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SP2 - 01 - Humanidades II (1)

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Prévia do material em texto

Humanidades II 
(2 créditos – 40 horas) 
 
 
 
 
 
Autor: 
Brasdorico Merqueades dos Santos 
 
 
 
Universidade Católica Dom Bosco Virtual 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
 
 
 
2 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
 
Missão Salesiana de Mato Grosso 
Universidade Católica Dom Bosco 
Instituição Salesiana de Educação Superior 
 
 
Chanceler: Pe. Ricardo Carlos 
Reitor: Pe. José Marinoni 
Pró-Reitora de Graduação e Extensão: Profa. Rubia Renata Marques 
Diretor da UCDB Virtual: Prof. Jeferson Pistori 
Coordenadora Pedagógica: Profa. Blanca Martín Salvago 
 
 
Direitos desta edição reservados à Editora UCDB 
Diretoria de Educação a Distância: (67) 3312-3335 
www.virtual.ucdb.br 
UCDB -Universidade Católica Dom Bosco 
Av. Tamandaré, 6000 Jardim Seminário 
Fone: (67) 3312-3800 Fax: (67) 3312-3302 
CEP 79117-900 Campo Grande – MS 
 
 
SANTOS, Brasdorico Merqueades dos. 
 
Humanidades II / Brasdorico Merqueades dos Santos. 
Campo Grande: UCDB, 2019. 84 p. 
 
Palavras-chave: 1. Ética. 2. Moral. 3. Fim Último. 4. Práxis 
Ética. 
 
0720 
 
3 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO 
 
Este material foi elaborado pelo professor conteudista sob a orientação da 
equipe multidisciplinar da UCDB Virtual, com o objetivo de lhe fornecer um subsídio didático 
que norteie os conteúdos trabalhados nesta disciplina e que compõe o Projeto Pedagógico 
do seu curso. 
 
Elementos que integram o material 
Critérios de avaliação: são as informações referentes aos critérios adotados para 
a avaliação (formativa e somativa) e composição da média da disciplina. 
Quadro de Controle de Atividades: trata-se de um quadro para você organizar a 
realização e envio das atividades virtuais. Você pode fazer seu ritmo de estudo, sem ul-
trapassar o prazo máximo indicado pelo professor. 
Conteúdo Desenvolvido: é o conteúdo da disciplina, com a explanação do pro-
fessor sobre os diferentes temas objeto de estudo. 
Indicações de Leituras de Aprofundamento: são sugestões para que você 
possa aprofundar no conteúdo. A maioria das leituras sugeridas são links da Internet para 
facilitar seu acesso aos materiais. 
Atividades Virtuais: atividades propostas que marcarão um ritmo no seu estudo. 
As datas de envio encontram-se no calendário do Ambiente Virtual de Aprendizagem. 
Como tirar o máximo de proveito 
Este material didático é mais um subsídio para seus estudos. Consulte outros 
conteúdos e interaja com os outros participantes. Portanto, não se esqueça de: 
· Interagir com frequência com os colegas e com o professor, usando as ferramen-
tas de comunicação e informação do Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA; 
· Usar, além do material em mãos, os outros recursos disponíveis no AVA: aulas 
audiovisuais, vídeo-aulas, fórum de discussão, fórum permanente de cada unidade, etc.; 
· Recorrer à equipe de tutoria sempre que precisar orientação sobre dúvidas quan-
to a calendário, atividades, ferramentas do AVA, e outros; 
· Ter uma rotina que lhe permita estabelecer o ritmo de estudo adequado a suas 
necessidades como estudante, organize o seu tempo; 
· Ter consciência de que você deve ser sujeito ativo no processo de sua aprendiza-
gem, contando com a ajuda e colaboração de todos. 
 
 
 
 
4 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
Objetivo Geral 
Proporcionar a reflexão da realidade social à luz dos valores éticos, religiosos e 
morais de modo a favorecer a visão crítica e o compromisso social. 
 
SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 – O MUNDO NEOLIBERAL .................................................................. 10 
1.1 Assim nasceu Mantícora ........................................................................................... 10 
1.2 Vamos olhar melhor esse negócio ............................................................................. 12 
1.3 Alguém teria que matar essa fera ............................................................................. 13 
1.4 E a Igreja? ............................................................................................................. 15 
1.5 Mantícora se sofisticou ............................................................................................ 18 
 
UNIDADE 2 - EXCLUSÃO SOCIAL .......................................................................... 26 
2.1 Quando o outro é um estranho ................................................................................ 27 
2.2 Escravidão... é o fim! ............................................................................................... 29 
2.3 Bolsões de pobreza no 1º mundo ............................................................................. 30 
2.4 Uma crítica à educação ............................................................................................ 34 
2.5 Então ... é preciso falar de Direitos Humanos ........................................................... 35 
 
UNIDADE 3 – CUIDAR DA VIDA ............................................................................ 37 
3.1 Ética e moral .......................................................................................................... 37 
3.2 A ética do cuidado com o outro ................................................................................ 38 
3.3 O cuidado (ética) com o mundo: ecologia ................................................................. 42 
3.4 O cuidado com a vida: bioética ................................................................................. 43 
3.5 O dono da vida ....................................................................................................... 49 
3.6 Patentes (na área da saúde) .................................................................................... 51 
 
UNIDADE 4 - UMA MEDIDA PARA TODAS AS COISAS: JESUS CRISTO .................. 53 
4.1 Os pobres e os oprimidos ........................................................................................ 54 
4.2 Uma ilustração do amor cristão: Dom Bosco .............................................................. 62 
4.3 Juventude hoje ....................................................................................................... 65 
 
ANEXO 1 ............................................................................................................... 69 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 74 
EXERCÍCIOS E ATIVIDADES ................................................................................. 77 
 
5 
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Avaliação 
 
A UCDB Virtual adota um sistema de avaliação continuada: além das provas no 
final de cada módulo (avaliação somativa), será considerado também o desempenho do 
aluno ao longo de cada disciplina (avaliação formativa), mediante a realização das 
atividades programadas para cada disciplina. Todo o processo será avaliado, pois a 
aprendizagem é processual. 
Se o aluno se limita à realização da prova, não será possível interferir no 
processo de aprendizagem em tempo de poder corrigir desvios, más interpretações, 
etc. Portanto, participe de todas as atividades propostas, você só tem a ganhar! 
Avaliação das atividades: para que possa se atingir o objetivo da avaliação 
formativa, é necessário que as atividades sejam realizadas criteriosamente, atendendo 
ao que se pede e tentando sempre exemplificar e argumentar, tentando relacionar a 
teoria estudada com a prática. As atividades devem ser enviadas dentro do prazo 
estabelecido no calendário de cada disciplina. 
Critérios para composição da Média Semestral: 
Para fazer a Média Semestral, leva-se em conta o desempenho atingido na 
avaliação formativa e na avaliação somativa, isto é as notas alcançadas nas diferentes 
atividades virtuais e nas prova(s). 
Cada prova presencial vale até 10,00 e as atividades virtuais valem até 10,0.No 
final, a soma total de pontos será dividida por três. Portanto, para calcular a Média, 
segue-se o seguinte procedimento: 
MS = (P1 + P2 + AV) / 3 
Exemplo: 
MS=(10,0+10,0+10,0)/3 
MS=30,0/3 
MS = 10,0 
P1-1ª Prova 
P2-2ª Prova 
AV - Atividades Virtuais 
 
Se a Média Semestral for igual ou superior a 4,0 e inferior a 7,0, o aluno ainda 
poderá fazer o Exame. A média entre a nota do Exame e a Média Semestral deverá ser 
igual ou superior a 5,0 para considerar o aluno aprovado na disciplina. 
 
6 
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FAÇA O ACOMPANHAMENTO DE SUAS ATIVIDADES 
O quadro abaixo visa ajudá-lo a se organizar na realização das atividades. Faça seu 
cronograma e tenha um controle de suas atividades: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AVALIAÇÃO PRAZO * DATA DE ENVIO ** 
Atividade 1.1 
Ferramenta: Tarefa 
 
Atividade 4.1 
Ferramenta: Tarefa 
 
* Coloque na segunda coluna o prazo em que deve ser enviada a atividade 
(consulte o calendário disponível no ambiente virtual de aprendizagem). 
** Coloque na terceira coluna o dia em que você enviou a atividade. 
 
7 
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BOAS VINDAS 
 
Seja bem-vindo/a! 
 
 O curso de Humanidades II, como se deduz do próprio nome, é compromisso com o 
ser humano, com a vida. Isto porque interessa, e muito, para a Universidade que daqui 
saiam ótimos especialistas, ótimos profissionais, verdadeiros peritos na sua área. Mas 
interessa também e principalmente, que estes profissionais sejam éticos, humanos, justos. 
 Uma pergunta para começar: qual é o seu ponto de referência para analisar a 
realidade, para ver se as coisas estão certas ou erradas? O jornal? A revista? Ou talvez seja 
a TV? Quem sabe as tradições, os costumes? Ou ainda a ciência? A religião? Este estudo 
que faz parte desta colcha de retalhos oferecendo o que pensa a Doutrina Social Cristã, que 
por sua vez faz suas afirmações a partir da fé que, por sua vez, supõe a ciência. 
 Acreditamos que em cada pessoa existem valores extremamente importantes para o 
convívio social. Valores que foram plantados pela família, pela religião, pela cultura ou 
mesmo cultivados individualmente. Estes valores são confrontados e desafiados diariamente 
pelo mundo neoliberal com suas tendências políticas, econômicas e mercadológicas. Pelo 
conceito que oferecem de pessoa humana, pelo tipo de relacionamento que apregoam, 
pelos critérios de vida que oferecem. Estão sempre soprando aos ouvidos: Seja o primeiro! 
Passe na frente! Deixa de ser bobo, aproveita a vantagem. Fure a fila! Cada um que se vire! 
Aí surgem as oportunidades de corrupção, de vida fácil. Surgem também a injustiça, a 
violência, etc. O que queremos com este curso, além de refletir algumas destas realidades 
sociais, é fortaleceras sementes boas que já existem, como que dizendo: vale a pena ser 
honesto! Vale a pena ser ético! Vale a pena optar pelo bem. A partir deste pensamento 
também é possível perceber não haver, neste material, a mínima intenção partidária-
política: pró ou contra; capitalista ou comunista. 
 O eixo fundamental é o ser humano. Por isso... ”Humanidades”, mostrando que tudo 
o que é humano nos interessa. Portanto, é um conteúdo relacionado com a realidade social. 
Com isto, a disciplina Humanidades II não tem nada a ver com doutrinação, benzeções e 
preces. Prova disto é que deixamos evidente o foco no aspecto social. Para tanto, 
analisamos as artimanhas do mercado neoliberal. Na mesma linha de defesa da vida e da 
dignidade, avançamos para o aspecto ético, refletindo sua conceituação e sua aplicação 
(diante do outro, do mundo, da vida): ética-ecologia e bioética. Culminamos com Jesus 
Cristo como o homem-medida para todas as coisas. Importa orientar que o pano de fundo 
 
