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Metodologia do Ensino dos Esportes Coletivos Voleibol: Iniciação e Treinamento Prof. Renato Siqueira Rochefort Departamento de Desportos - ESEF/UFPel Pelotas, 2006 Universidade Federal de Pelotas Escola Superior de Educação Física 2 I N D I C E 1 2 3 4 5 6 Um Olhar sobre a Formação Profissional: o ensino dos esportes coletivos ......... Metodologia do ensino dos Esportes Coletivos: Voleibol - Iniciação Esportiva ... 2.1 Crescimento e Desenvolvimento infantil .................................................................. 2.2 Aspectos motores ..................................................................................................... 2.3 Aspectos Afetivo-emocionais ................................................................................... 2.4 O Ensino do Voleibol – Aspectos do Cotidiano Escolar ........................................... 2.5 Aspectos Metodológicos: Os métodos Parcial, Global e Misto ................................ 2.5.1 O Método Parcial ............................................................................................. 2.5.2 O Método Global ............................................................................................. 2.5.3 O Método Misto ............................................................................................... Fundamentos metodológicos do ensino do voleibol ............................................... 3.1 Abordagens Metodológicas no Ensino do Voleibol .................................................. 3.1.1 Abordagem Tradicional ................................................................................... 3.1.2 Abordagem Série de Exercícios ...................................................................... 3.1.3 Abordagem Série de Jogos ............................................................................. 3.1.4 Abordagem Estruturalista ................................................................................ 3.1.5 Abordagem Crítica .......................................................................................... Abordagens Metodológicas Específicas para o Voleibol ........................................ 4.1 Conceito de Voleibol – o modelo de Pittera & Violetta ....................................... 4.2 A proposta metodológica de Bojikian .................................................................. 4.2.1 Apresentação da habilidade motora ............................................................... 4.2.2 Seqüência Pedagógica ................................................................................... 4.2.3 Exercícios Educativos e/ou Formativos .......................................................... 4.2.4 Automatização ................................................................................................. 4.2.5 Aplicação do Fundamento a Mecânica do Voleibol ........................................ 4.2.6 A ordenação dos fundamentos ....................................................................... 4.2.7 O Processo Progressivo-Associativo .............................................................. 4.3 A proposta metodológica de Costa ...................................................................... 4.3.1 A fase de aprendizagem ................................................................................. 4.3.2 A fase de iniciação .......................................................................................... 4.3.3 A fase de aperfeiçoamento ............................................................................. 4.3.4 Um modelo de programa de ensino ................................................................ 4.4 A proposta metodológica de Bizzocchi ............................................................... 4.4.1 O processo metodológico ................................................................................ 4.4.2 O processo pedagógico .................................................................................. 4.5 A proposta metodológica da American Sport Education Program ................... 4.5.1 Introduza a habilidade ..................................................................................... 4.5.2 Demonstre a habilidade .................................................................................. 4.5.3 Explique a habilidade ...................................................................................... 4.5.4 Ajude os jogadores que estão treinando a habilidade .................................... Exemplos de jogos recreativos para o voleibol ........................................................ Referências Bibliográficas .......................................................................................... 3 5 6 6 8 8 13 13 13 14 14 18 19 20 25 27 29 29 30 32 33 33 34 34 34 35 35 36 37 38 38 39 39 41 42 43 43 44 44 45 45 56 3 1. Um Olhar Sobre a Formação Profissional... O ensino dos esportes coletivos FATO Distanciamento do ensino na Universidade da realidade objetiva CAUSAS Pela estrutura curricular Aulista Quanto mais aula melhor Pelo formato das aulas Prática de Exercícios Prática Pedagógica Conteúdos específicos da Conteúdos específicos da modalidade esportiva modalidade esportiva Sequência didático - pedagógica Estudo e aplicação da metodologia nas aulas e dos procedimentos Aplicação com os próprios Aplicação com alunos da rede escolar alunos da disciplina ou de escola de aplicação Avaliação do conteúdo Avaliação do processo (execução) de ensino - aprendizagem FORMA Conhecimento específico Consumo Pouco (nenhum) conhecimento da modalidade interno da realidade escolar e esportiva cotidiana Tomada de decisão metodológica Vamos analisar mais detalhadamente a esquematização gráfica apresentada anteriormente. Existe hoje em dia uma discussão, em forma de debate saudável, sobre a formação profissional, onde o fato mais marcante e alvo de muitas críticas recai sobre o distanciamento do ensino que acontece no interior dos cursos de Educação Física, e a realidade objetiva representada pelo cotidiano escolar. 4 Entre as várias causas apontadas para este fato pelos debatedores estão a estrutura curricular que dizem ser “aulista”, pois está baseada na premissa de quanto mais aulas melhor, ou ainda, só aprende-se entre quatroparedes, na sala de aula ou nos ginásios didáticos de nossos cursos de formação. A outra causa apontada é o formato das aulas que na verdade são muito mais uma prática de exercícios do que verdadeiramente uma prática pedagógica. Neste tipo de aula muito utilizado nas Universidades, os acadêmicos são ao mesmo tempo os consumidores do conteúdo e os praticantes. Observando mais atentamente o esquema apresentado veremos que em relação ao conteúdo específico da modalidade não há diferença entre os dois pólos. No caso específico do voleibol, os fundamentos tanto técnicos quanto táticos são os mesmos. Mas existem diferenças de abordagem. Por exemplo, no modelo mais utilizado pelos professores nas aulas, são apresentadas aos alunos seqüências didático-pedagógicas para o ensino do voleibol na escola, e os alunos matriculados na disciplina são os executantes, ou seja, os receptores deste conteúdo tão somente, pois a aplicação do mesmo se dá com eles próprios. Se as aulas fossem, além disso, também uma prática pedagógica, eles deveriam aplicar as metodologias e procedimentos vivenciados e aprendidos, ou na própria turma ou com alunos externos, escolares, por