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AULA 7 - A Organização Social Boa noite! Nesta aula, voltamos a falar, agora com mais detalhes, da organização social. Do ponto de vista sociológico, organizações são grupos sociais, isto é, agregados humanos que se diferenciam entre si por terem, em graus variados, uma estrutura interna: papeis diferenciados para os componentes, uma situação interna e externa ao grupo que os atores levam em conta, normas e valores que norteiam o comportamento dos atores, e expectativas de comportamento para cada ator e para o grupo como um conjunto. Conceitos de grupo Em Sociologia, um grupo no sentido de uma simples coleção de indivíduos carece de sentido. Para o sociólogo, o termo só tem sentido quando há um tipo definido de relações entre esses indivíduos e quando essas relações resultam num certo nível de sentimento de solidariedade. Um grupo social pode ser definido como qualquer número de pessoas, grande ou pequeno, em que essas relações sejam encontradas de tal modo que sejam consideradas juntas. O grupo social deve ser capaz de ação consistente e essa ação deve ser consciente ou inconscientemente dirigida para uma finalidade comum. O interesse comum é a base do grupo. Uma comunhão de interesses pode estender-se desde um acontecimento passageiro que reúne pessoas num agregado momentâneo até um interesse funcional, relativamente permanente, que cria e mantém uma unidade coesa como uma empresa. Classificação dos grupos Os grupos podem ser classificados de várias maneiras e pelos mais diversos critérios. O sociólogo russo Pitirim Sorokin, por exemplo, dividiu os grupos sociais em dois tipos principais – horizontal e vertical. O primeiro são grupos grandes, inclusivos, como as nações, organizações religiosas e partidos políticos. O segundo são divisões menores, como classes econômicas, que dão ao indivíduo seu status e posição na sociedade. Como o grupo menor (vertical) é parte do maior (horizontal), o indivíduo pertence a ambos. Assim, um cidadão brasileiro pode ser italiano por nascimento, católico por religião e ter certa filiação política. Todos são grupos horizontais dentro dos quais, contudo, cada membro ocupa diferentes status. O mesmo cidadão pode ser senador e, naturalmente, cidadão; um votante comum e um líder em seu partido político; ou um cardeal e um pároco em sua igreja. Esses diferentes status significam grupamentos verticais. Já o estudioso Charles A. Ellwood distinguiu os grupos em voluntário- involuntário, institucional-não-institucional e temporário-permanente. Na primeira categoria (grupos voluntários e involuntários) incluiu, de um lado, grupos como a família, cidade e estado (que denominou grupamentos “naturais”), e partido político, seita religiosa e associação cultural, de outro (que denominou grupo “especializado, “proposital” ou “de interesses”), e os considerou produtos mais ou menos artificiais da cultura humana). No grupo institucional ele incluiu grupos permanentes, como a Igreja e a escola (que são “sancionados”, estabelecidos ou “instituídos” pela autoridade das comunidades), e, no grupo não-institucional, grupamentos temporários, como multidões e grupos recreativos (que “se formam e se dissolvem constantemente”). Os grupos temporários geralmente formam parte de grupos permanentes e são menos importantes para a compreensão do comportamento coletivo. Leopoldo Von Wiese & H. Becker classificaram os grupos humanos em três divisões principais: 1º) multidões, que descreveram como “transitórias e de estrutura fraca”, 2º) grupos, isto é, agregados de longa duração; e 3º) coletividades abstratas, como o Estado ou a Igreja. Os sociólogos norte-americanos Robert Park e Ernest Burgess distinguiram grupos territoriais (comunidades e estados) e não-territoriais (classes, castas, multidões, que não se ligam permanentemente a nenhum local). Eles também propuseram uma classificação mais elaborada em 1) família, 2) grupos por idioma e raça, 3) grupos territoriais, 4) grupos de conflito (partidos políticos, sindicatos), 5) grupos de acomodação (classes e castas). Já os também norte-americanos John Lewis Gillin e John Philip