Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Faculdade de Odontologia – UFBA Matéria: Biologia Molecular e Celular – BIO 158 Mariana Barreto Martinez (2016.1) Material Utilizado: ‘’Alberts’’ Endomembranas e distribuição de proteínas Organelas Envoltas por Membrana As células eucarióticas possuem vários compartimentos intracelulares, enquanto a célula procariótica possui apenas o citoplasma. A vantagem da célula eucariótica é que as enzimas podem atuar internamente em cada compartimento, sem afetar umas as outras. Quando uma célula animal ou vegetal é examinada numa lâmina, observa-se a presença de sacos ou bolsas delimitados por membrana, ou tubos, ou estruturas de formato irregular que vão exercer funções específicas na célula. As células eucarióticas possuem um conjunto básico de organelas envoltas por membrana: As principais organelas envoltas por membrana numa célula eucariótica vão ser descritas a seguir, e estão circundadas por citosol. Primeiramente, o núcleo. O núcleo é a organela que vai abrigar o material genético. É envolta por duas camadas de membrana, conhecida como envelope nuclear, se comunicando com o citosol através dos poros nucleares. Em seguida, próximo ao núcleo, está o reticulo endoplasmático (RE) que vai circundar o núcleo, formando sacos e tubos interconectados, e geralmente se espalha pelo citosol da célula. O RE Rugoso contém ribossomos aderidos à superfície citosólica, que vão produzir proteínas, que podem ser jogadas no lúmen do RER ou simples ficarem na membrana do RE. Já o RE Liso, não possui ribossomos aderidos. Ele simplesmente é responsável pela produção de lipídios (inclusive hormônios esteroides nas células adrenais) e também desentoxificação de algumas substâncias (como o álcool em células hepáticas). O RE Liso também sequestra Ca2+ do citosol para utilizar em resposta a sinais extracelulares. O aparelho de Golgi é a organela que vai receber tudo aquilo que foi produzido no reticulo endoplasmático para ser modificado, de acordo com cada necessidade, e por fim, encaminhado para seu destino final. Existem também pequenos sacos denominados lisossomos que vão conter uma série de enzimas digestivas que vão degradar moléculas e partículas endocitadas pela célula. Antes de atingir o lisossomo, precisa passar por endossomos que vão distribuir as moléculas endocitadas para um determinado lisossomo, ou colocá-la de volta para fora da célula. Os peroxissomos são pequenas vesículas que contêm a enzimas responsáveis pela desintoxicação celular. As mitocôndrias e cloroplastos são estruturas que são envoltas por uma bicamada membranar, e são responsável pela fosforilação e fotossíntese, respectivamente. A maioria dessas organelas está mantida em um local fixo ligadas a estruturas do citoesqueleto, especialmente ao microtúbulo. As organelas envoltas por membrana evoluíram a partir de maneiras diferentes: Acredita-se que os precursores das primeiras células eucarióticas tenham sido organismos simples semelhantes às bactérias (sem membranas internas). Portanto, para uma célula pequena como uma bactéria, a membrana plasmática única seria necessária para ceder todo o aparato energético. Porém, uma célula eucariótica possui volume de mil a dez mil vezes maiores, sendo, portanto, necessária a presença dessas membranas internas. A origem das membranas do núcleo ou de organelas como RE ou Golgi parece ser de invaginações da membrana plasmática. Essas membranas fazem parte do que será abordado mais a frente, chamado Sistema de Endomembranas. Obs.: A origem endossimbiótica das mitocôndrias e cloroplastos. Eles possuem seu próprio genoma e suas proteínas. A semelhança com genomas bacterianos sugere que essas organelas foram bactérias que, no passado, foram englobadas por uma célula especifica. Essas organelas permanecem isoladas do tráfego de vesículas dentro da célula. Distribuição de Proteínas Uma célula eucariótica para se reproduzir e se dividir em duas, ela precisa duplicar as organelas intra-membranares. A célula, portanto, precisa de informações das próprias organelas existentes, justificando que para o surgimento de uma organela, necessita de outra já preexistente. À medida que a célula cresce, ocorre o enlargamento das organelas celulares pela incorporação de novas moléculas. As