Buscar

Psicologia e Direito Civil

Prévia do material em texto

14
INTRODUÇÃO
Nada mais natural que a Psicologia faça parte do Direito Civil, pois além deste tratar do ramo privado, ele regula as relações entre as pessoas e os bens, justificando a presença de uma ciência que estude o comportamento do ser humano. Atualmente, com as novas formatações de formação familiar baseadas geralmente na subjetividade, a psicologia manifesta-se com maior frequência no Direito de Família (na formação e dissolução do vínculo familiar (casamento, divórcio e adoção), assim como no Direito das Sucessões (herança)).
Outras áreas de reconhecimento da Psicologia no Direito Civil: Direito Consumerista (ou do Consumidor); Direito das Obrigações; Direito de Empresa; Direito de Vizinhança; Responsabilidade Civil.
LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA: LBI
LEI 13.146/2015 - ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
A legislação delimita novas normas e orientações para a ascensão dos direitos e liberdades daqueles indivíduos com deficiência. Define-os em seu Artigo 2º:  “Art. 2º.  Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.”. 
Como forma de inserção dos deficientes na sociedade, vê-se fundamental o papel da Psicologia na conquista de Direitos e Garantias, como se vê no art. 114 desta Lei, que alterou o art. 1.771 do Código Civil/2002, dando-o a seguinte redação: 
“Art. 1.771.  Antes de se pronunciar acerca dos termos da curatela, o juiz, que deverá ser assistido por equipe multidisciplinar, entrevistará pessoalmente o interditando.” 
Com esta mudança, as pessoas que estão curateladas após interdição, com base nesta Lei, poderão novamente recorrer com pedido de desinterdição ou levantamento da interdição, que corresponde a anular ou flexibilizar as restrições que ocorrem com severidade, após passar pela assistência da equipe multidisciplinar, composta por psicólogos e assistentes sociais. Esta equipe também se pronunciará se cabe ou não a “Tomada de Decisões Apoiadas para a Vida Civil”, evitando ou retardando a interdição, bem como também se pronunciarão sobre os apoiadores (art 116 da lei 13.146, acrescenta o Capítulo III, ao Título IV da Parte Especial do CC/2002)
PERITOS E ASSISTENTES TECNICOS
O Perito é conceituado como auxiliar da justiça e, portanto, deve atender às mesmas exigências de neutralidade e imparcialidade que o próprio Juiz. Sua função é auxiliar o juízo sobre questões técnicas e científicas necessárias para o julgamento da ação. No caso da perícia psicológica, o perito é nomeado para analisar e concluir sobre assuntos em que o conhecimento específico da área psicológica é indispensável. Normalmente a perícia psicológica é requisitada, nas disputas sobre guarda e visitação de crianças e adolescentes que tramitam na Vara de Família, mas também são usadas em suspeita de abuso sexual, negligência, maus-tratos, síndrome da alienação parental, entre outras coisas. Para a produção do Laudo Pericial, o Perito pode e deve utilizar-se de todos os meios e procedimentos técnicos que julgue necessários para a avaliação e diagnóstico da situação. 
O assistente técnico é um profissional da confiança da parte que busca assessorá-la e garantir o direito ao contraditório. Em virtude disso, o assistente não é sujeito a impedimento ou suspeição legal. (Resol CFP nº 008/2010). O assistente técnico em virtude do reconhecimento de sua capacidade técnica, é escolhido principalmente para avaliar o laudo do perito.  O assistente pode auxiliar, por exemplo, na criação de perguntas judiciais (quesitos), orientando o advogado sobre temas que envolvem a relação entre Psicologia e Direito, avaliação do litigante, entre várias outras atividades.
Diferença entre Psicodiagnóstico clínico e Perícia Psicológica.
.
FORMAÇÃO E ROMPIMENTO DE VÍNCULO FAMILIAR
Nos séculos anteriores as famílias eram formadas por causa de interesses políticos e de manutenção de posse, seguindo o modelo patriarcal onde predominavam a dominação masculina e a submissão feminina, e ao longo do tempo foi sendo substituída pela família moderna onde predomina a satisfação dos impulsos afetivos.
As mudanças ocorridas transformaram os papeis familiares que antes eram bem delimitados e nítidos, hodiernamente é função da família como um todo zelar pelos seus integrantes e por isso a intensidade e profundidade dos laços afetivos é tão relevante quanto a dos laços sanguíneos.
