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VALTER T. MOTTA 
Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aminoácidos e 
Proteínas
Volume 
8 
63 
AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS 
s proteínas são compostos de elevada massa 
molecular (5000 a vários milhões) produzi-
das pelas células vivas de todas as formas de vida. 
São polímeros complexos de a-aminoácidos, uni-
dos ent re si por um tipo específico de l igação 
covalente – a l igação peptídica. As proteínas são 
consti tuídas por 20 aminoácidos diferentes reuni-
dos em combinações praticamente infinitas, possi-
bili tando a formação de milhões de estruturas 
diversas. Estas combinações permitem às células a 
produção de proteínas com diferentes tamanhos, 
formas, estruturas, propriedades e funções. 
 A seqüência de aminoácidos, que define as 
características das proteínas, é determinada pelas 
informações genéticas contidas no núcleo da c é-
lula. 
 Por hidrólise, as proteínas fornecem somente 
aminoácidos (proteínas simples) ou, além dos 
aminoácidos, outros compostos orgânicos ou inor-
gânicos (proteínas conjugadas) . A porção não-
protéica é denominada grupo prostét ico. 
 As funções biológicas a t r ibuídas às proteínas 
são variadas e importantes. Atuam como: 
Enzimas. São proteínas altamente especializadas 
com atividade catalí t ica; praticamente todas as 
reações químicas celulares onde participam bio -
moléculas orgânicas são catalisadas por enzimas. 
Existem milhares de enzimas, cada uma capaz de 
catalisar um tipo de reação química diferente. 
Proteínas transportadoras. São proteínas que 
se l igam a íons ou a moléculas específicas, as 
quais são t ransportadas de um órgão para outro. 
Transportam hormônios, v itaminas, metais, drogas 
e oxigênio (hemoglobina); solubilizam os lipídios 
(apoproteínas) . Muitas proteínas estão presentes 
nas membranas plasmáticas e nas membranas in -
tracelulares de todos os organismos; elas t rans -
portam, por exemplo, a glicose, aminoácidos e 
outras substâncias a t ravés dessas membranas . 
Proteínas de armazenamento. Atuam no a r-
mazenamento de certas substâncias, ex.: ferritina, 
que armazena átomos de ferro. 
Proteínas contráteis ou de motilidade. Pro-
teínas que modificam sua forma ou contra em-se, 
ex.: actina e miosina. 
Proteínas estruturais. São pro te ínas que ser-
vem como filamentos de suporte, cabos ou lâmi-
nas para fornecer proteção ou resis tência à estru -
turas biológicas, ex.: queratinas, colágeno e elas -
t ina. 
Proteínas de defesa. Um grande número de 
proteínas defendem o organismo contra a invasão 
de outras espécies ou o protege nos ferimentos. As 
imunoglobulinas ou anticorpos – proteínas especi-
alizadas sintetizadas pelos l infócitos – podem 
reconhecer e precipitar, ou neutralizar, invasore s 
como bactér ias , vírus ou proteínas estranhas 
oriundas de outras espécies. O fibrinogênio e a 
trombina são proteínas que participam da coagula-
ção sangüínea que previnem a perda de sangue 
quando o sis tema vascular é lesado. Algumas 
destas prote ínas , incluindo o fibrinogênio e a 
trombina, também são enzimas. 
Proteínas reguladoras. Várias proteínas atuam 
na regulação da atividade celular ou fisiológica, 
ex.: hormônios e proteína G. 
Outras proteínas. Existem numerosas proteínas 
com funções ditas exóticas ou de difícil classifi-
cação. 
A 
64 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações 
 
 São milhares as funções das proteínas. Além 
das resumidas acima citam-se algumas de grande 
importância clínica: manutenção da distribuição 
de água entre o compartimento i n tersticial e o sis -
tema vascular do organismo; participação da ho-
meostase e coagulação sangüínea; nutr ição de 
tecidos; formam tampões para a manutenção do 
pH. 
Bibliografia consultada 
CAMPBELL , M . K . Biochemistry. 3 e d . P h i l a d e l p h i a : 
Saunders , 1999 . p . 76 -95 . 
LEHNINGER, A. L. , NELSON, D. L. , COX, M. M. Princípios 
de bioquímica. São Pau lo : Sa rv ie r , 1995 . p . 99-117. 
STRYER, L . Bioquímica. 4 ed . R io de Jane i ro : 
G u a n a b a ra -K o o g a n , 1 9 9 5 . p . 1 7 -69 . 
Aminoácidos e proteínas 65 
 
PROTEÍNAS TOTAIS 
número de proteínas dist intas dentro de uma 
célula humana é estimado entre 3.000 a 
5.000. Mais de 300 proteínas diferentes foram 
identif icadas somente no plasma sangüíneo. Mui-
tas delas apresentam papéis bioquímicos específi-
cos sendo que suas concentrações podem ser afe-
tadas por processos patológicos e , por tanto , são 
determinadas na invest igação de vár ias doenças. 
Apesar do grande número de proteínas presentes 
no plasma sangüíneo, somente algumas são medi-
das rotineiramente. As mais medidas são as pre-
sentes no sangue, urina, líquido cefalorraquidiano 
(LCR), líquido amniótico, peritonial ou pleural, 
saliva e fezes. 
 As funções das proteínas plasmáticas incluem 
transporte, manutenção da pressão oncótica, tam-
ponamento de al terações do pH, imunidade humo-
ral, atividade enzimática, coagulação e resposta de 
fase aguda. 
METABOLISMO DAS PROTEÍNAS 
PLASMÁTICAS 
A concentração das proteínas plasmáticas é d e-
terminada por três fatores principais: velocidade 
de síntese, velocidade do catabolismo e o volume 
de l íquido no qual as proteínas estão dis t r ibuídas. 
Síntese. A maioria das proteínas plasmáticas são 
sintet izadas no f ígado enquanto algumas são pro-
duzidas em outros locais, por exemplo, imunoglo-
bulinas pelos l infócitos, apoproteínas pelos ente-
rócitos e b2 -microglobulina (proteína da superfície 
celular) amplamente distribuída no corpo. Apro-
ximadamente 25 g das proteínas plasmáticas são 
sintet izadas e secretadas cada dia, pois não há 
armazenamento intracelular. 
Distribuição. Normalmente, a concentração de 
proteínas totais no plasma está ao redor de 7,0 
g/dL e, aproximadamente, 250 g de proteínas são 
encontradas no compartimento vascular de um 
homem adulto de 70 kg. A água atravessa mais 
livremente as paredes capilares que as proteínas e, 
portanto, a concentração das proteínas no espaço 
vascular é afetada pela distribuição líquida. 
Catabolismo. As proteínas plasmáticas são d e-
gradadas através do corpo. Os aminoácidos libera-
dos f icam disponíveis para a s íntese de proteínas 
celulares. 
H IPERPROTEINEMIA 
Desidratação. A des idratação causa o aumento 
(relativo) de todas as frações protéicas na mesma 
proporção. Pode ser promovida pela inadequada 
ingestão de l íquidos ou perda excessiva de água 
(vômito, diarréia intensa, enfermidade de Addison 
ou acidose diabética). 
Enfermidades monoclonais. Mieloma múlt i-
plo, macroglobulinemia de Waldenström e doença 
da cadeia pesada. Estas condições promovem a 
elevação de imunoglobulinas, causando o aumento 
nos níveis das proteínas tota is sér icas . (v . 
adiante). 
Enfermidades policlonais crônicas. Cirrose 
hepática, hepatite ativa crônica, sarcoidose, lupus 
eritematoso sistêmico e infecção bacteriana 
crônica. 
H IPOPROTEÍNEMIA 
Aumento do volume plasmático. Hemodilu i-
ção por intoxicação hídrica, também como na 
cirrose quando a asci te es tá presente . 
Perda renal proteínas. Síndrome nefrótica e 
glomerulonefrite crônica. 
Perda de proteínas pela pele. Queimaduras 
severas . 
Gota. Aumento da uricemia. 
O 
66 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações 
 
Distúrbios da síntese protéica. A s ín tese é 
sensível ao suprimento de aminoácidos e, as sim, a 
desnutrição, má absorção, dietas pobres em pro-
teínas, enfermidade hepática não-virótica severa 
promovem hipoproteínemia. A insuficiência da 
função hepatocelular reduz a síntese na enfermi-
dade hepáticacrônica. 
Outras causas. Analbuminemia, colite ulcera -
t iva, dermatite esfoliativa, doença de Crohn, do-
ença de Hodgkin, edema, enteropatia perdedora de 
proteínas, hemorragia grave, hepatite infecciosa, 
hipertensão essencial, hipertireoidismo, hipoga-
maglobulinemia, insuficiência cardíaca conges -
t iva, kwashiorkor, leucemia, má absorção e úlcera 
péptica. 
DETERMINAÇÃO DAS PROTEÍNAS TOTAIS 
SÉRICAS 
Paciente. Não deve ingerir dieta rica em gordu-
ras durante 8 horas antes do tes te . Suspender as 
medicações que interferem nos n íve is das prote í -
nas sér icas . 
Amostra. Soro sem hemólise e não lipêmico. A 
amostra pode ser refrigerada por até uma semana. 
Interferentes. Resultados falsamente elevados: 
bromossulfaleína, clofibrato, contrastes radiológi-
cos, cort icoesteróides, cort icotropina, dextrano, 
heparina, insulina, somatropina, t ireotropina e 
tolbutamida. Resultados falsamente reduzidos: 
anticoncepcionais orais, dextrano, íon-amônio, 
líquidos intravenosos excessivos contendo glicose, 
pirazinamida e salicilatos. 
Métodos. Historic amente o método de referência 
para a determinação das proteínas totais no soro 
sangüíneo é o método de Kjeldahl. Este método 
não é empregado rotineiramente no laboratório 
clínico devido a sua complexidade. 
 Refractometria. Os métodos que empregam a 
medida do índice de refração avaliam as proteínas 
totais no soro, plasma, urina e LCR. Estão basea-
dos na determinação refratométrica dos sólidos 
totais nos l íquidos antes e depois da remoção das 
proteínas. Estes métodos são inf luenciados por 
variações da tempera tura, relação albu-
mina/globulinas, azotemia, hiperglicemia, hiper-
bilirrubinemia e, particularmente, hiperlipemia. 
 Biureto. É o mais usado atualmente, pois além 
de preciso e exato é de fácil execução, sendo, 
portanto, bastante empregado para a automação. 
Biureto é o nome dado ao produto de decomposi-
ção da uréia pelo calor. Quando o biureto é tra -
tado com íons cúpricos em solução alcalina, des -
envolve cor violeta. As pro teínas são determina-
das por reação idêntica ao do biureto. O complexo 
color ido é de composição desconhecida, sendo 
formado entre os íons cúpricos e duas ou mais 
l igações pept ídicas. A intensidade do produto 
colorido é proporcional ao número de l igações 
peptídicas presentes nas proteínas. O reativo seco 
DT Vitros baseia -se nes ta reação. 
Valores de referência para proteínas totais no 
soro sangüíneo 
Adultos ambulatoriais 6 a 7,8 g/dL 
 