exemplo, o que na grande maioria dos casos não acontece. Outra questão importante é aquela que diz respeito à avaliação. Ela é realizada tão somente em cima do conteúdo estudado, tanto teórico quanto prático. E mais, muitas vezes a avaliação prática se dá na perspectiva da capacidade de realização e execução dos fundamentos pelos alunos da disciplina, o que evidencia muito mais uma filosofia de prática de exercícios do que uma prática pedagógica. Existem algumas tentativas de alguns professores em realizar avaliações do processo de ensino-aprendizagem, mas elas se tornam limitadas pela estrutura “aulista” empregada na maioria dos cursos como já frisamos anteriormente. Assim, a forma de como se dá o ensino dos esportes coletivos na formação profissional dos acadêmicos de Educação Física no interior das Universidades é mais ou menos algo como um trabalho centrado no conhecimento específico da modalidade esportiva, muitas vezes fragmentado e descolado de uma realidade objetiva; algo que serve apenas para consumo interno de cada um de acordo com sua perspectiva de atuação, com pouco ou quase nenhum conhecimento da realidade cotidiana, quer seja ela escolar, quer seja ela fora da escola, e de onde, ou a partir de onde, o futuro profissional deverá tomar decisões metodológicas, experimentadas apenas como executante em seu tempo universitário, em sua atuação enquanto professor, instrutor ou técnico esportivo. A estrutura curricular dos cursos, dividida em semestres e disciplinas fragmentadas, onde, por exemplo, nos esportes se trabalha o conteúdo específico da modalidade em um determinado tempo, e as questões metodológicas em outras disciplinas em outro tempo da formação, ao nosso ver tem contribuído muito para esta questão. Talvez uma nova estruturação curricular, uma nova forma de encarar o processo de formação profissional se faça necessária para atender principalmente estes dois aspectos evidenciados por nós: a fragmentação do ensino e o distanciamento da realidade objetiva. Quem sabe pensar numa estruturação por áreas de estudo, no caso, uma área de estudos em metodologia do ensino dos esportes coletivos, onde além do conteúdo específico de cada modalidade, uma série de outras disciplinas consideradas fundamentais para a formação docente estivessem incluídas fosse a solução para, se não resolver, pelo menos amenizar a problemática vivida no interior dos cursos de formação em Educação Física atualmente. Vamos adiante. Existem outras questões a abordar dentro desta temática. 5 2. Metodologia do ensino dos Esportes Coletivos: Voleibol Iniciação Esportiva Fundamentos Metodológicos do Ensino do Voleibol Unidade didático – pedagógica Aluno Professor Objetivos Perfil Tomada de Adequados Psicomotor Posição ao Metodológica Método/Proced. Determina a Procedimentos Adequados a Capacidade de Dinamizadores Capacidade dos Execução do Método Alunos Realidade objetiva do local de aprendizagem Provocar reações favoráveis de afetividade Êxito Pedagógico Vamos abordar um pouco sobre o que muito particularmente denominamos de unidade didático-pedagógica: Aluno – Professor – Objetivos. Ela representa o fazer pedagógico cotidiano do professor desde quando ele confecciona seu planejamento, seja de ensino, de iniciação ou treinamento. Do aluno ou do atleta é necessário que se reconheça seu perfil psicomotor que é o que determinará a sua capacidade de execução. A partir deste conhecimento o professor poderá então, com mais certeza e eficácia, adotar uma conduta metodológica adequada escolhendo procedimentos compatíveis com ela, dinamizando assim sua ação docente. Claro, tudo isso a luz 6 de objetivos adequados a metodologia e procedimentos escolhidos, assim como também adequados as capacidades dos alunos ou atletas. Estas são decisões que se dizem anteriores ao processo de ensino-aprendizagem. São decisões prévias, portanto. E nelas deverão estar presentes dois focos fundamentais: primeiro a realidade objetiva do local de aprendizagem. E segundo, lembrar sempre que pela realidade do ensino, e aqui falo fundamentalmente da escola, aulas de Educação Física e atividades de Iniciação Esportiva, antes de qualquer outra coisa, é necessário de que nossa ação provoque nos praticantes reações favoráveis de afetividade. Ao nosso ver, estes são aspectos importantes para o êxito pedagógico do professor/treinador. Aproveitando a temática, convido-os a refletir sobre a Iniciação Esportiva e o Voleibol. 2.1 Crescimento e Desenvolvimento infantil Todo o comportamento humano pode ser caracterizado como pertencente a um dos três domínios (Cognitivo, afetivo e motor). Embora o comportamento possa ser caracterizado em um destes três domínios, existirá sempre a participação dos demais no mesmo comportamento observável. Então, a identificação de um comportamento como motor, indica somente a predominância deste sobre o cognitivo e o afetivo. Este inter-relacionamento implica então na necessidade de se considerar a criança na sua globalidade, qualquer que seja a situação educacional em que ela se encontre. Outro fator que se deve levar em consideração é o desenvolvimento neuro-muscular. Também o crescimento físico é importante, o padrão normal de crescimento físico, ainda que comum a todas as crianças, apresenta mudanças constantes e regulares. Isto resulta em uma estrutura física em que nenhuma idade pode ser proporcional ao modelo do adulto. Daí porque Teeple (1978) afirma que a criança não é um adulto em miniatura. Tendo em vista as diferenças entre criança e adulto nas proporções das partes do corpo em relação ao todo, não se pode esperar de uma criança a execução de tarefas motoras, da mesma forma que os adultos executam. Então, o professor ao idealizar e planejar suas atividades, métodos e procedimentos deve dar especial atenção as características físicas das crianças. Estes limites fisiológicos de execução é que determinarão suas possibilidades de concretização na execução de tarefas motoras. 2.2 Aspectos motores O ensino das técnicas esportivas, sempre que atende aeficiência e a qualidade dos resultados obtidos ou que se pretende obter, tem que ser dirigido de modo a considerar a influência dos diferentes parâmetros de ordem psicológica e motora que condicionam a eficiência dos movimentos humanos. Segundo Lima (1970) a aprendizagem exige do professor um conhecimento das capacidades de execução do aluno, que dependem por sua vez, das características psico-fisiológicas de sua idade e sexo, das características dominantes do meio em que vive, e também das características individuais, determinadas pelo perfil psicomotor. Se entendermos perfil psicomotor o conjunto de características de ordem psicomotora que os indivíduos apresentam normalmente em determinada idade, e que lhes permite a execução de tarefas motoras bem definidas em limites de tolerância quanto ao resultado desta execução, há que se atender a correspondência entre o que se ensina e a capacidade de execução como condicionante do ato pedagógico. Um dos aspectos fundamentais entre outros, é a ausência de experiências anteriores de movimentos, dada principalmente pela ausência do profissional da Educação Física, nas primeiras séries do 1º grau, na maioria das escolas. 