Gillin classificaram os grupos quanto a: 1º) relações de sangue (grupos de parentesco), 2º) características físicas (idade, sexo e grupos raciais), 3º) proximidade física (temporária, incluindo multidões, turbas e audiências; permanente, isto é, grupos locais e comunidade; territorial, isto é, tribos, populações regionais e estado); e 4º) interesses culturalmente derivados (grupos congeniais e econômicos, tecnológicos, religiosos, estéticos, intelectuais, educacionais, políticos, recreativos e melhorativos, e os públicos). Os conceitos de grupo interno e grupo externo Uma distinção básica importante foi feita pelo sociólogo norte-americano William Graham Sumner. Segundo ele, a sociedade humana consiste de “grupos internos” (“in-groups”) e “grupos externos” (“out-groups”), ou “nossos grupos” (“we- groups”) e “grupos deles” (“other-groups”). O “grupo interno” é aquele ao qual o indivíduo pertence, e o “grupo externo” é aquele de que não é membro. Essa classificação pode ser considerada subjetiva, pois é feita da perspectiva do indivíduo. O que é um “grupo interno” para uma pessoa pode ser um “grupo externo” para outra, e vice-versa. Uma pessoa pertence a uma série de grupos que são internos para ela; todos os outros grupos lhe são externos. Assim, pode-se ser membro de uma raça, tribo, nação ou comunidade; de qualquer número de sociedades, organizações e instituições de todos os tipos; de uma família; ou de um grupo de amizades ou recreativo. Todos são grupos internos para a pessoa a que pertence a eles, revelando as mesmas qualidades e exigindo atitudes e reações semelhantes de todos os seus membros. As relações do grupo interno são caracterizadas pela paz e ordem. Os seus membros mostram cooperação, boa-vontade, auxílio mútuo e respeito pelos direitos dos outros. Têm um senso de solidariedade, um sentimento de fraternidade e lealdade para com o grupo, e disposição para sacrificar-se por ele. Mas suas atitudes para com os estranhos (membros de um grupo externo) são de hostilidade, desprezo e ódio. As coisas proibidas no grupo interno são geralmente sancionadas e frequentemente encorajadas quanto ao grupo externo. Verdade que nas sociedades civilizadas, essas incongruências são menos comuns e expressas num nível mais sofisticado. Sumner explicou que o grupo interno necessita de paz, acordo e coesão, sem os quais dificilmente poderia existir ou enfrentar os perigos do ataque externo. Além disso, quanto mais próximos vivem dois grupos, e quanto mais forte se tornam, tanto mais tendem a odiar e a combater-se reciprocamente; há, então, necessidade de maior unidade e acordo em cada um. “Etnocentrismo” é outro conceito atribuído a Sumner. Conforme o autor, etnocentrismo é aquela visão das coisas na qual nosso próprio grupo é o centro de tudo e todos os outros são classificados e estimados em relação a ele. Há uma suposição, que frequentemente se torna uma convicção, de que os valores, modos de viver, toda a cultura de nosso grupo são superiores aos dos outros. Sumner afirmou que todo grupo, grande ou pequeno, primitivo ou civilizado, antigo ou atual é etnocêntrico. Toda tribo ou nação quase sempre tende a referir-se a si mesma em termos lisonjeiros e às outras em termos aviltantes ou detrativos. Ao mesmo tempo, cada um pensa em si mesmo como o melhor ou o maior, como possuidor de altos valores, como tendo as pessoas mais inteligentes e tendo realizado mais – em resumo, como um povo escolhido. As tribos primitivas que se atribuem termos pretensiosos chamam os outros de palavras que significam estúpidos, grosseiros, brutos, selvagens, quando em relação a elas. Toda nação moderna, grande ou pequena, é invadidapelo etnocentrismo. Toda nação imagina-se tendo uma missão civilizadora na qual seus membros crêem firmemente. Todo país considera-se o líder da civilização, o melhor, o mais livre e o mais justo, e todos os outros são inferiores a eles. Embora tenha um aspecto positivo, pois é um fator importante para a preservação do grupo, particularmente quando sua existência está ameaçada, o etnocentrismo deve ser considerado, em geral, uma ameaça para a sociedade. Está na base de antagonismos e