PROTEÍNAS TOTAIS NA URINA 
Como resultado da pressão hidrostática, as proteí-
nas de baixa massa molecular rotineiramente são 
filt radas através da membrana basal glomerular. 
Esta membrana atua como uma barreira à filtração 
graças ao tamanho dos poros e a carga negat iva. 
As proteínas de pequeno tamanho molecular são 
conduzidas para dentro do túbulo renal onde são 
quase totalmente reabsorvidas; no entanto, uma 
pequena fração é conduzida através dos túbulos e 
aparece na urina. Entre 20-50% da proteína urin á-
ria é albumina. O restante consiste de uromucóide, 
mucoproteína de Tamm-Horsfall provenientes das 
células tubulares renais, pequenas quantidades de 
microglobulinas séricas e tubulares e proteínas de 
secreções vaginais, prostática e seminal. 
A proteinúria anormal é classificada como: 
Benigna. A forma benigna é provocada por alt e-
rações hemodinâmicas ou clínicas não associadas 
com morbid ez ou mortal idade e são de causa des -
Aminoácidos e proteínas 67 
 
 
conhecida. Este tipo de proteinúria (em geral <1 
g/d) é a razão mais freqüente de resultados posit i-
vos na pesquisa de proteínas na ur ina. Três cate-
gorias gerais de proteinúria benigna são descritas: 
§ Proteinúria funciona l , secundária à doenças 
febris, após exercícios vigorosos, insuficiência 
cardíaca congest iva e hipertensão essencial . 
§ Prote inúria id iopát ica , relativamente comum 
em crianças assintomáticas e adultos jovens 
sad ios . 
§ Proteinúria ortostát ica ou postural , ocorre 
quando a pessoa fica em pé por muito tempo e 
desaparece quando ela se deita por algumas h o-
ras. Ocasionada, provavelmente, pela grande 
pressão sobre a veia renal quando o indivíduo 
fica em posição vertical. 
Sobrecarga. Proteínas de baixa massa molecula r 
aumentadas no plasma são fi l tradas pelo glomé-
rulo em grandes quantidades, ul t rapassando a 
capacidade de reabsorção do túbulo. 
Tubular. É devida a incapacidade dos túbulos 
renais realizarem a absorção, provocada por uma 
disfunção ou quando o excesso de p rote ínas no 
líquido tubular ultrapassa a capacidade reabsortiva 
dos mesmos. Na proteinúria tubular, pequenas 
moléculas que em condições normais ultrapas sam 
a membrana glomerular e são absorvidas, apare -
cem na urina final em razão da reabsorção tubular 
incompleta. A presença de proteinúria é um dos 
principais sinais de enfermidade renal. A b2 -mi-
croglobulina (v. adiante) serve como um marcador 
da disfunção tubular em condições como: envene-
namento por metais pesados, síndrome de Fanconi 
e hipocalemia crônica. Em doenças tubulares a 
excreção urinária diária é inferior a 3,5 g de pro -
te ína s . 
Glomerular. A proteinúria glomerular é uma 
conseqüência da perda de integridade da mem-
brana do glomérulo que, em condições normais, 
não permite a passagem de proteínas de elevada 
massa molecu lar para a urina. Nestes casos en-
contram-se va lo res maiores que 1,0 g/d. Esta 
forma de proteinúria está associada com a sín-
drome nefrótica, hipertensão ou glomerulonefrite 
rapidamente progressiva . Nestas condições, o 
glomérulo torna-s e progressivamente permeável à 
proteínas, partic u larmente, à albumina. Quantida-
des entre 3 a 6 g/d, podem ser perdidas nestas 
condições. Este tipo de proteinúria também ocorre 
como conseqüência secundária de outras enfermi -
dades, tais como: amiloidose, lu pus e ritematoso e 
diabetes mellitus (ao redor de 30 a 40% dos paci-
entes com diabetes t ipo 1 desenvolvem nefropatia 
d iabét ica que se manifesta clinicamente 8 a 10 
anos após aquisição da doença) . No curso tardio 
do diabetes es ta e levação dos teores de prote ínas 
na urina se torna persistente, dando lugar a uma 
insuficiência renal. 
Proteínas não-plasmáticas. Proteínas de 
Tamm-Harsfall (urumucóide), um constituinte dos 
cil indros urinários e provavelmente secretadas 
pelos túbulos dis ta is . 
DETERMINAÇÃO DAS PROTEÍNAS TOTAIS 
NA URINA 
Amostra. São utilizadas amostras de 24 h ou 12 
h sem preservativos e mantidas em refrigerador. 
Não sendo poss ível a de terminação nas primeiras 
48 h após a coleta, deve-se misturar bem e separar 
uma alíquota . Amostras congeladas são es táveis 
por um ano. 
Métodos. A determinação quanti tat iva das pro-
teínas na urina é realizada por um dos seguintes 
métodos : 
Turbidimetria. Os métodos turbidimétricos 
são tecnicamente simples, rápidos e suficiente-
mente exatos. Os reagentes comumente usados 
são: ácido tr ic loroacét ico , ácido sulfossalicílico 
ou cloreto de benzetônio (BZC) em meio alcalino. 
Nestes métodos, o reagente precipitante é adicio -
nado à urina e a proteína desnaturada precipita em 
uma suspensão f ina que é quantificada turbidime-
tricamente. Nesta categoria, o método mais em-
pregado é o do cloreto de benzetônio por ser o 
mais sensível dos métodos turbidimétricos. 
68 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações 
 
Corantes. Estas técnicas es tão baseadas no 
desvio da absorvância máxima do corante quando 
l igado à proteínas. Os corantes freqüentemente 
empregados são: azul bri lhante de Comassie (G-
250) que liga-se aos res íduos NH 3 das proteínas; e 
o molibdato vermelhode pirogal lol que reage com 
grupos amino básicos tanto da albumina como das 
g-globulinas para formar um complexo azul. 
Biureto. Os métodos que empregam o re a-
gente do biureto são pouco uti l izados por serem 
mais complexos e sofrerem a interferência de 
certos metabólitos como a bilirrubina. As proteí -
nas são concentradas pela precipitação com ácido 
tricloro acét ico ou ácido fosfotúngst ico-HCl-eta-
nólico (reagente de Tsuchya) e redissolvido no 
reagente do biureto onde o Cu 2 + forma um com-
plexo colorido com as l igações peptídicas. O pre-
cipitante de Tsuchya melhora a sensibil idade e a 
l inearidade do método. 
Ind icador de pH. É um método semi -quant i-
tativo onde a proteína (principalmente a albumina) 
liga-se ao indicador provocando al terações na cor. 
Apresenta falso-positivos em urinas pH>8,0. 
Valores de referência para as proteínas na urina 
Adul tos 40 a 100 mg/d 
Mulheres grávidas Até 150 mg/d 
Após exercícios (adultos) Até 300 mg/d 
 
PROTEÍNAS MARCADORAS DA 
DISFUNÇÃO RENAL 
Pode-se, também, classificar as proteínas como 
proteínas marcadoras da dis função renal . Deste 
modo, três grupos são identif icados, os quais cor-
res pondem a t rês t ipos de defei tos renais : 
Proteínas com massa molecular de 
³³ 100.000 Dáltons. Aparecem na urina somente 
quando houver um avançado comprometimento da 
membrana, envolvendo a perda da função de per-
meabilidade glomerular, a proteinúria é não-se le-
t iva. Uma proteína t ípica deste grupo é a IgG. 
Proteínas com massa molecular entre 
50.000 e 80.000 Dáltons. O aumento da secre-
ção urinária destas proteínas em razão da baixa 
fi l tragem de íons, representa um possível defeito 
reversível no glomérulo, sendo uma proteinúria 
glomérulo selet iva. Proteínas t ípicas deste grupo 
são a albumina e a transferrina. 
Proteínas com massa molecular <50.000 
Dáltons. Estas proteínas de baixa massa mole-
cular estão normalmente presentes na urina nos 
casos de um defeito renal intersticial. Assim, a 
função de reabsorção fica diminuída resultando 
numa proteinúria tubular. As proteínas marcadoras 
des te grupo são: a1 -microglobul ina, b2 -microglo-
bu l ina e prote ína l igadora de re t inol . 
PROTEINÚRIA PRÉ -RENAL, PÓS-RENAL E 
NÃO-RENAIS 
Além das causas renais existem condições pré -
renais , pós-renaise não-renais que também acar-
retam aumentos da proteinúria. 
 A proteinúria pré-renal é causada por uma 
permeabilidade excessiva de proteínas de baixa 
massa molecular. Este filtrado contém altos teores 
de proteínas na primeira urina. Isto se deve a uma 
interrupção da reabsorção tubular por sobrecarga 
no sistema. As proteínas t ípicas de uma proteinú-
ria pré -renal são: a mioglobina, imunoglobulinas 
de cadeias leves kappa e lambda (gamopatias mo-
noclonais) e proteínas de Bence Jones. 
 A prote inúr ia pós-renal ocorre pela adição de 
proteínas à urina na bexiga ou nos ureteres e as -
semelha-se a uma doença renal . As proteínas adi-
cionadas na urina são l infát icas ou plasmáticas. 
Entram na urina pela bexiga por exsudação ou 
transudação do epitél io do ureter . Is to acontece 
pela a l ta densidade das proteínas envolvidas que 
não conseguem atravessar a membrana do glomé-
rulo. Sua passagem para a urina se deve a uma 
sobrecarga plasmática pós-renal. A a2 -macroglo-
bul ina é um excelente marcador protéico da pro -
teinúria pós-renal. 
Como prote inúr ia não-renais têm-se: anemia 
grave, ascite, cardiopatia, distúrbios convulsivos, 
endocardite bacteriana subaguda, febre, hepatopa-
tia, hipertireoidismo, idade avançada, infecção 
aguda, ingestão ou superexposição a cer tas sub-
stâncias (ácido sulfossalicílico, arsênico, chumbo, 
Aminoácidos e proteínas 69 
 
