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I. Drogas Classificacao efeitos experimentacao uso abuso e dependencia de drogas

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I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
Sérgio Nicastri 
Cláudio Elias Duarte 
Rogério Shigueo Morihisa 
Texto adaptado do original do Curso de Prevenção do Uso de Drogas para 
Educadores de Escolas Públicas, realizado pela Senad, em 2008/2010, por Walter Antero Gomes Ribeiro. 
 
 
O que é droga? 
Droga, segundo a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS),é qualquer 
substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais 
de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento. 
 
Uma droga não é por si só boa ou má. Existem substâncias que são usadas com a 
finalidade de produzir efeitos benéficos, como o tratamento de doenças, e são consideradas 
medicamentos. Mas também existem substâncias que provocam malefícios à saúde, os 
venenos ou tóxicos. É interessante que a mesma substância pode funcionar como 
medicamento em algumas situações e como tóxico em outras. 
 
Nesta primeira Unidade, você irá estudar as principais drogas utilizadas para alterar o 
funcionamento cerebral, causando modificações no estado mental, no psiquismo. Por essa 
razão, são chamadas drogas psicotrópicas, conhecidas também como substâncias psicoativas. 
A lista de substâncias na Classificação Internacional de Doenças, 10ª Revisão (CID-10), em seu 
capítulo V (Transtornos Mentais e de Comportamento), inclui: 
 
 Álcool; 
 Opióides (morfina, heroína, codeína, diversas substâncias sintéticas); 
 Canabinóides (maconha); 
 Sedativos ou hipnóticos (barbitúricos, benzodiazepínicos); 
 Cocaína; 
 Outros estimulantes (como anfetaminas e substâncias relacionadas à cafeína); 
 Alucinógenos; 
 Tabaco; 
 Solventes voláteis. 
 
Classificação das drogas 
Há diversas formas de classificar as drogas. 
 
Classificação das Drogas do Ponto de Vista Legal 
Drogas Lícitas Drogas Ilícitas 
São aquelas comercializadas de forma legal, 
podendo ou não estar submetidas a algum tipo de 
restrição. Como por exemplo, álcool (venda 
proibida a menores de 18 anos) e alguns 
medicamentos que só podem ser adquiridos por 
meio de prescrição médica especial. 
Proibidas por lei. 
 
 
 
 
 
Lembrando... 
Vale lembrar que nem todas as substâncias psicoativas têm a capacidade de provocar dependência. No 
entanto, há substâncias aparentemente inofensivas e presentes em muitos produtos de uso doméstico 
que têm esse poder. 
 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
Existe uma classificação – de interesse didático – que se baseia nas ações aparentes das 
drogas sobre o Sistema Nervoso Central (SNC), conforme as modificações observáveis na atividade 
mental ou no comportamento da pessoa que utiliza a substância. São elas: 
 
1. Drogas DEPRESSORAS da atividade mental; 
 
2. Drogas ESTIMULANTES da atividade mental; 
 
3. Drogas PERTURBADORAS da atividade mental. 
 
Com base nessa classificação, conheça agora as principais drogas. 
 
Drogas depressoras da atividade mental 
Essa categoria inclui uma grande variedade de substâncias, que difere acentuadamente em 
suas propriedades físicas e químicas, mas que apresentam a característica comum de causar uma 
diminuição da atividade global ou de certos sistemas específicos do SNC. Como conseqüência dessa 
ação, há uma tendência de ocorrer uma diminuição da atividade motora, da reatividade à dor e da 
ansiedade, e é comum um efeito euforizante inicial e, posteriormente, um aumento da sonolência. 
 
• Álcool 
O álcool etílico é um produto da fermentação de carboidratos (açúcares) presentes em 
vegetais, como a cana-de-açúcar, a uva e a cevada. 
 
Suas propriedades euforizantes e intoxicantes são conhecidas desde tempos pré-históricos 
e praticamente, todas as culturas têm ou tiveram alguma experiência com sua utilização. É 
seguramente a droga psicotrópica de uso e abuso mais amplamente disseminada em grande 
número e diversidade de países na atualidade. 
 
A fermentação1 produz bebidas com concentração de álcool de até 10% (proporção do 
volume de álcool puro no total da bebida). São obtidas concentrações maiores por meio de 
destilação2. Em doses baixas, é utilizado, sobretudo, por causa de sua ação euforizante e da 
capacidade de diminuir as inibições, o que facilita a interação social. 
 
Há uma relação entre os efeitos do álcool e os níveis da substância no sangue, que variam 
em razão do tipo de bebida utilizada, da velocidade do consumo, da presença de alimentos no 
estômago e de possíveis alterações no metabolismo da droga por diversas situações – por exemplo, 
na insuficiência hepática, em que a degradação da substância é mais lenta. 
 
Níveis de Álcool no Sangue 
 
 
 Desinibição do comportamento. 
 Diminuição da crítica. 
 Hilariedade e labilidade afetiva (a 
pessoa ri ou chora por motivos 
pouco significativos). 
 Certo grau de incoordenação
3
 
motora. 
 Prejuízo das funções sensoriais.
 Maior incoordenação motora 
(ataxia). 
 A fala torna-se pastosa, há 
dificuldades de marcha e 
aumento importante do 
tempo de resposta (reflexos 
mais lentos). 
 Aumento da sonolência, com 
prejuízo das capacidades de 
raciocínio. 
 Podem surgir náuseas e 
vômitos. 
 Visão dupla (diplopia). 
 Acentuação da ataxia e da 
sonolência (até o coma). 
 Pode ocorrer hipotermia e 
morte por parada 
respiratória. 
 
