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Monografia GEOVANIO FERREIRA DA SILVA

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ- UECE 
CENTRO DE HUMANIDADES 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA 
 
 
 
GEOVANIO FERREIRA DA SILVA 
 
 
 
 
 
DIDEROT E A QUESTÃO DA PESSOA CEGA NA 
DESCOBERTA DO CONHECIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA – CEARÁ 
2017 
 
 
GEOVANIO FERREIRA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
DIDEROT E A QUESTÃO DA PESSOA CEGA NA 
DESCOBERTA DO CONHECIMENTO 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Departamento do 
Curso de Graduação em Filosofia do Centro de 
Humanidades da Universidade Estadual do 
Ceará, como requisito parcial para obtenção do 
Título de Graduado em Filosofia. 
Orientador: Prof. Dr. João Emiliano Fortaleza 
de Aquino 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA-CEARÁ 
2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GEOVANIO FERREIRA DA SILVA 
 
 
DIDEROT E A QUESTÃO DA PESSOA CEGA NADESCOBERTA DO 
CONHECIMENTO 
 
Monografia apresentada ao Departamento 
do Curso de Graduação em Filosofia do 
Centro de Humanidades da Universidade 
Estadual do Ceará, como requisito parcial 
para obtenção do Título de Graduado em 
Filosofia. 
 
 
Aprovado em: 10 de março de 2017. 
 
AVALIAÇÃO 
 
 
 
Prof. Dr. João Emiliano Fortaleza de Aquino (Orientador) 
 
 Universidade Estadual do Ceará- UECE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
A ajuda de muitas pessoas que contribuíram direta e indiretamente para que eu 
conseguisse alcançar o êxito desejado, e em fim concluir todo o meu trabalho, e a 
seguir faço uma lista dessas pessoas abnegadas que nunca deixaram que o 
desânimo e as dificuldades me impedissem de chegar até aqui, culminando com a 
conclusão deste trabalho, e chegando a tão esperada colação de grau. 
Em primeiro lugar agradeço ao meu bom Deus que colocou pessoas maravilhosas 
no meu caminho e que me foram importantíssimas para que eu chegasse até aqui, 
entre elas estão: O brilhante professor doutor em filosofia Emiliano Aquino que é o 
meu orientador e que sempre acreditou no meu potencial como aluno e que nunca 
deixou que eu desanimasse, a professora doutora em história Elinalva Alves 
coordenadora da ACEC associação de cegos do estado do Ceará que também 
conteve uma contribuição fundamental e que também junto do meu orientador me 
ajudou de forma incessante para que eu conseguisse desenvolver o meu tema, a 
minha querida mãe que sempre foi a pessoa mais importante da minha vida e que 
sempre esteve me incentivando a estudar e chegar até aqui, a professora doutora 
Vera Lucia Santiago que também sempre me deu o apoio necessário quando deixou 
que eu usasse por muitas vezes os computadores do laboratório de letras para 
fazer minhas pesquisas , o senhor Ivan que é o prefeito do centro de humanidades e 
que sempre dispunha de uma sala para que eu pudesse estudar quando eu 
necessitava, todo o corpo de funcionários que também se esforçaram para me dar o 
devido auxilio durante a minha graduação, as minhas amigas Janaina Ortins que me 
auxiliou na leitura e digitação do texto, Alexandra Souza que também sempre estava 
ao meu lado me incentivando e por muitas vezes lendo comigo o texto para que eu 
obtivesse uma melhor compreensão do mesmo, a brilhante professora doutora em 
filosofia Eliana que foi outra abnegada e que nunca deixou que eu desanimasse e 
que sempre estava pronta a tirar alguma dúvida que eu tivesse quanto a formatação, 
e compreensão sobre a metodologia a ser empregada na confecção da monografia, 
a todos os professores do curso que sempre estavam prontos a me ajudar a driblar 
as dificuldades que apareciam na minha frente, a minha amiga Valéria marinho, ao 
meu grande amigo Igor Timbó, a secretaria, a toda a coordenação, e aos diretores 
do centro que sempre foram muito atenciosos comigo, aos meus amigos Maurí 
Bezzerra, Thiago Magalhães, Alan Sousa, Adalto Ângelo, a minha grande amiga 
 
 
 
Verônica Rodrigues , a minha amiga Fernanda que também sempre esteve comigo 
durante o tempo em que foi aluna da UECE, aos funcionários Girão e a Doris que 
trabalham na biblioteca e que sempre estavam procurando me ajudar; ao bolsista 
Alexandre Normandia, do projeto SACI de Tecnologia Assistiva . 
Em fim a todos e a todas que contribuíram com esse trabalho de pesquisa e que 
agora apresento a vocês. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Nunca um acontecimento, um fato, um feito, um gesto de raiva 
ou de amor, um poema, uma tela, uma canção, um livro tem 
por trás de si uma única razão. Um acontecimento, um fato, um 
feito, uma canção, um gesto de raiva ou de amor, um poema, 
um livro se acham sempre envolvidos em densas tramas, 
tocados por múltiplas razões de ser de que algumas estão mais 
próximas do ocorrido ou do criado, de que outras são mais 
visíveis enquanto razão de ser. Por isso é que a mim 
interessou sempre muito mais a compreensão do processo em 
que e como as coisas se dão do que o produto em si." 
(Paulo Freire) 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho versou sobre O Estágio Curricular Supervisionado no Curso de 
Pedagogia. Neste contexto, proporciona um diálogo entre Universidade e Escola à 
luz de Paulo Freire. Teve como objetivo geral compreender como se estabelece o 
diálogo entre Universidade e Escola de Educação Básica dos anos iniciais de Ensino 
Fundamental, a partir do Estágio Curricular Supervisionado no Curso de Pedagogia 
da Universidade Regional do Cariri- URCA, tendo por base as elaborações 
freireanas. E como objetivos específicos: investigar quais as percepções dos/as 
alunos (as) estagiários (as) sobre o acesso e sobre a realização do Estágio 
Curricular Supervisionado em Escolas públicas municipais de anos iniciais de Crato 
– CE; analisar ações e relações realizadas pela URCA/Curso de Pedagogia no 
sentido de aproximar a Universidade da Escola de Educação Básica dos anos 
iniciais de Ensino Fundamental; Identificar como os/as alunos (as) estagiários (as) 
são recebidos (as) pela Escola campo de Estágio e como são vistos/as em seu 
cotidiano. A pesquisa teve uma abordagem de cunho qualitativo, cujo método foi o 
estudo de caso. Fizeram parte da pesquisa de campo 10 sujeitos, estagiário e 
estagiárias do VIII Semestre do Curso de Pedagogia. Para coleta de dados, foram 
utilizados seis Círculos Investigativos Dialógicos, um procedimento inspirados nos 
constructos freireanos. A metodologia utilizada para a análise dos dados foi a 
análise de conteúdo, especificamente a categoria temática, uma aproximação com 
os estudos de Bardin. A análise nos permitiu inferir que todos/as os sujeitos 
investigados reconhecem a importância do Estágio na formação Inicial docente, e 
revelaram fragilidades neste campo formativo. 100% dos sujeitos apontaram as 
limitações existentes entre as instituições Universidade e Escola e afirmaram haver 
uma relação de contatos e não de diálogo na perspectiva de encontro. Partindo dos 
resultados alcançados, anunciamos os postulados freireanos como contribuição para 
a construção de uma relação dialógica entre as instituições a partir do Estágio 
Supervisionado, podendo, portanto, contribuir para a qualidade da formação 
docente. 
 
Palavras – chave: Formação Inicial Docente, Estágio Curricular Supervisionado, 
diálogo entre Universidade e Escola, Paulo Freire.ABSTRACT 
This work approached the Supervised Practice in Education in the Pedagogy Course. 
In this context, it provides a dialogue between University and School based on Paulo 
Freire‟s researches. The general aim was to understand how to establish a dialogue 
between University and Basic Education School in the first grades of Elementary 
Teaching based on the Supervised Practice in Education in the Pedagogy Course of 
the Regional University of Cariri (URCA), according to the elaborations of Paulo 
Freire. The specific aims were: investigating the perceptions of the interns about the 
access and accomplishment of the Supervised Practice in the first grades of 
municipal public schools in the city of Crato – Ceará; analyzing the actions and 
relationships accomplished by URCA Pedagogy Course to approximate University 
and Education Basic School in the first grades of elementary teaching; identifying 
how the interns are received by the schools (field of their practice) and how they‟re 
seen in this context. The research was a qualitative approach, which method was a 
case study. Ten people (interns of the VIII Semester of Pedagogy Course) were 
included in the field research. Six Investigative Dialogic Circles were used for the 
data collection, a procedure inspired in Freire‟s researches. The methodology used 
for the data study was the content analysis, specifically the thematic category, closed 
to the Bardin studies. The analysis permitted us to infer that all researched interns 
recognize the importance of the Supervised Practice in the docent initial formation 
and revealed the fragilities in this formative field. All interns mentioned the limitations 
between University and school and affirmed that exist a relation of contacts and not a 
dialogue in the perspective of meeting. From the obtained results we announce the 
Freire‟s postulates as contribution for the construction of a dialogic relationship 
between the teaching institutes based on supervised practice in Education and may, 
therefore, contribute to the quality of teachers‟ formation. 
 
