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PSICOLOGIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO AULA 3 Prof. Ademir Bueno 2 CONVERSA INICIAL Esta aula pretende apresentar o conceito de processo grupal, para depois discorrermos sobre ele na perspectiva histórica e dialética dos grupos. Na sequência, vamos abordar a forma como se compreende a formação dos grupos e qual a sua função na sociedade. Vamos também apresentar a classificação e formação dos subgrupos, e concluir a nossa aula trazendo o entendimento do processo grupal de comunicação e seus conflitos para a atuação do assistente social. TEMA 1 – PSICOLOGIA DE GRUPO: CONCEITO De uma forma geral, os autores da área descrevem o processo grupal como um acontecimento social, sendo a reunião de duas ou mais pessoas com determinados objetivos comuns entre elas. Segundo Antônio Carlos (2013), o cotidiano do indivíduo é norteado pela sua participação direta ou indireta em grupos. É uma experiência que todo indivíduo vivenciou em algum momento, podendo ser mais intensa para alguns do que para outros. Segundo Lorena (2013, p. 46), a inserção do indivíduo no grupo acontece desde o seu nascimento, de forma natural. A autora afirma: Quando nasce, o homem é naturalmente inserido na cultura e ao longo da vida deverá interagir e associar-se à inúmeros grupos sociais. De modo geral, o primeiro grupo de que fazemos parte é a família, que tem o papel, entre outros, de nos transmitir a língua, os valores e a cultura da sociedade, a qual pertencemos. A inserção do indivíduo no grupo se realiza de forma consciente ou inconsciente, pois algumas participações em grupos frequentemente são habituais e automáticas, feitas como rotina, sem que o sujeito se dê conta. Afinal, muitas vezes o indivíduo pode ser conduzido pelo grupo. TEMA 2 – A PERSPECTIVA HISTÓRICA E DIALÉTICA DOS GRUPOS Silvia Lane (citada por Ferreira, 2007) constatou, em seus estudos e observações do indivíduo em sociedade, duas amplas posições sobre a função do grupo. A primeira posição, mais habitual, traz a ideia de que a função do grupo seria exclusivamente a de determinar papéis, o que implica garantir a 3 produtividade dos indivíduos em grupos, buscando a manutenção e a harmonia das relações sociais. Já a segunda posição enfatiza o caráter de mediação do grupo, que afeta a relação entre os indivíduos e a sociedade. De acordo com Martins (2007), prevalece a preocupação com o processo pelo qual o grupo se produz, considerando as determinações sociais presentes nas relações grupais. Sílvia Lane (1984, p. 81-82, citada por Martins, 2007): todo e qualquer grupo exerce uma função histórica de manter ou transformar as relações sociais desenvolvidas em decorrência das relações de produção e, sob este aspecto, o grupo, tanto na sua forma de organização como nas suas ações, reproduz ideologia, que, sem um enfoque histórico, não é captada. Neste sentido, segundo Lane, é insuficiente afirmar que um grupo se resume apenas na reunião de pessoas que compartilham normas e objetivos comuns. Afinal, o grupo é compreendido como a partir de relações e vínculos entre pessoas com necessidades individuais e/ou interesses coletivos, que se expressam no cotidiano da prática social. Segundo Antônio Carlos (2013), historicamente o vocábulo grupo surgiu no século XVII, e referia-se ao ato de retratar artisticamente um conjunto de pessoas. A partir do século XVIII, o termo passa a significar uma reunião de pessoas. Cabe salientar que tanto a psicologia quanto a sociologia têm profundo interesse no estudo da formação de pequenos grupos sociais, porque se pensa o grupo como mediador entre o indivíduo e a sociedade. Para a psicologia, a sistematização dos estudos de grupos sociais tem o interesse de compreender a sua dinâmica. Estudos importantes foram desenvolvidos nas décadas de 1930 e 1940, com Jacob Levy Moreno (1889- 1974), psiquiatra americano que ficou conhecido pela criação do Psicodrama, e Kurt Lewin (1890-1947), psicólogo alemão que estudou a dinâmica dos grupos. De acordo com Minicucci (2015), Moreno inicia seu trabalho com o teatro da espontaneidade, que vai levar ao psicodrama. Em sua definição, o psicodrama é a ciência que explora a verdade por métodos dramáticos, por meio de papéis desempenhados socialmente. Cria-se, na sequência, a sociometria, ferramenta que relata o feixe de interações e de comunicações de todas as pessoas com as quais o