Buscar

Poesia Lírica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Literatura Clássica – Poesia Lírica Romana
Apontamentos: Poesia lírica romana 
Romanos → primeiras manifestações poéticas → características pré-literárias↓ 
↓ 
Formas líricas » hinos 
→ Cânticos religiosos 
→ Licenciosos 
→ Heróicos 
→ Triunfais 
→ Funerários 
↓ 
Depois 
 Esse arcabouço cultural sofrerá influência da literatura grega.
Cânticos religiosos → dois grupos principais: 
Sálios (Fratres Salii) e Arvais (Fratres Arvales)
Os Sálios 
→ Carmina Saliorum / Saliaria 
→ Sacerdotes / culto de Marte 
→ Custódia dos escudos de guerra consagrados a Marte 
Procissões religiosas → final do outono 
→ recolha rebanhos 
→ início da primavera 
→ volta às pastagens 
↓ 
Ritual: ● Canto e dança 
● Roupas especiais 
● Percussão: bastões X escudos de Marte 
↓ 
Tipo característico de marcação rítmica que acompanhava os cânticos.
Os Arvais 
→ Carmina arvalia 
→ Confraria de sacerdotes ● divindades da paz 
● deuses agrestes 
● proteção do trabalho 
agrícola. 
\→ Festividades religiosas → mês de maio 
\→ Cânticos monótonos e repetitivos 
● Fragmentos em escavações 
modernas 
● Língua arcaica 
\→ Escritos em época muito 
remota.
Cânticos funerários 
→ nênias (naeniae) 
● Cunho ridículo 
● Cantores e carpideiras profissionais 
\→ Funerais de mortos ilustres 
\→ Posteriormente → elogios fúnebres.
Lirismo literário 
● Contatos com a Grécia (Tarento, 272 a.C.) 
● Hino a Juno (Roma, 207 a.C.) 
\→ Moldes da literatura helênica 
\→ Lívio Andronico (280-204 a.C.) 
\→ Compositor e “maestro” 
\→ Coral de vinte e sete moças 
Fato isolado no tempo
Poesia lírica em Roma 
\→ Séc. I a.C. 
\→ Gosto pelos cânones alexandrinos. 
\→ O melhor séc. 
alexandrino: III a.C. 
Ou “modernistas” 
ou absolutamente interessados em praticar a forma
Divulgação → +- 70 a.C. 
● O poeta grego Árquias 
● Partênio de Nicéia 
=> escravo grego 
=> revelou a poesia alexandrina 
\→ a Cornélio Galo 
\→ grande incentivador 
da poesia entre os 
romanos 
● Antologia de poemetos gregos: Meleagro de Gádara
Tendências ―modernistas‖ → boa acolhida em Roma 
● Valério Catão 
\→ teorizador da nova corrente 
● Lévio 
\→ Jogos eróticos (Erotopaegnia) 
\→ poemetos curtos (Hoje: fragmentos) 
\→ erotismo 
\→ mitologia 
\→ atualidades 
\→ Vida cotidiana 
\→ Gosto pelo comum 
Corriqueiro.
“Poetas novos” 
\→ Os neo-alexandrinos 
\→ neoteroi — poetae noui 
● Licínio Calvo 
● Hélvio Cina 
● Varrão de Átax 
● Catulo 
\→ desbravadores 
\→ mas resta pouco 
material 
X 
Tradicionalismo 
Cícero
Catulo → 87/84 - 54-52 a.C. 
Vida conturbada → Clódia / Cláudia / Lésbia 
\→ conhecida pela 
liberalidade dos seus 
costumes 
Musae 
\→ figuras literárias, criadas provavelmente por 
influência alexandrina. 
\→ Catulo → Lésbia 
\→ Tibulo → Délia / Nêmesis 
\→ Propércio → Cíntia 
\→ Ovídio → Corina
Produção de Catulo 
\→ Catuli Carmina → 116 poemas 
\→ Bastante variada → assunto e estilo 
● Primeiro grupo poemas 1-62 
Com a musa Lésbia 
\→ ampla gama de sentimentos e situações 
 Textos curtos 
 Linguagem viva e espontânea 
 Poemas de amor + poemas de circunstância 
Poemetos de circunstância 
● Amigos 
● Flagrantes da vida romana 
● Atividade política 
● Usos, costumes, etc. 
\→ nugae 
Exemplo na literatura brasileira: Manuel Bandeira 
Pensão familiar 
 Segundo grupo (62-69) 
Oito poemas 
Longos, eruditos 
Grande preocupação com o aspecto formal / 
Linguagem ornamentadíssima requintada 
Abundância de figuras
Temática: 
 Priapéia e Himeneu 
 Lendas mitológicas 
 Um paraklausithyron 
 Elegias pessoais
Terceiro grupo 70 -116 
● Inspiração: Arquíloco e Safo 
● Epigramas (dísticos) 
● Alvo: amigos e pessoas da sociedade romana 
● O tom galhofeiro / picante / mordaz 
● Lésbia volta a aparecer. 
Lésbia: um longa metragem de Catulo
CONCLUSÃO DE CATULO 
Catulo praticamente criou, sob inspiração alexandrina, a lírica romana no seu conteúdo anímico, de amor, na sua expressão, às vezes, plácida, mas quase sempre violenta e apaixonada. 
O tipo de poesia praticado por Catulo e seus companheiros de estética neoteroi (poetae noui, ou modernos, ou de vanguarda) prescrevia que o fazer poético pode elaborar toda e qualquer matéria, desde que a ars do escritor a transfigure, transformando-a, por meio da palavra, num objeto a ser fruído.
Assim, a grande nova mensagem catuliana não é aquela forma de arte, insólita na sua erudição, temperada de graça e variedade expressiva, mas a revelação, admirável para os romanos, de como é possível fazer-se poesia dos assuntos mais corriqueiros de todas as coisas e de todas as horas.
Em conseqüência de sua opção artística, maduramente refletida, os poetas da geração de Catulo concluem a lenta conquista, para a literatura latina, e sob o influxo da poesia helenística, do respeito à atividade poética como ideal em si mesmo: a partir deles, nenhuma dúvida mais de que a finalidade da arte é provocar prazer estético, ficando-lhe subordinados os demais valores.
Elevando a forma literária a um grau de refinamento e elaboração jamais alcançado até aquele momento, na poesia latina, burilando o poema como um joalheiro a uma pedra preciosa, abandonarão as preocupações nacionalistas e moralizantes que ainda acossavam poetas medíocres, como o Volúsio que Catulo ataca nos versos em que chama seus enianos Anais de cacata carta, que é preciso traduzir catulianamente de «papel cagado».
Catulo foi, sem dúvida, um dos maiores líricos romanos. Versátil e talentoso, soube combinar, e alternar, a brincadeira e a seriedade, a ironia e o sentimentalismo, o estilo elegante, caracterizado pela riqueza vocabular e pela abundância de figuras, e a linguagem popular, eivada de modismos, de diminutivos, de expressões do dia-a-dia, extraídas das formas coloquiais. com suas qualidades, sensibilidade e técnica, foi Catulo um digno precursor da poesia que iria atingir seu nível mais alto nos dias brilhantes de Augusto.
Apontamentos: Poesia lírica romana
A poesia lírica na época de Augusto 
Depois de Catulo, hiato na produção romana 
Época de Júlio César [100 – 44] 
\→ prosa → estabelecimento do latim clássico 
● Cícero → oratória / retórica 
● Salústio, César → historiografia 
Época de Augusto → período áureo da poesia latina 
\→ gêneros épico e lírico 
Poetas importantes 
● Tibulo ● Propércio 
● Virgílio ● Horácio 
● Ovídio
Vários fatores contribuem 
● linguagem poética estruturada 
● vocabulário enriquecido 
\→ importações do grego 
\→formações neológicas 
● sintaxe latina fixada + ●sintaxe grega imitada 
● os modelos literários difundidos 
\→ gregos \→ alexandrinos
● Augusto → grande incentivo 
≈ Construção de bibliotecas 
≈ Financiamento de os escritores 
\→ /divulgação: idéias/ideais de \Augusto 
↑ 
Pax romana → relativo equilíbrio 
↓ econômico/social/militar → reconstrução 
\ de Roma 
↓ 
Primeiro triunvirato → Segundo triunvirato → 
↓ 
IMPÉRIO 
César Otávio 
Pompeu M. Antonio 
Crasso Lépido
Ascensão de Otávio: dois nomes (líricos) 
/ \ 
Virgílio Horácio 
\→ Bucólicas (41 – 37 a.C.) | 
↓ 
Epodos (a partir de 41 a.C. – publicados por volta de 30) 
Sátiras, escritas 
(40 – 30) 
Odes
Poetas do momento 
Tibulo e Propércio → elegia 
≈ dísticos 
Poesia elegíaca → ≈ caráter intimista e pessoal ↓ individual 
Em Roma → amor 
| \→contorno sentimental e subjetivo 
↓ 
\→ mitologia 
erotismo 
passionalismo composto de 
\→paixão amorosa / tristeza + alegria 
| 
\→ avulta a experiência amorosa → convenção 
\→ dor e 
sofrimento do eu-poético
Outros convencionalismos 
 Musa — pseudônimos (Lésbia, Délia, Nêmesis, Cíntia, Corina.) 