Keywords: Docent Initial Formation, Supervised Practice in Education, Dialogue 
between University and School, Paulo Freire. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12 
2 DA PROBLEMÁTICA DA TRAJETÓRIA DA PESQUISA ................................. 13 
2.1 PERCURSO METODOLÓGICO ................................................................. 26 
2.2 A PESQUISA ................................................................................................ 26 
2.3 A PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 28 
2.4 A PESQUISA DOCUMENTAL ........................................................................ 28 
2.5 A COLETA DE DADOS ................................................................................. 29 
2.6 LOCALIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES ............................................................ 29 
2.7 DOCUMENTAÇÃO DE DADOS ..................................................................... 30 
2.8 ANÁLISE DOS RESULTADOS ....................................................................... 31 
3 O EMPIRISMO COMO FONTE DO CONHECIMENTO SEGUNDO DIDEROT .... 31 
3.1 CONHECENDO O FILÓSOFO DIDEROT ............................................................ 36 
4 O ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL E SUA EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL 
AO LONGO DOS TEMPOS ........................................................................... 41 
4.1 DEFICIÊNCIA VISUAL: CONCEITOS, AÇÕES PREVENTIVAS EDUCACIONAIS
 ................................................................................................................... 42 
4.2 A EDUCAÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS VISUAIS NO 
BRASIL...................................................................................................................47 
4.3 AO ALUNO CEGO A POSSIBILIDADE DE ESTUDAR, INVESTIGAR E 
TEORIZAR ................................................................................................... 60 
5 CONCLUSÕES .................................................................................................. 65 
 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 68 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A presente pesquisa monográfica tem por objetivo apresentar as inquietações 
trazidas ao longo de meu percurso escolar voltada para o tema da construção e 
representação do conhecimento pelas pessoas com deficiência visual. A percepção 
de quem escreve é a de um estudante do curso de graduação em Filosofia da 
Universidade Estadual do Ceará UECE em busca por respostas e/ou novas 
perguntas sobre o tema. 
Com efeito, o contexto da pesquisa é o da tarefa de conclusão da graduação 
em Filosofia. O estudo está dividido em quatro capítulos, citando o empirismo como 
fonte de conhecimento segundo Diderot, tratando a sensibilidade dada pelos 
sentidos para aquisição do conhecimento. A seguir, trata-se de ressaltar a linguagem 
como fonte de conhecimento conforme a ótica do escritor e pesquisador Diderot. E 
por fim é apresentada a discussão sobre a pessoa cega na questão da aquisição do 
conhecimento. 
O que se espera por meio dessa introdução, é mostrar que as pessoas com 
deficiência visual vivem sempre em movimento na busca de satisfazer suas 
necessidades elementares de sobrevivência em meio a uma sociedade que separa 
a todos em classes antagônicas.Com base nessa premissa, embora não se pretenda 
desenvolver o tema da exclusão social, é recorrente articular essa categoria com o 
que é propriamente o objeto dessa investigação preliminar: a obtenção do 
conhecimento empírico por parte de uma pessoa cega tendo como fio condutor os 
escritos deixados pelo filósofo Diderot nos idos do século XVIII, enveredando para 
uma comparação aos dias atuais. 
A pretensão é desenvolver uma reflexão com base no ensaio a “Carta Sobre 
os Cegos para Uso dos que Veem”, documento escrito em 1749, por Denis Diderot 
filósofo, escritor, tradutor e enciclopedista francês, que analisou o conhecimento de 
alguns cegos da época, pontuando os processos de sua aquisição na construção de 
conceitos, em todos os seus níveis, desde o mais simples até o mais abstrato, 
13 
 
encaminhando a uma discussão sobre o significado de representação mental e 
percepção visual, para os videntes. 
O presente estudo teve como objetivo principal investigar e conhecer a 
concepção diderotiana no que concerne a percepção das pessoas cegas ao longo 
do percurso do idos século XVIII e à formulação da crítica contida na obra "Cartas 
sobre os cegos para o uso dos que veem". Para o alcance desejado na pesquisa 
opta-se nopercurso metodológico a análise bibliográfica explicativa como uma das 
formas de coleta e tratamento dos dados. A base teórica que sustenta essa 
pesquisa nos permitiu estabelecer diálogos fundamentais com os estudiosos Denis 
Diderot (1993)em seus aportes filosóficos e John Locke, (2002), defensor da teoria 
do conhecimento alcançado por meio da experiência sensível do individuo, 
D'Alembert (1717- 1783), Quesnay (1694) dentre outros, foi o ponto de partida desse 
estudo. 
O capitulo I vem tecendo então, um breve percurso sobre o percurso pessoal, 
escolar e profissional do pesquisador,relatando sua trajetória enquanto pessoa 
cega; no capitulo II, Percursos metodológicos, no capitulo III, efetivamos uma 
releitura, recorrendo às postulações de Diderot na temática do empirismo; 
O tema não se encerra aqui, ressaltamos a necessidade de continuarmos 
avançando nas investigações com o intuito de reconstituir a história produzida e 
deixada como legado para as gerações vindouras. Do ponto de vista da produção 
acadêmica, esta é uma lacuna a ser preenchida. 
Quando se pensa em cegueira, algumas indagações são comuns: como é a 
vida cotidiana sem a visão? O que o cego é capaz de fazer? Que tipo de vida pode 
levar? Como ele é capaz de aprender? Nesta pesquisa, tais indagações são 
respondidas e analisadas e, a partir desta análise, a situação da pessoa cega na 
vida escolar passa a ser discutida. 
Portanto, a ampliação e a continuidade desse estudo para um grupo maior de 
interessados, propiciará um diálogo constante permitindo a observação do seu 
cotidiano, as dificuldades enfrentadas, as habilidades desenvolvidas e a percepção 
de mundo que esse acumula. 
14 
 
A seguir utilizando a técnica do memorial descritivo faço uma breve 
explanação de como é a vida de uma pessoa com deficiência visual no tocante a 
educação, desde a infância até chegar à vida acadêmica, relatando a experiência de 
vida enquanto aluno com deficiência visual na rede pública municipal e estadual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
2 Da problemática da trajetória da pesquisa: uma elaboração articulada ao 
percurso pessoal, escolar e profissional. 
 
O capitulo I tem como objetivo apresentar p percurso pessoal, escolar e 
profissional do pesquisador, enquanto estudante do curso de Filosofia nesse centro 
acadêmico. Senão, vejamos: 
A cegueira é uma deficiência visual, ou seja, uma limitação de uma das 
formas de apreensão de informações do mundo externo, a visão. Há dois tipos de 
limitação visual: a cegueira e a baixa visão. 
Costuma a sabedoria popular afirmar que em “terra de cego quem tem olho é 
rei”, e em terra de olho quem é cego é o quê? Por ser o mundo muito visual, as 
informações são tratadas como exclusivamente visuais quando, na verdade, não 
são. Entretanto, se pode perceber isso em algumas ações como encontrar objetos 
em bolsas, digitar números de telefone, tocar instrumentos, vestir-se, dentre outras 
ações. 
As pessoas cegas, frequentemente, são consideradas especiais, como 
aquelas com características profundamente diferenciadas das demais pessoas, tanto 
na literatura como na mídia em geral. Esse preconceito cria barreiras impedindo que 
se perceba o cego como um ser humano. 
Vygotsky (1934/1997) vem orientar que não se nega as limitações da 
cegueira enquanto restrição biológica, mas ensina que, socialmente, não há 
limitações, porque o cego, por meio da palavra, pode se comunicar e apreender 
significados sociais. Dai a razão de que para a pessoa com limitação visual vai 
precisar de um ambiente diferenciado e adaptado, que possa garantir a satisfação 
de suas necessidades enquanto estudante. 
A opinião aqui pontuada a respeito da aquisição do conhecimento é 
vivenciada na caminhada escolar desse pesquisador e serviu para identificar as 
potencialidades e limitações deixadas pela falta da visão marcando o seu cotidiano 
utilizando o tato enquanto principal sentido para a escrita e para a leitura. 
 
16 
 
O que se pode pontuar de antemão, é que apesar da discussão em torno da 
acessibilidade para as pessoas com deficiência ter tido um relevante crescimento no 
campo educacional, ainda permanece longe o atendimento ideal para satisfazer a 
demanda em razão de existir um cenário de difícil acesso às diversas ferramentas 
de inclusão, onde a exclusão é muito presente na realidade desse segmento, 
inclusive as com limitação visual. 
Iniciamos nossas considerações pontuando que as necessidades especiais 
não são próprias do ser humano, tampouco nasce com esses, porém tem origem na 
trajetória processual da convivência social. De modo que o elemento biológico não 
se constitui em único determinante para as necessidades humanas. 
Traçar nesses escritos o relato da minha trajetória de vida, sob um olhar 
sensível, reflexivo e profundo, me leva a revisitar meus dias passados e rememorar 
o presente. É um grande intento, pois, sinto-me desafiado e, ao mesmo tempo, 
tomado por uma forte emoção ao mergulhar no passado, relembrar e relatar os idos 
de minha infância, adolescência e idade adulta. Realmente não é tarefa das mais 
fáceis, uma vez que terei que superar certos obstáculos para discorrer sobre minha 
história em seus muitos contextos. 
Assim, passo a descrever conforme os períodos: a infância que foi cercada de 
dúvidas e a incertezas sem um diagnóstico da limitação visual; uma adolescência de 
inatividade dentro de casa; e uma vida adulta dedicada à busca da independência. “De 
lá para cá, luto para obter mudanças, saí do marco zero enfrentando muitas barreiras, 
porém, hoje me encontro no patamar de um curso superior”. 
Os processos superiores do pensamento infantil conforme nos ensina o pensador 
Lev Vygotsky (1997), surgem a partir da interação com o meio social circundante. Se 
não houver a mediação nesse processo, as dificuldades derivadas do que ele 
denominou defeito, no caso em questão, a deficiência visual, originam estímulos para a 
formação de outras formas. 
Desde criança sempre tive dificuldade de aprendizagem e eu sentia algo 
errado com minha visão, tinha dificuldade de transcrever a matéria do quadro negro, 
e isso foi percebido pela professora. Mas nessa época, ainda criança não era 
possível entender que o hábito da professora escrever a matéria na lousa como 
17 
 
