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Ética e Economia
Este estudo sobre ÉTICA E ECONOMIA, é muito importante para todos aqueles que almejam uma libertação que comece pelo econômico e se abra para a totalidade da existência humana pessoal e social.
Todo o sistema parte de uma correta compreensão do ser humano, pessoal e coletivo, base para o autêntico desenvolvimento. Essa compreensão não é particular. Ela pertence à sabedoria da humanidade. Em cada pessoa, atuam três dimensões: o físico, o mental e o espiritual. As três têm que ser desenvolvidas articuladamente, caso contrário, ou não há desenvolvimento ou o desenvolvimento produz injustiças e muitas vítimas.
O físico se ocupa com todas as dimensões captadas fisicamente, como a corporeidade humana, o mundo dos fenômenos mensuráveis, a natureza, os recursos naturais, a fertilidade da terra, os elementos físico-químicos e as energias cósmicas que atuam sobre o nosso mundo. A essa dimensão, a ética ensina como utilizar, de forma ótima, os recursos físicos, de tal forma que não sejam exauridos e que bastem para todos os que hoje vivem e os que virão depois de nós. Mas não só os humanos, mas também os demais seres da criação, pedras, plantas e animais.
O mental é constituído pelo universo da mente humana: a inteligência, a vontade, a imaginação, a vida psíquica formada pelas emoções e toda nossa sensibilidade interior e arquetípica. O ser humano deve desenvolver suas capacidades mentais em benefício do autodesenvolvimento e do desenvolvimento dos outros, mediante comportamentos justos, erradicação de mecanismos de exploração e criatividade na busca de soluções em face de problemas novos.
O espiritual  é aquela disposição do ser humano de ligar o macro com o microcosmo, de captar a totalidade, de descobrir o outro lado de todas as coisas, a mensagem que vem da grandeza do universo; é a capacidade de contemplar, de venerar  e de dialogar com o Mistério que as religiões chamam de Deus ou a Força diretiva do universo. Pela atuação desta dimensão, o ser humano se transforma num ser cósmico. Trata-se de um processo infinito.
Urge englobar todas estas dimensões no processo de desenvolvimento crescente.
Ademais, é fundamental descentralizar para evitar os monopólios e oligopólios, pois eles introduzem e sedimentam desigualdades. A descentralização se realiza com a formação de unidades socioeconômicas no mundo inteiro, que se constroem a partir da consideração dos problemas econômicos comuns, das potencialidades econômicas uniformes, da similaridade étnica, dos aspectos geográficos comuns, e do fator cultural de língua, tradições e religiões. Á base destes procedimentos se monta o planejamento participativo, o comércio e as trocas.
O que resulta desta lógica pragmática é uma economia balanceada que respeita o equilíbrio de todas as coisas. Ela se estrutura sobre quatro eixos:
Garantir a satisfação das necessidades básicas a todos;
Garantir comodidades/amenidades a pessoas mais ligadas ao funcionamento do todo (médicos, professores, orientadores, etc.; se o povo usa bicicletas, convém que o médico use um carro para facilitar seu serviço comunitário);
Garantir o mais possível comodidades/amenidades a todos indistintamente;
Manter estes processos sempre abertos para que o crescimento não conheça fim.
As necessidades e as comodidades/amenidades devem atender às três dimensões do humano, no físico, no mental e no espiritual. Esse sistema representa uma abordagem humanística da economia. Ele deixa pra trás a economia no sentido capitalista de acumulação ilimitada de bens e serviços materiais e resgata seu sentido clássico de atendimento de todas as demandas humanas. Herbert de Souza, Betinho, sociólogo, articulador nacional da Ação da Cidadania contra a miséria e pela vida, fundador do instituto brasileiro de análises sociais e econômicas, afirma que:
“No Brasil, 48% de toda a riqueza nacional está nas mãos de apenas 10% da população. Esta é seguramente uma das maiores concentrações de renda em todo o mundo... Ainda há 32 milhões que vivem na indigência neste país, desprovidas de qualquer direito, inclusive o mais básico de todos, que é o de comer.