8 
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desta reflexão social é a realidade brasileira. Por vezes a reflexão se estende ao contexto 
mundial, mas de modo sempre aplicado à mesma realidade brasileira. 
Outra coisa: utilizamos o termo Doutrina Social Cristã (DSC) que nas circunstâncias 
do texto equivalem à “ética cristã” e ao “conjunto do pensamento das igrejas Católica 
Apostólica Romana, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Episcopal Anglicana do 
Brasil e Metodista”1 
 Como Universidade Católica lançamos luz sobre a realidade não apenas a partir dos 
referenciais éticos e morais, mas também e principalmente a partir de Jesus Cristo e seu 
Evangelho. O objetivo é o resgate e promoção da pessoa humana, de sua dignidade e seus 
direitos. 
Para começar, fica um refrão da música “Nunca pare de sonhar” de Gonzaguinha: 
 
 “[...] fé na vida, fé no homem, 
 fé no que virá. 
 Nós podemos tudo, 
 nós podemos mais, 
 vamos lá fazer o que será”. 
 
 
 
 
1CFE de 2016. Disponível em: <www.edicoescnbb.com.br/cfe2016>. Acesso em: out. 2019. 
http://www.edicoescnbb.com.br/cfe2016
 
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Pré-Teste 
A finalidade deste pré-teste é fazer um diagnóstico quanto aos conhecimentos 
prévios que você já tem sobre os assuntos que serão desenvolvidos nesta 
disciplina. Não fique preocupado com a nota, pois não será pontuado. 
 
1. Assinale a alternativa correta. 
I. O mercantilismo é a teoria e sistema de economia política, dominantes na Europa após 
o declínio do feudalismo. 
II. O mercantilismo propunha o acúmulo de divisas em metais preciosos pelo Estado por 
meio de um comércio exterior de caráter protecionista. 
III. O mercantilismo enfraqueceu o colonialismo e impediu o desenvolvimento industrial. 
a) Apenas os enunciados I e III estão corretos. 
b) Apenas o enunciado III está correto. 
c) Apenas os enunciados I e II estão corretos. 
d) Apenas o enunciado I está correto. 
 
2. Assinale a alternativa INCORRETA. 
a) O ser humano é um ser de relação, pois estabelece vínculos com as pessoas. 
b) O ser humano é um ser de relação. Porém esta relação pode se caracterizar pelo 
preconceito e exclusão. 
c) A desigualdade é a base das relações de exclusão social. 
d) Embora haja a exclusão na sociedade brasileira, todos nós desfrutamos dos mesmos 
direitos e benefícios sociais. 
 
3. Assinale a alternativa correta. 
I. Na sociedade de consumo a vida tem que ser vivida no grau máximo, já que tudo é 
efêmero, passageiro. 
II. A lógica da sociedade de consumo é produzir algo para o consumo e depois descartar 
esse algo para continuar consumindo. Essa lógica está muito presente na vida das pessoas 
contemporâneas. 
III. Os produtos que compramos são sempre marcados por prazos de validade, os 
eletrônicos, os automóveis, são feitos para durar determinado período de tempo e depois 
serem substituídos. 
a) Apenas os enunciados I e II estão corretos. 
b) Apenas os enunciados I e III estão corretos. 
c) Apenas os enunciados II e III estão corretos. 
d) Todos os enunciados estão corretos. 
 
Submeta o Pré-teste por meio da ferramenta Questionário. 
 
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UNIDADE 1 
O MUNDO NEOLIBERAL 
 
OBJETIVO DA UNIDADE: Compreender a evolução do capitalismo de modo 
desproporcional à consciência do respeito à dignidade da pessoa humana. 
 
 
1.1 Assim nasceu Mantícora 
 
Mantícora é um monstro da mitologia persa e 
significa “devorador de homens”. É um ser fantástico, 
semelhante à esfinge do Egito. Uma quimera com cabeça 
humana, asas de morcego, corpo de leão, cauda de 
escorpião, com três fileiras de dentes de tubarão 
afiadíssimos, e sua voz soa como um trovão. 
Fonte: https://bit.ly/2ByQ36U 
Dispara espinhos venenosos que paralisam ou matam suas vítimas. Devora suas 
presas inteiras, não deixando para trás pertences, ossos ou roupas. Suas vítimas preferidas 
são os humanos. 
 Esta fera é uma analogia perfeita para entendermos as reflexões desta primeira 
unidade, que analisa o capitalismo, na sua fase mais recente, ou seja, o neoliberalismo:devoram impiedosamente suas vítimas. 
 
1.1.1 E já nasceu com fome 
 Para falar das origens do capitalismo é preciso voltar lá ao período do século XIII ao 
século XIV, quando surgiu na Europa uma nova classe social, a burguesia. Esta nova classe 
buscava o lucro por meio de atividades comerciais. Neste “bolo” tinha banqueiros, 
cambistas, grandes navegadores, reis e rainhas. As palavras que mais os caracterizava eram 
lucro, acúmulo de riquezas, controle de sistema de produção e expansão de negócios. 
Caracterizou-se pelo mercantilismo2porque retiravam recursos naturais de terras que diziam 
ter “descoberto” e exploravam sem dó nem piedade. Foi nessa que o Brasil entrou,tendo 
 
2 Teoria e sistema de economia política, dominantes na Europa após o declínio do feudalismo, que, 
baseados no acúmulo de divisas em metais preciosos pelo Estado por meio de um comércio exterior 
de caráter protecionista, fortaleceram o colonialismo e proporcionaram o desenvolvimento industrial, 
com resultados lucrativos para as balanças comerciais. 
 
11 
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sido descoberto por Portugal, se tornando sua colônia. Realidade terrível desta fase foi 
também a utilização de seres humanos como escravos. 
 Não bastava sugar, retirar matéria-prima. O negócio agora era produzir e muito. Não 
precisava e nem era possível consumir tudo: se acumulava. Produzir pensando nos outros? 
Que nada. Quem quiser que compre, e a alto preço. Na Europa do século XVIII a produção 
dá um enorme salto. A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, fortaleceu o sistema 
capitalista. Colocou a máquina para fazer o trabalho que antes era realizado pelos artesãos. 
O dono da fábrica conseguiu, desta forma, aumentar sua margem de lucro, pois a produção 
acontecia com mais rapidez. 
 Os trabalhadores neste novo cenário do capitalismo selvagem, no início do século 
XIX estavam ficando, cada vez mais, numa situação muito difícil. Primeiro, muitos deles, 
com a ilusão trabalho e de riqueza, vendiam suas pequenas propriedades e partiam para as 
cidades. É o fenômeno conhecido como êxodo rural. Lá na cidade se amontoavam, a cada 
manhã, na porta das fábricas, na esperança de serem contratados. A grande maioria ia para 
as minas de carvão ou para indústrias têxteis.As 
condições de trabalho, as piores possíveis: ambientes 
insalubres, sem nenhum tipo de segurança ou proteção. 
E mais: trabalhavam de 14 a 16 horas por dia. 
 
 Fonte: com.br/kxOSU 
Cansaço físico era interpretado como insubordinação. A regra era trabalhar de forma 
regular, sem interrupções, assim o trabalho rendia. Muitos saíam mutilados ou mortos da 
casa das máquinas. Mas isso não era preocupação para os proprietários, lá fora tinha mais 
gente, querendo trabalhar. Trocavam-se pessoas como se trocavam as peças de uma 
engrenagem. Esses pobres trabalhadores já nem sabiam mais o que estavam produzindo, 
alguns cuidavam apenas de um parafuso e nada mais, não conheciam todo o processo de 
um produto e nem sabiam qual era o fim da sua produção (alienação). Também nunca 
eram donos daquilo que produziam (expropriação). 
 
 
Fonte: https://bit.ly/2MHX2kU 
 
12 
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 Desse rolo compressor e ganancioso do capitalismo nascente (capitalismo 
selvagem), não escapava ninguém. Mulheres e crianças também eram explorados. A miséria 
e a fome não tardaram a aparecer. De carona vieram as doenças, epidemias de cólera e de 
tifo, pegavam tuberculose devido às péssimas condições de higiene, escassez do 
fornecimento de água e por morarem em cortiços. Nessas “residências” estavam muitas 
vezes 12 ou mais pessoas, num lugar bem apertado, sem nenhum conforto. Tal quadro 
levou à morte inúmeros trabalhadores pobres. 
 Para sustentar este tipo de situação entravam em campo as ideologias. Ideologia é 
aquele tipo de ideia bonita, mas que no fundo tem um interesse próprio e, no caso do 
capitalismo, tinha o objetivo de manter o lucro e os privilégios dos donos dos meios de 
produção. Um exemplo de ideologia (que no caso atingia as crianças): quanto mais cedo 
começar a trabalhar, mais cedo vai se tornar um homem ou uma pessoa responsável. Uma 
outra ideologia, que atingia todo mundo: quem trabalha, fica rico. Sem jamais ficarem ricos 
alguns, desiludidos e desmoralizados pela extrema exploração e o constante 
empobrecimento, caíam no alcoolismo, demência, suicídio e as mulheres, na prostituição. 
 
