, transporte coletivo. Nesse período formou-se uma cidadania regulada, que, segundo Santos (1987 apud SILVA; YAZBEK; GIOVANNI, 2011, p. 26), “[...] significava que só era cidadão quem tinha carteira assinada e pertencia algum sindicato.” Nas décadas de 1970 e 1980, esse sistema alcançou a sua consolidação e expansão com fortes traços de orientação autoritária nos marcos da ditadura militar. Os programas e serviços sociais nesse período funcionavam como medidas compensatórias à repressão aberta e imposta direcionada aos movimentos sociais e ao movimento sindical. Os programas sociais nesse contexto foram utilizados como estratégias de controle por parte do Estado, no entanto, esses programas não impediam a rearticulação da sociedade civil, sobretudo a partir da década de 1970, eclosão dos "novos movimentos sociais" e a restruturação do que convencionou chamar de "Sindicalismo autêntico". (SILVA; YAZBEK; GIOVANNI, 2011, p. 26). Sendo assim, apareceram novas demandas sociais, advindas pelo resgate da década acumulada e agravada no período da ditadura além de lutas pelos direitos sociais, num movimento pela democracia e cidadania. Segundo Silva, Yazbek e Giovanni (2011), a pressão popular e as ideias revolucionárias dos movimentos sociais foram assimiladas na Constituição Brasileira de 1988, com o surgimento da Seguridade Social, que tinham como tripé a Assistência Social, a Previdência e a Saúde. Contudo, esse alargamento de direitos sociais rumo à universalização, que se constitui no âmbito do avanço da democratização da sociedade brasileira, passou a ser fortemente combatido durante toda década de 1990. O Governo Brasileiro passou adotar, de modo tardio, o chamado projeto do desenvolvimento econômico, sobre o efeito da ideologia neoliberal, na busca de inclusão no Brasil na chamada competitividade economia globalizada. Tratou-se de uma década de resistência por parte das elites conservadora no congresso, impedindo assim a regulamentação dos direitos sociais na constituição de 1988. No Brasil, como em outros países, especialmente nos denominados emergentes, teve como consequência a falta de progresso econômico e a 14 precarização e diminuição do valor da renda do trabalho, com consequente ampliação e aprofundamento da pobreza, que se alarga, inclusive, para os setores médios da sociedade. Nesse mesma circunstância, a questão social3, enquanto produto da luta política, colocou na agenda pública novos conteúdos rapidamente, sobretudo pelo que passou a se considerar novas formas de exclusão social e econômica, cujo eixo centralizador é representado pelas profundas transformações que vêm ocorrendo no mundo do trabalho. Enquanto produto, principalmente, esses dois fenômenos constitutivos das transformações que vêm acontecendo nas relações de trabalho que são o desemprego estrutural associado à precarização e as mudanças no perfil do trabalhador impostas pelo mercado capitalista globalizado e competitivo. Segundo Silva, Yazbek e Giovanni (2011, p. 27), Consequentemente, tem-se, um processo que viabilizar o que se pensava em um trabalho estável e seguro, representado pela carteira assinada e pela proteção de risco contingências social assegurada pelo Estado de Bem- Estar Social dos países de economia desenvolvida, e pelos precários Sistemas de Proteção Social, engendrados nos países em desenvolvimento. Tem-se o incremento das chamadas ocupações terceirizadas, autônomas, temporárias, instáveis e de baixa remuneração e o avanço já superdimensionado mercado informal de trabalho, que caracterizava as sociedades de capitalismo periférico, desempenhando papel funcional à reprodução e ao desenvolvimento da economia capitalista desses países. A situação acima marcou por um período no qual o Estado Brasileiro passou a orientar sua atuação pelos parâmetros do projeto neoliberal, cujo objetivo principal é inserir o país na competitividade da economia mundial globalizada, embora se saiba que o que vem ocorrendo é uma inserção seletiva e dependência. Assim, a chamada reforma do Estado brasileiro passou a fazer profundas mudanças no perfil e no seu formato como principal função a de Estado ajustador da economia nacional internacional. Alves (2009) atenta para a questão que, no Brasil, o Estado de Bem Estar Social não chegou a se constituir, nem de forma ampla nem restrita. O país viveu por muitos anos uma ditadura e formas de governos ditatoriais, que retiravam os direitos dos cidadãos, em contrapartida os movimentos sociais se organizaram mais 3 É um conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez, mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por parte da sociedade. (IAMAMOTO, 2007, p. 27). 15 e consolidaram as reivindicações de melhoria de vida na CF de 88. Tais direitos foram desmontados pelos ideais neoliberais implantados no Brasil na década de 1990. Nos dizeres Silva, Yazbek e Giovanni (2011), no decorrer dos anos 1990, verificou-se a inclusão do Brasil na economia mundial, na qual se vem esforçando para construir um padrão de qualidade que o permita concorrer no interior da economia globalizada; sendo assim, o Estado Brasileiro passou da mais prioridade absoluta às áreas e setores econômicos dinâmicos. O processo foi-se desenvolvendo e marcado por profunda sujeição aos interesses dos sujeitos globais, com isso dando pouca atenção direcionada à integração da economia interna, acima de todas as áreas e setores da economia considerados não competitivos. Teve-se, por consequente, um Estado dominado à lógica do mercado, e se tornado cada vez mais difícil o processo da luta social por conquistas sociais que possam elevar o padrão de vida da Sociedade Brasileira. Segundo Silva, Yazbek e Giovanni (2011, p. 29): Assim, vêm descartadas, conquistas sociais, decorrente de lutas sociais das décadas de 1970 e 1980 considerando os direitos sociais e trabalhistas conquistado com obstáculos ao ajuste da economia às exigências da economia internacional. Os programas de transferência de renda surgiram como uma estratégia para diminuir as desigualdades, como uma forma de garantir a cidadania, e poder de escolha e autonomia dos cidadãos. O objetivo foi a “construção de uma sociedade mais justa”. Após a crise do Welfare State, iniciou-se o debate sobre os programas de transferência de renda que se vem ampliando, sobretudo, a partir da década de 1980, mesmo já tendo sido desenvolvido programas desta natureza na Europa, a partir dos anos 1930. (SILVA, 2008). Tais programas nasceram como uma forma de “proteção social” das pessoas em situação de pobreza. As ações eram pensadas de forma que o mercado e o Capital não perdessem sua autonomia, e as classes subalternas não se revoltassem. Contudo, é importante destacar que os programas de transferência de renda também auxiliam no “lucro” do mercado já que os beneficiários também são consumidores. 