 O eu-poético → peritus amoris‖ 
\→ a experiência ajuda os prisioneiros de Eros. 
 Militia amoris→ paralelismo entre o amor e 
guerra 
 Seruitio amoris 
 Carpe diem 
 Exortação à paz 
 Vida no campo: fugere urbem 
 Cultivo da paupertas 
 Aurea mediocritas 
 Paraklausithyron 
O lirismo de Tibulo (Albius Tibullus,55-19 a.C ) 
 Doçura dos sentimentos amorosos 
 Melancolia das complicações afetivas (Délia ou Nêmesis) 
 Recusa à guerra e ansiosa busca da paz 
 Velhice desprezada pelo amor 
 Cultivo da simplicidade de vida, pelo bucolismo 
 Graves reflexões sobre a morte 
 Sugestão de sinceridade, simplicidade, harmonia → cativantes 
Tibulo / Horácio → inspiração comum 
- a idéia da moderação dos desejos 
- a invectiva contra o luxo e a corrupção 
- o despeito amoroso 
Tibulo / Virgílio→ inspiração comum 
- poesia => coletânea de imagens, idéias, representação de sentimentos (―colcha de retalhos‖) 
≈ Círculo literário de Messala Corvino 
≈ Corpus Tibullianum 
≈ Sulpícia → Mulher escritora? 
\→ Eu-poético feminino?
Os amores cantados por Tibulo são personalizados 
\→ mas também: ajuda da comparação com amores mitológicos 
\→ mas também com a evocação de passagens eruditas 
mas sem exageros…
O lirismo de Propércio (Sextus Propertius, 50 a 15 a.C.) 
\→ quatro livros de Elegias 
- Propércio 
\→ círculo de Mecenas [braço direito de Augusto] 
- Eu-poético: sincero e ardente 
\→ conta os seus próprios amores 
(implicação de dados 
autobiográficos de Propércio) 
MITOLOGIA presente em todos os instantes 
| 
\→ linguagem apela para o convencional da cultura 
antiga → poesia culta 
\→ erudição e barroquismo 
Cíntia 
\→ um amor trágico e atormentado 
\→ resultados → tristeza e 
Desilusão
Enfim, com Tibulo e Propércio a elegia toma em Roma uma inflexão muito pessoal em seu discurso amoroso, inflexão desconhecida para os alexandrinos.
Apontamentos: Poesia lírica romana
A poesia lírica na época de Augusto 
Horácio (Quintus Horatius Flaccus, 65-8 a.C.) 
● Contemporâneo de Tibulo e Propércio 
● Amigo pessoal de Virgílio 
● Desertor de Filipos 
● Virgílio o apresenta a Mecenas 
Horácio é o poeta da romanidade 
- dirige-se aos deuses, como bom mortal 
- relembra lendas mitológicas, 
- exalta o civismo e o espírito patriótico, 
- mas não se sente chamado para a ―grande‖ poesia, 
altissonante, 
- não lhe agradam os valores que a grande poesia explora 
↓ 
●o esporte, 
●a guerra, 
●as aventuras marítimas, 
● as violentas paixões. 
Produção lírica >> ● Sátiras | ● Epodos | ● Odes 
Estréia de Horácio em literatura → Sátiras
A sátira 
=> A sátira é uma peça literária (ou artística, generalizando) que expõe um determinado tema/motivo (em nível de indivíduo ou de sociedade) por meio de crítica cujo objetivo é o de estimular uma conscientização (em nível de indivíduo ou de sociedade) que estimule/provoque/promova a mudança do objeto focalizado. 
=> É necessário que a crítica se dê por meio de uma dose maior ou menor de humor, o qual se produz a partir de zombaria, direta ou ironicamente em relação ao objeto da própria sátira. 
Leve-se em conta, em português, a riqueza da sinonímia de zombaria como atitude do poeta satírico em relação ao objeto satirizado: achincalhação, apupo, bisca, brincadeira, burla, caçoada, chacota, debique, deboche, derrisão, desfrute, dichote, escárnio, galhofa, gozação, gracejo, ironia, jocosidade,ludíbrio, malhação, mangação, mofa, pilhéria, remoque, ridicularização, sarcasmo, sátira, troça, etc. 
Evidentemente é muito comum o menosprezo ao objeto da crítica.
Poetas satíricos romanos: 
● Lucílio (184 - 102 a. C.) 
● Horácio (65 – 08 a.C.) 
● Pérsio (34 d.C - 62 d.C.) 
● Juvenal (±60 – ±130 d.C) 
Prosador (prosa de ficção, romance): 
● Petrônio (meados do séc. I d.C.)
Sátiras (Sermones) de Horácio 
Talvez compostas a partir de 29 a.C. 
Publicadas por volta de 35 a.C. 
Contra os defeitos humanos: 
● insatisfação 
● inveja 
● prodigalidade, 
● avareza, 
● ambição insaciável, etc. 
● inconstância 
● etc.
Os Epodos 
Os Epodos de Horácio são um grupo de poemas da juventude. Embora muitos desses poemas sejam singelas composições literárias de grande delicadeza, em geral os epodos de Horácio são poemas de gênero baixo cheios de agressividade e de grosserias que não se repetem nos poemas de sua fase madura. Assemelham-se muito aos iambos gregos, dos quais são um desenvolvimento romano.
O modelo para os epodos de Horácio é Arquíloco de Paros (± 650 a.C.), conhecido poeta grego, virulento, sarcástico, feroz. Em geral, distinguem-se das sátiras propriamente ditas pelo tamanho, sensivelmente menor, e pelo fato de frequentemente designarem nominalmente seu objeto de crítica ou sarcasmo. 
Os Epodos de Horácio podem ser considerados contrapartida das Odes, pois, enquanto estas ocupam o lugar do elogio, via de regra, operando subgêneros líricos como o epinício, o encômio, o hino; os Epodos operam unicamente o vitupério, provocando a invectiva contumaz e feroz e emulando com os poetas líricos gregos arcaicos como Arquíloco de Paros e Hipônax. 
Enquanto nas odes, Horácio salienta virtudes ligadas a ascendência, educação, amizades, riqueza, cidadania, poder, glória, nos epodos Horácio visa aos vícios concernentes a eles. 
Depois das Sátiras e dos Epodos Horácio compõe.
● Epístolas 
● Canto secular
 Odes
O Cântico Secular (Carmen Saeculare) 
| \→ ● Hino em honra de Apolo e | Diana, 
| 
\→ ● Horácio pede aos deuses costumes 
mais puros para os jovens romanos e a volta da paz e da justiça.
Odes, Carmina 
Odes de Horácio 
| \→ O ponto culminante de sua 
| produção lírica: quatro livros. 
| 
\→ Poema cantado (acompanhamento aulo ou lira), de origem grega arcaica, aparentemente simples, que toma um assunto mais ou menos cotidiano – a vida não é matéria exclusiva dos deuses –, mas entoado com dignidade, nobreza, altivez. 
Cônscio de seu valor, e do valor da poesia 
sem humildade ou falsa modéstia, 
De acordo com a tradição e convenção grega.
Horácio 
» Alterna poemas longos e curtos 
» Linguagem muito trabalhada, mas sem exageros 
» Temas diversos em suas odes: 
●juventude, 
●o amor, 
●os prazeres do vinho, 
●a alegria da vida 
Embora polido com as pessoas que lhe são indiferentes, Horácio mostra-se muitas vezes duro, impiedoso e agressivo para com as mulheres que ama. Canídia, por exemplo, é alvo de seus ferinos doestos.
Nas Odes 
\→ revela-se favorável ao programa político, social e moral de Augusto: 
- divulga os princípios da moral antiga 
- elogia a virtude 
- exalta a glória de Roma 
- justifica os métodos empregados pelo princeps para a paz 
- fala do papel da juventude no futuro 
- apregoa a reforma dos costumes 
- glorifica Augusto
É preciso saber aproveitar as ocasiões 
\→ fruindo de tudo que o momento pode oferecer.