1.2 Vamos olhar melhor esse negócio 
 
Após termos observado estas fases de desenvolvimento capitalista, é importante 
retomar alguns termos que lhe são muito característicos. Assim vamos entender melhor o 
que aconteceu e o que está acontecendo. Vamos nessa! 
Capitalismo: alguém era dono do dinheiro, das máquinas, dos equipamentos e, ao 
comprar a força física dos trabalhadores era capaz de obter lucros. Este conjunto de coisas 
é o capitalismo. Vamos ver algumas de suas características (estas características existem 
ainda hoje, mas o foco está em quando ele iniciou): 
- Tem na atividade industriai a principal fonte de negócios e lucros; 
- Concentra a renda nas mãos da burguesia industrial (grandes donos de indústrias); 
- Gera alta desigualdade social, pois os lucros ficam quase integralmente com os 
donos de indústrias que pagam salários muito baixos para os trabalhadores; 
- Usa o carvão como fonte de energia e ferro como principal matéria-prima; 
- Desenvolve meios de transporte (locomotivas e navios a vapor) rápidos e de longas 
distâncias para atender a logística; 
- Usa de mão de obra assalariada, paga baixos salários e proporciona poucos 
direitos; 
 
13 
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- Provoca o êxodo rural – a saída de trabalhadores do campo para buscar empregos 
nas indústrias das cidades; 
- Gera o crescimento desordenado das cidades industriais com piora na qualidade de 
vida e surgimento de problemas sociais. 
Liberalismo (para explicar a mentalidade liberal burguesa): pessoas com 
mentalidade liberal burguesa eram aquelas que estavam no mundo das cidades e do 
comércio. Que tinham riqueza e a riqueza lhes dava poder e isto tudo junto era motivo para 
uma riqueza ainda maior. Este “rico” se sentia uma pessoa livre. Não estava mais 
condicionado pelo todo social, como na cultura anterior, era, portanto, uma liberdade 
individual (daí o individualismo). A somatória de liberdade + poder econômico + 
individualismo permite chegar à ideia de liberalismo. 
Liberalismo político: aqui também permeia a ideia de liberdade. O Estado é 
autônomo e é a única autoridade. Todos são submissos a ele. É um Estado moderno, 
porque o rei tem um corpo de funcionários que cuida da administração; tem um exército 
permanente, que cuida e defende seus interesses; passa a monopolizar toda a competência 
para legislar, administrar e cobrar tributos. A Igreja, que antes comandava, agora não tem 
mais nenhum poder, não dá mais palpites. O liberalismo político gerou o que chamamos de 
Estados Nacionais. 
Liberalismo econômico - é a economia livre, sem nenhuma interferência externa. 
O pai desta teoria foi Adam Smith, em 1776. Ele falava de prosperidade econômica, de 
acumulação de riquezas, do trabalho livre. E principalmente falava 
que não precisa ninguém ficar controlando o processo econômico, 
porque o mercado, por si só, com sua “mão invisível”, faria esta 
regulação, isto traria benefícios para toda a sociedade, além de 
promover uma evolução generalizada. Defendia a livre concorrência e 
a lei da oferta e da procura. 
Fonte: encurtador.com.br/ehBK1 
O Estado liberal possuía a propriedade de superar os grandes problemas 
acumulados ao longo do tempo, podendo, assim eliminar a fome e a 
miséria e levar à plena satisfação e à liberdade individual, desde que o 
Estado não interferisse na economia e as próprias empresas 
pudessem se autorregular (DALBÉRIO, 2009, p. 27) 
1.3 Alguémteria que matar essa fera 
 
Apareceu gente querendo resolver a confusão. Entra em cena um grupo de pessoas 
que ficou conhecido como socialistas utópicos porque tinham por objetivo a criação de 
 
14 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
uma sociedade ideal, que seria alcançada de forma pacífica graças à boa vontade da 
burguesia. Viveram no início de século XIX, justamente neste período social conturbado. 
Suas ideias eram consideradas ingênuas e fantasiosas como solução para o problema social. 
Por exemplo: 
Robert Owen (1771 – 1858) – Era dono de fábrica. Acreditava que o caráter 
humano era fruto das condições do local em que ele trabalhava. Por isso, defendeu que a 
adoção de práticas sociais que primasse pela felicidade, harmonia e cooperação, poderia 
superar os problemas causados pela economia capitalista. Seguindo seus próprios 
princípios, Owen reduziu a jornada de trabalho de seus operários e defendeu a melhoria de 
suas condições de moradia e educação. 
Charles Fourier (1772 – 1837) Criticou ferrenhamente a sociedade burguesa. Em 
seus escritos, defendeu uma sociedade sustentada por ações cooperativas. Nelas, o talento 
e o prazer individual possibilitariam uma sociedade mais próspera. A sociedade burguesa, 
marcada pela repetição e a especialidade do trabalho operário, estava contra este tipo de 
sociedade ideal. Além disso, Fourier era favorável ao fim das distinções que diferenciavam 
os papéis assumidos entre homens e mulheres. 
Saint-Simon (1760 – 1825) Pregava a manutenção dos privilégios e do lucro dos 
industriais, desde que os mesmos assumissem os impactos sociais causados pela 
prosperidade. Dessa forma, ele acreditava que no cumprimento da sua responsabilidade 
social, o industriário poderia equilibrar os interesses sociais. 
Karl Marx (1818-1883) Este já não se encaixa no conceito de “utópico” porque tratava-
se de um socialismo científico, que criticava o utópico porque 
este não tinha em conta as raízes do capitalismo. Assim pensou 
num jeito de organizar os trabalhadores. Criaram a Ditadura do 
Proletariado, regime que acabava como propriedade privada e 
colocava fim nas desigualdades sociais. Na medida em que isto 
acontecesse, dentro de um processo histórico, a sociedade 
inteira chegaria a uma sociedade perfeita, chamada, 
comunismo. 
 Fonte:encurtador.com.br/pwNX8
 Comunismo é então essa situação em que todos têm direito a tudo. Uma sociedade 
de iguais, sem classe, baseada na propriedade comum dos meios de produção. 
 Mas tinha uma condição da qual Marx não abria mão: nada de igreja, de Deus ou de 
religião. Mas por que? Segundo seu modo de pensar, a religião era um ópio, pois alienava 
as pessoas, fazia com que aceitassem o sofrimento (pois o sofrimento salva, Jesus também 
sofreu), e ficassem esperando uma vida eterna (o paraíso). Fazia com que as pessoas 
 
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ficassem esperando Deus resolver seus problemas. Por isso o marxista-leninista incentivava 
e defendia que a religião deveria ser abolida, implantando o ateísmo. 
 
1.4 E a Igreja? 
 
A estas alturas você pode se perguntar: mas e a Igreja? Ela não era a mais forte 
instituição da Idade Média e dos inícios da Idade Moderna? Onde ela estava para orientar 
seus milhões de fiéis? Estaria preocupada só com o reino dos céus? A Igreja precisou se 
mexer. Estava vendo tudo acontecer e ficou na dela. Quando mantícora começou devorá-la 
...opa! Aí, não. Mas quando resolveu encarar o problema ela também já estava pobre. 
Foram-lhe tirados todos os privilégios, luxo, honrarias, cargos. Lá estava ela, agora, igual ao 
pobre do trabalhador. Porém lhe restou um poder moral e ético. Restou-lhe a força do 
Evangelho e começou a gritar. Na sua pobreza conseguiu enxergar a dor dos explorados. 
Demorou, mas deu a sua resposta. 
 Neste cenário extremamente complexo e desafiador, a pessoa que encarou o 
primeiro round merece ser comparada a um Leão, porque precisou ser forte e ter coragem. 
Por coincidência esta pessoa se chamava mesmo por este nome: Leão XIII3.Em maio de 
1891 ele lançou um documento chamado Rerum Novarum que significa “Coisas Novas”, 
referindo-se a todas as novidades trazidas pela Revolução Industrial. Com este documento 
nascia a Doutrina Social Cristã. 
 
1.4.1 Leão x Mantícora 
 Foi a primeira grande resposta cristã à questão social. Foi elaborada por Leão XIII. 
Ela examina a condição dos trabalhadores assalariados, particularmente penosa para os 
operários das indústrias, afligidos pela miséria. A questão operária é tratada segundo a sua 
real amplitude: é explorada em todas as suas articulações sociais e políticas, para ser 
adequadamente avaliada à luz dos princípios doutrinais baseados na Revelação4, na lei e na 
moral natural. Esta carta fala de modo claro sobre os deveres do Estado, sobre a 
necessidade de leis justas que protegessem o trabalhador, o direito dos fracos, a dignidade 
dos pobres. Fala sobre as obrigações dos ricos, sobre o aperfeiçoamento da justiça 
mediante a caridade, sobre o direito a ter associações profissionais. Com estas perspectivas, 
 
3Foi eleito papa em 20 de fevereiro de 1878. Ficou famoso como o Papa que se preocupava com as 
questões sociais. 
4 Revelação: refere-se ao conhecimento das coisas de Deus que são por Ele mesmo reveladas. É o 
Ato de Deus se comunicar ao homem, revelando-se, dizendo quem Ele é e pronunciando sua 
vontade. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/20_de_fevereiro
https://pt.wikipedia.org/wiki/1878
 
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a Rerum Novarum teve como ponto central o ser humano, buscando uma ordem social. 
Para organizar tudo propôs os seguintes princípios5: 
- A dignidade da pessoa humana: princípio que converge para si todas as leis, 
organizações, constituições, projetos. O ser humano é o ser mais importante que existe. 
Esta dignidade é inalienável (não pode ser comprada, vendida, transferida). A vida não tem 
preço. Todo o resto tem preço, menos o ser humano. Segundo Kant (2008) se não tem 
preço, é porque tem dignidade. O pressuposto fundamental do pensamento de Kant é a 
liberdade, o que faz com que o homem seja uma realidade fim em si mesma, o que implica 
dizer também que jamais deve ser tratado como meio. Ou seja, o ser humano ser utilizado 
(como meio) para se conseguir, por exemplo, dinheiro. Isto é coisificar o ser humano. No 
número 81 da “Laudato Si” (2015, s/p), o Papa Francisco expressa bem essa ideia quando 
diz: 
Cada um de nós tem em si uma identidade pessoal, capaz de entrar em 
diálogo com os outros e com o próprio Deus. A capacidade de reflexão, o 
raciocínio, a criatividade, a interpretação, a elaboração artística e outras 
capacidades originais manifestam uma singularidade que transcende o 
âmbito físico e biológico [...] consideramos o ser humano como sujeito, que 
nunca pode ser reduzido à categoria de objeto. 
 
