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DEFESA VEGETAL Durante a sua história evolutiva, as plantas têm consistentemente desenvolvido defesas químicas contra herbivoria e ataque de patógenos. Além disso, as plantas desenvolvem uma verdadeira guerra química contra outras espécies. São muitas as estratégias e os mecanismos envolvidos nesta importante função na sobrevivência das plantas. E três classes de compostos estão envolvidas nesses processos: fenóis, terpenos e alcalóides. A lignina e os taninos (compostos fenólicos) atuam na defesa vegetal, inibindo o ataque de herbívoros ou de patógenos. A lignina por ser muito resistente e estável, é praticamente indigerível aos herbívoros, além de bloquear o desenvolvimento de patógenos. Normalmente ocorre lignificação em áreas danificadas por lesões ou por infecção. Os taninos são evitados por mamíferos e outros herbívoros, pois podem inativar enzimas digestivas e formar complexos com proteínas vegetais tornando-as difíceis de digerir. Além disso, os taninos auxiliam na defesa contra microorganismos. Por exemplo, fungos e bactérias não podem atacar o cerne de muitas plantas lenhosas, devido aos altos teores de lignina e taninos. Além da lignina e taninos, outros grupos de fenóis são considerados compostos de defesa. São os estilbenos, estirilpironas e arilpironas. Os estilbenos apresentam uma fraca propriedade antibacteriana, mas são poderosos agentes antifúngicos, inibindo a germinação do esporo do fungo e crescimento da hifa. Nas plantas, os estilbenos também funcionam induzindo dormência e inibindo o crescimento das plantas (alelopatia). Outros estilbenos além de serem tóxicos a insetos e outros organismos possuem propriedade nematicidas e inibe a nutrição de mamíferos. Outros fenóis incluem isoflavonóides, que oferecem resistência ao ataque de microorganismos em leguminosas. Existem muitos outros grupos de compostos também são considerados fitoalexinas, como sesquiterpenos em Solanaceae e Malvaceae. Estas fitoalexinas, são formadas em resposta ao ataque de patógenos. Em algodão, o sesquiterpeno gossipiol possui provável ação contraceptiva masculina. Os alcalóides são ativos fisiologicamente e apresentam atividade antibiótica. A nicotina do fumo possui propriedades inseticidas e sua produção pela planta é estimulada por herbivoria. Outro alcalóide efetivo contra insetos é a cafeína. O alcalóide pirrolidizina encontrado nas Asteraceae e Borraginaceae é tóxico para mamíferos, causando envenenamento no fígado. O alcalóide quinolidizina ocorre principalmente no gênero Lupinus. Este alcalóide é altamente tóxico especialmente para ovelhas. O gosto amargo deste alcalóide também funciona para reduzir herbivoria. De uma maneira geral podemos afirmar que, pelo menos em parte, o sistema de defesa das plantas evoluiu sob pressão de seleção de predação. O SISTEMA IMUNE DE PLANTAS A resistência natural das plantas a patógenos baseia-se em parte em uma grande variedade de barreiras e mecanismos de defesa que já existiam independentemente do ataque do patógeno. São as defesas constitutivas, inespecíficas ou estáticas. Por outro lado, as plantas desenvolveram outros mecanismos de defesa mais efetivos, só ativados em presença de microorganismos patogênicos. Neste caso a resistência é dita induzida, dinâmica ou pós-infecção. As plantas respondem à infecção usando um sistema imune inato. A imunidade inata é uma forma primitiva de defesa contra infecção microbiana que ocorre não só nas plantas, mas também em insetos e mamíferos. Porém o sistema imune das plantas é muito diferente daquele dos mamíferos, pois elas não possuem células de defesa móveis e nem um sistema imune somático adaptativo. Ao contrário, as plantas contam com a imunidade inata de cada célula e com sinais sistêmicos a partir dos sítios de infecção. Os efeitos da defesa induzida em insetos fitopatagênicos incluem aumento da toxidez, atraso no desenvolvimento das larvas ou susceptibilidade ao ataque de parasitas de insetos. As defesas induzidas comprometem menos o desempenho das plantas e são mais duráveis do que os mecanismos de defesa constitutivos. A maioria das respostas imune nas plantas envolve sinais químicos sistêmicos enviados para toda a planta. As plantas usam receptores que reconhecem padrões de ataque de patógenos produzindo sinais químicos que auxiliam a estirpar a infecção. O padrão de reconhecimento ocorre em dois níveis. No primeiro as células reconhecem e respondem a moléculas comuns a muitos micróbios, inclusive os não patogênicos. No segundo elas respondem a fatores de virulência. Quando uma parte da planta torna-se infectada com um patógeno, a planta produz uma resposta de hipersensibilidade (HR), na qual as células no local de infecção sofrem uma rápida morte celular programada (PCD) para evitar a difusão da doença para outras partes da planta. O AS promove resistência a certos patógenos de plantas incluindo vírus mosaico do tabaco, através da HR. A resistência sistêmica adquirida (SAR) é um tipo de resposta de defesa que confere à planta resistência a um amplo espectro de agentes infecciosos. A SAR envolve a produção de mensageiros químicos como o AS e o ácido jasmônico. O AS é indispensável para a expressão da SAR, embora recentemente tenha sido demonstrado que ele não é o sinal translocado por toda a planta, responsável pela resposta sistêmica. Estudos recentes tem mostrado o papel de jasmonatos na transmissão do sinal para porções não afetadas da planta. Os mecanismos de silenciamento de RNA também são importantes na resposta