7 Pesquié (1979) afirma que a experiência do aluno é importante, pois o desconhecido pode provocar em alguns, respostas de ansiedade acompanhadas de inibição motora. Sawrey & Telford (1966), afirmam também que as experiências anteriores preparam o indivíduo para aprendizagens novas, facilitando-as. A criança que não teve experiência alguma em associar objetos ou figura de objetos com símbolos, não pode atingir prontidão para leitura. Assim, a criança que não teve uma adequada experiência em perceber objetos, seus deslocamentos em relação ao espaço e ao tempo, entre outros fatores, não pode atingir prontidão para a prática esportiva. Para Lawther (1979), a experiência vasta e prévia dará a criança um maior repertório de padrões de movimentos que ela poderá utilizar, com algumas adaptações, a nova situação que a ela se apresentar. Se a criança não generalizar várias categorias de habilidades como o equilíbrio, corridas com mudanças rápidas de direção, lançamentos, cambalhotas, entre muitas outras, ela terá de começar de um nível muito mais baixo, aprender com mais lentidão e adquirir unidades básicas antes que possa executar tarefas motoras mais complexas, como as do voleibol. A criança chega a iniciação esportiva com muito pouca ou quase nenhuma experiência anterior em habilidades corporais, e isto não é levado em consideração. Então, sem as unidades básicas, são colocadas em situações de movimentos complexos, onde os resultados logo tem que aparecer. Como não possui experiências, e o imediatismo dita as normas, as situações de não- êxito nas tarefas podem evidenciar-se sobre as de êxito, e isso certamente trará e fará nosso praticante desistir, ou procurar outro tipo de esporte, ou até mesmo, outro tipo de atividade. Influência das variáveis genéticas e experienciais no êxito esportivo, adaptado de SINGER, R. in: Psicologia dos Esportes, 1977 GENÉTICAS EXPERIÊNCIAS Características Cognitivas Capacidades Cognitivas Capacidades motoras Características pessoais Prática Motivação Família / Colegas Interações Professor /aluno Treinador / atleta ÊXITO ESPORTIVO 8 2.3 Aspectos Afetivo-emocionais Dos fatores que influenciam o ato da aprendizagem destacam-se os que relacionam-se com os parâmetros de ordem afetiva e emocional, e a prática continuada nos esportes, também está intimamente relacionada com eles. Sendo assim, para Lima (1970), a ação pedagógica tem de dirigir-se aos alunos de maneira que evite reações desfavoráveis que resultem em manifestações de afetividade. Exercícios não adequados as capacidades dos alunos, podem e certamente produzirão, tensões emocionais perturbadoras, fazendo-os sentirem-se revoltados, demonstrando isso por meio de manifestações de repúdio a atividade, e até mesmo aos professores em particular. Para Jersild (1977), uma criança torna-se ligada a pessoas ou coisas, em virtude da satisfação que estas lhe proporcionam, do papel que desempenham no atendimento de suas necessidades elementares. Segundo Alderman (1974), três grandes dimensões provavelmente operam para causar a tendência afiliativa nas pessoas. E todas são relevantes para o comportamento em atividades físicas e esportivas, podendo ser operacionalizadas como : Medo do isolamento ou separação do grupo; A necessidade de auto–avaliação; e O ganho de auto-estima por meio da afiliação com outras pessoas. Principais dimensões afiliativas no esporte, adaptado de ALDERMAN, R. B. in: Psychological Behavior in Sports, 1974. 2.4 O Ensino do Voleibol – Aspectos do Cotidiano Escolar Este tema que estamos abordando aqui se torna por demais relevante, principalmente quando se fala de Educação Física escolar, onde o principal conteúdo trabalhado nas aulas é o esporte. E ele é relevante porque a manifestação competitiva do esporte é muito forte na sociedade hoje em dia, via meios de comunicação social, fundamentalmente pela televisão. E o que vemos muitas vezes no ensino do esporte nas aulas de Educação Física é esta manifestação competitiva, do esporte espetáculo, predominando tanto pela ação dos alunos quanto pela metodologia empregada pelos professores. Ao nosso ver, a adoção metodológica de dar a bola para os alunos jogarem, por exemplo, não é neutra, porque traz nela toda uma tendência da Necessidade por capacidade de aperfeiçoamento Necessidade de auto-avaliação Necessidade de comparação social Tendência afiliativa AFILIAÇÃO Medo de isolamento social Medo de ser separado Ansiedade Tendência Afiliativa Auto-estima Tendência Afiliativa 9 manifestação competitiva. Basta ver que quando isso acontece há uma seleção natural por parte dos alunos onde os que jogam são os que dominam mais a modalidade. Os outros olham ou vão fazer outra coisa. E isso é só um exemplo. No quadro abaixo, a título de ilustração, elaboramos uma comparação entre as principais características do esporte na escola e do esporte de treinamento. Fundamentos Metodológicos Do Ensino do Voleibol Indicadores Escolar Treinamento Grupo - Alunos e Atletas Heterogêneo Mais Homogêneo Material Pouco material Muito Material Tamanho do Grupo Grande Reduzido Profissional Professor/Educador Professor/Treinador Teorias Educação/Educação Física Treinamento Esportivo Objetivos Aprender a jogar Jogar "bem" Aplicação do aprendido/treinado Cotidiano/ Vida do aluno Jogos e Lazer Cotidiano/ Vida do atleta Jogos e Competições Método Voltado para a idéia dos movimentos Voltado para a execução Padrão do Movimento Procedimentos Inclusivo Para todos Excludente Discriminatório e Seletivo Avaliação Do aprendido Da performance/resultados Fundamentos Os possíveis de acordo com a realidade Todos os fundamentos técnicos e táticos da modalidade Outros Como se pode perceber pela análise do quadro acima, existem diferenças fundamentais quando tratamos da mesma modalidade, porém em campos de atuação diferentes, utilizando para tal análise os mesmos indicadores. Muitas vezes no cotidiano escolar há uma mistura perigosa destes conteúdos apresentados, muitos deles originados na não observaçãocriteriosa, por parte do professor, do que chamamos lá na frente de unidade didático-pedagógica. 10 Na observação do cotidiano escolar, existem pelo menos duas situações, que denominamos de “ Situação Problema” que merecem também uma reflexão: a) Pouco material/ muitos alunos; e b) Muitos alunos/ pouco tempo. Fundamentos Metodológicos Do Ensino do Voleibol Ensino do voleibol na Escola Situação Problema 1: pouco material / muitos alunos Fatos Repercussão a) Desmotivação dos alunos b) Dificuldade na variação das atividades c) Dificuldade de execução pelos alunos d) Espaço esportivo muitas vezes é inadequado Exercícios pouco dinâmicos Muita espera nas colunas, círculos, etc. Pouco contato com a bola Repetição acentuada de exercícios nas aulas Desinteresse pela atividade Outros A dinâmica da atividade não evolui Os exercícios tornam-se demorados e sem sentido Pela improvisação do espaço da aula pode tornar-se desmotivante Conhecimento parcial da realidade do jogo Se observarmos atentamente os fatos e as repercussões apresentadas nesta situação problema 1, podemos afirmar que a origem principal deles estão nas questões metodológicas e afetivas. Apenas o item “c” apresenta uma elaboração motora, porém de repercussão metodológica e afetiva. O item “d” trata de um fato estrutural, mas que também repercute principalmente de forma afetiva. No quadro a seguir, apresentaremos a situação problema 2. 