 
é ter, fenol, mercúrio, mostarda, opiáceos, propile-
noglicol, turpentina), obstrução intestinal, reação 
de hipersensibilidade, toxemia, toxinas bacteria-
nas (difteria, escarlatina, estreptocócica aguda, 
febre tifóide e pneumonia), traumatismo e tumor 
abdominal. 
Bibliografia consultada 
ANGELETTI , R . H . Proteins: analysis and design. New 
York , Academic Press, 1998. 5 5 0 p . 
BEETHAM, R . , CATTEL, W. R . P ro te inu r ia : 
pa thophys io lo gy, significance and recommendations for 
measu remen t i n c l i n i ca l p rac t i ce . Ann. Clin. Biochem., 
3 0 :4 2 5 -34 , 1993 . 
CALBREATH, Dona ld F . , C IULLA, Anna P . Cl in ical 
c he mistry. 2 ed . Phi ladelphia : Saunders, 1991. 468 p. 
CHERNECKY, Cynt ia C. , KRECH, Ruth L . , BERGER, 
Ba rbara J . Métodos de laboratório: procedimentos 
dia gnóst icos. Rio de Jane i ro Guanaba ra, 1995. 613 p. 
DRICKMAN, A . , McKEON, F . A . De te rm ina t ion o f to ta l 
serum protein by means of the refractive index of serum. 
Am. J. Cl in. Path . 38 :3 9 2 -6 , 1962 . 
F IRST, M. Roy . “Rena l func t ion ” . In : KAPLAN, L . A . , 
PESCE, A J . Clinical chemistry: theory, analysis and 
correlat ion. St .Lou is : Mosby , 1996 . P . 484-504 . 
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KOAY, Eve lyn S . C . , WALMSLEY, Noe l . A primer of 
c he mical pathology. Singapore : World Scientific, 1996. 
p . 1 6 2 -76 . 
SILVERMAN, Lawrence M. , CHRISTENSON, Robert H. 
“Amino ac ids and p ro te ins ” . In : BURTIS, Car l A . , 
ASHWOOD, Edward R. Tietz textbook of cl inical 
c he mistry. Phi ladelphia : Saunders, 1994. p . 625-734. 
70 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações 
 
ALBUMINA 
albumina compreende ao redor de 60% das 
proteínas presentes no plasma humano. É 
sintet izada no f ígado em velocidade dependente 
da ingestão protéica, mas sujeita a regulação por 
retroalimentação pelo teor de albumina circulante. 
Tem meia vida de 15-19 dias. A albumina exerce 
importantes fu nç õ e s : 
§ Contribui com 75-80% do efeit o osmótico do 
plasma, um dos fatores que regulam a distri-
buição apropriada de água entre os compart i-
mentos intra - e extracelulares. Em certas en-
fermidades, os teores de albumina anorma l-
mente baixas, movem a água do leito vascular 
para os tecidos (edema ). 
§ Transporte e armazenamento de vários com-
postos muito dos quais pouco solúveis em 
água. Por exemplo, a albumina liga (e solubi-
liza) vários compostos não-polares como a bi-
lirrubina não-conjugada t ransportando-a até o 
fígado; ácidos graxos de cadeia longa que se 
ligam fortemente à albumina, sendo assim 
trans portados do fígado para os tecidos perifé -
ricos. A concentração plasmática de diversas 
s u bstâncias, tais como cálcio, alguns hor-
mônios (tiroxina, triiodotironina, cortisol, al-
dosterona) e t r iptofano, são reguladas, de certo 
modo, pela sua ligação à albumina. Várias dro -
gas, por exemplo, salicilatos, fenilbutazona, 
clofibrato, dicumarol, penicilina G e warfarin, 
também se ligam fortemente à albumina. 
HIPERALBUMINEMIA 
É encontrada raramente como nos casos de carc i-
nomatose metastática, desidratação aguda, dia r-
réia, esclerodermia, esteatorréia, estresse, febre 
reumática, gravidez, intoxicação hídrica, lúpus 
eritematoso sistêmico, meningite, miastenia, mi e-
loma múltiplo, nefro se, neoplasias, osteomielite, 
pneumonia, poliartri te nodosa, sarcoidose, tra u-
matismo, tuberculose, úlcera péptica, uremia, 
vômito e hemoconcentração. 
HIPOALBUMINEMIA 
Esta condição pode ser fisiológica ou 
patológica. 
Redução da síntese 
§ Enfermidade hepática severa, como hepatite 
crônica e cirrose, resulta na incapacidade dos 
hepatócitos em sintetizar albumina. 
§ Desnutrição ou diminuição da ingestão pro -
té ica . 
§ Síndromes de má absorção , redução da absor-
ção de aminoácidos. 
Aumento do catabolismo protéico. Como 
resultado de lesões(cirurgia de grande porte ou 
trauma), infecção ou malignidade. 
Perda de proteínas. Urina: é a forma mais 
severa desta anormalidade com concentrações de 
albumina de até < 2 g/L, geralmente com presença 
de edema . As principais causas são: s índrome 
nefrótico, glomerulonefrite crônica, diabetes ou 
lupus eritematoso sistêmico. Fezes: enteropatia 
perdedora de proteínas aumentada por enfermi -
dade neoplástica ou inflamatória. Pele: queimadu-
ras . 
Distribuição alterada. Seqüestro de grandes 
quantidades de albumina do compartimento extra-
celular, por exemplo, na ascite, quando a elevada 
pressão na circulação portal dirige a albumina 
para o líquido peritonial. 
Outras anormalidades. A analbuminemia , uma 
rara doença caracterizada pela ausência congênita 
de albumina, e bisalbuminemia , detectada na ele-
troforese pelo aparecimento de duas bandas ou 
A 
Aminoácidos e proteínas 71 
 
 
uma banda mais larga no lugar da banda normal de 
albumina. Nenhum sintoma clínico está associado 
a bisalbuminemia. 
O termo “microalbuminemia” é empregado 
para descrever aumentos na excreção de albumina 
sem evidências ou enfermidade renal. Esta condi-
ção é encontrada em certas populações de diabéti-
cos que desenvolvem enfermidade renal. Entre-
tanto, a presença de albumina na urina é um 
achado não-específico. A hipertensão, infecção do 
trato urinário, exercício e enfermidade cardíaca 
congestiva também podem aumentar a excreção da 
albumina na urina. 
CONSEQÜÊNCIAS DA HIPOALBUMINEMIA 
A hipoalbuminemia afeta a distribuição líquida do 
corpo e as concentrações plasmáticas de substân-
cias transportadas l igadas à albumina. 
§ Distr ibuição dos l íquidos corporais . A albu-
mina é o mais importante contribuinte da pres -
são oncótica do plasma e sua redução resul ta 
em edema. 
§ Função transportadora. Os n íve is de cons ti-
tuintes normalmente transportados pela alb u-
mina estão diminuidos. Por exemplo, calcemia, 
drogas e bilirrubina transportada por proteínas. 
A ligação da bilirrubina à albumina impede que 
a bilirrubina “livre” atravesse a barreira san-
gue/cérebro e, portanto, a sua d epos ição nos 
tecidos cerebrais (kernictericus na icterícia ne-
onatal). 
DETERMINAÇÃO DA ALBUMINA SÉRICA 
Paciente. Não deve consumir dieta rica em gor-
dura por 48 h antes da prova. 
Amostra. Soro . Evitar estase prolongada na c o-
leta de sangue, pois a hemoconcentração aumenta 
os níveis de proteínas plasmáticas; além disso, a 
postura do paciente deve ser observada já que o 
teor de albumina é, aproximadamente, 0,3 g/dL 
maior em pacientes ambulatoriais quando rela -
cionados aos hospitalizados. Em frascos bem fe -
chados, o soro l ímpido é estável por uma semana 
em temperatura ambiente ou um mês no refri-
gerador. 
Interferências. Resultados falsamente elevados: 
agentes citotóxicos, anticoncepcionais orais e 
bromossulfaleína. Resultados falsamente reduzi -
dos: paracetamol, aspirina, estrogênios, anticon-
cepcionais orais, ampicilina, asparaginase e flu o-
rouracil. 
Métodos. Os primeiros métodos para a separação 
da albumina das globulin as empregavam o fracio -
namento salino. Os mais populares usavam o sul-
fato de sódio com a medida da albumina pelo 
método de Kjeldahl ou pelo desenvolvimento de 
cor pela reação do biureto. 
 Verde de bromocresol . Atualmente, os métodos 
mais amplamente empregados para a anál ise da 
albumina são os de fixação de corantes. A albu-
mina tem a capacidade de fixar seletivamente 
vários aníons orgânicos, entre os quais, moléculas 
de corantes complexos como o verde de bromo -
cresol (BCG), azul de bromofenol (BPB) ou púr-
pura de bromocresol (BCP). Ao ligarem-se à a l-
bumina estes corantes sofrem um desvio nas suas 
absorções máximas. A quantidade de albumina 
l igada ao corante é proporcional ao teor de albu-
mina na amostra. O método do BCG é o recomen-
dado por apresentar boa especif icidade e não so-
frer interferências da bilirrubina, salicilatos, he-
moglobina ou lipemia quando em níveis modera -
dos. Este princípio é empregado para a química 
seca no DT Vitros. 
 Eletroforese. O emprego da eletroforese das 
proteínas para a separação da albumina fornece 
também informações adicionais sobre as globuli-
na s . 
 Outros métodos. A albumina também pode ser 
avaliada pela determinação das globulinas baseada 
no conteúdo de tr iptofano das globulinas. Vários 
métodos tais como: eletroimunoensaio, imuno-
químico, nefelométrico, imunodifusão radial, ele-
troimunodifusão, turbidimetria, radioimunoensaio 
e enzimaimunoensaio são também empregados 
para a determinação da albumina sérica. 
72 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações 
 
Valores de referência para a albumina sérica 
Homens adultos 3,5 a 5,0 g/dL 
Mulheres adultas 3,7 a 5,3 g/dL 
Recém-nasc idos 2,8 a 5,0 g/dL 
Acima de 60 anos 3,4 a 4,8 g/dL 
Bibliografia consultada 
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Aminoácidos e proteínas 73 
 