O elogio da moderação e da simplicidade 
O desprezo pelas riquezas e pelo luxo
MODERAÇÃO (aurea mediocritas) 
\→ ideal de vida 
\→ ideal do período clássico
Todos os temas individuais e coletivos, o mundo sensível e moral, o homem, a família e a natureza são transferidos em Horácio para o plano poético. Emoções, aspirações, assuntos medíocres e até mofinos de cada dia são o material poético desse pequeno lirismo. Dentre seus temas prediletos encontram-se o orgulho, a avareza, a gula, a cólera, a preguiça, o amor, a inveja, a amizade, a vida de família. 
Ao contrário de Catulo, Tibulo e Propércio, Horácio não conheceu o amor, mas ―amores‖: efêmeros e pouco nobres. Parece que o amor lhe penetra pelos olhos, não pelo coração. O que existe para ele é o taeter morbus de Catulo, doença negra que, sem que se a procure, castiga, ulcera impiedosamente o coração: Vênus, com Apolo, lança por todos os lados suas flechas envenenadas. 
Enfim 
O fundamento da moral horaciana pode assim enunciar-se: não deve o homem ceder à fantasia das paixões, nem aos caprichos da sorte; fruirá melhor da felicidade se lhes resistir. 
Esse moralismo imprime à poesia de Horácio uma inconfundível marca de altivez e romanidade.
APONTAMENTOS: POESIA LÍRICA ANTIGA – 2013
Apontamentos: Poesia lírica romana 
Entre os romanos, embora suas primeiras manifestações poéticas tenham sido formas líricas (hinos, canções), pouco se conheceacerca dessa produção incipiente e anônima. Sabe-se, graças a informações posteriores, que os romanos, antes mesmo dos contatos culturais mais profundos com a civilização da Hélade — contatos que se deram durante o séc. III a.C. —, compunham cânticos de diversas espécies: religiosos, licenciosos, heróicos, triunfais, funerários. Nesses cânticos estavam os germes dos gêneros literários que floresceriam mais tarde sob a influência da literatura grega. 
Quanto aos cânticos religiosos, sabemos da existência de dois grupos principais: os cânticos dos Sálios (Carmina Saliorum ou Saliaria) e os dos irmãos Arvais (Carmina Arualium). Os Sálios eram sacerdotes votados ao culto de Marte. Pertenciam a uma confraria muito antiga, instituída, ao que parece, durante o reinado de Numa Pompílio, segundo rei de Roma. Encarregada de custodiar escudos de guerra consagrados a Marte, tal confraria era responsável pela realização de procissões religiosas, ao final do outono, quando os rebanhos retornavam das pastagens pela última vez, para serem recolhidos aos apriscos para se abrigarem dos gélidos tempos do inverno, e no início da primavera, quando tornavam a ser conduzidos aos pastos. Nessas procissões cantava-se e dançava-se. Os sacerdotes usavam roupas especiais e, percutindo com bastões os escudos confiados a sua guarda, criavam um tipo característico de marcação rítmica que acompanhava os cânticos. Os Arvais também pertenciam a uma confraria de sacerdotes. Estes, porém, em lugar de servirem ao deus da guerra, cultuavam divindades da paz, deuses agrestes, protetores do trabalho agrícola. Realizavam festividades religiosas durante o mês de maio, quando entoavam cânticos monótonos e repetitivos, como se pode depreender de fragmentos que se acharam em escavações modernas, no século XVIII. A língua desses fragmentos, de muito difícil compreensão, é arcaica, o que faz supor ter sido escrito numa época muito remota. 
Quanto aos cânticos funerários, também denominados nênias1 (naeniae), sabe-se que, de cunho ridículo, eram entoados por cantores que conduziam um grupo de carpideiras profissionais, durante os funerais de mortos ilustres. As nênias foram posteriormente substituídas por elogios fúnebres. 
Todos esses cânticos têm características pré-literárias. O lirismo só assume dimensões artísticas propriamente ditas quando é composto o primeiro poema-canção de que se tem notícia, nos moldes da literatura helênica: um hino a Juno, escrito em 207 a.C. por Lívio Andronico (Liuius Andronicus — 280-204 a.C.), o mesmo que por volta de 250 a.C. traduziu do grego a Odisséia. Lívio Andronico aparece na história romana durante o período em que Roma faz sua expansão pela península italiana. Não é desconhecida a vitória de Roma sobre Tarento (na Magna Grécia), em 272, nem o fato de ter sido essa cidade do sul da Itália um dos muitos núcleos irradiadores da cultura helênica. Entre os prisioneiros de guerra, levados então para Roma, figurava Andronico, então um adolescente. Tornando-se escravo da família Lívia, adotou o nome desta, como era costume, após a libertação. Desde cedo ocupou-se Lívio Andronico da educação de jovens, chegando a manter uma escola em Roma. Na condição de preceptor e mestre de primeiras letras, esbarrou, entretanto, em uma primeira dificuldade: a falta de textos adequados para o ensino. A educação grega, em sua primeira fase, exige o manuseio de textos literários. É por meio deles que se procedia à alfabetização da criança e que se lhe ministravam as primeiras noções de história, geografia, ética, mitologia e religião. A inexistência de textos para esse fim em Roma levou Lívio a traduzir a Odisséia. Já o hino a Juno, encomendado a Lívio Andronico, foi cantado por um coro de vinte e sete moças por ele ensaiadas. 
Durante o período helenístico, nada mais se pode dizer respeito da poesia lírica. É provável que os velhos cânticos continuassem a ser entoados e que os então compostos não tivessem passado de formas meramente orais, que se perderam para a posteridade.
Embora presente em algumas das tragédias — a despedida de Andrômaca, por exemplo, em A partida de Heitor, de Ênio, revela traços nitidamente líricos —, a poesia lírica, em sua acepção mais restrita, só vai firmar-se, em Roma, no séc. I a.C., quando ali se instala e desabrocha o gosto pelos cânones alexandrinos. 
Alexandria fora, desde sua fundação, no séc. IV a.C., a cidade destinada a substituir Atenas em sua função de centro irradiador da cultura helênica. Fundada por Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, tinha todas as características de núcleo cultural, dispondo de amplas bibliotecas, belos museus e importantes locais próprios para o estudo. Após a morte de Alexandre, Ptolomeu o sucessor do rei, e os seus futuros herdeiros foram grandes incentivadores das artes e das letras. Reuniu-se em Alexandria verdadeira plêiade de intelectuais, eruditos, artistas e poetas, que contaram com as melhores condições para o desenvolvimento de suas atividades. Situando-se no norte da África, no Egito, Alexandria recebeu contribuições da Ásia e da Europa, surgindo ali uma vida artístico-literária sui-generis, com características bastante particulares. A poesia lírica desabrochou — totalmente liberta da música — e encontrou seus grandes representantes em Filetas, Calímaco, Teócrito, Erastótenes, Euforião e outros. 
A poesia lírica antes da época de Augusto 
A epopéia e a poesia dramática desenvolveram-se mais rapidamente que a poesia lírica. Esta, talvez por ser basicamente um gênero popular e oral, demorou um pouco mais em seu desenvolvimento. Embora tenha atingido seu momento melhor nos séc. III e II a.C., a poesia alexandrina só se tornou conhecida em Roma no séc. I a.C., graças à sua divulgação com a publicação de uma antologia de poemetos gregos, por Meleagro de Gádara, e graças à presença, na cidade, de duas figuras ligadas ao mundo poético alexandrino: o poeta grego Árquias, brilhantemente defendido por Cícero2, quando se contestou seu direito à cidadania romana, e Partênio de Nicéia, que, levado a Roma como escravo, obteve sua liberdade, tornou-se amigo de Cornélio Galo, político e poeta, escreveu elegias mitológicas e organizou uma coletânea de poemas gregos. 
As tendências alexandrinas encontraram boa acolhida em Roma. Lévio, poeta que viveu na época de Sila, foi precursor de um movimento poético que iria atingir os dias de Augusto, escrevendo Jogos eróticos (Erotopaegnia), poemetos curtos, de formas variadas, que fundiam erotismo3, mitologia e atualidades e dos quais temos escassos fragmentos. Valério Catão foi o teorizador da nova corrente. O movimento expandiu-se, embora criticado pelos que não viam com bons olhos a nova direção que tomava a poesia. Dos primeiros líricos romanos pouco restou. Os neo-alexandrinos Licínio Calvo, Hélvio Cina e Varrão de Átax tiveram importância no seu tempo como desbravadores de caminhos (mais que inovadores), embora seus poemas praticamente tenham se perdido. Junto com Catulo, formam o grupo dos ―poetas novos‖, os neoteroi, ou poetae noui, como eram denominados. 
