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0 UNIDADE 2 FILOSOFIA LÓGICA E ÉTICA 1 Caro estudante, Queremos lhe dar as boas-vindas e cumprimentá-lo pela oportunidade de participar dessa modalidade de ensino-aprendizagem presente no currículo do curso que escolhestes estudar. Você está participando de um momento importante na instituição e no nosso país, pois a Educação a Distância – EAD está se expandindo cada vez mais, por ser uma modalidade que busca atender as novas demandas educacionais decorrentes das mudanças na nova ordem econômica mundial. As características fundamentais da sociedade contemporânea que têm impacto sobre a educação são, pois, maior complexidade das relações sócio-produtivas, uso mais intenso de tecnologia, redimensionamento da compreensão das relações de espaço e tempo, trabalho mais responsabilizado, com maior mobilidade, exigindo um trabalhador multicompetente, multiqualificado, capaz de gerir situações de grupo, de se adaptar a situações novas e sempre pronto a aprender. Em suma, queremos que a partir do conhecimento das novas tecnologias de interação e do estudo independente, você, caro estudante, torne-se um profissional autônomo em termos de aprendizado e capaz de construir e reconstruir conhecimentos, afinal esse é o trabalhador que o mercado atualmente exige. Dessa forma, participe de todas as atividades e aproveite ao máximo esse novo tipo de relação com os seus colegas, tutores e professores, e nos ajude a construir uma FATE e uma sociedade cada vez melhor. Malverique Neckel – Diretor Acadêmico FATE 2 Unidade 2 Ao concluir a unidade dois você será capaz de: Entender a natureza humana. Diferenciar a inteligência humana e animal. Definir o significado de ética e moral. Aumentar a criticidade em relação a atitudes do dia-a-adia. Refletir sobre ações e reações ditas como “normais” entre os seres humanos. A condição humana O que é “natureza humana”? 1. Pressupostos teóricos No dia-a-dia, quando pensamos no que seria a “natureza humana”, nem sempre temos muita clareza sobre esse conceito, até porque não examinamos as idéias que estão por detrás de nossas afirmações mais comuns. Se prestarmos atenção a elas, podemos descobrir os pressupostos teóricos que embasam. Vejamos alguns exemplos. 3 Não adianta tentar mudar o mundo: desde que o ser humano existe, há pobres e ricos. (Parte-se do pressuposto de que a natureza humana é imutável, o que significa uma concepção estática da história). Não somos nada sem a graça de Deus. ( O ser humano nada é sem fé e a intervenção divina). É preciso usar a cabeça e não se deixar arrastar pelas paixões. (Pressupõe-se que o ser humano seja por excelência racional e que as paixões são fraquezas que o desviam de um caminho tido como correto). De que adianta a vida se não houver futebol e carnaval? (Não somos apenas razão, mas, sobretudo, seres movidos pelo desejo: o prazer é fundamental na existência humana.) Não adianta lutar contra o destino. O que tem de ser, será ( Não somo livres, mas predestinados). A ocasião faz o ladrão. ( A natureza humana é má, sempre tende para o mal ). Nesses exemplos, há várias concepções sobre a natureza humana. Nem sempre elas são explicitadas, seja porque as recebemos sem crítica da herança cultural, seja porque a experiência de vida nos levou a pensar assim. Neste capítulo, pretendemos justamente refletir sobre os pressupostos teóricos dessas convicções. Comecemos por distinguir o ser humano dos animais. 2. O mundo natural Os animais vivem em harmonia com a sua própria natureza porque seus instintos são regidos por leis biológicas, o que torna possível prever as reações típicas da cada espécie. Embora todo animal aja da mesma maneira quando se acasala, protege a cria, caça e se defende, é verdade que existem grandes diferenças entre as espécies, conforme o lugar ocupado na escala zoológica: enquanto a abelha constrói a colméia e prepara o mel segundo padrões rígidos das ações instintivas, um animal superior, como o cão, além de agir por instinto, desenvolve outros comportamentos menos previsíveis, mais flexíveis e criativos, porque faz uso da inteligência. Um macaco mobilizado pelo instinto da fome, ao encontrar-se diante de um cacho de banana fora do alcance da mão, resolve a situação problemática, por 4 exemplo, puxando um banquinho ou usando uma vara para alcançar as frutas. Também o cachorro faz uso da inteligência quando aprende a buscar a presa em uma caçada, farejar drogas para policiais no aeroporto etc. Inteligência: em sentido restrito, significa a faculdade humana de entender, pensar, interpretar. Do ponto de vista psicológico bem amplo, refere-se à capacidade de desenvolver problemas diante de situações novas, bem como à facilidade para aprender. Sob esse aspecto, abrange tanto as respostas dos animais como as dos humanos. A inteligência animal, porém, é concreta, porque depende da experiência vivida naquele momento. Quando o macaco utiliza um suporte ou um bambu para alcançar o alimento, esses objetos não se transformam em instrumentos, porque não são aperfeiçoados posteriormente, como acontece no processo cultural humano. Recentemente, pesquisas têm mostrado que alguns tipos de chipanzés conseguem fazer utensílios e são capazes também de criar organizações sociais baseadas em formas mais elaboradas de comunicação. Essas conclusões tendem a atenuar a excessiva rigidez das concepções tradicionais sobre a distinção entre o instinto e a inteligência animal e a humana. Apesar disso, essas habilidades desenvolvidas pelo animal servem apenas para melhorar adaptá-lo ao mundo natural no que diz respeito a sua sobrevivência, mas não o levam a ultrapassá-lo, experiência essa exclusiva da aventura humana. 