É imperativo encontrar o caminho do emprego. Sem emprego, não haverá humanidade para todos... Quando colocamos o emprego como arma contra a miséria, apontamos caminhos e saímos Brasil afora cobrando uma resposta, porque não temos mais tempo. Estamos correndo contra o tempo, contra esta tragédia que se estabeleceu no país.
A democracia não vive sem solidariedade, sem amor à igualdade sem a participação de todas as pessoas nas mudanças que vêm através da ação.”
Num país, como o Brasil, corroído por disparidades sociais, a proposta de uma ética na perspectiva econômica e uma economia na perspectiva ética é mais do que uma alternativa, porque não considera apenas o homem como ser econômico, mas primordialmente como psíquico e espiritual. O equilíbrio econômico é o principal desafio na sociedade.
Há quatro razões principais para que, no passado, cidades e estados tenham perdido o equilíbrio econômico e definhado após terem alcançado a prosperidade plena. Primeiro, se a cidade ou o estado desenvolveu-se em função de um sistema hídrico e se este subitamente mudou o curso e secou, sua economia foi afetada de modo adverso. Segundo, se as indústrias abandonaram as vilas rurais o equilíbrio econômico também foi perdido. A terceira razão foram os sistemas educacionais defeituosos. Se há falhas no sistema educacional rural e no sistema social, não há equilíbrio econômico. Acrescentaria um quarto motivo de desequilíbrio econômico, a questão do imaginário popular; quando se pergunta: QUAL É O SONHO DOS BRASILEIROS ?
Pertencer ao primeiro mundo, ao mundo rico.  Como já dizia Hugo Assmann - no fundo, parece que temos vergonha de pertencer ao terceiro mundo e sonhamos em não ser o que somos. Desejamos ser reconhecidos e aceitos pelos “grandes”, e por isso queremos imitá-los.
Consumir o que eles consomem, nos vestir como eles, ver o mundo como eles vêem; em outras palavras, assumir a cultura deles. Parece que sentimos culpa de ser o que somos.
Ser rico, numa sociedade como a nossa, é mais importante do que ser branco. As pessoas e grupos sociais lutam por seus sonhos; duas palavras-chaves são apresentadas hoje como caminho para a realização do sonho: Modernização e Mercado. A Modernização da economia e do país e o livre mercado parecem assumir “A Boa Nova” de hoje.
Há um outro lado da moeda, a sua face “oculta”, que de ético não tem nada, que é a apartação do mundo dos que participam da modernização e mercado do mundo dos que estão fora. A apartação social é o lado não admitido deste sonho e é, exatamente aí, que a Filosofia interfere para conjugar as causas e conseqüências desta apartação e propor respostas e saídas à luz de uma práxis libertadora.
No tocante à modernização, há o pressuposto da submissão da Economia e da política do país ao critério da eficiência, da racionalidade, entendida aqui como técnica para se obter a Maximização da produção com o menor custo econômico. Não está em discussão se o objetivo de buscar o aumento da produtividade a qualquer custo social é ou não desejável, ou até mesmo racional. A modernidade capitalista criou um conceito particular de racionalidade, diferente dos tempos antigos, quando havia uma discussão racional também sobre a validade dos nossos objetivos.
O progresso da tecnologia (o saber científico aplicado à produção) é apresentado como único caminho possível para a realização dos sonhos. A revolução tecnológica que estamos vivendo hoje, que possibilita o consumo de bens antes inimagináveis, é visto como a composição de que não há outro caminho para a realização dos sonhos humanos a não ser o da modernização capitalista.
Sendo assim, a solução dos problemas sociais e humanos não estaria mais no campo das opções em torno de objetivos e caminhos possíveis, viáveis eticamente falando, mas somente no campo técnico. Esse assunto seria da competência exclusiva das técnicas(por exemplo, economistas, empresários, cientistas...) e, não da população em geral.
As pessoas não técnicas não teriam uma responsabilidade política, nem direito de participar da determinação do futuro da nação. Mais ainda, o desejo e ação de participar da vida política, em nome da cidadania, seria uma pretensão que atrapalharia a eficácia da modernização.