Catulo 
Catulo (Caius Valerius Catulus - 87/84 - 54-52 a.C.), jovem rico, descendente de família eqüestre, viveu grande parte de sua vida em Roma; ali travou relações com personalidades importantes da vida política e cultural, freqüentou a sociedade mundana e teria mantido caso de amor com Clódia, mulher de antiga família, e conhecida pela liberalidade dos seus costumes.
Bastante variada quanto a assunto e estilo, a obra de Catulo consiste numa coletânea de 116 poemas a que nos referimos hoje como Catuli Carmina, dedicados a Cornélio Nepos, historiador romano contemporâneo do poeta. Embora não haja nenhum divisão regular na coletânea, os poemas compõem três grupos distintos. 
 Primeiro grupo 
O primeiro grupo compreende os 62 primeiros poemas (1-62). São textos curtos, escritos em uma linguagem viva e espontânea, podendo ser considerados, em sua maioria, pelos temas que exploram, como poemas de amor ou de circunstância. 
Em muitos dessespoemas, Catulo se dirige a uma espécie de musa inspiradora à qual ele dá o nome de Lésbia — assim como em outras mulheres mencionadas na poesia latina — uma figura literária, criada provavelmente por influência alexandrina. Em alguns dos textos dirigidos a Lésbia o tom é alegre, despreocupado, brincalhão.
 Segundo grupo 
O segundo grupo compreende os oito poemas seguintes (62-69), longos, eruditos, que tratam de seus assuntos com uma excessiva preocupação voltada para o aspecto formal, empregando linguagem ornamentadíssima, abundância de figuras, requinte na composição de imagens, segundo as normas do estilo denominado neotérico, importada da Alexandria. Esses poemas apresentam quatro temáticas diferentes. 
 Dois priapeus 
61 e 62, hinos eróticos em homenagem a Priapo5 e Himeneu6 
Três relatos de lendas mitológicas 
63: A automutilação de Átis em homenagem a Cibele; 
64: O casamento de Peleu e Tétis 
66: A metamorfose da cabeleira de Berenice 
 Um paraklausithyron7
 Terceiro grupo 
Os 46 poemas que compõem o terceiro grupo (70 -116) apresentam temática semelhante à dos do primeiro. A métrica, entretanto, os distingue. Nos primeiros poemas, Catulo emprega uma variedade de metros, inspirando-se, principalmente, na poesia de Arquíloco e de Safo — poetas gregos da chamada idade lírica. No terceiro grupo ele apresenta epigramas, empregando, na composição, os dísticos elegíacos, de praxe. Alguns são dirigidos a amigos e pessoas da sociedade romana da época. O tom galhofeiro se alterna, algumas vezes, como picante e mordaz; em outros, a figura de Lésbia volta a aparecer. 
O amor continua a ser protestado com veemência.
Resumo 
É preciso ler os versos no original, para lhes aquilatar a beleza. Catulo inicia já com um insistir numa ambivalência de sentimentos. Anacreonte dissera:
Amo-te e ao mesmo tempo não te amo, 
sou louco e não sou louco… 
Nosso poeta, porém, aproximando pólos extremos numa coordenação, cria um verdadeiro oxímoro, essa coincidentia oppositorum onde a antítese é negada e a contradição plenamente assumida. Notemos como Catulo, com máxima economia verbal, centra seu enunciado no verbo, parte essencial da oração, com sujeito sempre oculto (são oito verbos, nenhum substantivo): expressão eficaz do processo contraditório e ilógico passivamente sofrido pelo apaixonado. Enquanto o grego emite um autojulgamento, nosso poeta prefere arrolar os signos de sua perturbação sem explicitar posicionamento crítico, o qual não é capaz, evidentemente, de elaborar. A um misterioso interlocutor, que — talvez! — lhe indaga como ele é capaz de conciliar afetos tão díspares, operação paradoxal da sensibilidade humana, o poeta responde com a impossibilidade de encontrar uma explicação racional (nescio), declarando-se incapaz de entender seus afetos sob o ponto de vista do senso comum. No entanto, prossegue, sente acontecer consigo (fieri sentio) e com tal se atormenta profundamente (excrucior): da enunciação de um estado afetivo, passa-se à tentativa frustrada de racionalização, e, de novo, à enunciação de um afeto, em movimento circular. 
O exame das formas verbais é revelador. Em Odi et amo , expressa-se, como dissemos, o estado contraditório em que o poeta se encontra; a elisão (O / diet / amo) entre os pares antitéticos reforça a idéia de junção, numa unidade, de sentimentos normalmente excludentes, segundo a experiência do senso comum. Em id facere, o verbo facere, na voz ativa, pressupõe, na pergunta do interlocutor, uma responsabilidade atribuída ao «eu-poético», uma vontade ativa, uma participação voluntária no conflito emocional, referido pelo anafórico id. A resposta que segue contrapõe (sed) a impossibilidade de explicação à verificação pura e simples, passiva, de um estado de facto, passivamente sofrido (fieri). Este verbo significa «ser feito» (também «ocorrer», «acontecer»), mas não se deve subentender um agente da passiva a me («por mim»), como fazem alguns estudiosos da obra de Catulo — esse agente não é expresso, não é precisado, porque nem o próprio poeta o poderia definir, isto é, o que ocorre, faz-se independentemente de sua vontade pessoal. Finalmente, coordenado a sentio, que contrasta com nescio, temos excrucior, com valor médio-passivo e de grande expressividade; significa originalmente «submeter ao castigo da cruz», pena reservada a escravos e, por isso, considerada particularmente infamante. «Torturo-me», diz o poeta: agente involuntário e paciente 
Na amizade e na inimizade põe o mesmo calor que nos transportes amorosos: ao irmão, Catulo consagra versos famosos pela ternura; para com os amigos (amiculi),desfaz-se em manifestações de carinho: Verânio, Camério, Mânlio, Torquato.
Também a natureza move o seu sentimento lírico, como a uenusta Sirmio, pequenos olhos de todas as penínsulas e de todas as ilhas, que o comove e lhe inspira a deliciosa poesia 31.
De seu próprio martírio, o apaixonado consome-se no sofrimento degradante infligido por uma paixão doentia. 
Arte epigramática, lapidar: de um mínimo de palavras, extensa e nuançada gama de significações, em que os sentidos se contrastam (odi-amo, nescio-sentio, faciam-fieri) e se complementam, em tensas relações que configuram inigualável a densidade poética catuliana. 
Também a natureza move o seu sentimento lírico, como a uenusta Sirmio, pequenos olhos de todas as penínsulas e de todas as ilhas, que o comove e lhe inspira a deliciosa poesia 31.
Catulo praticamente criou, sob inspiração alexandrina, a lírica romana no seu conteúdo anímico, de amor e religiosidade, na sua expressão, às vezes, plácida, mas quase sempre violenta e apaixonada. O tipo de poesia praticado por Catulo e seus companheiros de estética neoteroi (poetae noui, ou modernos, ou de vanguarda) prescrevia que o fazer poético pode elaborar toda e qualquer matéria, desde que a ars do escritor a transfigure, transformando-a, por meio da palavra, num objeto a ser fruído. Assim, a grande nova mensagem catuliana não é aquela forma de arte, insólita na sua erudição, temperada de graça e variedade expressiva, mas a revelação, admirável para os romanos, de como é possível fazer-se poesia dos assuntos mais corriqueiros de todas as coisas e de todas as horas. 
Em conseqüência de sua opção artística, maduramente refletida, os poetas da geração de Catulo concluem a lenta conquista, para a literatura latina, e sob o influxo da poesia helenística, do respeito à atividade poética como ideal em si mesmo: a partir deles, nenhuma dúvida mais de que a finalidade da arte é provocar prazer estético, ficando-lhe subordinados os demais valores. Elevando a forma literária a um grau de refinamento e elaboração jamais alcançado até aquele momento, na poesia latina, burilando o poema como um joalheiro a uma pedra preciosa, abandonarão as preocupações nacionalistas e moralizantes que ainda acossavam poetas medíocres, como o Volúsio que Catulo ataca nos versos em que chama seus enianos Anais de cacata carta, que é preciso traduzir catulianamente de «papel cagado». 
Catulo foi, sem dúvida, um dos maiores líricos romanos. Versátil e talentoso, soube combinar, e alternar, a brincadeira e a seriedade, a ironia e o sentimentalismo, o estilo elegante, caracterizado pela riqueza vocabular e pela abundância de figuras, e a linguagem popular, eivada de modismos, de diminutivos, de expressões do dia-a-dia, extraídas das formas coloquiais. com suas qualidades, sensibilidade e técnica, foi Catulo um digno precursor da poesia que iria atingir seu nível mais alto nos dias brilhantes de Augusto. 
A poesia lírica na época de Augusto 
Enquanto a época de Júlio César foi marcada pela presença de importantes prosadores, tais como Cícero, Salústio e o próprio Júlio César, a de Augusto é conhecida como o período áureo da poesia latina, o momento em que despontam, em sua plenitude, os gêneros épico e lírico. 
