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A Indústria da Justiça do Trabalho - A Cultura da Extorsão, de Josino Moraes

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A INDÚSTRIA DA JUSTIÇA DO 
TRABALHO 
A Cultura da Extorsão 
Josino Moraes 
 
 
A Indústria da Justiça do Trabalho 
A Cultura da Extorsão 
Josino Moraes 
 
Versão para eBook 
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[Notas renumeradas e agrupadas para edição em eBook] 
 
Fonte Digital 
www.josino.sp13.net 
josinomoraes@hotmail.com 
 
© Copyright 2000,2005 
Josino Moraes 
 
O Autor 
 
 
Josino Moraes, descendente de paulistas, nasceu em Assis, SP, em 1941. Sua formação 
primária e secundária deu-se em colégios diocesanos, salesianos e escolas comuns. 
Posteriormente, estudou no Colégio Bandeirantes, de São Paulo, e se graduou em 
Engenharia Civil pela Universidade Mackenzie, em 1964. Nos anos 60, fascinado pela 
Revolução Cubana e pelas “novas” idéias, tornou-se marxista (comunista). Arnaldo 
Madeira, o “Madeirinha”, líder do governo na Câmara durante o segundo mandato de 
Fernando Henrique Cardoso e um dos nomes fortes da nomenklatura tucana, foi um de 
seus camaradas de base, reunião de várias células comunistas das faculdades, então na 
Rua Maria Antônia, em São Paulo, território também freqüentado, anteriormente, pelo 
então infante Fernando Henrique Cardoso. 
Logo após o movimento militar de 1964, viveu na clandestinidade, viajou a Cuba, com 
o devido direito a treinamento militar de seis meses, e participou dos preparativos do 
movimento guerrilheiro pós-64, cuja figura central era Leonel Brizola, herdeiro político 
de Getúlio Vargas. 
Em 1968, exilou-se no Chile, onde permaneceu até a queda de Salvador Allende, em 
1973. Lá, trabalhou como engenheiro e deu seus primeiros passos nos estudos de 
economia. Em 1973, enfrentou seu segundo exílio na Suécia, onde participou, como 
pesquisador, do Instituto de Estudos Latino-Americanos de Estocolmo e se graduou em 
Economia pela Universidade de Estocolmo. Lá, iniciou seus estudos de doutoramento, 
que foram interrompidos pela Anistia, em 1979, quando retornou ao Brasil. No exílio, 
conviveu com José Serra, Fernando Gabeira e outros tantos desconhecidos brasileiros e 
latino-americanos, marxistas, filomarxistas, cristãos marxistas, marxistas cristãos (sic) 
(esses últimos quase sempre padres), ou perfectos idiotas latinoamericanos! Hoje, 
muitos deles se encontram entrincheirados sob a bandeira do fundamentalismo 
ecológico e outros temas próprios da agenda de países em que o capitalismo floresceu, 
prosperou e abriu o caminho para o futuro. 
Na sua volta ao Brasil, trabalhou como engenheiro estrutural e, logo mais, arrendou o 
sítio de seus progenitores, onde plantou trigo e soja. O plantio adverso do trigo lhe 
causou um derrame na retina (central serosa), que lhe tolheu boa parte da visão. O 
plantio da soja rendeu aproximadamente US$ 30 mil (dólares de 1983), o que lhe 
permitiu abrir, em 1983, uma marcenaria, em que trabalhou com a fabricação de móveis 
sob encomenda — seu hobby, em Campinas, SP. Permaneceu nessa atividade até 2001, 
quando “vendeu” a empresa — a bem da verdade, quebrou, como a quase totalidade de 
seus pares do setor mobiliário. Publicou seu livro: A Indústria da Justiça do Trabalho – 
A Cultura da Extorsão. 
Desde 2001, vem aprofundando seus estudos sobre a tragédia nacional e, em menor 
medida, da América Latina, publicando vários artigos e ensaios a esse respeito. 
Campinas, Ano 2000. 
 
A Indústria da Justiça do Trabalho 
A Cultura da Extorsão 
 
Dedico esta obra à saga de milhões de micro e pequenos empresários, da cidade e 
do campo; em especial ao meu amigo Arruda, micro-empresário, tapeceiro, que 
morreu vítima da Justiça do Trabalho e das taxas de juros, num país no qual, 
infelizmente, o capitalismo não floresceu. 
“Sem confiança mútua, nenhum sistema pode funcionar” — Alan Greenspan, Presidente 
do Fed — Banco Central dos EEUU, órgão independente da Presidência. 
 
Sumário 
 Resenha 
 Apresentação 
 Prefácio 
 Introdução 
 A Justiça do Trabalho (17/3/99) 
 A História da Justiça do Trabalho (31/3/99) 
 O Mercado da Justiça do Trabalho (15/4/99) 
 Aos Juízes do Trabalho (7/5/99) 
 À Associação dos Advogados Trabalhistas (26/5/99) 
 A Justiça do Trabalho e o Artigo 5° (15/6/99) 
 A Justiça do Trabalho e o Emprego (6/7/99) 
 O Seguro-Desemprego e os 40% (20/7/99) 
 A FIESP e a Justiça do Trabalho 
 Reformar a Justiça do Trabalho? (3/9/99) 
 Zulaiê, Greenspan e a Justiça do Trabalho 
 “O Direito do Trabalho” 
 “História do Direito do Trabalho” 
 “História da Justiça do Trabalho” 
 A Extorsão Sumária 
 Da Conciliação Prévia 
 Os Três Mandamentos 
 Glossário 
 Índice de principais obras consultadas 
 Notas 
 
A (IN)JUSTIÇA DO TRABALHO 
Cândido Prunes 
Vice-Presidente do Instituto Liberal 
 
Trata-se de um feito digno de nota constatar que uma das críticas mais lúcidas sobre a 
Justiça do Trabalho no Brasil foi escrita por um engenheiro e economista. Mesmo tendo 
suas origens no antigo Partido Comunista e vivido o exílio durante o interregno militar, 
o autor, Josino Moraes, conseguiu desprender-se dos preconceitos, das idéias prontas e 
dos lugares-comuns que cercam as análises sobre o Direito e a Justiça do Trabalho 
brasileiros. 
O título da obra já demonstra a coragem do autor: “A indústria da Justiça do 
Trabalho — a cultura da extorsão”. Advogados e juízes parecem ter, há muito tempo, 
perdido a noção, em primeiro lugar, das origens do Direito do Trabalho e do seu braço 
judiciário no Brasil e, em segundo lugar, dos seus efeitos nefastos para com os 
interesses dos próprios trabalhadores. O autor descreve com precisão o calvário que 
significa o judiciário trabalhista para os pequenos e médios empresários, que, muitas 
vezes, chegam diante dos juízes tão “míseros” quanto os reclamantes. As armadilhas da 
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e das leis processuais colocam todos os 
empregadores em situação de flagrante desvantagem perante os empregados, 
desprezando solenemente o princípio da igualdade, “assegurado” pela Constituição 
Federal de 1988. As grandes corporações, entretanto, dispõem de enormes e sofisticados 
departamentos jurídicos para fazer frente às demandas trabalhistas. Também conseguem 
repassar para os seus consumidores os custos decorrentes das reclamatórias trabalhistas. 
Já os pequenos e médios empresários são, em geral, surpreendidos pelo emaranhado das 
normas trabalhistas e, mais ainda, pela Justiça do Trabalho, e terminam por sucumbir 
economicamente, pois não têm como repassar esses custos. 
O resultado de todo esse verdadeiro caos já está visível a olho nu: mais da metade dos 
postos de trabalho no Brasil são “informais”. Poucos empresários conseguem suportar 
os custos que as leis trabalhistas e o Judiciário impõem. O número crescente de camelôs 
e ambulantes, especialmente nos grandes centros urbanos, é outro resultado das leis 
trabalhistas. A “carteira assinada” está inviabilizada economicamente. 
Muito feliz é a ênfase que o autor dá às origens da CLT e do Judiciário Trabalhista. 
Oriundos da Itália fascista, dos tempos de Mussolini, o “Duce”, lá, ambos foram 
abandonados com o fim da II Guerra Mundial. No Brasil, o modelo fascista foi adotado 
durante a Ditadura Vargas e, desde então, ele só “evoluiu”, como um tumor, para usar a 
linguagem de Josino Moraes. 
O estilo da obra deixa transparecer em vários momentos a justa indignação do autor. É 
compreensível, pois ele relata a sua sofrida experiência como pequeno empresário em 
Campinas – SP. Mas a sua perspectiva de economista e de homem prático colocam a 
questão numa forma poucas vezes observada em nossos meios jurídicos. A crítica 
destemida e profunda, por quem conheceu oproblema de dentro, são as grandes 
virtudes dessa obra. Juízes trabalhistas, advogados e, principalmente, a legião de 
desempregados brasileiros, deveriam ler essa obra para compreender as raízes do drama 
social representado pela escassez crescente de empregos no mercado formal. 
 