 À luz da fé cristã a pessoa humana é criada por Deus, remida por Cristo, santificada 
e vocacionada pelo Espírito Santo. Dignidade que exclui qualquer discriminação racial, 
social, econômica, religiosa ou cultural. 
- O Bem Comum: deve ser entendido como o conjunto das condições concretas 
que permitam a todos atingir níveis de vida compatíveis com sua dignidade de forma que 
tanto o grupo como cada membro possa alcançar mais plena e facilmente a própria 
realização. Este bem é comum porque somente juntos, como comunidade, e não 
simplesmente como indivíduos isolados, é que se torna possível desfrutá-lo, conquistá-lo e 
disseminá-lo. 
- A destinação universal dos bens: os bens criados se destinam a todos os 
homens. A apropriação individual, o chamado direito de propriedade, é uma forma eficaz de 
realizar melhor esta destinação. Significa que toda pessoa deve ter a possibilidade de 
usufruir do bem-estar necessário para seu pleno desenvolvimento, para o sustento da 
própria vida, istosem excluir nem privilegiar ninguém6.O que está na base deste princípio é 
a crença de que Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para o uso de todos os 
homens e povos. Os bens criados são para todos e devem ser organizados com equidade, 
 
5 Todos os princípios da DSC aqui apresentados se encontram na Carta encíclica “Rerum Novarum ” 
do Papa Leão XIII. 
6 Cfr Centesimus Annus, em diante CA, n.31. 
 
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sob as regras da justiça. Toda propriedade privada tem uma finalidade social. Esta 
orientação é também princípio constitucional 
A propriedade, à luz deste princípio, é entendida como responsabilidade social e não 
como privilégio único. "Sobre toda a propriedade privada pesa uma hipoteca social"7. Isto 
significa que ninguém deve ter os bens como sendo apenas próprios, só dele, mas como 
comuns quanto ao uso, para que possam ser úteis também a outros; não se pode prescindir 
dos efeitos no uso dos próprios bens e recursos (o que implica, por exemplo, evitar o 
desperdício); não é justo manter ociosos os bens possuídos, sobretudo os bens de 
produção, mas é preciso confiá-los a quem tem o desejo e a capacidade de fazê-los 
produzir. A função social abrange também os frutos do recente progresso nos campos 
científico e tecnológico. Esta função social,indo além da esfera religiosa, é defendida 
também na Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, inciso XXIII, que afirma: “[...] a 
propriedade atenderá sua função social”. Nisto se baseia, por exemplo, a desapropriação 
para a reforma agrária, prevalecendo o interesse social sobre o individual quando uma 
propriedade rural, por exemplo, permanece, comprovadamente, sem nenhuma 
produtividade8. 
- A primazia do trabalho sobre o capital: 
o capital como forma de apropriação coletiva, pública 
ou privada, só é legítimo na medida em que serve ao 
trabalho. O capital é o fruto do trabalho e a ele se 
destina. É o princípio que marca a incompatibilidade 
da Doutrina Social Cristã com o capitalismo liberal. 
- A subsidiariedade: segundo a Rerum 
Novarum, às instâncias superiores de poder não se 
devem atribuir o desempenho daquilo que as 
instâncias inferiores podem melhor realizar. O dever 
das instânciassuperiores é um dever supletivo, de 
coordenação e promoção da iniciativa e da 
criatividade das instâncias inferiores. É este princípio 
a fonte da vitalidade de um número imenso de 
instituições, movimentos e iniciativas que são a 
 
7 Cfr. Encíclica Sollicitudo Rei Socialis, de João Paulo II, 1987, 42. 
8 A respeito disso devem ser observados todos os aspectos legais, principalmente a questão do 
pagamento de indenização em título de dívida agrária (art 184 da Constituição de 1988). 
Os “olhos” do neoliberalismo estão 
sempre voltados para o 
desenvolvimento econômico. E a 
estratégia fundamental é a não 
interferência do Estado na 
economia. É isto que chama “Estado 
mínimo”. Ou seja, deixa que a 
iniciativa privada cuida de tudo (da 
educação, da saúde, etc.). Assim, a 
economia deve ser baseada no livre 
jogo das forças do mercado. 
Segundo eles, isso garantiria o 
crescimento econômico e o 
desenvolvimento social de um país. 
Suas características: 
 - Privatização de empresas estatais 
 - Livre circulação de capitais 
internacionais 
 - Abertura econômica para a entrada 
de empresas multinacionais 
 - Adoção de medidas contra o 
protecionismo econômico. 
 (Fonte: Elaboração própria) 
 
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expressão da maturidade democrática liberta do paternalismo estatal. É também o princípio 
que oferece os critérios para discernir, na variedade das conjunturas, a solução de 
problemas tais como centralização e descentralização, nacionalização e privatização. 
- A solidariedade: é o princípio segundo o qual cada um cresce em valor e 
dignidade na medida em que investe suas capacidades e seu dinamismo na promoção do 
outro. O princípio vale analogicamente para todas as relações concretas: entre o homem e a 
mulher, os pais e os filhos, os grupos sociais, os níveis e setores de poder, o capital e o 
trabalho, o mundo desenvolvido e subdesenvolvido. Hoje se pode falar numa descoberta 
sempre mais lúcida de uma relação de solidariedade entre o homem e a natureza: o homem 
se valoriza mais na medida em que preserva e promove a natureza e esta, protegida e 
preservada, garante melhor qualidade de vida para o homem. 
 
1.5 Mantícora se sofisticou 
Mantícora agora é bicho grande. Nos seus olhos de fogo brilham cifras. Sua voz de 
trovão só fala em sistema bancário, corporações financeiras, mercado globalizado, ou seja, 
seus produtos excedentes precisam circular em todos os países do mundo. Os sistemas 
informatizados possibilitam a circulação e transferência de valores em tempo quase real. Os 
lucros são enormes. Melhor dizendo, exorbitantes. Isto tudo já em pleno século XXI. Ah 
sim, o ser humano continua sendo devorado. Esta fase adulta de mantícora é voraz e 
extremamente organizada. Subordina tudo aos seus objetivos. Agora se fala em ações, 
produtos financeiros, títulos, câmbio, empréstimos, aquisição de bens, bolsa de valores. Na 
esteira de tudo isso vêm empresas multinacionais, especulação financeira, corretoras de 
seguro, dependência tecnológica, leis de patente, etc. 
E agindo incansavelmente está a “mão invisível do mercado”. Vamos dar um 
exemplo desta tal “mão invisível”. Imagine que o Pedro e o José, cada um abre um 
açougue. No mercado livre eles são concorrentes. Pedro caprichou no visual do açougue, 
atendia bem os clientes e não abusava no preço. José, diferentemente, não fez nenhum tipo 
de investimento, os produtos venciam e os clientes fugiram. Precisou alguém dizer que era 
melhor ir comprar no açougue do Pedro? Não. Mas aí o José acordou: chamou especialistas 
de marketing, mudou a estrutura do prédio e de fornecedores, e chegou a um excelente 
nível de atendimento. Precisou alguém dizer que agora se poderia comprar também no 
açougue do José? Não. Quem fez tudo isto, regulando preço, qualidade, atendimento foi a 
mão invisível do Mercado. É assim que ela acaba melhorando todo mundo. Diante desta 
situação, o Estado não precisa se preocupar. Não precisa ficar pensando nos mais fraco, 
cada um vai se virar e buscar o melhor para si. Se cada um melhora, a sociedade inteira 
 
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melhora. Lembrando sempre que nem Pedro, nem João agiram por amor às pessoas, mas 
pelo espírito de competição. 
 Olhando assim, sem um juízo mais 
crítico, parece estar tudo certo. Mas, não! Na 
realidade, no mercado liberal, os grandes 
mercados vão engolindo todos os pequenos. 
É uma concorrência de preço sem 
comparação. Ainda mais quando formam os 
trustes e os cartéis. 
- O Neoliberalismo que 
presenciamos nada mais é que o “florir” do 
velho liberalismo. Suas características continuam fiéis às ao DNA das origens. Continua 
sendo caracterizado pela superioridade do livre mercado, com ênfase na autorregulação. 
Também pressupõe que a desigualdade seja necessária, ao mesmo tempo em que promove 
a liberdade, a iniciativa e a inovação. Deste modo a desigualdade não é justa nem injusta 
pois o mercado não tem vontade própria. Tudo depende da liberdade e inovação 
das pessoas. 
 
71% da população do planeta recebem apenas 15% da renda global, 
enquanto os 10% mais ricos apropriam-se de mais da metade da renda 
produzida. E mais estarrecedor: apenas 358 bilionários controlam as 
principais fontes de riqueza do mundo e decidem a sorte e o futuro da 
humanidade. (MELO, apud DALBERIO, 1996, p. 36). 
 
