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A PEC N. 287 16 E O SERVIDOR PÚBLICO.pdf

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A PEC n.º 287/16 E O SERVIDOR PÚBLICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bruno Sá Freire Martins, servidor público efetivo do 
Estado de Mato Grosso; advogado; pós-graduado 
em Direito Público e em Direito Previdenciário; 
professor da LacConcursos e de pós-graduação na 
Universidade Federal de Mato Grosso, no ICAP – 
Instituto de Capacitação e Pós-graduação (Mato 
Grosso), no Instituto Infoc - Instituto Nacional de 
Formação Continuada (São Paulo), no Complexo 
Educacional Damásio de Jesus - curso de Regime 
Próprio de Previdência Social (São Paulo); fundador 
do site Previdência do Servidor 
(www.previdenciadoservidor.com.br); Presidente da 
Comissão de Regime Próprio de Previdência Social 
do Instituto dos Advogados Previdenciários – 
Conselho Federal (IAPE); membro do Cômite 
Técnico da Revista SÍNTESE Administração de 
Pessoal e Previdência do Agente Público, 
publicação do Grupo IOB; escreve todas as terças-
feiras para a Coluna Previdência do Servidor no 
Jornal Jurid Digital (ISSN 1980-4288) endereço 
www.jornaljurid.com.br/colunas/previdencia-do-
servidor, autor dos livros DIREITO 
CONSTITUCIONAL PREVIDENCIÁRIO DO 
SERVIDOR PÚBLICO, A PENSÃO POR MORTE e 
REGIME PRÓPRIO – IMPACTOS DA MP n.º 664/14 
ASPECTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS e MANUAL 
PRÁTICO DAS APOSENTADORIAS DO SERVIDOR 
PÚBLICO todos da editora LTr e de diversos artigos 
nas áreas de Direito Previdenciário e Direito 
Administrativo. 
REFORMA PREVIDENCIÁRIA, QUE REFORMA? 
 
 
 O Governo Federal finalmente apresentou ao Congresso Nacional 
a proposta para reformar o sistema previdenciário brasileiro, texto que atingiu 
diretamente os segurados do INSS e os servidores públicos, com modificações 
significativas, mas limitadas, em sua grande maioria, à concessão de 
benefícios. 
 
 Daí, afirmar-se de cara que deixou a desejar, já que de fato não 
promoveu uma reforma do sistema previdenciário, limitando-se a, 
implicitamente, dizer que a culpa pelos déficits correntes é do servidor público. 
 
 E para piorar sem qualquer perspectiva de melhora do quadro 
atual das finanças públicas brasileiras. 
 
 A palavra reforma tem como significado dar nova forma, 
reorganizar, renovar ou melhorar. 
 
 Em uma primeira análise do texto apresentado, é possível afirmar 
que nada disso ocorreu, por isso que afirmamos aqui que não há proposta de 
reforma, mas apenas uma adequação constitucional. 
 
 Isso porque, a questão que envolve a concessão de benefícios ao 
servidor, única afetada, conforme já dito, não foi melhorada, em verdade, 
houveram mudanças significativas que tendem a cada vez mais afastar as 
pessoas do serviço público. 
 
 Nesse ponto, um parêntese, para, já adiantando artigos futuros, 
afirmar que o cidadão que escolher o serviço público como primeiro e único 
emprego, não se aposentará com menos de 67 (sessenta e sete) anos de 
idade, caso deseje receber 100% (cem por cento) dos proventos a que terá 
direito. 
 
 É isso mesmo que você leu. 
 
 Tudo porque como a idade mínima para ingresso no serviço 
público, em regra, é de 18 (dezoito) anos, se somarmos 49 (quarenta e nove) 
anos de contribuição à 18 teremos 67 anos, idade que o servidor terá quando 
completar o tempo mínimo para a nova aposentadoria integral. 
 
 Não bastasse isso, os servidores que ingressarem após a 
promulgação da Emenda e a instituição obrigatória dos regimes de previdência 
complementar pelos Entes Federados, terão seus proventos limitados ao teto 
do INSS, valor esse que hoje supera, um pouco, a casa de R$ 5.000 (cinco mil 
reais). 
 
 Considerando que o servidor público não tem FGTS, não tem 
possibilidade de sua remuneração ser definida de acordo com a sua 
competência individual, já que é a Lei quem fixa a remuneração do cargo 
ocupado e as gratificações de produtividade, quando existem, não são 
incorporadas à aposentadoria e que no momento de sua inativação ele é 
obrigado a deixar o cargo. 
 
 A pergunta que fica é: Qual o motivo que me levará a ser servidor 
público? 
 
 Até porque diferentemente do que ocorre no Regime Geral, não 
se fala em alíquotas de contribuição previdenciária progressivas de acordo com 
a capacidade contributiva de cada servidor. Pelo contrário, mantém-se a 
obirgatoriedade de aplicação do percentual dos servidores federais para os 
estaduais e municipais. 
 
 Com certeza, aqueles que tem melhores perspectivas no mercado 
não terão a menor dúvida em optar por continuar na iniciativa privada e o 
serviço público padecerá cada vez mais. 
 
 De outra monta, a dita reforma que, como afirmado, nada mais fez 
do que atualizar as regras constitucionais de concessão do benefício, sequer 
refresca a situação atual dos Regimes Próprios. 
 
 A imprensa tem noticiado diariamente que os Estados encontram-
se em situação financeira complicada, beirando o caos, sendo que alguns já o 
atingiram, razão pela qual clamam por medidas que possam aumentar suas 
receitas e reduzir suas despesas, principalmente, as decorrentes do 
pagamento de pessoal. 
 
 Ao apresentar os termos da reforma, o Governo Federal afirmou 
que as medidas propostas proporcionarão uma economia de 60 bilhões de 
reais em 10 (dez) anos, mas não deixaram claro quanto disso se refere aos 
Estados. 
 
 É preciso lembrar que a menção à economia refere-se apenas à 
redução do crescimento da despesa, não atingindo os valores atualmente 
gastos, ou seja, o atual cenário, em tese, não muda. 
 
 Em verdade os custos previdenciários de Estados e Municípios 
vão aumentar, pois com o anúncio e o envio da proposta, os servidores que já 
tem direito à inativação pelas regras atuais vão iniciar uma corrida desenfreada 
às Unidades Gestoras com o objetivo de se aposentar, mesmo não podendo 
ser afetados pelas novas regras em razão do direito adquirido. 
 
 Isso é normal, decorre do fantasma da mudança, mas faz com 
que um gasto que só ocorreria nos próximos anos, venha a ser antecipado 
para hoje. 
 
 A tendência, então, é que os gastos públicos aumentem, mas a 
proposta ignora tudo isso e não traz qualquer item inovador relacionado à 
gestão previdenciária a não ser a previsão de criação de Lei de 
Responsabilidade Previdenciária. 
 
 Portanto, nada há de novo em termos de gestão previdenciária e 
muito menos no que tange a redução imediata do custo dos benefícios ou 
mesmo a implementação de novas receitas. 
 
 A conclusão óbvia a que se chega é a de que essa "REFORMA" é 
mais ou menos como o marido que chega em casa e fala pra esposa que vai 
reformar a casa e pede pra ela viajar, no seu retorno ela encontra as mesmas 
rachaduras, vazamentos e entulhos, mas se depara com outros móveis, de 
fato, só que usados e mais velhos dos que os que possuía. 
 
 Por isso, reiteramos que não houve reforma mas sim uma 
atualização das normas constitucionais de concessão de benefício. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A READAPTAÇÃO E A PROPOSTA DE REFORMA 
 
 
 Uma as primeiras modificações no texto constitucional constante 
da Proposta de Emenda Constitucional n.° 287/16 foi a constitucionalização do 
conceito de readaptação e a promoção de alguns alterações em seu teor. 
 
 Para tanto foi inserido o § 13 no artigo 37 com a seguinte 
redação: 
 
§ 13. O servidor titular de cargo efetivo poderá ser readaptado ao exercício de cargo 
cujas atribuições e responsabilidades sejam compatíveis com a limitação que tenha 
sofrido em sua capacidade física ou mental, mediante perícia em saúde, enquanto 
permanecer nesta condição, respeitados a habilitação e o nível de escolaridade exigidos 
para o exercício do cargo de destino e mantida a remuneração do cargo de origem. 
 
 A redapatação até então se constitui em instituto jurídico 
consideradocomo uma forma de provimento dos cargos públicos e nessa 
condição não se inclui dentre as matérias de natureza preponderantemente 
constitucionais, motivo pelo qual sua inserção no mesmo não encontra 
fundamento de validade em nosso ordenamento. 
 
 Isso porque, as constituições têm por objeto estabelecer a 
estrutura do Estado, a organização de seus órgãos, o modo de aquisição do 
poder e a forma de seu exercício, limites de sua atuação, assegurar os direitos 
e garantias dos indivíduos, fixar o regime político e disciplinar os fins sócio-
econômicos do Estado, bem como os fundamentos dos direitos econômicos, 
sociais e culturais.1 
 
 Além da inexistência de natureza constitucional, a proposta de 
novo conceito de readaptação conta com outras afrontas ao próprio Texto 
Magno, as quais, inclusive, ensejam o reconhecimento de sua contrariedade à 
Carta Maior. 
 
 Inicialmente, é preciso destacar que, diferentemente do que a 
maioria da doutrina apregoa, a readaptação não pode ser considerada como 
uma forma de provimento de cargo público de natureza definitiva, já que a 
investidura em cargos, pressupõe a aprovação em concurso público, salvo 
quando o mesmo integra uma estrutura de carreira a ser galgada com base em 
critérios promocionais ou de progressão. 
 
 Portanto, a readaptação pode, no máximo, ser considerada como 
uma investidura temporária, ou seja, em algum momento, o servidor deve 
retornar a seu cargo originário, ainda que seja no momento da aposentadoria. 
 
 Então, a proposta de mudança ao estabelecer que a readaptação 
se dará para o exercício de cargo, permite que o servidor seja investido em 
cargo público para o qual não prestou concurso público. 
 
