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Desobdiencia civil em thoreau gandhy e Luther king

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18 
 
1 RESGATE TEORICO DA DESOBEDIÊNCIA CIVIL 
 
 
1.1 OS PRIMEIROS GRANDES TEÓRICOS DA DESOBEDIÊNCIA CIVIL 
 
 
1.1.1 HENRY DAVID THOREAU: “DESOBEDIENCIA CIVIL” 
 
Seguindo-se a Thomas Jefferson, teremos a obra de Henry David Thoreau. O 
autor é um dos três autores considerados como clássicos da desobediência civil, juntamente 
com Martin Luther King e Gandhi, que serão trabalhados na sequência. Ele será o primeiro 
grande teorico da desobediência civil como forma de resistência.34 É No contexto de expansão 
territorial estadunidense e guerra contra o México entre 1846 e 1848, que terminou com a 
anexação das regiões onde, hoje em dia, se encontram o Texas, Novo México e California, é 
que Henry David Thoreau (1817- 1862) vai escrever sua obra “A desobediência Civil”.35 
 
Henry David Thoreau, um abolicionista, percebeu que a ampliação territorial 
imperialista dos Estados Unidos sobre o México aumentaria a cultura escravocrata36, e 
contrário a esta guerra se propôs a fazer algo por meio do não pagamento de impostos ao 
estado de Massachusetts, que o usavam para financiar o exército. Por conta disso, foi preso, 
sendo a experíencia relatada em sua obra “A Desobediencia Civil”.37 
 
O autor era um feroz crítico a democracia estudinidense, discrepando das 
concepções liberais de Thomas Jefferson. Concorda com a frase “O melhor governo é o que 
menos governa”38, mas segue dizendo que também acredita que: “O melhor governo é o que 
absolutamente não governa”39 e que “Na melhor das hipóteses, o governo não é mais que 
uma conveniência; mas a maioria deles é, em geral (e alguns o são às vezes), 
34 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p. 48. 
35OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.57-58. 
36 Ibdem, p.57-58. 
37 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012, p.25-26. 
38 Ibdem,p.7. 
39 Ibdem,p.7. 
19 
inconvenientes.”40. Nada mais coerente do que o autor vislumbrar como ideal uma sociedade 
sem governo, se afastando das idéias tanto de Jefferson e Locke.41 
 
Como parte de suas críticas, o autor analisa as progressões das formas de governo 
ao longo da história, partindo, primeiramente, de uma monarquia absoluta, depois a uma 
monarquia limitada, para finalmente um regime democratico de governo. No fim de sua 
análise, questiona se com o regime democratico tal como ele era conhecido em sua época, 
teria se chegado ao ápice das formas de governo. 42 
 
Ligado à esse ponto, o autor demonstra a discrença que será exposta na visão de 
que não necessariamente o governo da maioria é o mais justo. Em verdade, argumenta que a 
maioria unicamente se impõe não por ser sinonimo de virtude, ou porque isso é melhor para 
as minorias, mas por conta de sua superioridade física.43 
 
Thoreau, em outro ponto, também estabelecerá que as massas são despreparadas e 
que o aprimoramento é lento, pois a minoria não seria, em essência, mais sábia ou melhor que 
a maioria, ou seja, não necessariamente a minoria faria ecoar as vozes da virtude que 
estremeceria e mexeria as massas e faria com que elas alcançassem a sabedoria.44 Porém, não 
obstante isso, dirá que, o que mais vale não é muitos homens bons, mas um que seja 
excepcional.45 
 
Escreve que mais valeria um homem que alcanssasse o ápice de sua virtude, pois 
isso influenciaria a massa como um todo, do que muitos homens bons, que, somente, seriam 
contra a escravidão apenas em tese.46 Nas palavras do autor: “Há milhares que se opõem em 
tese à escravidão e à guerra, mas que nada fazem efetivamente para pôr fim a elas”.47 
Thoreau em sua obra tecerá ainda mais críticas a ação das multidões de homens, como se 
pode vislumbrar quando disserta sobre as eleições, com se verá a seguir. 
 