 
PROTEÍNAS PLASMÁTICAS ESPECÍFICAS 
s proteínas nos l íquidos biológicos são molé-
culas anfóteras que podem ser separadas em 
frações quando aplicadas sobre um suporte poroso 
e submetidas a um campo elétrico em processo 
denominado eletroforese. A migração ocorre de 
acordo com o grau de ionização, tamanho e forma 
da molécula protéica, também como, das caracte-
ríst icas da solução tampão (pH, composição qua-
litativa, força iônica) do meio onde se realiza o 
processo; da força do campo elétr ico; da porosi-
dade, viscosidade e temperatura do suporte. 
A separação das proteínas é real izada em soro 
para evitar interferências da banda do fibrinogê-
nio. 
Em pH 8,6, empregando os métodos eletrofo-
rét icos correntes, as proteínas no soro sangüíneo 
são divididas nas seguintes frações principais: 
pré -albumina, albumina, frações a1 , a2 , b1 , b2 e g. 
A migração destas macromoléculas é realizada em 
suportes como o acetato de celulose, gel de aga-
rose, gel de poliacrilamida e gel de amido, em 
res posta a um campo elétrico. 
As frações obtidas no soro por eletroforese tem 
os seguintes valores de referência: 
Proteínas Valores de referência (g/dL) 
Pré -albumina 0,020 a 0,040 
Albumina 3,50 a 5,00 
Região a1 0,10 a 0,40 
Região a2 0,50 a 1,00 
Região b1 0,32 a 0,66 
Região b2 0,27 a 0,55Região g 0,59 a 2,35 
Cada fração protéica obtida por eletroforese é 
constituída de proteínas individuais que podem ser 
determinadas por vários métodos, como nefelo -
metria, imunodifusão radial, imunoeletroforese, 
etc. 
PRÉ-ALBUMINA 
Nesta fração, junto a pré-albumina também migra 
a prote ína l igadora de re t inol (RBP). Ambas são 
sintetizadas no fígado e tem uma meia -vida menor 
que 12 h, consequentemente, estas aval iações 
fornecem indicadores simples e sensíveis de des -
nutrição ou disfunção hepática. Os níveis caem 
rapidamente nas reduções calóricas e protéicas na 
dieta. 
 A pré -albumina transporta a tiroxina (T4 ) e a 
triiodotironina (T3 ) . Os níveis séricos da pré -al-
bumina diminuem na inflamação, doenças mali-
gnas, cirrose hepática e enfermidades renais per-
dedoras de proteínas . Na doença de Hodgkin os 
níveis aumentam. 
 A proteína ligadora de retinol (RBP) transport a 
a vitamina A (retinol). A RBP sérica eleva em 
enfermidades renais crônicas, especialmente em 
pacientes com proteinúria tubular. A redução está 
associada com enfermidade hepática e má nutrição 
protéica. Como o zinco é necessário para a síntese 
de RBP, os estados de deficiência deste metal são 
caracterizados por baixos níveis de RBP e vita-
mina A. A RBP é quantificada por nefelometria. 
ALBUMINA 
Variações na concentração de albumina sérica em 
vários estados foram descri tas na seção 3.2. 
REGIÃO a 1 
ALFA1-ANTITRIPSINA (AAT) 
As proteínas como a tripsina, quimiotripsina, 
elastase e trombina são continuamente l iberadas 
para o sangue em pequenas quantidades a partir de 
A 
74 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações 
 
várias fontes, incluindo o pâncreas, leucócitos e 
bactérias in test inais . A AAT é uma das várias 
proteínas que inibem a atividade destas proteases, 
particularmente, a elastase dos neutrófilos, e pode 
atuar na l imitação da atividade proteolít ica nos 
sít ios de inflamação. O interesse na AAT é a asso-
ciação entre certas doenças do pulmão e f ígado 
com a sua deficiência devida ao polimorfismo 
genét ico . 
 Foram identificados vários fenótipos da defic i-
ência de AAT. O fenótipo MM (alelo PiM , inibidor 
da protease) está associado com a at ividade nor-
mal da AAT. Indivíduos homozigóticos com o 
fenótipo ZZ produzem somente pequenas quanti-
dades de AAT plasmát ico. Estas pessoas es tão 
propensas as segu in tes desordens : 
§ Enfisema pulmonar. Ao redor de 1% dos paci-
entes com enfisema apresentam dificiências de 
AAT, sendo esta percentagem mais elevada em 
jovens. Quando associado com deficiência de 
AAT, o enfisema tende a se manifestar em gru-
pos com idade entre 20-40 anos. O fumo parece 
ser um importante fator que predispõe ao des -
envolvimento da doença nestes pacientes, pro-
vavelmente pelo estímulo da atividade fagoci-
tária com a liberação local de proteases. Part í -
culas e bactérias inaladas são continuamente 
removidas dos pulmões no processo de fago-
citose. Quando a AAT é deficiente, a enzima 
não é inibida e ataca a elastina da parede alv e-
olar. A perda de elasticidade do tecido pulmo-
nar provoca enfisema com redução da ventila-
ção e aumento na vulnerabilidade para infec-
ções respiratórias . 
§ Desordens hepáticas. A icterícia neonatal g e-
ralmente se apresenta como um quadro cole s -
tá t ico, sendo comum em indivíduos com o tipo 
ZZ. Apesar da resolução da icterícia, pode 
ocorrer o desenvolvimento de cirrose. Ao redor 
de 20% das crianças com cirrose, a desordem 
hepática pode ser atribuída a deficiência de 
AAT. Em adultos a cirrose e o hepatoma estão 
associados com o fenótipo Pi z . 
Valores de referência 
Recém nascidos 145 a 270 g/dL 
Adul tos 78 a 200 g/dL 
Acima de 60 anos 115 a 200 g/dL 
 
Valores aumentados. Doença pulmonar crô -
n ica, doenças do f ígado, diabetes mell i tus, doen-
ças reumáticas, doenças gástricas, doenças renais, 
pancreatite, carcinoma, edema angioneurótico, 
cirrose, hepatoma, gravidez, terapia com estrogê-
nios e es teróides . 
Valores reduzidos. Deficiência congênita e 
perdas severas de prote ínas . 
ALFA1-GLICOPROTEÍNA ÁCIDA (AAG) 
É composta por 45% de carboidratos, com hexose, 
hexosamina e ácido siálico em iguais proporções. 
Sua função primária é inativar a progesterona, 
mas também ligar e afetar a fármaco-cinética de 
algumas drogas. Apesar do papel exato da AAG 
ser desconhecido ela está aumentada na artr i te 
reumatóide, lupus eritematoso sistêmico, neo-
plasma maligno, queimaduras e infarto do mi o-
cárdio. A redução ocorre na má nutrição, enfermi-
dade hepática severa, síndrome nefrótica, anticon-
cepcionais orais e gastroenter i tes perdedoras de 
proteínas. Os valores de referência para a AAG 
são: 50-150 mg/dL. 
 A determinação de AAG substi tui com vanta-
gens o teste de mucoproteínas (seromucóides) , 
descri to adiante. 
ALFA1-FETOPROTEÍNA (AFP) 
É uma glicoproteína sintetizada no fígado fetal , 
sistema digestório e saco vitelino humano. O nível 
máximo é atingido na 30a semana de gestação e 
no câncer hepático primário. Em obstetrícia a 
determinação de AFP é realizada no líquido am-
niótico ou soro materno para detectar defei to do 
tubo neural (anencefalia, espinha bífida) do feto. 
A dosagem simultânea da AFP, b-HCG (hor-
mônio coriônico gonadotrófico fração beta) e e s -
triol livre é utilizada como avaliação do risco fetal 
em mulheres no segundo tr imestre de gravidez 
Aminoácidos e proteínas 75 
 
 
(entre 14 e 20 semanas) na detectação de 70% da 
síndrome de Down (Trissomia do cromossomo 21) 
e de 95% dos casos de defei tos do tubo neural 
aberto. A avaliação do risco fetal não é um teste 
diagnóstico, mas sim uma oportunidade de ras t re-
amento, que informa o risco da paciente para as 
aneuploidias mais freqüentes e para defeitos de 
fechamento do tubo neural . 
A freqüência da síndrome de Down é de 1/800 
nascimentos. A doença não é hereditária, mas há 5 
a 10% de casos com “história familiar”. O risco de 
nascimento de uma criança com síndrome de 
Down cresce com o aumento da idade materna 
(com 45 anos o risco chega a 1/30). 
A elevação da AFP não é específica de ma -
lignidade. Está presente em 15 a 75% das hepato-
pat ias benignas com atividade regenerativa do 
hepatócito como a cirrose, hepatite alcoólica, 
hepatite crônica ativa, em doenças inflamatórias 
intestinais e colite ulcerativa. 
A AFP é marcador tumoral para carcinoma he-
patocecular e de células germinativas (não semi -
nomas). Embora seja útil no diagnóstico, sua prin -
cipal aplicação é na monitorização da eficácia do 
tratamento cirúrgico ou quimioterápico e no ras -
tre amento dessas neoplasias . Os níveis caem a 
valores normais ao redor de 4 a 6 semanas após 
tratamento. Aumento nos teores após remissão 
indicam a recorrência do tumor na maioria dos 
ca sos . 
Valores de referência para a AFP 
Líquido amniótico (20ª semana) 5 a 25 mg/dL 
Soro materno (20ª semana) 20 a 100 mg/L 
Recém-nasc idos 5 mg/dL 
ALFA1-LIPOPROTEÍNA 
Transportadora de l ipídios (v. adiante). 
REGIÃO a 2 
HAPTOGLOBINA (HAP) 
É uma glicoproteína sintetizada nos hepatócitos e, 
em pequenas quantidades, nas células do sis tema 
ret ículo endotel ial dest inada ao transporte da he-
mo globina livre no plasma para o sistema retículo 
endotelial onde é degradada. A hemoglobina não-
ligada à haptoglobina é filtrada pelos glomérulos e 
precipita nos túbulos causando enfermidade renal 
s evera. Isto normalmente não ocorre com o com-
plexo haptoglo bina-hemoglobina que é muito 
grande para ser filtrado, prevenindo, assim, lesões 
renais e a perda de ferro. O complexo é degradado 
no fígado ou sistema ret ículo endotelial , o que 
explica o teor reduzido de haptoglobina após epi-
sódioshemolí t icos. Determin ações isoladas desta 
fração é de pouca util idade; determinações seria -
das , en t retanto, são empregadas para monitorar 
estados hemolí t icos. 
Valores de referência: recém nascidos 5-48 
mg/dL; adultos: 34-215 mg/dL. 
Valores aumentados. Queimaduras, infecções 
agudas, terapia com corticóide, a ndrogênios, do-
enças do colágeno, neoplasias e s índrome 
nefrótica – onde grande quant idade de prote ínas 
de baixa massa molecular são perdidas. 
Valores reduzidos. Hemólise intravascular, 
doenças severas do f ígado, es t rogênio s, anemia 
megaloblástica, hematomas, gravidez, mononucle-
ose infecciosa, reações de transfusão e malária. 
Nestes dois úl t imos casos, são frequentes as soli-
citações de haptoglobina acompanhada de lactato 
desidrogenase e hemoglobina. 
 ALFA2-MACROGLOBULINA (AMG) 
É inibidora das proteases de modo diferente que o 
descrito para a AAT. Inibe a atividade da tripsina, 
quimiotripsina, trombina, elastase, calicreína e 
plasmina. Está diminuída em pacientes com artrite 
reumatóide, mieloma múltiplo e submetidos a 
76 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações 
 