A formação de vínculos se dá através de um continuum que tem como aspectos positivos a corresponsabilidade, tolerância, segurança, etc. Mas esse processo pode incluir aspectos negativos que podem gerar mágoa frustração e ressentimentos e podem causar a dissolução dos laços afetivos.
Os vínculos são formados de aspectos conscientes e inconscientes com referências internas e externas, cada família tem uma dinâmica própria. É no interior dos lares dessas famílias onde são forjados os mitos familiares. Esses mitos familiares são valores, tradições, crenças compartilhados pelo grupo que tem função organizativa para o funcionamento, manutenção e relação da família com o meio exterior. O conteúdo do mito é tido como sagrado ou tabu, como um dogma familiar ele não pode ser questionado para que assim se mantenha constante e equilibrado o vínculo familiar.
Pode-se entender como colusão como o processo que acontece desde a escolha do parceiro ate o aprofundamento da relação conjugal. Ambos depositam no outro a esperança da libertação de temores e culpas originados em outros relacionamentos e a cura de suas lesões e frustrações quando essas expectativas não se concretizam surgem conflitos, frustrações e magoas. Geralmente o que une as pessoas é o desejo de construir algo em conjunto e esse o conteúdo desses desejos não forem compartilháveis isso gera a dissolução da união.
Muitas vezes a solução judicial é o único caminho encontrado para resolver os conflitos o casal ignora suas motivações próprias e recorrem a racionalização para lidar com os conflitos que surgem quando marido e mulher buscam a satisfação de necessidades pessoas e sociais que são impossíveis no casamento. Tornando assim os laços familiares sobrecarregados e esses laços geralmente não estam preparados para suportar o peso dessa carga e acabam se dissolvendo.
CASAMENTO E SEPARAÇÃO
O Código Civil estabelece em seus artigos 1.630 a 1.638, que o poder familiar será exercido por pai e mãe aos filhos enquanto menores. Caso haja divergência entre os pais quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para encontrar uma solução.
Este poder compreende a criação e educação dos filhos segundo parâmetros ditados por aquele núcleo familiar, bem como representá-los ou assisti-los, conforme sua idade, nos atos da vida civil. Porém não é um poder ilimitado, sendo preservada a dignidade, a identidade e a vida de crianças e adolescentes em relação ao poder familiar. 
Art. 1638, Código Civil. “Perderá dor ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
I – Castigar imoderadamente o filho;
II – Deixar o filho em abandono;
III – Praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
IV – Incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no art.1637.”. 
Além de perdido, o poder também pode ser extinguido.
Art. 1635, Código Civil. “Extingue-se o poder familiar:
I – Pela morte dos pais ou do filho;
II – Pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único;
III – Pela maioridade;
IV – Pela adoção;
V – Por decisão judicial, na forma do art. 1638.”
CASAMENTO
De acordo com o artigo 1511 do Código Civil “O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.”.
Podem se casar, além das pessoas maiores de 18 anos, o homem e a mulher maiores de 16 anos que possuírem autorização dos responsáveis legais.
Art. 1521, Código Civil. “Nãopodem casar:
I – Os ascendentes com os descentes, seja o parentesco natural ou civil;
II – Os afins em linha reta;
III – O adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV – Os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V – O adotado com o filho do adotante;
VI – As pessoas casadas;
VII – O cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.”
Art. 1523, Código Civil. “Não devem casar:
I – O viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;
II – A viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez ou da dissolução da sociedade conjugal;
III – O divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha de bens do casal;
IV – O tutor ou curador e seus descentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saudadas as respectivas contas.”. 
O casamento é nulo quando contraído pelo enfermo mental sem discernimento para os atos da vida civil, e é anulável de quem não completou a idade mínima pra casar ou tem idade núbil e não tem autorização do representante legal; do incapaz de manifestar, de modo inequívoco, seu consentimento; e se houver erro essencial sobre a pessoa, que torne insuportável a vida em comum, ou desconhecimento de que o cônjuge praticou crime.
UNIÃO ESTÁVEL
A reforma do Código Civil cuidou de regulamentar a prática nas situações em que as relações familiares não se constituem de forma unicamente contratual formal e por um núcleo formado exclusivamente por pai, mãe e filhos.