único recurso, era também um ato de discriminação. Se fosse hoje, com certeza 
argumentaria e requeria da mesma, adaptações de materiais enquanto aluno cego 
nessa sala de aula. 
É simples dizer da dificuldade do professor em saber atender o aluno com 
deficiência, mas acentuar atitudes de preconceitos leva esse aluno à exclusão à luz 
da lógica inclusiva: ele está em sala de aula, mas as barreiras atitudinais são 
tamanhas que não favorecem seu aprendizado. 
Vale ressaltar que a professora deu conhecimento de minhas dificuldades 
visuais aos meus familiares e assim fui levado a uma consulta com o oftalmologista 
que apenas receitou óculos para eu enxergar melhor, facilitando o acompanhamento 
das aulas. 
Mas, não era somente na escola que a minha dificuldade persistia, era no dia 
a dia que complicava e isso exigia o máximo de cuidado ao andar em ambientes 
com pouca iluminação. Aqui, era um sinal de que as coisas um dia mudaria como de 
fato veio a mudar de maneira drástica, mas que na minha inocência e 
desconhecimento dos familiares, não foi cuidada como devia. 
No ambiente escolar, o desempenho do ir e vir era difícil, não conseguia ver 
com perfeição o quadro negro, mesmo depois de passar a usar óculos, tinha que 
sentar nas primeiras fileiras de carteira para tentar escrever no caderno a matéria 
que era escrito na lousa. 
A educação da pessoa com deficiência visual é marcada pela relação 
intrínseca com o atendimento especializado, ação capaz de suprir as necessidades 
especiais advindas da falta de visão e assegurar o ensino formal desse aluno. Esse 
atendimento especializado deve ser garantido pela chamada educação especial. 
Esse aparato educacional não o tive na minha trajetória. 
Os anos foram se passando, e a minha limitação visual só agravava e lógico 
acentuava a não aprendizagem que tornou minha vida de estudante difícil. Quandoconcluir a quarta série driblando todas as barreiras e as repetições de ano, a 
professora chamou minha mãe, e a aconselhou que eu fosse estudar em outra 
escola dizendo a mesma “eu não iria acompanhar a turma da quinta série devido a 
minha limitação de visão, e naquela escola essa série era ministrada pelo sistema de 
18 
 
televisão através da TV Cultura, e eu iria ter uma defasagem bem acentuada em 
relação aos outros alunos”. Isso foi o que concluiu a professora da rede regular de 
ensino. 
Sobre isso, afirmo que a concepção que todos faziam a meu respeito 
enquanto pessoa cega era com base na pessoa com visão, além de diminuir as 
possibilidades de entendimento como ele realmente é, destaca suas limitações e 
não suas possibilidades. E isso, em um mundo de pessoas que enxergam faz com 
que o deficiente visual seja mais penalizado. Entretanto, o que esperar de um 
professor que desconhece a educação especial poder ensinar um aluno cego? 
E os dias foram passando, me mudaram de escola, e lá fui eu e os meus 
problemas visuais que se agravavam, e me deixava desestimulado a estudar, 
passando a repetir a mesma série. Não conseguia ser incluído na sala de aula, 
tampouco na socialização do recreio, por exemplo. Tinha temor em cair, topar em 
algum obstáculo. 
Nesse cenário, segui a vida escolar, hoje percebo que a escola poderia ter me 
auxiliado a enfrentar essas dificuldades impostas pela diferença visual, mas as 
recordações que guardo são as de que vivenciei muito preconceito, estigma, a falta 
de materiais adaptados fazia com que eu tivesse somente a fala da professora como 
único recurso pedagógico. Tive solidariedade somente de alguns alunos que se 
tornaram meus amigos e ai sim, tive apoio. 
Depois de muita luta de altos e baixos, consegui chegar ao ensino médio. 
Antes de chegar lá, em um exame de rotina para a verificação do grau dos óculos 
que não estavam ajustados, sentia não está auxiliando como devia, volto ao 
oftalmologista e ao chegar à sala do especialista, fui surpreendido pela afirmação de 
que o uso de óculos, era um paliativo, havia algo de mais grave e o diagnóstico 
apontava para uma patologia denominada “Retinose Pigmentar” um tipo de 
degeneração do tapete retiniano, ou seja, doença progressiva que certamente me 
deixaria cego. Essa revelação foi um choque e de imediato não queria aceitar aquela 
verdade de ter uma doença que me levaria à cegueira. 
 
19 
 
Procurei ouvir outras duas opiniões médicas que me foram contundentes a 
afirmar que eu realmente tinha essa patologia e que a deficiência visual era 
iminente. Fui então aconselhado a usar uma lupa, que é uma lente de aumento que 
iria me ajudar a enxergar as letras dos livros e TDs que eram entregues pelos 
professores, mais a dificuldade de escrever o que estava no quadro foi só 
aumentando, já que a lupa era para uso de perto me ajudar. 
Quanto aos livros e provas que eu tinha de ler, mais quanto ao quadro negro, 
ficava desprovido tendo de recorrer ao caderno dos colegas de sala de aula para 
com muita dificuldade copiartoda a matéria em outra oportunidade, e assim poder 
estudar. 
Nesse período, percebi que as professoras da sala comum demonstraram 
incertezas sobre como lidar com essealuno e o desconhecimento de que poderiam 
adaptar materiais para facilitar o processo de aquisição do conhecimento, inclusive 
aprenderem o braille. 
Portanto,estão cristalinos nesse relato, em decorrência do pouco 
conhecimento sobre a deficiência visual, os professores frequentemente dedicam 
uma baixa expectativa quanto à aprendizagem do aluno e, comigo não foi diferente. 
Mas, não é regra que todos os alunos com deficiência visual tenham baixo 
desempenho escolar, prova disso é que é possível enumerar conforme "A Epopeia 
Ignorada" (1986), Otto Marques da Silva, apresenta alguns exemplos de cegos 
"brilhantes", como: Dídimo de Alexandria, Nicolas Saunderson, John Metcalf, 
Leonhard Euler, Thomas Blacklock, Maria Tereza Von Paradis, Louis Braille. 
Todos esses cegos, destacaram-se como professor, engenheiro, concertistas, 
teólogo dentre outras atividades de posição na sociedade. Isso só reforça a tese do 
pensamento sobre a cegueira. Sobre esse pensar o Imperador D. Pedro II, certa 
feita exclamou: “a cegueira não é nenhuma desgraça”. Comprova-se então que a 
reflexão a ser lançada não é se a pessoa é ou não, cega. O certo é saber a que 
classe social ela pertence. O desempenho das pessoas cegas acima citadas foi 
coroado de êxitos porque não foram abandonados na caminhada e nem entregues à 
própria sorte. 
 
20 
 
Minha visão foi ficando cada vez mais complicada, e mesmo com a ajuda de 
muitos amigos e a migas que fiz em sala de aula, a coisa foi se tornando cada vez 
mais difícil para mim. Chegar à escola também era uma luta, pois às vezes 
tropeçava em algumas coisas que não conseguia ver, já que muitas vezes ia a pé, e 
eu estudava a noite, coisa que para quem tem retinose pigmentar é um tormento, e 
eu passei a não aceitar por muito tempo a situação da perca progressiva da visão, 
escondendo ao máximo o problema e arranjando desculpas todas as vezes que 
esbarrava em alguém, tropeçava em alguma coisa, quando não conseguia ver algo 
no chão durante a noite, e até quando não conseguia identificar alguém nesse 
horário. 
Nesse intervalo de tempo, busquei a inserção ao mundo do trabalho, pois, 
desde a idade de 15 anos de idade decidir ter meios próprios para ajudar no meu 
sustento, tamanha não foi essa barreira. Sabe-se que a educação e o trabalho 
estiveram e ainda estão sempre presentes objetivamente, entre as preocupações 
que levam a romper com a discriminação e o forte preconceito. 
Mas não obtive o alcance desejado, tive de dividir meu tempo entre trabalhar, 
estudar, esquecendo ai os momentos para o lazer. Então faltou garra e 
determinação para seguir adiante como também a oportunidade laboral o que 
reforçou o sentimento de medo e insegurança. 
Voltando ao meu relato de vida escolar,depois de muita luta consegui terminar 
o ensino médio. Por razões outras, aliadas ao cansaço da árdua luta desestimulado 
devido a falta de preparo dos professores que encontramos nas instituições de 
ensino espalhadas em nosso país, fiquei afastado dos estudos. 
Em fim, de 2006, estimulado por alguns amigos com deficiência visual retomo 
ao ambiente escolar e ingresso em um cursinho pré-vestibular na Associação de 
Professores do Ensino Superior do Ceará (APESC) onde fui acolhido de uma forma 
surpreendente, pois nessa instituição os professores se esforçavam juntamente com 
a coordenação formada por pessoas comprometidas a nos ajudar a entrar na vida 
acadêmica, e que sempre estavam nos incentivando a nunca desistir por causa da 
deficiência, procuravam a toda hora ressaltar o potencial que tínhamos e que era 
possível ir em busca da realização dos sonhos em chegar à Universidade. E foi na 
21 
 