Vários fatores contribuem para esse grande florescimento. A língua poética estava estruturada, o vocabulário se enriquecera graças a importações e formaçõesneológicas, os modelos gregos e alexandrinos achavam-se suficientemente difundidos. Além disso, o próprio Augusto, talvez porque nelas visse um instrumento que poderia ser colocado a serviço de sua política, deu-lhes grande incentivo, fundando bibliotecas e favorecendo os escritores que, de alguma forma, se dispusessem a divulgar as idéias que ele desejava. 
Costuma-se associar, freqüentemente, o desenvolvimento da poesia, na época de Augusto, à famosa paz romana, pela qual o imperador seria o principal responsável. É um pouco discutível, entretanto, a caracterização dessa paz. 
Sobrinho de Júlio César, Otávio — o futuro Augusto — surgira na vida política logo após a morte do tio, em 44 a.C. Vivia-se, então, em Roma, um momento de grande agitação. No ano seguinte, aliado a Lépido e Marco António, Otávio assumiu o poder, como membro de um triunvirato que durou seis anos, desfazendo-se ao ser dele alijada a figura de Lépido. Em 31 a.C., ao vencer Marco António na famosa batalha de Ácio, Otávio foi investido do poder supremo, recebendo, em 27 a.C. a função de princeps e o título de Augustus, nome pelo qual passou a ser, então, conhecido. De 27 a.C. até 14 d.C. — data de sua morte —, Augusto recebeu periodicamente do Senado plenos poderes para agir como imperador. 
Nesses anos todos, portanto, durante os quais Augusto exerceu mandatos públicos, o mundo romano conviveu muitas vezes com a guerra. Houve sistematicamente campanhas nas fronteiras e nas províncias e, nos primeiros anos do governo, até a batalha de Ácio, as guerras civis ainda se faziam presentes. 
Só depois de tornar-se Augusto foi que Otávio conseguiu libertar o território das lutas fratricidas geradas por facções políticas opostas.
Época de Augusto => esquema da ambiência: 
31 a.C. => batalha de Ácio, vitória final obre M. António e seus partidários. 
29 a.C. => cessam formalmente as guerras civis, um dos aspectos da Pax Romana –› 
27 a.C. – 14 d.C. => Otávio, como Augusto, é investido periodicamente do poder romano. 
Política interna de Augusto => valorização da pequena propriedade, da família, da religião, da moral da vida simples. Reconstrução moral e física nacional, reconstrução física da cidade de Roma. Literatura: proteção (em troca de propaganda). Círculos literários: Mecenas, Polião, Messala 
Política externa de Augusto => paz e estabilidade nas fronteiras, outro aspecto da Pax Romana, período em que apenas se defendem as fronteiras internas, sem guerras de expansão. 
10 EPODO: Termo do grego epodos (―depois do canto‖) com que se designa 1) a terceira das estrofes da chamada ode pindárica, como podemos testemunhar em Píndaro e Baquílides — neste caso, a palavra é feminina (epodos strophé); 2) poemas líricos em que se alternam versos grandes com versos pequenos — neste caso, a palavra é masculina (epodos stichos). No primeiro caso, o epodo apresenta uma combinação diferente de versos em relação às estrofes iniciais, que possuem número, metro e ritmo distintos. A uma estrutura métrica formada por uma estrofe, uma antístrofe e um epodo dá-se o nome de tríade epódica. Veja-se o seguinte exemplo de Baquílides, excerto de ―O mito de Creso‖ (in Hélade: Antologia da Cultura Grega, de Maria Helena da Rocha Pereira, 5ª ed., Coimbra, 1990) : 
Nessa ocasião, pelo menos dois grandes nomes da poesia latina já haviam surgido com obras de grande valor: Virgílio, com as Bucólicas, compostas entre 41 e 37 a.C. e Horácio, com os Epodos10, compostos também a partir de 41 a.C., embora só publicados por volta de 30, as Sátiras, escritas entre 40 e 30, e as primeiras Odes.
Tibulo e Propércio 
Com o passar do tempo, à medida que Roma se embelezava com a construção de novos edifícios, a restauração dos templos antigos e a reurbanização, o povo começou a viver a expectativa de dias tranqüilos, as artes se desenvolveram e o mundo poético pôde apresentar outras figuras de realce. Tibulo e Propércio — autores de elegias — e Ovídio, poeta elegante e versátil, são os produtos legítimos da época de Augusto: as obras que compuseram vieram à luz e se tornaram conhecidas do público no momento em que Otávio, segurando as rédeas do poder no mundo romano, consolidava um dos maiores impérios que a história já conheceu. 
Na literatura latina, particular importância teve essa modalidade lírica: a poesia elegíaca, também denominada elegia erótica romana, intimamente ligada ao gênero lírico. 
Composta em dísticos (estrofes de dois versos), a poesia elegíaca latina é uma poesia de caráter intimista e pessoal, individual, tendo como tema o amor. Na Grécia, onde surgiu, uma poesia como essa teria desenvolvido muitos outros temas, tais como a filosofia, a mitologia, a guerra, a política, etc. Na verdade, etimologicamente elegia liga-se a ―lamentação fúnebre‖. 
Por outro lado, poetas gregos alexandrinos como Filetas e Calímaco (séc. IV-III a.C.) compuseram em dísticos poemas de natureza mitológica, com claro aproveitamento de motivos de caráter erótico e passional. Temas da paixão amorosa, com suas tristezas e alegrias também circularam, evidentemente, em outros gêneros poéticos. Tudo isso rendeu aos poetas romanos material para criarem em solo latino uma nova abordagem da elegia: a elegia sentimental e subjetiva. Esses poetas foram Catulo, Tibulo, Propércio, Ovídio, Cornélio Galo. 
Assim, na elegia erótica romana avulta a experiência amorosa, da qual se obtém, na maior parte das vezes, dor e sofrimento do eu-poético. É praticamente uma convenção11 da modalidade. Além disso, um grande repertório de procedimentos e recursos dá os contornos dessa poesia: 
(a) Atribuição de um pseudônimo para a amada. Assim, Catulo cria Lésbia; Tibulo, Delia e Nêmesis; Propércio, Cíntia; Ovídio, Corina. 
(b) O eu-poético se apresenta como um ―peritus amoris‖, e pretende, com sua experiência, ajudar tantos quantos caírem nas redes de Eros. 
(c) O paraklausithyron, em que o amante se lamenta da porta fechada que o separa do objeto de seu amor. 
(d) A militia amoris, isto é, um paralelismo entre o amor e os movimentos de guerra; 
(e) A exortação ao aproveitamento do tempo presente, carpe diem. 
(f) Exortação à paz, vida no campo, cultivo da paupertas e da aurea mediocritas. 
O lirismo de Tibulo (Albius Tibullus, 55-19 a.C ) caracteriza-se pela doçura dos sentimentos amorosos, pela melancolia12 das complicações afetivas de suas relações com Délia ou Nêmesis, pela recusa à guerra e ansiosa busca da paz, pelos sobressaltos que lhe causam o espectro da velhice desprezada do amor, pelo cultivo da simplicidade de vida, pelo bucolismo e pelas graves reflexões que lhe inspira a idéia da morte13. A sugestão da sinceridade de sentimentos, atrelada à simplicidade, harmonia dão a exata medida da poesia de Tibulo.
Tibulo muitas vezes decalca sua poesia da obra de Horácio, do qual retoma a idéia da moderação dos desejos, da invectiva contra o luxo e a corrupção e do despeito amoroso, ou Virgílio, com cujas idéias forma uma poesia feito colcha de retalhos. Pertenceu ao círculo literário de Messala Corvino, célebre general romano. O conjunto de sua obra está contido num grupo de textos de autores desse círculo, incluindo-se, possivelmente textos escritos por uma mulher, Sulpícia14, denominado Corpus Tibullianum.
Em sua poesia há descrição e medida no canto dos amores, feito de maneira personalizada, não desprezando todavia a comparação com amores mitológicos ou a evocação de passagens eruditas, sem contudo cometer exageros.
Em Propércio (Sextus Propertius, 50 a 15 a.C.), que também canta e, aliás, com mais sinceridade e ardor, os seus próprios amores, a mitologia está presente em todos os instantes, num apelo a uma lenda ou na alusão a um mito. Propércio participou do círculo literário de Mecenas, braço direito de Augusto, com quatro livros de Elegias. Os três primeiros são dedicados à amada Cíntia e o quarto ocupa-se de temas religiosos e relativos à pátria. Seguramente esse livro faz parte do programa de resgate dos valores cívicos, morais e patrióticos em que se empenhava o imperador.Diferentemente de Tibulo e tomando por base o poeta Calímaco, a linguagem com que trabalha Propércio tende para a erudição e o barroquismo, em consonância com a intensa paixão que demonstra pela musa Cíntia: um amor trágico e atormentado, cujos resultados não poderiam ser outros senão a tristeza e a desilusão.