Apresentação 
 
Este livro contém o relato da experiência do envolvimento de um pequeno empresário 
com a Justiça do Trabalho. O tom de desabafo que caracteriza o texto advém do caráter 
e do desfecho dramáticos daquela experiência. 
Na verdade, o choque de Josino Moraes deu-se com uma estrutura mais ampla e mais 
poderosa, na qual se insere a instituição judiciária: o Estado Patrimonial. 
Na Europa, apareceram dois tipos de organização estatal: o supracitado Estado 
Patrimonial e o Estado Constitucional. Este último correspondeu ao desenvolvimento 
das relações estabelecidas entre o governante e a sociedade, no sistema feudal, 
consubstanciadas no contrato de vassalagem: os senhores feudais conservavam sua 
independência em relação ao monarca, cujo poder vigorava na área territorial em que se 
reunia o conjunto dos feudos. 
O livro A Sociedade Feudal (1939-1940), de Marc Bloch (1886-1944), caracteriza 
amplamente o regime em causa, surgido na Inglaterra e na Europa Ocidental. 
Em contrapartida, o Estado Patrimonial revelou-se mais forte do que a sociedade, sendo 
dominado pela burocracia. Foi a forma de que se revestiu na Península Ibérica e na 
Prússia, tendo sido estudado por Max Weber (1864-1920). 
Transplantado para o Brasil, não se consolidou de pronto. Porquanto, tivemos, nos 
primeiros séculos, grupos sociais dotados de poder econômico. É um fenômeno 
sobretudo do período republicano e justamente o criador da Justiça do Trabalho, Gétulio 
Vargas (1883-1954) é que lhe deu acabamento. 
Sob Vargas, criou-se, entre nós, o Estado Nacional, que se revestiu de características 
patrimonialistas típicas, subseqüentemente aprofundadas, em especial sob os governos 
militares. Trata-se do traço essencial da chamada Era Vargas, que se iniciou nos Anos 
30 do século passado e ainda não foi superada de todo. 
No caso particular da Justiça do Trabalho, combinou-se com outra tradição perversa, a 
da Contra(?)-Reforma, que nutre até hoje o desapreço pelo empresário e o ódio ao lucro 
e à riqueza. 
Ambos são processos históricos adequadamente estudados. 
No nosso caso, sair do patrimonialismo tem se revelado tão complexo quanto sair do 
comunismo, conforme estamos tendo oportunidade de presenciar nos anos 
transcorridos desde o fim da União Soviética. 
Tanto lá quanto cá, o meio cultural e a moralidade social básica não ajudam. Tal 
circunstância é que permite avaliar a importância do relato de Josino Moraes. Há de 
servir para enfraquecer o poder da chamada CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), 
que se tornou um autêntico obstáculo à modernização das relações trabalhistas. 
A proposta do Prof. José Pastore — sem favor, o principal estudioso brasileiro da 
questão — é no sentido de que se chegue a um acordo com os sindicatos para definir 
aqueles direitos que seriam de fato fundamentais; por isto mesmo garantidos na Lei. Os 
demais passariam a ser negociados livremente entre as partes. Os dispositivos da Carta 
de 88 que procuram estendê-los sem peias têm contribuído sobretudo para fomentar a 
informalidade, que equivale, de fato, à renúncia a todos os direitos, o que é também uma 
situação que precisa ser superada. 
Ao longo da era republicana, contamos com poucas oportunidades de experimentar a 
democracia. Assim, tivemos que recomeçar mais uma vez, precedentemente sem 
sucesso. Desde a última abertura, a partir de 1985, transcorreu muito pouco tempo, mas 
o suficiente para nos darmos conta de que se trata de um caminho árduo e difícil. 
Para trilhá-lo com êxito, cabe-nos saber escolher as prioridades. A reforma econômica e 
a reforma administrativa do Estado são certamente prioritárias. Mas as dificuldades em 
completá-las sugerem que deveríamos agora alterná-las, concentrando-nos na reforma 
política e na flexibilização das relações de trabalho. Espero que este livro venha a 
constituir-se numa séria advertência quanto à urgência desta última. 
Antonio Paim, Rio de Janeiro, Agosto de 2001. 
 
Prefácio 
 
O título original deste trabalho seria “A Imundície da Justiça do Trabalho”, a mim 
sugerido por um pequeno-empresário de quem me tornei amigo devido aos meus artigos 
sobre o tema, publicados pelo Correio Popular de Campinas – SP. Posteriormente, atinei 
para o título atual, “A indústria da Justiça do Trabalho” — preferido pelo meu editor, 
Sérgio Vale, filhos e inúmeros amigos. O objeto de estudo aqui abordado refere-se a 
ambas facetas: a imundície e a indústria da Justiça do Trabalho, bem como suas trágicas 
conseqüências para o desenvolvimento sócio-econômico nacional. 
De fato, ainda que fatos recentes (1999) possam associar o título original deste trabalho 
ao juiz trabalhista Nicolau dos Santos Neto (Lalau para os íntimos), o objeto de estudo 
em questão não guarda nenhuma relação com Lalau e suas estripulias. A imundície dos 
169 milhões de reais desviados da obra do Fórum Trabalhista de São Paulo é ficha 
pequena perto da imundície abordada aqui. Aquela, algo em torno de 100 milhões de 
dólares de 1999. Converto o montante para dólares para facilitar o trabalho de futuros 
historiadores, uma vez que o Brasil não dispõe de uma moeda strictu sensu desde 1942, 
quando Getúlio Vargas deu o pontapé inicial, substituindo os réis por cruzeiros. Desde 
então, já contabilizamos 8 “moedas”. Não terá o real melhor sorte. O affaire Lalau é 
pontual, nada significativo, num quadro de corrupção generalizada num Estado em 
avançado estado de degeneração; vários países latino-americanos são bons paralelos, 
mas a Colômbia é o caso mais interessante, devido ao seu mais avançado estado de 
dilaceração — o caso colombiano é mais grave devido à existência das últimas 
guerrilhas marxistas na face da Terra. O atual “Estado” russo é outro paralelo 
interessante. Lá, o vazio produzido pela queda do Estado comunista não gerou forças 
políticas suficientes para a reconstrução de um novo Estado. 
A corrupção daqui, como em todo o mundo, guarda uma estreita correlação com a 
desintegração da saúde do Estado e, portanto, continuará aumentado em gênero, número 
e grau, independentemente das denúncias sobre escândalos e de suas quase infinitas 
CPI’s, que tanto divertem nossa mídia e nosso povo(1). Observando este fenômeno a 
partir de um outro ponto de vista, trata-se de mera diversão — “boi-de-piranha”, na 
linguagem dos militares e dos nossos antepassados bandeirantes, ou ainda “anodo de 
sacrifício”, na linguagem dos eletroquímicos. Até o quero-quero, um pássaro, domina 
este conceito. De fato, um amigo me relatou que, ao passear com sua cachorra pelo 
cafezal, o quero-quero macho adianta-se e provoca a sua própria perseguição com o 
intuito de proteger —distrair— sua parceira e os ovos! Na época de Vargas, essa 
operação era denominada despistamento, área em que o Petiço gaúcho crescia e 
transformava-se num verdadeiro mestre do Mal — veja-se o magnífico trabalho de 
Affonso Henriques, aqui citado. Hoje, a idéia central é distrair a sociedade da questão 
realmente fundamental, a saber, o crescimento econômico e a luta por uma sociedade 
sem pobres nem miseráveis. E também, obviamente, como simples corolário, a ausência 
de bandidos, piratas, sicários, assassinos, assaltantes, estupradores e quejandos. 
Infelizmente, não há forças políticas para deter ou reverter o curso inexorável da 
degradação do Estado brasileiro nos seus 3 níveis: União, Estados e Municípios. 
O objeto de estudo aqui é a imundície institucional, muito mais relevante, 
evidentemente,pois ela guarda uma relação estreitíssima com o crescimento econômico. 
Se houvesse a possibilidade de reconstruir um Estado hígido, com instituições 
saudáveis, enxuto, os Lalaus da vida seriam um mero refresco, objetos de estudo para 
psicanalistas estudiosos de Melanie Klein e voltados para a questão da voracidade, ou 
