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Resumo Roteiro 7 DPP

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Resumo Roteiro 7 – ENTRE BODIN E HOBBES – Texto do Chevalier : CAPÍTULO IV
1. Na França: rumo ao absolutismo autêntico. 
Após Bodin, publicistas e juristas empenham-se na criação de doutrinas que possam enaltecer e legitimar a soberania absoluta e indivisível do príncipe. Bodin inicia a legitimação da soberania do Príncipe no absolutismo francês (o poder francês é soberano e independente). Teorias cada vez mais favoráveis à autoridade indiscutida do soberano que institui a ordem e a paz, perdendo terreno a exigência bodiniana do consentimento popular aos impostos pela voz do Estados. Doutrinas: rompimento com a Igreja que buscava afirmar seu poder temporal.
- liberdade do Rei em matéria financeira e direito divino dos Reis (em oposição a Bodin). Rei como representante direto de Deus na Terra, sem intermediação do povo ou mesmo da Igreja. Soberania do rei era natural, com a ideia de força sobre os mais fracos. Direito divino dos reis = A transmissão do poder faz-se diretamente de Deus ao rei (lesa-majestade real = lesa-majestade divina). Atingir ao rei era o mesmo que atingir a Deus; o poder do rei lhe era outorgado diretamente das mãos de Deus e não das dos homens; e quando ele exigia obediência era em nome de Deus.
- Richelieu (Cardeal francês): dever dos príncipes em prestar obediência aos santos decretos da Igreja no que concerne ao poder espiritual. Os príncipes não devem consentir se os domínios da Igreja ultrapassarem o campo espiritual. “Todo bom teólogo deve saber que somente a Deus deve o rei a sua coroa e o poder temporal do seu Estado”. Defende maior ingerência da Igreja nos assuntos do Estado (os príncipes devem obedecer aos decretos da Igreja no que concerne ao poder espiritual), desde que não interfira no poder temporal, pois nesse caso, o príncipe não deverá consentir. A submissão do príncipe a Igreja é importante, porém não é total.
- Le Bret (conselheiro de Estado): soberania deriva somente de Deus e é indivisível; como é mais confiável um rei recebido por Deus que pelos homens, um controle humano do poder do rei seria um sacrilégio. Da mesma forma, o rei não está submetido a nenhum poder terreno, nem ao imperador, nem ao papa, caso se intrometam no poder temporal. Le Bret rejeita a tese de que somente o soberano seria proprietário. Confusão entre patrimonialidade e soberania: o rei poderia invocar as razões de Estado contra a vontade dos súditos. Dedica-se a defender os direitos do soberano, vinculando a soberania bodiniana e a independência nacional à doutrina do direito divino. Dá mais poderes ao rei, o qual pode intervir na vida privada dos cidadãos desde que seja para conservar o Estado. = Razões de Estado (MAQUIAVEL) = É a ação do príncipe para conservar o Estado ainda que tenha que passar por cima das leis. 
- progresso do absolutismo do direito divino francês, intensidade do sentimento de independência nacional e desconfiança das intromissões da Igreja nos negócios franceses. Não só na França, mas em toda a Europa, inclusive em Estados Católicos. Parlamento de Paris X Jesuítas da Contra-Reforma
2. Os Jesuítas: Poder Indireto e Direito de Resistência todos defendem a supremacia da Igreja sobre os reis absolutos.
Bellarmino (Italiano)
- defensor do catolicismo ultramontano, defende um poder subsidiário do papa nos assuntos temporais. O espiritual deve intervir no temporal para colocá-lo no rumo certo do objetivo do espírito. O que o rei não cumprir nas suas obrigações com Deus, pode fazer com que o Papa o deponha. O Sumo Pontífice não possui jurisdição sobre as coisas temporais a não ser por via de consequência, de forma indireta. Tensão entre a doutrina de separação nacional, separação entre Igreja e Estado, e outras teorias que consideram a intervenção da Igreja.
- O papa pode depor o rei, usando todas as cautelas necessárias, e liberar os súditos de sua lealdade para com o monarca. Se o temporal se extravia em matéria espiritual.