Enfim, com Tibulo e Propércio a elegia toma em Roma uma inflexão muito pessoal em seu discurso amoroso, inflexão desconhecida para os alexandrinos.
Horácio 
Contemporâneo de Tibulo e Propércio, e de Virgílio e seu amigo pessoal, Horácio (Quintus Horatius Flaccus, 65-8 a.C.) surge no cenário literário de Roma por volta de 35 a.C. com o Livro I das Sátiras (talvez composto a partir de 29 a.C.). 
Não se pode precisar a data exata da redação dessas peças poéticas: os poemas que compõem os Epodos e as Sátiras não se dispõem em ordem cronológica e os índices temporais, obtidos dos textos, não são muitos numerosos. Supõe-se, porém, que medeia certo tempo entre a composição e a publicação dos poemas, fato explicável por ter sido Horácio considerado uma espécie de ―inimigo‖ na época: lutara em Filipos ao lado de Bruto, contra Otávio, e fora espoliado dos poucos bens que possuía.
Só após ter sido apresentado por Virgílio a Mecenas, recebendo deste uma propriedade rural, é que Horácio começa a publicar suas obras. 
Depois dos Epodos e das Sátiras o poeta compõe quatro livros de Odes, dois de Epístolas16 e o Cântico Secular (Carmen Saeculare) 
Agrupadas em quatro livros, as Odes de Horácio representam o ponto culminante de seu esforço lírico. O próprio poeta deveria estar cônscio do valor de tais poemas17, pois, sem humildade ou falsa modéstia, assim se expressou no último poema do terceiro livro.
Variadas quanto a métrica, extensão e assunto e até mesmo quanto a estilo e tema, as Odes compõem um conjunto harmonioso, de grande beleza. Com elas, Horácio pretendeu ter introduzido, em Roma, os metros eólicos, muito embora, antes dele, Catulo já os tivesse manipulado. 
Horácio desenvolve temas diversos em suas odes. Alternando poemas longos com outros mais curtos, o poeta canta a juventude, o amor, os prazeres do vinho, a alegria da vida; dirige-se aos deuses, relembra lendas mitológicas, exalta o civismo e o espírito patriótico, mas não se sente chamado para a grande poesia, altissonante, nem lhe agradam os valores que a grande poesia explora, a saber, o esporte, a guerra, as aventuras marítimas, as violentas paixões, embora as odes sejam escritas numa linguagem elevada e cuidada, ornamentada sem exagero ou sobrecarga, numa ânsia de perfeição, como por exemplo a primeira ode do primeiro livro, dedicada a Mecenas, na qual o poeta lhe agradece o apoio recebido, após tê-lo exaltado.
É nas odes que encontramos algumas das principais idéias de Horácio, retomadas, mais tarde, pela poesia de todas as épocas. De um lado vamos ali observar o desejo de usufruir do momento presente, a sede de viver, o carpe diem. Afinal, a vida é boa, mas breve, e a morte é certa.
Todos os temas individuais e coletivos, o mundo sensível e moral, o homem, a família e a natureza são transferidos em Horácio para o plano poético. Emoções, aspirações, assuntos medíocres e até mofinos de cada dia são o material poético desse pequeno lirismo. Dentre seus temas prediletos encontram-se o orgulho, a avareza, a gula, a cólera, a preguiça, o amor, a inveja, a amizade, a vida de família. 
Ao contrário de Catulo, Tibulo e Propércio, Horácio não conheceu o amor, mas ―amores‖: efêmeros e pouco nobres. Parece que o amor lhe penetra pelos olhos, não pelo coração. O que existe para ele é o taeter morbus de Catulo, doença negra que, sem que se a procure, castiga, ulcera impiedosamente o coração: Vênus, com Apolo, lança por todos os lados suas flechas envenenadas. 
Polido com as pessoas que lhe são indiferentes, Horácio mostra-se duro, impiedoso e agressivo para com as mulheres que ama. Canídia, por exemplo, é alvo de seus ferinos doestos. Por exemplo, também para Lídia chegará a vez.
É nas odes, ainda, que encontramos o Horácio que se coloca a serviço da política de Augusto, divulgando os princípios da moral antiga (3.1), elogiando a virtude (3.2), exaltando a glória de Roma (3.3), justificando os métodos empregados pelo princeps para assegurar a paz (3.4), falando do papel da juventude no futuro (3.6), apregoando a reforma dos costumes (3.24), glorificando Augusto (4.2), referindo-se à reconhecida gratidão de Roma por ele (4.5) e lembrando os feitos de Druso (4.) e Tibério (4.14), enteados do imperador. 
Com a crítica às leis morais, políticas e religiosas da época de Augusto, um mesmo espírito anima essas composições: moralismo e pragmatismo, extraído das lendas, como nas odes religiosas, na dedicatória do templo de Apolo, como no Carmen Saeculare, em que fala de leis sobre o casamento, pedindo aos deuses costumes mais puros para os jovens romanos e a volta da paz e da justiça. As considerações morais estão em todas as reflexões que faz sobre os acontecimentos da vida de todos os dias. Uma árvore que tomba lembra-lhe a fragilidade da vida humana, Virgílio que embarca para a Grécia é o símbolo da audácia do homem desdenhoso de todos os perigos. Entre taças e canções amorosas, em pingues repastos, reflete sobre precariedade dos prazeres desta vida, sobre a aproximação imprevisível da morte. 
Nas odes cívicas e religiosas o poeta se submete à opinião pública, desejosa duma poesia mais consentânea com a grauitas romana, e ao principado, exigente de sua colaboração na obra de encômio e restauração das velhas tradições, de recuperação social do povo romano. O lirismo horaciano das odes cívicas glorifica o mos maiorum, encarecendo o benefício de retroceder-se às antigas virtudes romanas. O mesmo espírito patriótico encontrado nas odes cívicas — em que pese o fato de terem sido elas escritas por encomenda ou como agradecimento — está presente no Carmen Saeculare, hino em honra de Apolo e Diana, encomendado pelos poderes públicos e composto por Horácio para ser cantado por um coro de 27 moças e 27 rapazes, durante a realização dos jogos Seculares, promovidos por Augusto em 17 a.C. Esse cântico, simples e nobre, ilustra o pensamento de Augusto, empenhado em restaurar as tradições do passado e o espírito religioso. Para escrever esse cântico, o poeta se inspirou em versos sibilinos e antigas inscrições. Simples e ao mesmo tempo elegante, o Cântico Secular revela sentimentos nobres de piedade e amor à pátria.
O fundamento da moral horaciana pode assim enunciar-se: não deve o homem ceder à fantasia das paixões, nem aos caprichos da sorte; gozará melhor da felicidade se lhes resistir. 
Esse moralismo imprime à poesia de Horácio uma inconfundível marca de altivez e romanidade.
Virgílio 
A produção poética de Virgílio é tão extensa quanto variada. No gênero lírico, esse poeta se destaca por sua obra denominada Bucólicas (ou Éclogas ou Églogas), composta entre 41 e 37 a.C. Consta de dez poemas de temática pastoril — do gr. Boukoliká ―canto de boiadeiros‖. Nessa obra fica explícito o influxo de poetas como Homero, Hesíodo e Lucrécio, e principalmente do poeta alexandrino Teócrito. Esse poeta grego escreveu Idílios, poemas de variada métrica, extensão (de dezenas de versos a mais de cem; no entanto podem ser considerados poemas curtos), assunto (campo, cenário urbano, mitos) 
	Por exemplo, tomem-se As Siracusanas, diálogo em que já se surpreende a coloquialidade, em contraponto à formalidade da poesia épica. As moças Gorgo e Proxínoa, habitantes de Alexandria, conversam 35. Gorgo: 
	— Estás em casa, Proxínoa?
	Proxínoa: 
	Estou, sim! Gorgo querida, há quanto tempo! Que maravilha teres vindo hoje! Vê uma cadeira para ela, Eunoa! E põe uma almofada. 
	Gorgo: 
	— Está ótimo! 
	Proxínoa: 
	— Senta. 
	Gorgo: 
	— Perdi o juízo. Quase morri, Proxínoa. Muitas pessoas, muitos carros. Em toda parte, gente de 
A conversa continua nesse tom, com o que as moças visitam em diálogo a multidão das ruas e o palácio de Ptolomeu (soberanodo Egito). 