A modernização, segundo esse tipo de pensamento, vem sempre acompanhada de liberalização do mercado, por dois motivos. Segundo eles, o sistema do mercado é o melhor e o único sistema que possibilita a maximização da produção, isso porque o sistema de mercados é um sistema baseado na concorrência entre os seus participantes. Uma relação baseada na concorrência produz como resultado necessário a vitória do mais competente (o mais forte) e, portanto, a derrota e a exclusão dos mais fracos. Com isso, só os mais competentes permaneceriam e conduziriam de uma forma mais eficaz o progresso tecnológico e o aumento da produtividade.
O segundo motivo é que, com a liberalização total da economia (a abertura da economia para o comércio internacional, a privatização das empresas estatais e a saída do estado da economia), os consumidores terão acesso aos bens produzidos no mundo inteiro, e todos os recursos da economia serão dirigidos em função da eficácia. Não haveria mais a intervenção do estado na economia, nem o “desperdício” do dinheiro público com programas sociais.
Essas duas ações têm, ou deveriam ter, como objetivo, a melhoria da vida dos que estão alijados no processo de concorrência do mercado, isto é, os pobres, os desempregados e os setores menos eficientes da economia.
A ansiedade, que vem da concorrência sem fim e o desejo nunca satisfeito de consumir tudo, é compensada pela realização do sonho. Mesmo que essa realização seja sempre parcial e provisória. Além disso, existe o importante sentimento de não ser como “eles”, como aqueles que estão fora desse mundo desejado por tantos, o gosto indescritível de ser superior.
O primeiro ponto de que precisamos sempre nos lembrar é algo bem óbvio: a sociedade brasileira é maior do que o mercado brasileiro. Calcula-se que em torno de 60 a 70 por cento da população brasileira está fora do mercado consumidor e do mercado de trabalho formal. A condição sine qua non para entrar no mercado, para ser consumidor, é ter dinheiro para consumir. Se levarmos em conta que, no capitalismo, todos os bens necessários para viver e para satisfazer desejos são vendidos no mercado, estar fora do mercado significa não ter condições para viver, muito menos a satisfação dos desejos.
Isso significa que o Brasil tem uma multidão de pessoas não-consumidoras que vão formando um cinturão em volta do mercado, às margens do mercado, olhando para dentro, desejando entrar e sendo barradas por falta de passaporte necessário: Dinheiro. Como no capitalismo neoliberal,  a vida não é possível fora do mercado, não resta outra alternativa se não buscar formas legais ou ilegais de encontrar uma brecha para entrar.
As formas ilegais são já conhecidas: corrupção,  roubos, assaltos, ...,  que possibilitam aos marginais do mercado ter acesso aos bens materiais necessários para satisfazer as necessidades e desejos.
Uma forma legal é procurar um emprego com um salário digno que os torna participantes do mercado, mesmo que de modo muito secundário. Assim, os desempregados começam a viajar em busca de melhores condições de vida. E, com razão, buscam as cidades mais ricas. Só que estas cidades, que têm melhores condições de vida, não querem a entrada desses considerados indesejados, incompetentes. Assim, cidades como Campos do Jordão, Campinas, Ribeirão Preto, Curitiba, Gramado e outras têm ou tentaram criar mecanismos para barrar a entrada dos pobres.
Infelizmente, nem todos os brasileiros são tratados como cidadãos ou, numa linguagem religiosa, nem todos são tratados como filhos de Deus. A condição sine qua non para a cidadania é ser consumidor, ter dinheiro, estar no mercado. E a cidadania aqui é entendida como direito de participar das benesses do mercado contra os que procuram defender os interesses dos pobres, dos “não-competitivos”. O mercado é considerado anterior à cidadania, como a fonte da cidadania para indivíduos.
Antes se alguns diziam: “fora da igreja não há salvação” ou “só os batizados são filhos de Deus”; hoje se diz: “fora do mercado não há salvação”, “só os consumidores são cidadãos”
É interessante notar que o Artigo 1 da Declaração dos Direitos Humanos e do Cidadão, da Revolução Francesa, dizia algo bem diferente: “os homens nascem e vivem livres e iguais em direitos”, as distinções sociais só podem ter fundamento na utilidade comum. Isso significa que nenhuma instituição humana é anterior ao ser humano, aos seus direitos e à sua dignidade. Todos são cidadãos, independentemente da sua condição social. Parece que o capitalismo contemporâneo perdeu de vista as grandes contribuições do liberalismo à história da humanidade e só ficou com seus aspectos perversos.