3. Torna-se humano. Diferentemente dos animais, cujo atos sempre os mesmos para casa indivíduo da espécie e que não mudam ao longo do tempo, nós desenvolvemos comportamentos diversificados e precisamos da educação para nos tornarmos propriamente humanos. Muitos são os exemplos dados por antropólogos e por psicólogos sobre crianças que, ao crescerem longe do contato co seus semelhantes, permanecem como se fossem animais. Na Alemanha, no século XIX, foi encontrado um rapaz que crescera totalmente isolado por razões nunca esclarecidas. Recebeu então o nome de Kaspar Hauser e como ainda não soubesse falar, só se humanizou durante o processo de educação, quando se constatou ser dotado de excepcional inteligência. 5 O caso da norte-americana Helen Keller ( 1889-1968 ) é similar. Nascida cga e surda aos 7 anos a menina ainda vivia como um pequeno bicho. Por essa ocasião A sociedade e o “Animal Político” O HOMEM Quando eu era pequena e meu pai queria reforçar algum comportamento de coragem e enfrentamento de situações difíceis, costumava dizer: "Seja homem, minha filha!" Evidentemente, isso era dito em tom de brincadeira, acentuando a contradição entre o masculino e o feminino. Mas, na verdade, ele queria dizer que o homem (enquanto ser humano em geral) deve ser capaz de enfrentar as dificuldades apesar do medo; ou, ainda, que, embora na sociedade machista o papel da coragem seja reservado aos ho-mens (sexo masculino), eu também deveria ser forte, mesmo sendo mulher. Assim, ao mesmo tempo que meu pai se referia a um atributo louvável do ser humano, criticava as concepções de feminilidade que de certa forma desculpam e reforçam a "fraqueza"da mulher. Se observarem com atenção, irão constatar que várias vezes por dia colocamos questões como essas que, no fundo, no fundo, partem da pergunta fundamental: o que é o homem? Embora não seja formulada de maneira tão explícita, essa questão se encontra sub- jacente na conversa diária. Vejamos alguns exemplos: • "Aquele lá? Não é gente, mais parece um bicho!" (Isso supõe que eu saiba qual é a diferença entre homem e animal.) • "Essas coisas acontecem desde que o homem é 6 homem!" (A natureza humana é imutável.) • "O que seria de mim sem a graça de Deus?" (O ser do homem é explicado pelo divino, e o homem não é nada sem a fé.) • "Eu uso a cabeça e não me deixo arrastar pelas paixões." (O homem é um ser racional, e as paixões são fraquezas.) • "De que adianta o trabalho se não houver futebol e carnaval?" (O homem é um ser de desejo, e o prazer é fundamental no mundo humano.) • "Não adianta lutar contra o destino. O que tem de ser, será." (O homem não é livre, mas predestinado.) • "A ocasião faz o ladrão." (A natureza humana é má.) A lista poderia não ter fim, pois há diversas situações de vida que exigem reflexão e retomada de valores. Por exemplo, a perda de emprego, o rompimento de laços de amizade ou de amor, o enfrentamento de risco de vida ou a morte de um conhecido, a co-memoração de uma data especial (18 anos de vida, ou 40 anos...). Em todos esses momentos é feito um balanço do já vivido que leva à reafirmação de alguns valores, ou, dependendo do caso, a uma mudança radical na forma de pensar e agir. Natureza e cultura Os animais vivem em harmonia com sua própria natureza. Isso significa que todo animal age de acordo com as características da sua espécie quando, por exemplo, se acasala, protege a cria, caça e se defende. Os instintos animais são regidos por leis biológicas, de modo que podemos prever as reações típicas de cada espécie. A etologia se ocupa do estudo comparado do comportamento dos animais, indicando a regularidade desse comportamento. É evidente que existem grandes diferenças entre os animais conforme seu lugar na escala zoológica: enquanto um inseto como a abelha constrói a colméia e prepara o mel segundo padrões rígidos típicos das ações instintivas, um mamífero, que é um animal superior, age também por instinto mas desenvolve outros comportamentos mais flexíveis, e portanto menos previsíveis. Diante de situações problemáticas, os animais superiores são capazes de encontrar soluções criativas porque fazem uso da inteligência. Se um macaco está mobilizado pelo instinto da fome, ao encontrar a fruta fora do alcance enfrenta uma situação problemática, que só pode ser resolvida com a capacidade de se adaptar às novidades mediante recursos de improvisação. Também o cachorro faz uso da inteligência quando aprende a obedecer ordens do seu dono e enfrenta desafios para realizar certas tarefas, como, por exemplo, buscar a presa em uma caçada. No entanto, a inteligência animal é concreta, porque, de certa maneira, acha-se presa à experiência vivida. Por exemplo, se o macaco utilizar um bambu para alcançar a fruta, mesmo assim não existirá esforço de aperfeiçoamento que se assemelhe ao processo cultural humano. Recentemente, pesquisas realizadas no campo da etologia têm mostrado que alguns tipos de chimpanzés conseguem fazer utensílios, e criam 7 complexas organizações sociais baseadas em formas elaboradas de comunicação. As conclusões dessas pesquisas tendem a atenuar a excessiva rigidez das antigas concepções sobre a distinção entre instinto e inteligência e entre inteligência animal e humana. Mas essas habilidades não levam os animais superiores a ultrapassar o mundo natural, caminho esse exclusivo da aventura humana. Só o homem é transformador da natureza, e o resultado dessa transformação se chama cultura. Eis aí a diferença fundamental entre o homem e os animais. Mas, para produzir cultura, o homem precisa da linguagem simbólica. Os símbolos são invenções humanas por meio das quais o homem pode lidar abstratamente com o mundo que o cerca. Depois de criados, entretanto, eles devem ser aceitos por todo o grupo e se tomam a convenção que permite o diálogo e o entendimento do discurso do outro. Os símbolos permitem o distanciamento do mundo concreto e a elaboração de idéias abstratas: com o signo "casa", por exemplo, designamos não só determinada casa, mas qualquer casa. Além disso, com a linguagem simbólica o homem não está apenas presente no mundo, mas é capaz de representá-lo: isto é, o homem torna presente aquilo que está ausente. A linguagem introduz o homem no tempo, porque permite que ele relembre o passado e antecipe o futuro pelo pensamento. Ao fazer uso da linguagem simbólica, o homem torna possível o desenvolvimento da técnica e, portanto, do trabalho humano, enquanto forma sempre renovada de intervenção na natureza. Ao reproduzir as técnicas já utilizadas pelos ancestrais e ao inventar outras novas — lembrando o passado e projetando o futuro -o homem trabalha. Chamamos trabalho humano a ação dirigida por finalidades conscientes e pela qual o homem se torna capaz de transformar a realidade em que vive. Tornar-se homem O homem não nasce homem, pois precisa da educação para se humanizar. Muitos são os exemplos dados por antropólogos e psicólogos a respeito de crianças que, ao crescerem longe do contato com seus semelhantes, permaneceram como se fossem animais. Casos extremos citados, servem para ilustrar o processo comum pelo qual cada criança recebe a tradição cultural, sempre mediada pelos outros homens, com os quais aprende os símbolos e torna-se capaz de agir e compreender a própria experiência. A linguagem simbólica e o trabalho constituem, assim, os parâmetros mais importantes para distinguir o homem dos animais. Vamos, então, reforçar algumas características desse "estar no mundo" tão típico do ser humano. 8 Não se pode dizer que o homem tem instintos como os dos animais, pois a consciência que tem de si próprio o orienta, por exemplo, para o controle da sexualidade e da agressividade, submetidas de início a normas e sanções da coletividade e posteriormente assumidas pelo próprio indivíduo. O homem foi "expulso do paraíso" a partir do momento em que deixou de se instalar na natureza da mesma forma que os animais ou as coisas. Assim, o comportamento humano passa a ser avaliado pela ética, pela estética, pela religião ou pelo mito. Isso significa que os atos referentes à vida humana são avaliados como bons ou maus, belos ou não, pecaminosos ou abençoados por Deus, e assim por diante. Essa análise é válida para qualquer outra ação humana: andar, dormir, alimentar-se não são atividades puramente naturais, pois estão marcadas pelas soluções dadas pela cultura e, posteriormente, pela crítica que o homem faz à cultura. Ao definir o trabalho humano, assinalamos um binômio inseparável: o pensar e o agir. Toda ação humana procede do pensamento, e todo pensamento é construído a partir da ação. A capacidade de alterar a natureza por meio da ação consciente torna a situação humana muito específica, por estar marcada pela ambigüidade e instabilidade. A condição humana é de ambigüidade porque o ser do homem não pode ser reduzido a uma compreensão simples, como aquela que temos dos animais, sempre acomodados ao mundo natural e, portanto, idênticos a si mesmos. O homem é o que a tradição cultural quer que ele seja e também a constante tentativa de ruptura da tradição. Assim, a sociedade humana surge porque o homem é um ser capaz de criar interdições, isto é, proibições, normas que definem o que pode e o que não pode ser feito. No entanto,o homem é também um ser capaz de transgressão. Transgredir é desobedecer. O MUNDO DOS VALORES Todo mundo já ouviu falar no "jeitinho brasileiro": poder, não pode, mas sempre dá-se um jeito...Muitos até chegam a achar que se trata de virtude a complacência com a qual as pessoas "fecham os olhos" para certas irregularidades e ainda favorecem outras tantas. Certos "jeitinhos" parecem inocentes ou engraçados, e às vezes até são vistos como sinal de vivacidade e esperteza: por exemplo, quando se fura a fila do ônibus ou do cinema. Ou, então, para pegar o filho na escola, que mal há em parar em fila dupla? 9 Outros "jeitinhos" não aparecem tão às claras, mas nem por isso são menos tolerados: notas fiscais com valor declarado acima do preço para o comprador levar sua comissão, compras sem emissão de nota fiscal para sonegar impostos, concorrências públicas com "cartas marcadas". O que intriga nessa história toda é que as pessoas que estão sempre "dando um jeitinho" sabem, na maioria das vezes, que transgridem padrões de comportamento. Mas raciocinam como se isso fosse absolutamente normal, visto que é comum: só eu? e os outros? todo mundo age assim, quem não fizer o mesmo é trouxa; quem não gosta de levar vantagem em tudo? Os exemplos dados ora são transgressões medianamente graves (como interromper o trânsito na rua), ora são ações claramente imorais (como o roubo do dinheiro público nas concorrências fraudulentas). Em todos esses casos, o "jeitinho" surge como forma autoritária e individualista de desconsiderar as normas da vivência em coletividade. Não mais considerando apenas o famigerado "jeitinho", ações de outro tipo também podem ser consideradas reprováveis, como mentir, roubar, matar, explorar o trabalho alheio e assim por diante. Estamos diante dos fatos que pretendemos analisar. Certas ações são objeto de valoração: podemos considerá-las justas ou injustas, certas ou erradas, boas ou más. E, em função de tais avaliações, são dignas de admiração ou desprezo. Porém o que é valorar? O que são valores? O QUE É VALOR Olhe à sua volta. Escolha um objeto ou pessoa e faça um juízo de realidade: a) esta caneta é azul; b) esta caneta é nova; c) Maria saiu por aquela porta; d) a barraca está cheia de frutas; e) João foi à igreja. Observe também que, ao mesmo tempo, é inevitável fazer juízos de valor: 10 a) esta caneta azul não é tão bonita quanto a vermelha; b) a caneta antiga escrevia melhor que esta; c) Maria não deveria ter saído antes de terminar o trabalho; d) as frutas