 
 
 
 
 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
O álcool induz a tolerância (necessidade de quantidades progressivamente maiores da 
substância para se produzir o mesmo efeito desejado ou intoxicação) e a síndrome de 
abstinência (sintomas desagradáveis que ocorrem com a redução ou com a interrupção do 
consumo da substância). 
 
• Barbitúricos 
 
Pertencem ao grupo de substâncias sintetizadas artificialmente desde o começo do 
século XX, que possuem diversas propriedades em comum com o álcool e com outros 
tranquilizantes (benzodiazepínicos). 
 
Seu uso inicial foi dirigido ao tratamento da insônia, porém a dose para causar os 
efeitos terapêuticos desejáveis não está muito distante da dose tóxica ou letal. 
 
O sono produzido por essas drogas, assim como aquele provocado por todas as drogas 
indutoras de sono, é muito diferente do sono “natural” (fisiológico). 
 
São efeitos de sua principal ação farmacológica: 
 
 A diminuição da capacidade de raciocínio e concentração; 
 A sensação de calma, relaxamento e sonolência; 
 Reflexos mais lentos. 
 
Com doses um pouco maiores, a pessoa tem sintomas semelhantes à embriaguez, com 
lentidão nos movimentos, fala pastosa e dificuldade na marcha. 
 
Doses tóxicas dos barbitúricos podem provocar: 
 
 Surgimento de sinais de incoordenação motora; 
 Acentuação significativa da sonolência, que pode chegar ao coma; 
 Morte por parada respiratória. 
 
São drogas que causam tolerância (sobretudo quando o indivíduo utiliza doses altas 
desde o início) e síndrome de abstinência quando ocorre sua retirada, o que provoca insônia, 
irritação, agressividade, ansiedade e até convulsões. 
 
Em geral, os barbitúricos são utilizados na prática clínica para indução anestésica 
(tiopental) e como anticonvulsivantes (fenobarbital). 
 
 
• Benzodiazepínicos 
Esse grupo de substâncias começou a ser usado na Medicina durante os anos 60 e 
possui similaridades importantes com os barbitúricos, em termos de ações farmacológicas, 
com a vantagem de oferecer uma maior margem de segurança, ou seja, a dose tóxica, aquela 
que produz efeitos prejudiciais à saúde, é muitas vezes maior que a dose terapêutica, ou seja, 
a dose prescrita no tratamento médico. 
 
Atuam potencializando as ações do GABA (ácido gama-amino-butírico), o principal 
neurotransmissor1 inibitóriodo SNC. 
 
 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
Como consequência dessa ação, os benzodiazepínicos produzem: 
 
 
 Diminuição da ansiedade; 
 Indução do sono; 
 Relaxamento muscular; 
 Redução do estado de alerta. 
 
Essas drogas dificultam, ainda, os processos de aprendizagem e memória, e alteram, 
também, funções motoras, prejudicando atividades como dirigir automóveis e outras que 
exijam reflexos rápidos. 
 
As doses tóxicas dessas drogas são bastante altas, mas pode ocorrer intoxicação se 
houver uso concomitante de outros depressores da atividade mental, principalmente, álcool 
ou barbitúricos. O quadro de intoxicação é muito semelhante ao causado por barbitúricos. 
 
Existem centenas de compostos comerciais disponíveis, que diferem somente em 
relação à velocidade e duração total de sua ação. Alguns são mais bem utilizados clinicamente 
como indutores do sono, enquanto outros são empregados no controle da ansiedade ou para 
prevenir a convulsão. 
 
Exemplos de benzodiazepínicos: diazepam, lorazepam, bromazepam, midazolam, 
flunitrazepam, clonazepam, lexotan. 
 
 
• Opióides 
Grupo que inclui drogas “naturais”, derivadas da papoula do oriente (Papaver 
somniferum), sintéticas e semissintéticas, obtidas a partir de modificações químicas em 
substâncias naturais. 
 
As drogas mais conhecidas desse grupo são a morfina, a heroína e a codeína, além de 
diversas substâncias totalmente sintetizadas em laboratório, como a metadona e meperidina. 
 
Sua ação decorre da capacidade de imitar o funcionamento de diversas substâncias 
naturalmente produzidas pelo organismo, como as endorfinas e as encefalinas. 
 
Normalmente, são drogas depressoras da atividade mental, mas possuem ações mais 
específicas, como de analgesia e de inibição do reflexo da tosse. 
 
Causam os seguintes efeitos 
 
 Contração pupilar importante; 
 Diminuição da motilidade1 do trato gastrointestinal; 
 Efeito sedativo, que prejudica a capacidade de concentração; 
 Torpor e sonolência. 
 
Os opióides deprimem o centro respiratório, provocando desde respiração mais lenta 
e superficial até parada respiratória, perda da consciência e morte. 
 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
São efeitos da abstinência 
 
 Náuseas; 
 Cólicas intestinais; 
 Lacrimejamento; 
 Arrepios, com duração de até 12 dias; 
 Corrimento nasal; 
 Câimbra; 
 Vômitos; 
 Diarréia. 
 
Quando em uso clínico, os medicamentos à base de opióides são receitados para 
controlar a tosse, a diarréia e como analgésicos potentes. 
 
• Solventes ou inalantes 
 
Esse grupo de substâncias, entre os depressores, não possui nenhuma utilização 
clínica, com exceção do éter etílico e do clorofórmio, que já foram largamente empregados 
como anestésicos gerais. 
 
Solventes podem tanto ser inalados involuntariamente por trabalhadores quanto ser 
utilizados como drogas de abuso, por exemplo, a cola de sapateiro. 
 
Outros exemplos são o tolueno, o xilol, o n-hexano, o acetato de etila, o 
tricloroetileno, além dos já citados éter e clorofórmio, cuja mistura é chamada, 
frequentemente, de “lança-perfume”, “cheirinho” ou “loló”. 
 
