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1 Curso completo de Direito Constitucional Profª. Sabrina Araújo Feitoza Fernandes Rocha Atualizada até a EC n° 71 de 29/11/12 Esta apostila não é de autoria pessoal, pois foi produzida através das obras de doutrinadores constitucionalistas, dentre eles Ivo Dantas, J. J. Gomes Canotilho, José Afonso da Silva, Paulo Bonavides, Celso D. de Albuquerque Mello, Luís Roberto Barroso, Walber de Moura Agra, Reis Friede, Michel Temer, André Ramos Tavares, Sérgio Bermudes, Nelson Oscar de Souza, Alexandre de Moraes, Nelson Nery Costa/Geraldo Magela Alves, Nagib Slaibi Filho, Sylvio Motta & William Douglas, Henrique Savonitti Miranda e tomou por base a apostila do Prof. Marcos Flávio, com os devidos acréscimos pessoais. PONTO 09 – DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA Toda a estrutura federal baseia-se na repartição de competências, considerada como a grande questão do federalismo. Art. 18 - A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição (art. 18, caput). §1º Brasília é a Capital Federal. Poderes/Entes União art. 20 a 24 Estados Membros art. 25 a 28 Municípios art. 29 a 31 Distrito Federal art. 32 LEGISLATIVO art. 44 a 75 Congresso Nacional art. 44 a 75 Assembléia Legislativa art. 27 Câmara Municipal art. 29 Câmara Legislativa art. 32 EXECUTIVO art. 76 a 91 Presidência da República art. 84 Governador de Estado art. 28 Prefeitura Municipal art. 29, I Governadoria Distrital art. 32, § 2º JUDICIÁRIO art. 92 a 126 Tribunais Superiores art. 92 a 124 Tribunais de Justiça e Juizes de Direito art. 8125 a 126 Inexiste O Poder Judiciário é mantido pela União art. 22, XVII Esta é a regra que estabelece o princípio da autonomia dos entes federativos. Na primeira parte desta apostila estudamos em detalhes a forma de Federativa de Estado. No Estado Federal há que se distinguir soberania e autonomia e seus respectivos titulares. O Estado Federal é o todo e único titular de soberania como pessoa jurídica de Direito Público externo, reconhecida pelo Direito Internacional. A União é entidade autônoma, 2 constituindo-se em pessoa jurídica de Direito Público interno. Os Estados-membros são entidades federativas também dotadas de autonomia e de personalidade de Direito Público interno (Código Civil, art. 41). Os Municípios e o Distrito Federal, também possuem autonomia e são também pessoas jurídicas de Direito Público interno. Autonomia significa a capacidade de autogoverno, auto-administração, e auto-organização, tudo com base no princípio hermenêutico da Simetria Constitucional. Esta autonomia se efetivará através da produção de normas jurídicas. As normas não são hierarquizadas em função da origem de sua emanação, mas em virtude de um critério de competência distribuída para editá-las, estabelecido pelo Constituição Federal. Unidade Federativa Competência União Geral - Nacional Estados Membros Residual - Geral - Setorial Distrito Federal Híbrida Municípios Local ou restrita UNIÃO Como vimos no capítulo dedicado à teoria geral, a União é pessoa jurídica de direito público interno. Externamente, na área das relações internacionais, aparece unicamente a República Federativa do Brasil, como pessoa jurídica de direito internacional (externo), competindo à União (CF, art. 21, I), através dos seus órgãos, representar o Estado Brasileiro exercendo as funções de soberania em nome do Estado Federal. A União detém competências constitucionais legislativas (arts. 22 e 24), competências administrativas (arts. 21 e 23) e competências tributárias (arts. 145 e 153). OBS: A Emenda Constitucional 69 de 29/03/12 alterou os arts. 21, 22 e 48 da Constituição Federal, para transferir da União para o Distrito Federal as atribuições de organizar e manter a Defensoria Pública do Distrito Federal. TERRITÓRIOS Os Territórios Federais integram a União, resultando de desmembramento de área pertencente a Estados já existentes ou de desmembramento de parte de outro Território Federal. Com a Constituição de 88, os territórios que existiam foram incorporados a algum ente federado ou foi transformado em Estado Membro. Atualmente, não existem Territórios, havendo apenas a previsão constitucional para formá-los. A sua criação depende de Lei Complementar aprovada pelo Congresso Nacional. Dentre as várias correntes sobre a natureza jurídica dos Territórios, predomina a que o compreende como autarquia territorial federal. OBS: Fernando de Noronha não é um território como muita gente pensa, ele foi incorporado ao nosso Estado de Pernambuco, de acordo com o art. 15 do ADCT, ainda que a maior parte da sua área seja um Parque Federal, de domínio da União. 