fazem bem à saúde; e) orar reconforta o espírito. No primeiro caso trata-se de avaliação estética, no segundo considera-se o valor de utilidade, no terceiro parece ocorrer a transgressão de um valor moral, no quarto há referência ao valor vital e, no último, ao valor religioso. Há, portanto, o mundo das coisas e o mundo dos valores. Mas não podemos dizer que os valores são da mesma maneira que as coisas são. Isto é, não existe o valor em si enquanto coisa, mas o valor é sempre uma relação entre o sujeito que valora e o objeto valorado. Atribuir um valor a alguma coisa é não ficar indiferente a ela. Portanto, a não- indiferença é a principal característica do valor. Isso significa que os valores existem na ordem da afetividade, ou seja, não ficamos indiferentes diante de alguma coisa ou pessoa, pois somos sempre afetados por elas de alguma forma. Reclamamos da caneta que não escreve bem, ouvimos várias vezes com prazer a música de nossa preferência, recriminamos quem usa de violência e assim por diante. Valorar é uma experiência fundamentalmente humana que se encontra no centro de toda escolha de vida. Fazer um plano de ação nada mais é do que dar prioridade a certos valores, ou seja, escolher o que é melhor (seja do ponto de vista moral, utilitário etc.) e evitar o que é prejudicial para se atingir os fins propostos. A conseqüência de qualquer valoração é, sem dúvida, dar regras para a ação prática. Assim, se o ar é um valor para o ser vivo, é preciso evitar que a poluição atmosférica prejudique a qualidade desse bem indispensável. Se a credibilidade é um valor, não posso estar o tempo todo mentindo, caso contrário as relações humanas ficariam prejudicadas. Portanto, diante daquilo que é, a experiência dos valores orienta para o que deve ser. Dentre os mais diversos valores possíveis, escolhemos analisar os valores morais. Moral é o conjunto de regras de conduta consideradas válidas para um grupo ou para uma pessoa. 11 Veremos, a seguir, qual é a origem desses valores e o que caracteriza o ato propriamente moral. De onde vêm os valores? Se os valores não são coisas, pois resultam da experiência vivida pelo homem ao se relacionar com o mundo e os outros homens, talvez pudéssemos concluir que tais experiências variam conforme o povo e a época. É o que parece nos sugerir a diversidade de costumes: para algumas tribos, é indispensável matar os velhos e as crianças que nascem com algum defeito, o que para nós pode parecer incrível crueldade. Na Idade Média era proibido dissecar cadáveres, e no entanto as instituições de justiça tinham o direito de torturar seres vivos. Nosso costume de comer bife escandaliza o hindu, para quem a vaca é animal sagrado. Isso significa que os valores são em parte herdados da cultura. Aliás, a primeira compreensão que temos do mundo é fundada no solo dos valores da comunidade a que pertencemos. Em tese, tais valores existem para que a sociedade subsista, mantenha a integridade e possa se desenvolver. Ou seja, a moral existe para se viver melhor. Talvez essa afirmação cause espanto, se considerarmos que as regras morais são concebidas como condição de repressão humana, sendo, assim, geradoras de infelicidade. Isso também é verdadeiro, mas só enquanto deformação da moral autêntica e em contexto diferente daquele que estamos considerando aqui. O que nos interessa enfatizar, em um primeiro momento, é que os grupos humanos precisam de regras para viver bem. Por isso é possível entender como, em certas tribos, onde há escassez de alimentação, há o costume de matar crianças defeituosas e velhos incapazes de produzir, uma vez que se tornam peso prejudicial à sobrevivência do grupo. Dito de outra forma, mesmo que varie o conteúdo das regras morais, conforme a época ou lugar, todas as comunidades têm a necessidade formal de regras morais. É formalmente correto que a coragem é melhor que a covardia, que a amizade é um valor desejável entre os membros de um grupo. No entanto, a coragem é um valor formal cujo conteúdo varia. Tomemos um exemplo corriqueiro, ainda que não referente à moral propriamente dita: se alguns riem do caipira com medo de atravessar a avenida na grande cidade, certamente será ele que rirá do citadino assustado com sapos e cobras na fazenda. Transportando o exemplo para o campo da moral, a coragem do guerreiro da tribo é certamente diferente da coragem do 12 homem urbano desafiado, por exemplo, pelos riscos da corrupção. Se a amizade é um valor universal, a sua expressão varia conforme os costumes. Na sociedade patriarcal, em que a mulher se encontra confinada ao lar e subordinada ao homem, é impensável que ela tenha amigos do sexo masculino fora do círculo de amizades do seu próprio marido ou distante do seu olhar benevolente. Isso muda nos núcleos urbanos, após a liberação da mulher para o trabalho fora do lar. Social e pessoal Voltemos à objeção ensaiada alguns parágrafos atrás: nem sempre as regras morais visam ao bem dacomunidade enquanto um todo. Sendo inúmeros os exemplos, vamos Selecionar apenas alguns deles. Por mais estável que seja a sociedade, sempre há mudança das relações entre as pessoas e grupos, na luta pela subsistência. Então, certas regras valem em determinadas circunstâncias e deixam de valer quando ocorrem alterações nas relações humanas. No entanto, existe a tendência de se resistir às mudanças, e, quando as regras permanecem inflexíveis, sedimentadas, acabam sendo esvaziadas de seu conteúdo vital e ficam caducas e sem sentido. A sociedade passa, então, por um momento de crise moral para cuja supe-ração são exigidas inventividade e coragem, a fim de ser recriada uma moral verdadeiramente dinâmica e comprometida com a vida. Geralmente as morais conservadoras se petrificam quando a sociedade se divide em grupos antagônicos nos quais certos setores desejam manter