(APESC) através desse esforço coletivo e também dos demais colegas de sala que 
consegui a inserção acadêmica. 
Que a vida de uma pessoa com deficiência visual é bem difícil no interior da 
escola regular, isso já comprovei. Por um longo período da história aqueles com 
diferenças visuais, ao lado de outras pessoas consideradas “deficientes”, 
experimentaram um duro processo de extermínio, abandono, desvalorização e de 
exclusão social. 
Apesar do passar dos tempos, essas atitudes permanecem em nosso meio, 
pois segue o pensamento de que a falta de visão é percebida, antes de qualquer 
habilidade como sendo o ponto frágil e vulnerável, por isso causa curiosidade, 
piedade, surpresa e admiração, o desenho traçado é de uma pessoa dependente, 
precisando ser guiada, protegida e amparadapar sempre. Muitos desconhecem que 
a criação do sistema Braille permitiu aos cegos uma participação maior na vida 
social e cultural. 
E assim ao ser aprovado no vestibular da Universidade Estadual do Ceará 
(UECE) tamanha não foi a satisfação de muitos e a minha também, mas lá na 
academia, não foi diferente. Ao ali ingressar, fiquei apreensivo diante de tantas 
incertezas que me ocorreram, especialmente, pela trajetória já vivenciada na vida 
escolar, percebi logo que estudar esse recinto não seria uma tarefa sem muita 
barreira a enfrentar. 
Essa deficiência me impossibilita, basicamente, ler obras em papel e a tela do 
computador sem o auxílio de programas adaptados (por meio de voz sintetizada). No 
entanto, quem não enxerga pode viver quase normalmente: exercer diversas 
profissões, praticar atividades físicas, constituir família de modo independente, 
viajar, enfim, fazer muitas atividades. 
Mas, meu interesse de cursar universidade me fez prosseguir. A decisão da 
escolha da profissão floresceu no cursinho pré– vestibular, período em que 
percebi, a preferência e, uma enorme tendência pelo campo filosófico, tanto em 
teoria como na prática. 
 
22 
 
Minha entrada na universidade foi cercada por inúmeras curiosidades, tanto 
minhas, para saber mais sobre a grade curricular do curso; quanto por parte dos 
colegas, que ficavam admirados em constatar uma pessoa cega aprovada no curso. 
Para lá segui sozinho desde o momento da inscrição no vestibular, até a conclusão 
da matrícula. Sei que muitos conhecidos e amigos, assim como membros de minha 
família não acreditavam muito na possibilidade de eu vir a cursar uma universidade, 
dada a imensa concorrência. Porém, com o tempo, eles passaram a acreditar que 
quase tudo é possível a uma pessoa cega. 
Os professores como já citei me receberam com certa preocupação, porém, 
alguns foram solícitos e abertos às sugestões que lhes pudessem ser dadas, 
quanto à melhor forma de trabalhar com alunos com deficiência. Os funcionários do 
Centro foram receptivos e auxiliaram no que lhes foi possível. Os colegas, além de 
curiosos, tiveram receio inicial de formar equipe comigo, sentiam pena, ou queriam 
nos proteger. Com o passar do tempo, essa mentalidade foi sendo alterada e, 
formamos uma boa equipe de estudos. 
E de fato, as dificuldades encontradas não resultaram em uma compensação 
exitosa, os professores se mostraram apáticos frente às possibilidades, as 
mediações não possibilitam aprendizagens, justificavam o despreparo para lidar com 
esse público, quando estávamos frente a frente não sabiam o que fazer, e o que é 
pior:sentir em muitos deles, menosprezos, nos trataram como incapazes, revelaram 
um assistencialismo compensatório, ignorando nosso potencial. Esqueceram termos 
somente uma limitação visual, portanto, capazes de ter uma vida normal e digna 
como qualquer outra pessoa. 
As primeiras dificuldades encontradas foram quanto à acessibilidade dos 
textos, que não eram em formato digital ou em Braille e a incerteza inicial dos 
colegas, sobre meu desempenho nos trabalhos em equipe. As primeiras 
providências para me incluir no curso foi tentar conversar com os professores, para 
que estes conhecessem minhas dificuldades e possibilidades. Também dei minha 
parcela de contribuição com a equipe na qual estava, enviando textos que 
encontrava na internet, debatendo os temas propostos dentro e fora da sala de 
aula. Mas, chego ao final do curso, e nunca tive o apoio necessário para me sentir 
incluído nesse espaço acadêmico. 
23 
 
 
Mas, será que a Universidade segue como a maioria das instituições públicas 
despreparada para receber uma pessoa com deficiência, falo por 
experiência,embora alguns tenham dedicação, empenho e Boa vontade, posso lhes 
dizer que vivi um grande improviso que não atendeu nem favoreceu o conhecimento 
que eu ansiava obter, tampouco permitiram desenvolver a capacidade intelectual em 
busca do saber. E seria tão simples. 
Para o aluno com deficiência visual necessário se faz, dispor de material em 
formatos diversos como textos em braille, ampliados e mídias acessíveis. Com 
esses recursos disponíveis terá o aluno um bom desempenho, acompanhará de 
forma igualitária com os demais alunos, tendo as mesmas oportunidades de 
condições e acesso a informação. 
A tecnologia vem facilitando em muitoa vida das pessoas com deficiência 
visual, dando a elas a oportunidade de estudar com o uso de computadores com 
leitores de tela permitindo ouvir textos, livros, acessar e-mails, digitar e imprimir seus 
trabalhos de pesquisas, dentre outros. Na Universidade me deparei com desafios da 
não formação do professor, e logo procurei mostrar que é possível lidar com 
qualquer tipo de deficiência, mas é preciso apenas romper abarreira da experiência 
sensível. 
Em tempos passados, as pessoas com deficiência visual só tinham o braille 
eo auxílio de professores itinerantes que transcreviam parte daquilo que eles 
precisavam em formato acessível ou por meio de gravações de fitas de áudios para 
facilitara compreensão das disciplinas como português, matemática e as avaliações. 
Ter acesso a escola ainda é difícil, principalmente para uma pessoa com deficiência 
visual, em virtude de ainda existir escolas que não aceitam esse alunado, alegando 
falta de preparo, constata-se, porém que a rejeição se dá por preconceito, apesar de 
está caracterizado como crime perante a legislação brasileira que zela pela defesa 
da pessoa com deficiência. 
Para que hoje eu apontasse uma experiência exitosa na Universidade, esta 
deveria ter sido mais amigável e inclusiva desde minha chegada, os diretores 
poderiam ter promovido alguma intervenção falando de atitudes e barreiras 
24 
 
atitudinais, uma vez que por lá já havia passado um aluno cego. Também poderiam 
ter mantido atualizados os programas nos computadores com sintetizadores de voz. 
Poderiam, fazer funcionar uma impressora em braille adquirida e conservada na 
embalagem até os dias de hoje, por fim, terem preparado o refeitório, a biblioteca, a 
entrada com piso podo tátil e calçamento adequado em todo o Centro, uma vez que 
alunos cegos já transitaram por lá. 
Enfatizo a importância e a necessidade de participação dos alunos com 
deficiência nas discussões sobre qualquer forma de política, projeto ou ações a 
serem pensadas e/ou implantadas visando à acessibilidade, pois ninguém melhor 
do que nós enquanto atores sociais para descrever as reais necessidades e indicar 
as melhores providências para tornar o ambiente acessível. 
Para uma criança que não enxerga seu aprendizado deve começar bem cedo, 
logo que a necessidade de se comunicar apareça em sua vida, seja para expressar 
sentimentos, seja para a obtenção de alguma coisa que tanto querem. Essas 
experiências devem começar em casa com o auxílio dos pais, por meio dos sentidos 
remanescentes deverão oportunizar conhecer o mundo, explorar o tato, a audição, o 
olfato e o paladar. Tudo isso será meio de leva-las ao conhecimento e ao saber. 
Essa tarefa não é fácil, precisa dedicação e esforço dos professores, para tornar 
esse aluno tão capaz como os demais. 
Através da digitalização de obras literárias, bem como textos e livros, também 
com o auxílio do braille, e de outras tecnologias assistivas, as pessoas com 
deficiência visual tem tido uma nova perspectiva no campo do conhecimento. Essas 
tecnologias vieram ajudar na descoberta de outras áreas e vertentes, bem comoa 
quebra das barreiras atitudinais nas escolas e universidades fortalecendo o 
processo de construção do conhecimento no contexto educacional. 
Essas questões me levaram a escolher o tema, par conhecer e deixaregistrada essa descoberta no campo do empirismo, uma vez que JohnLookensina 
que todo o conhecimento é formado a partir das experiências empíricas, e que para 
isso é necessário que se faça uso de todos os sentidos, levando o individuo a 
chegar o mais perto possível do que conhecemos por realidade, e assim usar todos 
os sentidos que lhe restam os quais irão possibilitar a uma pessoa com deficiência 
25 
 
visual como eu, por exemplo, venha ter uma noção do que acontece ao seu redor, e 
atingir o que se pode chamar de plena satisfação do intelecto. 
Esse foi o motivo e o caminho percorrido até aqui para realizar esse trabalho 
alicerçado na obra de Denis Diderot, "CARTA SOBRE OS CEGOS PARA O USO 
DOS QUE VEEM”, cujo relato diz da retirada da catarata de pessoas cegas, que 
voltaram a enxergar e tiveram de usar um sentido que até então não tinham, 
devendo, pois aprender a usá-lo, fazendo redescobrir o mundo em que viviam, 
abrindo os olhos para uma nova perspectiva de conhecimento antes desconhecida. 
 