terapia com estreptoquinase. Pode estar elevada 
durante a gravidez, terapia com estrogênios, al-
gumas doenças hepáticas, diabetes mell i tus e 
sindrome nefrótica. A avaliação da AMG rara-
mente tem valor clínico. 
Valores de referência: Homens: 150 a 350 
mg/dL; mulheres: 175 a 420 mg/dL. 
Valores aumentados. Síndrome nefrótica, gra-
videz, hemólise, infância, diabetes mellitus, in -
flamações agudas e crônicas, neoplasias, cirrose, 
deficiência de a1 -antitripsina e terapia com estro -
gênio. 
Valores reduzidos. Pancreati te aguda grave e 
úlcera péptica. 
CERULOPLASMINA (CER) 
É sintetizada no fígado e transporta 90% do cobre 
no plasma. Os 10% restantes são t ransportados 
pela albumina. Seis átomos de cobre estão ligados 
em cada molécula de ceruloplasmina. Está au-
mentada em infecções, doenças malignas e 
trauma. Os aumentos são particularmente notáveis 
em enfermidades do sistema retículoendotelial 
como a doença de Hodgkin. O nível está também 
elevado nas infecções ou obstrução do trato biliar. 
A ap licação mais importante da avaliação da ce-
ruloplasmina é no diagnóst ico da doença de 
Wilson (defeito autossômico recessivo raro com 
incidência 1:50.000 a 1:100.000). As anormalida-
des neste distúrbio são: diminuição da CER com 
redução da incorporação do cobre na apoproteína 
e redução drástica da excreção biliar do cobre. O 
cobre deposi ta nos r ins , no f ígado onde causa 
cirrose e no cérebro onde lesa a ganglia basal . 
Esta enfermid ade também é chamada de degene-
ração hepatolen t icular. Os teores de CER são 
afetados pela idade, exercício, gravidez e admi -
nis t ração de est rogênios. Na ausência de enfermi -
dade hepática severa, níveis abaixo de 10 mg/dL 
são suges t ivos de enfermidade de Wilson. 
Valores de referência para a 
ceruloplasmina (mg/dL) 
1 a 2 meses 05 a 18 
6 a 12 meses 33 a 43 
13 a 36 meses 26 a 55 
4 a 5 anos 27 a 55 
6 a 7 anos 24 a 54 
Acima de 7 anos 20 a 54 
Adul tos 18 a 45 
 
Valores aumentados. Artri te, doença de 
Hodgkin, estados neoplásicos e inflamatórios, 
gravidez, emprego de estrogênios, antiepilépticos 
e contracept ivos orais . 
Valores reduzidos. Má nutrição, má absorção, 
doença de Wilson, perda de proteínas, s índrome 
nefrótica, e enfermidade hepática severa, partic u-
larmente a cirrose biliar primária. 
REGIÃO b 1 
TRANSFERRINA (TRF, SIDEROFILINA) 
É a principal proteína plasmática transportadora 
de ferro. Os íons férr icos provenientes da degra-
dação do heme no f ígado e aqueles absorvidos a 
partir da dieta, são transportados pela transferrina 
para os locais de produção dos eri tróci tos na me-
dula óssea. Sua concentração está relacionada com 
a capacidade total de ligação de ferro (TIBC). A 
avaliação da TRF é útil no diagnóstico diferencia l 
da anemia ferropênica e no acompanhamento do 
seu tratamento. Na deficiência de ferro ou anemia 
hipocrômica, o teor de TRF está elevado em vir-
tude do aumento da síntese, entretanto, a proteína 
está menos saturada com o ferro pois os níveis de 
ferro plasmático estão baixos. Por outro lado, se a 
anemia é causada por impedimento da incorpora-
ção do ferro nos eri trócitos, a concentração de 
TRF está normal ou baixa, mas saturada de ferro. 
Na sobrecarga de ferro, a TRF está normal en-
quanto a saturação (normalmente 30-38%) excede 
55% e pode chegar até a 90%. 
Aminoácidos e proteínas 77 
 
 
Valores de referência: recém nascidos 130-275 
mg/dL; adultos: 220-400 mg/d/L e acima de 60 
anos 180-380 mg/dL. 
Valores aumentados. Anemias por deficiência 
de ferro, gravidez e durante a terapia com estro -
gênio. 
Valores reduzidos. Ocorrem, juntamente com baixos 
teores de albumina, pré-albumina e b-lipoproteína, em 
inflamações e doenças malignas. A causa da redução na 
síntese ainda é desconhecida. Outras causas de diminui-
ção da TRF são: enfermidade hepática (redução da sín-
tese), má nutrição, síndrome nefrótico, neoplasias, he-
mólise, enteropatias perdedoras de proteínas, a transfer-
rinemia hereditária onde os níveis bastante reduzidos de 
TRF são acompanhados de sobrecarga de ferro e anemia 
hipocrômica resistente à terapia pelo ferro. 
HEMOPEXINA (HX, HPX) 
Atua no transporte do heme livre após catabolismo 
da hemoglobina em seus componentes. O com-
plexo heme -hemopexina atinge o fígado onde a 
porção heme é convertida em bilirrubin a. Esta 
fração dificilmente é quantificada no laboratório 
clínico. 
BETA-LIPOPROTEÍNA 
Transportadora de l ipídios (v. adiante). 
COMPLEMENTO FRAÇÃO C4 
A fração C4 participa da via clássica de ativação 
do complemento e atua na resposta imunológica 
humoral. Sua deficiência tem caráter autossômico 
recessivo e resulta em redução da resposta à in -
feccões . 
Valores de referência: 15 a 45 mg/dL. 
REGIÃO b 2 
FIBRINOGÊNIO 
O fibrinogênio é uma glicoproteína sintetizada 
pelo f ígado. Atua como substrato para a ação da 
enzima trombina. É composta por três diferentes 
pares de cadeias polipeptídicas ligadas por pontes 
dissulfeto, que sob a ação da trombina formam 
fibrinopeptídios A e B. A defic iência de fibrin o-
gênio pode resultar da fal ta de produção da molé-
cula normal (afibrinogenia ou hipofibrogenia) ou 
da produção de uma proteína estruturalmente 
anormal (disfibrinogenia). 
Valores de referência: 200 a 450 mg/dL. 
Valores aumentados. Doenças inflamatórias 
agudas e crônicas, s índrome nefrót ica, doenças 
hepáticas/cirrose, gravidez, estrogênio terapia e 
coagulação intravascular compensada. 
Valores reduzidos. Coagulação intravascular 
aguda ou descompensada, doença hepát ica avan-
çada, terapia com L-asparaginase, terapia com 
agentes fibrinolíticos (estreptoquinase, uroquinase 
e ativadores de plasminogênio t issular), disfibri-
nogenemia congênita – onde os indivíduos afe ta-
dos podem ser assintomáticos ou apresentar epi-
sódios esporádicos de sangramento. 
COMPLEMENTO FRAÇÃO C3 
A fração C3 é um dos nove componentes princi-
pais do complemento total ; atua na resposta 
imunológica humoral. 
Valores de referência: 80 a 170 mg/dL. 
BETA2-MICROGLOBULINA (BMG) 
É uma proteína de baixa massa molecular (11.800) 
facilmente filtrada pelo glomérulo e quase total-
mente reabsorvida pelos túbulos renais. Níveis 
elevados no plasma ocorrem na insuficiência re-
78 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações 
 
nal, inflamação e neoplasma, especialmente 
aqueles associados com os l infócitos B. O princi-
pal valor da determinação da BMG é testar a fu n-
ção tubular renal, particularmente nos receptores 
de transplantes renaisonde a rejeição se manifesta 
pela redução da função tubular. 
Valores de referência 
Soro 0,10 a 0,26 mg/dL 
Urina 0,03 a 0,37 mg/d 
LCR 0,30 mg/L 
REGIÃO g 
PROTEÍNA C REATIVA (PCR) 
É sintet izada no fígado – presente no plasma de 
pacientes com doenças agudas – e capaz de se 
ligar ao polissacarídio -C da parede celular do 
Streptococcus pneumoniae. A PCR é um marcador 
não-específico que eleva durante a resposta imune 
para a infecção, lesão tecidual ou necrose celular 
associada com infarto ou malignidade. Medidas 
repetidas são úteis no estudo do curso de doenças 
(como acompanhar terapia durante a inflamação 
ou processo necrótico). A PCR está envolvida com 
o sis tema auto-imune e atua na at ivação do com-
plemento, fagocitose e l iberação das linfocinas. 
Valores de referência: 80-800 mg/dL. 
Valores aumentados. Infarto do miocárdio, 
estresse, trauma, infecções (ex.: recorrentes no 
lupus eritematoso sistêmico), inflamação (ex.: 
fase aguda da artrite reumatóide), cirurgia ou pro-
liferação neoplástica, espodili te anquilosante e 
necrose tecidual. O aumento pode chegar até 2000 
vezes o valor de referência. Entretanto, como o 
aumento é inespecífico, ele não pode ser interpre-
tado sem uma história clínica completa e também 
com a comparação com outros exames. 
IMUNOGLOBULINAS (ANTICORPOS 
HUMORAIS) 
As imunoglo bulinas são proteínas especializadas 
sintetizadas pelos l infócitos em resposta a um 
antígeno; podem reconhecer e precipitar , ou neu-
tralizar invasores como bactérias, vírus ou pro teí-
nas estranhas or iundas de outras espécies , ou ou-
tras substâncias. Cada p roteína estranha estimula a 
formação de um conjunto de diferentes anticorpos, 
os quais podem combinar com o antígeno para 
formar um complexo antígeno-anticorpo. A pro -
dução de anticorpos é parte de um mecanismo 
geral de defesa denominado resposta imunitária 
ou imunológica . 
Os anticorpos são proteínas com moléculas em 
forma de Y, consist indo de quatro cadeias poli-
pept ídicas: duas cadeias pesadas (H) e duas ca-
deias leves (L). As seqüências de aminoácidos das 
regiões variáveis das quatro cadeias determinam a 
especificidade antigênica de um anticorpo em 
part icular , cujos sí t ios de l igação, que são com-
plementares a característ icas estruturais específi-
cas da molécula de antígeno, tornam possível a 
formação do complexo antígeno-ant icorpo. 
IgG. Corresponde a 70-75% das imunoglobulinas 
totais. A IgG difunde para o espaço extra -vascular 
(65% da IgG) devido ao seu pequeno tamanho, 
sendo também capaz de atravessar a placenta. Sua 
principal função parece ser a neutralização de 
t ox inas nos espaços teciduais . Ant icorpos da 
cla s se IgG são produzidos em resposta à maioria 
das bactérias e vírus; agregam e envolvem peque-
nas proteínas estranhas como as toxinas bacteria -
nas. Informações mais precisas sobre as imunida-
des são obt idas pela aval iação das quatro subclas -
ses da IgG: IgG1 , IgG2 , IgG3 e IgG4 . 
IgA. Aproximadamente 10-15% das imunoglobu-
linas séricas são IgA. Existe outra forma de IgA, 
provavelmente mais importante, chamada IgA 
secretora. É encontrada nas lágrimas , suor, saliva, 
leite, colostro, secreções gastrointestinais e brô n-
quicas. A IgA fornece proteção da área externa 
contra microorganismos. 
 