40 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012 ,p.7. 
41 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.58. 
42 THOREAU, Henry David, Op. Cit., p.35. 
43 Ibdem,p.8-9. 
44Ibdem , p.13. 
45 Ibdem,p.13. 
46 Ibdem,p.13. 
47 Ibdem,p.13. 
20 
 
 
O autor utiliza-se da exposição do processo eleitoral para dizer que este seria 
apenas um “jogo”.48 O caráter de quem vota não entraria em destaque, por que, embora o 
indivíduo vote em quem ache certo,no fim das contas, não estaria preocupado com a vitória 
do que acha correto, ou seja, nada fariam “de concreto para que aquilo chegue a se 
materializar”.49 O eleitor seria“pouco engajado e preocupado com o interesse público, 
quando vota, atua passiva e despretensiosamente, disposto a deixar o resultado a cargo da 
maioria”.50 Entretanto, “Ocorre que esta maioria, assim como ele, é indiferente às causas 
sociais”.51 
 
Por isso, dirá o autor, que a obrigação de votar seria sempre um ato que não 
fugiria do que é conveniente, ou seja, nuca iria além do que é esperado e do que ditam as 
convenções. Arremata dizendo que, votar pelo que acha correto não seria o mesmo que fazer 
algo por ele, visto que o ato de votar somente serviria pra expressar, de uma forma muito 
frágil, aos outros, o desejo de que o correto vença.52 Dirá que um“um homem sábio não 
deixará o que é correto a mercê da sorte, nem desejará que ele prevaleça mediante o poder 
da maioria”.53 Faltaria, segundo o autor, portanto, virtude na ação das massas.54 
 
Dirá o autor, também, que essa virtude não seria encontrada na lei. Isso porque, a 
lei nunca fez com que os homens fossem mais justos e que o respeito indevido as leis poderia 
fazer com que os homens virassem, eles mesmos, agentes da injustiça.55 Um exemplo citado 
pelo autor seria “a fila de soldados, Coronel, capitão, cabo, recrutas, carregadores de 
explosivos e tudo o mais, marchando em ordem admiravel pelos caminhos mais tortuosos 
para a guerra, contra a sua vontade, pior ainda, contra sua sensatez e sua consciência”.56 
 
 
 
 
 
48 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012 ,p.14. 
49 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.59. 
50 Ibdem, p.59. 
51 Ibdem, p.59. 
52 THOREAU, Henry David, Op. Cit., p.14. 
53 Ibdem, p.14. 
54 Ibdem,p.14. 
55 Ibdem,p.9. 
56 Ibdem,p.9. 
21 
Não haveria neles (“exército permanente, as milícias, os carcereiros, os policiais, 
os membros de destacamentos etc”57) o exercício livre de seu senso moral e de seu 
julgamento, de modo que “a massa dos homens serve ao Estado não na qualidade de 
homens, mas como maquinas, com seus corpos”.58 Esses homens, portanto, teriam a função 
de defender o estado e manter o status quo.59 
 
Ademais, as massas sofriam com uma atuação incisiva da imprensa, visto que a 
igreja havia perdido força.60 Aquela trabalhava arduamente, para controlar a vontade social. O 
jornal era considerado a bíblia que acompanhava os indivíduos todos os dias em seus afazeres 
e os editores não tinham pudor ao apelar para o que pior das pessoas e excluir o que tinham de 
melhor. A impressa teria a função de sustentar o governo, não se importava com os meios 
utilizados para atingir essa finalidade.61 
 
Soma-se aisso também que os legisladores, políticos, advogados, ministros e 
funcionarios públicos, raramente tinha como norteador de suas ações, a sua consciência e, 
quando tinham, eram menos servidores do estado e muito mais inimigos dele, pois resistiriam 
ao governo a maior parte do tempo. A maioria não faria qualquer distinção moral e, nas 
palavras de Thoreau, poderiam tanto servir ao diabo ou servir a Deus.62 
 
Critica a ação do governo da maioria, também, quando analisa que os mecanismos 
que este propicia para contornar as ações ruins “levam muito tempo, e a vida de um homem 
pode acabar antes de eles vingarem”63. 
 
Tal descredito com as instituições governamentais,bem como com as massas da 
população e a exaltação de indivíduos poucos e exepcionais, que seguiriam sua consciência e 
fariam o que é certo, deixarão claro que o público em potencial da desobediência não seria a 
maioria da população. 
 