 Segundo o sociólogo Jessé Souza (2017), existe hoje uma “elite financeira” que 
comanda os grandes bancos e fundos de investimentos. Ganham sobretudo com as “taxas 
de juros” exorbitantes, uma espécie de taxa extra associada aos preços do mercado,mas 
esta taxa embutida em tudo o que consumimos precisa ficar oculta. Isto é um verdadeiro 
assalto, uma verdadeira corrupção. 
 Na esteira disso tudo vem um outro 
poderoso fenômeno: a globalização. Pode ser 
definida como “uma gama de fatores econômicos, 
sociais e políticos e culturais que expressam o 
espírito e a etapa de desenvolvimento do 
capitalismo em que o mundo se encontra 
atualmente” (LIBÂNEO; OLIVEIRA, TOSCHI, 2003, 
p. 70). Aliás, globalização está intrinsecamente 
Cartel - Associação entre empresas do 
mesmo ramo de produção com objetivo de 
dominar o mercado e disciplinar a 
concorrência. As partes entram em acordo 
sobre o preço, prejudicam a economia por 
impedir o acesso do consumidor à livre-
concorrência. 
Truste: Estrutura empresarial em que várias 
empresas, que já detêm a maior parte de um 
mercado, se ajustam ou se fundem para 
assegurar o controle, estabelecendo preços 
altos para obter maior margem de lucro. 
 
A globalização é um processo de 
fundamental importância para a 
atuação das empresas 
transnacionais, pois proporciona 
todo o aparato tecnológico para os 
serviços de telecomunicação, 
transporte, entre outros, fatores 
essenciais para a realização eficaz 
das atividades econômicas em 
escala global. 
(Fonte: mundoeducação.bol) 
 
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relacionada ao processo neoliberal, um dá sustentação ao outro. É inegável que ela trouxe 
aspectos positivos, principalmente os avanços obtidos nas ciências e nas tecnologias. 
Juntamente com este fenômeno da globalização se fala na “terceira revolução” que se 
refere às realidades técnico-científica-informacionais, ou seja, aos processos de inovações 
no campo da informática e suas aplicações nos campos da produção e do consumo. Neste 
contexto é que se ouve falar em química fina (a biotecnologia), em robótica, em 
genética,em novas fontes de energia, em internet e tecnologia de ponta. A mão de obra 
humana é cada vez mais substituída por sistemas automatizados o que corresponde a uma 
produção bem maior, em maior velocidade e em escala global ou, grande escala. 
 Mas ouve-se também falar da instrumentalização da economia financeira, mais 
conhecida como economia de mercado e sua integração mundial, onde grandes empresas 
centralizam o capital e são capazes de interferir nas decisões dos Estados e dos governos. 
Normalmente estas empresas são transnacionais, tendo filiais em vários países (Coca Cola, 
Pepsi, Unilever, Mc Donald’s, Nestlé, Nike, Adidas, Puma, Volkswagen, General Motors, 
Toyota, Nokia, Sony, Siemens, Peugeot, Vivo, etc.)9. O lado bom destas empresas é que 
geram muitos empregos, trazem tecnologia. O lado ruim é que todo o lucro vai para a 
matriz (fora do país), pagam pouco pela mão de obra, conseguem muitos benefícios do 
governo e muitas vezes interferem diretamente nos destinos dos países. 
 É neste contexto que surge também a expressão “idolatria de mercado”. Luiz 
Caetano, em seu artigo “O diabólico e a mercadolatria10” nos ajuda a entender esta 
expressão. Segundo ele, se observar atentamente 
se pode ver que a economia de mercado, sob a ótica 
da fé bíblica e da filosofia, traz embutida em si uma 
sofisticada e sutil idolatria: o Mercado é o Senhor. Afirmar a invisibilidade da ação 
reguladora do mercado equivale a divinizá-lo, ou pelo menos, apresentá-lo como algo 
mágico, onipotente e transcendente. Invisível, como Deus também é invisível. 
 Aliás, a invisibilidade parece ser uma característica da moderna cultura de massas: a 
tecnologia, a produção, tudo parece ser invisível. Tudo está disponível em sua forma final, 
pronta para o consumo, perdendo-se a noção de que as coisas são produzidas, fabricadas. 
O trabalho das pessoas, a presença das pessoas que produzem, tudo fica oculto e perdido 
na dimensão do produto final. Perdeu-se a noção de processo. 
 O shopping center, nesta linguagem da mercadolatria pode ser visto como a “nova 
catedral”. Normalmente tem uma cúpula, muitas vezes transparente, dando vistas aos céus. 
No lugar os santos em seus altares temos belos e belas atendentes que educadamente 
 
9 Encontrar relação dessas empresas em: encurtador.com.br/arEGL 
10 Leia o texto na íntegra, acessando: encurtador.com.br/hoBEW. Acesso em: set. 2019. 
O mercado é absoluto. 
Absoluto, só um deus! 
 
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perguntam: o que deseja? ... temos o que você precisa. Algumas propostas são capazes de 
confortar, de sanar angústias e de completar o vazio. Tudo está associado à ideia de alegria 
e realização. Poder adquirir é uma sensação de paraíso. Não poder fazê-lo, isto é um 
inferno. 
Esta questão é tão central para a qualidade de vida das pessoas que o Vaticano 
elaborou importantes considerações para um discernimento ético sobre alguns aspectos do 
atual sistema econômico-financeiro11. A proposta é oferecer,nesse âmbito de atividades 
econômico-financeiras, considerações e pontuações a favor do progresso do bem comum e 
em defesa da dignidade humana. 
Na análise que se faz há a percepção de que quando a organização financeira for 
desvinculada de adequados fundamentos antropológicos e morais, só é capaz de produzir 
abusos e injustiças gerando, inclusive, crises sistêmicas e de alcance mundial. Por isso 
defende a harmonia entre o saber técnico e a sabedoria humana. “Só com esta harmonia, 
pode-se progredir numa via de um bem-estar para o homem que seja real e integral”12Dado 
o fato de que vivemos em uma casa comum, como uma família global que aspira coexistir 
bem, precisamos gerir ou administrar os bens de casa e do planeta da melhor maneira 
possível. É isto que significa a palavra ‘economia’ significa na verdade: ‘oiko-nomics’, a 
maneira como organizamos, gerimos ou controlamos nosso lar. Quando levamos em conta 
nossa origem comum, nossa mútua existência e nosso destino comum, então podemos 
desenvolver novas convicções, atitudes e formas de vida, e novos sistemas econômicos que 
promovam de verdade este significado integral do desenvolvimento humano. 
 
Um pouco mais sobre BEM COMUM 
 Quer medir o quanto uma sociedade é civilizada? Quer medir o seu nível de 
educação? Basta observar a consciência que esta mesma sociedade tem sobre o bem 
comum. Uma coisa é certa: é impossível organizar uma sociedade se ela não tem como 
ponto de partida e como ponto de chegada, o bem comum. A falta deste princípio leva à 
guerra social, à verdadeira selvageria financeira, leva ao que Thomas Hobbes, filósofo 
inglês, chamou de “homem lobo para o homem”, todos contra todos, prevalecendo a lei do 
mais forte. 
 Durante muito tempo o brasileiro foi alimentado pela famosa lei de Gerson. Ele era o 
tal “canhotinha de ouro” da copa de 70. No auge da fama foi convidado para fazer um 
comercial de uma marca de cigarro e a frase a ser dita entre uma tragada e outra era:o 
 
11 Leia o texto na íntegra, acessando: encurtador.com.br/aqDYZ Acesso em: set. 2019. 
12 Congregação para a Doutrina da Fé. Do dicastério para o desenvolvimento do ser humano integral 
(2018). 
 
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importante é levar vantagem em tudo! Isto virou regra, e caiu feito uma luva na sociedade 
capitalista onde não importa como, o que importa realmente é levar vantagem. 
 Uma dinâmica realizada em sala de aula com acadêmicos pedia aos alunos que 
expressassem num papel três grandes desejos (o gênio da lâmpada haveria de atendê-
los...). 95% destes pedidos eram de caráter pessoal, individual (meu, minha!): concluir 
minha faculdade! ... saúde para toda a minha 
família... Poucos manifestavam uma preocupação 
coletiva (com “todos”, “nosso”). Para estes 
mesmos alunos, este resultado não foi estranho e 
nem foi constrangedor. 
Fonte: encurtador.com.br/gMOSY 
A explicação mais comum para o fato foi “é assim mesmo...a sociedade é assim, 
professor”!E aí junta-se esta convicção à lei de Gerson temos o “salve-se quem puder!”, o 
“cada um por si e Deus por todos!”, ou ainda, como dizem lá no norte: “...se a farinha é 
pouca, meu pirão primeiro!” 
Por isso se torna importante resgatar o bem comum. Este princípio é linha mestra na 
costura do tecido social. Precisa cada vez mais ser o fiel da balança nas decisões do 
cotidiano e assim ocupar o seu lugar de tema central da ética social. Que bom seria que ele 
se tornasse cada vez mais mediador das decisões políticas, financeiras, familiares. Pense no 
governante de fato imbuído neste empreendimento, o bem comum: como seriam as 
decisões pela educação, pela moradia, pelo alimento...! por isso é importante ter clareza do 
seu conceito: o conjunto de bens materiais e espirituais que formam o patrimônio de uma 
sociedade. Por exemplo, a geografia e as paisagens de um país, as águas e riquezas 
naturais, o seu nível de vida, capacidade de produção, infraestruturas de transportes e 
comunicações, edifícios, sistema de educação e de saúde, patrimônio artístico, etc. E ainda 
outras coisas menos visíveis, mas importantes, como a ordem pública, a eficiência e a 
honestidade das instituições, a moralidade pública e familiar, etc. Também faz parte do bem 
comum que este esteja bem repartido por todos os membros da sociedade. 
 Talvez você esteja pensando em outras “trocentas” coisas materiais para se encaixar 
neste negócio de bem comum. Mas acredite, tudo o que pensar será sem dúvida 
importante, mas o mais importante mesmo, nesta questão do bem comum é você. VOCÊ 
MESMO, como pessoa. Se você realizar bem o seu trabalho, você estará promovendo o bem 
comum. Como assim? Imagine que todas as pessoas que lhe procuram seus trabalhos 
profissionais sejam bem atendidas, bem informadas, se sentem bem na sua presença. O 
trabalho que você lhes presta é de excelente qualidade, sem tramoias, sem rolo, sem 
corrupção. A sua linguagem é de valorização da pessoa, o seu tratamento considera o 
 
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humano. Agindo assim, você estará proporcionando um bem comum (um bem a todos) de 
modo extraordinário. 
 O corpo humano, como organismo, ilustra bem esta ideia de bem comum: todas as 
partes do corpo formam o organismo. Não há motivo para que as mãos se coloquem contra 
o pé, ou os ouvidos contra o nariz! Células, órgãos, tecidos, tudo se completa. Da mesma 
forma uma sociedade é composta por indivíduos que desempenham funções diferenciadas, 
mas que concorrem todas para um mesmo fim. Tudo aquilo que permitir à sociedade atingir 
esse fim será considerado Bem Comum. Mas a sociedade não é, como nesta analogia do 
corpo, tão passiva. Ela é feita de indivíduos cheios de vontades próprias e muitas vezes 
contraditórios. 
 