organelas então se dividem, e seguem para cada célula-filha formada. Para isso, as novas células formadas vão necessitar de lipídeos para formação da membrana, e proteínas, que servirão tanto para a membrana quanto para o suprimento das organelas internas da nova célula. Mesmo quando a célula não esta em divisão, as proteínas são produzidas continuamente, e cada uma deve ser endereçada para o local certo: ou para secreção celular, ou para substituir proteínas já degradadas. O direcionamento correto dessas proteínas para as organelas é importantíssimo para o crescimento e divisão celular. Para as mitocôndrias e cloroplastos as proteínas são entregues a partir do próprio citosol, mas para outras organelas, essas proteínas produzidas pelo RE podem ficar retidas lá mesmo ou seguirem através de vesículas para o Golgi, para serem então modificadas, empacotadas e endereçadas. As proteínas são importadas pelas organelas de três formas diferentes: A síntese de proteínas se inicia nos ribossomos do citosol. As exceções são apenas algumas proteínas produzidas por ribossomos que estão na matriz intracelular de mitocôndrias e cloroplastos. Mesmo assim, a maior parte das proteínas dessas organelas é produzida no citosol e importadas por elas. As proteínas, portanto, são endereçadas para diferentes organelas ou secretadas devido a sinais de distribuição. Se a proteína está no citosol e não possui esse sinal de distribuição, ela ficará sempre no citosol, sendo residentes no citosol. Já aquelas que possuem o sinal, se movem no citosol para a organela apropriada. Mas como a proteína vai atravessar a membrana que geralmente é impermeável para moléculas hidrofílicas? Existem três formas diferentes: 1. As proteínas que vão em direção ao núcleo passam através dos poros nucleares que servem como canais seletivos para passagem de macromoléculas, mas permitem a passagem de micromoléculas; 2. O segundo tipo de transporte é através de translocadores proteicos. Ocorre no RE, mitocôndrias e cloroplastos. As moléculas devem desdobrar-se de forma a ‘’serpentear’’ pela membrana; 3. O terceiro tipo de transporte é mediado por vesículas e ocorre após a saída do RE. Essas proteínas brotam em vesículas que descarregam suas cargas proteicas em outro compartimento ou na membrana plasmática se fusionando. As sequências sinal direcionam as proteínas para os compartimentos corretos: A sequência sinal é uma sequência de aminoácidos (entre 15 e 60 aa) que determinaram para onde a proteína deve seguir. Geralmente, mas não sempre, essa sequência-sinal é removida após a proteína ser endereçada. As sequências-sinais, ainda que possuam o mesmo destino, podem ser diferentes. As proteínas entram no núcleo através dos poros nucleares: O envelope nuclear é composto de duas membranas concêntricas, sendo que a membrana interna vai servir de sítio de ligação para os cromossomos e também fornecer sustentação para a lâmina nuclear, que dá suporte para o envelope. A membrana externa tem a composição semelhante à membrana do RE. Em todo o envelope, existem poros que, como citado, servem de portões seletivos para macromoléculas e permitem a passagem de micromoléculas que podem tanto entrar como sair do núcleo. Proteínas recém-sintetizadas no citosol entram no núcleo; moléculas de RNA e subunidades ribossomais são exportadas do núcleo para o citosol.Obs.: Moléculas de RNA que foram processadas incompletas não saem do poro nuclear, isso serve, então, como uma forma de controle para qualidade do processamento de RNA. Cada poro nuclear contém canais cheios de água, que vão permitir livremente a passagem de moléculas hidrofílicas. Acredita-se eu muitas proteínas do canal formem uma trança desordenada que preenche o centro do canal e que não vai permitir a passagem de macromoléculas, só de algumas micromoléculas. As macromoléculas que devem passar no poro nuclear devem carregar uma determinada sequência sinal, chamada de sinal de localização nuclear. Existem proteínas citoplasmáticas que são receptores de transporte nuclear que vão receber essas proteínas com sinal de localização nuclear e vão levar até os poros nucleares através de interações com as fibrilas citosólicas que se localizam na borda dos poros. Após ser utilizado, o receptor retorna para ao citosol para ser