então, simples diversões para distrair e idiotizar o povão e suas elites, tal qual as 
telenovelas. A legislação trabalhista brasileira — fruto de um fascismo “melhorado” — 
é tão fantástica que recentemente recebi um convite para participar de um curso sobre 
como dispensar um funcionário, tal a burocracia e o número de armadilhas da Justiça do 
Trabalho. Quem sabe, logo mais, teremos um curso de PhD. sobre o tema. Nos Estados 
Unidos, o país que mais deu certo nos séculos XIX e XX, basta dizer: “You are fired.” e 
ponto final; sem maiores delongas. Ao tratar desta teratologia institucional, relato 
parcialmente e explico parte da história e da tragédia nacionais no século XX. 
A Lei Camata, bem como a Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000, que limitam os 
gastos públicos com seus funcionários — 60% das receitas, servirão apenas para inglês 
ver — Oh! rara e maldita herança do Império! A Lei de Responsabilidade Fiscal passou 
raspando pelo Supremo Tribunal Federal — 6 votos favoráveis contra 5. Ademais, 
existe a chicana da terceirização da mão-de-obra! 
Uma observação pessoal é que a corrupção, desde 1985, com Tancredo Neves e seus 
atuais predecessores, “democratizou-se”, descendo aos mais baixos níveis da 
administração pública(2). Antes, sua principal manifestação era na cúpula, desde os 
tempos de Adhemar Pereira de Barros e Jânio Quadros. Um colega de turma, 
engenheiro, contou-me que na época de Adhemar, as “comissões” para obras públicas 
giravam em torno de 5%. No ciclo militar, era vox populi que elas teriam subido para 
10%, e no início do atual período, embasado num sistema de eleições com dezenas de 
partidos (37) e dois turnos(3), que seus próceres denominam de “Nova Republica”, elas 
foram bater nos 30%, via Quércia(4) etc. Hoje, este aspecto da corrupção é 
relativamente pequeno, pois, com a pequena exceção do Fórum do Lalau, praticamente 
não existem mais obras públicas! O Rodoanel de Campinas, que liga a Via Anhangüera 
à Via D. Pedro I, com míseros 11 Km de extensão, demandou 30 anos para sua 
execução! Mas, o melhor sintoma desta tragédia é o trauma no setor elétrico a partir de 
2001. Os ínfimos investimentos públicos na área, sobretudo desde 1990, agravados pela 
escassez de chuvas desde 1996, criaram uma situação insustentável. Trata-se da melhor 
expressão da falência do Estado brasileiro: um país estrangulado pela falta de energia. 
Venderam-se algumas distribuidoras de energia, pouquíssimas geradoras e nenhuma 
linha de transmissão ao setor privado nacional e internacional, mas elas serviram 
apenas, até aqui, para o financiamento dos insolúveis déficits gêmeos, tanto o interno 
quanto o externo, alavancando o Plano Real e proporcionando-lhe esplêndidas vitórias 
eleitorais. Além disso, a inépcia da burocracia brasileira, tão ciosa de regras, leis, 
decretos, decretos-leis, portarias, regulamentações complicadas, enunciados etc., tolheu 
a vontade de novos investimentos por parte do tímido e recém-chegado setor privado. 
Um aspecto hilário da nossa mídia são as notícias sobre o tempo: tempo bom, i.e., sol 
brilhante, bom para banhistas e surfistas. Milha alma de agricultor, bem como minhas 
preocupações com energia, ficam indignadas. No passado, quando surgiam algumas 
nuvens no céu, um sitiante vizinho exclamava: o tempo “embonitou”! Quando 
estávamos desesperados por falta de chuvas, ele me consolava ironicamente, dizendo: 
“O fim do sol é a chuva!” Quem sabe, a extrema escassez de energia a partir de 2001 
ensinará aos dândis urbanos aficionados pelas nossas praias a importância das chuvas e 
da água. Até neste aspecto, Getúlio Vargas deixou seu malefício. De fato, observemos 
estas palavras do Prof. Miguel Reale: “Perguntar-se-á ‘Por que a Light?’ [...] e eu 
explico que o Código de Águas, de 1934, nacionalista e patrioteiro, praticamente 
bloqueou a sua expansão como geradora de eletricidade, por ser uma companhia 
estrangeira...” (O Estado de São Paulo, 21/7/2001, A2). 
A leviandade grotesca no trato da res publica no subcapitalismo brasileiro é dantesca. 
No mês de Junho de 2000, o governo lançou seu Plano Nacional de Segurança Pública, 
cujo eixo central era a iluminação pública nas grandes cidades, nada menos que 40% 
das verbas — R$ 300 milhões. Exatamente um ano depois, em Junho de 2001, colocou 
em vigor seu Plano de Racionamento de Energia Elétrica, para 80% do País! No final de 
1999, ao observar o atraso das chuvas de verão, enviei um artigo ao Correio Popular, 
que não foi publicado, sob o título “Água e desperdício”, onde expressava minhas 
extremas preocupações sobre a possibilidade de escassez de energia elétrica para nossas 
indústrias. Minhas preocupações foram reforçadas posteriormente pelo dado do 
Operador Nacional de Energia Elétrica (ONS), órgão cuja existência só tomei 
conhecimento no dia 1/3/2000, através d’O Estado, B1. O dado era terrível: para as 
Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, a média de nossos reservatórios estava em 
míseros 20%! Por que não foram tomadas providências — racionamento — naquela 
época? Porque hoje, tudo se baseia nos cálculos eleitorais e nos índices de popularidade, 
sobretudo quando se trata de estadistas com inúmeros títulos de Dr. Honoris Causa, 
dados por universidades do Primeiro Mundo. Na época de Getúlio Vargas, a coisa era 
mais fácil. Cabe uma segunda observação a propósito da platitude da nossa mídia 
escrita: apesar de revisar 3 jornais, diariamente, a dificuldade de obter uma informação 
relevante é espinhosa. Só mesmo garimpando, aqui, ali e acolá. 
Dizem as más línguas que Stefan Zweig, em 1941, teria escrito seu “Brasil, o país do 
futuro” a mando de Vargas. Não creio. Nos anos 40, tudo levava a crer na possibilidade 
de futuro do país. A bem da verdade, até os anos 70, tudo sinalizava para um futuro 
brilhante, apesar das evidentes dificuldades culturais. Até então, pôde-se constatar a 
existência dos self-made-men, indivíduos que, saindo do nada, construíam suas 
pequenas-empresas e aqueles que já as possuíam as transformavam em grandes 
empresas, industriais ou agrícolas. Em termos de história, os tumores cancerígenos 
demoram para o seu pleno desenvolvimento e metástase. A Contra-Revolução de 1930, 
sob o comando de Vargas, significou a vitória definitiva do positivismo e foi destruindo 
piano piano os débeis germens de capitalismo aqui plantados(5). Durante anos, 
perguntei-me como pôde Paulo Prado, em 1928, no seu monumental “Retrato do 
Brasil”, apesar de seus pequenos erros (a luxúria, a tristeza), prever o negro futuro. 
Afinal, tínhamos o vigor de nossas fazendas paulistas exportadoras de café, o ouro 
negro, capazes até de “importar” culturas superiores à nossa origem portuguesa, 
sobretudo a italiana e a alemã. Hoje, após o estudo da importância da Inquisição e do 
Positivismo no Brasil, através da obra do Prof. Antonio Paim, “Momentos Decisivos da 
História do Brasil”, da Editora Martins Fontes, 2000, pude entender as razões de seu 
raciocínio. A filosofia positivista — a idéia da ditadura republicana, a intervenção do 
Estado na economia — teve um peso maior que meus modestos conhecimentos 
supunham. O peso das idéias da Contra-Reforma foi enorme. O lucro e os empresários 
sempre foram odiados por todos os segmentos de nossa sociedade. O marxismo, a partir 
do início do século 20, veio dar mais um sopro de vida ao positivismo. E, essa 
somatória “positivismo + marxismo”, catalisada levemente pelo catolicismo por 
Leonardo Boff,o pai da Teologia da Libertação, incrustada na nossa mídia e nas 
universidades, foi e é fatal. Um dos principais fatores que explicam o sucesso dos 
Estados Unidos nos séculos XIX e XX foi a ausência do pensamento marxista e essas 
outras extravagâncias; esta, talvez, a principal razão do relativo atraso econômico 
europeu em relação ao americano. 
 