Os efeitos têm início bastante rápido após a inalação, de segundos a minutos, e 
também têm curta duração, o que predispõe o usuário a inalações repetidas, com 
conseqüências, às vezes, desastrosas. Acompanhe na tabela os efeitos observados com o uso 
de solventes. 
 
Primeira fase Segunda fase Terceira fase Quarta fase 
Euforia, com diminuição 
de inibição de 
comportamento. 
Predomínio da depressão 
do SNC; o indivíduo torna-
se confuso, desorientado. 
Podem também ocorrer 
alucinações auditivas e 
visuais. 
A depressão se 
aprofunda, com redução 
acentuada do estado de 
alerta. Incoordenação 
ocular e motora (marcha 
vacilante, fala pastosa, 
reflexos bastante 
diminuídos). As 
alucinações tornam se 
mais evidentes. 
Depressão tardia. Ocorre 
inconsciência. Pode haver 
convulsões, coma e 
morte. 
 
 
O uso crônico dessas substâncias pode levar à destruição de neurônios, causando 
danos irreversíveis ao cérebro, assim como lesões no fígado, rins, nervos periféricos e medula 
óssea. 
 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
Outro efeito ainda pouco esclarecido dessas substâncias (particularmente dos 
compostos derivados, como o clorofórmio) é sua interação com a adrenalina, pois aumenta 
sua capacidade de causar arritmias cardíacas, o que pode provocar morte súbita. 
Embora haja tolerância, até hoje não se tem uma descrição característica da síndrome 
de abstinência relacionada a esse grupo de substâncias. 
 
 
Drogas estimulantes da atividade mental 
 
São incluídas nesse grupo as drogas capazes de aumentar a atividade de determinados 
sistemas neuronais, o que traz como conseqüências um estado de alerta exagerado, insônia e 
aceleração dos processos psíquicos. 
 
• Anfetaminas 
 
São substâncias sintéticas, ou seja, produzidas em laboratório. Existem várias 
substâncias sintéticas que pertencem ao grupo das anfetaminas. 
 
São exemplos de drogas “anfetamínicas”: o fenproporex, o metilfenidato, o manzidol, 
a metanfetamina e a dietilpropiona. Seu mecanismo de ação é aumentar a liberação e 
prolongar o tempo de atuação de neurotransmissores utilizados pelo cérebro, a dopamina e a 
noradrenalina. 
 
Os efeitos do uso de anfetaminas são: 
 
 Diminuição do sono e do apetite; 
 Sensação de maior energia e menor fadiga, mesmo quando realiza esforços 
excessivos, o que pode ser prejudicial; 
 Rapidez na fala; 
 Dilatação da pupila; 
 Taquicardia; 
 Elevação da pressão arterial. 
 
Com doses tóxicas, acentuam-se esses efeitos. O indivíduo tende a ficar mais irritável e 
agressivo e pode considerar-se vítima de perseguição inexistente (delírios persecutórios) e ter 
alucinações e convulsões. 
 
O consumo dessas drogas induz tolerância. Não se sabe com certeza se ocorre uma 
verdadeira síndrome de abstinência. São frequentes os relatos de sintomas depressivos: falta 
de energia, desânimo, perda de motivação, que, por vezes, são bastante intensos quando há 
interrupção do uso dessas substâncias. 
 
Entre outros usos clínicos dessa substância, destaca-se a utilização como moderadores 
do apetite (remédios para regime de emagrecimento). 
 
• Cocaína 
É uma substância extraída de uma planta originária da América do Sul, popularmente 
conhecida como coca (Erythroxylon coca). 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
 
A cocaína pode ser consumida na forma de pó (cloridrato de cocaína), aspirado ou 
dissolvido em água e injetado na corrente sanguínea, ou sob a forma de uma pedra, que é 
fumada, o crack. Existe ainda a pasta de coca, um produto menos purificado, que também 
pode ser fumado, conhecido como merla. 
 
Seu mecanismo de ação no SNC é muito semelhante ao das anfetaminas, mas a 
cocaína atua, ainda, sobre um terceiro neurotransmissor, a serotonina, além da noradrenalina 
e da dopamina. 
 
A cocaína apresenta, também, propriedades de anestésico local que independem de 
sua atuação no cérebro. Essa era, no passado, uma das indicações de uso médico da 
substância, hoje obsoleto. Seus efeitos têm início rápido e duração breve. No entanto, são 
mais intensos e fugazes quando a via de utilização é a intravenosa ou quando o indivíduo 
utiliza o crack ou merla. 
 
Efeitos do uso da cocaína: 
 
 Sensação intensa de euforia e poder; 
 Estado de excitação; 
 Hiperatividade; 
 Insônia; 
 Falta de apetite; 
 Perda da sensação de cansaço. 
 
Apesar de não serem descritas tolerâncianem síndrome de abstinência inequívoca, 
observa-se, frequentemente, o aumento progressivo das doses consumidas. 
 
Particularmente, no caso do crack, os indivíduos desenvolvem dependência severa 
rapidamente, muitas vezes, em poucos meses ou mesmo algumas semanas de uso. 
 
Com doses maiores, observam-se outros efeitos, como irritabilidade, agressividade e 
até delírios e alucinações, que caracterizam um verdadeiro estado psicótico, a psicose 
cocaínica. Também podem ser observados aumento da temperatura e convulsões, 
frequentemente de difícil tratamento, que podem levar à morte se esses sintomas forem 
prolongados. 
 
Ocorrem, ainda, dilatação pupilar, elevação da pressão arterial e taquicardia (os efeitos 
podem levar até a parada cardíaca, uma das possíveis causasde morte por superdosagem). 
 