57 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012 ,p.10. 
58 Ibdem ,p.10. 
59 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.60. 
60 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p. 34. 
61 Ibdem, p. 34. 
62 THOREAU, Henry David, Op. Cit., p.10. 
63 Ibdem,p.18. 
22 
 
 
Isso porque, como já exposto, primeiramente, no sistema de governo liberal, a 
maioria representava o próprio fundamento da autoridade. Ademais, o governo e a imprensa 
atuariam sobre essa massa, que, já desprovida de virtude, ficaria sem vontade própria. Além 
disso, soma-se, por derradeiro, a demora demasiada grande do governo da maioria em fazer 
mudanças legislativas. Restaria que a minoria,em caráter quase que obrigatório, 
desobedecesse aos comandos estatais para que suas reinvidicações fossem atendidas, visto 
que esperar os meios que o estado impõe para a resolução dos conflitos demoraria e muitos 
poderiam chegar ao fim da vida sem ter suas demandas atendidas.64 
 
Em verdade, para solidificar esse entedimento de que Thoreau via com melhores 
olhos uma minoria da população dirá o autor que “uma minoria é impotente enquanto se 
conforma com a maioria; não chega nem a ser minoria, então; mas é irresistível quando 
intervém com todo seu peso”.65 Cumpre ressaltar, entretanto, que essa minoria deveria ser 
adjetivada como virtuosa. Seriam indivíduos poucos e exepcionais, que seguiriam sua 
consciência e fariam o que é certo. Embora haja claramente um marcador de postura ética e 
moral no pensamento de Thoreau, não foi possível vislumbrar um teoria de ação ética no livro 
“desobediência Civil”. 
 
Para o autor, o governo ideal seria aquele em que a voz da consciência guiasse a 
ação dos homens e do governo e não a voz da maioria. A obediência às leis seria avaliada pela 
consciência individual, independentemente da visão majoritaria. Dirá em sua obra que antes 
de serem súditos, os homens deveriam ser homens.66 Irá estabelecer que todos os homens 
reconhecem o direito a revolução que seria “o direito de recusar obediência ao governo, e de 
resistira a ele, quando sua tirania ou sua ineficiência são grandes e intoleráveis.”67 
 
Nelson Nery dirá que Thoreau enxergava “a desobediência como o único 
comportamento aceitável para os homens, quando se deparassem com legislação e práticas 
 
 
 
 
64 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p. 36. 
65 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012, p.20/21. 
66 Ibdem, p.9. 
67 Ibdem,p.11. 
23 
governamentais que não procurassem agir pelos critérios da justiça ou contrariassem os 
princípios morais dos indivíduos.”68 
 
O homem deveria “manter as mãos limpas e, mesmo sem pensar no assunto, 
recusar apoio prático ao que é errado”.69 Dita que os autoproclamados abolicionistas 
deveriam retirar seu apoio a escravidão de imediato e não esperar pelo crivo da maioria, nesse 
âmbito chega a admitir a resistência individual como um ato de desobediência civil e diz que 
“qualquer homem mais direito que seus vizinhos constitui em si uma maioria de um”.70 
 
Quando se questiona sobre se deve-se desobedecer leis injustas responde que 
devemos violar a lei sempre que ela obrigue o indivíduo a ser, ele mesmo, o agente da 
injustiça: “O que devemos fazer, de qualquer maneira, é verificar se não nos estamos 
prestando ao mal que condenamos.” 71 
 
Dirá o autor que o lugar dos homens justos seria na prisão.72 Portanto, “todos os 
desobedientes deveriam estar preparados para a mesma sina, lancinante, porém, virtuosa, 
honrosa e livre.”73 O autor, inclusive, viveu pelas suas palavras e, de fato, foi preso por que 
passou seis anos sonegando imposto.74 Nesse sentido também, encontra-se a lição de Nelson 
Nery.75 
 
Este desobediente defendia fervorosamente a via pacifica para solução dos 
conflitos, mas era um realista e reconhecia que apenas a via pacifica em alguns casos, não 
possuiria sempre reais chances de êxito e reconhecia suas fragilidades. 76 
 
 
 
 
 