Em O Pequeno Hércules, Teócrito introduz uma outra cena doméstica, desta vez permeada do mito do nascimento de Hércules. Nessa cena, que se passa num lar comum, por mais fantástico que seja o evento focalizado, a reação das pessoas é a aquela que se espera de gente comum: medo, sobressalto, alívio; nada de nobreza ou ações acima da média dos sentimentos humanos. Alcmena e Anfitrião são surpreendidos no meio da noite por um incidente fantástico: Hera envia duas serpentes gigantescas para o mal do garotinho Hércules. A mãe acorda com os ruídos da luta entre o pequeno e as serpentes e acorda o marido, que se levanta num salto para socorrer o filho. Este lhe estende prosaicamente as duas bestas mortas. 
Virgílio baseou-se numa curiosa galeria de personagens pastores criada por Teócrito em seus Idílios, e recriou na literatura latina uma poesia que retrata o norte da Itália (sua própria terra) com pastores, figuras delicadíssimas, mais que no original grego. O assunto é variado. 
Bucólicas I, III, V, VII, IX (com diálogos pastoris) 
A Bucólica I representa o diálogo entre os pastores Melibeu e Títiro. Melibeu, desterrado, queixa-se a Títiro, que permanece nas próprias terras. Títiro louva aquele permitiu que ficasse em suas terras, verdadeiro deus. Alegoria Títiro é projeção de Virgílio, eu exalta Otávio-Augusto que autorizara a devolução da propriedade familiar confiscada a fim de ser distribuída entre veteranos do exército cesariano.
A Bucólica IX retoma esse tema do confisco: Lícidas e Méris dialogam acerca de Menalcas, cantor de belíssimos trechos que, apesar disso, fora expropriado. 
As Bucólicas III, V e VII falam de concursos de cantos entre pastores. 
Bucólicas II, IV, VI, VIII, X (sem diálogos pastoris) 
A Bucólica II costuma ser lida com alguma ou muita reserva, pelo seu caráter pagão e libertino, já que mostra sem peias e com muita naturalidade o homossexualismo amoroso. Essa peça apresenta o canto do pastor Coridão, que lamenta o desinteresse do pastor Aléxis, pelo qual se apaixonara. São confissões angustiadas de Coridão em meio a alusões à natureza e aos trabalhos rudes do campo que, contudo, propiciam promessas de uma vida fácil, graças à fartura de que se dispõe (embora Álexis não se comova nem diante de tantos presentes prometidos). Coridão, desesperançado, procura conformar-se com a perda, na esperança de substituí-la com outros amores. 
A Bucólica IV não tem cunho de diálogo pastoril, mas é tradicionalmente reconhecido como uma égloga. Canta-se aqui a volta da Idade do Ouro graças ao nascimento de um menino que trará consigo uma época de paz e fartura. Santo Agostinho e toda a Idade Média viu nesse texto uma alusão ao nascimento de Cristo, com que se lhe atribuiu caráter pré-cristão e profético. Na verdade, o garoto trata-se do filho de Asínio Polião, governador da Gália Cisalpina, amigo e protetor de Virgílio.
À Bucólica VI falta também o caráter pastoril. Um velho chamado Sileno explica a origem do mundo e conta antigas lendas de amor e histórias de metamorfoses, bem ao gosto alexandrino. 
As Bucólicas VII e X retomam o tema pastoril, o amor como elemento principal, em geral problemático ou mesmo impossível. 
A linguagem das Bucólicas de Virgílio é bastante rica em figuras e ornamentações, além de ser testemunha de uma grande erudição do poeta, que emprega numerosíssimas alusões mitológicas e conhecimentos filosóficos e geográficos. 
Não foi pequena a influência das Bucólicas de Virgílio, que se estendeu à Idade Média e passou aos tempos modernos, verificando-se no Renascimento e no Neoclassicismo, com a poesia arcádica, que retoma o filão da inspiração pastoril. Ao estudar o tema na literatura brasileira, em sua História Concisa, Alfredo Bosi assim explica a elaboração da poesia pastoril aos moldes que praticou Virgílio.
Ovídio 
Dos poetas líricos que viveram na época de Augusto, o mais versátil é, incontestavelmente, Ovídio (Publius Ouidius Naso, 43 a.C. - 17? d.C.). Talentoso e culto, brilhante e original, refinado, elegante, irreverente e irônico, Ovídio surgiu no cenário literário romano entre 20 e 15 a.C. — não se pode precisar a data — com suas primeiras obras de caráter erótico: Heróides (Heroidum epistolae) e Amores (Amores). 
Heróides 
São um conjunto de vinte e uma cartas de amor, em versos elegíacos, escritas conforme os cânones alexandrinos, muito ao gosto da época. Nas quinze primeiras cartas, simula-se que uma figura feminina mitológica esteja escrevendo a seu amante, esposo ou prometido (Penélope a Ulisses, Briseide a Aquiles, Dido a Enéias, Hermíone a Orestes, etc.). Entre as personagens mitológicas, cedeu-se um espaço a Safo — a famosa poetisa grega — para que confessasse seu amor a Fáon. A essas cartas foram acrescentadas mais tarde (em 6 ou 7 d.C.) outras seis, cuja autoria foi posta em dúvida. São três pares de missivas nas quais heróis do mito (Páris, Leandro e Acôncio) se dirigem a suas respectivas amadas (Helena, Hero, Cídipe) e estas respondem a eles.
As figuras femininas se assemelham a damas da sociedade da época, em suas características: vaidade, frivolidade, mundanismo. Daí, talvez, um dos elementos para o grande sucesso da obra, em Roma. O estilo de Ovídio é pitoresco e regular, mas as Heróides deixam entrever profunda influência dos exercícios literários realizados nas escolas de retores, que o poeta freqüentara na adolescência. 
Resgatada ao drama euripidiano Hipólito, cuja temática é o amor doentio, uma das heroínas é Fedra, que se declara ao enteado na Epistula IV. 30 Sob a ótica de Heróides, não se vê Fedra, esposa de Teseu, como uma mulher preocupada com os seus filhos ou com a sua honra; não se a encontra envergonhada em decorrência de sentimentos entre adúlteros e incestuosos. Longe disso, vence-a o Amor, que lhe causa a ruína do Pudor. Em oposição à personagem de considerável dignidade de Eurípides, as Heróides figuram Fedra, pois, como uma mulher amoral, entregue ao servitium amoris; mulher desesperada, vítima de um cruel amor. Nos versos dessa persuasiva epistula encontra-se forte teor retórico: o argumento divide-se em duas partes, a saber, (a) exposição das razões do amor de Fedra e (b) razões pelas quais Hipólito deve ceder ao amor da madrasta. Utilizam-se os mais variados recursos: mitológicos, metafóricos, conversão ao culto de Diana, admiração, coação psicológica, e até mesmo a intenção de suscitar compaixão de modo a atrair a piedade do objeto amado. Por exemplo, Fedra quer convencer a Hipólito de que não será difícil transformar o seu afeto de enteado em paixão de amante, seus beijos filiais em fogo de paixão sensual — Oscula dabas, oscula aperta dabis (v.144: davas beijos, beijos espontâneos darás.). Assim, como se vê em novidade, a Fedra de Ovídio é uma romana pragmática, dona de uma extrema racionalidade que a afasta da irracional Fedra euripidiana.
Os Amores são um conjunto de elegias de amor, dentro dos moldes da elegia erótica romana. Publicadas inicialmente em cinco livros e mais tarde condensadas em três, as elegias põem em destaque a figura de Corina. Contrariamente ao que ocorreu com Catulo, Tibulo e Propércio, cujos biógrafos tentaram identificar as mulheres mencionadas nos poemas, associando-as a pessoas reais31, no caso de Ovídio a crítica sempre foi unânime em considerar Corina como mera criação artística. Talvez tenha contribuído para isso o fato de Ovídio ter organizado as elegias como capítulos seqüentes de um romance que nos permite ―acompanhar‖ os diversos momentos de um caso de amor.
Ao final do séc. I a.C., ou talvez no início de nossa era, três novas obras de Ovídio vêm à luz: A arte de amar (Ars Amatoria), Os remédios do amor (Remedia Amoris) e Produtos de beleza para o rosto da mulher (De medicamine faciei feminae). 
A arte de amar é um conjunto de três livros escritos em dísticos elegíacos, nos quais o poeta, não sem certo perigo, dado o espírito moralizante reinante, constrói uma verdadeira teoria da sedução.
No primeiro livro ele mostra quais as principaisocasiões em que os homens podem aproximar-se do objeto de seu amor (em passeios, em edifícios públicos, no fórum, no teatro, no circo, em comemorações de triunfos, em banquetes) e dá conselhos sobre como agir para agradar à mulher. No segundo refere-se aos meios utilizados para prender a mulher amada: amabilidades, complacência, perseverança, presentes, devotamento, manifestações de ciúme. No terceiro discorre sobre as artimanhas da mulher para tornar-se amada: artifícios, penteados, roupas. 
