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CCJ0051-WL-A-AMRP-13-Produção do Texto Jurídico Argumentativo

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Semana 13 – Teoria e Prática da Argumentação Jurídica
Para a semana 13, sugerimos também a leitura do capítulo 2.4 de FETZNER, Néli Luiza Cavalieri; TAVARES Jr., Nelson Carlos; VALVERDE, Alda da Graça Marques. Lições de Argumentação Jurídica. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
Vivemos, atualmente, um paradoxo. De um lado, é fato que a disciplina Argumentação Jurídica ganhou nos últimos anos contornos cada vez mais claros. Os Cursos de Direito, no país inteiro, começaram, com maior ou menor rapidez, a inserir em seus currículos uma disciplina autônoma, cuja finalidade era aprofundar o estudo das técnicas e das estratégias de persuasão à disposição de quem lida com a produção das peças processuais.
O próprio Ministério da Educação e Cultura (MEC) e a Associação dos Magistrados do Brasil (AMB) têm incentivado a implementação dessa disciplina no início do Curso, de maneira a favorecer uma melhor formação humanística e reflexiva aos estudantes de Direito acerca das temáticas que essa disciplina enfrenta cotidianamente.
De outro lado, é inquestionável que o advento da Informática e a necessidade crescente de uma produção cada vez mais acelerada na prática de qualquer profissional potencializaram o cenário predominante atual em que a reprodução (e não a produção) de conteúdos e de conhecimento se faz possível e muitas vezes inevitável, sem que haja a preocupação com a utilização consciente da linguagem e de seus recursos.
Uma das importantes críticas que se costuma fazer aos advogados na prática forense, aliás, é a redação de petições iniciais extremamente longas, com diversas citações de pertinência duvidosa, que apenas repetem desnecessariamente um mesmo conteúdo acessado pela internet e largamente reproduzido. Não há, na maioria das peças produzidas, uma seleção apurada e criteriosa de fontes que estejam a serviço de uma proposta argumentativa.
Os recursos “recortar/copiar” e “colar” oferecidos pelo editor de texto estimulam os estagiários de Direito a reproduzirem, em suas peças, longos trechos de outras, sem a preocupação com a autenticidade e com as peculiaridades do caso sobre o qual se debruçam.
Chega-se à situação absurda de muitos profissionais terem uma coletânea de modelos armazenada em seu computador – petição inicial sobre descumprimento de contrato, sobre indenização por danos morais, etc. – que será mecanicamente utilizada em qualquer outra situação.
Veja que a crítica aqui não se dirige à proposta de usar o “modelo” como metodologia de ensino para o acadêmico de Direito. Esse procedimento se faz muitas vezes necessário e, quase sempre, muito eficiente para alguém que ainda não possui nenhuma referência visual para uma peça de que somente ouviu falar e com a qual nunca travou qualquer contato.
Ressalte-se também que existem excelentes advogados, que utilizam com propriedade a linguagem e que se recusam à simples subsunção do fato à norma positivada. Com isso, desenvolvem de maneira brilhante suas teses para o caso decidendo. 
A questão aqui desenvolvida defende a concepção de que o “modelo” deva apenas servir como referência para outras produções autônomas em que o conteúdo acumulado pelo aluno será utilizado de maneira consciente. Isso ajudará a entender que, para produzir uma petição inicial, é necessário utilizar o conteúdo trabalhado em Direito Civil, em Introdução ao Direito, em Argumentação Jurídica e em Processo Civil, por exemplo. 
A cópia não fará, certamente, com que consiga essa visão orgânica e interdisciplinar que a ciência jurídica exige de seus profissionais. Ao contrário, estimula a percepção fragmentada e estéril do direito. Por essa razão, (é que) entendemos que não há motivação suficiente para a citação de longos trechos de doutrina e de dezenas de fontes jurisprudenciais, salvo se se fizerem absolutamente necessárias à sustentação que o próprio caso concreto exige para a persuasão do magistrado.
Portanto, o paradoxo a que nos referimos anteriormente pode ser resumido da seguinte maneira: ao mesmo tempo em que a Argumentação Jurídica ganhou o status de disciplina autônoma e indispensável à formação do acadêmico de Direito, a modernidade impulsiona – por meio dos recursos computacionais – o redator à reprodução de um discurso pronto, irrefletido e ineficiente do ponto de vista argumentativo.
Em que pese a aparente contradição, não há dúvidas de que a argumentação deixou de exercer papel secundário e, hoje, funciona como requisito fundamental de todo aquele que pretende obter sucesso nas lides em que atua.
O reconhecimento da importância da argumentação para o Direito não é recente; já em 1958, Perelman e L. Olbrechts-Tyteca afirmavam na introdução do Tratado da Argumentação que, durante séculos, a argumentação foi relegada a segundo plano, porque as decisões judiciais não precisavam de fundamentação. A atividade jurisdicional do magistrado consistia na busca da decisão justa para cada caso a ele apresentado. Os critérios que determinavam tal decisão eram quase sempre imprecisos e subjetivos; muitas vezes se confundiam com valores morais, sem vinculação necessariamente jurídica.
No mesmo sentido, Vítor Gabriel assinala que, com o advento da necessidade de fundamentação das decisões judiciais, decorrente inclusive da separação dos poderes e da possibilidade de mútuo “controle” entre eles, passou-se a privilegiar mais intensamente “a necessidade de construção do discurso, dos processos escritos e da racionalização do processo de construção do Direito”�.
No início de 1970, Chaïm Perelman inseriu um curso de Argumentação na Universidade de Bruxelas, onde lecionou. Essa proximidade histórica talvez ainda nos dificulte perceber a relevância fundamental que a argumentação tem para a atividade jurisdicional de um Estado democrático de Direito.
� RODRÍGUEZ, Vítor Gabriel. Argumentação jurídica: técnicas de persuasão e lógica informal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. P.9.

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