16 Castel (2001) considera que osprogramas de transferência de renda são fundamentais para implantação de um sistema de proteção voltado para o bem-estar de toda a sociedade, não ficando restritos à questão da necessidade e que pode transformar-se em um sistema de proteção social, atuando sobre as relações socioeconômicas. Tem-se uma pobreza regulada ou controlada, para permitir o funcionamento da ordem com o controle social assumido por essas Políticas sociais. É importante considerar que a análise não pode invalidar o significado que esses programas têm para a população beneficiária de renda mínima e suas condições de subsistência. É função do Estado garantir o bem-estar da sociedade e para isso utiliza como instrumentos as Políticas Públicas, que são também os meios que permitem o alcance dos objetivos coletivos. Inseridos nesse assunto, estão os Programas de Garantia de Renda Mínima (PGRM), sendo, imprescindível considerá-los como direito e como Política Pública. (SILVA, 1999). A implementação do Neoliberalismo no Brasil fez com que muitos direitos assegurados na Constituição de 1988 retrocedessem e a população brasileira sofresse com as consequências de suas desigualdades. Como forma de enfrentar a pobreza e as desigualdades trazidas pelo Neoliberalismo, nasceram no Brasil algumas formas de transferência de renda. Os programas de transferência de renda no Brasil seguiam uma linha focalista, com o intuito principal de diminuir a profunda pobreza que se alastrava pelo país. Surgiram, então, os primeiros programas de renda mínima apresentados pelo Senado Federal em 1991, pelo Senador Suplicy, base para o Programa Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada prevista na Lei Orgânicas da Assistência Social – LOAS, Lei nº 8.742/93, sendo este último o foco deste trabalho. 2.1 O benefício de prestação continuada: caracterização O Benefício de Prestação Continuada e os demais programas de transferência de renda são expedientes que constituem respostas para a garantia da segurança e de sobrevivência das pessoas portadoras de deficiência e aos idosos, portanto é de grande importância na vida dos seus beneficiários. 17 O benefício de prestação continuada BPC é assegurado pela Constituição de 1988 ao idoso e ao deficiente, o qual se consolidou em 1996 como um novo programa de transferência de renda de abrangência nacional. O BPC representa como uma transferência de renda monetária mensal “[...] no valor de um salário mínimo. É um benefício pago a pessoas idosas a partir de 65 anos de idade e as pessoas portadoras de deficiências, consideradas incapacitadas para vida independente e para o trabalho.” (SILVA; YASBEK; GIOVANNI, 2011, p. 113). Para ter acesso ao BPC o usuário tem de seguir os critérios: Possuam renda familiar mensal per capita inferior a ¼ do salário mínimo, não estejam vinculados a nenhum regime de Previdência Social e não recebam benefícios de espécie alguma, ou seja, encontrem –se impossibilitados de promover sua manutenção ou tê-lo provida por sua família. (SILVA; YAZBEK; GIOVANNI, 2011, p. 112). O BPC é coordenado no âmbito nacional pela Secretária Nacional de Assistência Social do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome- MDS, sendo que sua implementação é feita por agências locais do Instituto Nacional de Seguro Social – INSS. O Benefício é reavaliado a cada dois anos, mediante a cooperação das Secretarias Estaduais e Municipais de Assistência Social, e cessa no momento em que ocorrer a recuperação da capacidade laborativa, no caso de pessoa portadora de deficiência, com alteração das condições socioeconômicas de ambos ou no caso de morte do beneficiário, não tendo os dependentes o direito de requerer pensão por morte. (SILVA; YAZBEK; GIOVANNI, 2011, p. 112). Para ter acesso ao benefício o usuário deverá entrar com o requerimento numa agência do INSS, apresentando algumas documentações tais como declaração de composição de renda familiar, comprovação de idade no caso de idoso, e a submissão a perícia médica no caso das pessoas portadoras de deficiência. (SILVA; YAZBEK; GIOVANNI, 2011). O BPC faz parte da proteção Social básica no âmbito do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, dentro da Política Nacional de Assistência Social- PNAS. Volta-se para o enfrentamento da pobreza e a garantia de proteção social, juntamente às demais políticas setoriais. (SILVA; YAZBEK; GIOVANNI, 2011). 18 Para a pessoa idosa as ações são direcionadas a assegurar os direitos sociais, através de Programas de Atenção à pessoa Idosa na perspectiva de promover a sua integração, inclusão e participação social. Dessa forma, o padrão de proteção social do idoso no Brasil vem sendo estruturado através de políticas publicas de corte social como a Política Nacional do Idoso (PNI), que tem como objetivo assegurar os direitos sociais do idoso proporcionando condições de promoção da participação, autonomia e integração. Na implementação da PNI (Política Nacional do Idoso) e competência dos órgãos e entidades públicas desenvolver ações, programas, projetos para o atendimento das necessidades básicas do idoso mediante a participação da sociedade, família e de instituições governamentais. Quanto aos deficientes é assegurada a inserção na rede de atendimentos intersetorializados nas mais diversas Políticas Públicas, assegurando-lhes melhor qualidade de vida. Para efeito da concessão do benefício é considerado ao indivíduo e não à família; a renda deve ser exclusiva e não complementar, os beneficiários estão possibilitados a viverem exclusivamente dessa renda; esse benefício é mantido enquanto o beneficiário estiver na condição em que lhe deram origem. 2.2 O Benefício de Prestação Continuada e a Lei nº 8. 742/1993 - Lei orgânica de Assistência Social (LOAS) O BPC tem suas bases legais estabelecidas na lei n° 8.742/1993 da Lei Orgânica da Assistência Social de acordo com o art. 20 da lei orgânica de assistência O Benefício de Prestação Continuada é a garantia de 1 (um) salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 65 anos ou mais e que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família. A primeira gestação da LOAS teve aborto provocado. Mas, o processo social era extremamente fecundante e se fortaleceu na luta. Em seu veto Collor afirma que a proposição não estava vinculada a uma assistência social responsável. É realmente paradoxal. (SPOSATI, 2004, p.49). 19 As lutas sociais efervesceram no Brasil na década de 1991 e 1992, principalmente com os movimentos de retirada de Collor da presidência, e segundo Sposat (2004, p. 50), “[...] as lutas sociais entre democracia e direitos sociais se mesclam.” E o nascimento da LOAS era mais próximo. A Lei Orgânica da Assistência Social foi votada em 7 de dezembro de 1993, depois de inúmeras discussões, no período do governo do presidente Itamar Franco; ela foi publicada no Diário Oficial da União de 8 de dezembro de 1993, dando início assim à luta pertinente por implementação. (BRASIL, 1993). A colocação da Assistência Social entre os direitos sociais de cidadania – "há uma assistência que é devida e o dever do estado em prestá-la", implica na reversão da abordagem antes vigente na área, em que serviços e auxílios assistenciais eram oferecidos de forma paternalista, como dádivas ou benesses de forma descontínua e sem maiores preocupações com a qualidade, na medida da disponibilidade de recursos e dos interesses políticos dos governantes, ou de exercer o controle social sobre os grupos pobres e marginalizados, ou de obter legitimação e,principalmente