11 Fundamentos Metodológicos Do Ensino do Voleibol Ensino do voleibol na Escola Situação Problema 2: muitos alunos/pouco tempo Fatos Repercussão a) Os alunos querem jogar b) Quantos exercícios colocar na aula? c) Que conteúdo da modalidade selecionar? Só alguns jogam, normalmente os "melhores" Dispersão dos outros da atividade Desinteresse pela modalidade Influência do jogo "institucionalizado" Se muitos, velocidade excessiva em cada um deles, e dificuldade de assimilação pelos alunos Se poucos, podem se tornar desmotivantes pelo material existente, e quantidade efetiva de experiências Os alunos não tem uma visão geral da modalidade e do jogo Repetição dos mesmos fundamentos durante a aprendizagem na escola Já nesta relação entre muitos alunos e pouco tempo para a aula, temos três fatos que convivem cotidianamente com os professores. O primeiro é uma constatação da realidade: os alunos querem mesmo é jogar, e ai se o professor não tiver tomado uma decisão metodológica prévia de atender a todos, e partir para o atendimento desta vontade dos alunos pura e simplesmente, corre-se o risco do que já tratamos aqui, ou seja, a consolidação dentro da aula de Educação Física da manifestação competitiva do esporte. O segundo é outro que preocupa, qual seja com a quantidade de exercícios que se deve colocar no espaço da aula: muitos ou poucos exercícios? Há quem diga que não existe resposta para esta inquietação. Há quem diga, porém que às vezes é melhor colocar um ou dois exercícios somente, com muita repetição, a fim de que os alunos retenham o conteúdo. E o terceiro fato é também evidente na vida do professor: o que do conteúdo da modalidade esportiva colocar em um bimestre, trimestre ou semestre? Mais, isso fica ainda mais complicado de decidir dependendo, além de outros fatores extraclasse, quando se tem que decidir o conteúdo em razão da série de ensino que se esteja trabalhando. Como se pode perceber, não são poucas as questões que circundam o dia a dia do professor na sua tarefa de ensinar. Veja o esquema gráfico a seguir. 12 Fundamentos Metodológicos Do Ensino do Voleibol É preciso fazer uma análise Espaço Tempo Significado Condições para A) Continuar o modelo predominante... B) Pensar em centrar a aula não só nos fundamentos, e isso exigirá uma mudança de objetivos. Análise do "se movimentar" do voleibol Identificação das habilidades necessárias a este "se movimentar Escolha da metodologia e dos procedimentos adequados Verdadeiramente é preciso fazer sempre uma análise da situação antes de tomar decisões. As questões do espaço físico que a escola disponibiliza para a atuação do professor e do tempo que ele tem para ministrar suas aulas, quer sejam referentes a aula em si, quer sejam referentes a duração do período (bimestre, trimestre) estarão sempre presentes. Mas também é necessário que o professor faça uma análise do significado que esta aprendizagem possa vir a ter na vida de seus alunos como cidadãos, fora da escola. Por exemplo, o quanto pode ser importante para os alunos vivenciar e aprender as coisas do voleibol para eles. Aprender para ser aprovado na disciplina de Educação Física? Aprender para ser um atleta no futuro? Aprender para jogar com os colegas na pracinha ou no campinho perto de casa? Aprender para que ele seja um espectador atento e conhecedor do jogo? Aprender para criar o hábito e o gosto de praticar pela vida toda? Estas são questões que merecem reflexão de nossa parte e que nos direcionam a uma tomada de posição. Como aparece acima, não há milagres a fazer, mas existem opções: a) Continuamos repetindo o modelo predominante de ensino que ai está, centrado no ensino dos fundamentos; ou b) Modificamos nosso fazer, centrando a aula não só nos fundamentos, o que exigirá uma nova postura pedagógica e uma mudança de objetivos. Não há milagres a fazer.... Existem opções? 13 Existem várias possibilidades. Só a título de exemplificação, Kunz (1996) em sua obra Transformação Didático-pedagógica do Esporte apresentou um modelo diferente de encarar o ensino dos esportes. Tomando sua escrita para o voleibol, diria que é preciso primeiramente que o professor faça uma análise do “se movimentar” do voleibol como um todo, e não especificamente no movimento de seus fundamentos técnicos. Feito isso, o professor deverá identificar as habilidades corporais necessárias a este “se movimentar”, para a partir daí proceder na escolha da metodologia e dos procedimentos adequados. 2.5 Aspectos Metodológicos: Os métodos Parcial, Global e Misto A aprendizagem das técnicas esportivas e a iniciação dos desportos, para que obtenham êxito pedagógico, tem de ser conduzidas de modo a satisfazer os interesses dominantes dos participantes. Lima (1970) dia que saber tanto quanto possível o que representa para o aluno a aprendizagem dos movimentos, das técnicas esportivas e dos mecanismos da dinâmica dos desportos é, com efeito, o ponto de partida para o êxito pedagógico do professor. O insucesso de muitos professores e treinadores nas atividades esportivas, deve-se na maioria das vezes, a um desconhecimento do processo de aprendizagem e dos métodos de ensino a serem aplicados. Segundo Teleña (1978) e Oliveira (1981) os métodos comumente utilizados em Educação Física para o ensino das destrezas motoras são o método parcial, o método global e o método misto. 2.5.1 O Método Parcial Greyson e Gray (1979) dizem que o método parcial baseia-se no fundamento de que a parte é mais importante que o todo, deve por isso, receber uma maior ênfase. Autores como Odenal, Wilson e Kellan (1975),Eras (1973), Fiedler (1976), Bernimont, Bienfait e Talvernier (1979) entendem que o voleibol deva ser iniciado pelo meio do método parcial. Campos (1979), diz que logo no começo da aprendizagem, o método parcial propicia ao aprendiz, o conhecimento visível de seu progresso, o que não acontece com o método global, que pode desencorajar o aluno levando-o a pensar que não está produzindo e, até quem sabe, parar de tentar aprender. Teleña (1978) ressalta as vantagens e desvantagens do método parcial: VANTAGENS DESVANTAGENS 1. rápido desenvolvimento da técnica 2. progressão estável no desenvolvimento físico, pois o esforço é localizado. 1. não solicita uma participação ampla da coordenação e dos sistemas circulatório e respiratório 2. pobreza rítmica e expressividade limitada 3. não motiva o suficiente 2.5.2 O Método Global Greyson e Gray (1979) dizem que o método global baseia-se no fundamento de que o estudante deve visualizar a atividade como um todo, inteiramente, e os componentes devem ser pensados como meios para um fim, e não como um fim, com o que também concorda Naylor (1963). 14 Autores como Shay(1934), Cross(1937), Dorin(1968), entendem que na fase inicial da aprendizagem deve ser utilizado o método global. Dorin(1968) afirma que o aprendiz, quando aprende, retém melhor o conjunto do que as partes e que, antes de ensinar algo em profundidade, é necessário dar uma visão geral do conjunto. Teleña(1978) aponta como vantagens e desvantagens do método global : VANTAGENS DESVANTAGENS 1. admite maior participação do corpo 2. rápido desenvolvimento do senso rítmico 3. amplas oportunidades de expressão dos alunos 4. motiva facilmente 1. limitada progressão técnica dos gestos específicos do desporto Sotir(1980) e Carvalho(1973), concluíram que o método global permite que as crianças joguem voleibol rapidamente, entretanto, os gestos técnicos serão imprecisos e praticamente impossível de serem ratificados no futuro, concordando com Teleña (1978). Le Bouch (1979) afirma que a forma global de aprendizagem é fundamental na faixa etária de 11 a 12 anos, porque permite a aquisição de uma série de habilidades motoras cujo caráter não é estritamente automático, e no qual os movimentos de quem aprende se adaptam rudimentarmente aos objetivos. 