Juan de Mariana (Espanhol)
 - homem primitivo, sai do estado de natureza para se constituir em sociedade e institui um governo. Começa a ver a ideia de Hobbes
- dupla legitimação do poder monárquico: aos homens e a Deus. O monarca não é somente concebido por Deus, ele também legitima seu poder através dos homens – “O poder legítimo, e tal é o poder monárquico, deve, pois, a sua existência tanto aos próprios cidadãos como à vontade de Deus”. O rei não está acima dos homens considerados em conjuntos e nem acima das leis fundamentais.
- compenetração da Igreja e do Estado. Integração das Instituições: O Estado tem preceitos e membros da Igreja.
Francisco Suarez (Espanhol)
- retoma a noção de associativismo natural do homem: é da natureza do homem se constituir em Estado. Consenso entre cidadãos forma entre eles um vínculo moral. Retoma a ideia do homem animal político e sociável (influência Aristotélica), contrária ao pessimismo maquiavélico, o qual será retomado por Hobbes.
- toda sociedade tem um poder que a governa em busca de um bem comum. Esse poder é a autoridade pública ou soberana, que tem a faculdade de promulgar a lei. Finalidade do Estado (perspectiva teleológica): busca do bem comum. A sociedade será injusta quando não atender a ideia de bem comum temporal, a qual pode corresponder a ideia de bem comum espiritual.
- de onde vem a soberania/onde reside esse poder soberano? Suarez responde que como Deus não atribuiu diretamente a um dos homens, a soberania reside na coletividade de homens. É a comunidade que deve escolher livremente uma forma de governo e designar-lhe o chefe por delegação da soberania. É da escolha humana que depende a aplicação específica do direito natural de origem divina, que quer a autoridade.
- para Suarez, o melhor regime é a monarquia. O rei deve utilizar o poder recebido pela comunidade para a realização de uma verdadeira felicidade política, o bem comum é o princípio primeiro. O rei se torna tirano se contrariar esse princípio, ou seja, se contrariar o bem comum. Retoma a ideia de direito comum
- ius gentium: ordem jurídica entre Estados soberanos, aonde cada um é parte dessa associação para maior bem-estar e paz. Aproxima os diversos corpos políticos, assegurando-os auxílio, justiça, paz para o maior bem estar universal.
- Superioridade/Domínio da Igreja Católica Universal sobre os Estados particulares. Esclarecimento das relações entre Igreja e Estado e fixar os limites exatos da obediência devida aos soberanos. Limitar até onde vai o poder da Igreja e do Príncipe.
- Dependência do Estado da Igreja: indireta (poder do papa – subsidiário) apenas quando deriva somente de um fim mais nobre e se refere a uma autoridade mais excelente. Desta forma, a interferência do papa nos assuntos temporais não é justificada senão de forma indireta, em função da ordem espiritual. Não se limita a conduzir com seus preceitos cristãos, mas também e constrangedora com sanções, levando até a deposição, se for o caso. 
- Deposição do tirano. Distinção natural entre tirano de origem (está ilegitimamente no trono; usurpador; aquele contra o qual o povo pode se revoltar) e de exercício. O tirano de origem pode ser deposto por toda pessoa privada. Por sua vez, o tirano de exercício (legítimo, mas se degenara; a Igreja pode intermediar), um legítimo que se degenerou, pode ser deposto pelo povo pelas vias constitucionais com o apoio do papa, ou ainda, se o papa o tiver excomungado. A autorização do papa é um instrumento de autoridade. 
3. Althusius ou a democracia corporativa. Fala de democracia na época do absolutismo. Era Calvinista e Alemão.
OBS: Rompe com a tradição de romper com o poder da Igreja e o poder Supremo.