Mas para onde, então, irão estes considerados “não-cidadãos-incompetentes?” Bem, esse não é um problema para os que assumiram o espírito da modernização do mercado. Na visão deles, preocupar-se com esse tipo de problema e se deixar ser levado pela tentação de ser solidário com os pobres, significa ir contra o espírito do mercado, o espírito da concorrência, da defesa do interesse próprio contra os interesses do outro. Para a lógica do mercado, não se pode ser solidário com os menos competentes, porque isso diminui a eficácia do sistema. E, como já vimos, a maximização da eficácia é apresentada como único caminho para o Paraíso, a realização dos sonhos.
Por isso, Roberto Campos, grande defensor do neoliberalismo, disse que, “A modernização pressupõe uma mística cruel do desempenho e do culto da eficiência.       Uma mística que deve substituir a mística cristã da solidariedade.”
O problema é que só se pode realizar o sonho do consumo infinito e do sentir-se superior, assumindo este “culto da eficiência e a mística cruel”. Não se pode viver num condomínio fechado sem se apartar dos que estão à margem do mercado. Esse é o lado obscuro do sonho. A realização desse sonho - por parte de uma minoria implica ao mesmo tempo apartação e negação da vida dos pobres.
Está comprovado que não é possível a realização desse sonho por todos. Se isso acontece, os problemas ecológicos e com os recursos naturais não-renováveis tornariam impossível a vida na terra.
Numa economia como a brasileira, a realização desse sonho só é possível para uma minoria à medida que é mantido o atual modelo econômico de concentração de renda. A realização desse sonho por parte de uma minoria pressupõe negar os direitos da maioria de ter uma vida digna. No fundo, pressupõe assumir que nem todos são cidadãos, ou pelo menos que grande parte da população é constituída de “cidadão de segunda categoria”.
Mas como manter uma consciência tranqüila diante dessa realidade cruel? Acreditando na “mística cruel”. E só tem sentido falar em “mística cruel” quando se elimina totalmente a subjetividade da economia e da política, e, portanto, quando se elimina também a ética, pois não há mais distinção entre solidariedade e egoísmo. Ou melhor, o egoísmo com sua mística cruel, é apresentado como único caminho para a solidariedade. Nesse sentido, só a ação egoísta produziria o bem comum pela intervenção supra-humana da mão invisível do mercado.
Direitos e responsabilidades políticas e subjetividade humana são pontos fundamentais da noção de cidadania. Pontos que a ideologia do mercado nega. Não é à toa que os defensores do capitalismo são os que menos falam em cidadania, e que os opositores do atual capitalismo são os que mais defendem a cidadania para todos.
Dissemos que as pessoas e grupos sociais lutam por seus sonhos. Se esses sonhos são perversos ou desumanos, as suas práticas cotidianas e lutas também serão desumanizantes. Para mudar as práticas das pessoas, precisamosmudar os seus sonhos. Precisamos apresentar um sonho mais humano, alternativo ao sonho do consumo infinito.
A sociedade precisa ser testemunha de um sonho diferente. Não um sonho de um condomínio fechado no seu luxo, mas o sonho de uma sociedade que não precise de condomínios para sentir-se segura. Uma sociedade em que a qualidade de vida não seja confundida com quantidade de consumo. Em que as pessoas não precisem ser violentas para garantir sua sobrevivência, nem sejam julgadas por sua aparência ou preferência. Uma sociedade mais igualitária, sem tanto luxo contrastando com a miséria, sem tanta ansiedade ou medo. Um mundo onde a solidariedade volte a ser um valor importante, talvez o central.
Não é difícil ser esse tipo de testemunha numa sociedade que vive concretamente a exclusão, o medo e a violência de todos os tipos. Coragem não quer dizer loucura, nem prudência pode ser uma máscara para a nossa covardia.
Felizmente, a maior parte das comunidades periféricas, agrícolas estão abertas aos pobres. Há quem esteja comprometido com a vida dos pobres, sendo testemunhas de um outro sonho, mostrando outra maneira de ser cidadão e cidadã, isto é, que não faz distinção de pessoas, anunciando que todos são igualmente dignos e portadores de dignidade. Até as pessoas mais pobres e marginalizadas.

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