Fator de risco de infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC) 
 
Mais recentemente e de modo cada vez mais frequente, verificam-se alterações 
persistentes na circulação cerebral, em indivíduos dependentes de cocaína. Existem evidências 
de que o uso dessa substância seja um fator de risco para o desenvolvimento de infartos do 
miocárdio e acidentes vasculares cerebrais (AVCs), em indivíduos relativamente jovens. Um 
processo de degeneração irreversível da musculatura (rabdomiólise) em usuários crônicos de 
cocaína também já foi descrito. 
 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
 
Drogas perturbadoras da atividade mental 
Nesse grupo de drogas, classificam-se diversas substâncias cujo efeito principal é 
provocar alterações no funcionamento cerebral, que resultam em vários fenômenos psíquicos 
anormais, entre os quais destacamos os delírios e as alucinações. 
 
Por esse motivo, essas drogas receberam a denominação alucinógenos. Em linhas 
gerais, podemos definir alucinação como uma percepção sem objeto, ou seja, a pessoa vê, 
ouve ou sente algo que realmente não existe. Delírio, por sua vez, pode ser definido como um 
falso juízo da realidade, ou seja, o indivíduo passa a atribuir significados anormais aos eventos 
que ocorrem à sua volta. Há uma realidade, um fator qualquer, mas a pessoa delirante não é 
capaz de fazer avaliações corretas a seu respeito. 
 
Por exemplo, no caso do delírio persecutório, nota em toda parte indícios claros – 
embora irreais – de uma perseguição contra a sua pessoa. Esse tipo de fenômeno ocorre de 
modo espontâneo em certas doenças mentais, denominadas psicoses, razão pela qual essas 
drogas também são chamadas psicotomiméticos. 
 
 
• Maconha 
É o nome dado no Brasil à Cannabis sativa. Suas folhas e inflorescências secas podem 
ser fumadas ou ingeridas. Há também o haxixe, pasta semi - sólida obtida por meio de grande 
pressão nas inflorescências, preparação com maiores concentrações de THC 
(tetrahidrocanabinol), uma das diversas substâncias produzidas pela planta, principal 
responsável pelos seus efeitos psíquicos. 
 
Há uma grande variação na quantidade de THC produzida pela planta conforme as 
condições de solo, clima e tempo decorrido entre a colheita e o uso, bem como na 
sensibilidade das pessoas à sua ação, o que explica a capacidade de a maconha produzir 
efeitos mais ou menos intensos. 
 
Efeitos psíquicos agudos 
 
Esses efeitos podem ser descritos, em alguns casos, como uma sensação de bem-estar, 
acompanhada de calma e relaxamento, menos fadiga e hilaridade, enquanto, em outros casos, 
podem ser descritos como angústia, atordoamento, ansiedade e medo de perder o 
autocontrole, com tremores e sudorese. 
 
Há uma perturbação na capacidade de calcular o tempo e o espaço, além de um 
prejuízo da memória e da atenção. Com doses maiores ou conforme a sensibilidade individual, 
podem ocorrer perturbações mais evidentes do psiquismo, com predominância de delírios e 
alucinações. 
 
Efeitos psíquicos crônicos 
 
O uso continuado interfere na capacidade de aprendizado e memorização. Pode 
induzir um estado de diminuição da motivação, que pode chegar à síndrome amotivacional, ou 
seja, a pessoa não sente vontade de fazer mais nada, tudo parece ficar sem graça, perder a 
importância. 
 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
Efeitos físicos agudos 
 
Hiperemia conjuntival (os olhos ficam avermelhados); diminuição da produção da 
saliva (sensação de secura na boca); taquicardia com a frequência de 140 batimentos por 
minuto ou mais. 
 
Efeitos físicos crônicos 
 
Problemas respiratórios são comuns, uma vez que a fumaça produzida pela maconha é 
muito irritante, além de conter alto teor de alcatrão (maior que no caso do tabaco) e nele 
existir uma substância chamada benzopireno, um conhecido agente cancerígeno. Ocorre, 
ainda, uma diminuição de 50% a 60% na produção de testosterona dos homens, podendo 
haver infertilidade. 
 
• Alucinógenos 
 
Designação dada a diversas drogas que possuem a propriedade de provocar uma série 
de distorções do funcionamento normal do cérebro,que trazem como consequência uma 
variada gama de alterações psíquicas,entre as quais alucinações e delírios, sem que haja uma 
estimulação ou depressão da atividade cerebral. Fazem parte deste grupo a dietilamida do 
ácido lisérgico (LSD) e o Ecstasy. 
 
 
 
 
 
O grupo de drogas alucinógenas pode ser subdividido entre as seguintes 
características: 
 
 Alucinógenos propriamente ditos ou alucinógenos primários – São capazes de 
produzir efeitos psíquicos em doses que praticamente não alteram outra função 
no organismo; 
 
 Alucinógenos secundários – São capazes de induzir efeitos alucinógenos em doses 
que afetam de maneira importante diversas outras funções; 
 
 Plantas com propriedades alucinógenas – Diversas plantas possuem propriedades 
alucinógenas como, por exemplo, alguns cogumelos (Psylocibe mexicana, que 
produz a psilocibina), a jurema (Mimosa hostilis) e outras plantas eventualmente 
utilizadas na forma de chás e beberagens alucinógenas. 
 
• Dietilamida do Ácido Lisérgico 
 
LSD Substância alucinógena sintetizada artificialmente e uma das mais potentes com 
ação psicotrópica que se conhece. As doses de 20 a 50 milionésimos de grama produzem 
efeitos com duração de 4 a 12 horas. 
 
Seus efeitos dependem muito da sensibilidade da pessoa às ações da droga, de seu 
estado de espírito no momento da utilização e também, do ambiente em que se dá a 
experiência. 
 
Atenção... 
No Brasil, o Ministério da Saúde não reconhece nenhum uso clínico dos alucinógenos, e sua 
produção, porte e comércio são proibidos no território nacional. 
 