Os modelos de família multiplicam-se: monoparentais, recasados com filhos de ambos ou de apenas um dos cônjuges, ambos ou apenas um dos cônjuges divorciados, “cada um em sua casa”, etc.
Art. 1723, Código Civil “É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência publica, contínua e duradoura e estabelecida com objetivo de constituição de família.”.
A guarda e o exercício de poder familiar seguem as mesmas normas do casamento formal.
DISSOLUÇÃO E ROMPIMENTO DO VÍNCULO FAMILIAR
Art. 1579, Código Civil: “O divórcio não modificará os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos.”.
Logo, a separação implica em fim da conjugalidade e não da parentalidade, serão sempre pais e mãe.
Nas varas de família, o fim do relacionamento conjugal deve ser entendido não só como um drama judicial, mas também como uma situação que envolve aspectos afetivos e emocionais muito fortemente marcados, ainda que expressamente denunciados pelas partes.
“Não existe divórcio que seja bom para os filhos. Ele pode somente ser ruim ou menos ruim.” Gottieb.
Como contar aos filhos?
É essencial que sejam comunicados sobre a decisão, porque isso se traduz em respeito à dignidade de cada um deles. A comunicação deve ser feita com cuidado e de maneira adequada, para que não seja exposta aos filhos uma carga de culpa frente à situação gerada pelos adultos. É importante que fique claro, para a criança, que a separação ocorre por razões ligadas aos pais, evitando que ela desenvolva algum tipo de sentimento de responsabilidade pela decisão.
Pai e mãe necessitam comunicar seus sentimentos, evitando que aquela noticia seja único responsável ou que aproveite o momento para desqualificar o outro, facilitando o aparecimento da alienação parental. 
A separação pode ser litigiosa ou “não amigável”, que acontece quando não se chega a um acordo na divisão de bens, a guarda dos filhos ou se um dos dois não aceita a separação. E pode ser também uma separação consensual, que acontece quando os dois concordam que não da mais para ficarem juntos. O casal vai para a justiça em perfeito acordo sobre partilha dos bens, visita dos filhos, pensão e que sobrenome manter. 
O juiz e o advogado podem ter de lidar com litigantes representando diversos papéis, consciente ou inconscientemente:
- O cônjuge manipulador – que irá articular os fatos e a própria audiência de modo a atrair para si as atenções que deseja. 
- O cônjuge vitimizado – em termos de relações de gênero, evidencia-se bastante nas questões relativas à violência domestica. 
- O cônjuge dependente economicamente – que muitas vezes poderá ceder em aspectos fundamentos imaginando que isto poderá garantir a manutenção de suas necessidades básicas. 
- O conjuge dependente afetivo – que cede a uma separação consensual imaginando ganhar as atenções do parceiro e a possibilidade de reatar a convivência apenas suportada.
Nas separações e divórcios não consensuais, observa-se uma interminável batalha por direitos que cada um supõe ter ou que luta para manter, buscando na “letra fria da lei” a solução para os conflitos emocionais que emergem na relação. 
O casal que enfrenta esse tipo de separação disputando entre si os direitos sobre os filhos apresentam frequentemente uma ausência de reconhecimento mútuo do lugar de mãe e pai. Ficando prejudicadas as funções de cuidado e educação dos filhos, e o estabelecimento de condições e limites adequados ao crescimento deles. Como consequência, os filhos nem sempre são reconhecidos como crianças, não se estabelecendo a suficiente consideração de suas necessidades e direitos.
FILHOS: DISPUTA DE GUARDA E REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS
O papel do Psicólogo Judiciário nas disputas de guarda dos filhos e programação das visitas quando o casal se separa é, atualmente, reconhecida e até mesmo obrigatória, tanto que sua atuação tem sido institucionalizada na estrutura judiciária mediante a instalação de serviços psicossociais forenses, como serventias de quadros próprios, aparelhadas para as suas atribuições específicas.
Ao disciplinar a guarda de filhos, o Código Civil determina no art. 1583 que a guarda será unilateral ou compartilhada, sendo destacada no artigo subsequente a importância da guarda compartilhada e os deveres parentais, usando-a como norte para as decisões sobre as responsabilidades dos pais em relação aos filhos visando a divisão equilibrada do tempo com o pai e a mãe.