68 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p. 38. 
69 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012, p.15. 
70 Ibdem,p.19. 
71 Ibdem,p.18. 
72 Ibdem,p.20. 
73 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.62. 
74 THOREAU, Henry David, Op. Cit., p.24. 
75 COSTA, Nelson Nery, Op. Cit., p. 38. 
76 Ibdem, p.37. 
24 
1.1.2 GANDHI E A NÃO VIOLÊNCIA 
 
 
Seguindo-se a Henry David Thoreau, tem-se Gandhi. Mohandas Karamchand 
Gandhi, nascido em 1869, depois de ter se formado em Direito na Inglaterra, ingressou na 
Africa do Sul para advogadar a respeito de problemas de imigração. Logo em seus primeiros 
dias em Natal ficou surpreso com a grande discriminação que sofreu o que o fez prolongar sua 
estada no pais e iniciar sua luta contra as injustiças sociais naquele país injusto que retirava de 
seus concidadãos o direito de voto, ir e vir e havia também uma taxação diferenciada nos 
impostos.77 
 
Gandhi estabeleceu um marco na prática da desobediência, notadamente a 
desobediência não violenta, que sempre será seu legado.78 Deixou certos escritos, 
notadamente seu livro “Ethical Religion” e “Todos somos irmãos: reflexões autobiográficas”, 
o qual teve-se acesso, que traz varias considerações sobre sua vida e filosofia e alguns de seus 
pensamentos sobre a desobediência civil no capítulo destinado a análise da democracia e do 
povo. Assim como Karl Marx em seu tempo, Gandhi também esteve a frente de jornais, 
assumindo a edição do Young Índia e, posteriormente, fundando o jornal semanal Harijan.79 
 
Gandhi encampou inúmeras lutas. Na África do Sul seu movimento de maior 
repercussão foi contra a Lei de Registro dos Asiáticos que obrigou todos os indianos a serem 
registrados e terem suas impressões digitais arquivadas. Neste movimento após decidirem em 
conjunto pela aplicação da Satyagraha (resistência pacífica) em que indianos se oporam a 
medida e jogaram seus certificados em um caldeirão, em 1908.80 
 
Gandhi é exposto como um pacifista (praticante da Ahimsa) e pregava a 
resistência não-violenta, e a Satyagraha, foi sua estratégia mais famosa,que consistia na 
 
 
 
 
 
 
 
77 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.69-71. 
78 Ibdem, p.75. 
79GANDHI, Mahatma Todos Somos Irmãos: Reflexões Autobiográficas, Tradução de Bruno Alexander, 1ª 
Edição, Editora L&PM, Porto Alegre (RS), 2020, p.291-299. 
80 OLIVEIRA, Bruno Pittella, Op. Cit.,p.72-73. 
25 
resistência pacífica, praticada por meio de protestos não violentos com o objetivo de 
reivindicar direitos civis e políticos.81 
 
Após sua estada na África do Sul, retornou a seu país natal, a índia, e começou a 
utilizar sua segunda tática mais famosa a asahayoh, que nada mais é que a não cooperação. 
Sua aplicação mais célebre foi com a histórica marcha do sal em 1919, que se constituiu 
primeiro num boicote a compra do sal inglês, que detinha o monopólio. Também ocorreu a 
campanha do “Khâdi”, que consistiu em uma troca: As vestimentas caseiras feitas 
artesanalmente substituiram os téxteis da Inglaterra.82 
Gandhi, portanto, defendia a filosofia da não-violência (Ahimsa). Esta seria uma 
forma coletiva83, que deveria possuir adesão e preparo dos participantes, e não- violenta, 
constituindo-se em um instrumento essencial de cidadania e exercício da moral.84 A 
resistência passiva, assim, era um método que permitia defender todo o direito que se 
encontrasse ameaçado.85 
 
Gandhi, influenciado por Thoreau e Tolstoi, foi um dos grandes pensadores e 
executores da desobediência civil, se tornou um exemplo para todas as gerações que o 
sucederam e lutaram contra o arbítrio estatal, se diferenciou pelo uso da não violência e por 
aceitar pacificamente os resultados de suas ações, que iam desde sua reclusão até sofrer 
violência. O grande diferencial de Gandhi foi introduzir uma pratica consistente da ferramenta 
e acrescentar-lhe a característica da não violência.86 
 