 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
Efeitos do uso de LSD 
 
 Distorções perceptivas (cores, formas e contornos alterados); 
 
 Fusão de sentidos (por exemplo, a impressão de que os sons adquirem forma ou 
cor); 
 
 Perda da discriminação de tempo e espaço (minutos parecem horas ou metros 
assemelham-se a quilômetros); 
 
 Alucinações (visuais ou auditivas) podem ser vivenciadas como sensações 
agradáveis, mas também podem deixar o usuário extremamente amedrontado; 
 
 Estados de exaltação (coexistem com muita ansiedade, angústia e pânico, e são 
relatados como boas ou más “viagens”). 
 
Outra repercussão psíquica da ação do LSD sobre o cérebro são os delírios. Observe o 
quadro: 
 
 
 
 
 
Delírios de grandiosidade 
O indivíduo se julga com capacidades ou forças 
extraordinárias. 
Por exemplo, capacidade de atirar-se de janelas, 
acreditando que pode voar; de avançar mar 
adentro, crendo que pode caminhar sobre a água; 
de ficar parado em frente a um carro numa 
estrada, julgando ter força mental suficiente para 
pará-Io. 
 
Delírios persecutórios 
O indivíduo acreditaver à sua volta indícios de 
uma conspiração contra si e pode até agredir 
outras pessoas numa tentativa de defender-se da 
“perseguição”. 
 
Outros efeitos tóxicos 
 
Há descrições de pessoas que experimentam sensações de ansiedade muito intensa, 
depressão e até quadros psicóticos por longos períodos após o consumo do LSD. 
 
Uma variante desse efeito é o flashback, quando, após semanas ou meses depois de 
uma experiência com LSD, o indivíduo volta a apresentar, repentinamente, todos os efeitos 
psíquicos da experiência anterior, sem ter voltado a consumir a droga novamente, com 
conseqüências imprevisíveis, uma vez que tais efeitos não estavam sendo procurados ou 
esperados e podem surgir em ocasiões bastante impróprias. 
 
Efeitos no resto do organismo 
 
 Aceleração do pulso; 
 Dilatação da pupila; 
 Episódios de convulsão já foram relatados, mas são raros. 
 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
O fenômeno da tolerância desenvolve-se muito rapidamente com LSD, mas também 
há um desaparecimento rápido com a interrupção do uso da substância. Não há descrição de 
uma síndrome de abstinência se um usuário crônico deixa de consumir a substância, mas, 
ainda assim, pode ocorrer a dependência quando, por exemplo, as experiências com o LSD ou 
outras drogas perturbadoras do SNC são encaradas como “respostas aos problemas da vida” 
ou “formas de encontrar-se”, que fazem com que a pessoa tenha dificuldades em deixar de 
consumir a substância, frequentemente, ficando à deriva no dia-a-dia, sem destino ou 
objetivos que venham a enriquecer sua vida pessoal. 
 
• Ecstasy (3,4-metileno-dioxi-metanfetamina ou MDMA) 
 
É uma substância alucinógena que guarda relação química com as anfetaminas e 
apresenta, também, propriedades estimulantes. Seu uso é frequentemente associado a certos 
grupos, como os jovens freqüentadores de danceterias ou boates. 
 
Há relatos de casos de morte por hipertermia maligna1, em que a participação da 
droga não é completamente esclarecida. Possivelmente, a droga estimula a hiperatividade e 
aumenta a sensação de sede ou, talvez, induza um quadro tóxico específico. 
 
Também existem suspeitas de que a substância seja tóxica para um grupo específico 
de neurônios produtores de serotonina. 
 
• Anticolinérgicos 
 
São substâncias provenientes de plantas ou sintetizadas em laboratório que têm a 
capacidade de bloquear as ações da acetilcolina, um neurotransmissor encontrado no SNC e 
no Sistema Nervoso Periférico (SNP). Produzem efeitos sobre o psiquismo quando utilizadas 
em doses relativamente grandes e também provocam alterações de funcionamento em 
diversos sistemas biológicos, portanto, são drogas pouco específicas. 
 
Como efeitos psíquicos, os anticolinérgicos causam alucinações e delírios. São comuns 
as descrições de pessoas intoxicadas que se sentem perseguidas ou têm visões de pessoas ou 
animais. Esses sintomas dependem bastante da personalidade do indivíduo, assim como das 
circunstâncias ambientais em que ocorreu o consumo dessas substâncias. 
 
Os efeitos são, em geral, bastante intensos e podem durar até 2 ou 3 dias. 
 
Efeitos somáticos 
 
 Dilatação da pupila; 
 Boca seca; 
 Aumento da frequência cardíaca; 
 Diminuição da motilidade intestinal (até paralisia); 
 Dificuldades para urinar. 
 
Em doses elevadas, podem produzir grande elevação da temperatura (até 40-41°C), 
com possibilidade de ocorrerem convulsões. Nessa situação, a pessoa apresenta-se com a pele 
muito quente e seca, com uma hiperemia2 principalmente, localizada no rosto e no pescoço. 
 
 
 
1 Aumento excessivo da temperatura corporal. 
 
2 Congestão sanguínea em qualquer parte do corpo. 
 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
São exemplos de drogas desse grupo: algumas plantas, como certas espécies do 
gênero Datura, conhecidas como saia branca, trombeteira ou zabumba, que produzem 
atropina e escopolamina; e certos medicamentos, como o tri-hexafenidil, a diciclomina e o 
biperideno. 
 
Outras drogas 
 
Você já estudou que as drogas podem ter vários tipos de classificação. Conheça, a 
seguir, alguns exemplos de drogas cujos efeitos psicoativos não possibilitam sua classificação 
numa única categoria (depressoras, estimulantes ou perturbadoras da atividade mental). 
 