Confirmamos que mesmo sem um dos sentidos, a pessoa pode sim alcançar 
o conhecimento, e aqueles com todos os sentidos pode se tornar cego para muitos 
aspectos, por exemplo, a questão de algumas cores. 
Dependendo de como alguém chama uma determinada tonalidade de verde: 
o verde lodo, por exemplo, muitos conhecem por verde musgo, e outros vão chamá-
lo de verde fosco, assim o vermelho escuro, que muitos conhecem como encarnado, 
isso mostra que mesmo com o sentido da visão, o conhecimento que um indivíduo 
tem sobre um determinado objeto pode ser diferente do conhecimento do outro 
sobre o mesmo objeto. 
A partir deste estudo inicial, procurei externar a trajetória de uma pessoa com 
deficiência visual adquirida por uma degeneração retiniana, e que ainda luta para 
internalizar redescobertas do conhecimento, uma vez que muitas coisas e lugares 
passaram a ser algo novo. Diante da recente condição, percebo que a tecnologia 
nos dias de hoje, estampa o mundo globalizado, dando acessibilidade ao universo 
do saber, ampliando horizontes capazes de romper com a cegueira intelectual, 
levando-os a interagir de uma forma aproximada das demais pessoas consideradas 
“normais”. 
Fica mais uma indagação: será que o direito do aluno com deficiência está de 
fato garantido na prática? Se não são dadas condições adequadas de preparação 
do professor e se não ocorrem às adaptações necessárias para que ele seja um 
aluno regular realmente incluído em sala de aula comum, como dizer que há 
inclusão? Vale dizer que a pessoa cega é capaz de aprender, ele é um ser de 
26 
 
aprendizagem. Portanto, pais, professores e profissionais se facilitarem o acesso e 
oferecer possibilidades de aprendizagem, com certeza, vamos aprender. 
Em resumo, vimos que a educação do aluno com deficiência visual, traz ainda 
dificuldades que são pontos comuns: falta de recursos, falta de preparo do professor 
especialmente quanto ao conhecimento sobre a capacidade de aprendizagem da 
pessoa cega. Quanto à falta de recursos, posso afirmar que a fala do professor se 
tornou o único recurso nessa minha caminhada escolar. Embora seja a linguagem 
fundamental no desenvolvimento, não consegue e nem deve substituir os demais 
recursos, por isso é essencial utilizar outros materiais adaptados. 
 
2.1 PERCURSO METODOLÓGICO 
 
 
Neste capítulo apresentaremos os caminhos trilhado para o alcance maior 
conforme os objetivos traçados anteriormente. 
Definidos os objetivos, as questões norteadoras da investigação, 
explicitaremos e justificaremos as opções metodológicas e a perspectiva na qual a 
pesquisa se insere. Em seguida, descreveremos e comentaremos os critérios de 
escolha da escola, e os procedimentos para construção do corpus da pesquisa. As 
categorias de análise serão delineadas em função de conceitos, teorias e estudos 
apresentados na parte inicial de cada capítulo. 
A Metodologia é o tópico do projeto de pesquisa que abrange maior número de 
itens, pois responde às seguintes questões: Como? Com quê? Onde? Quanto? 
(LAKATOS; MARCONI, 2003, p. 221). 
 
A pesquisa 
 
Investigar os conhecimentos sobre alfabetização, mobilizados por professores 
de segundo, terceiro e quarto anos do Ensino Fundamental/alfabetização implica 
pesquisar situações complexas e atuais, tornando pertinente a estratégia de 
investigação adotada neste estudo. Em nosso caso específico, trata-se de uma 
27 
 
investigação a partir de diferentes fontes de dados sobre um tema ainda pouco 
explorado, o que pode ser visto a partir do levantamento dos estudos apresentados 
na sessão anterior. 
Pesquisa Bibliográfica: é desenvolvida a partir de materiais publicadas em livros, 
artigos, dissertações e teses. Ela pode ser realizada independentemente ou pode 
constituir parte de uma pesquisa descritiva ou experimental. 
Segundo Cervo, Bervian e da Silva (2007, p.61), a pesquisa bibliográfica “constitui o 
procedimento básico para os estudos monográficos, pelos quais se busca o domínio 
do estado da arte sobre determinado tema.”; 
Pesquisa Documental: é realizada uma investigação, por meio de documentos, 
com o objetivo de descrever e comparar os costumes, comportamentos, diferenças e 
outras características, tanto da realidade presente, como do passado; 
Conforme Andrade (1997) uma pesquisa bibliográfica pode ser desenvolvida 
como um trabalho em si mesmo ou constituir-se numa etapa de elaboração de 
monografias, dissertações, etc. Enquanto trabalho autônomo, a pesquisa 
bibliográfica compreende várias fases, que vão da escolha do tema à redação final. 
De modo geral, essas fases apresentam algumas semelhanças como as da 
elaboração dos trabalhos de graduação. 
Pesquisar a acessibilidade a uma bibliografia sobre o assunto, pois todo 
trabalho universitário baseia-se, principalmente, na pesquisa bibliográfica. Outros 
requisitos importantes são: a relevância, a exequibilidade, isto é, a possibilidade de 
desenvolver bem o assunto, dentro dos prazos estipulados, e a adaptabilidade em 
relação aos conhecimentos do autor. 
O desenvolvimento deste estudo compreendeu três fases: numa primeira, ao 
final do primeiro semestre letivo de 2011, voltamo-nos à caracterização e à 
identificação dos sujeitos – questionário e entrevistas com os professores e 
atividades diagnósticas com os alunos – e à conquista de confiança dos docentes e 
alunos para que pudéssemos participar com eles das aulas em momento posterior. 
Na segunda fase, durante o segundo semestre de 2011, iniciamos a produção de 
dados a partir de observações e análise de aulas (setembro a novembro) e das 
entrevistas com as professoras (agosto a dezembro). Finalmente, no primeiro 
bimestre letivo de 2012 (março e abril), realizamos as entrevistas finais com elas (as 
professoras). 
Empregamos um tempo significativo de observações in lócus desde o final do 
primeiro semestre letivo de 2011, junto às professoras participantes deste estudo, o 
que possibilitou situar histórica e socialmente as análises. 
 
28 
 
Para constituir o corpus de análise desta pesquisa, portanto, valemo-nos dos 
seguintes procedimentos metodológicos: (a) questionário e entrevistas com as 
professoras, (b) observação, registro e análise de aulas e (c) sondagem da escrita 
dos alunos realizada ao início do semestre. Acreditamos que esses diferentes 
procedimentos favoreceram elucidar a análise e compreensão a respeito de saberes 
docentes mobilizados durante as aulas. 
Ressaltamos, assim como André (2001), que a caracterização desta pesquisa 
leva o pesquisador a um grau de interação com a situação investigada, de modo que 
ele (pesquisador) tanto afeta como é afetado por ela (situaçãoinvestigada). A partir 
dos procedimentos adotados objetivamos analisar as práticas de ensino da língua 
escrita no segundo semestre letivo de 2011. 
 
A Coleta De Dados 
 
De posse do tema, deve-se procurar na biblioteca, através de fichários, 
catálogos, abstracts, uma bibliografia sobre o assunto, que fornecerá os dados 
essenciais para a elaboração do trabalho. 
Selecionadas as obras que poderão ser úteis para o desenvolvimento do 
assunto, procede-se, em seguida, à localização das informações necessárias. 
 
Localização Das Informações 
Tendo em mãos uma lista de obras identificadas como fontes prováveis para 
determinado assunto, procura-se localizar as informações úteis, através das leituras: 
 Leitura prévia ou pré-leitura: procura-se o índice ou sumário, lê-se o prefácio, 
a contracapa, as orelhas do livro, os títulos e subtítulos, pesquisando-se a existência 
das informações desejadas. Por meio dessa primeira leitura efetua-se uma seleção 
das obras que serão examinadas mais detidamente; 
 eitura seletiva: objetiva verificar, mais atentamente, as obras que contêm 
informações úteis para o trabalho. Aqui, ocorre uma leitura mais detida dos títulos, 
subtítulos e do conteúdo das partes e capítulos, procedendo-se, assim, a uma nova 
seleção. 
 
29 
 
 Leitura crítica/analítica: agora a leitura deve objetivar a intelecção do texto, a 
apreensão do seu conteúdo, que será submetido à análise e à interpretação; 
 Leitura interpretativa: entendido e analisado o texto, procura-se estabelecer 
relações, confrontar ideias, refutar ou confirmar opiniões. Se necessário for podemos 
ampliar o levantamento bibliográfico, deve-se procurar na bibliografia de cada obra, 
nas notas de rodapé, nas referências bibliográficas, a indicação de outras obras e 
autores que poderão ser consultados. 
 
Documentação Dos Dados 
 
As anotações e fichamento das leituras realizadas numa pesquisa 
bibliográfica devem ser registradas, documentadas, através de anotações. As 
anotações tornam-se mais acessíveis, funcionais, se forem feitas em fichas. Fichar é 
transcrever anotações em fichas, para fins de estudo ou pesquisa. 
A vantagem de se utilizar o método de fichamento para a documentação dos 
dados está na possibilidade de obter-se a informação exata, na hora necessária. 
Além disso, pela facilidade do manuseio, remoção, renovação ou acréscimo 
de informações, o uso de fichas é indispensável na tarefa de documentação 
bibliográfica. As fichas ocupam pouco espaço, podem ser facilmente transportadas, 
possibilitam a ordenação do material relativo a um tema, facilitando o estudo e a 
elaboração de trabalhos. 
 
Análise dos resultados 
 
Os dados coletados, para este trabalho através das leituras, observações, e 
outras anotações pessoais, possibilitaram o aprofundamento dos mesmos. Assim, 
selecionando-se o essencial de cada dado, como por exemplo, a identificação do 
empirismo e do conhecimento, das práticas de ensino, os valores, os 
conhecimentos, as insatisfações do professor frente ao sistema massacrante e a 
situação salarial. Todas as variáveis constituem-se no objeto de estudo deste 
trabalho, encaminhando-se assim para a construção dos resultados. 
 