indivíduo se relaciona. Por meio desses estudos, o 4 estudioso descobriu fatores que geram afastamento ou aproximação dos grupos sociais formados na comunidade como um todo. Já Lewin inaugura o termo dinâmica de grupo pela primeira vez em 1944. Conforme Antônio Carlos (2013, citado por Barros, 1994): não podemos esquecer que a preocupação com grupos, tanto de Moreno, quanto de Lewin, aparece em seguida às inovações Taylorista e Fordista, que levam a elevação dos lucros, mas também à deterioração das relações, tanto dos operários entre si, quanto em relação a chefias e patrões. Neste contexto, a instituição utiliza-se do controle que exerce sobre o indivíduo como ferramenta para descaracterizar a formação do grupo, privilegiando apenas o treinamento, em busca da produtividade, aplicando técnicas grupais que desenvolvem somente a cooperação dos participantes, para que não ocorra a coesão grupal. TEMA 3 – FORMAÇÃO DE GRUPOS E SUA FUNÇÃO SOCIAL Para compreendermos o ser humano, é necessário encontrar seus objetos de identificação – alguma coisa ou pessoa, tendo em vista que, quando o indivíduo se identifica com outro, criando vínculo, ocorre o que é chamado de associação. É pelo estabelecimento de muitas associações humanas que os verdadeiros grupos sociais passam a existir. De acordo com Lorena (2014), não há interação social sem a formação de algum tipo de grupo, e não há grupo social se não houver interação entre indivíduos. Assim, podemos definir que um grupo social é o espaço onde as pessoas são vistas como um todo, como um agrupamento de pessoas, com tradições, valores e normas morais comuns. A autora ainda discorre que o fato de uma pessoa deixar de frequentar um grupo não fará com que a formação do grupo seja abolida, devido a essa vivência ter caráter coletivo. O “nós”, no grupo, é uma prioridade; há uma consciência coletiva, e assim os valores, os princípios e os objetivos são comuns entre os participantes. O nascimento do sujeito é o evento que inaugura sua existência como participante de grupos sociais. Segundo Lorena, ao nascer, o indivíduo é naturalmente inserido na cultura. Ao longo de toda sua vida, deverá interagir e se associar com inúmeros grupos sociais. Universalmente, o primeiro grupo de 5 que fazemos parte é a família, cujo papel principal é nos transmitir a língua, os valores e a cultura da sociedade a qual pertencemos. Lorena (2014, p. 47), discorre que, à medida que vai se desenvolvendo, o sujeito passa a frequentar outros grupos, transformando-se cada vez mais em um ser social. O processo que o tornara um indivíduo único e integrado na sociedade ocorrerá a partir de grupos como família e a classe social, por exemplo. Ao longo da vida, que quando passar a ter preferências e, de fato entender seus valores, o sujeito talvez se insira em clubes, grupos de amigos, a turma do bairro e assim por diante. Portanto, a humanidade consiste de infinitas personalidades individuais, e ao mesmo tempo apresenta uma diversidade ilimitada de grupos diferentes. As relações são infinitas e fluidas. Assim, o sentimento de “pertencimento” ao grupo é a principal característica integradora dos grupos sociais, sendo de extrema importância, mesmo que essa experiência seja mais difícil de ser vivenciada para o sujeito de hoje. Segundo Antônio Carlos (2013), o grupo também é um lugar onde as pessoas revelam suas diferenças.Nele, as relações de poder se fazem presentes, perpassando as decisões do cotidiano. Nesse contexto, o conflito é essencial para o processo e para as relações de caráter grupal. TEMA 4 – CLASSIFICAÇÃO E FORMAÇÃO DOS SUBGRUPOS De acordo com Lorena (2013), cada grupo social apresenta determinadas características que lhes são peculiares. As condutas dos integrantes dos grupos são parecidas; eles possuem objetivos e se submetem a normas, símbolos e valores que os tornam parte do grupo, apesar da sua subjetividade. Cabe aqui citar alguns exemplos de grupos: família, escola, faculdade e empresa. A autora ressalta que é possível distinguir quais grupos exercem influência direta no desenvolvimento comportamental e na personalidade do indivíduo. Vejamos a classificação e como cada grupo interfere na função social e na forma como o indivíduo interage em sociedade: Grupo pessoal – é um conjunto de pessoas com as quais o indivíduo se sente bem e fica à vontade. De acordo com Lorena (2014), as identificações com outros integrantes podem se dar com base em uniformes, carteiras de associado e distintivos. Os encontros intragrupos acabam por gerar conflitos e desconfortos. 