2.5.3 O Método Misto Nada mais é do que a síntese dos dois métodos anteriores. Sotir (1980), comprovou em seus estudos e pesquisas com o voleibol, que a eficácia deste método é real, pois serve-se de ambos, parcial e global, para o aperfeiçoamento dos gestos técnicos. Segundo o autor, no início é necessário decompor e aplicar cada parte em separado, e uma vez assimiladas, passa-se para a execução completa. O importante deste método é saber quando e em que momento deve-se passar do método parcial para o global, ou seja, o professor deve ser perspicaz para perceber a ocasião oportuna, nem cedo demais, nem tarde demais, para realizar a troca de um pelo outro. Esta afirmação de Sotir (1980) evidencia a importância do conhecimento que o professor deve ter de todos os fenômenos do processo de aprendizagem, e neste caso em especial, os da aprendizagem esportiva. 3. Fundamentos metodológicos do ensino do voleibol Antes de entrarmos na abordagem específica deste tema, entendemos que se faz necessário colocar aqui alguns aspectos importantes que caracterizam os esportes coletivos como suas características e suas classificações. Também como nossa temática principal é o voleibol, colocar algumas especificidades desta modalidade relacionadas com as características dos esportes coletivos, assim como algumas exigências e fatores de rendimento colocados para esta modalidade esportiva. A partir daí, passaremos a tratar das abordagens metodológicas para o ensino e treinamento dos esportes coletivos, com aplicação ao voleibol. 15 Os esportes coletivos podem ser caracterizados em quatro aspectos distintos segundo Nascimento (2006). O primeiro deles é o que diz respeito a aciclicidade técnica, onde a meta é alcançada em uma só fase principal. O que significa uma contraposição aos movimentos cíclicos. O segundo é o que trata do caráter complexo (aberto) da técnica, ou seja, as condições e circunstâncias onde ela ocorre estão em permanente mutação. O terceiro é relativo a atenção distributiva, onde a atenção é dirigida para a seleção de alguns estímulos em detrimento de outros. E o quarto aspecto é a participação psicológica intensa, pois nele deve-se ter um grande controle emocional. Nascimento (2006) também classifica os jogos esportivos coletivos em relação a três aspectos distintos: ocupação do espaço, disputa da bola e trajetórias predominantes. Com relação a ocupação do espaço, os esportes coletivos podem ser classificados como os de invasão e os de não invasão. Com relação a disputa da bola eles podem ser classificados como os de luta direta e os de luta indireta. E por fim, com relação as trajetórias predominantes, são classificados como os de troca de bolas e os de circulação de bola. Assim, ao analisar com atenção as especificidades do voleibol, pode-se afirmar que quanto a intervenção espacial ele se caracteriza como um esporte de não invasão, pois em sua constituição regulamentar não é permitida a invasão ao terreno (entenda-se aqui piso da quadra de jogo) do adversário, muito embora exista uma permitida, qual seja, a passagem das mãos dos bloqueadores para dentro do espaço (aéreo) adversário, respeitadas as condições desta ação. Com relação a natureza das disputas de bola ele é um esporte de luta indireta, diria de disputa indireta. Talvez seja interessante aqui salientar que há um único momento de disputa mais direta: na finalização do lance no encontro de atacante e bloqueadores, por exemplo. E no item trajetória predominante da bola, o voleibol se caracteriza como um esporte de troca de bola e estas trocas todas no espaço aéreo. 16 Finalizando esta parte de nosso estudo, resta ainda abordar sobre os fatores de rendimento aplicados ao voleibol, ou melhor, exigidos atualmente de quem o pratica, seja em atividade de iniciação esportiva, seja em atividade de treinamento. É claro que estes fatores, ou alguns deles terão um peso maior quanto maior for a exigência da prática, como por exemplo, numa equipe competitiva. Os fatores antropométricos atualmente são referência para a prática do voleibol, principalmente em sua manifestação competitiva. Estatura e envergadura, entre outros, são muitas vezes colocados como condição para participar em uma equipe de voleibol. Hoje em dia nas peneiras, que são atividades de seleção de jogadores, estes fatores são colocados como requisito mínimo, tanto para os meninos quanto para as meninas. Também os fatores chamados de condicionais possuem grande importância quando se trata de rendimento. Hoje se exige do jogador força, flexibilidade, velocidade e agilidade, resistência, entre outros. Porém é bom lembrar aqui que estes fatores não são e não servem de garantia daquilo que chamamos de êxito esportivo. Em outras palavras, ter uma estatura elevada, um bom domínio das habilidades técnicas e uma grande condição física não significam que o menino ou a menina irá jogar bem o voleibol. Outros fatores devem estar presentes nesta análise. (Ver quadro na página 7) Outro grupo é o dos fatores técnico-coordenativos, onde estão presentes os gestos técnicos do jogo: saque, toque (levantamento), manchete (recepção e defesa), cortada (ataque) e bloqueio. O domínio na execução deles por parte dos jogadores,aumentado pela repetição nos treinamentos e jogos, se reverterá num padrão de eficiência que será muito importante para a definição da concepção tática posteriormente. É claro que não se exige uma execução perfeita de Vamos observar um pouco as relações que existem entre as características e exigências do voleibol enquanto modalidade esportiva. O voleibol se caracteriza por ser um jogo onde a bola deve ser enviada por cima da rede para a quadra oposta. Isso exige de quem joga uma forma de olhar dirigida para cima e para frente em quase todo o tempo das disputas dos rallys. Ele também se caracteriza por ser um jogo onde não é permitida a retenção prolongada da bola, o que exige de quem joga uma brevidade nos toques e contatos com a bola. E já que estamos falando de contatos com a bola, no voleibol eles são limitados, o que pressupõe um condicionamento nas ações, diria nas situações de jogo. Outra característica marcante do jogo de voleibol é a rotação dos jogadores, ou seja, apesar das especificidades, todos passam pelas seis posições da quadra de jogo. Essa característica sugere uma polivalência de posições e funções. A última característica a abordar aqui é que no voleibol, assim como em outros esportes tanto coletivos quanto individuais, as irregularidades técnicas são punidas pela regra, o que exige de quem joga controle e perfeição na execução dos movimentos. 