 
30 
 
3 O EMPIRISMO COMO FONTE DO CONHECIMENTO SEGUNDO DIDEROT 
 
Nesse capítulo abordaremos o conceito de Diderot sobre o empirismo como 
fonte do conhecimento expostos no texto "Carta sobre os cegos para o uso dos que 
vêem". Desta forma, almejamos compreender como se dá a questão do empirismo 
como fonte do conhecimento segundo o filósofo francês. Para que o percurso da 
pesquisa esteja embasado na teoria empirista é preciso revisar antes alguns 
filósofos simpatizantes dessa corrente desde a antiguidade até chegar até em John 
Locke, considerado o pai do empirismo Inglês. 
Portanto, antes de adentrar nessa temática, vamos traçar um breve histórico 
sobre o empirismo desde a antiguidade até a modernidade, chegando assim à 
concepção de John Locke. Este percurso será necessário para compreendermos 
como se chegava ao conhecimento a partir das impressões sensíveis, culminando 
assim no empirismo inglês que teria vários seguidores. 
Seguindo a premissa de compreender as raízes do empirismo desde os seus 
primórdios iniciaremos com Aristóteles, por ter sido um filósofo que retirou a filosofia 
platônica do céu das ideias e a colocou na realidade das coisas. Apesar de sua 
atitude acerca de uma, outra epistemologia, ainda não pode ser considerado um 
empirismo propriamente dito. De fato, é preciso reconhecer que foi com a sua 
filosofia que se forma uma nova dimensão entre teoria e prática. 
Aristóteles (384 a 322 a.C), discípulo de Platão, tinha um posicionamento 
contrário ao do seu mestre que pregava a teoria das ideias. Aristóteles dizia que 
pela observação da natureza poderíamos chegar ao conhecimento que ele chamou 
de realismo, conhecimento esse que provinha dos sentidos. A partir de Aristóteles os 
filósofos do período Helênico se dedicavam ao estudo de matérias mais práticas 
como por exemplo a ética e a física, no entanto buscando uma perspectiva 
interpessoal da filosofia. As principais correntes filosóficas que representam o 
empirismo nessa época são: Cirinaica fundada por Aristipo de Cirene (435 a. C.-356 
a.C.), os Cínicos que foi fundada por Antistenes (444 a.C.-365 a.C.) e com os 
estóicos que tinham em Zenom de sítium (334 a.C.-262 a.C.) seu iniciador. Essa 
escola filosófica afirmava antes mesmo do filósofo John Locke que o conhecimento 
31 
 
só poderia ser alcançado por meio de experiências sensíveis. Também temos o 
epicurismo, fundada por Epicuro de Samos( 341 a.C-271 a.C.), a última escola 
empirista da antiguidade e o ceticismo que foi fundada por Pirro de Elis ( 360 a.C-
270 a.C). 
No século XVII surge o filósofo John Locke defensor de que o indivíduo 
poderia alcançar o conhecimento por meio da experiência sensível, pois para ele a 
mente era como uma cera passiva onde as ideias eram inseridas a partir das 
experiências realizadas por meio dos sentidos. Essa tese foi formulada por Locke a 
partir da teoria de Aristóteles, que dizia que a mente era como uma tábula rasa1 
onde as ideias eram depositadas pelas experiências sensíveis. Locke refuta a ideia 
do inatismo, pois afirma que é impossível alcançar o conhecimento da substância, já 
que essa estaria longe do alcance da experiência humana e jamais poderia ser 
atingida.O sucessor de John Locke foi Francis Bacon (1561-1626). 
O filósofo Diderot lidera uma das correntes mais importantes do século XVII 
na França, pois fazendo não apenas questionamentos acerca da ordem das coisas 
científicas, mas também políticas, suas enciclopédias o consagrou enquanto teórico 
e crítico da sociedade medieval. A sua preocupação com o empirismo surge em um 
período medieval abalado pelas amálgamas do poder da igreja que se preocupava 
apenas com problemas divinos. Aqui, dissertamos sua preocupação fundamentada 
nas teorias empiristas a partir de seu ensaio "Carta sobre os cegos para o uso dos 
que veem", considerada uma obra perigosa,por seu conteúdo sensualista 
epistemológico. 
Em "Carta sobre os cegos para o uso dos que veem", Diderot mostra um tipo 
de materialismo organicista que diz que tudo e todos seguem uma ordem natural das 
coisas. Essa ordem natural pode ser vista como um evolucionismo que leva as 
transformações da matéria e do pensamento dentro de uma perspectiva física e 
biológica. 
 
 
1
 Conceito antigo- Placa (de argila ou madeira) revestida de cera na qual os antigos povos (assírios, sumerianos) faziam 
inscrições. Considerar como nulotudo quanto se há dito, escrito ou feito anteriormente; desprezar, ignorar. Fonte: 
Dicionário Online de Português-2017. 
32 
 
Também refuta os conceitos racionalistas, de que o conhecimento é inato, já 
que para Diderot todo o conhecimento provém de experiências sensíveis. Suas 
análises dispensam os conceitos de fé, superstições, mitos e de censo comum como 
fonte de obtenção do conhecimento, já que para ele isso se dá por meio de uma 
evolução química e física da natureza. 
 É preciso ter clareza da natureza do conhecimento do qual Diderot procura 
fundamentar a sua teoria empirista. Para ele a visão não pode ser a única detentora 
do conhecimento, mas um conjunto de sentidos dependentes entre si que formaram 
o conjunto da compreensão das coisas em sua realidade: 
 
É isto que nos leva a confundir juízo com percepção. 
Adicionalmente, não é somente a visão que nos fornece a ideia 
de uma figura convexa de cor uniforme; esta ideia nos é dada 
pela visão em conjunto com juízos baseados em percepções 
anteriores. (ADELE,p.24, 2010) 
 
 Portanto, a visão não pode agir de forma isolada, mas em conformidade com 
o juízo para assim poder articular uma dimensão mais aproximada da realidade. 
Adele (2010) ainda complementa com o exemplo da visão das cores de que o nosso 
olhar identifica um arranjo de cores, mas o que faz a coisa da qual percebemos se 
aproximar da realidade é a sua unidade que está articulado entre espaço, luz e 
dimensão, ou seja, um conjunto de sentidos. Assim, um conhecimento que leva em 
consideração apenas a visão poderá também acarretar limites para a atividade 
perceptiva do homem. 
 Diderot começa o ensaio falando sobre como teria mostrado ao senhor de 
Réaumur o interesse de acompanhar a cirurgia de retirada da catarata dos olhos da 
filha desse magistrado. Destacou a sua decepção por não ter sido chamado para 
testemunhar o acontecimento, mesmo depois de mostrar respeitosamente que 
gostaria de estar presente a tal feito. 
 
33 
 
Logo em seguida mostra-se indiferente por não ter ido na casa do magistrado 
durante a operação de retirada da catarata da filha do mesmo, pois tal evento não 
teria cunho filosófico, mas somente seria tratado de forma médica e tratariam 
somente da cura de uma patologia. 
No entanto, Diderot estava mesmo interessado em algo mais profundo do que 
somente a cura de uma doença, mas sim de observar a seguinte questão: Como um 
cego de nascença reagiria quando lhe recobrassem a visão? Nesse sentido, 
compreendemos que o interesse do filósofo está para além de um evento físico, mas 
sim é de natureza epistemológica. Para tanto, podemos observar que suas 
conclusões rompem até com algumas questões da problemática empirista. 
 
“Para chegar a esta conclusão, como veremos, Diderot 
percorre um caminho interessante e genial, e concede ao cego 
uma função mais profunda do que a consideração simples de 
uma dimensão experimental dentro da filosofia moderna. Esta 
mudança de perspectiva, do campo de uma interpretação 
empírica em que o espaço é considerado como principal 
elemento que conduz à aquisição de conhecimentos de um 
cego de nascença, para um campo mais especulativo, em que 
se questionará o cego sobre como ele concebe a luz e a visão, 
abre a possibilidade para que se explique, por meio da 
privação de visão, o próprio mecanismo da visão de uma forma 
mais abrangente e profunda.” (ADELE, 2010, P.32) 
 
O interesse pela investigação do conhecimento não será o único interesse do 
filósofo. Essas considerações são também importantes para compreender o 
intercâmbio dos sentidos para o conhecimento. Segundo Adele (2010) esta relação 
será importante para definir o lugar que a experiência ocupa entre os sentidos e o 
conhecimento. 
Diderot começa o ensaio falando sobre a rotina do cego de Puissieux, 
mostrando que o mesmo não era um personagem fictício, mais sim um homem que 
tinha algum conhecimento sobre botânica, sobre outros assuntos, era filho de um 
professor de filosofia e que também era casado. Diderot então faz referência de 
como os cegos são amigos da ordem, usando como exemplo o cego de Puissieux e 
34 
 
de que todos os que o rodeiam passam a desfrutar dessa ordem, seja pela 
convivência, ou seja, por um sentimento de solidariedade para com eles. 
 