A decisão quanto à guarda e as visitas não vêm do psicólogo, ele apenas fornecerá dados que embasarão a decisão do Juiz. A psicologia contribui ao dizer que existem duas pessoas que personificam duas funções dentro da família, a mãe e o pai, um não substitui o outro, por isso a criança deve ter acesso aos dois e às suas linguagens que são parte simbólica e parte da carga genética dela mesma.
A Constituição Federal afirma no art. 227 que é dever de todos, família, Estado e sociedade, a proteção à criança e ao adolescente, ficando nitidamente demonstrado que, em uma separação, o cuidado do operador do direito deve guiar-se pela proteção de todos os envolvidos na disputa judicial, especialmente crianças e adolescentes.
É necessário analisar a possibilidade de manter irmãos juntos, o ideal é que todos os filhos possam, indiscriminadamente, partilhar da companhia, afeto, cuidados e atenção tanto do pai quanto da mãe. As consequências da carência paterna são tão graves quanto as da materna, o papel de ambos é fundamental.
A guarda unilateral ocorre quando apenas o pai ou a mãe mantém a criança em seu lar, podendo ser deferidas visitas para aquele que não detém a guarda, garantindo a este a supervisão dos interesses dos filhos.
Na guarda compartilhada ocorre uma divisão entre os pais em relação às responsabilidades dos filhos e consequentes mudanças periódicas destes para a casa de cada um dos pais. Tal arranjo, muito criticado, pode dificultar a referência de um lar, de valores, e prejudicar a construção de hábitos estáveis. 
Para facilitar o diálogo entre pai e mãe e criar um contexto favorável ao bem estar dos filhos, é desejável que se utilize a estratégia da conciliação ou da mediação, pois, na guarda compartilhada, os pais participarãoconjuntamente.
E é neste cenário da disputa pela guarda e dever de visitas que pode aparecer a alienação parental.
ALIENAÇÃO PARENTAL
A alienação parental é, em si, um fator desestabilizante, que prejudica o desenvolvimento dos filhos envolvidos, bem como também o alienado e o alienador, impedindo que prossigam com suas vidas e elaborem o luto pela separação.
Porém antes mesmo de se falar em alienação parental é preciso que se conheça não só o conceito do instituto, como também suas consequências jurídicas. Há que se ter cautela quanto à alegação de forma indiscriminada quanto à ocorrência da alienação parental, para que essa não se torne uma bandeira ou argumento de vingança de casais em litígio.
O importante não é apenas o que se faz, mas o modo como a ação é praticada. A alienação parental consiste em programar uma criança para que ela odeie um de seus genitores sem justificativa, por influência do outro genitor com quem a criança mantém um vínculo de dependência afetiva e estabelece um pacto de lealdade inconsciente.
As consequências para a criança, em geral, indicam sintomas como depressão, incapacidade de se adaptar aos ambientes sociais, transtornos de identidade e de imagem, desespero, tendência ao isolamento, comportamento hostil, falta de organização e, em algumas vezes, abuso de drogas, álcool e suicídio. Quando adulta, incluirão sentimentos incontroláveis de culpa, por se achar culpada de uma grande injustiça para com o genitor alienado.
O profissional da psicologia e o operador do direito devem ter claro os aspectos nem sempre manifestos, uma vez que na disputa pela guarda dos filhos podem estar latentes características que levem à alienação parental. Buscar o equilíbrio contribui para minimizar essa possibilidade.
A sentença judicial visa solucionar conflitos e não perpetuá-los. A interdisciplinaridade com a psicologia jurídica auxilia a revelar motivações e comunicações latentes de um indivíduo em determinada ação, como nos conflitos familiares.
As consequências para o alienado podem ser tão prejudiciais que necessitem de tratamentos médicos e psicológicos de custos elevados, que constituem dano material. Em muitas ocasiões, o dano moral mostra-se notório, pelo prejuízo ocasionado no círculo de relacionamento, também cabendo a reparação.
A hipótese de a pessoa que pratica a alienação parental desconhecer que emite esse comportamento e algo a se considerar é a reabilitação do alienante, da mesma maneira que existe a preocupação em se provocar alterações comportamentais em pessoas com outros tipos de disfunções. Sem orientação especializada, persistirá comunicando-se de modo inadequado, com prejuízo para todos os envolvidos.