Repare que todas as drogas descritas a seguir são lícitas, ou seja, são comercializadas 
de forma legal. 
• Tabaco 
 
Um dos maiores problemas de saúde pública em diversos países do mundo, o cigarro é 
uma das mais importantes causas potencialmente evitáveis de doenças e morte. 
 
Efeitos 
 
 Doenças cardiovasculares (infarto, AVC e morte súbita); 
 Doenças respiratórias (enfisema, asma, bronquite crônica, doença pulmonar 
obstrutiva crônica); 
 Diversas formas de câncer (pulmão, boca, faringe, laringe, esôfago, estômago, 
pâncreas, rim, bexiga e útero). 
 
Seus efeitos sobre as funções reprodutivas incluem redução da fertilidade, prejuízo do 
desenvolvimento fetal, aumento de riscos para gravidez ectópica1 e abortamento espontâneo. 
 
A nicotina é a substância presente no tabaco que provoca a dependência. Embora 
esteja implicada nas doenças cardiocirculatórias, não parece ser esta a substância cancerígena. 
 
As ações psíquicas da nicotina são complexas, com uma mistura de efeitos 
estimulantes e depressores. Mencionam-se o aumento da concentração e da atenção e a 
redução do apetite e da ansiedade. 
 
A nicotina induz tolerância e se associa a uma síndrome de abstinência com alterações 
do sono, irritabilidade, diminuição da concentração e ansiedade. 
 
Fumantes passivos – existem evidências de que os não-fumantes expostos à fumaça 
de cigarro do ambiente (fumantes passivos) têm um risco maior de desenvolver as 
mesmas patologias que afetam os fumantes. 
 
• Cafeína 
 
É estimulante do SNC menos potente que a cocaína e as anfetaminas. O seu potencial 
de induzir dependência vem sendo bastante discutido nos últimos anos. Surgiu até o termo 
“cafeinísmo” para designar uma síndrome clínica associada ao consumo importante (agudo ou 
crônico) de cafeína, caracterizada por ansiedade, alterações psicomotoras, distúrbios do sono 
e alterações do humor. 
 
1 Gravidez extra-uterina, fora do útero. 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
 
 
 
 
 
• Esteróides anabolizantes 
 
Embora sejam descritos efeitos euforizantes por alguns usuários dessas substâncias, 
essa não é, geralmente, a principal razão de sua utilização. Muitos indivíduos que consomem 
essas drogas são fisiculturistas, atletas de diversas modalidades ou indivíduos que procuram 
aumentar sua massa muscular. Podem desenvolver um padrão de consumo que se assemelha 
ao de dependência. 
 
Efeitos adversos 
 
 Diversas doenças cardiovasculares; 
 Alterações no fígado, inclusive câncer; 
 Alterações musculoesqueléticas indesejáveis (ruptura de tendões, interrupção 
precoce do crescimento). 
 
Essas substâncias, quando utilizadas por mulheres, podem provocar masculinização 
(crescimento de pêlos pelo corpo, voz grave, aumento do volume do clitóris). Em homens, 
pode haver atrofia dos testículos. 
 
Experimentação, uso, abuso e dependência de drogas 
 
O uso de drogas que alteram o estado mental, aqui chamadas de substâncias 
psicoativas (SPA), acontece há milhares de anos e muito provavelmente vai acompanhar toda 
a história da humanidade. Quer seja por razões culturais ou religiosas, por recreação ou como 
forma de enfrentamento de problemas, para transgredir ou transcender, como meio de 
socialização ou para se isolar, o homem sempre se relacionou com as drogas. 
 
Essa relação do indivíduocom cada substância psicoativa pode, dependendo do 
contexto, ser inofensiva ou apresentar poucos riscos, mas também pode assumir padrões de 
utilização altamente disfuncionais, com prejuízos biológicos, psicológicos e sociais. Isso justifica 
os esforços para difundir informações básicas e confiáveis a respeito de um dos maiores 
problemas de saúde pública que afeta, direta ou indiretamente, a qualidade de vida de todo 
ser humano. 
 
Do ultrapassado conceito moral aos sistemas classificatórios atuais 
 
O conceito, a percepção humana e o julgamento moral sobre o consumo de drogas 
evoluíram constantemente e muito se basearam na relação humana com o álcool, por ser ele a 
droga de uso mais difundido e antigo. Os aspectos relacionados à saúde só foram mais estudados e 
discutidos nos últimos dois séculos, predominando, antes disso, visões preconceituosas dos 
usuários, vistos muitas vezes como ‘possuídos por forças do mal’, portadores de graves falhas de 
caráter ou totalmente desprovidos de ‘força de vontade’ para não sucumbirem ao ‘vício’. 
 
Já no século XX, nos EUA, E. M. Jellinek foi talvez o maior expoente, dentre os cientistas de 
sua época, a estudar e divulgar o assunto alcoolismo, obtendo amplo apoio e penetração dentre os 
grupos de ajuda mútua, recém-formados em 1935, como os Alcoólicos Anônimos (AA), e exercendo 
grande influência na Organização Mundial de Saúde (OMS) e na Associação Médica Americana 
(AMA). 
Você sabia? 
Que altas doses de cafeína são encontradas em bebidas ingeridas diariamente? Além do 
tradicional cafezinho, chás e refrigerantes também retêm esse tipo de droga. 
 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
 
Na década de 60, do século passado, o programa da saúde mental da Organização Mundial 
de Saúde tornou-se ativamente empenhado em melhorar o diagnóstico e a classificação de 
transtornos mentais, além de prover definições claras de termos relacionados. Naquela época, a 
OMS convocou uma série de encontros para rever o conhecimento a respeito do assunto, 
envolvendo representantes de diferentes disciplinas, de várias escolas de pensamento em 
psiquiatria e de todas as partes do mundo para o programa. Esses encontros trouxeram os 
seguintes benefícios: estimularam e conduziram pesquisa sobre critérios para a classificação e a 
confiabilidade de diagnósticos, produziram e estabeleceram procedimentos para avaliação 
conjunta de entrevistas gravadas em vídeo e outros métodos úteis em pesquisa sobre diagnóstico. 
Numerosas propostas para melhorar a classificação de transtornos mentais resultaram desse 
extenso processo de consulta, as quais foram usadas no rascunho da 8ª Revisão da Classificação 
Internacional de Doenças (CID - 8). 
 