“A dificuldade que o cego têm em recuperar as coisas perdidas 
torna-os amigos da ordem; e eu me apercebi que os que dele 
se aproximam familiarmente partilham dessa qualidade, seja 
por efeito do bom exemplo que proporcionam, seja por um 
sentimento de humanidade que alimentam para com eles”. 
(DIDEROT 1979, P.27/28) 
 
Chegamos à casa de nosso cego por volta das cinco horas da tarde e 
encontramo-lo ocupado em fazer o filho ler com caracteres em relevo: não havia 
mais de uma hora que se levantara; pois deveis saber que o dia começa para ele 
quando termina para nós. Seu costume é dedicar-se a seus negócios domésticos e 
trabalhar enquanto os outros descansam. 
À meia-noite, nada o perturba; e ele não constitui incômodo a ninguém. Seu 
primeiro cuidado é pôr no lugar tudo quanto foi posto fora do lugar durante o dia; e 
quando sua mulher acorda, encontra comumente a casa arrumada de novo. 
A dificuldade que os cegos têm em recuperar as coisas perdidas torna-os 
amigos da ordem; e eu me apercebi que os que deles se aproximam familiarmente 
partilham dessa qualidade, seja por efeito do bom exemplo que proporcionam, seja 
por um sentimento de humanidade que alimentam para com eles. 
Como seriam infelizes os cegos sem as pequenas atenções dos que os 
rodeiam. Nós próprios, como seríamos de lastimar sem elas! Os grandes serviços 
são como grandes peças de ouro ou de prata que a gente raramente tem ocasião de 
empregar; mas as pequenas atenções são moeda corrente que se tem sempre à 
mão. 
Em seu ensaio pontuado na Carta sobre os cegos, o filosofo explora o 
exemplo do ilustre matemático cego Nicolas Saunderson, professor em Cambridge e 
inventor de uma aritmética palpável professando as matemáticas na universidade de 
Cambridge com um êxito espantoso. Deu lições de óptica; pronunciou discursos 
35 
 
sobre a natureza da luz e das cores; explicou a teoria da visão; tratou dos efeitos 
das lentes, dos fenômenos do arco-íris e de várias matérias relativas à vista e a seu 
órgão. 
Nas Adições à carta, Diderot relembra e sintetizam suas discussões com a 
jovem cega Mélanie de Salignac que considerava a geometria a verdadeira ciência 
dos cegos na qual acrescentava: “O geômetra passa quase toda a sua vida de olhos 
fechados.” (Diderot, 1998, p. 161). 
Ao propor -lhe um problema de geometria a partir de um cubo – questão que 
a jovem cega resolveu brilhantemente, sem titubear, o filósofo, fascinado, lhe 
pergunta: “onde a senhora vê isso?”. Como resposta, a jovem cega responde de 
modo direto e apropriado: “Em minha cabeça, como o senhor.” (Diderot, 1998, p. 
161). Nas Adições à carta(1782), publicadas por Diderot décadas mais tarde, o olho 
é explicitamente tratado como uma “tela viva”, uma tela de uma delicadeza e 
perfeição extremas. 
Aliás, o próprio privilégio do sentido da visão, pelo menos desde a filosofia 
socrático-platônica, auxiliou e permitiu uma matematização das relações de 
percepção (e de conhecimento) apta a evacuar as incertezas próprias ao puro 
sensível. Esse mesmo privilégio direcionou o tratamento da percepção para o campo 
do espaço, esquivando o vetor (e o complicador) da temporalidade. 
 
 A analogia visão/tato, o modelo da câmera obscura, a noção espacializada da 
percepção e o exemplo da cegueira prevaleceram também ao longo do século XVIII. 
Evidenciam-se, por exemplo,na Carta sobre os cegos para o uso dos que veem, de 
Denis Diderot (1749). Embora Descartes e Diderot possam ser situados no mesmo 
modelo da câmera obscura, há, entretanto, algumas diferenças interessantes, no 
tocante ao tema da produção de imagens, entre a Dióptrica e a Carta sobre os 
cegos. 
Traçando um contraponto nesse episódio, supõe-se que a causa desta 
detenção se vista mais aprofundada revela ir de encontro a situação política e social 
da França de Luís XV. Época em que havia a cobrança de pesadas cargas 
tributárias decorrentes das despesas bélicas contraídas,assim como ao luxo da corte 
36 
 
e as ostentações sem medida de Madame Pompadour2, provocando violentas 
murmurações populares, seguida de sátiras e panfletos escritos pela classe dos 
intelectuais divulgando os desmandos reais. 
O governo replica com severa repressão, em cujo âmbito foi provavelmente 
enquadrado o autor de LesBijouxIndiscrets, sendo a sua Carta Sobre os Cegos, que 
foi publicada anonimamente, incluída entre as obras que estariam exercendo efeitos 
deletérios, por seu chocante sensualismo epistemológico. 
 
 Enquanto em Descartes prevalece a metáfora da impressão – os objetos 
externos se imprimiamno fundo do olho –, em Diderot a produção de imagens passa 
a ser remetida ao mimético, mais especificamente à pintura: no fundo dos olhos, 
como em uma tela, miniaturas do mundo visível seriam pintadas com admirável 
exatidão (Diderot, 1998, p. 136-138). Nas Adições à carta (1782), publicadas por 
Diderot décadas mais tarde, o olho é explicitamente tratado como uma “tela viva”, 
uma tela de uma delicadeza e perfeição extremas. 
Em conformidade com as mesmas leis da reflexão e da refração de base 
newtoniana, Diderot explica então que o ar que atinge o objeto se reflete em direção 
ao olho, que recebe assim uma infinidade de impressões diversas. Essa variedade 
pintaria,segundo o autor, os objetos miniaturizados na tela viva do olho. 
 
3.1 CONHECENDO O FILÓSOFO DIDEROT 
 
Diderot nasceu na pequena cidade francesa de Langres, a 8 de outubro de 
1713, filho de um cuteleiro chamado Didier e sua mãe, chamava-se Angélica. Desde 
cedo seus familiares, pensaram em encaminhá-lo ao sacerdócio, isso porque na sua 
descendência do lado materno, havia vários deles, na função clerical. 
 
 
2
Jeanne-Antoinette Poisson, ou Madame de Pompadour, apelidada como Reinette ("rainhazinha" em 
francês), foi uma cortesã francesa e amante do Rei Luís XV da França considerada uma das figuras francesas 
mais emblemáticas do século XVIII. Dotada de inteligência, encanto, beleza, era ao mesmo tempo uma mulher 
fria, em termos físicos e na alma, vivia seu papel como de uma secretária confidencial do Rei. 
37 
 
Em assim sendo, ingressa no colégio jesuíta da cidade natal, onde se revela 
brilhante aluno, sobretudo em latim e matemática e na tenra idade de treze anos, 
recebe a tonsura, veste a sotaina e é chamado senhor abade. Essa nova função, 
agrada a todos os parentes, que pensam está o pequeno Diderot disposto a seguir a 
carreira eclesiástica, no que são de plano, desiludidos, pois este desejava tão 
somente estudar e seguir a Paris para ali, ingressar no Colégio Louis, Le Grand, 
onde estudara anos antes, Voltaire. 
O estudioso Diderot se entrega aos estudos da lógica, física, moral, 
matemática e metafísica, disciplinas curriculares do ensino da época, revestidas em 
roupagem aristotélica e teológica. Em 1732 torna-se “maîtredesarts” pela 
Universidade de Paris revelando-se um autodidata era possuidor de considerável 
erudição nos idiomas da língua grega, italiana e inglesa, fruto do esforço pessoal 
dispendido. 
Em virtude de não seguir a caminhada sacerdotal e as necessidades da vida 
cotidiana, necessitando ser satisfeitas, não pode contar com o apoio familiar que se 
opunham a sustentar um intelectual, fazendo com que Diderot se torne procurador, 
mas essa profissão lhe foi tão desagradável que a abandona dois anos depois. 
Passa necessidades e até fome. Chega a pedir dinheiro emprestado, sem poder 
quitar as dívidas contraídas. Então para matar sua fome e ter suas carências 
saciadas, leciona aulas de matemática e passa a redigir sermões para sobreviver. 
Em 1741, encontra uma atraente mulher com apenas 31 anos de idade, 
Antoinette, filha de uma pequena comerciante de confecções. Decide casar-se com 
ela, mesmo sob os protestos do pai, que chega a solicitar sua prisão. No ano de 
1744, nasce sua primogênita filha aquém deu o nome de Angélica, talvez em 
homenagem a sua mãe. 
Mesmo assim, não lhe faltaram problemas de subsistência que voltam a lhe 
atormentar. Em virtude dessa problemática, surge um abismo entre o casal que se 
intensifica cada vez mais: Antoinette, era aquela mulher que representava o 
prosaico, a ordem, a limpeza, a ignorância, enquanto nosso filósofo Diderot é 
boêmio, desordenado e muito inteligente.Não satisfeito com sua desagregada vida, 
Diderot arranja uma amante, a Senhora de Puissieux, esta também era possuidora 
de firmes problemas econômicos. 
38 
 
