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Autor: Álef Lamark Contato:www.facebook.com/alef.lamark Página 1 INFLUENZA - RESTRIADO ÁLEF LAMARK ALVES BEZERRA EPIDEMIOLOGIA Quanto à epidemiologia, nota-se que a influenza sazonal consiste em um problema permanente, a aviária em um problema atual, e a pandêmica em um problema futuro e incerto1. Os vírus influenza costumam causar epidemias anuais recorrentes, atingindo quase todas as faixas etárias em um curto espaço de tempo. Isso ocorre devido a sua capacidade de adaptação: devido ao genoma viral do vírus Influenza ser fragmentado, possibilita os fenômenos de rearranjo entre os diferentes segmentos de dois ou mais vírus que infectam uma mesma célula. Além disso, há a natureza RNA do genoma (o qual induz altas taxas de mutação durante a fase de replicação). Esses processos comumente resultam no aparecimento de novas variantes virais contra as quais a população ainda não tem imunidade1. A exposição direta a aves infectadas ou às suas fezes, ou a terra ou água contaminada com fezes, poderá resultar numa infecção humana1. SAZONALIDADE Incidência apresenta padrão sazonal em lugares de clima temperado, com picos bem demarcados durante o inverno. Sugere-se que o clima pode influenciar na sobrevida do vírus, na sua eficiência de transmissão e susceptibilidade do hospedeiro1. Nos países de clima tropical embora as epidemias tendam a ocorrer após mudanças de padrões climáticos, elas podem ocorrer em qualquer época do ano1. TRANSMISSÃO Vírus altamente contagioso, transmitido através de gotículas ou contato direto com objetos infectados recentemente por secreções nasofaríngeas1. O paciente é mais infectante durante as primeiras 24 horas anteriores ao início dos sintomas e durante o período mais sintomático1. Período de incubação: 1 a 3 dias1. Enquanto os adultos começam a transmitir o vírus 24 horas antes do início dos sintomas até sete dias após, as crianças começam a transmitir o vírus desde vários dias antes até 10 dias após o início dos sintomas1. IMPACTO EM ADULTOS Os óbitos estão associados à idade, comorbidades e estado vacinal da população1. As epidemias estão associadas a altas taxas de morbidade e mortalidade (em especial nos idosos). A ocorrência sazonal de influenza é expressa por aumento na incidência de doenças respiratórias, pelo aumento do número de hospitalizações associadas à influenza e Autor: Álef Lamark Contato:www.facebook.com/alef.lamark Página 2 pela mortalidade que ocorre neste período epidêmico. As principais doenças são: gripe e pneumonia1. IMPACTO EM CRIANÇAS Crianças abaixo de dois anos apresentam morbidade semelhante a dos grupos de risco1. DESCRIÇÃO DO VÍRUS Família: Orthomyxoviridae. Gênero: Influenzavirus1. São vírus envelopados, com genoma constituído de segmentos de RNA de fita simples e polaridade negativa. Subdividem-se em três tipos (A, B e C), existindo diferenças quanto à organização genética, estrutura proteica, hospedeiro e características clínicas e epidemiológicas (Tabela 1)1. Fonte: ALMEIDA, FJ; BEREZIN, EM; FARHAT, CK; et al. Acesso em 22 de abr. 2014. Os anticorpos neutralizantes concentram-se nas Hemaglutininas (fixa a partícula viral ao receptor celular, ácido siálico, o que permite a fusão entre as membranas viral e celular e consequentemente a penetração de proteínas e genomas virais na célula) e Neuraminidases (tem ação enzimática que cliva o ácido siálico presente nas glicoproteínas e glicolipídeos da superfície celular e Hemaglutininas e Neuraminidases, evitando que as partículas virais neoformadas brotem da célula infectada e se fixe e aglutine na superfície celular, isso permite a disseminação viral em meio extracelular e infecção de novas células). Mutações nos sítios antigênicos da Hemaglutinina e Neuraminidases diminuem ou inibem