3 É importante destacar que os Territórios Federais, por integrarem a União, não possuem autonomia. O funcionamento do território é regulado em lei ordinária(CF,art. 33, e § 1º).Os Territórios poderão ser divididos em Municípios. Estes Municípios terão autonomia. Não confundir: o ente federativo que não pode ser dividido em Municípios é o Distrito Federal. Cada Território elegerá 4 (quatro) deputados federais (CF, art. 45, parágrafo único). ESTADOS FEDERADOS Os Estados-Membros caracterizam o modelo federalista brasileiro desde as capitanias hereditárias, como forma de facilitar a administração da coisa pública. Cabe ressaltar, primeiramente, que o fato de Estados-membros incorporarem-se ou desmembrarem-se não significa ofensa à Federação. Tal procedimento em tudo difere da secessão. Esta é proibida por expressa limitação material de emenda à Constituição (art. 60, §4º, I ). A história recente, lá pelos idos dos anos 70, registra casos de fusão e de desmembramentos entre Estados-membros. O Estado do Rio de Janeiro se fundiu ao Estado da Guanabara dando origem ao Estado do Rio de Janeiro, tal como hoje está. No final dos anos 70, a parte sul do Estado do Mato Grosso desmembrou-se para formar um novo Estado. O mais importante, em se tratando de concurso, é fixar os passos a serem seguidos para criar novos Estados: Plebiscito, e Lei complementar aprovada pelo Congresso Nacional As regras para a elaboração das Constituições dos Estados constam da Constituição Federal, no ADCT art. 11, pautados no Princípio da simetria constitucional. O auto-governo dos Estados se expressa através da eleição direta pelo próprio povo do Governador e do Vice-Governador (CF art. 28, caput), e dos Deputados Estaduais (CF, art. 27). Os Estados organizarão, ainda, sua Justiça (CF, art. 125). Os Estados dispõem de competências administrativas (art. 23), de competências legislativas (art. 24 e §3º, art. 25) e tributárias (arts.145 e 155) e ainda de competências residuais, pois “são reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadaspela Constituição da República” (art. 25, § 1º, ). Pode, ainda, como ente autônomo que é, nos termos da CF e de suas próprias leis, dispor livremente sobre a aplicação dos recursos que arrecadar. OBS: quanto a competência residual, explicar a única exceção à regra. MUNICÍPIOS 4 Os Municípios até o advento da Constituição de 88 não eram considerados partes descentralizada do Estado Federado. Deixaram de serem unidades político-administrativas autônomas para, finalmente, garantir o status de entidades federadas, ao lado da União, dos Estados-Membros e do Distrito Federal. Em termos de concurso este é o ponto mais importante deste capítulo. A prática de desmembramento de Municípios para criar novosMunicípios vinha sendo muito rotineira. Em Pernambuco, por exemplo, entre muitos outros, o município de Tamandaré foi criado a partir do desmembramento de parte do município de Rio Formoso e este é apenas um dos muitos exemplos. A Emenda Constitucional nº 15, de 12/9/1996, deu nova redação ao §4º do art. 18 da CF. Antes havia muita facilidade e, de certo modo, houve proliferação de municípios sem condições financeiras mínimas. Com a nova redação, espera-se tornar mais difícil e responsável a criação de novos municípios, tendo em ser necessária a ocorrência de quatro condições: plebiscito; lei estadual específica que crie determinado município; lei complementar federal que estabeleça o período possível em que poderão ser criados; divulgação, na forma da lei, dos requisitos genéricos de viabilidade exigíveis e a publicação de estudos de viabilidade municipal. Para Alexandre Moraes esta lei será federal. As regras para a elaboração das Leis Orgânicas dos Municípios se encontram no art. 11, parágrafo único, do ADCT : O Município não dispõe de Poder Judiciário. Os processos de interesse dos Municípios são julgados em varas especializadas