 
Em 1746, escreve e publica Os Pensamentos Filosóficos, que lhe rendem 
cinquenta luíses provocando sua condenação pelo Parlamento de Paris. Nesses 
escritos, estavam estampados os direitos da razão e da crítica diante da fé e da 
revelação, e isso soou altamente perigoso às autoridades. 
Da mesma época, datam peças de teatro (O Filho Natural e O Pai de Família), 
novelas (A Religiosa e O Sobrinho de Rameau) e outros escritos como Carta sobre 
os Surdos-Mudos, Pensamentos sobre a Interpretação da Natureza, Discurso sobre 
a Poesia Dramática e os Salões. Em 1769 escreve Diálogo entre D‟Alembert e 
Diderot, O Sonho de D‟Alembert, e a Continuação do Diálogo. 
Na década seguinte, continua a extensa obra: Suplemento à Viagem de 
Bougainville, Diálogo de um Filósofo com a Marechala, Ensaios sobre os Reinados 
de Cláudio e Nero, Lamentações sobre o meu Velho Chambre, Colóquios de um Pai 
com seus Filhos, Paradoxo sobre o Comediante; Jacgues, o Fatalista e Elementos 
de Fisiologia. 
Além do trabalho na Enciclopédia e da redação desse extenso número de 
obras (e a lista não inclui tudo, tendo boa parte permanecida inédita até o século 
passado), Diderot viaja bastante e mantém muitas relações de amizade fora da 
França. Em 1772, passa pela Holanda e dirige-se para São Petersburgo, onde é 
acolhido pela Imperatriz de Todas as Rússias, Catarina, a Grande. 
A imperatriz compra sua biblioteca (devendo ser entregue após sua morte) e 
o encarrega de redigir um programa para a organização das universidades russas e 
uma edição abreviada da Enciclopédia. Quando Diderot regressa, em 1774, 
encontra bem mudada a atmosfera da França, com a ascensão de Luís XVI ao 
trono. 
Procura, então, viver mais tranquilamente, refugiando-se no ambiente 
campestre. Corresponde-se com a última amante, Sophie Volland, e as cartas 
formam um conjunto extremamente interessante, do ponto de vista do pensamento 
de seu tempo. A morte de Sophie, em 1784, abate-o profundamente. E, cinco 
meses depois, no dia 30 de julho, morre ao sofrer um ataque de apoplexia. Um dia 
antes, no apartamento que tinha sido colocado à sua disposição pela imperatriz 
39 
 
Catarina, afirmara a um dos amigos que viera fazer-lhe uma visita: “O primeiro passo 
para a filosofia é a incredulidade”. O que é o mundo? 
Essa indagação e incerteza em Diderot, contudo, não significa que ele tenha 
sido dentro da história da filosofia, um representante das doutrinas céticas. Seu 
pensamento se insere nas correntes materialistas resultantes do desenvolvimento 
das ciências naturais. Estas,por sua vez, têm suas origens nos fins da Idade Média, 
quando o homem europeu deixava de organizar-se exclusivamente em torno da 
ideia de Deus e voltava suas atenções para o mundo material. 
Estava ainda em pleno gozo de suas faculdades mentais quando escreveu: 
“eu ajo e reajo como uma massa; morto, eu ajo e reajo sob a forma de moléculas. 
Nascimento, vida, decadência são apenas mudanças de forma”. Nesse estudo 
filosófico irrompido intimamente e associado ao surgimento da concepção de 
indivíduo moderno refletindo acerca da singularidade que o sujeito estabelece em 
relação ao mundo. 
Se pode afirmar que o século XVIII foi de grande importância para o saber e a 
cultura, pelas transformações no pensamento, propiciando o desenvolvimento 
acerca da arte e no modo diferente de expressar-se. É na história do pensamento 
que se percebe a mudança de perspectiva, passando por um processo de 
transformações e adequação ao contexto histórico, dai ser importante analisar o que 
ocorreu no mundo da cultura especificamente no campo filosófico. 
Na análise das questões de sua época na tentativa de refletir acerca da 
realidade, Denis Diderot trabalha a problemática por meio da reflexão filosófica cujos 
questionamentos continuam dialogando e discutindo com a atualidade. 
Suas obras reveladoras traz um panorama da situação em que se encontra a 
sociedade do século em que viveu, abordando a moral, os costumes e a 
organização social nos povos, porém apesar desta gama de interpretações, o foco 
desse estudo,procurou identificar os elementos primordiais à compreensão do 
empirismo na Idade Moderna apresentados por Denis Diderot no cenário histórico da 
(Revolução Industrial na Inglaterra - 1760, da Revolução Francesa - 1789, da 
consolidação do capitalismo industrial e liberal, a questão social, dentre outros). 
 
40 
 
Foi considerado um século revolucionário caracterizado por um grande 
desenvolvimento cultural, é neste contexto que esse pensador desenvolveu suas 
diversas e polêmicas reflexões. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
4 O ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL E SUA EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL 
AO LONGO DOS TEMPOS. 
 
 
Neste capítulo será abordado o processo de aprendizagem do aluno com 
deficiência visual ao longo dos tempos, caracterizando-se esse estudante em sua 
limitação visual. 
A comunicação teve um papel preponderante ao longo da evolução humana, 
pois desde a pré-história até os dias atuais percebe-se a necessidade humana em 
se comunicar. Por esse meio, a comunicação, foi possível estabelecer relações 
socioculturais que culminaram no crescimento e na evolução da sociedade. 
Vivemos atualmente na era da informação, da comunicação, das redes 
sociais e da tecnologia que avança em ritmo acelerado, por isso mesmo, os desafios 
que se apresentam, faz surgir uma nova sociedade, gerando constante mudança. É 
do mesmo modo, sabido e afirmado pela ciência que o homem foi o iniciador e é 
aquele que perpétua e continua a construir sua História, conjunto de ações 
transformadoras que geram os fatos sociais tornando-se marco referencial das 
várias épocas e situações. Por isto, em meio a esse celeiro de inovações 
tecnológicas, a presença do homem jamais deve ser esquecida ou dispensada 
nesse fazer social. 
Sabemos ainda que a visão é o mais importante canal de relacionamento do 
individuo com o mundo exterior. Nessa perspectiva a cegueira sensorial vem sendo 
tratada e representada através dos tempos, como sinônimo do medo, superstição e 
ignorância. Tanto é que na Idade Média, a cegueira chegava a ser considerada 
castigo ou bênçãos dos céus. 
E nesse panorama se encontram as pessoas com deficiência experimentando 
indiferenças, exclusão e preconceitos diante de um Estado que ainda se mostra 
incapaz de garantir igualdade de oportunidades no acesso à educação, a 
empregabilidade, ao lazer, a informação, a acessibilidade. Em meio a tanta 
inovação, ainda há um mundo de escuridão para as pessoas cegas, basta 
presenciar as representações sociais, a elas destinadas, nesse sentido, certo está 
42 
 
Lukes (1973, p. 149) ao afirmar que "qualquer forma de ver é igualmente uma forma 
de não ver". 
 
4.1 DEFICIÊNCIA VISUAL: CONCEITOS, AÇÕES PREVENTIVAS 
EDUCACIONAIS 
 
 Em nossa face, simetricamente dispostas, encontram-se duas cavidades 
ósseas a que chamamos órbitas, que visam melhor acomodar os globos oculares e 
seus acessórios. Com uma constituição inicial de três túnicas concêntricas 
localizadas na parte da frente do crânio que são: túnica externa protetora composta 
pela córnea e a esclera ou esclerótica; túnica média ou vascular que compreende a 
caróide, corpo ciliar e íris; e túnica interna que corresponde à retina. 
Os olhos são considerados quase esféricos e, em um adulto, tem por volta de 
24 mm de diâmetro ântero-posterior e 12 mm de largura. Eles podem mover-se 
livremente. As sobrancelhas, os cílios e as pálpebras funcionam como protetores do 
globo ocular, impedindo que corpos estranhos, poeira, caiam dentro dos olhos, e 
ainda funcionam como proteção e diminuição de exposição aos raios solares e para 
que líquidos não cheguem aos olhos. 
O seu funcionamento é comparado ao de uma câmara fotográfica e seus 
componentes: filmes, lente e luz, no olho, associam-se à lente da câmara ao 
cristalino e o filme à retina; quanto à luz, desempenha a mesma função em ambas 
as situações. O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (1988) nos mostra que “as 
qualidades ópticas do olho são tais que a imagem de um objeto situado longe do 
olho, forma-se sobre a retina. O raio incidente é focalizado sobre a mácula, graças 
ao poder convergente da córnea e do cristalino” (p. 14). 
A acomodação tem que ser tanto maior quanto mais próximo do olho estiver o 
objeto. Esse poder de acomodação do cristalino diminui com a idade. Assim, a partir 
dos 40 anos, a pessoa fica présbita e para conseguir ler, tem que afastar dos olhos o 
objeto que pretende ler. Isso decorre da perda da elasticidade do cristalino, o qual se 
corrige por lentes convergentes, montadas em óculos para leitura. 
 
43 
 
Cada olho recebe e emite uma imagem; mas, ao fixar-se um objeto, nós o 
vemos como um só. Para que as imagens se cruzem, é necessário que elas sejam o 
mais semelhantes possíveis, em forma, tamanho, cor e intensidade; e que estas, 
pressionem o mesmo local do cérebro, isto é, o sistema sensorial deve estar íntegro, 
assim como o sistema motor; que o cérebro realiza a visão binocular, isto é, fundir as 
duas imagens em uma percepção visual única. Nas crianças, a visão binocular se 
completa por volta dos cinco anos de idade, ela se desenvolve progressivamente e 
possibilita a dimensão do campo visual. 
Sabemos que 85% do relacionamento com o ambiente em que vivemos é feito 
através da visão, isso porque o ser humano já nasce programado para enxergar, 
dependendo por isso, do sentido da visão mais do que dos demais, para a relação 
com o meio ambiente. São os olhos que captam uma enorme quantidade de 
informações, portanto, qualquer „defeito‟ nesse órgão compromete, em maior ou 
menor extensão, o desenvolvimento das aptidões intelectuais e psicomotoras, 
interferindo na vida escolar e profissional daquele que possui uma deficiência visual. 
Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), e o Conselho Internacional 
para a Educação de Pessoas com Deficiência Visual (ICEVI) em reunião promovida 
em julho de 1992, em Bangkok, Tailândia, com base em diagnóstico médico 
oftalmológico, discutiram e elaboraram uma nova definição, consubstanciada em: 
 
 Cego: o indivíduo que possui

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