1
 SILVA, José Afonso da. CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL POSITIVO. 20ª edição, editora Malheiros, 
página 43. 
 
 Investidura essa que, ao se analisar a proposta de alteração feita 
para a aposentadoria por invalidez, conclui-se que a mesma passará a ter 
natureza permanente, uma vez que na redação que regulará o dito benefício 
propõe-se que a inativação por incapacidade se dê no cargo em que o servidor 
estiver investido (texto constante da proposta de nova redação do inciso I do § 
1° do artigo 40). 
 
 O Supremo Tribunal Federal foi categórico ao afirmar que: 
 
Súmula Vinculante 43 
É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, 
sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que 
não integra a carreira na qual anteriormente investido. 
 
 Assim, é possível concluir que o novo instituto da readptação, na 
forma proposta, implicará em investidura permanente de servidor público em 
cargo para o qual não prestou concurso público. 
 
 E ao afrontar as normas relacionadas ao concurso público o 
dispositivo também contraria o teor do princípio da igualdade, insculpido no 
artigo 5° da Carta Magna. 
 
 Isso porque, o concurso é o meio técnico posto à disposição da 
Administração Pública para obter-se moralidade, eficiência e aperfeiçoamento 
do serviço público e, ao mesmo tempo, propiciar igual oportunidade a todos os 
interessados que atendam aos requisitos da lei, fixados de acordo com a 
natureza e a complexidade do cargo ou emprego, consoante determina o art. 
37, II, da CF.2 
 
 O § 4°, inciso IV do artigo 40 da Constituição Federal é cristalino 
ao vedar a edição que qualquer proposta que reduza direitos e garantias 
fundamentais, elevando-os a condições de cláusula pétrea, tendo o Supremo 
Tribunal Federal já se posicionado que tal vedação atinge também as 
propostas de Emenda ao texto maior. 
 
 Daí poder-se afirmar que a forma pela qual seu texto encontra 
redigido encontra-se eivado de inconstitucionalidade ante à ofensa ao princípio 
da igualdade. 
 
 Além disso, em sede de Administração Pública, os cargos 
públicos ao serem criados exigem a edição de lei que preveja suas atribuições 
e remuneração, por isso afirma-se que o cargo, ao ser criado, já pressupõe as 
funções que lhe são atribuídas. Não pode ser instituído cargo com funções 
aleatórias ou indefinidas: é a prévia indicação das funções que confere garantia 
ao servidor e ao Poder Público.3 
 
2
 MEIRELLES, Hely Lopes. DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO. 26ª edição, editora Malheiros, páginas 
403 e 404. 
3
 CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 26ª edição, editora Atlas, 
página 612. 
 
 Motivos pelos quais sua ocorrência exige o cumprimento de uma 
série de requisitos, cuja melhor representação ainda se encontra no artigo 24 
da Lei n.° 8.112/90, cujo teor merece reprodução: 
 
 Art. 24. Readaptação é a investidura do servidor em cargo de atribuições e 
responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade 
física ou mental verificada em inspeção médica. 
§ 1
o
 Se julgado incapaz para o serviço público, o readaptando será aposentado. 
§ 2
o
 A readaptação será efetivada em cargo de atribuições afins, respeitada a 
habilitação exigida, nível de escolaridade e equivalência de vencimentos e, na hipótese 
de inexistência de cargo vago, o servidor exercerá suas atribuições como excedente, até 
a ocorrência de vaga. 
 
 Podendo-se, assim, afirmar que sua concretização pressupõe a 
ocorrência de 4 (quatro) requisitos consistentes em: 
 
a) compatibilidade com a limitação da saúde. 
b) cargo de atribuições afins. 
c) respeito à habilitação exigida e ao nível de escolaridade. 
d) equivalência de remunerações. 
 
 Os três últimos requisitos não estão ligados à questão de saúde 
ou mesmo à capacidade laboral do servidor, mas estão diretamente 
relacionados às limitações atinentes ao provimento de cargos públicos, 
objetivando respeitar a regra de prévia aprovação em concurso público para 
seu provimento. 
 
 E analisando a redação proposta para o novo § 13 do artigo 37, é 
possível observar que a equivalência remunerações não se encontra 
contemplada na mesma, já que se prevê que deve ser mantida a remuneração 
do cargo de origem. 
 
 Equivalente segundo Aurélio4 significa de igual valor, aquilo que 
equivale. 
 
 A exigência de equivalência remuneratória, hoje prevista na Lei, 
encontra contornos no texto constitucional à medida que essa pressupõe, 
conforme já dito, a aprovação em concurso público para a investidura em cargo 
público (art. 37, II, CF) e o cumprimento das exigências legais para tanto (art. 
37, I, CF). 
 
 Razão pela qual é sempre bom lembrar que cargo público é o 
lugar instituído na organização do serviço público, com denominação própria, 
atribuições e responsabilidades específicas e estipêndio correspondente, para 
ser provido e exercido por um titular, na forma estabelecida em Lei.5 
 
 
4
 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. MINI AURÉLIO – O DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, 6ª 
edição, editora Positivo. 
5
 MEIRELLES, Hely Lopes. DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO. 26ª edição, editora Malheiros, página 
387. 
 Ou seja, o provimento do cargo público deve respeitar as 
imposições legalmente estabelecidas para o mesmo, dentre as quais figura a 
retribuição pecuniária, não se admitindo, portanto, que o servidor receba 
remuneração diversa daquela prevista em Lei pelo exercício do cargo público. 
 
 Entretanto, com a proposta, a Administração Pública, estará 
autorizada à promover a readaptação do servidor para o exercício de cargo 
cuja remuneração seja diversa daquela por ele recebida originariamente, 
podendo ser maior ou menor. 
 
 Em uma primeira análise, pode-se afirmar que não há qualquer 
problema constitucional nesse aspecto, pelo fato de estar sendo observado o 
princípio da irredutibilidade da remuneração do servidor,já que se impõe a 
manutenção dos valores recebidos no cargo anterior. 
 
 Ocorre que, conforme já dito, essa nova readaptação implica em 
uma investidura permanente no novo cargo e em assim sendo teremos um 
servidor que estará no exercício de um cargo e recebendo remuneração 
diversa da estabelecida em Lei para o mesmo. 
 
 Situação essa que afronta o princípio da legalidade lançado no 
caput do artigo 37 da Constituição. 
 
 Assim, o novo conceito de readaptação proposto, no mínimo, 
acarretará um conflito entre normas constitucionais, consistentes na investidura 
em cargo público sem o devido concurso público e a inobservância do princípio 
da legalidade por parte da Administração Pública. 
 
 Ao se deparar com um conflito entre normas constitucionais, há 
de se reconhecer a preponderância daquele que mais se adequa à unidade da 
Constituição. 
 
 Esse princípio postula que não se considere uma norma da 
Constituição fora do sistema em que se integra; dessa forma, evitam-se 
contradições entre as normas constitucionais. As soluções dos problemas 
constitucionais devem estar em consonância com as deliberações elementares 
do constituinte. Vale aqui, o magistério de Eros Grau, que insiste em que ‘não 
se interpreta o direito em tiras, aos pedações’, acrescentando que ‘a 
interpretação do direito se realiza não como mero exercício de leitura de textos 
normativos, para o que bastaria ao intérprete ser alfabetizado’. Essse princípio 
concita o intérprete a encontrar soluções que harmonizem tensões existentes 
entre as várias normas constitucionais, considerando a Constituição como um 
todo unitário.6 
 
 Assim, é possível concluir que, dentro de um contexto 
constitucional onde a observância de concurso público para a investidura em 
cargo público e a do princípio da legalidade por parte da Administração Pública 
se constituem em imposições constitucionais que não admitem qualquer tipo de 
 
6
 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet e MENDES, Gilmar Ferreira. CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL. 10ª 
edição, editora Saraiva, página 94. 
flexibilização, há de se reconhecer que a proposta confronta o princípio da 
unidade da Constituição e nessa condição deve ser tida como contrária ao 
Texto Magno. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O QUE SERÁ DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ? 
 
 
 Na proposta de reforma das regras previdenciárias, apresentada 
pelo Governo Federal, uma das principais modificações encontra-se na 
inativação por incapacidade laboral. 
 
 Benefício que, em sendo o texto aprovado na forma apresentada, 
ganhará novos contornos e alguns aspectos até então inéditos, para situações 
dessa natureza, em que pese as mesmas afrontarem uma série de regras 
constitucionais relacionadas ao servidor público e ainda caminharem na 
contramão do que se busca em termos de proteção da saúde do trabalhador. 
 
 Para que a proposta possa ser analisada com a relevância que a 
aposentadoria por invalidez merece é preciso lembrar que o benefício 
pressupõe a incapacidade laboral permanente para o exercício de atividades 
laborais, consistindo, portanto, em um benefício sob condição, consistente essa 
na impossibilidade de laborar. 
 
 Então para que seja reconhecido o direito à aposentadoria por 
invalidez no âmbito do RPPS faz-se necessário que esteja presente a 
incapacidade laboral permanente para o exercício das atribuições do cargo 
ocupado pelo servidor e as de outro que sejam compatíveis com as daquele 
para o qual ele prestou concurso público7, sob pena de ocorrer desvio de 
função, situação que implica na investidura do servidor, em cargo público, sem 
o devido respeito às regras atinentes ao concurso público. 
 
 Partindo desses pressupostos é possível fazer uma análise do 
texto proposto e das alterações que ocorrerão caso o mesmo venha a ser 
aprovado. 
 
1) Requisito: 
 A nova redação proposta para o inciso I do § 1º do artigo 40 é a 
seguinte: 
 
I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em que estiver investido, 
quando insuscetível de readaptação; 
 
 A primeira mudança deverá ocorrer no nome pelo qual o benefício 
é conhecido, já que na atual redação constitucional a expressão utilizada é 
aposentadoria por invalidez permanente enquanto que agora se fala em 
aposentadoria por incapacidade permanente. 
 