PATERNIDADE E RECONHECIMENTO DE FILHO
O psicólogo em conjunto com uma equipe multidisciplinar, pode atuar em projetos que estimulem o reconhecimento da paternidade e maternidade responsável. Porém não basta o nome do genitor no registro do filho, é de suma importância à assunção da paternidade responsável para um efetivo desenvolvimento emocional da criança.
Existem casos em que o tempo de ausência do pai, acarretou numa relação dual (mãe – filho), com isso o pai não desfrutou da paternidade. Isto devido a suas próprias atitudes e emoções ou até mesmo por todo processo que envolveu a união com a mãe de seu filho.
Em situações que houver incerteza sobre a veracidade da paternidade, é de grande importância a realização do exame de DNA, para que se comprove a paternidade sem que haja qualquer dúvida.
A paternidade não se resume em prestação de assistência material, o pai tem obrigação de prestar assistência afetiva ao seu filho, uma vez que o mesmo descumpre com essa obrigação e causa um dano a criança, como por exemplo, um dano psíquico, isso pode e deve ser levado ao judiciário, onde será denominada responsabilidade civil, ou seja, a conduta do pai gerou um dano ao filho. Se reconhecido o dano sofrido ao filho, o pai o indenizará por dano moral.
INTERDIÇÃO E SUCESSÕES
Ambas são áreas do direito civil que articulam entre as ciências que cuidam da saúde mental e o direto.
Em sucessões procura-se investigar a capacidade do individuo para testar, que corresponde a sua capacidade ativa correspondente a capacidade de expressar a última manifestação de vontade.
De início faz-se uma busca pela esfera cognitiva, onde, caso necessário, será realizada uma perícia por um psiquiatra e/ou psicólogo que avaliará mente e comportamento. O advogado pode até investigar se o individuo tem história de tratamento psíquico. Através disso, é investigado se o desejo do individuo provém capacidade psíquica normal.
Já em interdição, a perícia psiquiátrica será realizada a fim de constatar a incapacidade do indivíduo em gerenciar sua própria vida, necessitando então de um curador que irá representa-lo nos atos da vida civil.
O psicodiagnóstico produzido pelo psicólogo tem por objetivo levar ao processo elementos técnicos que auxiliem na decisão do juiz.
De acordo com o código civil, o portador de sofrimento psíquico só será considerado incapaz se existir uma patologia que interfira diretamente em seu discernimento ou na sua manifestação de vontade.
Ressalta- se ainda que, a interdição é um processo que pode ser reexaminado, se tiver por objetivo devolver ao individuo sua cidadania e possibilidade de exercitar plenamente seus direitos e deveres.
ADOÇÃO
Código Civil 2002 – Lei 10.406/2002 CAPÍTULO IV 
Da Adoção 
Art. 1.618. Só a pessoa maior de dezoito anos pode adotar. 
Parágrafo único. A adoção por ambos os cônjuges ou companheiros poderá ser formalizada, desde que um deles tenha completado dezoito anos de idade, comprovada a estabilidade da família. 
Art. 1.619. O adotante há de ser pelo menos dezesseis anos mais velho que o adotado. 
Art. 1.620. Enquanto não der contas de sua administração e não saldar o débito, não poderá o tutor ou o curador adotar o pupilo ou o curatelado. 
Art. 1.621. A adoção depende de consentimento dos pais ou dos representantes legais, de quem se deseja adotar, e da concordância deste, se contar mais de doze anos. 
§ 1o O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar. 
§ 2o O consentimento previsto no caput é revogável até a publicação da sentença constitutiva da adoção. 
Art. 1.622. Ninguém pode ser adotado por duas pessoas, salvo se forem marido e mulher, ou se viverem em união estável. 
Parágrafo único. Os divorciados e os judicialmente separados poderão adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas, e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade conjugal. 
Art. 1.623. A adoção obedecerá a processo judicial, observados os requisitos estabelecidos neste Código. 
Parágrafo único. A adoção de maiores de dezoito anos dependerá, igualmente, da assistência efetiva do Poder Público e de sentença constitutiva. 
Art. 1.624. Não há necessidade do consentimento do representante legal do menor, se provado que se trata de infante exposto, ou de menor cujos pais sejam desconhecidos, estejam desaparecidos, ou tenham sido destituídos do poder familiar, sem nomeação de tutor; ou de órfão não reclamado por qualquer parente, por mais de um ano. 