Aminoácidos e proteínas 79 
 
 
Figura 8.1. Representação de uma molécula de 
imunoglobulina. A molécula consiste de duas cadeias 
pesadas e duas cadeias leves l igadas por l igações 
dissulfeto ( -S-S- ). Tanto a cadeia pesada, como a 
cadeia leve, apresenta uma região variável e uma 
região constante. 
IgM. É um pentâmero produzido como primeira 
resposta imune ao est ímulo antigênico. É a pri-
meira imunoglobulina produzida pelo feto durante 
o desenvolvimento. Ela está confinada ao sangue 
em razão de sua elevada massa molecular que 
impede a passagem para o espaço extravascular. A 
IgM não atravessa a barreira placentária, níveis 
elevados em recém-nascidos durante a primeira 
semana de vida sugerem infecção pré -natal (rubé-
ola, citomegalovírus, toxoplasmose etc.). O au-
mento policlonal é encontrado na cirrose, esclero-
derma, endocardite bacteriana, tripanosomíase, 
malária, mononucleose i nfecciosa, actinomicose e 
leucemia monocítica. Também é empregada na 
avaliação da imunidade humoral, diagnóstico e 
monitoramento da terapia da macroglobulinemia 
de Waldenström (aumento monoclonal da classe 
IgM). No adulto compreende 5-10% das imuno-
globulinas circulantes totais . 
IgD. Consti tui menos que 1% das imunoglobuli-
nas totais. Sua estrutura é similar a IgG. Muitas 
vezes estão presentes associadas ao monômero 
IgM, na superfície dos l infócitos B. Sua função é 
desconhecida. 
IgE. Encontrada no plasma somente em pequenas 
quantidades. Incluem as reaginas que se l igam às 
células. Em presença de antígeno (alérgeno), e 
como um dos resul tados da reação ant ígeno-ant i-
corpo, ocorre a liberação de histamina e outras 
aminas e polipeptídios da células, produzindo uma 
reação de hipersensibilidade local. 
Valores de referência (por nefelometria) 
I d a d e IgG IgA I g M IgD IgE 
Soro mg/dL mg/dL mg/dL mg/dL UI /mL 
N e o n a t o s 700-1480 0 -2 , 2 5 -3 0 (DIR) (RIE) 
1 6 -60 anos 650-1500 7 6-390 4 0-345 0 -8 0 -3 8 0 
> 6 0 a n o s 600-1560 9 0-410 3 0-360 - - 
LCR 0 -5 , 5 0 -0 , 6 0 -1 , 3 - - 
Saliva - ~11 - - - 
DEFICIÊNCIA DAS IMUNOGLOBULINAS 
A defesa imunológica depende de quatro sistemas 
interat ivos: 
§ Anticorpos humorais (imunoglobulinas) da 
série de linfócitos B. 
§ Imunidade celular-mediada dos linfócitos T. 
§ O sistema fagocitário. 
§ Sistema do complemento. 
 Os dois últ imos sistemas são não específicos e 
não tem memória imunológica para o antígeno. O 
primeiro e o quarto são proteínas pla s máticas. 
 As principais causas de deficiência das imuno-
globulinas são: 
Causas secundárias. (Comuns): 
§ Defeito na síntese (a IgM cai primeiro, a seguir 
a IgA e, finalmente, a IgG) 
 
80 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações 
 
- Neoplasia linfóide (leucemia linfocítica 
crônica, doença de Hodgkin e mieloma 
múltiplo). 
- Reação tóxica, insuficiência renal (perde-
dora de proteínas) e diabetes mell i tus. 
- Drogas: fenitoína, penicilina e imunossu-
pressores . 
- Neonatal: prematuridade e atraso passageiro 
da s ín tese . 
§ Perda anormal de prote ínas 
- Síndrome nefrótica, queimaduras, lesões 
exudativas e enteropatias perdedoras de 
pro te ínas . 
Causas primárias ou inerentes. (Raros). 
§ Insuf ic iência na produção de ant icorpos. 
- Generalizada (infecções piogênicas seve-
ras). 
- Deficiência seletiva das seguintes imuno-
g lobul inas . 
- IgA: a mais comum (1:700), sem sinto -
mas, mas as pessoas afetadas tendem a 
sofrer doenças alérgicas ou autoimuno-
nes . 
- IgG e IgA (IgM aumentada): infecções 
piogênicas recorrentes. 
- IgA e IgM: comum na giardíase. 
- IgG: infecções piogênicas recorrentes . 
- IgM: susceptibilidade à enfermidade 
auto-imune e a septicemia após esple-
noctomia. 
§ Insuficiência combinada de anticorpo e imuni-
dade cé lu la-mediada. 
HIPERGAMAGLOBULINEMIA 
POLICLONAL 
A hipergamaglobulinemia policlonal é caracteri-
zada por aumentos difusos das gamaglobuline-
mias. É provocada pelo estímulo imune de muitos 
clones celulares produzindo várias imunoglobuli-
nas . Representa a resposta das células b a o e s tí -
mulo antigênico e indica a presença de infecção 
crônica ou processo auto-imune. As principais 
causas são: 
Infecções crônicas. Brucelose, tuberculose, 
parasitoses (malária), lepra, bronquie ctasia. Nes -
tes casos, as est imativas das imunoglobulinasespecíficas raramente fornecem mais i n formações 
que a e letroforese protéica. No entanto, as suas 
determinações são de grande valor em alguns dia-
gnósticos diferenciais . 
Doença hepática. Cirrose biliar primária, cir-
rose portal e hepati te crônica ativa. 
Infecções intrauterinas. A produção de IgM 
no feto aumenta e , ao nascer , o teor de IgM no 
s angue do cordão es tá e levado. 
Doença inflamatória intestinal. Doença de 
Crohn e colite ulcerativa. 
Desordens auto-imunes. Artrite reumatóide e 
lúpus eri tematoso sistêmico. 
Granulomas. Sarcoidose. 
 Em alguns casos, as classes imunoglobulínicas 
fornecem a indicação da etiologia: 
§ Predomínio de IgG: hepatite crônica ativa e 
lúpus eri tematoso sistêmico. 
§ Predomínio de IgA: cirrose criptogência, d o-
ença de Crohn, tuberculose e sarcoidose. 
§ Predomínio de IgM: cirrose biliar primária e 
doenças parasi tár ias . 
Aminoácidos e proteínas 81 
 
 
§ Aumentos equivalentes das IgA, IgG e IgM: 
infecções crônicas prolongadas. 
HIPERGAMAGLOBULINEMIA 
MONOCLONAL (PARAPROTEINEMIA) 
As bandas de imunoglobulinas monoclonais vis í -
veis na eletroforese do soro sangüíneo, como p i-
cos estrei tos e pontiagudos, são denominadas pa-
raproteínas ou componentes monoclonais. Podem 
ser polímeros, monômeros ou fragmentos de mo-
léculas de imunoglobulinas, como cadeias leves 
(proteínas de Bence Jo nes) ou, raramente, cadeias 
pesadas ou meias moléculas; tanto os monômeros 
como os fragmentos podem ser polimerizados. A 
detecção de uma paraproteína no sangue ou urina 
necessita outras investigações para determinar se 
a mesma é benigna ou maligna. Parapro teínemias 
malignas ocorrem no mieloma múltiplo (e plasma-
citoma), macroglobulinemia e outros tumores 
linfóides. A prevalência de paraproteínemia au-
menta com a idade e está ao redor de 3% da p o-
pulação geriátrica. 
Mieloma múltiplo. Cerca de 60% das parapro-
te ínas são devidas ao mieloma múlt iplo (doença 
maligna de plasmócitos basicamente na medula 
óssea) que es tá associado com vár ias c lasses de 
imunoglobulinas, principalmente, a IgG. A maio-
ria dos mielomas produzem moléculas de Ig com-
pletas – geralmente IgA ou IgG – sendo a quant i-
dade produzida muitas vezes proporcional a massa 
do tumor. Quantidades excessivas de fragmentos 
de Ig (cadeias leves ou partes de cadeias pesadas) 
são também produzidas em 85% dos casos, apro-
ximadamente. Dímeros de cadeias leves (44kDa) 
estão, muitas vezes, presentes na urina sendo d e-
nominados proteínas de Bence Jones . No mieloma 
múlt iplo são encontrados: 
§ Sinais clínicos: dor óssea, fatiga, anemia leve, 
infecção, insuficiência renal, hiperviscosidade 
e uma velocidade de hemossedimentação ele-
vada. 
§ Diagnóstico: banda de paraproteínas na eletro-
forese no soro e urina; lesões l í t icas difusas 
no raio X ósseo; biópsia da medula óssea com 
presença de células plasmáticas anormais. 
§ Acompanhamento: hipercalcemia (envolv i-
mento ósseo); creat in ina e uré ia e levadas 
(disfunção tubular e glomerular); b2 -micro -
g lobul ina (níveis elevados indicam um mau 
prognóst ico – depende da renovação das cé-
lulas tumorais e da função renal); hemoglo-
bina reduzida (depressão da medula); redução 
das imunoglobulinas “normais” – não-para -
proteína – o que predispõe à infecção. 
Macroglobulinemia de Waldenström. É uma 
doença clonal de l infócitos plasmocitóides secre-
tores de IgM. Geralmente apresenta um curso mais 
prolongado que o mieloma múltiplo. Há uma pro-
liferação de células que lembram os linfócitos em 
lugar de células plasmáticas. Elas produzem molé-
culas completas de IgM e, muitas vezes, excesso 
de cadeias leves. A elevação do teor de IgM pro -
move o aumento da viscosidade plasmática com 
tendência à trombose. Epistaxe, hemorragias reti-
nianas, confusão mental e insuficiência cardíaca 
conges tiva são manifestações típicas da síndrome 
de h iperviscosidade. O diagnóstico e o acompa-
nhamento da macroglobulinemia são realizados 
pelos s egu in tes t e s tes : 
§ Eletroferese das proteínas no soro e urina. 
Devem ser usadas amostras recém-colhidas 
para evitar erros resultantes da deterioração. 
Uma urina ao acaso é adequada para a d e-
monstração da proteinúria de Bence-Jo nes . 
§ Determinação quantitativa das paraproteínas 
e outras imunoglobul inas no soro. A análise 
destes resultados permite a diferenciação entre 
a hipergamaglobulinemia benigna e maligna. 
§ Imunoeletroforese ou imunofixação de proteí-
nas séricas e urinárias, para determinar o tipo 
de paraproteína. 
§ b2 -Microglobul ina sérica. Para monitorar o 
progresso da doença; n íveis e levados des tas 
proteínas indicam um mau prognóstico. 
82 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações 
 