 Em outras ocasiões já tivemos a oportunidade de ressaltar que de 
fato a expressão permanente se refere à incapacidade e não à invalidez que, 
em verdade, é conseqüência da primeira, posicionamento também defendido 
por grande parte da doutrina. 
 
7
 MARTINS, Bruno Sá Freire e AGOSTINHO, Theodoro Vicente. MANUAL PRÁTICO DAS APOSENTADORIAS 
DO SERVIDOR PÚBLICO, 2ª edição, editora LTr, página 32. 
 
 Agora, aparentemente, haverá a correção dessa impropriedade 
conceitual, o que certamente, como afirmou-se acima, implicará na modificação 
da nomenclatura do benefício junto aos servidores. 
 
 Ocorre que essa modificação é muito mais profunda do que 
apenas e tão somente um ajuste de conceito, pois ao se analisar o novo 
dispositivo verifica-se que o intento é transferir para o âmbito do Regime 
Próprio a mesma regra existente no Regime Geral para a aferição da 
incapacidade laboral. 
 
 Isto porque, hoje, conforme já dito, a aposentadoria por invalidez, 
pressupõe a incapacidade laboral para o exercício das atribuições do cargo 
ocupado pelo servidor ou de outro com ele compatível. 
 
 E ao se exigir a incapacidade para o trabalho, conforme se 
pretende, não haverá mais a análise de compatibilidade entre o cargo para o 
qual o servidor fez concurso e a possibilidade de exercer outra atividade. 
 
 O verdadeiro intuito da nova regra é permitir que a aposentadoria 
por invalidez somente ocorra quando não houver possibilidade de exercer 
qualquer trabalho. 
 
 Explico: imagine-se um professor do ensino fundamental que está 
incapaz de continuar lecionando, contudo seus problemas de saúde não o 
impedem de exercer o comércio, nesse caso, pela análise do dispositivo, a 
aposentadoria por invalidez será indeferida, já que ele não está incapaz para o 
trabalho. 
 
 Prática comum em sede de Regime Geral, onde se pressupõe 
que ao se aposentar por invalidez, o segurado deverá afastar-se de toda e 
qualquer atividade remunerada, sob pena de cassação da aposentadoria, já 
que o evento determinante (incapacidade permanente para o trabalho) não 
existiria.8 
 
 Ou seja, lá, para a aposentadoria por invalidez é necessário que 
não haja mais capacidade de labor para qualquer atividade e não só para as 
inerentes ou compatíveis com a função exercida pelo segurado. 
 
 Essa previsão, fez surgir o conceito de invalidez sócio-econômica 
segundo o qual mesmo havendo capacidade para o labor em atividade diversa 
daquela que é a sua profissão, há de se reconhecer o direito do segurado à 
inativação, ante à impossibilidade de lhe impor um sacrifício maior para esse 
retorno. 
 
 Nesse sentido: 
 
 
8
 IBRAHIM, Fábio Zambitte. CURSO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO, 22ª edição, editora Impetus, página 
592. 
PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. SUPOSTA VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO 
CPC. NÃO OCORRÊNCIA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. REQUISITOS. ART. 
42 DA LEI 8213/91. INCAPACIDADE PARCIAL ATESTADA EM LAUDO PERICIAL. NÃO 
VINCULAÇÃO. ASPECTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS DO SEGURADO. 
REVISÃO DAS PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 
1. Verifica-se não ter sido demonstrada ofensa ao artigo 535 do CPC, na medida em que 
o Tribunal de origem dirimiu, fundamentadamente, as questões que lhe foram 
submetidas, apreciando integralmente a controvérsiaposta nos presentes autos. 
2. A aposentadoria por invalidez, nos termos do art. 42 da Lei n. 8.213/91, é devida ao 
segurado que for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de 
atividade que lhe garanta a subsistência. 
3. Assim, ainda que o laudo pericial tenha concluído pela incapacidade parcial para o 
trabalho, pode o magistrado considerar outros aspectos relevantes, tais como, a 
condição sócio-econômica, profissional e cultural do segurado, para a concessão da 
aposentadoria por invalidez. Precedentes. 
4. No caso dos autos, o juízo de origem, ao examinar o contexto fático-probatório dos 
autos, concluiu que ficou demonstrada a incapacidade do segurado, de forma que o 
exame da controvérsia, tal como apresentada no especial, esbarra no óbice da Súmula 
7/STJ ("A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial"). 
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
9
 
 
 Conceito que se alicerça no princípio da dignidade humana. 
 
 Portanto a nova redação proposta para o Regime Próprio 
certamente ensejará essa discussão também nos benefícios que vierem a ser 
concedidos pelos Entes Federados, já que a negativa tomará por base o 
conceito adotado pelo Regime Geral sem considerar os aspectos que 
envolvem o exercício profissional. 
 
 Ou seja, haverá negativa de benefício baseado no fato de que o 
servidor não pode mais exercer as atribuições de seu cargo, mas possui 
condições de atuar na iniciativa privada e atividade diversa, mesmo que a 
função lá seja totalmente incompatível com a do cargo público. 
 
 Isso também ocorrerá dentro do próprio Ente Federado, onde a 
negativa do benefício se dará pelo fato de poder o servidor exercer atividades 
de outro cargo, ainda que o mesmo seja incompatível com as atribuições do 
cargo para o qual o servidor prestou concurso. 
 
 Obviamente que essa interpretação encontrará limitações na 
readaptação que exige atribuições e nível de escolaridade afins. 
 
 Pois, a aposentadoria por invalidez, em sede de Regime Próprio, 
ao ter analisada a presença da incapacidade laboral exige que sejam 
consideradas as atribuições do cargo ou de outro compatível com fundamento 
no conceito de readaptação, conforme já dito. 
 
 Pois em não sendo observada essa limitação poderá ocorrer a 
investidura do servidor em cargo incompatível com aquele para o qual prestou 
concurso ensejando a ocorrência de desvio de função configurado quando o 
dirigente da unidade administrativa de lotação do servidor impõe a este o 
 
9 STJ. AgRg no AREsp 308.378/RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 
16/05/2013, DJe 21/05/2013 
exercício de atribuições de outro cargo, diversas daquelas que correspondem 
ao cargo para o qual ele foi nomeado e empossado.10 
 
 Situação que afronta o texto magno no que tange à exigência de 
prévia aprovação em concurso público para o provimento dos cargos públicos, 
entendimento esse inclusive sumulado pelo Supremo Tribunal Federal, senão 
vejamos: 
 
Súmula Vinculante 43 
É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, 
sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que 
não integra a carreira na qual anteriormente investido. 
 
2) Aposentadoria no cargo investido: 
 O novo inciso traz um novidade um tanto quanto misteriosa, à 
medida que prevê a aposentadoria por invalidez no cargo em que o servidor 
encontra-se investido. 
 
 Ora, a legislação infraconstitucional e a doutrina defendem a 
readaptação como uma forma de provimento de cargo público, a nosso ver 
provisória, já que até então no momento da aposentadoria por invalidez a 
inativação deve ocorrer no cargo originário. 
 
 Entretanto, com essa redação permiti-se que a aposentadoria 
ocorra no cargo para o qual o servidor foi readaptado, ou seja, o encerramento 
da vida laboral do servidor se dará em cargo para o qual ele não fez concurso. 
 
 O que também contraria a regra do concurso público, sem contar 
que a nova regra da readaptação impõe que o servidor continue a receber a 
remuneração de seu cargo originário. 
 
 Ou seja, poderá atuar em um cargo cuja remuneração é maior ou 
menor do que a que receberá e o que pior se aposentar nele, mas tendo como 
base para cálculo de seus proventos os valores recebidos por outro cargo que 
já não exerce mais e onde não se dará sua inativação. 
 
3) Proventos: 
 Pela nova metodologia de cálculo dos proventos de aposentadoria 
por invalidez o benefício tomará por base a média contributiva e será 
proporcional ao tempo de contribuição do servidor. 
 
 Sendo de no mínimo 51% e acrescido em 1% por cada ano de 
contribuição que o servidor possua, ou seja, para que ele corresponda a 100% 
(cem por cento) é preciso que a incapacidade ocorra após 49 (quarenta e nove) 
anos de contribuição. 
 
 Esse percentual somente será afastado caso a incapacidade 
decorra de um acidente de trabalho, onde o benefício corresponderá a 100% 
 
10
 ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO, Vicente. DIREITO ADMINISTRATIVO DESCOMPLICADO, 23ª edição, 
editora Método, página 303. 
(cem por cento) da média independentemente do tempo de contribuição que o 
servidor possuir, conforme consta do § 3º-A a ser introduzido no texto 
constitucional. 
 
 Dispositivo que simplemente ignora a existência das chamadas 
moléstias profissionais, cujo conceito é totalmente diverso do de acidente de 
trabalho. 
 
 Pois as moléstias profissionais são as doenças decorrentes, 
desencadeadas ou agravadas pelo exercício de trabalho peculiar a 
determinada atividade profissional ou adquirida em função de condições 
ambientais específicas em que se realiza o trabalho, enquanto que o acidente 
de trabalho é aquele que ocorre com o servidor, pelo exercício do cargo, 
função, ou emprego no ambiente de trabalho ou no exercício de suas 
atividades a serviço da Administração Pública, provocando lesão corporal, 
pertubação funcional ou mental.11 
 
 A ausência da moléstia profissional como causa de afastamento 
da proporcionalidade dos proventos da aposentadoria por invalidez também se 
constitui em ato revestido de inconstitucionalidade, já que ofende o direito à 
saúde do trabalhador, considerado como direito fundamental, seja ele 
integrante da iniciativa privada seja servidor público. 
 