apoio político-eleitoral. (BARBOSA,1991, p. 5). No pensamento de Barbosa (1991), a referida lei é composta de seis capítulos e trata dentre outras coisas, das definições e objetivos da assistência social, estabelecendo-se os princípios fundamentais da assistência que é a universalização, a dignidade e a autonomia. E das diretrizes que dão ênfase ao papel Estado na direção da política de Assistência Social em cada esfera de governo. Dispõe ainda sobre os benefícios, programas, serviços e projetos de Assistência Social. Trata também do Financiamento da Assistência Social, e das disposições gerais e passageiras, referentes ao reordenamento dos órgãos de assistência social em escala federal para a criação da lei 1993. A LOAS deixa claro que a Assistência Social é direito do cidadão e dever do Estado e que se trata de uma política de seguridade social não contributiva, que deve prover os mínimos sociais através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. (CAMPELLO; NERI, 2013, p. 15). Das definições e dos objetivos da LOAS no seu capítulo I art. 2º, alguns diretos assegurados aos idosos e aos deficientes são apresentados. In Verbis: IV- a habitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária. V- a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à pessoa 20 portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou tê-la provida pro sua família. Parágrafo único. A assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. § 2º Para efeito de concessão deste benefício, a pessoa portadora de deficiência é aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho. § 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo. (BRASIL, 1993). A LOAS introduziu novos paradigmas que se fundamentam nos conceitos de cidadania, mínimos sociais, universalização dos direitos sociais. Segundo Sposat (1995), propor mínimos sociais é garantir sobrevivência biológica, condições de qualidade de vida, desenvolvimento e suprimentos das necessidades humanas, básica da população idosa e pessoas com deficiência que não possuem condições de suprir suas necessidades humanas de sobrevivência e nem suas famílias por estarem na condição de pobreza e de extrema pobreza. 21 3 A PROTEÇÃO SOCIAL ESTABELECIDA PELO BPC À PESSOA IDOSA E À PESSOA COM DEFICIÊNCIA NA PNAS E NO SUAS Após diversos seminários, fóruns municipais, estaduais e nacionais articulados com a sociedade civil, em busca das demandas da sociedade na área da Assistência Social, em setembro de 2004, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS) junto com a Secretária Nacional de Assistência Social (SNAS) tornou pública a versão final da PNAS, base para a implementação do SUAS (Sistema Único de Assistência Social) aprovado em julho de 2005 pelo Conselho Nacional de Assistência Social, por meio da NOB n.130, de 15 de julho de 2005. Assim, com a consolidação dessa nova Política, firmou-se a Assistência Social, tornando-se mais forte, e uma ferramenta de combate aos resquícios de assistencialismo existentes na política. A Política Nacional de Assistência Social de 2004, aprovada pela Resolução de número 145, de 15 de outubro de 2004, do Conselho Nacional de Assistência Social- CNAS deliberada na IV Conferência Nacional de Assistência Social realizada em Brasília em dezembro 2003. Reafirma-se a necessidade de articulação com outras políticas, indicando o gesto que as Ações públicas devem ser múltiplas e integradas no enfrentamento das expressões da questão social, a PNAS apresenta como objetivos: -Promover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e ou especial para a famílias, indivíduos e grupos que dela necessitam; -Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais, em áreas urbano e rural; -Assegurar que as ações no âmbito da Assistência Social tenham centralidade na família, e garantam a convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 2005, p.27) A Política de Assistência Social respeita os princípios e as diretrizes estabelecidas pela LOAS, enunciados na Constituição Federal de 1988, que confere o status de Políticas Públicas inserida no sistema de proteção social brasileira, no campo de seguridade social brasileira. Dentre as diretrizes da LOAS está a designação e a coordenação de normas gerais, como a esfera federal, estadual e municipal melhorando assim a coordenação e a execução dos devidos programas sociais. 22 A PNAS/2004 veio consolidar a Assistência Social como direto de cidadania e gestão estatal, de forma compartilhada no âmbito dos três níveis de governo no intuito de detalhar as atribuições e competência de cada pacto federativo na provisão de ações sociassistenciais em articulação com a LOAS. A PNAS/2004 direciona assistência Social como Proteção social não contributiva, situando ações direcionadas a proteger os usuários dessas Políticas contra riscos sociais inerentes aos ciclos de vida e para o atendimento de necessidades individuais ou sociais. De acordo com o disposto na LOAS, capítulo II, seção I, artigo 4º, a Política Nacional de Assistência Social rege-se pelos seguintes princípios democráticos. In Verbis: I – Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II – Universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III – Respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV – Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V – Divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão. (BRASIL, 1993). A organização da Assistência Social tem as seguintes diretrizes, baseadas na Constituição Federal de 1988 e na LOAS: I - Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social, garantindo o comando único das ações em cada esfera de governo, respeitando-se as diferenças e as características sócio-territoriais locais; II – Participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; III – Primazia da responsabilidade do Estado na condução da Política de Assistência Social em cada esfera de governo; IV – Centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos. (BRASIL, 1993). A descentralização passou a ser um elemento democrático efetivando a transferência para o âmbito da esfera municipale dos processos políticos decisórios. Observa-se que, além da forte presença do caráter assistencialista, há uma política 23 voltada para os programas sociais, mas para outros campos que visam o desenvolvimento econômico e social dos indivíduos que precisam da Assistência Social. A PNAS tem a finalidade de introduzir o SUAS que é uma peça fundamental na efetivação das políticas públicas. O SUAS foi implantado pois, a seguir a criação da PNAS constituindo-se: [...] na regulação e organização em todo o território nacional das ações socioassistenciais. Os serviços, programas, projetos e benefícios têm como foco prioritário a atenção às famílias, seus membros e indivíduos e o território como base de organização, que passam a ser definidos pelas funções que desempenham, pelo número de pessoas que deles necessitam e pela sua complexidade. Pressupõe, ainda, gestão compartilhada, co- financiamento da política pelas três esferas de governo e definição clara das competências técnico-políticas da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com a participação