preconceitos de grupos, criando assim barreiras para a compreensão mútua e cooperação pacífica entre nações. Os conceitos de grupo primário e grupo secundário Uma importante distinção foi feita por Charles Horton Cooley entre “grupo primário” e “grupo secundário”. Nos grupos primários, como a família, as relações entre os indivíduos são íntimas e diretas; nos grupos secundários, como a comunidade, as relações são menos íntimas e devem ser limitadas a contados indiretos baseados em certos interesses comuns. Esta definição de Cooley de grupo primário é semelhante ao conceito de grupo interno de Sumner. Tanto Cooley quanto Sumner referiram-se aos seus respectivos conceitos como “nosso” grupo. Cooley explicou que um grupo primário “envolve um tipo de simpatia e mútua identificação para quem o nós é a expressão natural.” A abordagem de Cooley, no entanto, diferia por estar ele interessado mais em pequenos grupos dentro de uma sociedade maior e o papel que desempenham na formação da personalidade humana, e no aparecimento e desenvolvimento de “ideais primários”. Para Cooley, os mais importantes grupos primários são a família, o grupo de folguedos das crianças e a vizinhança. São grupos universais que existem em todos os estágios de desenvolvimento cultural. São o “berço da natureza humana”. Já mencionamos o argumento de Cooley de que o grupo primário, particularmente a família, é o principal formador da personalidade humana. O grupo primário é a fonte de “nossas noções de amor, liberdade, justiça e outras semelhantes”. Retidão, igualdade, livre expressão, submissão à vontade do grupo e disposição para o sacrifício em favor do grupo são características das relações primárias. Cooley observou também que nas sociedades modernas, urbanizadas, a intimidade da vizinhança tende a desaparecer e a ser sobrepujada por relações mais amplas, embora ainda não seja claro até que ponto essa mudança significa um desenvolvimento sadio. Em comparação com o grupo primário, o secundário é muito mais importante para a compreensão da moderna sociedade industrial. Segundo os estudiosos Robert Morrison MacIver e Charles Page, as relações do grupo primário são características das sociedades primitivas ou pequenas comunidades compactas. Nessas condições, as associações íntimas são tidas como adequadas. Com a expansão da população e do território de uma sociedade, contudo, os interesses diversificam-se e tornam-se necessários outros tipos de relações – relações de natureza impessoal e indireta. O grupo secundário, ou como o denominaram “a grande associação” aparece dessa maneira. Seu aparecimento é o resultado não só da expansão, mas também, e talvez principalmente, da maior complexidade cultural. Enquanto em condições mais simples os membros do grupo participam ativamente de seus negócios, eles agora desempenham um papel mais ou menos passivo, delegando responsabilidades aos especialistas. Enquanto no grupo primário as relações são informais, são agora mais formais. Enquanto no grupo primário, a direção dos negócios é difusa, na “grande associação” concentra-se nas mãos de poucos, os especialistas, ou de uma hierarquia de funcionários que constituem uma “burocracia”. No grupo primário, além disso, a cooperação é direta e espontânea, e tudo é feito em comum através da associação pessoal. No grupo secundário é o objetivo, mais do que o processo, que reúne os membros. Uma distinção muito famosa que também se assemelha à oposição entre grupo primário versus grupo secundário foi aquela estabelecida pelo sociólogo alemão Ferdinand. Tönnies entre “comunidade” e “sociedade”. Esta distinção ressalta as diferenças essenciais entre a sociedade rural, ou local, e a urbana ou cosmopolita. A comunidade local (em alemão, Gemeinschaft) consiste numa população homogênea com um sistema de valores comum. A vida nessa comunidade é íntima e caracterizada pela compreensão e cooperação entre as pessoas e as famílias, apensar de sua auto- suficiência econômica. A principal preocupação é mais a preservação do grupo e seus valores do que do indivíduo e seus interesses. Já a sociedade urbana, cosmopolita (Gessellschaft, em alemão), por outro