privilégios. Nesses casos, o que é mostrado como bom para todos na verdade só é bom para os que se acham no poder. Para manter o status quo, isto é, a situação vigente de forma inalterada, predominam a intolerância e a negação do pensamento divergente. Por exemplo, o fanatismo religioso considera herético todo pensamento que se distancia da ortodoxia. Nas sociedades escravistas, muito tempo após a abolição da escravatura, persistem os preconceitos rela-tivos à raça escravizada. Cem anos após a Lei Áurea, os negros brasileiros ainda têm de lutar não só contra os julgamentos depreciativos que os brancos fazem deles, mas também contra a própria auto- imagem mutilada pela herança de submissão. A experiência efetiva da vida moral supõe, portanto, o confronto contínuo entre a moral constituída {isto é, os valores herdados) e a moral constituinte, representada pela crítica aos valores ultrapassados. O esforço de construção da vida 13 moral exige a discussão constante dos valores vigentes, a fim de verificar em que medida sua realização se faz em favor da vida ou da alienação. O sujeito moral Seriam então os valores, além de relativos ao lugar e ao tempo, também subjetivos, isto é, dependentes das avaliações de cada indivíduo? Se cada um pudesse fazer o que bem entendesse, não haveria moral propriamente dita. O sujeito moral tem a intuição dos valores como resultado da intersubjetividade, ou seja, da relação com os outros. Não é o sujeito solitário que se toma moral, pois a moral se funda na solidariedade: é pela descoberta e pelo reconhecimento do outro que cada homem se descobre a si mesmo. Intuir o valor é descobrir aquele que convém à sobrevivência e felicidade do sujeito enquanto pertencente a um grupo. O que acontece com freqüência é que, em certas épocas, não há condições de se perceber alguns valores — por exemplo, que a escravidão é desprezível —, e outras épocas em que valores fundamentais são esquecidos: na cidade grande, o individualismo exacerbado torna as pessoas menos generosas e mais desconfiadas. O sujeito moral surge quando, ao responder à pergunta "como devo viver?", o faz com pretensão de validade universal. Ou seja, o sujeito moral não é o eu empírico, individual, egoísta, mas é o eu enquanto capaz de reconhecer o Outro como sendo um Outro-Eu: o Outro é tão importante quanto eu sou. Ninguém nasce moral, mas torna-se moral. Há uma longa caminhada a ser percorrida para a aprendizagem de descentralização do eu subjetivo, a fim de superar o egocentrismo infantil e tornar-se capaz de "conviver". O homem virtuoso Quando nos referimos ao homem virtuoso, a imagem que nos vem é de alguém amável, dócil, cordato, capaz de renúncia e pronto para servir aos outros. Trata-se de uma representação inadequada e muitas vezes perigosa.O filósofoNietzsche referia-se à "moral de escravos" como sendo aquela em que as falsas virtudes se fundam na fraqueza, no servilismo, na renúncia do amor de si e, portanto, na negação dos valores vitais. 14 A palavra virtude vem do latim vir, que designa "o homem", "o varão" (daí o adjetivo viril). Virtus é "poder", "força", "capacidade". O termo grego areté significa "qualidade da excelência", "mérito". Portanto, o homem virtuoso nada tem de frágil; ao contrário, virtude é capacidade de ação, é potência. Para o filósofo Kant, a "virtude é a força de resolução que o homem revela na realização do seu dever". A virtude, enquanto disposição para querer o bem, supõe a coragem de assumir os valores escolhidos e enfrentar os obstáculos que dificultam a ação. Por isso a noção de virtude não se restringe a apenas um ato moral, mas consiste na repetição e continuidade do agir moral. Aristóteles já afirmava que "uma andorinha, só, não faz verão", para dizer que a virtude não se resume no ato ocasional e fortuito, mas precisa se tornar um hábito. Obrigação e liberdade No breve percurso que fizemos até aqui, percebemos que o ato moral é complexo e supõe contradições insolúveis entre social e pessoal, tradição e inovação e assim por diante. Não há como optar por apenas um lado da questão, mas é preciso admitir que tais contradições constituem o próprio "tecido" da moral. Continuando na mesma linha, não deixa de nos causar perplexidade o fato de que o ato moral exige obrigação e liberdade. Vejamos do que se trata. Se a construção da consciência moral se realiza a partir da aprendizagem da convivência entre os homens, é preciso admitir que o ato moral é um ato de vontade. Como tal, distingue-se do desejo, já que este é involuntário, surge com maior ou menor força e traz a exigência de realização. No entanto, é impossível atender a todos os desejos por serem inúmeros e antagônicos, e também porque a vida em comum seria inviável.A moral surge pois do controle do desejo. Evidentemente, não se trata da repressão do desejo, pois o que se busca não é a sua anulação, mas a consciência clara do indivíduo que escolhe e decide o que deve ser feito em determinada situação. O ato voluntário resulta da consciência da obrigação moral. Só que o dever moral não pode ser entendido como constrangimento externo, como coação de uns sobre outros, pois a submissão ao dever precisa ser livremente assumida. Ou seja, só há autêntica moral quando o indivíduo age por sua própria iniciativa, enquanto ser de liberdade. Autonomia (de auto, "próprio") significa autodeterminação, capacidade de decidir por si próprio a partir dos condicionamentos e determinismos. Por isso, todo ato moral está sujeito a sanção, ou seja, merece aprovação ou desaprovação, elogio ou censura. O senso moral reage porque nossa afetividade foi atingida: certos atos considerados imorais, como por exemplo o assassinato de uma criança, provocam-nos indignação. 