- Para Althusius, a política é a arte de estabelecer, cultivar e conservar entre os homens a consociatio (comunhão, comunicação) inerente à existência conjunta, a symbiosis. A sociedade se estrutura hierarquicamente em grupos sociais que se relacionam entre si, formando uma comunidade simbiótica. Todo indivíduo é compelido a pertencer a uma delas, onde poderá pôr em práticaas suas virtudes. A família é o mais basilar grupo social, formando posteriormente companhias (o chefe de família torna-se companheiro), cidade, província e Estado. Semelhante à Bodin, Althusius parte da família, célula inicial, primeira comunidade simbiótica. Família e companhia são comunidades simples e privadas; a reunião de varias comunidades privadas produz a comunidade mista e publica (cidade, província e Estado), é aí que o companheiro torna-se cidadão. Um pouco de Bodin : quase contratualista.
- Estado como composto de compostos: há o consentimento dos grupos de pertencerem ao Estado, mas não do individuo isoladamente. O Estado surge não de um contrato formado entre indivíduos, mas sim de passagens sucessivas de uma realidade orgânica para uma superior. Por que não é contratual? Porque não é individualmente que se concebe o Estado, e sim pela família. Em cada escalão acima da família intervém o consentimento comum dos membros, ou seja, o contrato, porém os contratantes não são os indivíduos, são as comunidades constituintes. É como se o homem individual estivesse recoberto pelo membro da associação que corresponde a cada escalão: chefe de família, companheiro e depois cidadão.
- O Estado (althusiano) é a comunidade simbiótica pública superior, a sociedade perfeita e capaz de satisfazer as necessidades dos cidadãos. Por isso, ele é o detentor do direito de majestade, o poder de comandar sem superior (preeminente, supremo e universal), poder de decidir sobre tudo o que é necessário à salvação tanto espiritual como corporal de seus membros. Esse direito pertence a todo o corpo do Estado, ou povo, e é inalienável e intransmissível. É também irrenunciável, indivisível e imprescritível. Sem esse poder, o Estado deixa de ser Estado. Inalienável e Intransmissível ( soberania em Bodin) = reside em toda a sociedade .
- Como o titular da soberania, para Althusius, é somente o povo, a concepção althusiana de governo é que os governantes são administradores que, em nome do povo, são incumbidos de vigiar o bom funcionamento da comunicação que forma a symbiosis. Esses administradores são os éforos (príncipes, magistrados etc = soberania/conselho dos melhores/aristocratas) e o Summus Magistratus (magistrado supremo que exerce explicitamente os poderes que os éforos lhe delegaram). Semelhança com a ideia atual. Magistrado = alguém que exerce alguma autoridade pública. Príncipe = não é o titular e sim o administrador da soberania. Althusius rejeita toda e qualquer soberania pessoal e, consequentemente, toda distinção entre as varias formas de Estado, pois, para ele, existe apenas uma, visto que há somente um detentor possível da majestade ou soberania: o povo.
- O colégio dos éforos é eleito pelo povo e elege o Summus, em nome do povo. O colégio dos éforos constitui a mais alta autoridade estatal (na qualidade de representante do povo), sendo superior ao Summus, mas cada éforo, individualmente, é inferior a ele. O Summus pode ser monárquico ou poliárquico (pode ser democrático, assembleia popular, ou aristocrático, uma minoria designada pela riqueza). Summus = aquele que é o verdadeiro comandante; o magistrado só é supremo em face dos inferiores e não em face dos seus súditos coletivamente, nem em relação ao Direito (ao qual o magistrado está submetido). O Estado althusiano tem a incumbência da salvação espiritual.
- A principal preocupação de Althusius é erguer barreiras contra a eventual tirania de um magistrado supremo. Para isso, recorre à técnica de controle por meio dos éforos, magistrados primeiros do Estado, que podem se opor ao Summus que se degenerar. Controle dos éforos sobre o Summus. Preocupação com a degeneração do Summus, que torna-se tirano. O Summus é superior a cada individuo, mas todos os éforos juntos são superiores a ele.
- Soberania para Althusius . Não se trata propriamente de uma soberania, nos termos de Bodin. Evoca seu fundamento de duas noções germânicas, propriedade coletiva e associação coletiva. A comunidade simbiótica superior qualificada como democracia (= titularidade do direito do povo – diferente da ideia de hoje). A soberania atinge seu ápice no totalitarismo do século XX.