1.4.2 Contribuições de Frei Beto13 
 O que fica claro, logo de cara, no pensamento deste filósofo são as contrariedades 
que se manifestam em muitas áreas da existência humana. Chama atenção para a 
acumulação de capital em detrimento do bem comum, dos direitos humanos e do equilíbrio 
ecológico. Hoje, diz ele, 80% da produção industrial do mundo são absorvidos por apenas 
20% da população que vive nos países ricos do hemisfério Norte. Os EUA, que abrigam 
apenas 5% da população mundial, consomem 30% dos recursos do planeta! 
 É ainda Frei Betto quem nos apresenta mais números e reflexões. Diz ele que o 
padrão de consumo da sociedade capitalista é insustentável e tem um papel decisivo no 
processo de mudança do clima do planeta. Boa parte desse consumo é reservada é puro 
luxo e ostentação de um reduzido número de privilegiados. Segundo o Programa das 
Nações Unidas para o Desenvolvimento, a soma da renda das 500 pessoas mais ricas do 
mundo supera a de 416 milhões mais pobres. Um único multimilionário ganha mais do que 
1 milhão de pessoas! 
 Se o mundo gira em torno da economia e a economia gira em torno do mercado, 
isso significa que este, revestido de caráter idolátrico, paira acima dos direitos das pessoas 
e dos recursos da terra. Apresenta-se como um bem absoluto. Decide a vida e a morte da 
natureza e da humanidade. Assim, os fins - a defesa da vida no nosso planeta e a promoção 
da felicidade humana - ficam subordinados à acumulação privada das riquezas. Não importa 
que a riqueza de uns poucos signifique a pobreza de muitos. Os cifrões de contas bancárias 
são o paradigma do mercado e não a dignidade das pessoas. 
 
13 Frei Beto é um escritor e religioso dominicano brasileiro. Adepto da Teologia da Libertação, é 
militante de movimentos pastorais e sociais. Esteve preso por duas vezes sob a ditadura militar: em 
1964, por 15 dias; e entre 1969-1973 (4 anos de prisão). 
 
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 Frei Beto lembra ainda que, com frequência, se ouve dizer que a responsabilidade 
pelo bem comum é do Estado. Afirma que isto é verdade, porém não exime da participação 
cidadã, pois sem o apoio do cidadão o Estado não pode realizá-lo na sociedade. A 
preocupação política pelo bem comum consiste na capacidade para detectar as 
necessidades cidadãs e priorizá-las segundo o critério da realização concreta da dignidade 
humana que responde por tudo e a cada cidadão, estabelecendo metas a curto e longo 
prazo, dentro de um plano de continuidade no tempo. A viabilidade concreta desta 
preocupação requer uma mentalidade solidária, por um lado, da cidadania, e, por outro, dos 
políticos, porque implica a disposição de privilegiar a solução das necessidades urgentes dos 
membros mais vulneráveis da sociedade. Isto significa a generosidade em renunciar a 
alguns projetos, para poder privilegiar as necessidades mais urgentes, como também a 
coragem na consequente atribuição de recursos ao orçamento nacional. Por isso, não é só 
responsabilidade do Estado, mas também da cidadania e dos políticos, quando permitem e 
apoiam o Governo na realização de um plano para reduzir a pobreza. 
 Observe que o bem comum é fundamentalmente um conceito relacional, de amizade 
cívica, que implica uma relação de igualdade e reciprocidade. Isto é, o exercício do bem 
comum na sociedade pressupõe e exige uma atitude solidária para poder realizá-lo segundo 
o duplo princípio ético de igualdade e equidade. A solidariedade não se reduz ao conceito de 
igualdade, porque não afirma somente o reconhecimento do outro em sua alteridade, mas 
também sustenta a opção de assumir os interesses do outro (indivíduo ou grupo) como 
próprios e a consequente responsabilidade coletiva frente às necessidades do outro. A 
solidariedade, portanto, está relacionada com uma lógica de ação coletiva. 
 Por último, o bem comum é o fruto da participação, livre e criativa, de todos e de 
cada um dos cidadãos na sociedade. O bem comum constitui um direito, mas também um 
dever cidadão. 
 
Atenção! 
Agora, para uma correta ilustração de tudo o que conversamos assista ao vídeo “Linha 
final: privatizando o mundo”, disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=hJbdzYQlF9Q>. Acesso em: set. 2019. 
Assista com muita atenção...conheça as artimanhas do mercado 
- Atenção! 
O conteúdo deste vídeo será objeto de avaliação. Será importante assisti-lo para fins de 
complementar também sua aprendizagem nesta disciplina. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=hJbdzYQlF9Q
 
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Antes de continuar seu estudo, realize o Exercício 1 
e a Atividade 1.1. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 2 
EXCLUSÃO SOCIAL 
 
OBJETIVO DA UNIDADE: Entender o fenômeno da exclusão social, suas causas, 
buscando alternativas para sua superação. 
 
 
 
EU VI UM BICHO! 
Vi ontem um bicho 
Na imundície do pátio 
Catando comida entre os detritos. 
Quando achava alguma coisa, 
Não examinava nem cheirava: 
Engolia com voracidade. 
O bicho não era um cão, 
Não era um gato, 
Não era um rato.O bicho, meu Deus, era um homem. 
(Manoel Bandeira). 
 
 Eis o retrato da exclusão: o homem-lixo. O homem-resto. O homem-bicho. ”O 
Varela”, jornal de Salvador, no dia 30/04/2014 colocou em manchete: EXCLUSIVO: Limpeza 
Social? Mendigos estariam sendo expulsos de Salvador por causa da Copa do Mundo. 
Estariam sendo levados para cidades vizinhas. “É uma prática comum nos grandes polos. 
Isso acontece em São Caetano do Sul e em Santo André. Eles pegam os moradores de rua e 
levam para outras cidades”. A declaração é do então Secretário Municipal de 
Desenvolvimento Social de um município da região metropolitana de Salvador. Isso deveria 
envergonhar a todos. Infelizmente só traz desconforto para pessoas conscientes e com 
senso de justiça. 
 
 
 
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2.1 Quando o outro é um estranho 
 
Somos seres de relação, estabelecemos vínculos com as pessoas. Mas entre as 
tantas formas de perceber relações entre indivíduos há também aquela, que se caracteriza 
pelo preconceito, pela exclusão. Um tipo de relacionamento se dá por uma desigualdade, 
onde um se achando melhor que o outro, que estabelece privilégios para alguns e exclui 
uma parcela de pessoas da possibilidade de compartilhar os mesmos direitos, de ter acesso 
garantido aos mesmos benefícios sociais. 
 O estranho traz desconforto, desconfiança, medo. O que causa este sentimento são 
todas aquelas situações que colocam em risco o “self”. “Me colocou em situação de 
perigo...me afasto”. Este estranho coloca em cheque meu modo de vida, minha cultura. O 
que mais incomoda no estranho é justamente isso: eu não o conheço. Estranho não é um 
paraguaio, no Paraguai. Estranho é um paraguaio no Brasil. Estranho não são os 
marroquinos em Marrocos. Estranho são os Marroquinos na Itália. Isso para dizer que o 
estranho gira em outra órbita, fala outra língua, tem outra cultura e, talvez, outra religião. 
Mas este estranho também pode, muito bem, estar na mesma rua que transito, falar a 
mesma língua, ter sido criado na mesma cultura, porém, ele é um desigual porque está 
sujo, é analfabeto, mal vestido e de aparência amedrontadora. 
 É muito comum que por não conhecer (o outro – o estranho), surjam os 
estereótipos. Uma forma grave de 
preconceito exclusão que se entende 
como generalizações que as pessoas 
fazem sobre comportamentos ou 
características de outros. Estereótipo é 
uma impressão falsa que tenho do outro, 
baseada na aparência, nas roupas, no comportamento, na cultura. Por isso podemos 
afirmar que toda exclusão social é uma atitude que reflete a relação. 
 Já se sentiu excluído alguma vez? Já fecharam a porta para você? Já te acharam 
incapaz, desnecessário, dispensável? Se isto já aconteceu eu tenho certeza de uma coisa; o 
sentimento foi horrível! Quem já passou por isso compreende melhor e mais que ninguém o 
que é ser um estranho, o que é ser excluído. 
 
 
 
Estereótipos são rótulos ou 
generalizações que se faz a partir 
comportamentos ou características de 
outros. Facilmente acaba se identificando 
com racismo, intolerância, homofobia, 
machismo, etc. 
 