15 Existe progresso quando se dá um avanço com melhoria de qualidade. Isso significa que certos valores antigos não precisam ser considerados necessariamente ultrapassados, da mesma forma que valores dos "novos tempos" algumas vezes podem não indicar progresso. Quais seriam então os critérios para avaliar o progresso moral? Examinemos alguns deles. • Ampliação da esfera moral: certos atos, cujo cumprimento antes era garantido por força legal (direito), por constrangimento social (costumes) ou por imposição religiosa, passam a ser cumpridos por exclusiva obrigação moral. Por exemplo, um pai divorciado não precisaria da lei para reconhecer a obrigação de continuar sustentando seus filhos menores de idade. Por outro lado, certas situações em que as pessoas fazem o bem tendo em vista a recompensa divina são indicações de diminuição da esfera moral, porque, nesse caso, o estímulo para a ação não é a obrigação moral, mas uma certa "barganha" visandorecompensa. • Caráter consciente e livre da ação: a responsabilidade moral está na exigência de um compromisso livremente assumido. Responsável é a pessoa que reconhece seus atos como resultantes da vontade e responde pelas conseqüências deles. Quando adultos, como mulheres e escravos, permanecem tutelados, o resultado é o empobrecimento moral das relações humanas. • Grau de articulação entre interesses coletivos e pessoais: enquanto nas tribos primitivas o coletivo predomina sobre o pessoal, nas sociedades contemporâneas o individualismo exacerbado tende a desconsiderar os interesses da coletividade. É importante que o desen- volvimento de cada um não seja feito à revelia do desenvolvimento dos demais. O último item nos faz refletir sobre as relações entre política e moral. Embora sejam campos de ação diferentes e sem dúvida autônomos, política e moral estão estreitamente relacionadas. A política diz respeito às ações relativas ao poder e à administração dos assuntos públicos. Quando há desequilíbrio de poder na sociedade, e a maior parte das pessoas não atinge a cidadania plena, isto é, não tem formas de atuação política, isso repercute na moral individual de inúmeras maneiras: as exigências de competição para manter ou alcançar privilégios e a luta pela sobrevivência na sociedade desigual 16 elevam a níveis intoleráveis o egoísmo e o individualismo, geradores de violência dos mais diversos tipos. É assim que se pode falar em falta de ética tanto diante da malversação de verbas públicas, provocando, por Exemplo, o colapso da rede de hospitais (quem há de negar que se trata de violência?), como também é imoral seqüestrar ou assaltar a mão armada. Mas os problemas decorrentes da decadência ética que presenciamos não podem ser resolvidos a partir de tentativas isoladas de educação moral do indivíduo. E preciso que exista a vontade política de alterar as condições patogênicas, isto é, as condições geradoras da doença social, para que se possa dar possibilidade de superação da pobreza moral. Dito de outra forma, não basta "reformar o indivíduo para reformar a sociedade". Um projeto moral desligado do projeto político está destinado ao fracasso. Ética e moral são termos comumente empregados de maneira distinta, ou seja, como sinônimos. Muito embora os significados atribuídos a essas palavras estejam longe de caracterizar unanimidade entre os filósofos, ao menos uma definição básica é possível. A moral compreende o conjunto de princípios, valores e normas que regem a conduta dos seres humanos em sociedade. A ética, por sua vez, corresponde a uma área específica do saber filosófico que consiste na reflexão racional sobre os fundamentos da moralidade, a procedência dos valores morais e as justificações de suas normas, sendo por isso denominada também de filosofia moral. 17 O campo do conhecimento Sempre que nos indagamos a respeito do conhecimento estamos, automaticamente, tratando do problema da verdade. A história da busca do conhecimento é a própria história da busca da verdade. Assim, todo conhecimento pressupõe dois elementos: o sujeito que quer conhecer e o objeto a ser conhecido, que se apresentam frente a frente, dentro de uma relação. Dá-se também o nome de conhecimento ao saber acumulado pelo homem através das gerações. Nessa acepção, estamos tratando o conhecimento como produto da relação sujeito-objeto, produto que pode ser empregado e transmitido. O sujeito se transforma mediante o novo saber, e o objeto também se transforma, pois o conhecimento lhe dá sentido. Modos de conhecer o mundo Há muitos modos de se conhecer o mundo, que dependem da postura do sujeito frente ao objeto de conhecimento: o mito, o senso comum, a ciência, a filosofia e a arte. Todos eles são formas de conhecimento, pois cada um, a seu modo, desvenda os segredos do mundo, atribuindo-lhe um sentido. Já que o pensamento é a manifestação do conhecimento, e que o conhecimento busca a verdade, é preciso estabelecer algumas regras para que essa meta possa ser atingida. Assim, a lógica é o ramo da filosofia que cuida das regras do bem pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento do pensar. A aprendizagem da lógica não constitui um fim em si. Ela só tem sentido enquanto meio de garantir que nosso pensamento proceda corretamente a fim de chegar a conhecimentos verdadeiros. Podemos, então, dizer que a lógica trata dos argumentos, isto é, das conclusões a que chegamos através da apresentação de evidências que a sustentam. 