O estilo de Ovídio nessa obra é ligeiramente rebuscado, graças aos numerosos recursos retóricos de que se vale (apóstrofes, alusões, metáforas etc.). O seguinte extrato oferece uma amostra de tais empregos.
A arte de amar é um valioso documento para o conhecimento de muitos aspectos da vida social da época de Augusto, afigurando-se, também, como curioso estudo da psicologia feminina, e, indiretamente, a masculina. 
Um pouco depois da publicação de A arte de amar, e talvez para responder a críticas formuladas em relação ao poema, Ovídio oferece aos leitores romanos Os remédios do amor. O texto é perpassado de um leve tom irônico e retrata, mais uma vez, a frivolidade e a inconseqüência de uma faixa expressiva da sociedade de Roma.
Quanto a Os produtos de beleza, temos apenas um fragmento. A aridez do assunto faz com que a obra tenha um cunho mais didático do que propriamente lírico. 
Após esses trabalhos, a produção poética de Ovídio retoma ao tema mitológico — que explora também na tragédia Medéia34 — e se dispõe a escrever uma obra de grande envergadura, As metamorfoses (Metamorphoseon libri), longo poema subdividido em quinze livros, nos quais encadeia cerca de duzentas e cinqüenta lendas etiológicas35 que mostram a origem dos mais diversos seres (mares, astros, fontes, plantas, animais) como produtos de metamorfoses. 
É difícil classificar As metamorfoses em relação a uma espécie de gênero literário. Não é uma epopéia, em que pese o tom épico e o emprego sistemático de narração. Não se caracteriza também como poema didático, pois que, mesmo que quiséssemos considerá-lo como um tentativa de explicar o universo pela teoria neopitagórica que admite a reencarnação da alma, iríamos esbarrar, sem dúvida, na falta de qualquer fundamentação científica, no superficialismo e no tratamento irônico e brincalhão dado a algumas lendas. É possível, portanto, pelo menos em termos didáticos, considerá-lo como poema lírico: uma sucessão de quadros coloridos e belos, onde não falta o movimento, a caracterização pessoal e a expressão da sentimentalidade. 
O talento descritivo de Ovídio salta aos olhos em qualquer momento. A descrição do palácio do Sol, por exemplo, inserida na metamorfose de Faetonte, mostra sua preocupação com os detalhes e sua capacidade de compor uma imagem de grande plasticidade, capaz de competir com a pintura da época.
Por outro lado, as personagens das historietas são trabalhadas psicologicamente, o que lhes confere força vital. As ninfas por vezes têm traços que lembram as donzelas romanas, como os deuses, em alguns momentos, se assemelham aos jovens que freqüentam a vida mundana das cidades. Nada mais gracioso, por exemplo, do que a cena em que Dáfne, no bosque, é admirada e cobiçada por Apolo.
O sentimento se faz presente a cada passo. A dor e a paixão — agentes muitas vezes determinantes das metamorfoses — levam à destruição do ser e só não provocam o aniquilamento total porque há possibilidade de uma outra vida, em que a matéria se preserva, embora modificada. A metamorfose da ninfa Eco, que se transforma em pedra por não poder demonstrar ao belo Narciso a extensão de seu amor, caracteriza a exacerbação sentimental que pode provocar a morte.
imaginação exuberante, foram, possivelmente, a causa de um grande sucesso que se estendeu por séculos. O pitoresco do estilo e a correção do ritmo poético compensam o compreensível artificialismo com que são encadeadas algumas lendas: o material a ser elaborado era, com efeito, vasto demais; mesmo levando-se em consideração o virtuosismo e o talento do poeta, percebe-se que foi uma tarefa insana tentar coordenar, aproximando-as e interligando-as, lendas que envolvem metamorfoses, iniciando-se com o mito do caos para terminar-se com a metamorfose de Júlio César. 
Na extensa galeria, salientam-se como mais importante as lendas da criação do mundo, das quatro idades, da guerra dos gigantes, do dilúvio, do repovoamento do mundo e as que se referem às figuras de Faetonte, Cadmo, Prosérpina, Aracne, Níobe, Ícaro, Orfeu, Cicno e Hécuba. 
Ao mesmo tempo em que compunha as Metamorfoses, Ovídio se ocupava também de outro poema de grande envergadura e de cunho didático: Os Fastos. Em 8 d.C., entretanto, antes que o poeta desse os últimos retoques às Metamorfoses e concluísse Os Fastos, um fato até hoje obscuro o faz enveredar por novo rumo de vida que iria influenciar seu labor poético: Augusto o condena ao exílio na distante e selvagem cidade de Tomos, no Ponto Euxino. 
Mesmo considerando-se que o conhecimento da vida de um escritor é irrelevante para a compreensão de sua obra, no caso especial de Ovídio o exílio explica a radical reviravolta operada em sua poesia, no que diz respeito à temática. 
Distante da pátria, inconformado, amargurado, Ovídio extravasa o sofrimento nas melancólicas elegias que compõem as Cantos Tristes (Tristia) e as Cartas Pônticas (Epistolae ex Ponto). 
Nos Cantos Tristes — em cinco livros — o poeta fala de sua viagem, descreve o país inóspito em que se encontra e se dirige a amigos e conhecidos protestando sua inocência e lamentando-se de sua sorte. 
O tom é sombrio, as tristezas e a dor se acrescentam à idéias da velhice que se aproxima, com as inevitáveis dificuldades.
Não falta, entretanto — o que se explica pela situação do poeta em relação ao imperador —, o servilismo representado pela adulação. 
As Cartas Pônticas — em quatro livros — são dirigidas a familiares do poeta e a pessoas influentes que viviam em Roma. A temática é semelhante à dos Cantos Tristes.
Essas elegias, somadas ao panfleto Íbis, no qual Ovídio ataca um advogado com bastante violência, são os últimos poemas líricos do poeta. Um tratado sobre a pesca, Haliêutica, também escrito durante os anos de exílio, se enquadra na poesia didática. 
Ovídio esteve desterrado em Tomos durante oito anos, ali morrendo quando contava com sessenta anos, no ano 17 da era cristã. 
Conclui 
O gênero lírico poderia, sem muito prejuízo, chamar-se de ―gênero afetivo ou expressivo‖, seja por uma expressão do indivíduo diante de si mesmo, seja do indivíduo diante ou com sua comunidade. 
Não se trata de descrever em sua imobilidade uma realidade material ou conceitual, nem de apresentar o desenvolvimento temporal uma seqüência de eventos reais ou fictícios. Trata-se de exprimir um estado afetivo, real ou sugerido. O eu poético está no momento preciso em que se situa para ele o ato de escrever, animado de sentimentos, de paixões que a escritura lhe permite exalar. Não estamos sob o domínio da temporalidade, nem do intemporal: conta aqui o instante, a instantaneidade. 
Talvez a denominação ―gênero afetivo‖ seja até mais apropriada, pois o termo ―lírico‖ remete a uma atividade que apenas em alguns momentos e em certas espécies podem dizer-se acompanhadas de música (de que instrumentos fossem, a lira, a cítara, o aulo, a flauta, etc.). E assim podemos encontrar, dentro desse gênero as espécies poéticas focalizadas nestas aulas: a lírica propriamente dita (canção, ode, hino), a poesia bucólica, a poesia elegíaca, a poesia epigramática, a satírica36, entre outras. 
De maneira geral, percebe-se que a poesia lírica é intrínseca à natureza humana, acompanhando desde os mais remotos tempos as mais diversas atividades, o trabalho, a luta, a religião. Assim é que ao hino corresponde como o homem vê e sente as questões religiosas e militares, ao epinício corresponde a disputa esportiva, o encômio ao ilustre homem da comunidade, ao treno ou elegia a dor da morte, ao jambo o gracejo obscenoe as brincadeiras crítica, à elegia gnômica, guerreira ou heróica os sentimentos da pátria e do amor, entre outros. 
Entre os gregos apenas nos é parcialmente conhecido o que se entende como poesia desse gênero afetivo, ou lírico. Figuram entre os principais poetas gregos as figuras de Safo, Píndaro e Anacreonte. E se os romanos seguiram os passos gregos no que toca às características técnicas do gênero, não é menos verdade que se aplicaram com originalidade e valor a esse mesmo gênero. Dentre os inúmeros poetas de que temos conhecimento como cultores da poesia lírica os principais o são Catulo, Horácio, Virgílio e Ovídio, sem desconsiderar, no entanto Tibulo e Propércio.

Continue navegando