Art. 1.625. Somente será admitida a adoção que constituir efetivo benefício para o adotando. 
Art. 1.626. A adoção atribui a situação de filho ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo com os pais e parentes consanguíneos, salvo quanto aos impedimentos para o casamento. 
Parágrafo único. Se um dos cônjuges ou companheiros adota o filho do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou companheiro do adotante e os respectivos parentes. 
Art. 1.627. A decisão confere ao adotado o sobrenome do adotante, podendo determinar a modificação de seu prenome, se menor, a pedido do adotante ou do adotado. 
Art. 1.628. Os efeitos da adoção começam a partir do trânsito em julgado da sentença, exceto se o adotantevier a falecer no curso do procedimento, caso em que terá força retroativa à data do óbito. As relações de parentesco se estabelecem não só entre o adotante e o adotado, como também entre aquele e os descendentes deste e entre o adotado e todos os parentes do adotante. 
Art. 1.629. A adoção por estrangeiro obedecerá aos casos e condições que forem estabelecidos em lei. 
Desde a promulgação da atual Constituição, em 1988, e a aprovação do Estatuto da Criança e do adolescente, em 1990, a adoção é considerada uma medida protetiva à criança e ao adolescente
Sua finalidade é satisfazer o direito da criança e do adolescente à convivência familiar sadia, direito este previsto no artigo 227 da Constituição.
A adoção acarreta o rompimento de todo o vínculo jurídico entre a criança ou adolescente e sua família biológica. O registro civil de nascimento original é cancelado podendo-se até alterar o prenome da criança ou adolescente.
A adoção tem caráter irrevogável, aquele vínculo jurídico com a família biológica jamais se restabelece e a adoção dá à criança ou adolescente adotado todos os direitos de um filho biológico, inclusive à herança.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90) estabelece as seguintes regras e restrições para a adoção:
- a idade mínima para se adotar é de 21 anos, sendo irrelevante o estado civil;
- o menor a ser adotado deve ter no máximo 18 anos de idade.
- o adotante deve ser pelo menos 16 anos mais velho que a criança ou adolescente a ser adotado;
- antes da sentença de adoção, a lei exige que se cumpra um estágio de convivência entre a criança ou adolescente e os adotantes, por um prazo fixado pelo juiz, o qual pode ser dispensado se a criança tiver menos de um ano de idade ou já estiver na companhia dos adotantes por tempo suficiente.
ADOÇÃO INTERNACIONAL
	A adoção por estrangeiro é considerada pela lei medida excepcional, sendo possível somente quando a criança ou adolescente não for pretendido por pessoa residente no País. Diferenciando do processo nacional quanto ao estágio de convivência. Tendo em território nacional por no mínimo 15 dias quando criança até 2 anos de idade e por no mínimo 30 dias quando o adotado tem idade superior a 2 anos
	O processo de adoção é precedido de um de um procedimento de habilitação perante a Comissão Estadual Judiciária de Adoção - CEJA, observando as regras estabelecidas em seu Regimento Interno e na Convenção de Haia.
GUARDA E TUTELA
	Além da adoção, a lei prevê duas outras formas de acolhimento de uma criança ou adolescente por uma família substituta: a guarda e a tutela. Nestes casos não se acolhe na condição de filhos, mas de pupilo ou tutelado. Os vínculos jurídicos com a família biológica são mantidos. A guarda implica o dever de ter a criança ou adolescente consigo e prestar-lhe assistência material, moral e educacional, o direito de opor-se a terceiros, inclusive os pais. Destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida liminarmente nos processos de adoção ou tutela. Fora destes casos, o juiz pode deferir a guarda excepcionalmente para suprir a falta eventual dos pais.
	A tutela implica necessariamente o dever de guarda, poder de representar o tutelado nos atos da vida civil e o de administrar seus bens. A tutela não coexiste com o pátrio poder, cuja perda (ou ao menos suspensão) deve ser previamente decretada. A medida se aplica à criança ou ao adolescente órfão, cujo referencial com os pais biológicos falecidos não justifica a adoção pela família substituta que o está acolhendo.
UNIÃO HOMOAFETIVAS.