sistêmica das plantas, como exemplo, temos o bloqueio da replicação de vírus. A resposta desencadeada por ácido jasmônico é estimulada em folhas danificadas por insetos e envolve a produção de metil- jasmonato (volátil). A SAR pode ser inibida em plantas sujeitas a estresse abiótico, em uma via dependente de ABA. Assim, cada célula integra sinais do meio externo para ativar respostas de defesa locais e sistêmicas. Há evidências da origem primitiva conservada do sistema imune inato de plantas, insetos e mamíferos. Características comuns incluem a família de receptores extracelulares com domínios ricos em repetições de leucina que reconhecem componentes conservados da superfície de microorganismos, como lipossacarídeos, flagelina, peptidoglicanos ou quitina. A sinalização de defesa que inclui cascatas de proteínas-quinases ativadas por mitógenos (MAPK), produção de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, cálcio, ativação de fatores de transcrição e a produção de peptídeos de defesa, também é evolutivamente conservada. A evolução da resposta imune de plantas resultou em sistema altamente complexo que é capaz de resistir ao ataque por patógenos. A proteção contra patógenos inclui barreiras físicas, como cutículas cerosas e compostos antimicrobianos pré-formados. A parede celular constitui- se uma segunda barreira para prevenir a entrada de possíveis invasores. Os patógenos que conseguem ultrapassar estas primeiras linhas de defesa deparam-se com as respostas induzidas do sistema imune de plantas. Primeiro são ativadas respostas de defesa gerais e localizadas. A seguir outra linha de defesa específica para cada tipo de patógeno á ativada. Nessa linha são geradas respostas sistêmicas e duradouras mediadas por genes de resistência. Três moléculas são os principais sinalizadores de plantas, que agem regulando a defesa contra microorganismos: ácido salicílico, ácido jasmônico e etileno. PAPEL DOS HORMÔNIOS NA DEFESA VEGETAL Ácido jasmônico: A resistência contra insetos herbívoros e alguns fungos fitopatogênicos depende da sinalizaçãodesencadeada por injúria (ferimento) mediada por ácido jasmônico e etileno. Quando folhas ou outros órgãos sofrem injúria, liberam oligossacarídeos ou sistemina (polipeptídeo de 18 aminoácidos) que se liga à membrana plasmática, iniciando a biossíntese de ácido jasmônico, que por sua induz a ativação de genes para síntese proteínas antifúngicas tais como osmotina e tionina e induz atividade de enzimas relacionadas à fitoalexinas, tais como chalcona sintase, PAL e hidroximetilglutaril-CoA redutase. A indução de inibidores de proteases foi um dos primeiros eventos associados à defesa por ácido jasmônico. Plantas que sofrem injúria induzem inibidores de proteases em folhas não danificadas, demonstrando que a defesa vegetal funciona de uma maneira semelhante ao sistema imune, nos animais, não com a mesma complexidade, mas induzindo resistência entre folhas de um mesmo indivíduo e até mesmo entre indivíduos de uma população inteira. Os eliciadores derivados dos insetos são também capazes de induzir a emissão de substâncias voláteis pelas plantas, atraindo predadores e parasitas desses insetos herbívoros, especialmente AJ e seus derivados metil-AJ, mas também aumentando a produção de metil-AS. Etileno: a biossíntese de etileno é ativada em muitas plantas atacadas por patógenos ou após a exposição a eliciadores de mecanismos de defesa. Em algumas respostas o etileno age de maneira sinérgica com o AJ contra patógenos como a bactéria virulenta Erwinia carotovora. Ácido salicílico: O ácido salicílico é importante para as respostas de hipersensibilidade (HR) e resistência sistêmica adquirida (SAR). A infecção inicial de um patógeno pode aumentar a resistência a ataques futuros pelo desenvolvimento de uma SAR. O primeiro passo é a invasão de uma folha, levando ao acúmulo de ácido jasmônico, que funciona como um sinal, sendo transmitido para outras partes da planta, pelo sistema vascular, resultando em um aumento da resistência ao patógeno. Ao mesmo tempo, ocorre a síntese de metil salicilato e metil jasmonato (voláteis), sinais químicos transmitidos pelo ar para outras plantas adjacentes. Em algumas respostas contra patógenos, o etileno age de maneira antagônica ao AJ, como a bactéria virulenta Erwinia carotovora. Poliaminas: Na defesa vegetal a espermina ao ser oxidada libera peróxido de hidrogênio, sinal que ativará resposta de defesa contra patógeno, tais como a HR (resposta de hipersensibilidade). Neste tipo de resposta a célula invadida pelo patógeno morre, impedindo que o patógeno se difunda para as outras células. BIBLIOGRAFIA Annual Review of Plant Physiology and Plant Molecular Biology. (1962- 1999). Annual Reviews, Palo Alto. Davies, P.J. 2007. Plant hormones biosynthesis, signal transduction, action!. Dordrecht: Kluwer. Jones JDG and Dangl JL. 2006. The plant immune system. Nature 444: 323-329. Kerbauy, G.B. 2004. Fisiologia vegetal. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. Kusano T., Yamaguchi K., Berberich T. & Takahashi, Y. 2007. Advances in polyamine research in 2007. J Plant Res 120:345–350 Mohr, H. & Schopfer, P. 1995. Plant physiology. Springer, London. Osborne, D.J. & McManus, M.T. 2005. Hormones, signals and target cells in plant development. Cambridge University Press, New York. Taiz, L. & Zeiger, E. 2004. Fisiologia vegetal. Artmed Editora. Porto Alegre. Taylor, J. E. and McAinsh, M. R. 2004. Signalling crosstalk in plants: emerging issues. 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