e mobilização da sociedade civil, e estes têm o papel efetivo na sua implantação e implementação. O SUAS materializa o conteúdo da LOAS, cumprindo no tempo histórico dessa política as exigências para a realização dos objetivos e resultados esperados que devem consagrar direitos de cidadania e inclusão social (BRASIL, 2005, p. 39). A política nacional de Assistência Social representa a construção coletiva da reforma da política com a finalidade de implantar o SUAS, requisito essencial da LOAS para que se efetive a Assistência Social, enquanto Política Pública. Simões (2009) pontua que o SUAS tem como princípios: a territorialização, a descentralização e a intersetorialidade. O princípio de descentralização passa a ser um elemento democrático efetivando a transferência para o âmbito da esfera municipal e dos processos políticos decisórios. “A descentralização elege o munícipio como esfera primordial, com o reconhecimento de seu poder de autonomia, considerando-se as particularidades dos territórios, seus interesses e necessidades.” (SIMÕES, 2009, p. 308). A criação do SUAS veio com um modelo de gestão pública descentralizado e participativo, tendo como base o território e a família: Sendo a família uma instituição central do sistema, sua matricialidade é garantida à medida que, na assistência social, com base em indicadores das necessidades familiares, se desenvolva uma política de cunho universalista; a qual, para além da transferência de renda, em patamares aceitáveis, se desenvolva, prioritariamente, em redes de proteção social, que suportem as tarefas cotidianas e valorizem a convivência familiar e comunitária. (SIMÕES, 2009, p.307) 24 Simões (2009) apresenta a REDE/SUAS, que compõem as redes de proteção social, com vistas a agilizar o envio e troca de dados da transferência automática e regular de recursos. O SUAS apresenta também as competências de cada ente federativo que são: À União compete responder pela concessão dos BPCs, dando apoio técnico e financeiro para os serviços e programas de enfrentamento da pobreza, em âmbito nacional, bem como atender, juntamente com os Estados, o Distrito Federal e municípios, às ações assistenciais de emergência. Aos Estados, destinar recursos financeiros aos municípios, a título de participação, para pagamento de benefícios, mediante critérios estabelecidos pelos conselhos estaduais de assistência social; e, igualmente, apoiar, técnica e financeiramente, os serviços e programas de enfrentamento a pobreza, em âmbito regional e local; bem como atender, juntamente com os municípios, às ações assistenciais de emergência. Aos munícipios e Distrito Federal, destinar recursos financeiros para o custeio do pagamento de benefícios e serviços, mediante critérios estabelecidos pelos conselhos municipais de assistência social; e executar projetos de enfrentamento da pobreza, incluindo parcerias com entidades e organizações da sociedade civil; atender às ações assistenciais de caráter emergencial e prestar serviços assistenciais. (SIMÕES, 2009, p. 307). A PNAS e o SUAS ampliam os usuários da política: [...] cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e riscos, tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e/ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social. (BRASIL, 2005, p. 27). Segundo Simões (2009), o SUAS é o sistema que estabelece a Política de Assistência Social brasileira, tendo por atribuições assistenciais: a vigilância social, a defesa dos direitos socioassistenciais e a proteção social. A vigilância compõe-se no processo da capacidade de diagnóstico e de gestão, assumida pelo órgão gestor, para tomar noção da presença de formas de vulnerabilidade social da população em um determinado território. Para esse fim desenvolve as seguintes ações: 25 -promoção de informações sistematizadas, indicadores e índices familiares; -identificação de pessoas com redução de capacidade pessoal (deficiência ou abandono) -identificação de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, vítimas de exploração, violência, maus-tratos e ameaças; assim como de quaisquer pessoas vítimas de apartação social (fragilização, por perda de autonomia e integridade pessoal; - controle dos padrões de serviços assistenciais - detecção e informação sobre as situações de precarização e vulnerabilização social; -implantação do Sistema Público de Dados das organizações de Assistência Social – Cadastro Nacional de Entidades. (SIMÕES, 2009, p.303). Quanto à defesa dos direitos socioassistenciais, Simões (2009, p. 304) afirma que se efetiva pela própria instituição do SUAS: Resultou do pacto federativo entre gestores públicos federais, estaduais e municipais e as organizações da sociedade civil, promovendo a descentralização da gestão quanto ao monitoramento e ao financiamento dos serviços assistenciais. A proteção social é dividida em Proteção Social Básica e Proteção Social Especial (subdividida em média complexidade e alta complexidade). A proteção social básica prioriza como objetivo a prevenção dos indivíduos que se encontram em situação de risco referentes ao desenvolvimento das potencialidades, nas aquisições e no fortalecimento de vínculos familiares. Ela busca a população que se encontra em situações vulneráveis diante da sociedade, provenientes da pobreza e da ausência de direitos nos serviços públicos, entre outros, ou da fragilidade de vínculos afetivos referentes a relacionamentos, e pertinentes a classe social em diferentes gêneros e grau social. “Com suas ações voltadas basicamente, para o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, visando integrar as ações socioassistenciais, com as áreas da saúde e da educação.” (SIMÕES, 2009, p. 304- 305). Simões (2009, p. 312) atenta para o fato que “[...] a proteção básica incide sobre as famílias, seus membros e indivíduos, cujas direitos não foram violados, embora em situação de vulnerabilidade social.” Portanto, a Proteção Social Básica tem caráter essencialmente preventivo, desenvolvendo atividades prioritariamente voltadas para as famíliasbeneficiárias do Programa Bolsa-Família, idosos e pessoas com deficiência, beneficiária do BPC. A proteção social básica é promovida pelo CRAS (Centro de Referência da Assistência Social). Este objetiva retirar da situação de risco os usuários através 26 das potencialidades adquiridas pelo fortalecimento de vínculos familiares e sociais. Pois ele é voltado para a população que está inserida em áreas de vulnerabilidade social causadas pela pobreza, da dificuldade de acesso aos bens e serviços públicos, da fragilidade dos vínculos afetivos e com dificuldades para se relacionar socialmente. (BRASIL, 2005). Ressalte-se que a Proteção Social Básica (PSB) exercida pelo CRAS envolve diversas ações que lhe competem, a exemplo do BPC, Bolsa Família, capacitação e geração de renda, capacitação profissional, acolhimento, visitas domiciliares, oficinas temáticas e em especial o programa de apoio e integração a Família (PAIF), dentre outros. (COUTO; RAICHELIS; SILVA, 2010). Além de ser o responsável pelo desenvolvimento do Programa de Atenção Integral às Famílias, sob diversidade de culturas, o CRAS promove o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. A