Análise da Política:
Althusius procede de Bodin, ainda que o conteste. Retomou o método que Bodin adotara para chegar ao Estado, partindo da família. Atribuiu à majestas ou soberania bodiniana a fortuna que se conhece. Não admitia a visão bodiniana de que os direitos de majestade não podiam ser concedidos ao povo, pois só estariam bem entregues nas mãos do príncipe ou magistrado supremo, tal como ia contra a pluralidade das formas de Estado. Construiu a doutrina da verdadeira democracia (comunidade simbiótica superior e integral onde a soberania do Povo não se compõe de indivíduos). Pode-se dizer que a Política é uma réplica à República.
4. Grotius ou a revolução do Direito Natural. 
- Influência dos estoicos: sociabilidade natural dos homens, inclinados a viverem em paz uns com os outros, ordenados conforme sua reta razão. Rejeita a tese de que os homens visariam sempre ao seu interesse próprio.
- direito natural (à semelhança da natureza e da razão) proveniente da reta razão do homem. É imutável de tal forma que nem Deus pode modificar. O direito natural existiria ainda se Deus não existisse ou não se interessasse pelas coisas humanas. O direito natural que, segundo são Tomás, era o reflexo da razão divina na natureza racional do homem, deixa de ter raízes teológicas com Grotius.
- Corte das raízes teológicas. Formula princípios a serem aplicados a todas as nações independentemente de qualquer credo religioso. Princípios de direito natural formulados de tal forma que não possam ser refutados sem o uso da força. Laicização progressiva do direito natural e da teoria política que emerge do furor das controvérsias religiosas e aparece como resultado do rompimento da unidade cristã. Reação contra a cega obediência à tradição, de reduzir à clareza e à evidencia matemáticas o domínio complexo das relações sócio-políticas.
- Hugo Grotius, assim como Francisco de Vitória e Francisco Suarez, invoca a solidariedade universal, invoca a vinculação à natureza humana comum de todos os povos e proclama um Direito tão necessário a essa comunidade quanto a qualquer outra. 
- Direito voluntário: resultado da vontade expressa ou tácita de um Estado ou de um conjunto de Estados. Encontra numa de suas principais regras, a pacta sunt servanda (manter a palavra), sua garantia. O direito natural não é suficiente, sendo igualmente necessário um direito voluntario. Com isso, Grotius é geralmente tido como o fundador do Direito internacional público.
- Estado de beligerância incompatível com qualquer espécie de Direito. 
- o Estado para Grotius é um corpo perfeito de pessoas livres, que se juntaram no propósito de gozar tranquilamente de seus direitos, de olhos postos na sua utilidade comum. É uma base contratual: os homens renunciam ao primitivismo (comunidade primitiva) e associam-se para viverem de forma mais cômoda e agradável, e para se protegerem dos desonestos, colocam-se sob uma autoridade superior, ignorada no estado de natureza. Coloca a ideia contratual e individualista na base da sociedade política ou civil.
- Soberania: Primeiro efeito da associação plena e integral para a vida civil a que se dá o nome de Estado. A soberania reside no Estado de duas formas: no sujeito comum da soberania e sujeito próprio da soberania. O sujeito comum é o Estado ou o Corpo do Povo, mas seu sujeito próprio é uma pessoa ou um conjunto delas, segundo as leis e os costumes de cada nação, o Soberano. O Soberano tem o direito de exigir obediência porque é o sujeito próprio da soberania e se identifica com o sujeito comum, o Estado. O titular inicial da soberania, no caso o povo, pode despojar-se dela por um contrato ou pacto de submissão, que a transmita a um príncipe ou assembleia. Nessas condições o príncipe tem direitos próprios que podem se opor ao povo.
- Diferentemente então da concepção de Bodin eAlthusius, Grotius entende que a soberania pode ser alienável, ou seja, seu titular inicial pode se despojar dela por meio de um contrato ou pacto. Dessa forma, o povo em regra não teria o direito de punir os reis, se por meio de um pacto tiverem se submetido a uma ou a algumas pessoas. Todavia, Grotius reconhece que o pacto de submissão pode ter reservas, ou seja, ser parcial na concessão de poderes ao soberano.

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