Introdução 
 
O resultado dos estudos aqui expostos está apresentado na forma de artigos. A idéia me 
ocorreu porque consegui, na cidade de Campinas, SP — fato único no Brasil até onde 
vão minhas informações — levantar um debate profícuo com juízes, advogados e com a 
Associação dos Advogados Trabalhistas de Campinas sobre a Justiça do Trabalho. 
Pareceu-me interessante a concepção, pois o Monstro, Leviatã tropical ou “tribufu”, é 
visto por mim como um enorme poliedro composto por inúmeros polígonos que, 
aparentemente, não guardam relações entre si, mas que perfazem um todo consistente e 
maléfico. Não encontrei outra forma de abordar esta excrescência. No primeiro artigo, 
relato meu primeiro contato pessoal com a Justiça do Trabalho; no segundo, faço uma 
síntese de sua origem e história, e de sua enorme importância na composição do 
denominado “Custo Brasil”, hoje um fator importantíssimo, na medida em que o Brasil 
torna-se um país cada vez menos competitivo. 
Essa a grande razão do horror de nossos governantes à idéia da ALCA(6). Logo, meus 
opositores morderam a isca do debate e, a partir daí, foi só nadar de braçadas. O debate 
se estendeu ao longo de todo o ano de 1999. 
Levantar este debate só foi possível graças a 3 condições: 1) a polêmica entre o Senador 
Antonio Carlos Magalhães (ACM), Presidente do Senado em 1999, e o Sr. Almir 
Pazzianotto, membro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e seu presidente desde 
2000, sobre o escândalo, citado acima, do Fórum de SP(7) — 1999; 2) a grandeza de 
caráter de um editor do Correio Popular de Campinas, Sr. Roberto do Valle; 3) o fato de 
juízes, a Associação de Advogados Trabalhistas de Campinas e outros advogados 
morderem a isca que eu lhes lancei nos meus 2 primeiros artigos. Foi um dos dias mais 
felizes de minha vida quando vi uma juíza trabalhista me contestando no mesmo espaço 
do jornal. Por quê? Ora, quando se está munido da razão, o debate é interessantíssimo. 
Depois, a Associação de Advogados Trabalhistas de Campinas me ameaçou com 
possíveis ações judiciais. Logo mais, espertamente, silenciaram. Foram 9 os meus 
artigos publicados durante 1999. 
Continuei insistindo no tema, mas os editores acharam por bem não publicá-los. Esses 
outros artigos e novos estudos completam o trabalho. Deram o assunto por encerrado, 
apesar de que ele não se encerrará jamais, enquanto o Brasil encontrar-se mergulhado 
nesse fango, assim como a Argentina, desde que Perón, nos anos 50, deu a partida para 
el cuesta abajo. Vargas e Perón deixaram como herança doenças terríveis; continuar-se-
á discutindo, tanto lá quanto aqui, pelo menos, filigranas, questiúnculas, picuinhas a 
propósito, mas só mesmo uma intervenção cirúrgica séria (profundas reformas ou uma 
revolução — como se queira chamar) poderia sanar tais enfermidades, e isto não 
vislumbro no curto ou médio prazos(8). Em Outubro de 2000, James Heckman, Prêmio 
Nobel de Economia, advogava menos regras, isto é, desregulamentação nas relações de 
trabalho na América Latina para diminuir a pobreza. Dificilmente ele lerá este livro; 
portanto, jamais saberá o tamanho deste excremento irremovível aqui tratado. Esta 
recomendação também tem sido aventada por diversos órgãos internacionais; 
economistas nacionais especialistas em políticas de emprego acham muito “forte” esta 
questão da desregulamentação e propõem apenas uma flexibilização (Folha, 
14/10/2000, B4). Otários... os estrangeiros muito menos. A flexibilização deu seu 
primeiro passo com a Constituição de 1946, que permitia greves numa legislação — 
CLT — cuja ideologia é o fascismo, um contra-senso que só viria a agravar o problema. 
De lá para cá, cada nova mexida apenas agravou a questão, atingindo seu ápice na 
Constituição de 1988. Do movimento de uma massa escatológica, não há como fazer 
exalar nada de agradável. 
Previ, com bastante antecedência, apenas a eliminação dos juízes classistas, ex-vogais, e 
a não-extinção da Justiça do Trabalho, apesar de bravatas e bazófias do Sr. Antônio 
Carlos Magalhães, então Presidente do Congresso, devido à compreensão de que o 
environment não apenas continua o mesmo da Contra-Revolução Varguista de 1930 
como também bastante depauperado. A indústria e cultura da extorsão proliferou-se 
consideravelmente ao longo de tantos anos. Isto destruiu o caráter de nossa mão-de-obra 
— os romanos já dominavam o conceito do homo judicus, homem capaz de direitos e 
obrigações, aqui definitivamente enterrado. A conseqüência última deste processo foi a 
destruição da seminal relação capital + trabalho, condição basilar para a eliminação da 
pobreza e da miséria. Trata-se de um aspecto curioso da cultura nacional: o permanente 
aprimoramento do ominoso, do nefasto. 
A origem de tudo (refiro-me a esta obra), foi meu sofrimento pessoal como 
microempresário, ao longo dos últimos 17 anos, ao conviver com esta revoltante 
(In)Justiça do Trabalho, bem como compartilhar o sofrimento de colegas, micro e 
pequenos empresários, muitos deles menos letrados e, portanto, mais expostos aos 
danos produzidos por este Monstro. Pensando em muitos deles, sobretudo no meu 
falecido amigo Arruda, fiel tapeceiro, foi que ganhei forças para concluir esta obra. A 
Justiça do Trabalho, além das taxas de juros mais escorchantes do mundo, único 
instrumento de política econômica num Estado semidestruído, vai minando, 
gradualmente, ao longo dos anos, a saúde desses heróis que geram empregos e riquezas 
num país sem futuro. Não consigo ter a grandeza de caráter sugerida por Nietzsche: 
“Viva perigosamente. Ame o destino.” Vivo perigosamente, mas blasfemando, devido às 
forças adversas, irracionais, exógenas. 
Penso como Nietzsche; algumas vezes, caem-me lágrimas ao escrever. Ou, como Freud 
nos seus melhores momentos de lucidez: “É preciso ser sem escrúpulos, expor-se, 
arriscar-se, trair-se, comportar-se como o artista que compra tintas com o dinheiro da 
casa e queima os móveis para que o modelo não sinta frio. Sem alguma dessas ações 
criminosas, não se pode fazer nada direito.” — carta de Freud a Oscar Pfister em 1910, 
citada no livro “Freud, pensador da cultura” — de Renato Mezan. Gosto de escrever 
com a pulsação do sangue que na sístole consegue elevar mais de um metro de coluna 
d’água! Não suporto “l’art pour l’art”, como dizia Nietzsche; aqueles que, professores 
universitários, PhDs, livres-docentes, na sua grande maioria editados com gozo quase 
celestial pela nossa medíocre mídia escrita, escondem-se atrás de suas erudições para 
iludir suas incapacidades de pensar, raciocinar, analisar, dissecar, refletir, elaborar. “O 
povo, e não a universidade, é o lar do escritor” — pensamento de Emerson citado por 
Harold Bloom em seu “Como e por que ler”, Objetiva, pág 21. É claro que há um certo 
exagero no pensamento, mas para o objeto de estudo de que trato aqui, ele é 100% 
correto. “Aqui está o busílis. Alinhar palavras é fácil; mais difícil é alinhar idéias” — 
João Gaspar Simões, Crítica, I, pág. 315, segundo o Aurélio, 2ª edição. Alguns se auto-
intitulam modestos servidores públicos, mas, na verdade, eles se aposentam entre 50 e 
55 anos na melhor etapa de suas modestas capacidades e com fartas aposentadorias 
integrais. Para que preocupar-se com o pensar e o futuro do país? Ou sequer com o 
sonho de trazer o primeiro Prêmio Nobel para o país. Porém, de 4 em 4 anos, eles 
torcem pelo pentacampeonato,sob a batuta de Galvão Bueno. No caso de juízes, além 
da aposentadoria, em algumas oportunidades, eles montam escritórios de advocacia, 
com todo o óbvio para a prosperidade. Só mesmo aqui, no Iraque e em países similares. 
Não existe um sistema único de aposentadoria que valha tanto para o setor público 
quanto para o setor privado; tampouco a questão fundamental de uma idade mínima 
para a aposentadoria, como em todos os países civilizados. Meu estilo é muito duro, 
como a faca afiada da verdade. Ao mostrar este meu texto a alguns amigos, descobri 
algo mais que Nietzsche: a verdade cheira mal. Não vivo rodeado de aparelhos de ar-
condicionado, mas sim de um barulho ensurdecedor de máquinas e pó de serra. Não sou 
homem de eufemismos. Além disso, meu escritório transformou-se num verdadeiro 
almoxarifado, para tentar diminuir o volume de roubos — leia-se, a propósito, o texto 
“Os Três Mandamentos”, aqui editado. 
Que me perdoem os deslizes com o português. Apesar de considerá-lo um idioma em 
extinção, procurei, nas minhas poucas horas vagas, aperfeiçoar-me neste pré-cadáver. O 
futuro pertence ao inglês com enxertos de espanhol. A sorte para nossos descendentes é 
o fato de que o espanhol é a língua latina mais próxima à nossa e, sobretudo, o fato de o 
inglês erudito sofrer uma enorme influência do latim e do grego. Esta fixação com 
milhares de regras de acentuação, excesso de artigos, crases, tal qual o francês, é 
absolutamente ridícula. Recentemente, um jovem professor de português citava um 
trecho de um poema de Drummond: “O português são dois; o outro, mistérios” (Folha, 
7/9/2000, C2). Ocorre que a língua deve ser uma ferramenta a mais lógica possível, para 
facilitar o desenvolvimento econômico, e não acrescentar mistérios à vida, pois eles, 
naturalmente, já são excessivos. Akio Morita exaltava a lógica do idioma japonês. Não 
disponho de elementos para julgar tal tese, mas, de qualquer forma, trata-se de outro 
esqueleto falante. Essas são algumas das razões, dentre tantas, do porque ser a língua 
inglesa a grande vencedora. 
A bibliografia, excetuando-se a apologética e a que trata do problema do pêlo na casca 
do ovo, é extremamente escassa. Forneço, de qualquer forma, o que consegui. Livros 
citados ao longo do texto e não entre as principais obras consultadas, no final do livro, 
devem-se ao fato de eu não dispor de nenhum exemplar à mão. Meus livros foram 
ficando pela estrada da vida — me ocorreu esta metáfora sertaneja. A primeira leva 
(1964) ficou com o DOPS, sob o comando de Adhemar Pereira de Barros, então 
Governador de São Paulo e bastante cioso, na época, de prestar serviços aos militares 
recém-chegados ao poder — acabou dançando apesar de seus esforços. A segunda leva 
(1973) caiu nas mãos dos homens de Pinochet, felizmente, até os 42 volumes da obra 
completa de Lenin! Minha companheira de então era Angélica Gimpel, arquétipo do 
marxismo-leninismo e do pensamento de Mao Tse Tung (a ala mais radical dos 
comunistas da época), colega de turma de José Serra na Escolatina e tradutora de 
“importantes obras” de Celso Furtado para o espanhol. A terceira leva, na extrema 
excitação da volta ao Brasil, devido à anistia de 1979, repousa na tranqüila Estocolmo. 
A quarta leva foi praticamente destruída pela poeira abundante e vermelhíssima — 
rossa, na linguagem dos italianos; aqui, a palavra foi entendida como “roxa” — na 
Água do Bugio onde plantei trigo, soja e um pouco de arroz e feijão. Atualmente, 
disponho de poucas e raras obras deste passado e as que adquiri como microempresário, 
com a terrível restrição de renda nos tempos bicudos do “Avança Brasil” e do “Plano 
Nacional de Segurança Pública”. 
No princípio, o que me pareceu mais interessante foram os questionamentos em relação 
ao poder normativo da Justiça do Trabalho, seu poder de gerir normas, legislar, e uma 
análise sobre a necessidade de flexibilização nas relações de trabalho. Só 
posteriormente, garimpando aqui e ali, atinei para o cerne da questão. Os jornais Folha 
de São Paulo e O Estado de São Paulo são citados sucintamente como “Folha” e “O 
Estado”. 
Forneço um pequeno glossário, para palavras obscuras, para facilitar a leitura aos meus 
colegas, micros e pequenos empresários, burros-de-carga, que não tiveram a 
oportunidade de freqüentar universidades. Perdoem-me eventuais esquecimentos. Não 
há como abster-se de expressões latinas e da cultura de nossos antepassados. Alguns 
raciocínios que requerem um pouco mais de conhecimentos não vi como solucionar. 
A apresentação do trabalho está em forma de 16 artigos; os artigos publicados pelo 
Correio Popular durante 1999 aparecem no sumário com as respectivas datas. 
Eventualmente, introduzimos pequenas modificações devido a novas informações ou à 
minha melhor compreensão de certos detalhes. Os três artigos cujos títulos aparecem 
entre aspas são títulos dados pelos autores e criticados por mim. Posso parecer um 
pouco repetitivo, mas minha experiência do debate travado em Campinas é que essa é a 
única forma, dada a dificuldade de assimilação pelas pessoas do cerne do problema. 
Observo que, quase sempre, equaciona-se um problema sob dezenas de pontos de vista 
mas apenas um deles é capaz de despertar as pessoas para a compreensão do fenômeno. 
Que me perdoem os leitores uma apresentação mais rigorosa e, em alguns casos, 
ilustrada com gráficos, como havia pensado, mas o tempo não a permite, e urge pegar o 
vácuo do Lalau! Quem sabe numa 2a. edição, embora o Brasil esteja mais para Paulo 
Coelho e os comunistas(9). 
 