a ligação de anticorpos neutralizantes o que permite o surgimento e a disseminação de novas cepas virais1. Autor: Álef Lamark Contato:www.facebook.com/alef.lamark Página 3 Ciclo reprodutivo: ocorre a ligação do vírus à superfície da célula hospedeira pela Hemaglutinina com posterior entrada e replicação usando o material celular. Após a formação de novos vírus, eles saem da célula e são eliminados pela Neuraminidase viral, dando continuidade ao ciclo infeccioso1. Variação antigênica menor: acúmulo de mutações pontuais1. Variação antigênica maior: surge um vírus diferente dos vírus circulantes. Ocorre quanto é introduzido na população um vírus de outra espécie animal ou quando ocorre rearranjo genético entre dois vírus de espécies de animais diferentes que co-infectam uma mesma célula1. Classificação e catalogação das cepas de vírus influenza: 1) tipo viral; 2) hospedeiro de origem (suíno, equino, aviário ou humano – quando não especificado); 3) localização geográfica do primeiro isolamento; 4) número laboratorial da cepa (ordem cronológica na qual a cepa foi isolada em determinada localidade); 5) ano de isolamento. Ademais, para os vírus influenza tipo A, os subtipos Hemagluntinina e Neuraminidase são discriminados entre parênteses. Assim, a cepa A/Sydney/5/97 (H3N2) é uma variante tipo A, de origem humana, isolada na cidade de Sydney em 1997, com antígenos de superfície H3 e N21. QUADRO CLÍNICO CRIANÇAS E ADOLESCENTES Em crianças, desde uma forma subclínica até uma complicada, além das infecções respiratórias clássicas podem ocorrer formas atípicas1. Nos primeiros meses de vida pode ocorrer um quadro de bronquiolite, laringite e até um quadro semelhante ao de sepse bacteriana. Após os primeiros meses de vida há uma pequena taxa de crianças que têm infecção assintomática, entretanto a maioria dos menores de cinco anos apresenta febre e sinais de infecção de vias aéreas superiores com ou sem envolvimento do trato respiratório inferior1. Em menores de dois anos, o quadro é grave devido à falta de imunidade e do pequeno calibre das vias aéreas1. Sintomas gastrointestinais podem ocorrer: vômitos, dor abdominal, diarreia. A frequência é maior em crianças1. Crianças maiores e adultos jovens geralmente tem quadro com início abrupto, febre alta, cefaleia, dor de garganta, mialgia, fadiga, anorexia e tosse seca1. Autor: Álef Lamark Contato:www.facebook.com/alef.lamark Página 4 Fonte: ALMEIDA, FJ; BEREZIN, EM; FARHAT, CK; et al. Acesso em 22 de abr. 2014. Sintomas: febre, tosse e rinorréia1. Crianças menores de seis meses têm maior probabilidade de apresentar rinorréia1. Crianças entre 6 e 24 meses têm maior probabilidade de hospitalização por chiado e otite média1. Conclui-se que a sazonalidade (período de circulação viral) e a tríade de sintomas (febre, tosse e rinorréia) são pontos-chaves para o diagnóstico de influenza em crianças1. ADULTOS A influenza é uma doença respiratória que provoca febre, tosse, dor de garganta, dores no corpo e mal estar2. Síndrome gripal clássica: início abrupto dos sintomas, febre alta, calafrios, cefaleia, mialgia, fadiga e anorexia. Além desses sintomas, o paciente pode apresentar artralgia, desconforto ocular, lacrimejamento, ardor, fotofobia. Os sintomas sistêmicos duram em média quatro dias, persistindo por até sete dias os sintomas respiratórios: tosse seca, dor de garganta, congestão nasal, rinorréia1. Autor: Álef Lamark Contato:www.facebook.com/alef.lamark Página 5 Conclui-se que a sazonalidade (período de circulação viral) e o quadro de início súbito, com febre alta acompanhado de dor muscular e/ou tosse e/ou fadiga são pontos-chaves para o diagnóstico de influenza em adultos1. COMPLICAÇÕES Predisposição a: otite média aguda, sinusite e pneumonia (viral primária e bacteriana)1,2. Exacerbação de doença de base1. Complicação: laringite, miocardite, encefalite, encefalopatia, mielite transversa, síndrome de Guillain-Barré, convulsões febris, miosite1. DIAGNÓSTICO CLÍNICO Idosos: tosse,febre > 38ºC, doença com duração até sete dias1. Faz-se importante o conhecimento quanto a sazonalidade1. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Tipos: cultura viral, testes sorológicos, detecção de antígenos virais e reação de cadeia de polimerase1. Faz-se importante para medidas de controle da infecção e para limitar o uso indiscriminado de antibióticos1. As amostras de secreção nasofaríngea, obtidas por swab ou aspirado nasal devem ser obtidas preferencialmente durante as primeiras 72 horas de doença, uma vez que a quantidade eliminada de vírus diminui após este período. Embora a cultura viral seja considerada um padrão-ouro para o diagnóstico, é um método demorado, com limitação na prática diária. Os testes sorológicos também não possuem tanta utilidade na prática clínica, uma vez que requerem duas amostras com intervalo de 15 a 21 dias1. A detecção de antígenos pode ser feita por ensaio imunoenzimático (ELISA) ou imunofluorescência. A vantagem desses métodos é que permitem o diagnóstico rápido, com sensibilidade e especificidade elevada, embora ainda menor do que a cultura1. Concluindo: o diagnóstico da influenza pode ser baseado no seguinte tripé: epidemiologia (vírus em circulação na comunidade), quadro clínico (início súbito, febre, tosse e comprometimento sistêmico) e testes laboratorias1. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL COM OUTRAS VIROSES Vírus que causam resfriado: adenovírus, coxsackievírus, echovírus, paramyxovírus, vírus respiratório sincicial, metapneumovírus, coronavírus e enterovírus1. Tabela 3 – Diferenças entre influenza e resfriado comum Sintomas Influenza Resfriado comum Autor: Álef Lamark Contato:www.facebook.com/alef.lamark Página 6 Ocorrência Sazonal: outono, inverno Ano todo Início Súbito Gradual Febre Geralmente alta, 3 a 4 dias Incomum Cefaléia Intensa Incomum Fadiga Dura de 2 a 3 semanas Leve Dores Frequente e intensa Leve ou inexistente Exaustão Precoce e intensa Não Obstrução nasal Às vezes Muito comum Dor de garganta Às vezes Comum Tosse Sim Incomum Dor no peito Comum Leve Complicações Pneumonia Sinusite Fonte: ALMEIDA, FJ; BEREZIN, EM; FARHAT, CK; et al. Acesso em 22 de abr. 2014. Concluindo: influenza (sazonalidade e quadro de início súbito, com febre alta acompanhada de dor muscular e/ou tosse e/ou fadiga); resfriado (ocorre o ano todo, com quadro clínico de início lento, acompanhado de dor de garganta, espirros, coriza)1. VACINA CONTRA INFLUENZA Principal medida para a profilaxia da doença e redução da morbimortalidade. As vacinas inativas contra influenza podem ser aplicada a partir dos seis meses de idade, são imunogênicas e apresentam efeitos adversos mínimos. Elas são alteradas anualmente e cada uma contém três cepas de vírus (uma influenza A H3N2, uma influenza A H1N1 e uma influenza B)1. Recomendações para imunização segundo a CDC (2007-2008): reduzir o risco de ter ou transmitir influenza, crianças, pessoas com mais de 50 anos de idade, mulheres que estarão grávidas na estação da influenza, crianças e adolescentes com idade de 6 a 18 anos que estão recebendo tratamento prolongado com ácido acetil salicílico (risco para síndrome de Reye), doença de base (exceto hipertensão arterial), imunossupressão, condições clínicas que podem comprometer o sistema respiratório, residentes em instituições como asilos para idosos, profissionais de saúde, contactantes domiciliares e cuidadores de crianças menores de 5 anos e de adultos acima de 50 anos, contactantes domiciliares e cuidadores de indivíduos com condições médicas de risco para complicações graves por