 Posicionamento adotado pelo Supremo Tribunal Federal, senão 
vejamos: 
 
Ementa Recurso extraordinário. Constitucional. Penal. Processual Penal. Competência. 
Redução a condição análoga à de escravo. Conduta tipificada no art. 149 do Código 
Penal. Crime contra a organização do trabalho. Competência da Justiça Federal. Artigo 
109, inciso VI, da Constituição Federal. Conhecimento e provimento do recurso. 1. O 
bem jurídico objeto de tutela pelo art. 149 do Código Penal vai além da liberdade 
individual, já que a prática da conduta em questão acaba por vilipendiar outros bens 
jurídicos protegidos constitucionalmente como a dignidade da pessoa humana, os 
direitos trabalhistas e previdenciários, indistintamente considerados. 2. A referida 
conduta acaba por frustrar os direitos assegurados pela lei trabalhista, atingindo, 
sobremodo, a organização do trabalho, que visa exatamente a consubstanciar o sistema 
social trazido pela Constituição Federal em seus arts. 7º e 8º, em conjunto com os 
postulados do art. 5º, cujo escopo, evidentemente, é proteger o trabalhador em todos os 
sentidos, evitando a usurpação de sua força de trabalho de forma vil. 3. É dever do 
Estado (lato sensu) proteger a atividade laboral do trabalhador por meio de sua 
organização social e trabalhista, bem como zelar pelo respeito à dignidade da pessoa 
humana (CF, art. 1º, inciso III). 4. A conjugação harmoniosa dessas circunstânciasse 
mostra hábil para atrair para a competência da Justiça Federal (CF, art. 109, inciso VI) o 
processamento e o julgamento do feito. 5. Recurso extraordinário do qual se conhece e 
ao qual se dá provimento.
12
 
 
 
Ementa: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO CONSTITUCIONAL 
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. ART. 201, § 1º, DA 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. REQUISITOS DE CARACTERIZAÇÃO. TEMPO DE 
SERVIÇO PRESTADO SOB CONDIÇÕES NOCIVAS. FORNECIMENTO DE 
 
11
 MANUAL DE PERÍCIA OFICIAL EM SAÚDE DO SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL, 2010, páginas 4 e 5. 
12
 RE 459510, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal 
Pleno, julgado em 26/11/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-067 DIVULG 11-04-2016 PUBLIC 12-04-2016 
EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL - EPI. TEMA COM REPERCUSSÃO 
GERAL RECONHECIDA PELO PLENÁRIO VIRTUAL. EFETIVA EXPOSIÇÃO A 
AGENTES NOCIVOS À SAÚDE. NEUTRALIZAÇÃO DA RELAÇÃO NOCIVA ENTRE O 
AGENTE INSALUBRE E O TRABALHADOR. COMPROVAÇÃO NO PERFIL 
PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO PPP OU SIMILAR. NÃO CARACTERIZAÇÃO 
DOS PRESSUPOSTOS HÁBEIS À CONCESSÃO DE APOSENTADORIA ESPECIAL. 
CASO CONCRETO. AGENTE NOCIVO RUÍDO. UTILIZAÇÃO DE EPI. EFICÁCIA. 
REDUÇÃO DA NOCIVIDADE. CENÁRIO ATUAL. IMPOSSIBILIDADE DE 
NEUTRALIZAÇÃO. NÃO DESCARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES PREJUDICIAIS. 
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DEVIDO. AGRAVO CONHECIDO PARA NEGAR 
PROVIMENTO AO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. 1. Conduz à admissibilidade do 
Recurso Extraordinário a densidade constitucional, no aresto recorrido, do direito 
fundamental à previdência social (art. 201, CRFB/88), com reflexos mediatos nos 
cânones constitucionais do direito à vida (art. 5º, caput, CRFB/88), à saúde (arts. 3º, 5º e 
196, CRFB/88), à dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CRFB/88) e ao meio 
ambiente de trabalho equilibrado (arts. 193 e 225, CRFB/88). 2. A eliminação das 
atividades laborais nocivas deve ser a meta maior da Sociedade - Estado, empresariado, 
trabalhadores e representantes sindicais -, que devem voltar-se incessantemente para 
com a defesa da saúde dos trabalhadores, como enuncia a Constituição da República, 
ao erigir como pilares do Estado Democrático de Direito a dignidade humana (art. 1º, III, 
CRFB/88), a valorização social do trabalho, a preservação da vida e da saúde (art. 3º, 5º, 
e 196, CRFB/88), e o meio ambiente de trabalho equilibrado (art. 193, e 225, CRFB/88). 
3. A aposentadoria especial prevista no artigo 201, § 1º, da Constituição da República, 
significa que poderão ser adotados, para concessão de aposentadorias aos beneficiários 
do regime geral de previdência social, requisitos e critérios diferenciados nos “casos de 
atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade 
física, e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos definidos 
em lei complementar”. 4. A aposentadoria especial possui nítido caráter preventivo e 
impõe-se para aqueles trabalhadores que laboram expostos a agentes prejudiciais à 
saúde e a fortiori possuem um desgaste naturalmente maior, por que não se lhes pode 
exigir o cumprimento do mesmo tempo de contribuição que aqueles empregados que 
não se encontram expostos a nenhum agente nocivo. 5. A norma inscrita no art. 195, § 
5º, CRFB/88, veda a criação, majoração ou extensão de benefício sem a correspondente 
fonte de custeio, disposição dirigida ao legislador ordinário, sendo inexigível quando se 
tratar de benefício criado diretamente pela Constituição. Deveras, o direito à 
aposentadoria especial foi outorgado aos seus destinatários por norma constitucional 
(em sua origem o art. 202, e atualmente o art. 201, § 1º, CRFB/88). Precedentes: RE 
151.106 AgR/SP, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 28/09/1993, Primeira Turma, 
DJ de 26/11/93; RE 220.742, Rel. Min. Néri da Silveira, julgamento em 03/03/98, 
Segunda Turma, DJ de 04/09/1998. 6. Existência de fonte de custeio para o direito à 
aposentadoria especial antes, através dos instrumentos tradicionais de financiamento da 
previdência social mencionados no art. 195, da CRFB/88, e depois da Medida Provisória 
nº 1.729/98, posteriormente convertida na Lei nº 9.732, de 11 de dezembro de 1998. 
Legislação que, ao reformular o seu modelo de financiamento, inseriu os §§ 6º e 7º no 
art. 57 da Lei n.º 8.213/91, e estabeleceu que este benefício será financiado com 
recursos provenientes da contribuição de que trata o inciso II do art. 22 da Lei nº 
8.212/91, cujas alíquotas serão acrescidas de doze, nove ou seis pontos percentuais, 
conforme a atividade exercida pelo segurado a serviço da empresa permita a concessão 
de aposentadoria especial após quinze, vinte ou vinte e cinco anos de contribuição, 
respectivamente. 7. Por outro lado, o art. 10 da Lei nº 10.666/2003, ao criar o Fator 
Acidentário de Prevenção-FAP, concedeu redução de até 50% do valor desta 
contribuição em favor das empresas que disponibilizem aos seus empregados 
equipamentos de proteção declarados eficazes nos formulários previstos na legislação, o 
qual funciona como incentivo para que as empresas continuem a cumprir a sua função 
social, proporcionando um ambiente de trabalho hígido a seus trabalhadores. 8. O risco 
social aplicável ao benefício previdenciário da aposentadoria especial é o exercício de 
atividade em condições prejudiciais à saúde ou à integridade física (CRFB/88, art. 201, § 
1º), de forma que torna indispensável que o indivíduo trabalhe exposto a uma nocividade 
notadamente capaz de ensejar o referido dano, porquanto a tutela legal considera a 
exposição do segurado pelo risco presumido presente na relação entre agente nocivo e 
o trabalhador. 9. A interpretação do instituto da aposentadoria especial mais 
consentânea com o texto constitucional é aquela que conduz a uma proteção efetiva do 
trabalhador, considerando o benefício da aposentadoria especial excepcional, destinado 
ao segurado que efetivamente exerceu suas atividades laborativas em “condições 
especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física”. 10. Consectariamente, a 
primeira tese objetiva que se firma é: o direito à aposentadoria especial pressupõe a 
efetiva exposição do trabalhador a agente nocivo à sua saúde, de modo que, se o EPI 
for realmente capaz de neutralizar a nocividade não haverá respaldo constitucional à 
aposentadoria especial. 11. A Administração poderá, no exercício da fiscalização, aferir 
as informações prestadas pela empresa, sem prejuízo do inafastável judicial review. Em 
caso de divergência ou dúvida sobre a real eficácia do Equipamento de Proteção 
Individual, a premissa a nortear a Administração e o Judiciário é pelo reconhecimento do 
direito ao benefício da aposentadoria especial. Isto porque o uso de EPI, no caso 
concreto, pode não se afigurar suficiente para descaracterizar completamente a relação 
nociva a que o empregado se submete. 12. In casu, tratando-se especificamente do 
agente nocivo ruído, desde que em limites acima do limite legal, constata-se que, apesar 
do uso de Equipamento de Proteção Individual (protetor auricular) reduzir a 
agressividade do ruído a um nível tolerável, até no mesmo patamar da normalidade, a 
potência do som em tais ambientes causa danos ao organismo que vão muito além 
daqueles relacionados à perda das funções auditivas. O benefício previsto neste artigo 
será financiado com os recursos provenientes da contribuição de que trata o inciso II do 
art. 22 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, cujas alíquotas serão acrescidas de 
doze, nove ou seis pontos percentuais, conforme a atividade exercida pelo segurado a 
serviço da empresa permita a concessão de aposentadoria especial após quinze, vinte 
ou vinte e cinco anos de contribuição, respectivamente. O benefício previsto neste artigo 
será financiado com os recursos provenientes da contribuição de que tratao inciso II do 
art. 22 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, cujas alíquotas serão acrescidas de 
doze, nove ou seis pontos percentuais, conforme a atividade exercida pelo segurado a 
serviço da empresa permita a concessão de aposentadoria especial após quinze, vinte 
ou vinte e cinco anos de contribuição, respectivamente. 13. Ainda que se pudesse 
aceitar que o problema causado pela exposição ao ruído relacionasse apenas à perda 
das funções auditivas, o que indubitavelmente não é o caso, é certo que não se pode 
garantir uma eficácia real na eliminação dos efeitos do agente nocivo ruído com a 
simples utilização de EPI, pois são inúmeros os fatores que influenciam na sua 
efetividade, dentro dos quais muitos são impassíveis de um controle efetivo, tanto pelas 
empresas, quanto pelos trabalhadores. 14. Desse modo, a segunda tese fixada neste 
Recurso Extraordinário é a seguinte: na hipótese de exposição do trabalhador a ruído 
acima dos limites legais de tolerância, a declaração do empregador, no âmbito do Perfil 
Profissiográfico Previdenciário (PPP), no sentido da eficácia do Equipamento de 
Proteção Individual - EPI, não descaracteriza o tempo de serviço especial para 
aposentadoria. 15. Agravo conhecido para negar provimento ao Recurso 
Extraordinário.
13
 
 
 E na condição de direito fundamental hoje protegido, uma vez que 
a atual redação constitucional a insere como causa de afastamento da 
proporcionalidade dos proventos da aposentadoria por invalidez, sua retirada 
contraria o disposto no inciso IV do § 4° do artigo 60 da Constituição Federal. 
 