§ Uréia e creatinina séricas, para avaliar a fu n-
ção renal. 
§ Cálcio, fosfatase alcal ina e ácido ú r ico no 
soro, medidos como índices da extensão do 
envolvimento ósseo e renovação celular, re s -
pectivamente. 
Doença da cadeia pesada (doença de 
Franklin). Compreende um grupo de condições 
raras nas quais os fragmentos de cadeia pesada 
correspondentem a porção Fc das imunoglobulinas 
que são sintet izadas e excretadas na urina. A pro-
dução anormal de cadeias pesadas a e g é a desor-
dem mais comum. 
Paraproteinemia benigna. Pode ser transitória 
ou persistente. As paraproteínas ocorrem transit ó-
riamente durante infecções agudas em doença 
auto-imune devido a estimulação de antígeno. 
Paraproteinemia benigna estável ou persistente 
pode ocorrer em tumores benignos das células B. 
São encontradas no diabetes mellitus, infecções 
crônicas, cirrose e desordens do tecido conjuntivo. 
São caracter ís t icas desta condição: 
§ Concentração de paraproteínas abaixo de 2,0 
g/dL (<1,0 g/dL se a paraproteína for IgA). 
§ Teores normais de albumina sérica e outras 
imunoglo bulinas. 
§ Período maior que cinco anos sem elevação 
nas concentrações das paraprote ínas . 
§ Mais comum em idades avançadas, isto é, a 
prevalência é 2% entre 60-80 anos, 10% entre 
80-90 anos e 20% para >90 anos. 
RESPOSTA DE FASE AGUDA 
É uma al teração não específ ica da s íntese e nos 
níveis plasmáticos de várias proteínas derivadas 
do fígado após danos teciduais ( trauma, infarto, 
malignidade) e infecções. É uma resposta à infla-
mação que promove o aumento nas concentrações 
de algumas prote ínas sangüíneas ou tec iduais . 
 A resposta de fase aguda é mediada pela l ib e-
ração de ci toquinas pelos macrófagos at ivados. 
Em infecções bacterianas isto é induzido pelas 
endoxinas das bactérias. Vários efeitos sistêmicos 
acompanham a inflamação como febre, leucoci-
tose, al terações endócrinas, modificações no 
equilíbrio líquido e eletrolítico e proteólise mus-
cular. 
Proteínas de fase aguda. Este termo é usado 
para denotar todas as proteínas que al teram a sua 
concentração em 25% ou mais no período de uma 
semana após dano tecidual . Entre elas estão: pro -
teína C reativa, a1 -antiquimiotripsina, haptoglo -
b ina, fatores do complemento e fibrinogênio. Al-
gumas destas proteínas são descritas acima. Duas 
outras medidas são empregadas para avaliar o 
es tado de fase aguda: 
§ Velocidade de sedimentação globular . Modi-
ficações na VSG abrangem alterações em vá-
rias proteínas (fibrinogênio, a2 -
macroglobulinas, imunoglobulinas e albumina) 
também, como o número e as características 
das membranas dos eri trócitos. 
§ Medidas d as c i toquinas. Com o estabeleci-
mento do papel das citoquinas, interleucina 1, 
interleucina 6 e o fator de necrose tumoral, 
pelo est ímulo da resposta de fase aguda, foi 
sugerido as suas avaliações em condições i n -
flamatórias. Ainda persistem váriosproblemas 
técnicos na determinação rotineira destes 
componentes . 
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84 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações 
 
DESORDENS NO METABOLISMO DOS AMINOÁCIDOS 
s erros inatos do metabolismo envolvem 
defeitos enzimáticos que interrompem vias 
fisiológicas. Estes impedimentos podem promo-
ver: 
§ Excesso de precursores tóxicos. 
§ Excesso de metabólitos tóxicos. 
§ Deficiência de metabólitos essenciais. 
Em condições normais, o rim reabsorve mais 
de 95% dos aminoácidos filtrados, mas alguma 
modif icação do transportador ou saturação dos 
mecanismos de reabsorção por elevados níveis 
plasmáticos podem provocar aminoacidúrias. 
Muitos distúrbios do metabolismo dos aminoáci-
dos são benignos, enquanto outros es tão associa-
dos ao retardo mental, retardo do crescimento, 
convulsões, nefropatia, cirrose hepática e disfun-
ção de outros órgãos. As aminoacidúrias são de 
dois t ipos principais – excesso de fluxo e renal. 
Excesso de f luxo. São as que acompanham os 
teores plasmáticos elevados de aminoácidos 
quando os túbulos renais são incapazes de reab-
sorver as concentrações elevadas dos aminoácidos 
no fil trado glomerular – ou seja, a capacidade de 
reabsorção máxima tubular renal é excedida. 
Renais. São condições associadas à excreção 
urinária aumentada de um ou mais aminoácidos, 
enquanto a concentração dos aminoácidos pla s -
mático dos mesmos são normais. Estas condiç ões 
tem em comum um defeito no mecanismo de 
transporte tubular renal de um ou mais aminoáci-
d o s . 
HIPERFENILALANINEMIAS 
As hiperfenilalaninemias são um grupo de desor-
dens resultantes do impedimento da conversão de 
fenilalanina à t irosina. Esta via é catalisada pela 
enzima feni lalanina hidroxi lase, encontrada em 
quantidades apreciáveis somente no fígado e rim. 
A feni lcetonúria (PKU) é um erro inato do 
metabolismo causado pela ausência (PKU clás -
s ica, t ipo I) ou deficiência parcial (tipo II) da 
enzima fenilalanina hidroxilase, que converte a 
fenilalanina em tirosina. Na falta desta enzima, a 
fenilalanina acumula no sangue, sendo metaboli-
zada por outra via produzindo catabólitos alterna-
tivos, tais como, ácido fenilpirúvico, ácido feni-
lláctico, ácido fenilacético e o seu conjugado com 
a glutamina, a fenacetilglutamina. Estes metabó-
li tos são rapidamente excretados na urina, resul-
tando em fenilcetonúria. Este distúrbio ocorre com 
uma freqüência de 1 para 10.000 nascimentos, 
apresentando sinais clínicos nas primeiras sema -
nas de vida; cr ianças não-t ra tadas podem desen-
volver retardo mental e redução na expectativa de 
vida. 
 Crianças afetadas apresentam-se normais ao 
nascimento e os primeiros sintomas são gera l-
mente inespecíficos – desenvolvimento retardado, 
dificuldades na alimentação e vômitos, as vezes 
suficientemente severo para sugerir estenose piló-
rica. Os pacientes também tendem a demonstrar 
uma hipopigmentação. Isto ocorre porque a feni-
lalanina é um inibidor competitivo da tirosinase, a 
enzima que inicia a via de produção da melanina. 
Níveis aumentados de fenilalanina também redu-
zem os teores de noradrenalina, mielina e seroto -
nina. Esta condição pode contribuir para os sinto-
mas neurológicos. 
 A pesquisa desta enfermid ade é, geralmente, 
realizada na segunda semana de vida do paciente, 
quando os níveis de fenilalanina estão aumenta-
dos, mas ainda não iniciou o processo de retardo 
mental. O aumento do ácido fenilacético encon-
trado no suor e urina causa um odor murídio (s e-
melhante ao do rato). 
 Outra forma de hiperfenilalaninemia é conhe-
cida como hiper feni la laninemia neonatal t ransi-
ente. Esta desordem é causada pelo retardo na 
maturação hepática do sistema enzimático da fe-
nilalanina hidroxilase. Esta condição não é um 
defeito inerente; os níveis de fenilalanina podem 
atingir 12 mg/dL inicialmente mas, progressiv a-
O 
Aminoácidos e proteínas 85 
 