1.1.3 MATIN LUTHER KING E O MOVIMENTO NEGRO 
 
Conterrâneo de Jefferson, tem-se Luther King. Martin Luther King Jr, o mesmo 
era pastor na cidade de Montgomery no Alabama, onde iniciou suas atividades políticas 
 
 
 
 
81 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.71-72. 
82Ibdem, p.74. 
83 Ibdem, p.72. 
84 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p.41-42. 
85 Ibdem, p. 41. 
86 Ibdem, p. 42. 
26 
contra o racismo institucionalizado vigente nos Estados Unidos.87 Sua maior luta foi na busca 
dos direitos civis da população negra, tais como o direito de votar e o fim das discriminações 
raciais em todos os níveis.88 
 
Uma de suas importantes participações com apoiador da luta anti-segregacionista 
envolveu o caso emblematico de Rosa Louise Mccauley, mais conhecida como Rosa Parks, e 
o boicoite ao sistema de transporte público de Montgomery.89 Os protestos foram 
desencadeados quando Rosa, mulher negra, não cedou seu lugar no ônibus para um homem 
branco, como era constume na época e contou com a mobilização do Conselho político 
Feminino90, bem como de outras várias lideranças negras91 e durou pouco mais de um ano 
trazendo graves prejuízos para a empresa de ônibus e chamou a atenção de todo o país.92 
Segundo o professor Ricardo Alexino, professor da Escola de Comunicação e artes da USP, a 
atitude de Rosa Parks possibilitou maior organização dos movimentos sociais de combate ao 
segregacionismo e pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e o despontamento de 
lideranças, como Martin Luther King.93 Martin Luther King apoiou integralmente, portanto, o 
protesto silencioso de Rosa Parks contra as leis segragacionistas de seu Estado. 
 
Segundo Nelson Nery Costa havia na comunidade negra estadunidense do século 
XX duas propostas de ação social. Uma delas conivente com a situação de discriminação, cuja 
proposto era uma obediência passiva. A outra, pregava a violência como saída para o impasse 
social e era formada pela militância revolucionária. O movimento de desobediência civil de 
Martin Luther King surgiu como uma opção não-violenta para a comunidade negra dos 
Estados Unidos para lutar contra a discriminação que lhe aflingia. Tal movimento estipulava 
que a legislação ainda seria seguida, mas as partes injustas seriam negadas.94 
 
 
87 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.76-77. 
88 Ibdem,p.78. 
89 FERREIRA, Ricardo Alexino. Rosa parks declarou luta pelos direitos civis dos negros nos EUA. Jornal da 
USP, São Paulo, 08/05/2018. Disponível em: < https://jornal.usp.br/atualidades/rosa-parks-deflagrou-luta-pelos- 
direitos-civis-dos-negros-nos-eua/>. Acesso em: 06 de Dezembro de 2020. 
90 KLEFF, Michael. 1955: Rosa Parks se recusa a ceder lugar a um homem branco nos EUA. Deutsche 
Welle (DW), 01/12/2019. Disponível em: < https://www.dw.com/pt-br/1955-rosa-parks-se-recusa-a-ceder-lugar- 
a-um-branco-nos-eua/a-340929>. Acessado em: 06 de Dezembro de 2020. 
91 FERREIRA, Ricardo Alexino. Op. Cit. 
92 OLIVEIRA, Bruno Pittella, Op. Cit.,p.77. 
93 FERREIRA, Ricardo Alexino. Op. Cit. 
94 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p. 43. 
http://www.dw.com/pt-br/1955-rosa-parks-se-recusa-a-ceder-lugar-
27 
As grandes características da desobediência civil seriam: uma ação de massas, não 
violenta e aberta, chamando a atenção da população passiva. Das táticas utilizadas vale citar 
os boicotes, os sit-in e a marcha, todas levadas a cabo sem a utilização de violência. Entende 
Luther King que se os desobedientes forem para a prisão, o significado daquele ato ficaria 
cristalino95, podendo dizer que há certa semelhança com Thoreau, para quem o único lugar 
para um homem justo seria a prisão. 
 