 Entendimento que também se estende à retirada da possibilidade 
de que leis dos Entes Federados enumerem doenças que afastam a 
proporcionalidade, já que a intenção de sua inserção na norma constitucional 
foi justamente a de proteger a saúde do servidor público no seu ambiente de 
trabalho e lhe garantir uma velhice digna. 
 
 
13
 ARE 664335, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 04/12/2014, ACÓRDÃO 
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-029 DIVULG 11-02-2015 PUBLIC 12-02-2015 
 Após a inativação os proventos serão reajustados tomando por 
base o INPC – Indice Nacional de Preços ao Consumidor, por ser esse o 
adotado para o reajuste dos proventos no âmbito do Regime Geral, conforme 
impõe a nova redação do § 8º do artigo 40. 
 
4) Ofensa ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana: 
 Não bastasse a ofensa direta ao direito à saúde do servidor 
público, enquanto trabalhador, as modificações promovidas na aposentadoria 
por invalidez, ao desconsiderarem as moléstias profissionais e o rol legal de 
doenças como causa de afastamento da proporcionalidade dos proventos 
afronta o princípio da dignidade da pessoa humana. 
 
 No que tange à doença profissional e ao rol legal de doenças a 
proposta simplesmente esquece que o aposentado por invalidez precisa de 
cuidados de saúde maiores para a manutenção de sua vida. 
 
 Sendo que no primeiro caso, as causas que o prejudicaram 
advém de seu ambiente de trabalho, ou seja, seu empregador, no caso, o Ente 
Federado é responsável direto pela ofensa à sua saúde. 
 
 Já o rol legal de doenças pressupõe a existência de doenças que 
exigem maiores cuidados e que ensejam um gasto financeiro maior, tidas, 
portanto, como graves, contagiosas ou incuráveis pela redação constitucional 
atual, situações que também implicam na existência humana e como tal devem 
ser consideradas no momento da definição constitucional do benefício. 
 
 A inobservância desses aspectos, por si só, desnatura a 
finalidade existencial do sistema previdenciário consistente na proteção do 
segurado nos momentos de risco social, no caso da aposentadoria por 
invalidez quando ele se encontra com a saúde debilitada e sem condições de 
trabalhar por essa causa. 
 
 Evidenciando, assim, o dever de respeito à dignidade da pessoa 
humana na definição dos benefícios previdenciários e dos requisitos para a sua 
concessão, bem como na da metodologia de cálculo dos proventos. 
 
 E hoje esse princípio foi elevado, em sede constitucional, à 
condição de fundamento da República Federativa do Brasil, conforme se 
depreende do inciso III do artigo 1° da Carta Magna. 
 
 Essa condição decorre do fato de que a dignidade da pessoa 
humana concede unidade aos direitos e garantias fundamentais, sendo 
inerente às personalidades humanas. Esse fundamento afasta a ideia de 
predomínio das concepções transpessoalistas de Estado e Nação, em 
detrimento da liberdade individual.14 
 
 Sendo assim, para os teóricos do constitucionalismo 
contemporâneo, direitos – como vida, propriedade, liberdade, igualdade, dentre 
 
14
 MORAES, Alexandre. DIREITO CONSTITUCIONAL, 27ª edição, editora Atlas, página 24. 
outros -, apenas encontram um justificativa plausível se lidos e 
compatibilizados com o postulado da dignidade humana, Afirmam, portanto, 
que a dignidade seria um superprincípio, como uma norma dotada de maior 
importância e hierarquia que as demais, que funcionaria como elemento de 
comunhão entre o direito e a moral, na qual o primeiro se fundamenta na 
segunda, encontrando sua base de justificação racional.15 
 
 O Supremo Tribunal Federal já teve a oportunidade de reconhecer 
que a dignidade da pessoa humana se constitui em cláusula pétrea: 
 
Ementa: 1. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 
(ADPF). PERDA PARCIAL DE OBJETO. RECEBIMENTO, NA PARTE 
REMANESCENTE, COMO AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. UNIÃO 
HOMOAFETIVA E SEU RECONHECIMENTO COMO INSTITUTO JURÍDICO. 
CONVERGÊNCIA DE OBJETOS ENTRE AÇÕES DE NATUREZA ABSTRATA. 
JULGAMENTO CONJUNTO. Encampação dos fundamentos da ADPF nº 132-RJ pela 
ADI nº 4.277-DF, com a finalidade de conferir “interpretação conforme à Constituição” ao 
art. 1.723 do Código Civil. Atendimento das condições da ação. 2. PROIBIÇÃO DE 
DISCRIMINAÇÃO DAS PESSOAS EM RAZÃO DO SEXO, SEJA NO PLANO DA 
DICOTOMIA HOMEM/MULHER (GÊNERO), SEJA NO PLANO DA ORIENTAÇÃO 
SEXUAL DE CADA QUAL DELES. A PROIBIÇÃO DO PRECONCEITO COMO 
CAPÍTULO DO CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. HOMENAGEM AO 
PLURALISMO COMO VALOR SÓCIO-POLÍTICO-CULTURAL. LIBERDADE PARA 
DISPOR DA PRÓPRIA SEXUALIDADE, INSERIDA NA CATEGORIA DOS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS DO INDIVÍDUO, EXPRESSÃO QUE É DA AUTONOMIA DE 
VONTADE. DIREITO À INTIMIDADE E À VIDA PRIVADA. CLÁUSULA PÉTREA. O sexo 
das pessoas, salvo disposição constitucional expressa ou implícita em sentido contrário, 
não se presta como fator de desigualação jurídica. Proibição de preconceito, à luz do 
inciso IV do art. 3º da Constituição Federal, por colidir frontalmente com o objetivo 
constitucional de “promover o bem de todos”. Silêncio normativo da Carta Magna a 
respeito do concreto uso do sexo dos indivíduos como saque da kelseniana “norma geral 
negativa”, segundo a qual “o que não estiver juridicamente proibido, ou obrigado, está 
juridicamente permitido”. Reconhecimento do direito à preferência sexual como direta 
emanação do princípio da “dignidade da pessoa humana”: direito a auto-estima no mais 
elevado ponto da consciência do indivíduo. Direito à busca da felicidade. Salto normativo 
da proibição do preconceito para a proclamação do direito à liberdade sexual. O concreto 
uso da sexualidade faz parte da autonomia da vontade das pessoas naturais. Empírico 
uso da sexualidade nos planos da intimidade e da privacidade constitucionalmente 
tuteladas. Autonomia da vontade. Cláusula pétrea. 3. TRATAMENTO 
CONSTITUCIONAL DA INSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA. RECONHECIMENTO DE QUE A 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL NÃO EMPRESTA AO SUBSTANTIVO “FAMÍLIA” NENHUM 
SIGNIFICADO ORTODOXO OU DA PRÓPRIA TÉCNICA JURÍDICA. A FAMÍLIA COMO 
CATEGORIA SÓCIO-CULTURAL E PRINCÍPIO ESPIRITUAL. DIREITO SUBJETIVO DE 
CONSTITUIR FAMÍLIA. INTERPRETAÇÃO NÃO-REDUCIONISTA.O caput do art. 226 
confere à família, base da sociedade, especial proteção do Estado. Ênfase constitucional 
à instituição da família. Família em seu coloquial ou proverbial significado de núcleo 
doméstico, pouco importando se formal ou informalmente constituída, ou se integrada 
por casais heteroafetivos ou por pares homoafetivos. A Constituição de 1988, ao utilizar-
se da expressão “família”, não limita sua formação a casais heteroafetivos nem a 
formalidade cartorária, celebração civil ou liturgia religiosa. Família como instituição 
privada que, voluntariamente constituída entre pessoas adultas, mantém com o Estado e 
a sociedade civil uma necessária relação tricotômica. Núcleo familiar que é o principal 
lócus institucional de concreção dos direitos fundamentais que a própria Constituição 
designa por “intimidade e vida privada” (inciso X do art. 5º). Isonomia entre casais 
heteroafetivos e pares homoafetivos que somente ganha plenitude de sentido se 
 