18 A sociedade Humana Todos os dias, desde o momento em que desperta pela manhã até o adormecer, você convive com outras pessoas. Seja em casa, com sua família, seja na escola, no campo de futebol, na igreja, numa roda de amigos, você está sempre rodeado de outros zeres humanos. Mesmo estando sozinho, p simples ato de escovar os dentes envolve muitas outras pessoas: os químicos que elaboram o creme dental, os operários que fabricam a escova de dentes, os que fizeram a embalagem e assim por diante. Você nunca está inteiramente só. Você vive em sociedade, participa de grupos sociais e convive com muitas pessoas. Em outras palavras, você é um ser social. Somos todos seres sociais Desde as suas origens, há cerca de 190 mil anos, o Homo sapiens, à qual pertencemos, se constitui por meio do grupo. Assim como outros animais 19 que vivem agrupados, os primeiros seres humanos só conseguiram sobreviver nas difíceis condições do mundo que os cercava porque contaram com o apoio e a solidariedade do grupo a que pertenciam. Essa dependência do individuo em relação ao grupo teve inicio, assim, no momento mesmo em que surgiram os primeiros seres humanos, e continuam até hoje. Uma de suas características é a comunicabilidade humana, ou seja, a capacidade de o indivíduo se comunicar com seus semelhantes de forma a transmitir idéias, sentimentos, vontades, interesses, emoções. Essa capacidade evoluiu ao longo do tempo, passando de gestos e sinais à articulação de sons, ao desenvolvimento da linguagem, às primeiras manifestações artísticas-ainda no período paleolítico ( 190000 a.C. )- e à escrita, criada em diferentes épocas em diversas regiões dos planeta. Hoje, utilizamos também novas formas de comunicação ( a internet, por exemplo ), mas algumas das que foram criadas por nossos ancestrais mais remotos, como a linguagem oral e gestual, continuam sendo usadas. Quando escolhemos as imagens que farão parte de um filme e as montamos numa determinada sequência, quando articulamos as cores sobre uma tela, ou, ainda, quando cantarolamos, procurando os sons adequados para uma composição musical, certamente estamos pensando a partir de uma determinada linguagem e mostrando um conhecimento de mundo. Este tipo de pensamento, chamado não- verbal, está preso ao mundo sensível. A linguagem verbal é um sistema simbólico, isto é, um sistema de signos arbitrários com relação ao objeto que representam e, por isso mesmo, convencionais e dependentes da aceitação social. Tomando como exemplo a palavra "livro", percebemos que não há nada no objeto entendido como livro que me leve a pronunciar essa palavra. Assim, nosso ato de designar um determinado objeto por um nome (livro) é arbitrário e, para sermos compreendidos, devemos estar amparados por uma convenção, aceita pela comunidade dos falantes de língua portuguesa, que garanta a ligação entre o som "livro" (ou sua forma escrita) e o objeto representado. É bom frisar, no entanto, que as linguagens não-verbais tambémnos permitem pensar, pois são articuláveis em signos. O tipo de pensamento, porém, 20 é diferente, uma vez que essas linguagens não operam por conceitos nem emitem juízos. Crédito da Charge: Normalidade I - Quino e site Só Filosofia Senso comum “Chamamos senso comum ao conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da experiência vivida na coletividade a que pertencemos. Trata-se de um conjunto de idéias que nos permite interpretar a realidade, bem como um corpo de valores que nos ajuda a avaliar, julgar e portanto agir. O senso comum não é refletido e se encontra misturado a crenças e preconceitos. É um conhecimento ingênuo, fragmentário e conservador. Com isso não queremos desmerecer a forma de pensar do homem comum, mas apenas enfatizar que o primeiro estágio de conhecimento 21 precisa ser superado em direção a abordagem crítica e coerente, características estas que não precisam ser necessariamente atributos de formas mais requintadas de conhecer, tais como a ciência ou a filosofia. Em outras palavras, o senso comum precisa ser transformado em bom senso, este entendimento como a elaboração coerente do saber e como explicação das intenções conscientes dos indivíduos livres. Qualquer pessoa, não sendo vítima de doutrinação e dominação, e se for estimulada na capacidade de compreender e criticar, torna-se capaz de juízos sábios.” Texto baseado no Livro Convite a Filosofia de Marilena Chauí O Mito de Tarzan No começo do século XX, o escritor norte-americano Edgar Rice Burroughs (1875-1950) deu início a publicação de uma série de histórias cujo personagem central era um homem criado desde criança por grandes macacos na África. Filho de um casal de nobres ingleses mortos após o naufrágio do navio em que viajavam pela costa africana, seu nome era Jhon Greystoke. Os macacos que o criaram, porém o chamavam de Tarzan. Sucesso imediato entre os leitores, Tarzan logo passou para as telas do cinema e para as histórias em quadrinhos, encantando sucessivas gerações. Nas histórias de Burroughs, Tarzan aprendeu a ler sozinho, com a ajuda apenas de um livro encontrado em uma cabana. Além disso, demonstrava sentimentos nobres e humanos e defendia os valores semelhantes aos da sociedade em que viveu o escritor. Na verdade, o autor criou Tarzan segundo a imagem que tinha do homem europeu na época vitoriana: "civilização", incapaz de atos de violência gratuita, justiceiro e... "superior" aos africanos. Tratava-se, portanto, de uma construção ideológica que produzia as relações de dominação das potências européias sobre os povos da África na época do imperialismo (séculos XIX e primeira metade do século XX). Por essa época, os líderes das potências européias justificavam essa dominação afirmando que os europeus iam para a África difundir o que chamavam de civilização entre os povos "Barbaros" e "atrasados". 