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CCJ0020-WL-B-PP-Ponto 10 – Da Tripartição dos Poderes Estatais - Sabrina Rocha

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Curso completo de Direito Constitucional 
Profª. Sabrina Araújo Feitoza Fernandes Rocha 
Atualizada até a EC n° 71 de 29/11/12 
 
Esta apostila não é de autoria pessoal, pois foi produzida através das 
obras de doutrinadores constitucionalistas, dentre eles Ivo Dantas, J. 
J. Gomes Canotilho, José Afonso da Silva, Paulo Bonavides, Celso 
D. de Albuquerque Mello, Luís Roberto Barroso, Walber de Moura 
Agra, Reis Friede, Michel Temer, André Ramos Tavares, Sérgio 
Bermudes, Nelson Oscar de Souza, Alexandre de Moraes, Nelson 
Nery Costa/Geraldo Magela Alves, Nagib Slaibi Filho, Sylvio Motta & 
William Douglas, Henrique Savonitti Miranda e tomou por base a 
apostila do Prof. Marcos Flávio, com os devidos acréscimos 
pessoais. 
 
PONTO 10 – DA TRIPARTIÇÃO DOS PODERES ESTATAIS 
 
 Desde os tempos antigos até a idade moderna houve pouca evolução 
nos conceitos e sistemas de Estado. No período medieval, particularmente 
centralizador, o poder estava concentrado nas mãos de um monarca 
absoluto, vivendo-se então, de certa forma, sob o Estado de Polícia, quando 
o direito público se resumia numa só verdade: “O rei não erra; o rei não lhe 
fará mal”. Tais citações inspiravam-se fortemente na infeliz união entre o 
Estado e a Igreja, de onde veio a noção de que o poder real seria concedido 
por Deus, daí resultando a infalibilidade do seu exercício e, como corolário, a 
absolutismo pleno, bem representado pela máxima de Luís XIV, Rei da 
França: “O Estado sou eu”. Esse tipo de filosofia política não deixava espaço 
para o desenvolvimento do Direito Administrativo. 
 Somente com os movimentos revolucionários e filosóficos ocorridos 
na França e na Inglaterra e que se passou a buscar um modelo de Estado 
diferente, inspirando-se particularmente nos escritos dos antigos filósofos 
gregos, como Platão, por exemplo. 
 A partir daí, o atual conceito de Estado foi sendo desenvolvido, com 
destaque para o Barão de Montesquieu, que a partir dos estudos que 
realizou nas obras de John Locke, explicitou, no livro “O Espírito das Leis”, 
que o poder real tinha em si concentradas três formas de manifestação, a 
saber: A LEGISTATIVA, A EXECUTIVA E A JUDICIÁRIA. 
 Até os dias de hoje essa tripartição serve de modelo para os Estados 
modernos, sendo que a cada qual dessas manifestações de poder 
corresponde uma função peculiar, mas não exclusiva, conforme já 
demonstrado quando da apreciação do artigo segundo da Constituição 
Federal. Assim sendo, não há hierarquia entre eles. 
 Como ente personalizado, o Estado tanto poder atuar no campo do 
Direito Público como no do Direito Privado, mantendo sempre sua única 
personalidade de Direito Público, pois a teoria da dupla personalidade do 
Estado acha-se definitivamente superada. 
 Esse é o Estado Democrático de Direito, ou seja, o Estado cujo poder 
emana do povo e é juridicamente organizado sendo obediente às suas próprias 
leis. 
 Hodiernamente, o Poder Estatal é uno, não sofre divisões. O que existe 
é a distribuição entre órgãos autônomos e independentes nas funções de 
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Estado, com a finalidade de proteger a liberdade de cada cidadão frente à 
autoridade estatal. 
 O seu objetivo é evitar a concentração nas mãos de uma só pessoa, o 
que poderia gerar situações de abuso de poder. A separação de funções 
estatais, como garantia da perpetuidade do Estado Democrático de Direito, 
serve para impor limites aos detentores ou exercentes do poder, uma garantia 
contra possíveis arbitrariedades dos seus agentes. 
 A separação das três funções de poderes surgiu da passagem do 
Estado Absolutista para o Estado Liberal e tem em Montesquieu seu 
idealizador: “o poder deve limitar o poder, para evitar o abuso de poder”. 
 Destarte, não existirá um Estado Democrático de Direito, sem que haja 
(divisão de funções). Poderes de Estado, independentes e harmônicos entre si, 
bem como previsão de direitos e garantias individuais. 
 Não existe subordinação, pois atuam de modo independente, bem como 
não devem existir conflitos entre eles, devido ao objetivo de todos os poderes: 
assegurar o bem comum. 
 A função legislativa: estabelecer as regras de direito gerais e 
impessoais, impostas coativamente a todos e a fiscalizadora. 
 A função executiva: administração do Estado, de acordo com as leis 
elaboradas pelo Legislativo. 
 A função judiciária: atividade de distribuição da justiça e aplicação da lei 
ao caso concreto, em situações de litígio. 
 A separação dos poderes não é rígida, pois existe uma “interferência” de 
um poder no outro, ou seja, um poder desempenha sua função, mas ao mesmo 
tempo fiscaliza o outro poder (conhecido como sistema de freios e 
contrapesos). Também não é absoluta, posto que nenhum poder exercita 
apenas as suas funções típicas, sendo necessário ressaltar que cada um dos 
chamados poderes possui uma função predominante (funções típicas), que o 
caracteriza como detentor de uma parcela da soberania estatal, além de outras 
funções previstas no texto constitucional (funções atípicas), conforme já 
lecionamos. Só para relembrar: 
 O Poder Executivo é responsável por sancionar ou vetar os projetos de 
lei do Poder Legislativo, bem como edita medidas provisórias com força de lei 
(art. 62; 66, § 1° ); 
 O Poder Legislativo tem o dever de julgar anualmente as contas do 
Poder Executivo (art. 49, IX, CF); 
 É de competência do Poder Executivo nomear os Ministros dos 
Tribunais Superiores do Poder Judiciário, após prévia aprovação do 
Congresso Nacional (art. 52,III; e 84, XIV); 
 O chefe do Poder Executivo é julgado pelo Poder Legislativo nos casos 
de crimes de responsabilidade; 
 O chefe do Poder Executivo é julgado pelo Poder Judiciário nos casos 
de crime comum.

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