 
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Veja esta foto ao lado. Acha isso normal, justo? 
O ator Marcos Paulo (artista da rede globo) 
relatou certa vez uma experiência que teve em um 
país da África onde fora realizar filmagens. Disse ter 
levado na sua mochila pacotes de bolachas para 
comer durante as filmagens, sempre muito demoradas. 
Fonte: encurtador.com.br/ewWZ8 
Porém os artistas estavam sempre rodeados por dezenas de crianças, desnutridas e 
esqueléticas. Lá pelas tantas teria sentido fome, pensou em atacar as guloseimas que 
estavam na mochila. Mas como abrir um pacote de bolacha diante de tantos olhos 
famintos? Não achou que isto fosse justo e resolveu não comer nada na frente deles. Isto 
significa que a fome do outro não é normal. Não se aceita. Por isso também muitos de nós 
não acham justo esbanjar alimentos, jogar fora, deixar apodrecer. 
 Você deve se lembrar, porque é algo muito recente, do barulho causado pela PEC 
287/2016, que tratava da questão da aposentadoria, propondo uma idade única de 65 anos 
para homens e mulheres, do campo e da cidade. Ao acabar com a aposentadoria especial 
para trabalhadores rurais, ao comprometer a assistência aos segurados especiais 
(indígenas, quilombolas, pescadores, etc.); ao reduzir o valor da pensão para viúvas ou 
viúvos; ao desvincular o salário mínimo como referência para o pagamento do Benefício de 
Prestação Continuada (BPC), com a PEC 287/2016 escolhe-se o caminho da exclusão 
social14 
 O Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNDU)15, na compreensão da 
exclusão, nos aproxima da gravidade que representa esse fenômeno. A título de exemplo 
basta demonstrar, seguindo o relatório da PNDU de2004, que 831 milhões de pessoas estão 
desnutridas em todo mundo e que 1,1 bilhão de pessoas estão em situação de pobreza 
extrema. 11 milhões crianças morreram em 2002 antes de completarem 1 ano de vida. 
1,197 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável e 2, 742 bilhões de pessoas vivem 
em domicílios sem saneamento básico, segundo o documento. Dados da ONU informam que 
 
14 O parágrafo expressa parte da nota da CNBB sobre a PEC 287/2016 que trata da Reforma da 
Previdência. 
15 Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento tem como mandato central o combate à 
pobreza. Em resposta ao compromisso dos líderes mundiais de atingir os Objetivos de 
Desenvolvimento do Milênio (ODM), o PNUD adota uma estratégia integrada, sempre respeitando as 
especificidades de cada país, para a promoção da governabilidade democrática, o apoio à 
implantação de políticas públicas e ao desenvolvimento local integrado, a prevenção de crises e a 
recuperação de países devastados, a utilização sustentável da energia e do meio ambiente, a 
disseminação da tecnologia da informação e comunicação em prol da inclusão digital, e a luta contra 
o HIV/AIDS. O PNUD é uma instituição multilateral e uma rede global presente hoje em 166 países, 
pois está consciente de que nenhuma nação pode gerir sozinha a crescente agenda de temas do 
desenvolvimento. 
 
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a população em extrema pobreza, em 1995 chegava a um bilhão e trezentos milhões de 
pessoas (dos quais dois terços são mulheres). Uma em cada cinco pessoas no mundo sofre 
de "pobreza extrema" e sobrevive com menos de um dólar diário; mais de um bilhão de 
pessoas carecem de serviços básicos; uma em cada 100 pessoas é imigrante ou refugiada, 
e um em cada quatro adultos é analfabeto. 
 Buscando conceituar exclusão Sposatti (1996),diz se tratar de um termo que 
caracteriza o distanciamento de uma pessoa ou grupo que esteja em situação desfavorável 
ou vulnerável em relação aos demais indivíduos e grupos da sociedade.Estão na 
impossibilidade de partilhar. É viver na privação, ser recusado, abandonado, expulso – 
inclusive com violência – do conjunto da população. Entende-se, portanto que exclusão 
"[...]um processo (apartação social) pelo qual 
denomina-se o outro como um ser ‘à parte’, ou seja, o 
fenômeno de separar o outro, não apenas como um 
desigual, mas como um "não semelhante", um ser 
expulso não somente dos meios de consumo, dos 
bens, serviços, etc., mas do gênero humano. 
Fonte: encurtador.com.br/tAS48 
É uma forma contundente de intolerância social [...]" (BUARQUE,1993). 
 
2.2 Escravidão... é o fim! 
 Toda exclusão é dolorosa e mortal. Todas trazem indignação. Algumas ilustram de 
forma escancarada toda a desgraça humana de um modo mais direto. A escravidão é uma 
delas, principalmente porque no mundo de 
hoje tanto já se brigou por liberdade, 
justiça e direitos iguais. Pelo menos 20,9 
milhões de pessoas – principalmente 
mulheres e meninas –, no mundo são 
afetadas pelas diversas formas 
contemporâneas de escravidão, segundoestimativa da Organização das Nações 
Unidas (ONU). 
Fonte: encurtador.com.br/dA017 
 
 
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A pobreza, os conflitos, a violência e a falta de acesso à educação, ao trabalho 
decente e de oportunidades para o empoderamento socioeconômico são considerados os 
principais fatores subjacentes à escravidão, segundo 
a organização. 
Em maio 2018 completou-se 130 anos da 
assinatura da Lei Áurea, que finalmente libertava os 
negros do regime escravista. Em tese seria algo para 
se comemorar. A realidade, porém, é que a má 
condução do processo resultou numa segregação racial e social que perdura até hoje. 
O Brasil foi o último país da América a abolir a escravatura. Havia no país mais de 
três milhões de escravos que, de um dia para o outro, foram colocados na rua. Agora livres, 
mas sem ter onde morar, nem trabalhar remunerado, sem ter com o que comprar nada. 
Com a libertação dos escravos vieram os imigrantes europeus, com uma mão de obra mais 
especializada e ocuparam boa parte dos possíveis postos de emprego. E negros, 
analfabetos, sem direitos políticos, sem profissão, foram parar nas periferias das cidades 
formando as favelas. 
A ONU celebra o dia 02/12 o Dia Internacional para a Abolição da Escravatura. Nesta 
ocasião em que se comemorou o evento, o então secretário-geral, Ban Ki-moon, lembrou 
que a cada dia "mulheres são traficadas" e "meninas forçadas a casar, abusadas 
sexualmente e exploradas para trabalhos domésticos". Ele lembrou que "homens, separados 
de suas famílias, são mantidos presos em fábricas clandestinas". Disse ainda que governos, 
a sociedade civil e o setor privado devem se unir para erradicar todas as formas 
contemporâneas de escravidão, incluindo o trabalho forçado. Ele apelou para que os 
Estados-Membros "ratifiquem e implementem os instrumentos relevantes de direito 
internacional, em particular o novo protocolo elaborado pela Organização Internacional do 
Trabalho, que foi concebido para fortalecer os esforços globais para eliminar o trabalho 
forçado". 
 
2.3 Bolsões de pobreza no 1º mundo 
Quem ultimamente anda por países europeus, ou mesmo nos Estados Unidos, não 
deve estranhar os milhares de pobres e excluídos. Já ouviu falar do Brookings... ele 
representa um bolsão de pobreza, ou seja, os pobres se agruparam ali, encontrando nesta 
“modalidade social” um jeito de sobreviverem. Aí enfrentam toda sorte de dificuldades, 
violência, pouco emprego, etc. 
No último dia 04/04/2018 uma 
investigação desmontou uma 
fábrica clandestina em 
Itaquera onde trabalhavam 
bolivianos em regime de 
escravidão. 
 
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 Mas como pode isso, em países ricos? Um dado histórico interessante é perceber 
que a origem da exclusão, nos países ricos está ligada à crise do Estado-providência, ou 
seja, Estado de bem-estar proposto por John Maynard Keynes - ou Welfare State - Estado 
interventor que regulava diretamente a economia, fornecia subsídios para o sustento da 
população carente, como saúde, previdência, salário desemprego, entre outros benefícios 
custeados diretamente pelo dinheiro público, não dissociando produção de consumo. 
 Com o término da 2ª Guerra Mundial o mundo ficou dividido em dois blocos: o 
capitalista (liderado pelos Estados Unidos) e o socialista (liderado pela antiga União 
Soviética). Foi a chamada guerra fria. Frente ao alto investimento no social, característica 
do modelo socialista, o bloco capitalista teve que empreender uma série de políticas que 
amenizasse o peso do capital sobre o trabalho, buscando conciliar lucratividade e inclusão 
social. Essa política, como dissemos acima, ficou conhecida como Welfare State (Estado de 
bem-estar social). 
 Com o “fim do socialismo”, representado pela queda do muro de Berlim, em 1989, a 
guerra fria também chegava ao fim. Com isto, o capitalismo não tinha que ficar provando 
mais nada para o sistema socialista. Em outras palavras: não precisaria mais ficar cuidando 
dos pobres, com o Estado de Previdência, (fazendo intervenções na economia), deixa que 
cada um se vire. E aí aparecem aqueles que não sabem se virar ou não têm oportunidade. 
Vão ficando à margem da concorrência. Surgem então os grupos ou comunidades pobres: 
os bolsões de pobreza. 
 
2.3.1 Vamos dar uma olhada aqui por perto 
 O que é mesmo, pobreza? Respondendo de forma direta, trata-se do não 
atendimento das necessidades mínimas diárias de calorias. Em qualquer sociedade, quem 
não possui meios de garantir a própria alimentação diária mínima é considerado pobre. 
Numa fase mais aguda, se caracteriza por um não acesso à renda, aos serviços públicos e a 
abrigo, envolvendo a incapacidade de vestir-se, cuidar da saúde, utilizar transporte, estar 
em total insegurança. Muitos denominam este quadro também como “indigência”. 
Evidentemente a pobreza envolve outros aspectos como: 
- o que é estar “abaixo da linha de pobreza”? O Banco Mundial, em seu 
“Relatório de Desenvolvimento”, de 1990, estabeleceu que a medida para o que se chama 
de “linha de pobreza” é aquela situação onde se vive com menos de 1 dólar por dia, é a 
soma de todas as indigências. 
 É lamentável saber que: 
 
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- o Brasil possua 45,5 milhões de pessoas nesta situação. Estes dados são de 
outubro de 201716 
- a América Latina possui 167 milhões de pessoas em situação de pobreza. Deste 
total 71 milhões em estado de extrema pobreza ou indigência. Estes dados são de 201517. 
 