A Justiça do Trabalho 
 
Há aproximadamente 17 anos, e a partir de um hobby, fundei uma micro-empresa de 
marcenaria. Minhas primeiras preocupações após o início das atividades eram as 
condições de trabalho dos funcionários: possíveis malefícios do pó de serra, níveis 
exagerados de ruídos, acidentes de trabalho e a procura de harmonia no duro processo 
do ganha-pão. Uma das minhas primeiras preocupações — a comunicação entre os 
funcionários e seus familiares — levou-me à aquisição de um sistema KS de telefonia, 
de tal forma que praticamente toda máquina dispunha de um terminal telefônico 
próximo. Explico-me: após uma longa estadia de 5 anos na Suécia, havia incorporado, 
de uma forma sólida e até exagerada, elementos culturais de lá. Aliás, não há mal algum 
em assimilar o que é bom. Pena que a cultura nos trópicos era outra. 
Logo nos primórdios, um primeiro baque. Um funcionário com 7 meses de casa pede a 
conta e eu, como já havia aprendido certos rudimentos da legislação trabalhista, 
aconselhei-o a completar um ano para ter direito a férias. Qual nada, estava firmemente 
decidido pelo seu desligamento. Após um curtíssimo tempo, um envelope timbrado do 
Poder Judiciário. “Que coisa mais desagradável!” — pensei. Afinal, só havia tido 
contato com este por questões políticas, num passado distante, jamais por razões 
criminais ou de qualquer outra natureza. Abri o envelope, joguei-o no lixo (somente 
depois vim a saber que não deveria fazê-lo) e li o conteúdo. Pela primeira vez, trombei 
com palavras estranhas: reclamante, reclamada etc. Descobri que aqui, abaixo da Linha 
do Equador, existia uma justiça específica para o trabalho. Consultei um advogado que, 
em meio a risos e preocupações, exclama: “Mas isto aqui é indefensável!” Marinheiro 
de primeira viagem, caí como um patinho nas garras da Justiça do Trabalho. O rapaz era 
bem treinado e, ao longo de míseros 7 meses, foi colecionando “provas das 
irregularidades”. Depois, vim a saber que ele já havia colocado em dificuldades uma 
empresa do ramo em Ribeirão Preto. E depois do depois, vim a saber que existem 
milhares de especialistas na área. Consultei vários amigos, pequenos-empresários do 
ramo,e a imensa maioria me respondeu: “Cuidado. Se você cair lá, está frito”, ou então: 
“É mortal.”, ou ainda: “Não tenha esperanças. Não há defesa”. Pensei: “Que estranha 
justiça esta na qual uma das partes considera-se irremediavelmente perdida!”(10) 
Esta curiosa esfera da vida econômica brasileira, que me pareceu, na época, uma das 
facetas da extorsão legal vigentes no país, foi-me contra-argumentada por um juiz 
trabalhista com a singela explicação: “Trata-se de um mecanismo de redistribuição de 
renda!“ Tratar-se-iam de extravagâncias do Terceiro Mundo? Posteriormente, vim a 
estudar o problema e perceber as profundezas da questão. 
O contato com essas Juntas de Conciliação e Julgamento, hoje denominadas Varas, 
depois de tão “profundas” reformas, é aterrador. No centro e num plano de nível 
bastante superior encontra-se o “juiz togado” (leia-se “advogado concursado”). Aos 
seus lados, os “vogais”, hoje denominados “juízes classistas”. Estes solicitam a 
identificação da empresa, representantes etc. Hoje, sei que os juízes classistas são 
indicados por sindicatos patronais ou de empregados, ao seu bel-prazer, sem 
consideração aos níveis de escolaridade. Soube também que no Rio de Janeiro, foram 
criados dezenas de sindicatos-fantasmas com o fim precípuo de indicação destes juízes 
classistas. Dependendo da instância, ganham a mesma quantia que os juízes togados, 
têm direito a 60 dias de férias anuais e, após 5 longos anos de “árduas” atividades, têm 
suas aposentadorias garantidas com salário integral. E no Rio de Janeiro, no dia 26 de 
Fevereiro de 1997, fizeram passeata por melhores salários! Exuberâncias tropicais? O 
Sr. Alan Greenspan falava há pouco sobre exuberâncias irracionais a propósito do 
comportamento das bolsas. Aqui, as exuberâncias são de outra ordem e, para piorar 
nossa sina, estruturais. 
O juiz central, o togado, num plano superior, lança a palavrinha mágica: “Há acordo?” 
— Balbuciam-se algumas palavras de lado a lado e, se naqueles rápidos momentos, 
nota-se a dificuldade de uma “cifra” comum, inicia-se o processo de tomada de 
depoimentos. Ali, você, pequeno-empresário, começa a sentir-se espezinhado, um vil 
explorador da mais-valia, burguês, neoliberal etc. A reclamada deve retirar-se para o 
depoimento do reclamante. É fantástico: o privilégio tem apenas uma face! Volta-se à 
palavrinha mágica: “Há acordo entre as partes?” — Afinal, há milhares de processos 
solicitando leitura, reflexões, decisões (humanamente impossível neste mar de 
processos). Não seria melhor para todos uma solução rápida, rasteira e ponto final? De 
fato, 80% dos casos são resolvidos na primeira instância. Propostas e contrapropostas 
são lançadas. Em algumas ocasiões os valores parecem não guardar nenhuma relação 
com os números citados nos processos. Se a audiência for realizada em Dezembro, por 
exemplo, o representante da reclamada pode ser lembrado deste fato com: ”Vamos 
melhorar um pouco a proposta, afinal, estamos às vésperas do natal!” — Podem ter 
relação, por exemplo, com os honorários advocatícios, ou seja, o custo, não apenas os 
monetários, horas de trabalho, que não fosse o caso, estariam sendo dedicadas ao 
trabalho produtivo, além do desgaste emocional para a empresa de uma segunda 
audiência. O papel das testemunhas do reclamante é fundamental. Nossa loja abria às 9h 
da manhã; no entanto, a testemunha afirma que encontrava sua colega às 8h fazendo 
hora-extra. E o que ela fazia lá às 8 horas? Só para testemunhar num futuro processo 
trabalhista? Raciocínio zero, irracionalidade, cem. Às vezes, chego a pensar que o ar 
nos trópicos, além de oxigênio, deve conter algum elemento idiotizante para aumentar 
nossa tragédia. Não, não. Afinal, a Iugoslávia, antes de sua dilaceração étnica, também 
tinha Justiça do Trabalho, que cuidava, como a nossa, de conflitos de interesses. Será 
que a Bósnia, a Sérvia, a Croácia etc. inspirar-se-ão em tão sábios conhecimentos? 
Para as pequenas-empresas e nos casos em que os funcionários tenham mais de um ano 
de casa, as homologações (rescisões contratuais) junto ao sindicato da categoria ou à 
Delegacia do Trabalho são extremamente custosas. A burocracia é infernal. Depois, 
descobre-se que já o enunciado 330 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) insinua sua 
eficiência quase nula: “... tem eficiência liberatória em relação às parcelas 
expressamente consignadas no recibo...” — A verdadeira homologação, em um grande 
número de casos, é lá, na Justiça do Trabalho. O resto é balela. 
Se importantes economistas costumam afirmar que a pequena-empresa é a sementeira 
do progresso, constituindo-se na principal origem de novas criações, a Justiça do 
Trabalho no Brasil é para ela mortal. É o principal elemento de destruição da pequena-
empresa, ali, no seu nascedouro. Claro! Ela não dispõe de um departamento jurídico 
para lidar com o Monstro! Imagine se um pequeno-empresário, trabalhador, 
empreendedor, criativo, gerador de empregos, mas de parca erudição, conhecer os 
perigos da existência da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), com seus 922 
artigos! Admita-se, num cálculo conservativo, duas interpretações por artigo — exegese 
de excrementos — e atingimos a fantástica cifra de 1844! A grande-empresa dispõe de 
um departamento jurídico específico para lidar com as milhares de armadilhas da Justiça 
do Trabalho (que desperdício de recursos!), e ele preocupado com ferramentas, 
acidentes de trabalho, cálculos econômicos complicados, nestes anos em que se formula 
a política econômica com evidentes propósitos eleitorais, cheia de mágicas e truques. E 
agora, mais esta? Não, o país parece não ter vocação para o progresso, apesar do dístico 
positivista da bandeira: Ordem e Progresso. 
 
História da Justiça do Trabalho 
 
Uma das questões de altíssima relevância para nosso país, na atualidade, é o 
denominado Custo Brasil. Tratarei, no meu entender, dos seus mais importantes 
componentes: a CLT e a Justiça do Trabalho. Comecemos com o estudo da origem 
desta excrescência: Getúlio Vargas, aproveitando-se da debilidade de nossos 
antepassados, fazendeiros paulistas exportadores de café, provocada pela Grande 
Depressão de 1929, articulou e comandou uma Contra-Revolução em 1930. Eram os 
anos dourados do nazi-fascismo e, portanto, os ventos internacionais o favoreciam. 
Aquele promotor público gaúcho “importou” da Itália fascista de Mussolini as idéias 
fundamentais que iriam configurar as bases da CLT e da Justiça do Trabalho(11). 
O fundamento, a raiz do raciocínio de então era o princípio básico do marxismo: as 
“classes sociais” — burguesia e proletariado, conceitos clássicos do marxismo — 
estariam inexoravelmente em permanente luta. Paradoxalmente, do ponto de vista das 
idéias, o fascismo, oposto ao comunismo, assimilava os conceitos marxistas de 
“compreensão” do processo social. O Estado teria então uma função tutelar, regulando, 
disciplinando o que era considerado inevitável: o hipotético conflito “capital versus 
trabalho”. O comunismo florescia ao leste e fazia-se necessária uma forma de combatê-
lo internamente. Daí surge a semântica do nacional-socialismo (nazismo e fascismo). O 
Estado ditatorial exigia um pacto de paz entre os fatores de produção — capital e 
trabalho — nos seus preparativos, sabe-se hoje, para a guerra. Vargas transladou a 
Carta del Lavoro de Mussolini — aqui denominada CLT — e introduziu no país esta 
esquisitice de profundas implicâncias negativas para nosso desenvolvimento 
econômico. Desde então, todas as modificações introduzidas no espírito original da 
Carta, desde a Constituição de 1946, só vieram a agravar profundamente o problema. 
Seu ápice foi a Constituição “Cidadã” de 1988. Os italianos, após sua derrota na 2a. 
Guerra Mundial sob o comando de Mussolini,jogaram no monturo da história essas 
idéias estapafúrdias e iniciaram um novo ciclo de progresso social que se estende até os 
dias de hoje. 
Ao analisarmos alguns aspectos da CLT, anotamos, entre outras “pérolas”, o artigo 766: 
“Nos dissídios sobre estipulação de salários, serão estabelecidas condições que, 
assegurando justos salários aos trabalhadores, permitam também justa remuneração às 
empresas interessadas”. Ou seja, salário ou retorno de capital deixam de ser questões 
econômicas (oferta versus demanda etc.) e passam para a esfera jurídica! 
Extravagâncias do subcapitalismo brasileiro! Os juízes trabalhistas, municiados de tais 
premissas, passam a ser economistas onipotentes; inclusive os classistas, sabe-se lá com 
que níveis de escolaridade. Comparam os salários do Brasil com os da Alemanha ou da 
Indonésia, independentemente de níveis de produtividade e renda — declarações do 
Presidente do maior TRT do interior, no Diário do Povo, de Campinas, em 5 de Janeiro 
de 1997; falam em “poupança interna disponível” — Presidente do TST, este, 
provavelmente, com muito mais anos de treinamento na área em relação aos juízes de 
primeira e segunda instância. Ou então filosofam: “o direito do trabalho nunca deixará 
de ser protecionista porque ele tem de contrabalançar a desigualdade econômica” — 
Diário do Povo, Campinas, 5 de Janeiro de 1997, ou: “ele deverá sempre estar ao lado 
dos mais fracos” — juíza Graciela Paula Ferroni, no Correio Popular, no dia 22 de 
Março de 1999. O raciocínio segue sempre o velho estilo fascista. Este é o lado 
pitoresco, quando a justiça especializada do trabalho cuida não apenas de conflitos de 
direito, mas também de conflitos de interesse, como nos casos do Brasil e da Ex-
Iugoslávia. Não me refiro aqui à atual União de Sérvia e Montenegro, atualmente 
denominada Iugoslávia, que nestes dias, parece renascer com a queda de Milosevic 
(Outubro de 2000) e depois de devidamente bombardeada pelas forças da OTAN, mas 
sim a anterior, do Marechal Tito — essa informação que diz respeito aos conflitos de 
interesse me foi proporcionada pelo trabalho de José Pastore, aqui citado. 
No início, os entraves para o crescimento econômico criados pela Justiça do Trabalho 
foram pequenos, a começar pelo fato do desconhecimento da sua nefasta existência, mas 
a cicuta do conflito, o germe do mal, já estava desde então embutido. Os tumores 
requerem sempre a ajuda do tempo para seu pleno desenvolvimento. Na maioria dos 
casos, na vida, o tempo destrói e constrói concomitantemente — é a idéia sensacional da 
destruição construtiva de Schumpeter na economia capitalista. No caso brasileiro, o 
tempo teve apenas uma faceta: a destruição do incipiente capitalismo que reinava até os 
anos 30. De fato, analisemos os dados compilados — tendência, no tempo, do número 
de reclamações recebidas anualmente desde 1945, dados fornecidos por Roberto Fendt 
Jr. e Amaury Temporal: de 1945 a 1960, crescimento moderado — 0 a 150 mil; de 1960 
a 1985, 150 mil a 750 mil; de 1985 a 1996, 750 mil a 2,5 milhões em apenas 11 anos! 
Uma média de 10 mil reclamações por dia útil! Vejamos a evolução do número de 
Juntas de Conciliação e Julgamento criadas em Campinas (dados de minha autoria): 1a.: 
em 1944; 2a.: em 1979; 3a.: em 1987, 4a., 5a., 6a., 7a. e 8a.: em 1993; 9a.: em 1998. 
Nos primeiros 35 anos, foi criada apenas uma Junta, nos 10 anos seguintes, mais 2 
Juntas, e nos últimos 9 anos, 5 Juntas! Que perfórmance! Se elas gerassem crescimento 
econômico, com absoluta certeza, seríamos o país de maior sucesso nas últimas 
décadas, ultrapassando até a Coréia do Sul, mas parece não ser esse o caso. 
Qual a razão para taxas de crescimento de conflitos tão explosivas? Ora, é a própria 
Justiça do Trabalho que pressupõe e estimula os conflitos. Melhor seria que estimulasse 
a produção e o emprego. Visto de outro ponto de vista, é o resultado da cultura que 
impregnou nossa força de trabalho, e talvez, nada seja mais importante do que a cultura 
de um povo; leia-se, a propósito, o monumental trabalho de Max Weber “A ética 
protestante e o espírito do capitalismo”. Essa é a questão fulcral. Em conversas 
informais com pequenos e médios empresários a respeito de prováveis projetos de 
investimentos, eles invariavelmente me respondem: “Ah! não! Cuidado com a Justiça 
do Trabalho!” Se, no mundo atual, os países que deram certo estimulam a harmonia 
entre o capital e o trabalho, por que não seguir-lhes o exemplo? Ela, a Justiça do 
Trabalho, tornou-se o principal componente do “Custo Brasil” e o principal obstáculo 
institucional para o desenvolvimento nacional. 
 