reutilizado. A energia fornecida para esse processo é fornecida pela hidrólise de GTP. O que diferencia esse transporte de proteínas e ribossomos para o poro nuclear dos transportes para outras organelas é que nesse as proteínas podem ser transportadas na sua conformação natural, enoveladas e os ribossomos podem ser transportados como partículas montadas. As proteínas se desnovelam para entrar nas mitocôndrias e cloroplastos: As proteínas que tem sinal do citosol para seguir para as mitocôndrias ou cloroplastos são translocadas através da membrana externa e interna em locais específicos onde há contato entre elas. As proteínas então se desnovelam e a sequência-sinal é removida no final da translocação. Existem proteínas chamadas chaperomas que estão localizadas dentro das organelas e vão ajudar a ‘’puxar’’ as proteínas através dessas membranas e depois restituir a forma inicial, quando elas já tiverem internalizadas. Além de proteínas, lipídeos também precisam ser importados para manutenção das mitocôndrias e cloroplastos. Os fosfolipídios são transportados do RE Liso para as respectivas organelas através de proteínas hidrossolúveis, e são retiradas um por um de uma das membranas celulares para outras. As proteínas entram no RE enquanto são sintetizadas: As proteínas que estavam no citosol vão seguir para o RE para depois irem para seus destinos ou ficarem ali mesmo. Essas proteínas vão ser colocadas em vesículas para seguirem seu caminho: seja ir para outra organela ou para o meio extracelular. Existem dois tipos de proteínas que saem do RE para o citosol: as proteínas hidrossolúveis e as transmembranas. As proteínas hidrossolúveis vão ser completamente translocadas pela membrana do RE para serem secretadas ou seguirem para uma organela e as transmembranas que vão ser parcialmente translocadas permanecendo residente na membrana do RE, na membrana de outras organelas ou na membrana plasmática. As proteínas que entram no retículo não estão ainda completamente sintetizadas. Isso exige que ribossomos fiquem aderidos à membrana do RE e caracteriza, então, o RE Rugoso. Há, portanto, proteínas no citosol livres ou aderidas à membrana citosólica do RE. Os ribossomos livres vão sintetizar todas as proteínas ligadas ao DNA nuclear. Já os ribossomos aderidos à membrana do RE vão sintetizar proteínas que estão translocadas na membrana do RE. À medida que os ribossomos são produzidos, eles ficarão aderidos uns aos outros formando um complexo chamado polirribossomo. As proteínas solúveis são liberadas no lúmen do RE: O ribossomo é guiado para o RE devido a duas estruturas importantes: a partícula de reconhecimento de sinal (SRP) e o receptor de SRP que está presente na membrana do RE para reconhecer o SRP. A ligação de um SRP a uma sequência-sinal indica atraso na síntese de proteína. Quando a SRP se liga ao receptor de membrana, ela é liberada e a síntese proteica começa com a cadeia polirribossômica sendo liberada no lúmen do RE. Portanto, o receptor de SRP funciona como sítio de posicionamento para ribossomos que estão sintetizando proteínas no citosol. Além disso, a sequência-sinal também tem função de abrir os canais de translocação. Nesse momento, a sequência-sinal é clivada por uma peptidase de sinal, e esse peptídeo é rapidamente degradado no citosol. Quando a porção C-terminal passa pela membrana, a proteína é liberada para o lúmen. Sinais de inicio e parada vão determinar arranjo das proteínas transmembrana: As proteínas transmembrana possuem uma parte que fica translocada na membrana e outra que fica fixa. Para proteínas transmembrana que possui um único segmento, a sequência-sinal N-terminal inicia o processo de translocação ao passo que uma sequência denominada sequência de parada de transferência interrompe o processo. Por fim, proteína fica com a face N-terminal voltada para o lúmen do RE e a face C- terminal para o citosol da célula. Em algumas proteínas transmembranas existe uma sequência que inicia a transferência da proteína, chamada sequência iniciadora de transferência. Transporte Vesicular Inicialmente, o transporte que vem do RE segue para o complexo de Golgi. Esse transporte é mediado por vesículas, que se fundem com a membrana da organela seguinte. As substâncias que estão no RE se fundem em direção ao