 
mente, vão declinando até alcançar os valores 
normais. 
TIROSINEMIA E DESORDENS 
RELACIONADAS 
A tirosinemia tem várias formas, todas acompa-
nhadas por tirosinúria e acidúria fenólica. A tiro -
sina é essencial para a s íntese protéica e serve 
como precursora da tiroxina, melanina e cateco-
laminas. A tirosina é proveniente da dieta protéica 
como também da hidroxilação da fenilalanina. 
TIROSINEMIA I (TIROSINOSE) 
A tirosinemia I (tirosinose, tirosinemia hepatorre-
nal) é uma desordem rara (1 para 100.000 nasci-
mentos) caracterizada pela excreção do ácido p -
hidroxifenilpirúvico, quando o paciente es t á sob 
dieta normal e excreção de metabólitos da tirosina 
e pequenas quant idades de ácido 
p-hidróxifenilacético, quando a dieta inclui ex-
ces so de t irosina. Acredita-se ser causada pela 
ativ idade reduzida da enzima ácido fumari laceto-
acetato hidroxi lase como também da ácido p -h i -
droxi feni lpirúvico oxidase (PHPPA oxidase) . A 
perda da atividade enzimática provoca níveis ele-
vados de tirosina no sangue e urina e da metionina 
no sangue. Aumentos nos n íveis sér icos de 
a-fetoproteína estão também associados com esta 
desordem. O dano hepático resulta em insuficiê n-
cia aguda e, em alguns casos mais graves, em 
cirrose. A lesão renal leva à síndrome de Fanconi. 
TIROSINEMIA II 
É uma deficiência da enzima hepática t i rosina 
aminotransferase que catalisa o primeiro estágio 
do catabolismo da t irosina. As carecterist icas clí-
nicas são: lesões oculares (erosão da córnea), 
lesões da pele , das palmas das mãos e solas dos 
pés. Estas lesões oculares e na pele são provavel-
mente secundárias a formação intracelular de 
cristais de tirosina, que induz à inflamação. Ob -
serva-se, ocasionalmente, retardo mental. 
Elevados níveis de t i rosina são encontrados no 
sangue e urina, também como valores aumentados 
de ácidos fenólicos e tiramina na urina. Diferente 
da t i ros inemia I, a metionina plasmática não está 
elevada. No sedimento urin ár io são encontrados 
cristais em forma de agulha. 
TIROSINEMIA NEONATAL TRANSIENTE 
Neste distúrbio os teores de t i rosinemia estão 
elevados em crianças prematuras e nascituras de a 
termo mas com baixo peso; apresentam imaturi-
dade hepática e limitada capacidade de sintetizaras enzimas apropriadas. Com o fígado maduro, a 
tirosina acumulada volta ao normal em 48 sema -
nas . 
CISTINÚRIA 
Esta desordem não é do metabolismo dos aminoá-
cidos, mas de defei to no transporte de cist ina 
pelas células dos túbulos renais e intestino, sendo 
transmitida como uma característica autossômica 
recessiva. Nesta desordem também são excretados 
outros aminoácidos como a lisina, arginina e o r-
nitina, mas o único que cristaliza é a cistina. A 
incidência deste destúrbio está entre 1 para 10.000 
(homozigóticos) e 1 para 20.000 (heterozigóticos) 
nascimentos. 
 A única manifestação clínica da doença – a 
fo rmação de cálculo urinário – inicia quando as 
concentrações urinárias de cistina excedem 30 
mg/dL, o que ocorre durante a infância com inci-
dência máxima na terceira década de vida. Fre -
qüentemente são formados cálculos múltiplos que 
tendem a recorrência depois de removidos. 
 Os cálculos de cis t ina são branco-amarelados e 
muitas vezes são moles mas podem também ser 
densamente granulares. A detectação de cristais de 
cistina (hexagonais) no sedimento urinário pode 
ser indicativo de formação de cálculo de cist ina. 
86 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações 
 
CISTINOSE 
É uma doença de causa desconhecida caracteri-
zada por defeito no processo de transporte através 
das membranas l isossomais com deposição de 
cristais de cistina. Manifestações sistêmicas sérias 
resul tam desta deposição. Os cristais se acumulam 
no fígado, r ins, baço, medula óssea, nódulos l in -
fáticos e córnea do olho. A cist inose ocorre em 
cerca de 1 para 40.000 nascimentos. 
 O tipo nefropático da cistinose surge durante a 
infância. Estas crianças demonstram deficiê ncia 
no crescimento, raquitismo, acidose e aumento da 
excreção renal de potássio, glicose, fosfato e ami-
noácidos. Esta aminoacidúria renal é, muitas v e-
zes, designada como aminoacidúria generalizada 
em razão da perda paralela de outros aminoácidos 
na urin a. Quando exist ir defeito nos túbulos pro-
ximais renais com glicosúria, aminoacidúria, fo s -
fatúria, proteinúria e, as vezes, acidose, a cisti-
nose é conhecida como s índrome de Fanconi . Na 
forma grave há fotofobia e pode resultar em morte 
como resultado da insuficiência renal. 
 Outra forma de cistinose – de início tardio, 
intermediária ou adolescente – não manifesta s in -
tomas até a idade de 18 meses a 17 anos. A lesão é 
menos severa e os pacientes não apresentam sín -
drome de Fanconi . O progresso do dano glomeru-
lar é mais lento que os casos t ípicos nefropáticos. 
 Existe também uma forma benigna ou adulta de 
cistinose, onde se encontram cristais de cistina na 
córnea, leucócitos e medula óssea. Estas pessoas 
não apresentam disfunção renal ou retinopatia. 
SÍNDROME DE HARTNUP 
Nesta condição há aumento na excreção urinária 
de alanina, treonina, glutamina, serina, aspara -
g ina, valina, leucina, isoleucina, fenilalanina, 
t irosina, triptofano, histidina e citrulina, resul-
tando em aminoacidúria renal. A incidência é de 1 
para 18.000 nascimentos. 
 Muitos pacientes com síndrome de Hartnup 
apresentam deficiência de nicotinamida, pois o 
triptofano é convertido em ácido nicotínico e n i-
cotinamida em humanos. O triptofano é pobre-
mente absorvido nestes pacientes e , devido a má 
absorção, a deficiência de nicotinamida torna-se 
manifesta pelo exantema da pelagra que aparece 
no primeira década de vida. Existem manifesta-
ções neurológicas, dor de cabeça, dificuldades em 
concentrar-se, fraqueza dos membros e ataxia. 
 A cistinúria e síndrome de Hartnup produzem 
aminoacidúria por defeitos no transporte tubular 
renal e , portanto, são as vezes designadas como 
aminoacidúrias secundárias. Estas aminoacidúrias 
também podem ser devidas a doenças dos r ins 
(cist inose) onde há disfunção tubular renal gene-
ralizada, doença hepática ou desnutrição. Se, por 
outro lado, as aminoacidúrias são resultantes de 
defeitos enzimáticos das vias onde os aminoácidos 
são metabolizados, elas são designadas como ami-
noacidúrias pr imárias. 
ALCAPTONÚRIA (ACIDÚRIA 
HOMOGENTÍSICA) 
É caracterizada pela excreção urinária do ácido 
homogentísico (ácido diidroxifenilacético) por 
deficiência da enzima homogent isato dioxidase, 
que catal isa a t ransformação do ácido homogentí-
sico em ácido maleil acetoacético. É uma desor-
dem rara com incidência de 1 para 250.000 nasci-
mentos . 
 Em crianças encontram-se o escurecimento da 
urina após exposição ao ar ou à luz do sol ou pela 
adição de álcali. Ela persiste durante a vida ge-
ralmente sem consequências graves e pode não ser 
diagnosticada até a idade madura. O acúmulo de 
polímeros de ácido homogentísico nas células 
causam pigmentação escura nas cart i lagens e no 
tecido conjuntivo além de alterações artrí t icas. 
DOENÇA URINÁRIA EM XAROPE DE 
BORDO 
É assim chamada devido ao odor característ ico 
comunicado à ur ina dessas pessoas pelos a-cetoá-
cidos. Está associada com anormalidades no me -
tabolismo de aminoácidos de cadeias rami ficadas 
como a leucina, isoleucina e valina nos líquid o s 
biológicos. É uma desordem hereditária autos s ô -
Aminoácidos e proteínas 87 
 
 
mica recessiva que envolve defeito da enzima 
l ipoato-oxidorredutase dos a-ce toác idos de c a-
deia ramif icada que catalisa a descaboxilação 
oxidativa de cada um dos t rês a-cetoácidos, lib e-
rando o grupo carboxila como CO2 produzindo o 
derivado acil-CoA. A incidência desta desordem é 
de 1 para 200.000 nascimentos. 
 A doença é tratada por dieta. Quando não d e-
tectada ou não tratada rapidamente, a desordem 
resulta em lesão cerebral severa e morte, que 
ocorre em geral no primeiro ano de vida. Os sin -
tomas incluem vômitos, convulsões, letargia, aci-
dose, falta de apetite e hipoglicemia. 
HOMOCISTINÚRIA 
As homocist inúrias são desordens cara cterizadas 
pela aumento na concentração da homocisteína 
nos tecidos do corpo. A incidência é de 1 para 
200.000 nascimentos. 
 A homocis t inúria clássica é a deficiência ou 
ausência da enzima hepática de cis ta t ionina b-
s intase , que catalisa a formação de cistationina a 
partir da homocistina e serina no metabolismo da 
metionina. O bloqueio causa o acúmulo sangüíneo 
e urinário de metionina, homocisteína e homocis -
tina. Além da metionina, a urina pode conter n í -
veis aumentados de outros aminoácidos contendo 
enxofre. 
 Os sintomas não se manifestam logo após o 
nascimento, mas se desenvolvem com a idade. 
Uma das manifestações mais comuns é o ectopia 
do cristalino. Ocorrem também anormalidades 
esquelét icas como a osteoporose intensa. O re -
tardo mental não é um achado cons is tente . As 
complic ações que podem levar a morte são cardi-
ovascu lares. Estes pacientes tem al terações nas 
plaquetas e tendência para eventos a t romboem-
bólicos. 
ALBINISMO 
O albinismo é o resultado da ausência ou defic i-
ência da enzima t irosinase que converte a tirosina 
em melanina. Foram identificados dois tipos de 
albinismo (defeitos genéticos autossômicos reces-
sivos) dependendo da quantidade de melanina 
produzida. O albinismo do tipo I ocorre com a 
freqüência de 1 para 10.000 nascimentos. Ne -
nhuma melanina é produzida nestes pacientes e os 
olhos, cabelos e pele são afetados. A visão f ica 
bastante comprometida. 
 No tipo II uma pequena quantidade de mela -
n ina é produzida e a visão não é tão afetada 
quanto no t ipo I . O t ipo I e o t ipo II são defei tos 
genét icos recessivos diferentes. A freqüência de 
ocorrência do tipo II é de 1 para 60.000 nasci-
mentos . 
Bibliografia consultada 
EDWARDS, M. A . , GRANT, S . , GREEN, A. A prac t ica l 
approach to the invest igat ion of amino ac id d isorders. 
Ann. Cl in . Biochem. , 25:1 2 9 -41

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