O Mercado da Justiça do Trabalho 
 
Por que dificilmente será extinta no Brasil a Justiça do Trabalho? Ou, ainda, a enorme 
capacidade de resistência da corporação da Justiça do Trabalho? De fato, num sentido 
amplo da palavra, ela significa um fantástico mercado de proporções inacreditáveis e de 
privilégios que tentaremos demonstrar neste artigo. Antes de mais nada, uma pequena 
ressalva, fruto de minhas previsões pessimistas que, infelizmente, sempre se realizaram 
nesses últimos anos. O mais provável é que a CPI do Judiciário se transforme em mais 
um espetáculo circense devidamente comandado pela TV Globo e congêneres, sobre 
questões de corrupção e nepotismo, tão a gosto do país nos últimos tempos. “Isso é uma 
vergonha!” e coisas do gênero. Ou então, Galvão Bueno, enfático: “Vai, senador! Vai 
que é sua!”. Há mais de 30 anos, no meu curto exílio em Montevidéu, um uruguaio me 
dizia com ironia: “El Brasil es el más grande del mundo.” — e acrescentava: “El 
Maracanã es el más grande del mundo.”. Quando um povo perde a capacidade de 
raciocínio, de pensar a relação causa-efeito, dos rudimentos da lógica, o circo é um 
espetáculo anestésico e confortável para os detentores do poder, como na antiga Roma. 
Pobres cristãos de então. Os escândalos, oh... os escândalos! Sobretudo os político-
financeiros. Ora, desenvolvamos o país e eles terminarão. Para mim, o grande 
escândalo é a falta de empregos e produção ou, em outras palavras, estancar o mais 
breve possível a geração de pobres e miseráveis. Além, é claro, de diminuir o ritmo 
alucinante da intensidade da guerra, aqui eufemisticamente denominada de “violência 
criminal”. Até os bispos percebem isso! Apesar de os pobres e miseráveis constituírem 
insumo indispensável — se não me falha a memória, devo essa idéia ao Sr. Roberto 
Campos, ainda que fiel devoto do Senhor — para a pregação das graças divinas. Nesse 
aspecto, a riqueza material não constitui para eles nada interessante; a pobreza e a 
miséria são matérias-primas mais promissoras. Na raiz de tudo, sempre encontram-se os 
fundamentos do Tribunal do Santo Ofício e da Inquisição: o horror à riqueza, ao lucro e 
ao empresário. 
Se insisto no tema da Justiça do Trabalho, é porque estou convencido que ele guarda 
uma profunda correlação, negativa, com o crescimento econômico. Esse é o âmago do 
debate. Tudo o que tiver relação com o crescimento econômico deve ser priorizado. Se 
os senhores senadores e deputados necessitam de luzes, holofotes, câmeras, etc. para as 
próximas eleições, esse deveria ser um problema à parte. Mas não o é. Essa é a tragédia. 
Comecemos, a partir dos dados de que disponho, a estimar a evolução e as dimensões 
físicas desse particular mercado. A partir dos anos 60-70, os agentes econômicos 
ligados à esfera jurídica perceberam o enorme potencial que a CLT e a Justiça do 
Trabalho abriram aos seus negócios: o mercado dos conflitos trabalhistas(12). O 
primeiro passo foi a abertura de inúmeras faculdades particulares de Direito, sem eira 
nem beira. Os investimentos eram baixos, cursos noturnos, ausência de laboratórios etc. 
e o futuro promissor. Os advogados começaram aser produzidos ao mesmo ritmo que 
um torno-revólver produz parafusos. De fato, dados de 1996 indicam que dos 350 mil 
advogados existentes no país, 45% atuavam na área. Essas faculdades de Direito podem 
ser criadas sem sequer a exigência de um único Philosofical Doctor no seu corpo 
docente e ainda dispor de um período de carência de 8 anos para a formação de um 
terço do seu corpo docente na categoria de Masters. Os resultados podem ser bem 
avaliados nos comentários de uma promotora (O Estado, 31/8/96): “Conta-se do 
candidato que, ao fazer o exame da OAB para obter a carteira que lhe daria o direito a 
exercer a advocacia, foi indagado pelo examinador sobre a diferença entre “pessoa 
física” e “pessoa jurídica”. Respondeu o candidato: “Sei perfeitamente a distinção entre 
os dois termos. “Pessoa física” é qualquer um, eu, por exemplo. Já “pessoa jurídica”, 
sem dúvida, é Vossa Excelência”.” 
Pari passu com a expansão do mercado no setor privado, foi a do setor público. 
Nascendo do zero em 1943, hoje, a Justiça do Trabalho significa 50% dos gastos do 
Poder Judiciário. Não haverá um único cérebro nacional para questionar se isso existe 
em alguma outra parte do mundo? Vasculhem, senhores bacharéis! Eu os desafio! Seja 
na África ou em Bangladesh; nos países civilizados, nem percam tempo, pois lá, ela 
sequer existe. De fato, dos 4904 juízes federais existentes no país, 4306 são juízes 
trabalhistas, dos quais 2819 são juízes classistas, 57% do total geral, portanto (dados de 
1996). Os juízes trabalhistas perfazem, assim, a “modesta” cifra de 88% do total de 
juízes existentes no país (fonte: Banco Nacional de Dados do Poder Judiciário, 
publicados pela Folha em 26/2/97)! 
O último grito da moda na expansão física do mercado da Justiça do Trabalho é o 
campo. Um amigo me contou que os advogados trabalhistas saem à cata de conflitos 
rurais. A rotina funciona mais ou menos assim: 
— Há quantos anos o senhor mora aqui? 
— Ah, sei lá, mais ou menos uns vinte anos. 
— A sua mulher faz faxina na casa do patrão? 
— Ah, faz! Eles são gente muito boa e nos ajudam em tantas coisas! 
— O senhor, por acaso, sabe dos seus direitos? 
— Sei não, doutor, e nem quero saber. 
— Bem, de qualquer forma, voltarei na próxima semana com os 
cálculos na mão (com que tentações!). 
Nosso pobre sitiante descobre que, após dezenas de anos de labuta, o valor da 
propriedade não cobre o passivo trabalhista! De fato, uma nota recente do colunista 
César Giobbi, do Estado (31/3/99) relata o seguinte: “Uma senhora cujo único bem é 
um sítio em Limeira, onde reside, tem sua propriedade ameaçada de penhora por 
decisão da Justiça do Trabalho. Foi condenada a pagar R$ 500 mil a um ex-empregado 
que ganhava salário mínimo e trabalhou para ela durante apenas seis anos...” — Um 
cauto fazendeiro me relatou que sua fazenda dispõe de 4 casas, em perfeitas condições 
sanitárias, fechadas! Contou-me ainda que um vizinho seu com importantes 
contribuições para o desenvolvimento de defensivos no cultivo de tomates — hoje, de 
utilização em âmbito nacional, mas bastante descuidado com os novos tempos perdeu 
absolutamente tudo e vive de favor na casa de um dos filhos. 
De fato, hoje, muitos fazendeiros optam por não tocar suas fazendas e gerar empregos 
devido a esse “probleminha”. E depois, muitos se perguntam de onde brotam, depois de 
1980, os MST da vida? E a grande maioria, sobretudo os padres e bispos, conclui sobre 
a necessidade de reforma agrária. E eu os desafio: donde demônios a reforma agrária 
resolveu o problema da produção agrícola? Na Ex-URSS? O maior clássico do 
marxismo sobre o tema é: “La cuestión agrária”, de Karl Kaustky. Disponho de um 
velho exemplar amarelecido pelo tempo e pelas idiotias. Os Estados Unidos, 
atualmente, com apenas 3% de sua população trabalhadora no campo, são o maior 
produtor de grãos do mundo! E lá, nunca ninguém falou nesse negócio de reforma 
agrária. 
Façamos uma tentativa grosseira, mas altamente relevante, de estimar a dimensão 
monetária desse mercado. O custo da Justiça do Trabalho é, hoje, de R$ 3,5 bilhões. As 
ações trabalhistas contra a União (dados de 1996) foram de R$ 2,4 bilhões. Para o setor 
privado, adotaremos as seguintes hipóteses: a) 95% das reclamações são contra micro, 
pequenas e médias empresas; b) o custo médio de cada ação será estimado em R$ 3 mil. 
O número de ações recebidas em 1998 foi de aproximadamente 3 milhões. Logo, 
teremos: 3.000.000 x 0,95 x R$ 3.000 = mais ou menos R$ 9 bilhões. Portanto, 
somando as parcelas, teremos: M = 3,5 + 2,4 + 9 = R$ 15 bilhões. Desprezamos, nesses 
cálculos, por absoluta falta de estimativa de ordem de grandeza, a parcela devida às 
ações movidas por altos funcionários de estatais e do setor privado(13). Traduzindo para 
uma moeda civilizada, algo em torno de US$ 10 bilhões! Trata-se, portanto, de um 
mercado de considerável dimensão. Alguém se atreverá a enfrentar a AMB e a OAB? 
Essas são as prosaicas razões pelas quais a Justiça do Trabalho não será extinta e o 
Brasil, no mínimo, é um país de futuro duvidoso. 
 