equipe do CRAS presta informação e orientação para a população de sua área de abrangência, com a rede de proteção social local que se refere aos direitos de cidadania; mantém ativo um serviço de vigilância da exclusão social na produção, e divulgação de indicadores da área de abrangência do CRAS, em conexão a outros territórios. Para tanto, o CRAS deve desenvolver suas ações embasadas em dois eixos: a matricialidade sociofamiliar e a territorialização, onde o primeiro consiste: ‘A matricialidade sociofamiliar se refere à centralidade da família como núcleo social fundamental para a efetividade de todas as ações e serviços da política de assistência social’. (BRASIL, 2009a, p. 12). Sendo o CRAS um espaço público descentralizado que atende a uma determinada população, possibilita o acesso aos serviços e direitos sociais de forma mais acessíveis. Sua principal função é trabalhar diretamente com os membros das famílias e demais moradores do território. Sua finalidade é assegurar as condições fundamentais mínimas para que esses sujeitos sociais desenvolvam capacidades, superando a situação de vulnerabilidade social, a médio e a longo prazo. Tem por pressuposto que a situação de exclusão social seja a condição objetiva que aumente a probabilidade de ocorrência de violação dos direitos sociais. (SIMÕES, 2009, p.315). Segundo Simões (2009, p. 316), o CRAS desenvolve as seguintes ações principais: 27 -fortalecimento dos vínculos intrafamiliares; -fortalecimentos da convivência comunitária e de desenvolvimento do sentido de pertencimento às redes micro territoriais; -informação, orientação e encaminhamento, com os respectivos acompanhamentos -inserção nos serviços, programas, projetos e benefícios da rede de proteção social básica e especial da assistência e das demais políticas públicas e sociais. Quanto à Proteção Social especial, segundo Simões (2009, p. 316), “[...] é uma modalidade de atendimento assistencial, destinada a famílias e indivíduos que se encontrem em situação de risco pessoal e social.” Requer, acompanhamento monitorado individual e maior flexibilidade nas soluções protetivas, de apoio e processos, que assegurem sua qualidade e efetividade, na reinserção almejada. Constitui-se em serviços estritamente vinculados ao sistema de garantias dos direitos; exigindo, muitas vezes, uma gestão mais complexa e compartilhada com o Poder Judiciário, o Ministério Público e órgãos do Poder Executivo. (SIMÕES, 2009, p. 317). A proteção Social Especial como já discorrido, pode ser dividida em proteção especial de média complexidade e proteção social especial de alta complexidade. Os atendimentos destinados à média complexidade são prestados nos CREAS de acordo com o PAEFI (Serviço de Atenção Especializado as Famílias e Indivíduos), sendo o CREAS uma unidade pública estatal de referência que tem por objetivos fortalecer as redes sociais de apoio à família, contribuindo no combate ao preconceito. Assegura proteção social às pessoas em algumas situações de violência, visando sua integridade física, mental e social, com vistas a fortalecer os vínculos familiares e a capacidade protetiva da família. (BRASIL, 2005). Tem como finalidade desenvolver trabalho para o público-alvo de crianças e adolescentes vítimas de abuso, exploração sexual, e mulheres vítimas de violência doméstica (física, psicológica, sexual), adolescentes e crianças em situação de mendicância, sob medidas de proteção ou medida pertinente aos pais ou responsáveis, crianças e adolescentes em cumprimento da medida de proteção em abrigo ou família acolhedora. Portanto, o CREAS oferece acompanhamento técnico especializado, psicossocial e jurídico, com a rede de serviços socioassistenciais e as demais políticas públicas (Saúde, Educação, Esporte e Cultura) e com o sistema de garantia de direitos (Ministério Público, Judiciário e Executivo, Conselho Tutelar, Vara da Infância e juventude Conselho do idoso). 28 Nessa perspectiva, o CREAS articula os serviços de média complexidade e opera a referência e a contrarreferência com a rede de serviços socioassistenciais da proteção social básica e especial, com as demais políticas públicas e demais instituições que compõem o Sistema de Garantia de Direitos e movimentos sociais. O CREAS atua dando à família o acesso a direitos socioassistenciais, buscando a construção de um espaço de acolhida, fortalecendo vínculos familiares e comunitários. Os serviços proporcionados nos CREAS devem ser desenvolvidos de modo articulado com a rede de serviços da assistência social, órgãos de defesa de direitos e das demais políticas públicas. O CREAS poderá ofertar os serviços de proteção e atendimento especializado a indivíduos e famílias; de proteção social a adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida (LA) e de prestação de serviços à comunidade (PSC); e o Serviço Especializado em abordagem social, cujas prestações demandam procedimentos técnicos de caráter Inter profissional, em situações de: Negligência, abandono, ameaças, maus tratos, violência física, psicológica, sexual, abuso e/ou exploração sexual; afastamento do convívio familiar; tráfico de pessoas; situação de rua e mendicância; vivência de trabalho infantil; discriminação em decorrência de orientação sexual e/ou raça/etnia; e outras formas de violação decorrentes de discriminação/submissões a situações que provocam danos e agravos a condição de vida de indivíduos e famílias e os impedem de usufruir autonomia e bem estar. (BRASIL, 2005, p.16). Tais serviços, segundo Simões (2009, p. 319), podem ser: -serviços de orientação e apoio sócio familiar -plantão social; -abordagem de rua; -cuidados no domicílio; -habilitação e reabilitação, na comunidade, de pessoas com deficiência; De acordo com a cartilha do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (BRASIL, 2011) de orientações do CREAS, o número de CREAS a ser implantado no município deve considerar a projeção da demanda a ser atendida. Além disto, o porte do município também constitui uma referência importante para dimensionar o número de CREAS a ser implantado em cada localidade. 29 Os serviços de proteção social especial de alta complexidade, conforme Simões (2009, p. 320), “[...] são os que garantem a proteção integral para famílias, seus membros ou indivíduos que se encontram sem referência ou em situação de ameaça, necessitando ser retirados deuma vida familiar.” Basicamente, os serviços são prestados nos centros de referência, são: -atendimento integral institucional; -casa-lar; -República; -casa de passagem; -albergue; -atendimento domiciliar; -família substituta; -família acolhedora; -medida sócio educativas restritas e privativas de liberdades; -trabalho protetivo. (SIMÕES, 2009, p. 320) A principal diferença entre a proteção especial de média complexidade para a de alta complexidade, segundo Simões (2009), é que a primeira atende a famílias ou indivíduos que, mesmo com o direito violados, ainda têm vínculos familiares; já no segundo caso, o vínculo familiar foi desfeito e o indivíduo precisa sair da vida familiar. A rede de serviços socioassistenciais surgiram, então, para garantir a melhor efetividade do que a PNAS e SUAS propõem, a divisão em Proteção Básica e Especial. Isto fez com que os CREAS e CRAS se articulassem e formulassem serviços para atender a seus usuários, de acordo com suas particularidades e necessidades enquadrando-se nos níveis de proteção. A seguir aprofundaremos como que se dá a rede de serviços socioassistenciais frente às demandas e necessidades dos idosos e dos deficientes. 