17 todos eles para cada jogador, até porque existem as especialidades dos mesmos. Para o levantador o toque é um gesto importante. Para o atacante a cortada. Porém, existem fundamentos como o saque e o bloqueio, por exemplo, que pela polivalência evidenciada pela rotação, assim como pela importância que tem no contexto do jogo, o seu domínio e eficiência na execução por todos os jogadores se torna fundamental. Alguns autores, entre eles Bojikian (1999), tratam desta temática de forma mais aprofundada, principalmente quando abordam em suas obras ou artigos sobre a seleção de futuros atletas de voleibol, as famosas “peneiras” as quais já nos referimos de forma resumida anteriormente. Segundo o autor, são comuns, atualmente, as propagandas das “peneiras” feitas por alguns clubes para selecionar novos jogadores. Muitas crianças e adolescentes são atraídos pela possibilidade de construir uma carreira neste esporte de muita fama no País. Porém, o resultado efetivo deste tipo de seleção de acordo com Bojikian (1999) é quase nulo, pois na grande maioria dos casos se faz a avaliação do que o candidato é e não do que ele poderia ser. Quase sempre são avaliadas as habilidades técnicas e a estatura, quando na verdade deveriam avaliar se o menino ou a menina poderá jogar bem e qual será a sua estatura final. Nem sempre o maior de hoje será aquele jogador mais alto amanhã. Também não se pode afirmar que aquele que aprendeu primeiro será sempre o mais habilidoso. Os processos seletivos para futuros atletas deveriam ser mais bem elaborados na opinião do autor, preocupando-se primeiramente em verificar aqueles que podem aprender a médio e longo prazo. Bojikian (1999) coloca alguns itens que na sua opinião são importantes de serem seguidos. O primeiro quesito a ser avaliado é a aptidão física, com o objetivo de verificar se a criança tem reais potencialidades para o desenvolvimento das capacidades físicas mais importantes para a prática do voleibol. O segundo é a verificação do biótipo. Os estudos têm mostrado em seus resultados que o tipo longilineo se adapta melhor aos voleibolistas, em função das dimensões dos membros prevalecerem sobre as do tronco. O terceiro componente é a potencialidade de crescimento. Os técnicos procuram hoje rapazes com estatura final mínima de 1.95m e moças acima de 1.80m. Os indicadores mais utilizados para verificar esta potencialidade são a avaliação da idade óssea, feitas por meio de radiografias e da maturação sexual. A menstruação para as moças tem sido um dado muito útil, pois estudos levam a crer que o surgimento dela é um sinal da desaceleração do ritmo de crescimento. Também a estatura dos pais e avós é um dado razoavelmente confiável. Ainda podem ser incluídos nos processos seletivos outros aspectos como os ligados ao desenvolvimento social e uma possível determinação do perfil psicológico do candidato. Assim, segundo Bojikian (1999), uma vez selecionado um grupo de crianças que apresentem índices satisfatórios quanto a aptidão física, biótipo e potencialidade de crescimento, além de todos os exames clínicos de costume, pode-se iniciar o trabalho de ensino do voleibol, lembrando que este trabalho nas escolinhas deverá ser compatível com os estágios de crescimento e desenvolvimento dos praticantes, e fundamentalmente, despertar o gosto e o interesse pela prática do voleibol. Feito este pequeno comentário sobre os processos seletivos atuais e as questões de estatura e habilidades técnicas dos participantes como requisitos fundamentais, vamos voltar aos fatores de rendimento, pois ainda temos mais dois a analisar. Entre os fatores de rendimento, existem outros dois que atualmente tem merecido uma atenção especial, tanto dos professores na iniciação esportiva, quanto dos treinadores de equipes competitivas. São eles os fatores tático-cognitivos e os fatores psicológicos. 18 O grupo dos fatores tático-cognitivos envolvem uma série de elementos importantes do jogo de voleibol, evidenciados pelo conhecimento das situações e seqüências do jogo, a partir do estimulo visual que é a principal fonte de comunicação nesta modalidade esportiva. Então, aspectos como a capacidade de analisar e perceber situações, leitura das ações adversárias, capacidade de antecipação e tomada de decisão, são fundamentais para que se atinja o rendimento, principalmente na área competitiva. É o que chamamos hoje em dia de inteligência de jogo. É muito importante salientar aqui, pela importância deste grupo, que isso não é um privilégio dos atletas mais experientes. É preciso que se comece cedo a trabalhar dentro dos fatores tático- cognitivos. É preciso que esse trabalho comece quem sabe já na escola, mas com certeza, nas atividades de iniciação esportiva. Por fim, aparecem os fatores psicológicos, onde se destacam a motivação, a autoconfiança, a liderança, a cooperação, o espírito de grupo, entre outros. Jogadores com uma boa autoconfiança, unidos, além dos objetivos específicos, por um espírito grupal muito intenso, e com um forte apelo cooperativo entre eles, liderados por uma comissão técnica capacitada, normalmente formam um grupo esportivo, uma equipe, muito forte. Se pudermos aliar estes dois últimos fatores salientados aqui aos outros, certamente teremos nas mãos uma verdadeira equipe de voleibol. 3.1 Abordagens Metodológicas no Ensino do Voleibol A partir deste item, trataremos principalmente das abordagens metodológicas mais utilizadas para o ensino do voleibol nas atividades escolares e de iniciação esportiva, com aplicação também, é claro, nas atividades de treinamento esportivo, salvaguardadas suas especificidades tanto no campo de suas fundamentações teóricas quanto práticas. Vamos analisar algumas das abordagens mais utilizadas, ao longo dos tempos e atualmente, para o ensino dos esportes coletivos, e em nosso caso, do voleibol. Nascimento (2006), apresenta uma classificação que evidencia três tipos diferentes de ação do professor ou do treinador em sua tarefa de ensinar ou treinar. De forma muito resumida pode- se dizer que temos nosso foco de atuação centrado nas técnicas e ai o procedimento adotado é o da solução imposta (modelo do professor/treinador); ou temos nosso foco de atuação centrado no jogo formal e o procedimento é o do ensaio eerro; ou ainda temos nosso foco de atuação centrado nos jogos condicionados, e nele utilizaremos como procedimento a procura dirigida. 19 3.1.1 Abordagem Tradicional A Abordagem Tradicional possui duas características bem marcantes. A primeira delas é a fragmentação do conteúdo, evidenciada pela utilização de uma metodologia parcial, que decompõe o jogo em partes, numa primeira etapa do processo, para depois trabalhar o jogo propriamente dito, utilizando-se para isso as formas metodológicas global e mista. Se o objetivo é a correta execução técnica por parte de quem aprende, esta é uma boa forma de trabalho. A segunda característica é a da forte preocupação com a eficiência e a eficácia dos movimentos técnicos do jogo, evidenciada pela utilização da metodologia parcial citada anteriormente. A utilização desta abordagem apresenta como uma de suas principais vantagens o domínio dos fundamentos técnicos. Também como vantagem, salienta que a organização da aula é mais fácil para o professor, e que ele encontrará na literatura existente, um número muito grande de exercícios para aplicação, os famosos educativos. Já como desvantagem tem-se que as aulas são muito monótonas, pouco motivantes e isso muito pelo tipo de formação para a prática utilizada pelos professores: exercícios em círculos, filas e colunas. Outra desvantagem é a que trata da variação de exercícios, muito centrada na técnica, traz para o aluno uma dificuldade de diferenciar o que realmente é importante e o que não é para a sua execução. Uma outra desvantagem apontada para este tipo de abordagem é a de que as ações de jogo são aprendidas de forma mecânica. Há pouca participação da criatividade do aluno, muito em função de que os comportamentos esperados são estereotipados. Na moldura ao lado, alguns exemplos de exercícios muito utilizados por aqueles que atuam nesta abordagem. Exercícios em círculos e em colunas, todos elaborados pelo professor, com algumas pequenas variações como tocar e trocar para a coluna da frente ou para a diagonal. 