15
 FERNANDES, Bernardo Gonçalves. CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL, 2ª edição, editora Lumen 
Juris, páginas 215 e 216. 
desembocar no igual direito subjetivo à formação de uma autonomizada família. Família 
como figura central ou continente, de que tudo o mais é conteúdo. Imperiosidade da 
interpretação não-reducionista do conceito de família como instituição que também se 
forma por vias distintas do casamento civil. Avanço da Constituição Federal de 1988 no 
plano dos costumes. Caminhada na direção do pluralismo como categoria sócio-político-
cultural. Competência do Supremo Tribunal Federal para manter, interpretativamente, o 
Texto Magno na posse do seu fundamental atributo da coerência, o que passa pela 
eliminação de preconceito quanto à orientação sexual das pessoas. 4. UNIÃO 
ESTÁVEL. NORMAÇÃO CONSTITUCIONAL REFERIDA A HOMEM E MULHER, MAS 
APENAS PARA ESPECIAL PROTEÇÃO DESTA ÚLTIMA. FOCADO PROPÓSITO 
CONSTITUCIONAL DE ESTABELECER RELAÇÕES JURÍDICAS HORIZONTAIS OU 
SEM HIERARQUIA ENTRE AS DUAS TIPOLOGIAS DO GÊNERO HUMANO. 
IDENTIDADE CONSTITUCIONAL DOS CONCEITOS DE “ENTIDADE FAMILIAR” E 
“FAMÍLIA”. A referência constitucional à dualidade básica homem/mulher, no §3º do seu 
art. 226, deve-se ao centrado intuito de não se perder a menor oportunidade para 
favorecer relações jurídicas horizontais ou sem hierarquia no âmbito das sociedades 
domésticas. Reforço normativo a um mais eficiente combate à renitência patriarcal dos 
costumes brasileiros. Impossibilidade de uso da letra da Constituição para ressuscitar o 
art. 175 da Carta de 1967/1969. Não há como fazer rolar a cabeça do art. 226 no 
patíbulo do seu parágrafo terceiro. Dispositivo que, ao utilizar da terminologia “entidade 
familiar”, não pretendeu diferenciá-la da “família”. Inexistência de hierarquia ou diferença 
de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e autonomizado 
núcleo doméstico. Emprego do fraseado “entidade familiar” como sinônimo perfeito de 
família. A Constituição não interdita a formação de família por pessoas do mesmo sexo. 
Consagração do juízo de que não se proíbe nada a ninguém senão em face de um 
direito ou de proteção de um legítimo interesse de outrem, ou de toda a sociedade, o que 
não se dá na hipótese sub judice. Inexistência do direito dos indivíduos heteroafetivos à 
sua não-equiparação jurídica com os indivíduos homoafetivos. Aplicabilidade do §2º do 
art. 5º da Constituição Federal, a evidenciar que outros direitos e garantias, não 
expressamente listados na Constituição, emergem “do regime e dos princípios por ela 
adotados”, verbis: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem 
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. 5. DIVERGÊNCIAS 
LATERAIS QUANTO À FUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO. Anotação de que os 
Ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Cezar Peluso convergiram no 
particular entendimento da impossibilidade de ortodoxo enquadramento da união 
homoafetiva nas espécies de família constitucionalmente estabelecidas. Sem embargo, 
reconheceram a união entre parceiros do mesmo sexo como uma nova forma de 
entidade familiar. Matéria aberta à conformação legislativa, sem prejuízo do 
reconhecimento da imediata auto-aplicabilidade da Constituição. 6. INTERPRETAÇÃO 
DO ART. 1.723 DO CÓDIGO CIVIL EM CONFORMIDADE COM A CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL (TÉCNICA DA “INTERPRETAÇÃO CONFORME”). RECONHECIMENTO DA 
UNIÃO HOMOAFETIVA COMO FAMÍLIA. PROCEDÊNCIA DAS AÇÕES. Ante a 
possibilidade de interpretação em sentido preconceituoso ou discriminatório do art. 1.723 
do Código Civil, não resolúvel à luz dele próprio, faz-se necessária a utilização da 
técnica de “interpretação conforme à Constituição”. Isso para excluir do dispositivo em 
causa qualquer significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e 
duradoura entre pessoas do mesmo sexo como família. Reconhecimento que é de ser 
feito segundo as mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável 
heteroafetiva.
16 
 
 E nessa condição não pode ser objeto de redução, como se 
pretende com a proposta apresentada, caracterizada pela retirada da 
possibilidade de afastamento da proporcionalidade dos proventos decorrentes 
da aposentadoria por invalidez quando essa tenha como causa uma moléstia 
 
16
 ADPF 132, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 05/05/2011, DJe-198 DIVULG 
13-10-2011 PUBLIC 14-10-2011 EMENT VOL-02607-01 PP-00001 
profissional ou uma doença grave, contagiosa ou incurável estabelecida em 
Lei. 
 
5) Ofensa ao Princípio da Igualdade: 
 Não bastasse a ofensa direta o princípio da dignidade da pessoa 
humana, a redação proposta, ao permitir que a aposentadoria do servidor 
aconteça em cargo diverso daquele para o qual o servidor prestou o concurso 
público, contraria o princípio da igualdade. 
 
 Já que permite a investidura do servidor em cargo público sem a 
prévia aprovação em concurso público, desvirtuando uma das principais razões 
de sua existência consistente no respeito à isonomia entre os concorrentes e 
na igualdade de oportunidades ofertadas. 
 
 A investidura em cargo público por intermédio de concurso público 
tem como uma de seus postulados fundamentais o princípio da igualdade pelo 
qual se permite que todos os interessados em ingressar no serviço público 
disputem a vaga em condições idênticas para todos.17 
 
 Motivo pelo qual não pode ser em momento algum ignorado. 
 
 Prova disso, reside no fato de que, em regra, a transposição é tida 
pelo Supremo Tribunal Federal como inconstitucional: 
 
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. ALEGAÇÃO DE AFRONTA AO 
QUE DECIDIDO POR ESTA CORTE NOS AUTOS DA ADI N° 837/DF. 
IMPROCEDÊNCIA. DECISÃO EM PERFEITA CONSONÂNCIA COM O 
ENTENDIMENTO FIRMADO POR ESTA CORTE. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE 
NEGA PROVIMENTO. 1. A transposição, transformação ou ascensão funcional, de 
servidores públicos de uma categoria para outra, posto consubstanciar modalidades de 
provimento derivado, sem prévia aprovação em concurso público de provas e títulos, não 
se coadunam com a nova ordem constitucional (CRFB/88, art. 37, II). 2. In casu, a 
decisão reclamada não divergiu dessa orientação, haja vista que anulou todos os atos de 
provimento de cargo público ancorados em disposições flagrantemente inconstitucionais, 
que estabeleciam a transposição, transformação ou ascensão funcional de uma 
categoria a outra, sem prévia aprovação em concurso público de provas e títulos. 3. 
Agravo regimental desprovido.
18
 
 
 Sendo admitida apenas em casos excepcionalíssimos: 
 
Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. LEIS 2.875/04 E 2.917/04, DO 
ESTADO DO AMAZONAS. COMISSÁRIO DE POLÍCIA. CARGO DE NATUREZAISOLADA. TRANSFORMAÇÃO, APÓS POUCO MAIS DE 3 ANOS, EM CARGOS DE 
DELEGADO DE POLÍCIA. QUEBRA DE HIERARQUIA FUNCIONAL. BURLA AO 
CONCURSO PÚBLICO CARACTERIZADA. INCONSTITUCIONALIDADE. 1. As leis 
estaduais impugnadas equipararam (Lei 2.875/04) e, logo após, transformaram (Lei 
2.917/04) em delegados de polícia 124 cargos isolados de comissários de polícia, que 
haviam sido criados em 2001 com remuneração bastante inferior à daquele primeiro 
cargo e sem perspectiva de progressão funcional. 2. A forma pela qual foi conduzido o 
rearranjo administrativo revela que houve, de fato, burla ao postulado do concurso 
 
17
 FILHO, José dos Santos Carvalho. MANUAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO, 28ª edição, editora Atlas, 
página 653. 
18
 Rcl 8222 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 28/04/2015, ACÓRDÃO 
ELETRÔNICO DJe-088 DIVULG 12-05-2015 PUBLIC 13-05-2015 
público, mediante o favorecimento de agentes públicos alçados por via legislativa a 
cargo de maior responsabilidade do que aquele para o qual foram eles aprovados em 
concurso. Não se verificou, no caso, um gradual processo de sincretismo entre os 
cargos, senão que uma abrupta reformulação da condição dos comissários de polícia, 
que em menos de três anos deixaram de ter suas características originais para passar a 
um cargo organizado em carreira. 3. Ação direta de inconstitucionalidade julgada 
procedente.
19 
 
 Ou seja, somente admite-se sua ocorrência quando houver 
compatibilidade ou como dito na decisão acima “sincretismo entre os cargos”, o 
que, a princípio, não se vê no autorizo constitucional de aposentadoria por 
invalidez em cargo diverso. 
 
 Sem contar que a definitividade da investidura não se dará por 
intermédio da transposição, mas sim pela readaptação que se constitui em 
forma de provimento de natureza temporária que jamais pode ensejar uma 
investidura definitiva. 
 
 Daí, reafirmar-se a ofensa ao princípio da igualdade e como tal a 
sua inconstitucionalidade por se constituir em afronta a uma cláusula pétrea. 
 
6) Regra de Transição: 
 Outro grande equívoco que pode ser apontado na PEC é a 
inexistência de regras de transição para os servidores que se encontrarem 
exercendo cargos públicos no momento de sua promulgação. 
 
 O fato é que a incapacidade laboral pode ocorrer a qualquer 
momento seja em razão de uma causa laboral ou de uma situação relacionada 
à vida privada do servidor. 
 
 E nesse caso, o servidor, mesmo já estando atuando na 
Administração Pública, será submetido aos novos requisitos e, principalmente, 
a nova metodologia de cálculo dos proventos estabelecida para a inativação 
por invalidez. 
 
 As quais são muito piores dos que as hoje existentes, uma vez 
que atualmente o servidor que ingressou no serviço público antes de 31 de 
Dezembro de 2003 terá seus proventos decorrentes da inativação por invalidez 
calculado com base na última remuneração que recebeu e reajustados com 
fundamento no princípio da paridade/isonomia. 
 
 Motivo esse que leva a nova regra a se caracterizar como um 
verdadeiro retrocesso nas regras atinentes ao benefício, ensejando, assim, a 
redução de um direito social, enumerado como direito fundamental pela 
Constituição Federal, conforme se depreende de seu artigo 6°, até então, 
assegurado por seu próprio texto ao regular as regras da aposentadoria por 
invalidez, o que é vedado por nosso ordenamento constitucional. 
 