3.1 Reordenamento da rede de serviços socioassistenciais para a pessoa Idosa e pessoa com deficiência Ao considerarmos que, como todo cidadão, a pessoa com deficiência e o idoso têm direitos à participação ampla na vida familiar e social, consideramos que os serviços necessários à sua inclusão social englobam várias Políticas Públicas tais como Saúde, Educação, acesso à Cultura e ao lazer, assim como ao ingresso ao mercado de trabalho, fazendo-os ser inseridos na vida produtiva, social e política. 30 É importante ressaltar, aqui, que não é função exclusiva da Política de Assistência Social garantir esses serviços múltiplos. Cabe às demais Políticas Públicas em todos os seus âmbitos estabelecer uma rede de serviços que proporcionem um atendimento integral, fazendo assim acontecer a intersetorialidade das políticas, melhorando a qualidade de vida de seus usuários. Essa visão de totalidade da Proteção social só se consolidou no Brasil a partir da Constituição de 1988. Até então as Políticas Públicas, principalmente as de cunho social, eram ofertadas com um viés assistencialista/paternalista e não visava a retirada do seus usuários das condições vulneráveis no qual se encontravam. No que tange ao deficiente e ao idoso, as Políticas a eles ofertadas, além de serem de cunho assistencialista, muitas vezes tinham um viés de caridade religiosa, tratando-os como seres que mereciam pena e não como sujeitos de direitos, que mereciam adentrar o convívio social. A Constituição de 1988 foi um divisor de águas no que tange a direitos de toda a população, principalmente às minorias sociais, que foram vistas em suas totalidades de direitos e necessidades. Após a Constituição de 1988, um reordenamento da rede de serviços socioassistenciais aconteceu no Brasil. Era preciso repensar as Políticas e os serviços delas ofertados aos seus usuários, afim de melhor atender as reais necessidades dos mesmos, partindo do novo conceito de proteção social. No que toca à Assistência Social, enquanto partícipe do tripé da Seguridade Social, ela deve ofertar proteção integral. “Assim, a melhor proteção é aquela que assegura aos cidadãos a sua inclusão nas oportunidades de integração oferecidas pelas políticas públicas, pelo mercado de trabalho e pelas diversas expressões de convívio familiar, comunitário e societário.” (BRASIL, 1997, p. 24). A Assistência Social tem que funcionar propiciando elementos protetivos, impedindo a: [...] discriminação, exclusão ou deterioração das condições de vida, já precárias, impostas pelos déficits e estigmas vivenciados por este grupo. Além de criar bloqueios protetivos deve articular-se no esforço global das políticas públicas objetivando elevar o patamar de qualidade de vida e dos índices de inclusão social econômica, cultural e política. (BRASIL, 2011, p.35). 31 É importante apresentar aqui que mudar a rede socioassistencial por si só não adiantaria: era preciso estudar e reorganizar a rede socioassistencial de forma coerente as demandas de seus usuários, rompendo com o viés assistencialista e ofertando serviços que trabalhassem a totalidade de seus usuários. “Assim, os serviços assistenciais devem ser flexíveis e adequados à realidade local, assim como, ao modelo organizacional de gestão pública adotado pelos governos municipais.” (BRASIL, 1997, p. 29). Ao examinar a rede de serviços assistenciais à luz das modernas concepções da Assistência Social, não se trata de propor a substituição irresponsável das ofertas existentes. Trata-se, sim, de introduzir de forma gradual um projeto coerente que permita o reordenamento e a inovação das ações tradicionais e inclusão de novas ações de proteção. (BRASIL, 1997, p.28). A PNAS 2004, assim como a LOAS e o SUAS, veio reorganizar a Assistência Social no Brasil. A PNAS norteia toda a implementação da política assim como seus serviços ofertados, ela apresenta algumas seguranças a serem garantidas aos seus usuários. Elas são: Segurança de acolhida: provida por meio da oferta pública de espaços e serviços adequados para a realização de ações de recepção, escuta profissional qualificada, referência, concessão de benefícios, aquisições materiais, sociais e educativas. Segurança Social de renda: é complementar à política de emprego e renda e se efetiva mediante a concessão de bolsas- auxílios financeiros sob determinadas condicionalidades, com presença ou não de contrato de compromissos, e por meio da concessão de benefícios continuados para cidadãos não incluídos no sistema contributivo de proteção social, que apresentem vulnerabilidades decorrentes do ciclo de vida e/ou incapacidade para a vida independente e para o trabalho. Segurança de convívio: se realiza por meio da oferta pública de serviços continuados e de trabalho socioeducativo que garantam a construção, restauração e fortalecimento de laços de pertencimento e vínculos sociais de natureza geracional, intergeracional, familiar, de vizinhança, societárias. Segurança de desenvolvimento da autonomia: exige ações profissionais que visem o desenvolvimento de capacidade e habilidades para que indivíduos e grupos possam ter condições de exercitar escolhas, conquistar maiores possibilidades de independência pessoal, possam superar vicissitudes e contingências que impedem seu protagonismo social e político. Segurança de benefícios materiais ou em pecúnia: garantia de acesso à provisão estatal, em caráter provisório, de benefícios eventuais para indivíduos e famílias em situação de riscos e vulnerabilidade circunstancias, de emergência ou calamidade pública. (CAPACITA SUAS, 2008, p. 46-47). A partir dessas seguranças acima supracitadas, a rede socioassistencial organiza e efetiva seus serviços na rede de acordo com a proteção Básica e 32 Especial, anteriormente apresentada neste trabalho. Os Serviços de Proteção Social Básica têm como base o PAIF, Serviço de Proteção e Atenção Integral à Família que consiste basicamente em: Trabalho social com famílias, de caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias, prevenir a ruptura dos seus vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua qualidade de vida. Prevê o desenvolvimento de potencialidades e aquisições das famílias e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, por meio de ações de caráter preventivo, protetivo e proativo. Estratégia privilegiada para oferta de serviços a beneficiáriosde transferência de renda. (BRASIL, 2009b, p. 6). No âmbito da Proteção Básica, um dos principais programas é o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos que trabalha desde crianças de 06 anos até idosos, consistindo em: Serviço realizado em grupos, organizado a partir de percursos, de modo a garantir aquisições progressivas aos seus usuários, de acordo com o seu ciclo de vida, a fim de complementar o trabalho social com famílias e