Aos Juízes do Trabalho 
 
Ao ler os contra-argumentos da juíza Ivani Giuliani (Correio Popular, 14/4/99, pág. 3) 
aos meus dois primeiros artigos sobre a Justiça do Trabalho, uma dúvida me assaltou: 
seriam esses contra-argumentos frutos de sua ingenuidade ou apenas uma argumentação 
pro domo sua, ou seja, uma mera defesa dos seus privilégios? Meus parcos 
conhecimentos sobre Melanie Klein, psicanalista inglesa, sobre a importância da relação 
com o seio materno na formação da personalidade e voracidade, sugerem essa segunda 
hipótese. 
Ela, de fato, trabalha em excesso e crê lutar por uma nobre causa em favor dos 
desprotegidos, descamisados, etc. Ah... velho Perón! Que falta nos hacés! Até o Infante 
Collor gostou dessa expressão mágica: os descamisados. Pena que o fascismo, no 
mundo civilizado, morreu. É, até certo ponto, triste afirmar que o melhor para o 
progresso do país seria que ela não trabalhasse ou, então, mudasse de ramo. De fato, 
faltam inúmeros juízes em outras áreas críticas do Judiciário. O trabalho dos Srs. juízes 
trabalhistas não é apenas improdutivo ou inócuo. Ele é de fato nocivo para o futuro do 
país. Vale o velho aforismo: o caminho do inferno está repleto de boas intenções. Meu 
pai, com sua parca erudição, já me ensinava anos atrás que: “Errar é fácil, meu filho. O 
difícil, mesmo, é acertar”. Por outro lado, a Sra. juíza parece não haver entendido o teor 
do meu discurso. A Justiça do Trabalho crescerá ad infinitum enquanto ela existir. 
Dobrem o número de Juntas. Logo mais, dobrem novamente. Além da questão central, 
ou seja, seu aspecto nocivo sobre a produção e o emprego, o déficit público nominal vai 
de vento em popa; hoje, estamos rodando à “modesta” cifra de 14% do PIB! Acho que 
nem a Rússia chegou lá. Hoje, até onde vão minhas informações, ela, a Justiça do 
Trabalho, só existe no Brasil. Nem na Guatemala, no Panamá, em El Salvador, na 
Venezuela, no Equador etc., ou seja, nesse aspecto, o Brasil, de fato, pertence ao Quarto 
Mundo. 
Pouparíamos tempo e palavras, data venia, se a referida Sra. juíza lesse com mais 
atenção e menos emoção os nossos argumentos. Em primeiro lugar, cabe precisar, 
quando afirma que “não sei qual a sua atividade”, que não apenas me defini como 
microempresário como até o ramo ultraespecífico em que trabalho, i.e., marcenaria, i.e., 
móveis de madeira sob encomenda. Além disso, eu não me “intitulo” engenheiro e 
economista. Eu o sou, de fato. Suponho que, pela sua erudição e cargo, a Sra. é 
advogada, e não apenas uma simples juíza classista. Oh... terra de bacharéis! Pena que 
os conflitos trabalhistas não gerem nem produção nem empregos! Em segundo lugar, 
engana-sea Sra. quando pensa que eu desconheço essa excrescência, fruto dos 
interesses dos atuais detentores do poder, denominada de Constituição da República, de 
5/10/88, “a maior do mundo”. Observem bem minha profecia: enquanto ela existir, o 
Brasil jamais voltará a crescer e gerar empregos e se transformará no principal 
distribuidor e exportador de drogas do mundo. O futuro dos seus filhos, Sra. juíza, está 
ligado indissoluvelmente ao dos meus. É por isso que a polêmica nos interessa a ambos 
e a todos. O câmbio correto, a ausência de truques eleitorais na formulação da política 
econômica e os juros baixos só nos permitiriam, se realizados, respirar com um pouco 
menos de dificuldade. De fato, no meu segundo artigo, “A História da Justiça do 
Trabalho”, em que relato, entre outras coisas, o mecanismo explosivo, exponencial, dos 
conflitos trabalhistas, afirmei: “Posteriormente, veremos que sua evolução — a dos 
conflitos, através da Constituição de 1988, continuaria a complicar ainda mais o 
quadro”. Felizmente, para mim, pelo menos, lá está tudo “preto no branco”, como 
diziam nossos antepassados portugueses. Em terceiro lugar, relatando minha 
ingenuidade ao voltar ao trópico, contei que joguei na lata de lixo o envelope da 
notificação judicial, e não a própria notificação, pois senão, nem faria sentido procurar 
um advogado. Em quarto lugar, devemos precisar que de fato somos adeptos do 
“capitalismo selvagem”, aquele mesmo que eliminou a pobreza e a a miséria nos países 
do Primeiro Mundo e, pasmem, inclusive na Suécia. A História é muito mais importante 
do que o Direito. Essa sua linguagem filomarxista está démodé. O Muro de Berlim ruiu. 
Além do mais, se a senhora lesse sobre outros temas sobre os quais escrevo, perceberia 
que o maravilhoso capitalismo nunca vingou por essas plagas. Vivemos um caso sui 
generis na história econômica humana, que denomino de “subcapitalismo”, ou 
“subeconomia de mercado”, em que existe até uma Justiça específica para as relações de 
trabalho. Esse é o drama. 
Os recentes acontecimentos econômicos — o derretimento do congelamento cambial, 
me permitiram compreender outro aspecto importante do subcapitalismo brasileiro: a 
relação “Justiça do Trabalho Versus Inflação”. Esta é uma peça fundamental na 
explicação do mecanismo da insolúvel inflação brasileira. Até então, só havia 
compreendido a importância da Petrobrás via câmbio — óleo diesel, gás de cozinha e 
outros insumos derivados de petróleo altamente relevantes na matriz de produção. De 
fato, aos primeiros e tíbios sinais de retomada inflacionária, juízes de segunda e terceira 
instância se apressaram em afirmar que, sem dúvida, os salários deveriam ser re-
indexados! Será que seus inconscientes estariam preocupados com seus próprios 
salários ou com os dos descamisados? Evidentemente, a indexação, neste momento, 
tornar-se-ia lenha de considerável calibre no fogo inflacionário. Um aspecto curioso é 
que ela é denominada de inflação “inercial” por grande parte dos mais importantes 
economistas oficiais e oficiosos do país. Abobrinhas locais para ampliar o leque de 
tautologias nacionais. Já o Sr. Antônio Carlos Magalhães, com seu mero instinto 
político, foi enfático: “Se re-indexar, aí sim é que a Justiça do Trabalho será 
definitivamente extinta”. Simples bravata, pois ela jamais será extinta e seguirá livre, 
saltitante e expansiva como sempre. O tímido tiroteio atual servirá, na melhor das 
hipóteses, para eliminar os classistas, como parece ser o desejo do príncipe. A tese é 
simples e direta: além do déficit público, premissa fundamental para a eliminação 
definitiva da inflação, ela jamais será eliminada sem a criação de um Banco Central 
independente do Executivo, a eliminação da Petrobrás e da Justiça do Trabalho. 
 