Atualmente, estamos na 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID - 10), a 
qual apresenta as descrições clínicas e diretrizes diagnósticas das doenças que conhecemos. Essa é 
a classificação utilizada por nosso sistema de saúde pública. 
 
Outro sistema classificatório bem conhecido em nosso meio é o Manual Diagnóstico e 
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM - 4) , da Associação Psiquiátrica Americana. 
 
Ambos os sistemas classificatórios refletem nos seus critérios para dependência os 
conceitos de Síndrome de Dependência do Álcool, propostos, inicialmente, por Edward e 
Gross, em 1976. Interessante é que o diagnóstico da Síndrome de Dependência do Álcool 
pode estabelecer níveis de comprometimento ao longo de um contínuo, entre o nunca ter 
experimentado até o gravemente enfermo, considerando os aspectos do grau de 
dependência relacionado com o grau de problemas. 
 
Esse conceito de dependência transcende o modelo moral, que considerava beber 
excessivamente falha de caráter e até mesmo o modelo de doença “alcoolismo”, diagnóstico 
categorial, em que só se pode variar entre ser ou não portador da doença, sem permitir graduações 
de gravidade dos quadros; no qual a perda do controle, a presença de sintomas de tolerância e 
abstinência determinam o indivíduo como sendo ou não alcoólatra (dependente de etílicos). 
 
A conceituação da Síndrome da Dependência do Álcool como 
importante passo rumo às abordagens Modernas 
 
A conceituação da Síndrome da Dependência do Álcool como importante passo rumo às 
abordagens modernas Conforme conceituaram, na década de 70, os cientistas Edwards e Gross, os 
principais sinais e sintomas de uma Síndrome de Dependência do Álcool são os seguintes: 
 
 Estreitamento do repertório de beber: As situações em que o sujeito bebe se tornam 
mais comuns, com menos variações em termos de escolha da companhia, dos 
horários, do local ou dos motivos para beber, ficando ele cada vez mais estereotipado 
à medida que a dependência avança; 
 
 Saliência do comportamento de busca pelo álcool: O sujeito passa gradualmente a 
planejar seu dia-a-dia em função da bebida, como vai obtê-la, onde vai consumi-la e 
como vai recuperar-se, deixando as demais atividades em plano secundário; 
 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
 Sensação subjetiva da necessidade de beber: O sujeito percebe que perdeu o controle, 
que sente um desejo praticamente incontrolável e compulsivo de beber; 
 
 Desenvolvimento da tolerância ao álcool: Por razões biológicas, o organismo do 
indivíduo suporta quantidades cada vez maiores de álcool ou a mesma quantidade não 
produz mais os mesmos efeitos que no início do consumo; 
 
 Sintomas repetidos de abstinência: Em paralelo com o desenvolvimento da tolerância, 
o sujeito passa a apresentar sintomas desagradáveis ao diminuir ou interromper a sua 
dose habitual. Surgem ansiedade e alterações de humor, tremores, taquicardia, 
enjôos, suor excessivo e até convulsões, com risco de morte; 
 
 Alívio dos sintomas de abstinência ao aumentar o consumo: Nem sempre o sujeito 
admite, mas um questionamento detalhado mostrará que ele está tolerante ao álcool 
e somen te não desenvolve os descritos sintomas na abstinência, porque não reduz ou 
até aumenta gradualmente seu consumo, retardando muitas vezes o diagnóstico; 
 
 Reinstalação da síndrome de dependência: O padrão antigo de consumo pode se 
restabelecer rapidamente, mesmo após um longo período de não-uso. Note que, 
nesse raciocínio da Síndrome de Dependência do Álcool, se trocarmos o álcool por 
qualquer outra droga, com potencial de abuso ou até mesmo pelos comportamentos 
que eventualmente podem sair do controle (jogo patológico, por exemplo), 
percebemos grande semelhança na natureza dos sintomas. 
 
Observe a figura: 
Figura 1 Padrões de consumo 
 
 
 
 
Essa figura representa os padrões de consumo do álcool, segundo Edwards (1977), no qual 
o eixo horizontal representa o grau de dependência e o eixo vertical o grau de problemas 
existentes em função do uso do álcool. Se o indivíduo encaixa-se no quadrante inferior esquerdo 
não existe problema em relação ao uso de álcool e nenhum grau de dependência (uso social). Se se 
encaixar no quadrante superior esquerdo, observa-se que, embora ele não apresente nenhum grau 
de dependência, tem problemas devido ao uso de álcool (uso problemático ou abuso). Já no 
quadrante superior direito, encontramos o indivíduo que apresenta um quadro de Síndrome de 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
Dependência do Álcool. O quadrante inferior direito não existe clinicamente, uma vez que o quadro 
de dependência está sempre associado a algum tipo de problema na vida do indivíduo. É 
interessante notar que, apesar de o quadro ter sido, primariamente, desenvolvido para explicar os 
padrões de consumo do álcool, ele pode ser adaptado para diversas outras drogas com potencial 
de causar dependência. 
 
A validaçãodo conceito de Síndrome de Dependência do Álcool permitiu que os sistemas 
classificatórios atuais operacionalizassem o conceito psicopatológico da dependência, ao utilizar 
critérios práticos e confiáveis. 
 