20 3.1.2 Abordagem Série de Exercícios Neste tipo de abordagem, as noções de progressão, refinamento e aplicação são características marcantes, e para salientar bem essa afirmação, nela devem ser utilizadas progressões de exercícios que respeitem a passagem gradual do mais fácil para o mais difícil; do conhecido para o desconhecido; do pouco para o muito, e por fim, da dependência para a independência. Uma das vantagens conferidas a este tipo de abordagem metodológica é a de que ela possibilita o domínio dos fundamentos técnicos aliados a alguma fundamentação tática, apesar das aulas, como na abordagem tradicional, serem pouco motivantes na fase inicial, pela preocupação em colocar exercícios de aquisição e aplicação. Outra vantagem é o processo gradual de ensino-aprendizagem, ou seja, há uma transferência gradativa do que se aprende no inicio do processo até o emprego dessas aprendizagens em situações de jogo. Também se poderá verificar alguma dificuldade na utilização de exercícios de aplicação e competição, principalmente em ambiente escolar, o que se configura como uma desvantagem, por dois fatores fundamentais: número de alunos e quantidade de material; e pelas dificuldades naturais impostas pelos gestos técnicos específicos do voleibol. Já nas escolinhas de iniciação esportiva e equipes isso não acontece tanto. Outra questão interessante é a de que por sua forma analítica (parcial), esta abordagem muitas vezes é confundida com a abordagem tradicional. Assim, pode-se caracterizar este tipo de abordagem em sua forma prática da seguinte forma: a) Com relação a progressão, um aumento gradativo da complexidade das tarefas e dos exercícios; b) Com relação ao refinamento, uma preocupação com o aperfeiçoamento dos detalhes específicos da tarefa; e c) Com relação a aplicação, uma aprendizagem referenciada nas situações práticas do jogo. 21 Na figura ao lado, apresentamos um exemplo de uma série de exercícios onde o fator progressão fica evidenciado, ou seja, primeiramente a preocupação em desenvolver condições facilitadas de execução técnica num exercício de toque dois a dois. Em seguida se faz a introdução de condições que possuam os ingrediente do jogo. No caso ao lado, no segundo exercício um toque seguido de um levantamento para um colega que está colocado na extremidade da rede como referência. Por fim, no terceiro exercício, a operacionalização de condições idênticas aquelas de um jogo competitivo: toque, levantamento e uma finalização com o ataque. Na abordagem Série de Exercícios as progressões devem obedecer alguns princípios, como sendo: Não podem ser extensas e a fragmentação excessiva do conteúdo deve ser evitada; Devem integrar blocos de trabalho, diria, seqüências de jogo, já que é muito difícil trabalhar todo conteúdo (jogo) ao mesmo tempo, pela facilidade de dispersão da atenção; A referência na construção das progressões é o jogo, onde deverão estar presentes a estrutura e a funcionalidade do mesmo; Na construção das progressões deve-se ter a preocupação com o domínio técnico em nível de eficiência, eficácia e adaptação. Em outras palavras: adequar os exercícios as condições de execução (possibilidades) dos praticantes. 22 Vamos analisar cada degrau desta escada separadamente para uma melhor compreensão do que cada etapa significa dentro do processo de ensino-aprendizagem do voleibol. Nascimento (2006) nos mostra um exemplo de construção de uma progressão para uma série de exercícios envolvendo situações de ataque e situações de defesa. Na fase 1 deve-se primeiramente construir a relação com o implemento principal do jogo de voleibol: a bola. Na fase 2 construir a presença dos alvos tanto para a situação de ataque quanto de defesa. Na fase 3 colocar a figura do adversário. Na fase 4 construir a presença dos colegas e oponentes dentro do exercício para na fase 5 desenvolver as noções de espaço e tempo relacionados com as situações nas quais se esteja trabalhando. Mesquita (1998), coloca alguns princípios que devemos observar na construção das progressões para os jogos de não-invasão, como o voleibol. São eles: Aquisição da técnica elementar; Encadeamento das ações de jogo; Jogos de cooperação; e Jogos de oposição. Cabe aqui salientar o que já foi frisado por nós anteriormente, que é a proximidade com a abordagem tradicional, principalmente se observarmos a situação tipo 1 apresentada na figura ao lado. Em segundo lugar, salientar a presença dos jogos cooperativos, ao nosso ver, muito importantes por sua relação com uma das características mais marcantes do jogo de voleibol, que é justamente a cooperação. Desta forma, as progressões de exercícios devem sempre partir da capacidade específica, um pouco mais individualizada no inicio da aprendizagem, para a capacidade de jogo, mais coletiva no final a partir dos jogos de cooperação e de oposição. Graficamente esta progressão de exercícios pode ser comparada a uma escada, onde os alunos deverão subir, degrau após degrau, iniciando pela aquisição, passando para a fixação e diversificação do adquirido, aplicando isso em situações de jogo, para chegar ao topo nas atividades competitivas. 23 O primeiro degrau a serconquistado é o que diz respeito aos exercícios de aquisição global da técnica. Nele em primeiro lugar se trabalhará com os alunos na obtenção da idéia dos movimentos do voleibol. Em seguida passa-se a etapa da elaboração do plano motor, onde as habilidades necessárias aos movimentos do jogo serão trabalhadas. Depois deve-se colocar atividades que permitam aos alunos compreender a forma como os movimentos se realizam na sua relação com a bola dentro é claro das especificidades do jogo. Por fim, providenciar atividades onde os alunos realizarão a execução das técnicas aprendidas de forma global em condições facilitadas. Vencida esta etapa, o professor passará para a fase de exercícios de fixação e diversificação da técnica. Nela em primeiro lugar, deve-se focalizar aspectos particulares da execução técnica como detalhes dos movimentos e erros mais comuns na realização dos mesmos. Também nesta etapa solicitar a atenção dos alunos para os detalhes da execução técnica, muito importantes na construção do gesto motor. Outro detalhe importante desta etapa é que o professor deve atentar para o refinamento da técnica, alguns chamam isso de fase de polimento da execução, assim como também, trabalhar de forma bastante intensa nos aspectos mais difíceis da execução técnica. Na seqüência do processo aparecem os exercícios de aplicação da técnica. Aqui torna-se fundamental que o professor conheça, e muito bem, as seqüências das ações de jogo porque é nesta etapa que se fará a aplicação dos fundamentos técnicos em situações que contenham os ingredientes do jogo. Importante ressaltar aqui a validade que tem nesta etapa para o domínio da técnica numa situação de jogo, que o professor não construa somente situações de difícil execução. Deve também facilitar a ocorrência do êxito, atuando assim de forma favorável na motivação dos alunos para continuar aprendendo. Não há necessidade aqui de jogos ou atividades que ocupem o espaço real da quadra (9X18m). Os jogos ou atividades podem ser condicionados, com o professor alterando as dimensões de espaço onde o exercício ocorrerá. 