Além disso, esta deveria ser o último recurso para os desobedientes e exigiria uma 
grande preparação antes de ser posta em prática.96 Dirá em “Letter from Birmingham city jail” 
que os requisitos para a deflagração da desobediência deveriam ser a coleta de informações 
para averiguar se a injustiça ainda estaria pendente, a tentativa de negociação, o preparo dos 
envolvidos na desobediência e, por último, a “ação direta”. 97 
 
Luther King afirmava em sua obra “Why we can´t wait” que a desobediência 
pacífica seria uma forma poderosa e justa sendo a uma arma que corta sem machucar e 
enobrece aquele que a usa.98 O autor entendia que a inexistência de violência nos atos 
desobedientes colocava o governo em xeque, pois, se proibisse manifestações pacificas, seria 
injusto, mas, se deixasse que ocorressem ficaria público a insatisfação do povo contra o 
governo. Ela colocaria em contradição o Estado.99 
 
Martin Luther King não admitia que suas ações fossem clandestinas e ressaltava 
que a violência não poderia ir contra pessoas, apenas contra coisas. Ademais, o ato de 
desobedecer seria contra a parte perceptiva da lei injusta, mas o indivíduo deveria se sujeitar 
às sanções previstas, justamente pelo ato de desobediência não ir contra o ordenamento 
jurídico como um todo.100 O autor afirmará em “Letter from Birmingham city jail” que aquele 
que viola a lei injusta e, em caráter voluntário,aceita a pena imposta a ele como forma de 
 
 
 
 
 
95 COSTA, Nelson Nery. Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p.44.96 Ibdem, p. 44 e 48. 
97 KING, Martin Luther. Letter From Birminghan City Jail. In: BEDAU, Hugo Adam Civil Disobedience in 
Focus, London ; New York : Routledge, 2002, p.69. 
98 KING, Martin Luther, Why we Can´t Wait, New York, The American Library, 1966, p.26. 
99 COSTA, Nelson Nery. Op. Cit., p.45. 
100 Ibdem, p. 45. 
28 
conscientização dos demais indivíduos da população, estaria demonstrando o mais elevado 
respeito pela lei.101 
 
Nelson Nery, dissertando sobre a doutrina de Luther King expõe que tais táticas 
visavam mostrar que as reinvidicações da população negra eram justas e, pela ação não- 
violenta, tinha como um dos seus objetivos consolidar uma publicidade a seu favor. A atuação 
violenta do estado contra a passividade dos ativistas tinham o objetivo de sensibilizar o resto 
da população por meio da veiculação na imprensa.102 
 
A minoria seria o segmento utilizador desta ferramenta de cidadania, pois havia 
um elemento de união na opressão que sofriam; tal unidade permitia que eles agissem como 
um grupo compacto e organizado e, corrolário a esses dois fatores, os indivíduos 
conseguiriam criar laços fortes que os forjava em uma identidade própria sempre procurando 
afirmar suas posições perante a maioria.103 
 
Haveria dois tipos de leis para Luther King: As justas e as injustas. A primeira 
todos deviam obediência e a segunda deveriam desobedecer, visto que ela estaria em 
descompasso com a lei moral.104 
 
Por derradeiro, Nelson Nery Costa, analisando o legado do autor, estabelece que 
Luther King e seus escritos foram importantes pois reafirmavam as minorias como setores 
chave para a desobediência civil, por meio de sua ação em massa105 (fato semelhante a 
Gandhi e Thoreau, embora este dizia que uma única pessoa também poderia ser um 
desobediente). A não-violência e a sujeição à lei no que diz respeito as punições teve impacto 
positivo para se obter uma publicidade favorável e foi reafirmada a justificativa com conteúdo 
moral106 (tal como seus antecessores). 
 
 
 
 
 
 
101 KING, Martin Luther. Letter From Birminghan City Jail, Op. Cit., p.74. 
102 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p.46. 
103 Ibdem, p.46. 
104 Ibdem ,p.47. 
105 Ibdem,p.47. 
106 Ibdem,p.47. 
	1 RESGATE TEORICO DA DESOBEDIÊNCIA CIVIL
	1.1.1 HENRY DAVID THOREAU: “DESOBEDIENCIA CIVIL”
	1.1.2 GANDHI E A NÃO VIOLÊNCIA
	1.1.3 MATIN LUTHER KING E O MOVIMENTO NEGRO

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