prevenir a ocorrência de situações de risco social. Forma de intervenção social planejada que cria situações desafiadoras, estimula e orienta os usuários na construção e reconstrução de suas histórias e vivências individuais e coletivas, na família e no território. (BRASIL, 2009b, p. 11). Os serviços destinados às crianças e aos adolescentes são divididos em crianças até seis anos, crianças e adolescentes de seis a quinze anos, adolescentes de 15 a 17 anos, e o serviço para idosos. As crianças ou adolescentes com deficiência são integradas aos serviços de acordo com a faixa etária assim como as demais, tentando assim propor a inclusão social. Quanto ao idoso, é destinado um serviço próprio a este público, que consiste em: [...] o desenvolvimento de atividades que contribuam no processo de envelhecimento saudável, no desenvolvimento da autonomia e de sociabilidades, no fortalecimento dos vínculos familiares e do convívio comunitário e na prevenção de situações de risco social. A intervenção social deve estar pautada nas características, interesses e demandas dessa faixa etária e considerar que a vivência em grupo, as experimentações artísticas, culturais, esportivas e de lazer e a valorização das experiências vividas constituem formas privilegiadas de expressão, interação e proteção social. Devem incluir vivências que valorizam suas experiências e que estimulem e potencialize a condição de escolher e decidir. (BRASIL, 2009b, p. 12). 33 O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos que contemplam os idosos e os deficientes. Tem em sua gênese a espera de: - Prevenção da ocorrência de situações de vulnerabilidade social; - Redução da ocorrência de riscos sociais, seu agravamento ou reincidência; - Aumento de acessos a serviços socioassistenciais e setoriais; - Ampliação do acesso aos direitos socioassistenciais; - Melhoria da qualidade de vida dos usuários e suas famílias. (BRASIL, 2009b, p.19). No âmbito da Proteção Social Básica existe também o Serviço de Suporte Domiciliar que é Oferta de atenção por meio de cuidadores formais, de modo sistemático e planejado, no domicílio do usuário, a fim de apoiar as famílias nos cuidados cotidianos com o usuário, estimular o convívio familiar e comunitário e ampliar as possibilidades de acesso a serviços e direitos, promovendo a melhoria da qualidade de vida dos usuários, no seu próprio local de moradia. O cuidador formal presta seus serviços em períodos em que o cuidador familiar precisa ausentar-se: em situações emergenciais, para inserção em atividades de geração de renda, educacionais e outras. (BRASIL, 2009b, p. 20). Os usuários desse serviço são “[...] as pessoas que necessitam de cuidados, devido à dependência/limitação permanente ou temporária: pessoas idosas e pessoas com deficiência [...].” (BRASIL, 2009b, p. 22) Assim os usuários do BPC estão normalmente contemplados neste serviço. No que tange à Proteção Social Especial de Média Complexidade, tem-se pois o Serviço de Proteção Social Especial a Indivíduos e Famílias, que consiste em: Serviço ofertado de forma continuada no Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) com a finalidade de assegurar atendimento especializado para apoio, orientação e acompanhamento a famílias com um ou mais de seus membros em situação de ameaça ou violação de direitos. Compreende atenções e orientações direcionadas para a promoção de direitos, a preservação e o fortalecimento de vínculos familiares, comunitários e sociais, fortalecendo a função protetiva das famílias diante de um conjunto de condições que as vulnerabilizam. (BRASIL, 2009b, p. 25). Um importante Serviço dirigido principalmente a pessoas com deficiência e aos idosos é o Serviço de apoio ao processo de habilitação e reabilitação que consiste em: 34 O serviço de apoio ao processo de reabilitação e habilitação têm por finalidade a garantia de direitos, o desenvolvimento de mecanismos para a inclusão social, a equiparação de oportunidades e a participação das pessoas com deficiência e pessoas idosas, a partir de suas necessidades individuais e sociais. (BRASIL, 2009b, p. 40). O público desse serviço são “[...] pessoas com deficiência e/ou pessoas idosas que vivenciam situações de vulnerabilidade, risco e violações de direitos ou pela ausência de acesso a possiblidades de inserção, habilitação e reabilitação.” (BRASIL, 2009b, p. 40). Na esfera da Proteção Especial de alta complexidade, o Serviço de Acolhimento é de suma importância. No geral ele consiste em: “Acolhimento destinado a famílias e/ou indivíduos com vínculos familiares rompidos ou fragilizados, a fim de garantir proteção integral.” (BRASIL, 2009b, p. 43). Para as crianças e adolescentes, que contemplam as deficientes, este serviço oferta: Acolhimento provisório e excepcional para crianças e adolescentes de ambos os sexos, inclusive crianças e adolescentes com deficiência, sob medida de proteção e em situação de risco pessoal e social, cujas famílias ou responsáveis encontrem-se temporariamente impossibilitados de cumprir sua função de cuidado e proteção. (BRASIL, 2009b, p. 43-44). Quanto ao Idoso, o Serviço oferta: Acolhimento para pessoas idosas com 60 anos ou mais, de ambos os sexos, independentes e/ou com diversos graus de dependência. a) Grau de Dependência I - idosos independentes, mesmo que requeiram uso de equipamentos de auto-ajuda. b) Grau de Dependência II - idosos com dependência em até três atividades de auto-cuidado para a vida diária tais como: alimentação, mobilidade, higiene; sem comprometimento cognitivo ou com alteração cognitiva controlada. c) Grau de Dependência III - idosos com dependência que requeiram assistência em todas as atividades de autocuidado para a vida diária e ou com comprometimento cognitivo. (BRASIL, 1997, p. 67). Tem-se, pois, até aqui, que os serviços socioassistenciais são compostos de vários serviços. Estes buscam fomentar a proteção social principalmente à população que se encontra em vulnerabilidade social. O reordenamento dos serviços socioassistenciais foi, sem dúvidas, um grande avanço na eficiência de 35 seus serviços, trabalhando a totalidade de seus usuários e suas necessidades de acordo com cada realidade. 3.2 Serviços de proteção e inclusão social à pessoa com deficiência Aqui já foi discorrido que os serviços socioasssitenciais devem adequar- se às realidades locais, buscando incorporar também a gestão de cada município, neste subcapítulo apresentaremos algumas atividades básicas de atenção e inclusão social destinado à pessoa com deficiência. Para que um programa de atenção à pessoa com deficiência, no âmbito da assistência social, funcione, ele deverá constituir-se em: Espaço de circulação de informações e base de articulação da malha de atendimentos prestados pelos serviços públicos locais e àqueles que, pela sua complexidade, se encontram fora do munícipio. Âncora de proteção que abriga sempre a pessoa portadora de deficiência, sua família e sua comunidade. (BRASIL, 1997, p. 29) Algumas ações de base compõem os principais serviços de proteção e inclusão social à pessoa com deficiência. Tais açõessão: Apoio, informação, orientação, e encaminhamento Requerimento de benefício de prestação continuada Desenvolvimento de programas de proteção especial às pessoas com deficiência: casas lares, abrigos, atendimentos personalizado e reabilitação baseada na comunidade Formação continuada dos prestadores de serviço. (BRASIL, 1997, p.30). O apoio, informação, orientação e encaminhamento consiste em criar condições ao deficiente ter uma vida satisfatória, com plena independência, introduzindo a comunidade neste processo. É na maioria das vezes o primeiro contato com os usuários da política sendo de suma importância. Assim, “[...] a escuta, a informação ampla e aconselhamento são de fundamental importância para inserir estas famílias e as pessoas com deficiências no circuito de proteção e inclusão.” (BRASIL, 1997, p. 31). É nesse primeiro momento que ocorre encaminhamento aos diversos serviços de atenção à pessoa com deficiência acontece, incluindo habitação e reabilitação dentro e fora dos munícipios, sendo imprescindíveis para seus usuários. 