22 Como obras de ficção, os livros de Tarzan sempre atraíram o interesse de jovens leitores. Como fonte de conhecimento, entretanto apresentam uma imagem falsa e deformada da África, criando um personagem que distorce a realidade. Essa visão, que acredita na superioridade de seu grupo étnico, é chamada de atnocentrismo. Muitas obras de ficção contribuíram para a difusão de visões etnocêntricas. Como vimos os indivíduos da espécie humana só se tornam verdadeiramente humanos por intermédio da convivência e da interação em um meio social, ou seja, com seres da mesma espécie. Como outras construções ideológicas, Tarzan contribuiu para difundir e legtimar os interesses imperialistas de dominação dos povos africanos entre os séculos XIX e XX. Leitura Complementar. Descomplique… ser feliz é simples Por Francisco Renaldo Uma piada. Um professor de filosofia deu um exame de uma questão final, após um semestre de lidar com temas variados e complexos. Todos já estavam estavam sentados e prontos, nervosos e ansiosos quando o professor pegou sua cadeira, jogou sobre a mesa e escreveu uma placa: “Usando tudo o que aprendemos neste semestre, provam que esta cadeira não existe.” 23 Dedos voaram, lápis e borrachas a todo vapor, notebooks foram preenchidos de forma furiosa. Alguns alunos escreveram mais de 30 páginas em uma hora tentando refutar a existência da cadeira. Um membro da classe no entanto, conseguiu terminar em menos de um minuto. Semanas depois, quando as notas foram postadas, um colega de sala perguntou como ele poderia ter obtido um 10, sendo tinha escrito quase nada. Sua resposta consistiu em duas palavras: “Que cadeira?” O que você está fazendo da sua vida? Não complique… Ser feliz é simples. Desde o nascimento da filosofia, o pensamento ocidental têm se preocupado com a origem da felicidade. Um dos primeiros a fazer a pergunta “o que é felicidade?” foi Aristóteles, que, de uma maneira típica de filósofos, antes de fornecer uma resposta, insistiu em fazer uma distinção entre duas perguntas. Sua primeira pergunta foi o que significava a palavra ‘felicidade’… sua origem é grega: eudaimonia. Sua segunda pergunta foi onde a felicidade pode ser encontrada, ou seja, o que é que nos faz verdadeiramente felizes. Para ele era inútil tentar responder à segunda questão, sem ter questionado a primeira. Segundo o filósofo Epicuro um dos maiores prazeres da vida encontrava-se na amizade. Entende que bons amigos são relativamente fáceis 24 de se obter, e contribui para um fluxo quase infinito de prazer. Uma grande mansão cheia de luxos, mas vazia de amizade traria menos prazer do que uma pequena casa que é compartilhada com amigos de verdade. Ser feliz para viver uma vida simples, buscando experiências que proporcionem prazer (este entendido como ausência da dor e sem excessos , visando a virtude como guia). Recordo-me neste momento de Stephen R. Covey em Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, quando faz a distinção entre a Ética da Personalidade (pós Primeira Guerra Mundial), onde a visão básica do sucesso está na personalidade, ou seja, na imagem pública, nas atitudes e nos comportamentos, é uma ética da habilidade e das técnicas que lubrificam o processo de interação humana. Do outro lado Ética do Caráter (150 anos atrás), partindo do pressuposto os princípios são básicos para uma vida proveitosa, o sucesso e a felicidade acontece quando o indivíduo integra-se a estes princípios. A felicidade onde está? Ela está dentro (ética do caráter) e não fora (ética da personalidade) dos indivíduos. E desatentos somos … insistimos em fundamentar a existência nas aparências, levando-nos para as decepções e frustrações. Ser feliz significa vivenciar o momento presente e ser capaz de projetar-se no futuro. Senão fizermos este exercício tudo ficará efêmero. O que podemos afirmar depois destas considerações: SER FELIZ É SIMPLES, nós homo sapiens, exageramos em nossa racionalidade, a confundimos com o puro exercício da razão, esquecemos que somos também homo demens (Edgar Morin). Vivemos no labirinto da razão e nos deparamos com o mundo ainda desconhecido dos afetos, da loucura e paixão pela vida, que para sorrir afasta-se da sapiência. Todo problema está no equilíbrio sapiens e demens. A verdadeira felicidade encontra-se no cotidiano, não acima da razão e distante da emoção. O equilíbrio é a palavra chave para vivenciarmos a verdadeira felicidade. 25 Um filósofo que deixou muito claro esta relação foi Friedrich Wilhelm Nietzsche.Nele, encontramos o ideal de ser humano entre Apolo (deus da beleza, harmonia, equilíbrio, ordem) e Dionísio (deus do vinho, alegria, paixão, caos). Somente Apolo correremos o risco de não sorrir para a vida. Apenas Dionísio viveremos o impulso desordenado. A vocês queridos leitores, amigos, alunos… sejam felizes!!!!!!!!!!! Sempre!!!!! Fonte: http://blogfilosofiaevida.com/index.php/2010/01/13/descomplique-ser-feliz-e- simples/ CONCLUSÃO Já faz bastante tempo, que os homens, tentam entender o sentido da vida,. Os motivos que levam as pessoas para amar ou odiar algo, a entender o que é bom e mau. Todas estas questões são filosóficas. E vão aparecer ou não discutidas no cotidiano. Durante um longo tempo os brasileiros, não tiveram contato com a disciplina porque ela foi banida do currículo escolar pela Ditadura Militar, e substituída por Educação Moral e Cívica. Só em junho de 2008, mais de 40 anos depois, a filosofia voltou e se tornou matéria obrigatória na grade curricular nas escolas de todo o país. Agora é a hora de redescobrir a importância da disciplina. A metodologia empregada nas aulas envolve discussão, debates e muito diálogo. As aulas de filosofia servem para estimular o raciocínio e para o aprendizado de muitas outras disciplinas. Além disso, o aluno consegue perceber que não há resposta certa para muitos assuntos, como ética e moral. 26 BIBLIOGRAFIA http://fate.edu.br/ead2/mod/resource/view.php?id=6868 Aranha, Maria Lucia Arruda e Martins, Maria Helena. Temas de Filosofia. Moderna, 2005. Filosofia – Estudo e ensino I, Martins, Maria Helena Pires. II. Título. Oliveira, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. Volume Único. Editora Ática. 2011. http://blogfilosofiaevida.com/index.php/category/tirinhas-e-charges/ 27
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