6 Grupo externo – são os grupos aos quais não pertencemos. São outras famílias, religiões, clubes, partidos ou países. Um ponto importante na análise dos grupos pessoais e dos grupos externos é o conceito de distância social. Ele é o termômetro que mensura o sentimento de aceitação do sujeito no grupo em relação aos membros do outro grupo. Por exemplo, pense em um índio xavante caminhando na grande metrópole. Ele pode estar próximo geograficamente de muitos homens brancos; no entanto, a distância social muitas vezes é enorme. Grupos primários – predominam os contatos primários, mais pessoais, diretos, como a família, os vizinhos etc. Caracteriza-se pelas motivações afetivas. Não há dúvida de que o modo como os pais tratam os filhos afeta seus comportamentos em outros grupos. Grupos secundários – são mais complexos, como as igrejas e o Estado. É caracterizado por contatos sociais impessoais, limitados e não permanentes. Os indivíduos atingem a realização de forma pessoal e direta, porém sem intimidade, o que pode se dar de maneira indireta, como por meio de cartas, telegramas, telefonemas, entre outras formas. A conduta predominante é a formalidade. Assim, para todo profissional, a compreensão sobre o indivíduo e o modelo de grupo ao qual está inserido torna-se também um exercício para o profissional da assistência social, o que requer um aprendizado, de forma mais rica, das determinações possíveis da realidade. Diante disso, serão pensadas as estratégias de intervenção de trabalho no contexto grupal. TEMA 5 – O PROCESSO GRUPAL, A COMUNICAÇÃO E SEUS CONFLITOS Há diversos aspectos a serem pensados sobre a comunicação dentro do contexto social. Na dinâmica das relações humanas, a comunicação representa uma importante ferramenta no processo de formação dos grupos sociais. De acordo com Silvia Lane (2007), sua função é imprescindível na estruturação grupal, pois é pela comunicação que os indivíduos desenvolvem relações sociais efetivas, o que cria uma cooperação entre os sujeitos, para que não surjam relações de dominação. Para a autora, é importante pensar na linguagem ou no quesito comunicação enquanto elo fundamental entre o indivíduo e a sociedade, tendo 7 em vista que, ao mesmo tempo em que ela é um produto social, a comunicação é também o elemento determinante para a ação do sujeito em sociedade. Martins (2007, p. 79), sobre a questão da comunicação em grupo, afirma: Isoladamente, a pessoa identifica o seu problema como exclusivo, como necessidade individual. No entanto, ao se reunirem, os indivíduos percebem que os problemas, muitas vezes semelhantes, são decorrentes das próprias condições sociais de vida e que a organização coletiva. Dessa forma, diferentemente da ação individual isolada, a comunicação em grupo pode propiciar a resolução de problemas ou a satisfação de necessidades comuns. Nesse sentido, cabe a cada grupo criar seu próprio processo, respeitando as condições reais de vida e as características peculiares dos indivíduos envolvidos em cada contexto. NA PRÁTICA Espera-se, com esse conteúdo, trazer um entendimento que dará sustentação para a escolha de técnicas adequadas para a intervenção grupal. Essa intervenção traz perspectivas para a transformação da atuação do assistente social, dirimindo as dificuldades de compreensão da formação dos grupos sociais, bem como do processo grupal, sua forma de comunicação e os conflitos característicos. FINALIZANDO Na presente aula, apresentamos conceitos de processo grupal, e depois falamos sobre o processo grupal e a perspectiva histórica e dialética dos grupos. Na sequência, tratamos da formação dos grupos e qual sua função na sociedade. Por fim, apresentamos a classificação e a formação dos subgrupos. Concluímos nossa aula trazendo o entendimento do processo grupal, tratando da comunicação e seus conflitos. 8 REFERÊNCIAS MINICUCCI, A. Dinâmica de grupos: teorias e sistemas. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2015. MARTINS, S. T. F. Psicologia social e processo grupal: a coerência entre fazer, pensar sentir em Sílvia Lane. Psicol. Soc., Porto Alegre, v. 19, n. 2, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 71822007000500022&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 jul. 2018.
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