36 Em geral, as famílias de pessoas com deficiência são marcadas pela pobreza e a exclusão social; logo, fazer um bom atendimento é garantir-lhes que a Justiça social aconteça. Quanto ao requerimento do benefício de prestação continuada, a Políticas de base nos municípios têm papel fundamental na sua viabilização. São os profissionais da rede que apresentam e assessoram os documentos necessários para a obtenção do benefício. Desenvolvimento de programas de proteção especial às pessoas com deficiência: casas lares, abrigos, atendimentos personalizado e reabilitação baseada na comunidade. Consistem em: Casas Lares: são efetivas residências constituídas para abrigar pessoas portadoras de deficiência, individualmente ou em pequenos grupos, em condição de vida diária similar à da esfera familiar. Destinam-se àqueles que se encontram em situação de abandono ou que necessitem de permanência temporária, quando em processo de habitação/reabilitação fora do município. Os abrigos devem ser entendidos como medida de proteção, provisória e excepcional, utilizável se, e apenas se, a pessoa com deficiência, estiver em situação de abandono ou de risco pessoal ou social. Atendimento personalizado: uma série de atividades de apoio à família e comunidade na proteção cotidiana da pessoa com deficiência. [...] tem o pressuposto de atenção personalizada e singularizada, nos espaços familiar e comunitário. A reabilitação baseada na comunidade: é uma estratégia de organização social, onde a comunidade detecta necessidade e soluções próprias para atenção à pessoa com deficiente. (BRASIL, 1997, p. 37-38). No que se refere à formação continuada dos prestadores de serviços, é sem dúvidas a condição necessária para garantir a manutenção e a qualidade do atendimento. É preciso que os atendimentos, que promovam a inclusão social dos deficientes atendidos, assim como da sua família, os serviços de proteção e inclusão social para os deficientes, em suma, consistem em incluir o deficiente nas Políticas Públicas como um todo, sem deixar de observar-se e levar-se em consideração suas particularidades, fazendo um atendimento de forma integral. Incluir nessas esferas sociais remete a um processo constante de conhecimento e de reciprocidade; portanto, incluir não é tornar o outro igual, não é dominá-lo, ou submeter a uma forma de aprender o que não está a seu alcance, mas respeitar sua diferença e libertá-lo de peso com que comumente vive por ser diferente numa sociedade que estabelece padrões únicos, comuns, de convivência social. 37 O paradigma da inclusão baseia-se no modelo social da deficiência, tendo como pressuposto que a sociedade deve oferecer condições, modificando-se para favorecer a inclusão de pessoas com necessidades especiais. É valido refletir a respeito do processo de inclusão e, consequentemente, faz-se necessária uma análise dos questionamentos, que implicam no desenvolvimento do indivíduo na sociedade. Portanto, não podemos destacar a inclusão social sem uma leitura crítica do processo de Globalização e sua inserção no âmbito social. A inclusão da pessoa com deficiência traduz a aceitação e a valorização da diversidade humana, o protagonismo social, bem como os caminhos para organização de uma nova cultura que, portanto, pertence a todos. Então, esses fatores impulsionaram ações legais que fizeram com que estratégias para efetivação da inclusão social de pessoas com deficiência acontecessem, assim como as demais Políticas sociais, que nasceram de muita luta. 38 4 AVANÇOS LIMITES E POSSIBILIDADES PARA A CONCESSÃO DO BPC COMO UM DIRETO AO IDOSO E PESSOA COM DEFICIÊNCIA O Benefício de Prestação Continuada, como já discorrido, é estabelecido na LOAS e se efetiva pela gestão do SUAS, onde o benefício demonstra um grande impacto positivo no âmbito social e econômico por retirar 2,5 milhões de pessoas da indigência e assim ganhar espaço e efetividade na busca da superação da pobreza. Que o BPC é um grande avanço, no que tange aos direitos dos idosos e das pessoas com deficiência, não se pode contestar, contudo muitos são os limites para a concessão deste benefício, que fazem com que o usuário acabe experienciando situações que, ao invés de amenizar-lhe o sofrimento, avulta sua condição de vulnerável socialmente. Apresentaremos, aqui, alguns desses limites. Albernaz e Pereira (2009) afirmam que há fragilidade no requisito de miserabilidade social previsto na LOAS para a obtenção do BPC, onde o salário mínimo é dividido pelo número de pessoas da família. Essa divisão não pode ultrapassar o valor de ¼ do salário mínimo. Este pré-requisito é contraditório na medida que fere a primazia do benefício ser para promover a própria manutenção do beneficiário. Sobre a problemática acima apresentada, Simões (2009, p. 330) afirma que O critério legal de incapacidade de a família prover a própria manutenção não é realista, restrita a, apenas, 25% do salário mínimo, valor incompatível com a realidade social, pois o valor fixado pela União contradiz o disposto no art. 76 da CLT, que exige expressamente, como seu requisito, com relação aos trabalhadores, ser esse valor capaz de satisfazer, em determinada época e região do país, as suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte. A afirmação de Simões (2009) nos mostra que o valor per capita, para solicitar o benefício, está inferior à realidade substanciada na Constituição Federal para garantir a sobrevivência dos sujeitos, constituindo-se um requisito falho no que tange comprovar carência ou falta de condições de sobrevivência. Albernaz e Pereira (2009, p. 5) atentam, porém, para a importância do laudo socioeconômico do Assistente Social, que “[...] se comprovar carência, mesmo referida renda seja superior ao limite, o direito ao benefício deve ser reconhecido porque prevalece o art. 20 da LOAS.” 39 Conforme Art. 20, O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. (BRASIL, 1993). O que acontece em muitos casos, infelizmente, é que, por conta da burocracia, este item não é aplicado. Sposati (2004) sobre este assunto afirma que para ser incluído o requerente precisa mostrar a miserabilidade da família. Além de sua precariedade econômico-social. Necessita
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