da Justiça Estadual. O Município exerce competências administrativas(arts. 23 e 30 IV a IX), organiza e presta os serviços públicos de interesse local (art. 30, V) dispõe de competências tributárias próprias através da instituição e arrecadação de seus próprios tributos (art. 30, III, c/c arts.145 e 156) e ainda de competências legislativas sobre assuntos de interesse local e de suplementação da legislação federal e da estadual no que couber (CF, art. 30, I e II). Importante ressaltar a Emenda Constitucional nº 58 de 23/09/09 que alterou a forma de composição das Câmaras Municipais inserindo no art. 29, IV, as alíneas d até x, reestruturando a forma de observância dos percentuais a serem observados no número de Vereadores de 9 a 55 por casa legislativa. DISTRITO FEDERAL O Distrito Federal é a capital do País. Foi o local escolhido para concentrar os centros de decisão política na nação. Brasília foi concebida por Juscelino Kubitschek, transferindo a capital do Sudeste, Rio de Janeiro, para o Centro-Oeste, localizado no Estado de Goiás. A versão oficial para a modificação foi que a decisão teve a intenção de tornar a capital do País segura contra invasões estrangeiras e incrementar o desenvolvimento da região Centro-Oeste. 5 O Distrito Federal é um ser híbrido no modelo federalista brasileiro, pois exerce as funções de Estado e Município ao mesmo tempo. Brasília tem a dualidade de competência e em conseqüência, dispõe de tributos estaduais e municipais, o que lhe propicia uma maior arrecadação, podendo oferecer à população serviços públicos de melhor qualidade. É vedada a divisão do Distrito Federal em Municípios. O Poder Judiciário no Distrito Federal apresenta especificidade, quando comparado com o dos Estados, na medida em que é organizado e mantido pela União. O Poder Legislativo será exercido por uma Câmara Legislativa composta dos Deputados Distritais. Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se o disposto no art. 27, relativo aos Deputados Estaduais. O Distrito Federal dispõe de competências administrativas(art. 23), de competências tributárias (arts.145 e 155) e ainda ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios (CF, art. 32, § 1º). Pode, ainda, nos termos da CF e das leis que adotar, dispor livremente sobre onde aplicar as suas receitas. QUADRO RESUMO FASES DE CRIAÇÃO/TRANSFORMAÇÃO DE ENTES FEDERATIVOS - ART. 18 §§ 2º,3º,4º CF PLEBISCITO LEI COMPLEMENTAR APROVADA PELO CONGRESSO NACIONAL LEI ESTADUAL CRIADORA ESTUDO DE VIABILIDADE NA FORMA DA LEI TERRITÓRIO (1) - SIM (LC CRIADORA) - - ESTADO (2) SIM SIM (LC CRIADORA) - - MUNICÍPIO (3) SIM SIM (LC DETERMINARÁ O PERÍODO) SIM SIM Art. 18, § 3º reza: Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. § 4º reza: A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por lei complementar federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estados de Viabilidade Municipal, apresentados na forma da lei. ATENÇÃO: A Emenda Constitucional nº 57, de 18/12/08 acrescentou o art. 96 no ADCT para convalidar os atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei 6 tenha sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à época de sua criação. VEDAÇÕES AOS COMPONENTES DA FEDERAÇÃO I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; II - recusar fé aos documentos públicos; III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. No Estado brasileiro inexiste religião oficial. Existe total separação e independência entre Estado e igreja, por isto recebe o nome de Estado laico. Ligações íntimas entre órgãos do Estado e as igrejas poderiam manipular a crença. A colaboração é permitida nas ações de interesse público, tais como o socorro às pessoas vítimas das calamidades. Os documentos públicos têm fé pública. Fé pública é a certeza de que tais documentos são verdadeiros. Trata-se de presunção relativa (juris tantum) porque admitem prova em contrário, no entanto, inverte-se o ônus da prova, ou seja, quem duvidar de documentos públicos terá que apresentar provas. O inciso III, do art. 19, enfatiza o princípio da igualdade, previsto no art. 5º, I. Além deste, no capítulo da nacionalidade (§2º, art. 12), existe uma norma proibindo diferenças entre brasileiros: “a lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.