citosol formando vesículas de transporte, e as moléculas que vêm de fora, se fundem na membrana plasmática em direção ao citosol, compondo o lisossomo. À medida que essas moléculas seguem pelas estruturas celulares, elas sofrem modificação para estabilizar a estrutura proteica. As vesículas de transporte carregam proteínas solúveis e membranas entre compartimentos: A via secretória principal inicia-se com a síntese de proteínas na membrana do RE, que segue para o lúmen do RE e em seguida para o Golgi, sendo secretada para o seu destino. A rota lateral conduz através de endossomos até os lisossomos. Já a via endocítica principal é o transporte por endossomos de moléculas até os lisossomos. As vesículas devem transportar especificamente as proteínas para os locais onde elas são endereçadas, não se fusionando com outras estruturas que não são o destino do conteúdo vesicular. Para isso ocorrer, devem existir proteínas de reconhecimento vesicular que vão identificar o destino para qual a vesícula deve seguir. O brotamento de vesículas é dirigido pela montagem de uma capa proteica: As vesículas que brotam das organelas possuem, na sua membrana interna, uma capa de revestimento, caracterizando as vesículas revestidas. Essa capa de revestimento possui diferentes composições a depender da vesícula formada. Essa capa tem duas funções principais: ajudar a captar moléculas para o transporte e dá forma a membrana no brotamento. As vesículas mais estudadas são as que possuem revestimento de clatrina. Elas estão presentes na via secretória (Golgi) e na via endocítica (membrana plasmática). No brotamento da membrana plasmática, por exemplo, se inicia com uma fossa revestida de clatrina. As moléculas de clatrina começam a montar uma rede em formato de cesta na superfície citosólica da membrana e começa a dar forma à futura vesícula. Uma proteína de ligação de GTP chamada Dinamina é responsável pela constricção do anel, terminando a formação da vesícula. A função de capturar moléculas pertence à Adaptina, que é como uma segunda capa de revestimento que seguram a capa de clatrina à membrana e ajuda a selecionar moléculas que serão carregadas para o transporte. Para serem transportadas na célula, as moléculas carregam sinais de transporte específicos, que são reconhecidos por receptores de carga. A adaptina consegue, portanto, aprisionar moléculas a partir dos receptores de cargaligados a ela. Outra classe de vesículas revestidas, chamadas de vesículas COP revestidas que esta envolvida no transporte entre o RE e o Golgi. Ancoramento de vesículas depende do aprisionamento de SNAREs: Após sair da organela em direção ao seu destino, as vesículas seguem por estruturas do citoesqueleto. Após identificar a organela de destino, a vesícula precisa se ancorar para então se fusionar com a membrana-alvo e liberar o conteúdo intravesicular. A especificidade do transporte vesicular sugere que cada vesícula possua, na sua superfície, marcadores de identificação da origem e do conteúdo interno, para direcioná-la corretamente. Essas vesículas devem ser identificadas por receptores localizados na membrana-alvo. Esse processo de identificação depende de proteínas denominadas proteínas Rab. Essas proteínas Rab da superfície da vesícula são reconhecidas pelas proteínas de aprisionamento na superfície citosólica da membrana- alvo. Cada vesícula carrega uma combinação única de proteínas Rab. Esse sistema assegura que as vesículas se fusionem apenas com as membranas corretas. Além disso, existe um reconhecimento adicional feito por proteínas transmembrana chamadas SNARE. Uma vez que a proteína de aprisionamento tenha capturado a vesícula devido à presença de proteínas Rab, o complexo SNARE começa a agir, interagindo a V-SNARE (presente na vesícula) e a T-SNARE (presente na membrana da célula–alvo), com o propósito de ancorar a vesícula na membrana. Para se fusionar com a membrana, é necessário que exista uma distância menor ainda entre a vesícula e a membrana, de forma que os lipídeos devem se fusionar. Para isso, a água deve ser removida e para isso, se gasta muita energia, o que favorece o não fusionamento de qualquer vesícula. V e T-SNARE se enrolam uma na outra e ‘’puxam’’ a membrana da vesícula e a membrana-alvo para auxiliar na fusão.
Compartilhar