influenza1. No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda e distribui a vacina gratuitamente para: pessoas acima de 60 anos, indivíduos que estão recebendo tratamento prolongado com ácido acetil salicílico (risco para síndrome de Reye), indivíduos com doença pulmonar crônica ou cardiopatia crônica ou asplenia anatômica ou funcional ou diabetes mellitus ou doenças de depósito ou doenças neurológicas ou hepatopatia crônica de qualquer etiologia ou imunossupressão, comunicantes domiciliares de imunodeprimidos, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea, doadores de órgãos sólidos ou medula óssea, indivíduos com nefropatia crônica ou síndrome nefrótica, profissionais de saúde e indivíduos com trissomia1,2. Autor: Álef Lamark Contato:www.facebook.com/alef.lamark Página 7 TRATAMENTO E PROFILAXIA Grande parte pode ser tratado apenas com sintomáticos, sem a necessidade de intervenção específica. Porém, os pacientes de risco (idosos, crianças < 5 anos, portadores de pneumopatias crônicas, hemoglobinopatias, neoplasias, diabetes mellitus, insuficiências renal crônica, cardiopatia congênita) necessitam de terapia antiviral1. Antirretrovirais: inibidores dos canais de íon Proteína Matriz 2 (rimantadina e amantadina); inibidores da Neuraminidase (oseltamivir e zanamivir)1. Inibidores dos canais de íon Proteína Matriz 2: inibem a Proteína Matriz 2 (necessária para a liberação do material genético viral dentro das células). São ativos apenas contra a influenza A, visto que a influenza B não apresenta a Proteína Matriz 2. Podem ser administrados em crianças acima de 1 ano de idade. Limitantes: desenvolvimento de resistência e efeitos adversos (manifestações gastrointestinais e do sistema nervoso central: náusea, insônia, ansiedade, nervosismo, irritabilidade, cefaleia, fadiga, boca seca, diarreia)1. Inibidores da Neuraminidase: inibem a Neuraminidase (indispensável para a liberação dos vírus recém formados das células infectadas) que é presente nos vírus de influenza A e B. Também são ativos contra o vírus aviário. Oseltamivir (oral) é aprovado para tratamento e profilaxia de crianças acima de 1 ano de idade; requer redução da dosagem em paciente com baixo clearence de creatinina; pode causar intolerância gastrointestinal por menos de um dia. Zanamivir (aerossol) é aprovado para tratamento acima de 7 anos e profilaxia acima de 5 anos de idade; contraindicado em pacientes com doença respiratória de base1. São consideradas alto risco: crianças entre 6 e 24 meses; crianças com doença pulmonar crônica, cardiopatia com repercussão hemodinâmica, imunodepressão, infecção pelo HIV, hemoglobinopatia, uso crônico de ácido acetil salicílico, doença renal crônica, doença metabólica crônica, doença neurológica que comprometa a mobilização da secreção respiratória1. Profilaxia por medidas gerais: higienizar as mãos, utilizar lenço descartável para higiene nasal, cobrir nariz e boca quando tossir ou espirrar, evitar tocar mucosas, boca e nariz; não partilhar alimentos, copos, tolhas e objetos de uso pessoal; evitar aperto de mãos, abraços e beijo social; reduzir contatos sociais desnecessários; evitar visitas a hospitais, ventilar ambientes2. REFERÊNCIAS 1. ALMEIDA, FJ; BEREZIN, EN; FARHAT, CK; et al.Consenso para o Tratamento e Profilaxia da Influenza (Gripe) no Brasil. Sociedade Brasileira de Pediatria. Disponível em: <http://www.sbp.com.br/PDFs/conseso_influenza.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2014. 2. BRASIL. Secretaria Estadual de Saúde. Governo do Estado Rio Grande do Sul. Informações sobre a gripe. Disponível em: <http://www.saude.rs.gov.br/lista/459/Informa%C3%A7%C3%B5es_sobre_a_gripe_A>. Acesso em: 23 abr. 2014. Autor: Álef Lamark Contato:www.facebook.com/alef.lamark Página 8
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