À Associação dos Advogados 
Trabalhistas 
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A psique humana é reveladora (traiçoeira?), como nos ensinou o genial Freud. O artigo 
da advogada Iara Martins, Presidente da referida associação, intitulado “O Mercado da 
Justiça do Trabalho”, com o mesmo título de um recente artigo assinado por mim, 
trouxe-me essa idéia ao pensamento. Ela começa dizendo que: “Sem pretensão de 
alimentar polêmica com o Sr. Josino Moraes...” e termina o artigo dizendo: “... a 
possibilidade dele próprio sujeitar-se às novas medidas judiciais em face dos danos 
provocados por suas infundadas acusações”. Traduzindo em miúdos: ela, em nome de 
sua associação, não tem interesse na polêmica, mas, uma vez que eu a fiz inevitável, o 
melhor para eles seria eliminar o perigo — eu, no caso. Ora, srs. bacharéis! Não baixem 
o nível! Nosso debate é político e importantíssimo, se o país fosse sério. A coisa é 
simples: encontrem argumentos e fundamentem-nos. Por que não lhes interessa a 
polêmica? É claro, melhor para os srs. que essa questão fétida, o mercado da Justiça do 
Trabalho, ficasse hermética nos porões da casa. Como não parece ser esse o caso, até 
aqui, felizmente, os srs. se decidem por ameaçar-me. 
Analisemos alguns aspectos de seu texto: em primeiro lugar, não há crise da Justiça do 
Trabalho. Pelo contrário. Ela, assim como o desemprego e as empresas de segurança, 
são casos raríssimos de prosperidade no meio da tragédia brasileira, que, realmente, foi 
acelerada pelo Plano Real, conforme seus argumentos. Sua prosperidade data desde seu 
início, em 1943, com a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e da 
Justiça do Trabalho, pelas mãos teratogênicas do ditador Getúlio Vargas, inspirando-se 
na Carta del Lavoro de Mussolini. Será que os srs. leram meu segundo artigo, sobre o 
tema intitulado “A História da Justiça do Trabalho”, em que relato sua origem fascista? 
Aparentemente não, ou bem fazem de conta que não. Ela não é o desaguadouro da crise 
social. Pelo contrário, ela é o principal fator, do ponto de vista institucional, da crise 
social. Ela estimula o conflito entre capital e trabalho, e isso é mortal para nossas 
pequenas e frágeis empresas, que geram mais de 50% de empregos no país. Nossa força 
de trabalho, hoje, encontra-se totalmente contaminada por idéias como: “vou por ele no 
...”, ou então, entram em nossas empresas colecionando documentos para uma posterior 
reclamação trabalhista, eufemismo, quase sempre, para extorsão. Como gerar empregos 
e riquezas num imbróglio como esse? Não é que sejamos maus patrões ou maus 
empresários, (exceções à parte), é que a Justiça do Trabalho tem como premissa que 
todos os patrões são maus, axioma marxista paradoxalmente assimilado como 
verdadeiro pelo fascismo. Percebem a diferença? 
Perdoem-me se falhei ao não citar determinada fonte. É que meu editor é terrível. Vive 
me puxando as orelhas pela extensão de meus textos. Mas vamos lá, recapitulo suas 
palavras a respeito das minhas afirmativas “... que dos 350 mil advogados existentes no 
Brasil, 45% atuam na Justiça do Trabalho, além desse dado não ser confiável — a 
fonte sequer foi citada, até porque não deve existir”. Que audácia! E depois, advoga que 
ainda que 100% dos advogados do país fossem trabalhistas, que teria eu a ver com isso? 
Há um lado interessante no raciocínio dos srs.: a defesa da livre alocação de recursos. 
Eu, como liberal radical, achei, em primeira instância, bastante válido o argumento. 
Porém, refletindo um pouco mais sobre a questão, conclui que a Justiça não deveria ser 
uma simples questão de alocação de recursos, baseada, entre outros fundamentos, no 
critério de Pareto. O país já é sui generis, com sua Justiça do Trabalho, mas com 100% 
dos advogados atuando na área, a coisa chegaria às raias da loucura e da imbecilidade 
total. Apesar de que a tendência é realmente essa, para agravar nossa infelicidade, pois 
este mercado continua sendo promissor. A fonte de meus dados foi obtida através de 
umabrilhante reportagem, “Ação trabalhista vira alternativa de renda”, d’O Estado de 
17/2/97. Os dados da reportagem são provenientes de uma pesquisa da OAB realizada 
em 1996, baseando-se numa amostra feita em 296 municípios. Essa é uma de minhas 
infundadas acusações. Não creio ter vocação para coprófilo, mas estudo essa 
excrescência, a Justiça do Trabalho, há anos, por crer que ela e, sobretudo, sua extinção, 
é peça fundamental para o desenvolvimento do país. Aliás, acho que todos deveríamos 
estar preocupados, pois, afinal, estamos todos no mesmo barco. Pena que a voracidade, 
quase sempre, impeça essa compreensão. 
Quanto ao aspecto de o “direito inalienável de serem os advogados bem pagos pelos 
serviços que prestam”, nunca abordei o tema. Mas, a bem da verdade, os srs. não são 
pagos pelos desserviços que prestam, mas sim vivem de comissões/percentagens sobre 
extorsões. Aí está o busílis, o X da questão. O negócio não é simplesmente bom, é 
ótimo. O caso dos advogados das reclamadas é realmente diferente: eles são de fato 
pagos pelas empresas, donas-de-casa ou associações de bairro que montam cooperativas 
de segurança privada para preencher o vazio de um Estado malfadado. 
Para arrematar, ocorreu-me estender algumas idéias de pensadores do passado: “Se a 
guerra é uma questão séria demais para deixá-la a cargo apenas de generais”, assim 
como a economia apenas para os economistas, a Justiça do Trabalho é um tema muito 
sério para deixá-lo restrito ao círculo dos srs. causídicos. 
 
A Justiça do Trabalho e o Art. 5° 
 
Observem bem essas sábias palavras de Maquiavel sobre a antiga Roma, há 
aproximadamente 500 anos: “Feliz a república à qual o destino outorga um legislador 
prudente, cujas leis se combinam de modo a assegurar a tranqüilidade de todos, sem 
que seja necessário reformá-las. É o que se viu em Esparta, onde as leis foram 
respeitadas durante oito séculos, sem alteração e sem desordens perigosas” 
(Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Editora Universidade de Brasília, 
pág. 23). É triste lembrar que Francisco Campos, mineiro, pejorativamente denominado 
de “Chico Ciência” por comunistas e outros, a serviço do ditador Getúlio Vargas, foi 
capaz, sozinho, de legislar sobre tão grave questão como a relação entre capital e 
trabalho. Ou melhor, copiar a legislação de um passageiro ditador italiano: Mussolini. 
Mais triste ainda é pensar que a Corporação do Judiciário consiga transmitir a grande 
parte do país tratar-se a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Justiça do 
Trabalho de coisas modernas. Quando levanto o debate sobre a origem de ambas, todos 
fogem assustados. 
Um arguto leitor, Lito Galati, nos alertou sobre um dos importantíssimos aspectos da 
Justiça do Trabalho: sua afronta à Constituição. De fato, no nosso primeiro artigo sobre 
o tema, lamentávamo-nos sobre o que nos parecia sua parcialidade no trato dos 
“conflitos trabalhistas”. Felizmente, essa excrementícia carta de 88 incorporou no seu 
texto um princípio universal do direito, no seu art. 5°: Todos são iguais perante a lei, 
sem distinção de qualquer natureza... Ocorre, para nosso augúrio, que essa não é a 
filosofia da Carta del Lavoro de Mussolini e nem de sua cópia tropical, a CLT. Quando 
a citada Carta estava moribunda na Itália, a CLT estava sendo plantada aqui, em 1943, 
onde floresceu tanto a ponto de gerar os paqueiros — profissionais especializados em 
“agenciar” conflitos trabalhistas, eufemismo para “extorsões”. Curiosamente, o ilustre 
Sr. Pazzianotto, Vice-Presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), afirmou, no 
Correio Popular do dia 10/6/99, pág. 3, que: “A legislação trabalhista evitou, por meio 
século, a luta aberta entre capital e trabalho”. Será que esse energúmeno ainda não 
percebeu que o capitalismo, que não pressupõe conceitualmente essa luta, foi o que deu 
certo e eliminou a pobreza e a miséria onde floresceu? Ou seria hoje essa pobre Rússia 
dilacerada e grande exportadora de prostitutas um exemplo a ser seguido? A razão 
maior para tamanha falta de percepção é a voracidade do seu estômago e a dos seus 
parentes. 
Vejamos alguns aspectos da rotina das Juntas de Conciliação e Julgamento (elas não são 
necessariamente assim, pois, em algumas oportunidades, dependem da decisão pessoal 
do Juiz que preside a Junta: 
a) Se a reclamada não comparece à primeira audiência, ela é condenada à revelia, além 
da confissão quanto à matéria de fato (CLT, art. 844). Se o reclamante não o faz, ainda 
terá várias chances para desarquivar o processo, com a restrição do limite dos 2 anos. 
Soube que, em algumas oportunidades, o reclamante se encontra presente, mas, se por 
alguma razão cabalística, seu advogado não gostar do número da Junta, eles não 
comparecem, pois ainda terão outras chances, do ponto de vista da teoria da 
probabilidade, de cair em outros números. E o art. 5°? 
b) Se a reclamada não está assistida de advogado, a audiência não se realiza e a mesma 
é condenada — caso oposto ao do reclamante: o juiz o argui e o processo segue em 
frente. E o art. 5°? Vivemos um caso em que os juizes condenaram o reclamante por 
litígio de má-fé, mas, para compensar o “coitadinho”, encontraram horas-extras numa 
empresa em que elas são proibidas exceto em situações inevitáveis, o que não era o 
caso. Interessantíssima, nesse aspecto, a reportagem da revista Exame de 19/5/99. O 
caso mais pitoresco é o de um sujeito que trabalhava 24 horas por dia! Que fenômeno! 
c) Se a reclamada acha injusta a sentença na primeira instância, terá que recolher 
determinada quantia para recorrer à instância superior, caso contrário ao do reclamante, 
para quem a farra é grátis(14). E o art. 5°? 
d) Vivemos um caso em que o reclamante presenciou nosso depoimento, ao passo que 
nós fomos convidados a retirar-nos durante o seu. Aparentemente, houve um erro do 
juiz, pois isso não deveria ter ocorrido, segundo o Código Civil. A razão pode ter sido a 
força do seu inconsciente a favor dos descamisados. 
Na visão fascista da CLT, todos os empregados são hipossuficientes, isto é, indivíduos 
economicamente fracos e que, portanto, necessitam da proteção do Estado, mesmo no 
caso de altos executivos (!), ao passo que todas as empresas são culpadas, salvo prova 
em contrário. Que princípios jurídicos! Cabe bem a pergunta, nessas últimas décadas de 
estagnação econômica: “Quem é o mais fraco? O especialista em extorsões ou a 
pequena-empresa à beira da quebradeira?” A Justiça do Trabalho é um dos principais 
fatores nesse processo de quebradeira. E depois da quebradeira, bons funcionários irão 
aumentar o já indigesto estoque — exército de desempregados! O problema central é a 
geração de empregos e o bem-estar social. Como a Consolidação das Leis do Trabalho e 
a Justiça do Trabalho não serão extintas, o mais racional, mesmo, data venia, neste país 
de irracionalidades, seria eliminar o art. 5°. 
 
A Justiça do Trabalho e o Emprego 
 
Em primeiro lugar, devo agradecer alguns assíduos leitores de meus “insidiosos” artigos 
sobre a Justiça do Trabalho, mediante o Correio do Leitor, do nosso prezadíssimo 
Correio Popular. Que me perdoem os leitores se, em algumas oportunidades, utilizo 
duras palavras, com o intuito de provocar o debate, pois ele interessa apenas a uma 
mínima parcela lúcida do país. De fato, uma recentíssima pesquisa, encomendada pela 
Força Sindical (O Estado, 26/6/99), descobriu que 89% dos entrevistados são contrários 
à sua extinção. Ora, no atual ciclo da nossa vida política, embasada num sistema de 
votos obrigatórios, quais os políticos que tomariam como bandeira um “abacaxi” como 
esse? Devo agradecer, também, a outras inúmeras manifestações de apoio no Correio do 
Leitor, dentre elas a do Sr. Sebastião Rabelo

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