2.3.2 Minoria...não tem força, nem voz! 
 Quando se fala em exclusão logo se pensa também em minorias. Aqueles grupos 
menores dentro de grupos maiores. Estes são muitas vezes maltratados, desrespeitados. 
Justamente por serem uma minoria fica muito complicado a defesa dos seus direitos, do seu 
acesso aos bens e serviços. Fazem parte desta realidade aqueles que são excluídos por uma 
questão de gênero, por questões sexuais, por serem idosos, por serem analfabetos, 
deficientes físicos, etc. Uma das características destes grupos é estar sempre em 
desvantagem. Grupos maiores estabelecem uma relação de dominação. Neste contexto a 
democracia não pode ser simplesmente o desejo da maioria. 
 Aliás, democracia é uma palavra bonita, mas se não estiver atrelada aos direitos 
humanos, e prevista em lei, acaba não garantindo os direitos fundamentais de todo 
indivíduo, principalmente estes mais vulneráveis. Por isso é importante lembrar aqui o que 
diz a Constituição (existem muitos outros aspectos, aqui citamos apenas aqueles referentes 
à cultura): 
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às 
fontes da cultura nacional e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das 
manifestações culturais. 
Parágrafo 1º: O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e 
afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. […] 
Art. 216: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e 
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, 
à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. 
 
2.3.3 Tem jeito para isso? 
 Sim, claro!A primeira coisa é falar em DES-envolvimento, ou seja, um 
desenvolvimento onde todos somos envolvidos. É preciso criar projetos de luta contra a 
pobreza. Precisam ser: 
- integrados: envolvimento interdisciplinar, cada um oferecendo um pouco da sua 
capacidade, profissionalismo e criatividade. 
 
16 Os dados são de Joana Cunha, da Folha Digital, de 30/10/2017. São Paulo. 
17 Os dados são da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe. Janeiro de 2015. 
 
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- precisam ser interinstitucionais: o termo quer englobar não apenas os setores 
empresariais, mas toda a sociedade civilorganizada, comunidades. Neste nível não se fala 
de contratos, mas se fala de solidariedade, de organização, ajuda mútua, voluntariado e 
gratuidade. Sozinho e isolado qualquer um é impotente. 
- Necessita haver comunicação, informação: sem os devidos esclarecimentos não 
há motivação. Sem motivação ninguém faz nada (campanhas). Nesta motivação e 
esclarecimento o pobre precisa ser motivado, ele precisa ser sujeito da sua história. 
- Uma pista importante para isto é a prática dos princípios sociais cristãos, 
baseados no Evangelho, principalmente o da solidariedade e da caridade. 
- Momento importante desta superação é também a conscientização de cada 
jovem que se forma na universidade, exercendo sua profissão como forma de 
promover as pessoas, dando o melhor de si pelo bem comum, pelo bem social. 
 
2.3.3 O que é preciso 
- Uma mudança cultural: a começar pelo reconhecimento da pobreza local e, 
consequentemente, lutar contra ela. Contra aquela pobreza ou exclusão que está bem aqui, 
do meu lado. Neste nível “cultural” ela não pode ser vista de uma maneira simplista, como 
se fosse fruto de escolhas individuais erradas. Essencialmente é o “sistema” quem empurra 
as pessoas para a exclusão. Também precisa ver que ela é estrutural: se a casa é um 
barraco, o quintal pode ter lixo, cães e gatos, não se planta uma horta. Quer dizer, 
uma coisa puxa a outra. 
- Uma mudança política e econômica: existindo “vontade” política é possível 
bons projetos de transformação. Uma sociedade que leva a sério as políticas públicas tem 
na sua centralidade a pessoa humana. Neste nível se situa algo muito importante que é a 
geração de emprego. Com o emprego a pessoa restabelece a “ruptura” social, se sente útil 
e integrada. E, portanto,o vínculo mais importante de inserção social. 
 Se a pessoa tem um trabalho ela se sente útil, importante, necessária. E o contrário 
também é verdade: se a pessoa não tem um trabalho, uma profissão, parece também que 
não tem utilidade nenhuma. Ela mesma se sente incomodada com isto. Conheci um senhor 
de 90 anos de idade. Ele criou seus filhos fazendo cabo de machado e vendendo. Aos 90 
anos já não enxergava mais nada, mas continuava fazendo cabo de machado. A família deu 
um jeitinho de arrumar todo o material e lhe colocava ao alcance das mãos. Ele então, com 
certa arte, raspava, lixava. A família sabia que as pessoas nem compravam mais cabos de 
machado... mas ele acreditava que com seu trabalho continuava sendo importante e 
sustentando a família. 
 
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 É interessante quando nos apresentamos para alguém. A pessoa pergunta nosso 
nome e logo em seguinte faz outra pergunta: trabalha onde? Se digo meu nome e 
acrescento que não faço nada, parece que está faltando alguma coisa. Não sou eu por 
inteiro. Então, o trabalho faz parte da própria identificação da pessoa. Sou conhecido por 
aquilo que sou, e muitas outras vezes, por aquilo que faço, pelo trabalho. 
 E claro, a melhor coisa é sempre a prevenção. Prevenindo se pode atacar as raízes 
da exclusão, impedindo a sua perpetuação. Logo, preventivas são as estratégias que 
intervêm diretamente nas causas, nas raízes mais profundas da exclusão social estimulando 
o desenvolvimento social. Se manifestam por meio de campanhas preventivas. 
 
2.4 Uma crítica à educação 
 Algo sem dúvida muito chato nisso tudo 
perceber que a educação, que deveria ser um dos 
caminhos para a promoção da cidadania, para a 
formação do cidadão crítico, torna-se hoje reprodutora 
da dominação. 
Fonte: https://bit.ly/2PRYyTf 
Ela faz isso quando habilita apenas para atender aos interesses da elite dominante, visando 
apenas formar pessoas para o mercado, ao invés de preocupar em formar pessoas. 
 Na visão de Gentile (1996), a função social da escola se resume a preparar para a 
empregabilidade, pois sua função é a transmissão de certas competências e habilidades 
necessárias para que as pessoas atuem competitivamente num mercado de trabalho 
altamente seletivo e cada vez mais restrito. 
 A própria educação torna-se excludente desde o baixo nível de ensino, devido à falta 
de incentivos aos professores, à reprovação constante e evasão de alunos. Isto tudo é o 
primeiro passo para o subemprego. 
Segundo o IBGE o Brasil não conseguiu atingir a meta de redução do analfabetismo 
fixadas para 2015. O Brasil, em 2017, se mantém no 88º lugar de 127 no ranking de 
educação feito pela Unesco, o braço da ONU para a cultura e educação. 
A educação baseada no “sistema” é determinada por aqueles que detêm o poder, 
tendo a posse do que se deve aprender. É neste momento que surge o conceito de 
Educação alienadora. Aliena no sentido de os opressores 
Desejam transformar a mentalidade dos oprimidos e não a situação que os oprime, 
e isto para melhor adaptá-los esta situação, para melhor os dominar. Sempre que o aluno é 
visto como um depósito de conhecimentos, recebendo uma educação “bancária” onde o 
 
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professor só transmite e transfere conhecimentos, uma mera narração de conteúdo, 
estamos diante de uma educação alienante. Que não muda nada. O aluno não pensa, não 
analisa. Pode até tirar um “dez”, mas não será provocado a dar um salto para o “social”, 
compreender, por exemplo, o porquê os homens se tornam desumanizados e passivos 
diante das injustiças e opressões. 
 
2.5 Então ... é preciso falar de Direitos Humanos 
Todos queremos viver. Todos queremos ter uma vida digna. Todos queremos 
liberdade. Queremos estudo, trabalho, saúde, moradia e alimentação. E basta que seja “ser 
humano” para ter assegurado para si tais direitos em todo e qualquer lugar do planeta 
terra, esses direitos são universais. Devem sem observados sem nenhuma discriminação: 
nem de religião, nem de nacionalidade, nem de gênero, nem de cor, nem de orientação 
sexual e nem política. São garantias devem constar na legislação maior (Constituição) de 
todo país, isto para proteger a pessoa contra as ações de governantes que, do jeito que 
querem e quando querem, colocam em risco a dignidade humana. 
Proporcional a estas prioridades são as características desses direitos: 
- são indisponíveis: não se abre mão deles, nunca. Em nenhuma circunstância. 
- Eles existem para garantir a dignidade de toda pessoa. 
- Valem aqui e em qualquer outro lugar do mundo: são universais. 
- Um tem relação com o outro: a não observação de um direito pode afetar o cumprimento 
de outros. 
- Eles valem para sempre: não têm prazo de validade. 
- não estão limitados ao que está previsto na lei: todo ordenamento jurídico deve se 
organizar a partir da pessoa humana e de seus direitos fundamentais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Direitos e garantias fundamentais na Constituição 
Federal de 1988, no artigo 5º: 
- - igualdade de direitos e deveres entre mulheres e homens, 
- - proibição de tortura e tratamento desumano, 
- - liberdade de pensamento, de crença e de religião, 
- - proibição de censura, 
- - proteção da intimidade, vida privada, honra e imagem, 
- - sigilo telefônico e de correspondências, 
- - liberdade de escolha de profissão, 
- - liberdade de locomoção dentro do país, 
- - direito de propriedade e de herança, 
- - acesso garantido à justiça, 
- - racismo, tortura e tráfico de drogas são crimes inafiançáveis, 
- - proibição de pena de morte, 
- - nenhum brasileiro pode ser extraditado. 
- 
Fonte: encurtador.com.br/pvzAV (02/10/2018) 
 
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Concluímos lembrando o que diz nossa Constituição nos artigos 1 e 2: "Todos os 
seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos" e podem invocar os direitos 
e liberdades desta Declaração, "sem distinção alguma de raça, cor, sexo, língua, religião, 
opinião política ou outra, origem nacional ou social, fortuna, nascimento ou qualquer outra 
situação". 
 
 
 
 
 
 
Antes de continuar seu estudo, realize

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