Mas qual a vantagem de estabelecer precisão em tais critérios? Possibilita um bom 
diagnóstico, etapa primeira antes de qualquer abordagem. 
 
Padrões de consumo de drogas 
 
Conheça agora a correlação entre uso, abuso e dependência de drogas. 
 
Uso de drogas 
 
É a auto-administração de qualquer quantidade de substância psicoativa. 
 
Abuso de drogas 
 
Pode ser entendido como um padrão de uso que aumenta o risco de consequências 
prejudiciais para o usuário. Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID), o termo “uso 
nocivo” é aquele que resulta em dano físico ou mental, enquanto no Manual Diagnóstico e 
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), “abuso” engloba também consequências sociais. 
 
Para uma melhor comparação veja a seguinte tabela: 
 
Tabela 1: Comparação entre critérios de abuso e uso nocivo da 
DSM-IV e CID-10 
 
DSM-IV 
 
CID-10 
ABUSO USO NOCIVO 
Um ou mais dos seguintes sintomas ocorrendo no 
período de 12 meses, sem nunca preencher 
critérios para dependência: 
 
1. Uso recorrente, resultando em fracasso 
em cumprir obrigações importantes 
relativas a seu papel no trabalho, na 
escola ou em casa. 
2. Uso recorrente em situações nas quais 
isto representa perigo físico. 
3. Problemas legais recorrentes 
relacionados à substância. 
4. Uso continuado, apesar de problemas 
sociais ou interpessoais persistentes ou 
recorrentes causados ou exacerbados 
pelos efeitos da substância. 
a. Evidência clara que o uso foi responsável 
(ou contribuiu consideravelmente) por 
dano físico ou psicológico, incluindo 
capacidade de julgamento 
comprometida ou disfunção de 
comportamento. 
b. A natureza do dano é claramente 
identificável. 
c. O padrão de uso tem persistido por pelo 
menos um mês ou tem ocorrido 
repetidamente dentro de um período de 
12 meses. 
d. Não satisfaz critérios para qualquer outro 
transtorno relacionado à mesma 
substância no mesmo período (exceto 
intoxicação aguda). 
 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
Dependência 
Na tabela seguinte, encontra-se uma comparação entre os critérios de dependência 
referidos nas classificações do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais e da 
Classificação Internacional de Doenças. Esses dois sistemas de classificação facilitam identificar 
o dependente de substância psicoativa, veja com atenção 
 
Tabela 2: Comparação entre os critérios para dependência da DSMIV e CID-10 
DSM-IV CID-10 
Padrão mal-adaptativo de uso, levando a prejuízo 
ou sofrimento clinicamente significativos, 
manifestados por 3 ou mais dos seguintes 
critérios, ocorrendo a qualquer momento no 
mesmo período de 12 meses: 
 
1. Tolerância, definida por qualquer um dos 
seguintes aspectos: (a) uma necessidade 
de quantidades progressivamente 
maiores para adquirir a intoxicação ou 
efeito desejado; (b) acentuada redução 
do efeito com o uso continuado da 
mesma quantidade. 
2. Abstinência, manifestada por qualquer 
dos seguintes aspectos: (a) síndrome de 
abstinência característica para a 
substância; (b) a mesma substância (ou 
uma substância estreitamente 
relacionada) é consumida para aliviar ou 
evitar sintomas de abstinência. 
3. A substância é frequentemente 
consumida em maiores quantidades ou 
por um período mais longo do que o 
pretendido. 
4. Existe um desejo persistente ou esforços 
mal-sucedidos no sentido de reduzir ou 
controlar o uso. 
5. Muito tempo é gasto em atividades 
necessárias para a obtenção e utilização 
da substância ou na recuperação de seus 
efeitos. 
6. Importantes atividades sociais, 
ocupacionais ou recreativas são 
abandonadas ou reduzidas em virtude do 
uso. 
7. O uso continua, apesar da consciência de 
ter um problema físico ou psicológico 
persistente ou recorrente que tende a 
ser causado ou exacerbado pela 
substância. 
Três ou mais das seguintes manifestações 
ocorrendo conjuntamente por pelo menos 1 mês 
ou, se persistirem por períodos menores que 1 
mês, devem ter ocorrido juntas de forma repetida 
em um período de 12 meses: 
 
1. Forte desejo ou compulsão para 
consumir a substância; 
2. Comprometimento da capacidade de 
controlar o início, término ou níveis de 
uso, evidenciado pelo consumo 
frequente em quantidades ou períodos 
maiores que o planejado ou por desejo 
persistente ou esforços infrutíferos para 
reduzir ou controlar o uso; 
3. Estado fisiológico de abstinência quando 
o uso é interrompido ou reduzido, como 
evidenciado pela síndrome de 
abstinência característica da substância 
ou pelo uso desta ou similar para aliviar 
ou evitar tais sintomas; 
4. Evidência de tolerância aos efeitos, 
necessitando de quantidades maiores 
para obter o efeito desejado ou estado 
de intoxicação ou redução acentuada 
destes efeitos com o uso continuado da 
mesma quantidade; 
5. Preocupação com o uso, manifestado 
pela redução ou abandono das atividades 
prazerosas ou de interesse significativo 
por causa do uso ou do tempo gasto em 
obtenção, consumo e recuperação dos 
efeitos; 
6. Uso persistente, a despeito de evidências 
claras de consequências nocivas, 
evidenciadas pelo uso continuado 
quando o sujeito está efetivamente 
consciente (ou espera-se que esteja) da 
natureza e extensão dos efeitos nocivos. 
 
 
I. Drogas: classificação, efeitos, experimentação, uso, abuso e 
dependência de drogas. 
 
 
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