A homossexualidade é um fato social que se perpetua através dos séculos, não mais podendo o Judiciário se olvidar de emprestar a tutela jurisdicional a uniões que, enlaçadas pelo afeto, assumem feição de família. A união pelo amor é que caracteriza a entidade familiar e não apenas a diversidade de sexos. Das relações homo afetivas constitui afronta aos direitos humanos por ser forma de privação do direito à vida, violando os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade.
Em 2006 a Juíza Sueli Juarez Alonso da Vara de Infância e Juventude de Catanduva no Estado de São Paulo no processo n° 234/2006 permitiu a adoção em conjunto de uma menina por um casal de homens. A menina já tinha sido adotada por um dos homens e o parceiro pleiteou junto à justiça a adoção da criança, visto que o casal mantinha um relacionamento estável há 14 anos.
No que tange aos casais homoafetivos, o princípio da igualdade é aplicado, tendo em vista que a liberdade da sexualidade é elemento integrante e próprio do ser humano. Além disso, tal princípio é abrangente para reconhecer fatores que têm servido de base para não equiparações e preconceitos. Nestes termos, um ambiente familiar saudável e equilibrado não se relaciona com a orientação sexual do adotante. Também a vinculação da orientação sexual do adotante para o deferimento da adoção por casais homoafetivos é inconstitucional, ferindo o princípio da igualdade.
Diante do exposto, não há como impedir que os casais homoafetivos adotem conjuntamente uma criança e adolescente. Visto que a jurisprudência brasileira vem demonstrando que os homoafetivos possuem direitos em seu favor, com base nos princípios da dignidade humana e da isonomia. E que deixar de proteger tal direito seria uma flagrante discriminação com base em sua orientação sexual.
	
PAPEL E IMPORTÂNCIA DO PSICÓLOGO NO PROCESSO DE ADOÇÃO
Os desafios do psicólogo é saber que neutralidade absoluta não existe, entender que os seres humanos são capazes de resignificar, é se permitir trazer “incertezas” ao processo. É conhecer os limites do saber, é enxergar com uma visão ampliada, trabalhar seus próprios preconceitos cotidianos, desenvolver uma atuação transdisciplinar, enxergar os modelos e tendências reducionistas, elementares, é usar uma lupa com humanidade. É saber que ele traga certezas para respaldar atitudes jurídicas em um campo com infinitas possibilidades de mudança e aprendizado que envolve é a alma humana, e saber lidar com o estresse, lidar com as exigências e poder “educar” o judiciário se houver chances, é não perder jamais as esperanças e a sensibilidade no trato humano.
O psicólogo, perito da vara da infância, deve emitir um parecer favorável ou desfavorável quanto a habilitação ou processo de adoção daquela pessoa ou casal e para isso se respalda em teorias cientificas psicológicas.
O processo de habilitação e feito em forma de entrevista psicológica, pode variar entre uma ou mais, são verificados estrutura familiar dos requerentes, comportamento, pensamentos, crenças, inseguranças, medos, preconceitos, se as expectativas condizem com a realidade, perfil da criança desejada, os motivos dele, o que pensam da paternidade, maternidade e educação e a motivação verdadeira( inconsciente) que leva o requerente a pleitear a adoção, que deve ser baseada em cima de um desejo legítimo de ter um filho, não outro motivo como de uma simples companhia. Filho não deve ser visto como companhia, pois ele é quem precisa de companhia e cuidados.
As técnicas de avaliação são diversas, ele pode utilizar um teste projetivo de personalidade para análise mais aprofundada dos requerentes, entrevistas, teste do HTTP, realizar reuniões, colher dúvidas sobre os sentimentos que surgem no processo de “gestação emocional”, com a espera do filho adotivo. O psicólogo e de extrema importância, ele vai nortear o juiz e os promotores sobre a realidade emocional dos futuros pais, suas reais intenções com a adoção e o preparo desses em desenvolverem a complicada tarefa de educar. O juiz baseará sua sentença em cima dos laudos da equipe multidisciplinar, na qual o psicólogo está inserido em seu papel fundamental.
As partes devem ter empatia e demonstrar firmeza e humildade em sua postura, lembrar que está avaliando, mas que tem interesse em ajudar no amadurecimento dos envolvidos. Assim ele consegue cooperação e até faz “amigos”.

Continue navegando