lado, é composta de elementos heterogêneos. Há uma extrema divisão do trabalho. As pessoas são ligadas mais contratualmente do que por simpatia, isto é, a base de sua cooperação é a vantagem pessoal. Não obstante sua estreita interdependência, as pessoas e as famílias são antagônicas, pois suas ações e pensamentos são motivados por interesses egoístas. Os dois tipos de sociedade são imbuídos de filosofias de vida inteiramente diferentes. Segundo Mackiver & Page, nas sociedades industrializadas e urbanizadas tem havido tendências para menos relações de grupo primário (ou comunitárias) e mais de grupo secundário (ou societárias). Com o crescimento da população de uma área, as oportunidades de participação direta do indivíduo na vida do grupo tornam-se mais limitadas. Ele é forçado a realizar tarefas especializadas que estreitam seus horizontes. Essa especialização é frequentemente considerada um obstáculo para a realização plena da vida do indivíduo e o desenvolvimento de seus impulsos humanitários. Apesar desse perigo, a modificação da ordem das coisas inclui elementos que contrabalançam os males da especialização e criam oportunidades para uma vida mais ampla e maior gozo da vida. Estrutura, organização e sistema do grupo O tipo de grupo social que interessa à Sociologia das Organizações é o que tem uma estrutura, uma organização e constitui um sistema. Vejamos cada uma destas dimensões do grupo. Por estrutura de um grupo quer-se dizer que todo grupo pode ser caracterizado por um conjunto de componentes que o integram. Estes componentes apresentam-se conforme determinada disposição, arranjo, ou organização. Quando essa disposição ordenada e o ato de dispor seus elementos constitutivos levam o grupo a uma ação ou funcionamento coerente (buscando coerentemente determinados objetivos), diz-se então que esse grupo pode ser visto como um sistema. A estrutura implica uma relação de componentes constitutivos do grupo que são regulares, duradouros e dispostos de modo a se interligarem entre si (como num organismo). Ou seja, não é um arranjo aleatório e momentâneo. Já a organização é uma característica de grupos estáveis, dos quais se pode esperar que ocorram determinados tipos de comportamento. E o sistema é quando o grupo que t em estrutura e organização funciona em busca de fins determinados. Assim, os grupos estáveis apresentam-se estruturados e organizados tendo em vista objetivos determinados e comuns. Estes tipos de grupos são chamados de Organizações. As funções que cada componente é chamado a desempenhar dentro de um grupo organizado (uma Organização) são razoavelmente estáveis, duradouras, fixadas explicitamente e são chamadas de “papeis”. Há inúmeros papeis que podem ser desempenhados em um grupo, relacionados com determinadas tarefas que cabem a cada componente do grupo (por exemplo, função executiva, ou de planejamento) e também com uma eventual hierarquia entre papeis (presidência, direção, gerência, coordenação, chefia, subordinação etc.). A cada papel cabe um conjunto de direitos e deveres. Os direitos e deveres inerentes ao papel desempenhado por cada componente dogrupo estão definidos com base em valores, padrões e normas de comportamento. Ou seja, espera-se que o ator se ajuste ao papel que ele desepenha no grupo conformando-se com as expectativas de comportamento próprias a cada papel. Na prática pode-se encontrar tanto o comportamento do componente adequado como o divergente ao papel que ele desempenha na organização. A adequação do comportamento do membro do grupo ao papel que lhe foi designado é essencial para o funcionamento do grupo e, por isso, é incentivada e protegida por penalidades. O desvio de comportamento do membro do grupo em relação ao papel que lhe foi atribuído implica a não-conformidade desse membro com os valores e normas próprios da organização, e está sujeito a algum tipo de sanção. Toda organização é dotada de dispositivos de controle que aplicam sanções com o objetivo de punir o desviante e de tentar reconduzi-lo ao comportamento esperado. No limite, a sanção pode levar à exclusão do grupo.
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