 
19
 STF. ADI 3415, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 24/09/2015, ACÓRDÃO 
ELETRÔNICO DJe-249 DIVULG 10-12-2015 PUBLIC 11-12-2015 
 O princípio da proibição de retrocesso social pode formular-se 
assim: o núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efectivado através 
de medidas legislativas (lei da segurança social, lei do subsídio de 
desemprego, lei do serviço de saúde) deve considerar-se constitucionalmente 
garantido, sendo inconstitucionais quaisquer medidas estaduais que, sem a 
criação de outros esquemas alternativos ou compensatórios, se traduzam na 
prática numa ‘anulação’, ‘revogação’ ou ‘aniquilação’ pura e simples desse 
núcleo essencial. A liberdade de conformação do legislador e inerente auto-
reversibilidade têm como limite o núcleo essencial já realizado.20 
 
 E a previdência social como direito fundamental inadmite a 
ocorrência de retrocessos. Tanto que se afirma que outro efeito que pode ser 
extraído de sua natureza de “direito social fundamental” é a aplicação ao direito 
à previdência social, do princípio da proibição de retrocesso social.21 
 
 Daí, a inexistência de regras de transição para a concessão de 
aposentadoria por invalidez se constituir em ofensa ao Texto Magno, à medida 
que viola uma cláusula pétrea constitucional que não pode ser objeto de 
restrição por emenda. 
 
 Isso porque, a eficácia das regras jurídicas produzidas pelo poder 
constituinte (redundantemente chamado de "originário") não está sujeita a 
nenhuma limitação normativa, seja de ordem material, seja formal, porque 
provém do exercício de um poder de fato ou suprapositivo. Já as normas 
produzidas pelo poder reformador, essas têm sua validez e eficácia 
condicionadas à legitimação que recebam da ordem constitucional. Daí a 
necessária obediência das emendas constitucionais às chamadas cláusulas 
pétreas.22 
 
 Nunca é demais lembrar que já se tentou alterar a aposentadoria 
por invalidez desconsiderando a necessidade de criação de regra de transição, 
por ocasião da Emenda Constitucional n.° 41/03, a qual restou infrutífera e 
levou a edição da Emenda Constitucional n.° 47/05 para corrigir o equívoco e 
proporcionou a existência da regra de transição vigente hoje. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20
 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. DIREITO CONSTITUCIONAL E TEORIA DA CONSTITUIÇÃO. Editora 
Coimbra, página 327. 
21
 NOGUEIRA, Narlon Gutierre. A CONSTITUIÇÃO E O DIREITO À PREVIDÊNCIA SOCIAL. Editora LTr, 
página 57. 
22
 ADI 2.356 MC e ADI 2.362 MC, rel. p/ o ac. min. Ayres Britto, j. 25-11-2010, P, DJE de 19-5-2011. 
COMO FICARÁ A APOSENTADORIA COMPULSÓRIA COM A 
PEC DA PREVIDÊNCIA? 
 
 
 Ao se analisar isoladamente a redação proposta para o inciso II 
do § 1° do artigo 40 da Constituição Federal pode-se até concluir que não há 
qualquer modificação nas regras atualmente previstas para a aposentadoria 
compulsória. 
 
 Isso porque, o dispositivo continua a estabelecer a aposentadoria 
compulsória aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, contudo ao se verificar o 
benefício como um todo (requisitos e proventos) constata-se que a 
aposentadoria compulsória também será modificada caso a reforma seja 
aprovada na forma como foi proposta. 
 
 Inicialmente cumpre esclarecer que o benefício continua revestido 
de sua natureza cogente, sendo de observância e concessão obrigatória tanto 
para o servidor quanto para a Administração Pública, devendo ser 
implementada mediante a publicação do ato de aposentadoria tão logo o 
servidor complete a idade limite estabelecida pelo dispositivo. 
 
 E que não se exige para a aposentadoria compulsória tempo 
mínimo de serviço público e de exercício do cargo efetivo para a sua 
concessão. 
 
 Valendo ressaltar, também, que sua aplicabilidade alcança 
apenas aos filiados do Regime Próprio, não se estendendo àqueles que, 
mesmo atuando na Administração Pública, atinjam essa idade no exercício de 
cargos ou funções que impliquem filiação ao Regime Geral de Previdência 
Social, conforme posicionamento adotado pelo Supremo Tribunal Federal no 
julgamento do Recurso Extraordinário n.° 786.540. 
 
1 - Requisitos 
 Em que pese a dita conclusão inicial, é possível afirmar que até o 
requisito pra a sua concessão sofreumodificação à medida que, pelo § 22 
proposto para o artigo 40, restou estabelecido que: 
 
Sempre que verificado o incremento mínimo de 1 (um) ano inteiro na média nacional 
única correspondente à expectativa de sobrevida da população brasileira aos sessenta e 
cinco anos, para ambos os sexos, em comparação à média apurada no ano de 
promulgação desta Emenda, as idades previstas nos incisos II e III do § 1º serão 
majoradas em números inteiros, nos termos fixados para o regime geral de previdência 
social. 
 
 Ou seja, sempre que a expectativa de sobrevida média nacional 
única crescer um ano, a idade da aposentadoria compulsória também crescerá 
um ano. 
 
 A expectativa de sobrevida, a grosso modo, consiste na possível 
quantidade de anos que a pessoa ainda viverá, considerando a idade que 
possui naquele momento e é mensurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística – IBGE. 
 
 Trata-se de conceito muito semelhante ao da expectativa de vida, 
mas difere deste porque aqui se estima a idade a ser alcançada pelo cidadão, 
enquanto que lá só se busca o número de anos que se estima que o cidadão 
ainda viverá considerando a idade que ele já possui. 
 
 Obviamente que em havendo crescimento na expectativa de vida, 
a tendência é a de que a expectativa de sobrevida também cresça. 
 
 E uma vez constatado o crescimento da expectativa de sobrevida 
em um ano, por exemplo, caso ela passe de 3 (três) para 4 (quatro) anos 
mudará a idade para a aposentadoria compulsória. 
 
 Contundo, é preciso deixar claro que o texto proposto não 
determina a modificação no momento em que se modificar a expectativa de 
sobrevida da pessoa que possui 75 (setenta e cinco) anos, mas sim daquele 
que possui 65 (sessenta e cinco) anos, ou seja, o servidor estará sujeito as 
modificações imputadas à uma população 10 (dez) anos mais jovens. 
 
 Situação que por si só já pode implicar em prejuízo ao servidor, já 
que é possível que a expectativa de sobrevida média das pessoas com 65 
(sessenta e cinco) anos de idade tenha o acréscimo de 1 (um) ano e a 
expectativa das pessoas com 75 (setenta e cinco) anos de idade não suba o 
suficiente para atingir um ano. 
 
 Ainda assim, haverá a alteração da aposentadoria compulsória, 
hipótese em que, considerando apenas as estatísticas, o tempo de gozo do 
benefício tende a ser menor do que o de fato deveria ser. 
 
 Além disso, a utilização de médias nacionais sempre foi objeto de 
grande polêmica consistente basicamente em dois pontos. O primeiro 
relacionado à diferenciação de expectativa de vida e sobrevida entre homens e 
mulheres, as quais como é de conhecimento público são bastante díspares. 
 
 A expectativa da mulher é maior do que a do homem, fato que 
afeta diretamente a definição dos valores estabelecidos para os homens, 
fazendo com que em uma comparação direta entre a real possibilidade de 
sobrevida do homem seja, na realidade, menor do que a estabelecida como 
média nacional, fato este que ensejará a redução do período de gozo do 
benefício. 
 
 O segundo, certamente o mais polêmico, reside nas 
desigualdades sociais existentes do País que levam a expectativa de sobrevida 
na região sul do País a ser maior do que a prevista para os cidadãos da região 
nordeste. 
 
 Ou seja, fatores econômicos que influenciam diretamente na vida 
e também na sobrevida do servidor público, considerando a realidade 
econômica e suas condições locais de vida. 
 
 Portanto, a unificação de critério para a atualização da idade da 
compulsória, desconsidera a realidade nacional e pode implicar em prejuízos 
considerando o primeiro ponto para os homens e o segundo para todos os 
servidores de determinada região do País. 
 
 Situação que pode agravar ainda mais a diferenciações 
conceituais e econômicas existentes entre os brasileiros. 
 
 É preciso salientar que o artigo 22 da proposta estabelece que 
essa regra somente entrará em vigor após decorridos 5 (cinco) anos da 
promulgação do texto, devendo-se nesse caso deixar claro que a melhor 
interpretação para esse dispositivo será a de que somente haverá o 
crescimento de um ano quando a expectativa de sobrevida vigente após esse 
quinquênio também for elevada em um ano. 
 
2 – Proventos 
 Como não poderia deixar de ser a proposta modifica parcialmente 
a atual metodologia de cálculo dos proventos das aposentadorias 
compulsórias, mas não altera a sua proporcionalidade, dando-lhe apenas nova 
redação. 
 
2.1 – Cálculo 
 Pela nova regra, os proventos serão proporcionais considerando o 
tempo de contribuição que o servidor possui em razão de 25 anos de 
contribuição que, agora passa a ser o requisito temporal mínimo para a 
aposentadoria voluntária estabelecida como regra geral para os servidores, 
limitando-a a 1 (um) inteiro o que significa que será de no máximo 100% (cem 
por cento) de sua base de cálculo. 
 
 No que tange a base de cálculo, a modificação é sensível, já que 
a mesma corresponde à regra geral do cálculo dos proventos, ou seja, primeiro 
será realizado o cálculo da média contributiva do servidor. 
 
 Na sequência será aplicado o percentual a que o mesmo tiver 
direito em razão do tempo de contribuição que possui, para somente então se 
aplicar a regra da proporcionalidade. 
 
 É possível afirmar que essa metodologia implica em uma dupla 
proporcionalização já que o tempo de contribuição do servidor será inicialmente 
aplicado sobre a média, acrescendo 1% (um por cento) por ano de contribuição 
e na sequência será novamente considerado para aferir a proporcionalidade do 
benefício, em razão dos 25 (vinte e cinco) anos. 
 
 Exemplificando: 
 
Um servidor que conta com 30 anos de contribuição e cuja média contributiva 
atingiu o montante de R$ 4.000,00, terá sua aposentadoria compulsória 
calculada da seguinte forma: 
1° Passo: Aplicação de percentual sobre a média 
- Percentual mínimo: 51% 
- Acréscimo pelo tempo de contribuição que possui: 30% 
 
Então esse servidor receberá 81% de sua média cujo total alcançou R$ 
4.000,00, conforme consta do enunciado, portanto, o valor a ser recebido será 
de R$ 3.240,00. 
 
2° Passo: Aplicação da proporcionalidade 
- Tempo de contribuição dividido por 25 e limitado a 1 inteiro 
Nesse caso o resultado será um já que 30 dividido por 25 é igual a 1,2, 
aplicando-se assim a limitação constitucional prevista. 
 
Portanto, seus proventos serão de R$ 3.240,00 (três mil, duzentos e quarenta 
reais). 
 
 Ante a regra constitucional estabelecida é possível afirmar que o 
valor dos proventos na aposentadoria compulsória será de no mínimo 51% 
(cinquenta e um por cento) do resultado da média, já que mesmo nos casos em 
que o servidor não conte com tempo de contribuição esse percentual é 
assegurado, pela regra proposta para o inciso I do § 3°. 
 
 A nova regra acarreta, no mínimo, a discussão, a ser 
desenvolvida na sequência, acerca de uma possível contagem ficta de tempo 
de contribuição. 
 
 Ressalte que no caso do servidor que tiver preenchido os 
requisitos para a aposentadoria voluntária, aplica-se somente a metodologia de 
cálculo da regra geral. 
 
2.2 – Reajuste 
 No que tange ao reajuste a principal modificação reside no fato de 
que agora os Entes Federados não podem mais adotar índices específicos 
para a modificação anual dos proventos, devendo aplicar sobre os mesmos o 
INPC, por se este o adotado para a alteração dos valores pagos pelo INSS. 
 
3 – Contagem Ficta de Tempo de Contribuição 
 Ao estabelecer a metodologia de cálculo dos proventos de 
aposentadoria compulsória, a proposta permite que o servidor que tenha 
contribuído por apenas 1 (um) ano, por exemplo, aposente-se com 52% 
(cinquenta e dois por cento) do resultado de sua média contributiva. 
 
 Isso porque, para a aposentadoria compulsória, ante a sua 
natureza cogente, não se exige o cumprimento de qualquertempo mínimo de 
contribuição ou mesmo de outros requisitos como é o caso de tempo mínimo 
no serviço público e no cargo efetivo. 
 
 Portanto, é possível que o servidor público, ingresse nos quadros 
da Administração aos 74 (sententa e quatro) anos de idade sem que possua 
tempo de contribuição pretérito em qualquer dos regimes previdenciários 
básicos existentes no País. 
 
 Hipótese em que sua aposentadoria ocorrerá após um ano de 
atuação, período esse que deve ser considerado como tempo de contribuição, 
ante a incidência da exação sobre sua remuneração. 
 
 Aqui é necessário um parêntese para recordar que em regra não 
existe idade máxima limite para o ingresso no serviço público, aplicando-se a 
mesma somente quando houver previsão constitucional nesse sentido ou legal, 
desde que observado o teor da Súmula 683 do Supremo Tribunal Federal. 
 
 Ao se permitir que o servidor se aposente com proventos 
correspondentes à 52% (cinquenta e dois por cento) de sua remuneração 
mesmo contando com apenas 1 (um) ano de contribuição não se pode negar 
que se está diante de uma situação onde o tempo de contribuição do servidor 
está sendo contado fictamente. 
 
 Principalmente porque no modelo atual, seus proventos seriam 
correspondentes a apenas 0,02% do resultado de sua média, tomando-se por 
base a divisão de 1(um) ano de contribuição pelos 35 (trinta e cinco) mínimos 
exigidos. 
 
 E nesse aspecto, é preciso salientar que algumas legislações de 
Entes Federados que permitiam valor superior ao que efetivamente decorre da 
proporcionalização do benefício foram tidas por inconstitucionais conforme se 
denota do teor do Acórdão n.° 3.438/15 do Tribunal de Contas da União. 
 
 Obviamente que esse entendimento decorre do confronto de lei 
ordinária com a atual redação do texto constitucional que veda a contagem ficta 
de tempo de contribuição e impõe a obervância do tempo de contribuição para 
a proporcionalização do benefício. 
 
 Entretanto, não se pode negar que o caráter contributivo e 
juntamente com ele a vedação da contagem ficta do tempo de contribuição, 
vem ganhando força na jurisprudência pátria, em especial no Supremo Tribunal 
Federal, bastando para tanto verificar-se o teor da decisão que reconheceu a 
constitucionalidade da incidência de contribuição previdenciária sobre os 
proventos de aposentados e pensionistas e as que tem reconhecido a 
impossibilidade de tempo especial para efeitos de aposentadoria especial do 
servidor. 
 
 Então, há de se admitir que essa discussão também seja levada a 
efeito, caso o dispositivo seja aprovado na forma proposta, ante a um possível 
conflito que virá a existir dentro do próprio texto constitucional. 
 
4 – Regra do Melhor Benefício 
 A proposta, ao estabelecer que nos casos em que o servidor 
tenha preenchido os requisitos para a aposentadoria voluntária aplica-se 
somente a metodologia de cálculo estabelecida para essa, busca reafirmar, 
agora em sede constitucional, o entendimento do Supremo Tribunal Federal 
acerca da aplicação do melhor benefício também em favor do servidor. 
 
 Posicionamento já defendido por nós in MANUAL PRÁTICO DAS 
APOSENTADORIAS DO SERVIDOR PÚBLICO, obra publicada em co-autoria 
com Theodoro Vicente Agostinho, pela editora LTr, em sua 2ª edição, página 
237, senão vejamos: 
 
Em que pese tratar-se de decisão referente ao Regime Geral, sua aplicação no Regime 
Próprio é perfeitamente admissível já que, conforme já dito, seu fundamento se constitui 
no direito adquirido, direito fundamental de todos os cidadãos brasileiros. 
 
 Entretanto, na prática, isso não acontece já que não mesmo não 
havendo a previsão expressa da redação proposta para a parte final do inciso II 
do § 3° do artigo 40, matematicamente não haveria prejuízo para o servidor. 
 
 Isso porque, como a regra geral exige no mínimo 25 (vinte e 
cinco) anos para a concessão da aposentadoria voluntária e a compulsória fala 
que a proporcionalização dos proventos toma por base 25 (vinte e cinco) anos 
e está limitada a 1 (um), não existe possibilidade de recebimento de valores 
inferiores ao que o servidor receberia caso se aposentasse voluntária. 
 
 Uma vez que o tempo mínimo exigido para a inativação voluntária 
é o mesmo que limita o valor máximo a ser recebido pelo servidor. 
 
 Exemplificando: 
 
 Um servidor conta com 75 anos de idade, 26 de contribuição, dez 
no serviço público e cinco no cargo, calculada sua média contributiva obteve a 
importância de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 
 
 Pela regra da aposentadoria voluntária sua aposentadoria 
corresponderia a 77% (setenta e sete por cento) da média (R$ 5.000,00), ou 
seja, R$ 3.850,00 (três mil, oitocentos e cinquenta reais). 
 
 Na regra da aposentadoria compulsória, para sua aplicação 
imaginemos que esse mesmo servidor não conta com os 10 (dez) anos de 
serviço público, seus proventos serão de calculados multiplicando 1 pelo 
resultado anterior, fazendo com que o resultado seja o mesmo. 
 
 Daí a inexistência de melhora em favor do servidor, até porque a 
aplicação da metodologia de cálculo da aposentadoria voluntária somente será 
aplicada para aqueles que contem com mais de 25 (vinte e cinco) anos de 
contribuição. 
 
5 – Aplicabilidade aos atuais servidores 
 Nunca é demais lembrar que os atuais servidores, por uma série 
de fatores, podem completar os 75 (setenta e cinco) anos de idade, sem que 
tenha preechidos os requisitos para a aposentadoria voluntária, hipótese em 
que serão inativados compulsoriamente. 
 
 E nesse caso não há nenhum óbice quanto à aplicação da nova 
metodologia de cálculo em seu desfavor, já que a proposta em momento algum 
impede sua aplicação imediata aos atuais servidores e não cria um regra de 
transição. 
 
 Assim, considerando o teor da súmula 359 do Supremo Tribunal 
Federal onde se estabelece que ressalvada a revisão prevista em lei, os 
proventos da inatividade regulam-se pela lei vigente ao tempo em que o militar, 
ou o servidor civil, reuniu os requisitos necessários, há de se concluir que o 
servidor estará sujeito a esse novo regramento, mesmo tendo ingressado antes 
da promulgação do novo texto. 
 
 Portanto, é preciso ficar claro que as regras da aposentadoria 
compulsória e sua metodologia de cálculo alcançam o servidor público 
independentemente da data de seu ingresso no serviço público. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A NOVA APOSENTADORIA VOLUNTÁRIA 
 
 
 A proposta de modificação no texto constitucional, apresentada 
pelo Governo Federal, inovou ao, como se pode dizer, unificar as 
aposentadorias voluntárias em uma regra única. 
 
 Isso porque, hoje, ainda é possível ao servidor optar por se 
aposentar por idade ou por tempo de contribuição, ambas modalidades da 
aposentadoria voluntária, com o novo texto essa possibilidade deixa de existir, 
sendo possível apenas uma delas. 
 
 Daí o novo inciso III do § 1º do artigo 40 não ser mais subdividido 
em alíneas e passar a contar com a seguinte redação: 
 
 
§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo serão 
aposentados: 
... 
III - voluntariamente, aos sessenta e cinco anos de idade e vinte e cinco anos de 
contribuição, desde que cumprido o tempo mínimo de dez anos de efetivo exercício no 
serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria. 
 
 Assim, para que o servidor possa se aposentar voluntariamente, 
caso o novo texto seja aprovado, será necessário que ele conte com, no 
mínimo, 65 (sessenta e cinco) anos de idade, 25 (vinte e cinco) anos de 
contribuição, 10 (dez) no serviço público e 5 (cinco) no cargo efetivo em que se 
dará a aposentadoria. 
 
 Essa redação promove outra inovação, à medida que exige os 
mesmos requisitos etários e de tempo de contribuição para

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