24 Finalizando esta abordagem, apresentamos o trinômio de Rink (1993), que tem o título de multidimensionalidade técnica: Eficiência no como fazer mais a Adaptação no como utilizar terão como produto final a Eficácia manifestada pelos resultados. Já na etapa de exercícios de competição, experimentadas todas as outras, ai sim, a aplicação dos fundamentos técnicos deverá acontecer em um ambiente onde as situações criadas pelo professor possuam o mesmo tipo de exigências da competição, o que chamamos de exercícios integrados as situações do stress competitivo, com todas as suas nuances. Mais uma vez afirmo, o professor deve ser um conhecedor profundo das seqüências das ações do jogo, e mais, das diversas e possíveis ocorrências que possam vir a acontecer nestas situações a fim de que os exercícios que coloque nesta etapa contenham todos os requerimentos que envolvem um jogo competitivo. Encaminhando para o final do estudo deste tipo de abordagem metodológica, selecionamos três itens que consideramos relevantes para o entendimento desta forma de ação de ensino-aprendizagem. Primeiro na estrutura do exercício. Eles devem conter o conteúdo do jogo representado por seus fundamentos e suas movimentações. Os procedimentos que o professor irá adotar devem facilitar primeiramente as condições de realização, e ter o seu envolvimento direto na condução dos mesmos, nunca se ausentando da atividade ou perdendo seu foco de atenção. Assim, agindo junto e próximo de seus alunos ele poderá exigir como critério de êxito, a realização correta dos movimentos em termos de resultado. No item condições das tarefas seguir o caminho da aprendizagem individual passando para uma combinação de fundamentos relacionados as situações de jogo. Feito isso ele pode avançar para ações que contemplem um conteúdo tático, chegando por fim ao jogo competitivo, orientado pelas regras oficiais ou por regras pré-estabelecidas. Nos critérios de êxito cuidar para que o tipo de resposta exigida permita que o aluno tenha uma maior quantidade de êxitos na execução da tarefa, e também lembrar que o critério de êxito deve variar em função do aspecto a ser enfatizado pelo professor na realização de determinada ação motora. 25 3.1.3 Abordagem Série de Jogos A conseqüência disso é um grande aumento do prazer e do interesse pelo jogo, além do alto desempenho motor ocasionado pelo grande número de experiências tanto de contato com a bola quanto pelas ações coletivas em função do tamanho do espaço de jogo. A abordagem Série de Jogos tem como principal característica a utilização de jogos criativos que tem como objetivo primordial o motivar a aprender jogando. Outra característica deste tipo de abordagem metodológica é o contraste entre a técnica e a tática. A aprendizagem técnica acontece dentro de uma anarquia tática em função da forma do confronto direto utilizado nos jogos. Isso implica na aquisição por parte dos alunos de soluções motoras variadas para resolver as questões que surgem dentro do jogo, mas com evidentes lacunas táticas que não se apresentam como problemas para aprendizagens futuras. Muito pelo contrário, como esta abordagem age diretamente naquilo que os alunos mais gostam de fazer, que é jogar, ela possibilita, apesar do caráter anárquico do confronto direto, o domínio de uma boa noção tática de jogo por parte dos alunos. Outro fator interessante originado também pelo mesmo motivo apresentado anteriormente, é que as aulas possuem um alto grau de motivação, com uma intensa participação dos alunos. Se lembrarmos o que tratamos no início deste texto, quando dizíamos que a decisão metodológica, além de outros fatores, deve provocar nos alunos reações favoráveis de afetividade com o que está sendo ensinado, no caso o voleibol, neste tipo de processo metodológico há uma grande aceitação e afinidade dos alunos para com ele, ou seja, eles gostam muito das aulas. Porém, é preciso que se diga que se ela é tudo isso, ela também deixa a desejar em alguns aspectos. Por exemplo, os jogos apresentados em séries propiciam uma lenta construção do jogo mais formal. Também os detalhes mais específicos dos movimentos não são trabalhados, o que resulta em um nível muito baixo de noção técnica. Nesta abordagem o professor pode utilizar muitos jogos em campos reduzidos com uma série de vantagens para a aprendizagem, pois as distâncias a percorrer são menores, os contatos com a bola mais freqüentes, além da interação constante entre os participantes em ações mais coletivas. 26 Já no jogo formal em contraposição, a área de jogo é muita extensa, onde as distâncias a percorrer são muito grandes. Há muitas interrupções no jogo ocasionando assim contatos pouco freqüentes com a bola. A interação entre os alunos é muito pequena e as ações mais isoladas. Como conseqüência há um desinteresse pela atividade o que provoca um baixo desempenho motor. Os jogos reduzidos a serem elaborados pelo professor, poderão envolver um número diferente de alunos. Por exemplo, poderão ser jogos de um aluno contra outro; dois contra dois; três contra três; quatro contra quatro, e em função da quantidade de alunos na aula, em nossa opinião para não adulterar seu real objetivo, até no máximo cinco contra cinco. O professor poderá ainda utilizar a própria quadra de jogo do voleibol dividindo-a em setores, atravessando cordas como redes, determinandoos espaços. É bom lembrar que o papel pedagógico dos jogos reduzidos é possibilitar a obtenção de prazer e êxito, portanto, além de seu caráter facilitador, deverão estar de acordo com as possibilidades de execução dos praticantes. Já os jogos formais por sua configuração têm outro papel pedagógico, qual seja, o de possibilitar a prática do jogo elaborado. Eles podem ser estáticos, anárquicos ou rudimentares. No diagrama ao lado apresentamos um exemplo de uma série de jogos em espaço reduzido utilizando a quadra de jogo de voleibol como demarcador da atividade. No primeiro diagrama uma corda é atravessada no sentido longitudinal da quadra por sobre a rede e as equipes jogam umas contra as outras, do mesmo lado, sobre esta corda. No diagrama dois, as equipes giram de frente para a rede e jogam umas contra as outras por sobre a rede. E no terceiro diagrama cada equipe joga contra a que está colocada na sua diagonal, aumentando o grau de dificuldade da tarefa. Neste ultimo diagrama apresentamos um exemplo de uma série de jogos para o jogo formal. Começando pelo “newcon” na categoria de jogo estático; o “voleibol gigante” na categoria de jogo anárquico, e o “jogo dos trios” na categoria de jogo rudimentar. 27 da bola. Ele já esboça corporalmente uma preparação para receber a bola, porém não prevê o seu reenvio, ou seja, simplesmente a joga para frente, em seu plano frontal. Com relação ao espaço de jogo ele já elabora um modelo de ação individual. No terceiro nível ele já consegue preparar-se para intervir antes que a trajetória da bola seja definida, colocando seu corpo numa atitude de reenvio da mesma previamente elaborado por ele. A bola já é reenviada de distâncias variadas e ele passa a utilizar além do plano frontal também o lateral. No domínio do espaço ele participa no sistema coletivo de organização do jogo. Estes, sem dúvida, são indicadores interessantes que irão auxiliar e muito o professor no reconhecimento, tendo em vista as condições de heterogeneidade dos participantes, em que nível de jogo seus alunos estão atuando. Ele pode inclusive, a partir desta observação, tomar decisões metodológicas tanto no sentido de agrupar os alunos de acordo com o nível apresentado, quanto misturar estes diferentes níveis em uma mesma atividade com um sentido de auxílio ao processo de ensino-aprendizagem ou simplesmente como agente motivador da prática. 3.1.4 Abordagem Estruturalista Assim, pode-se afirmar que na abordagem estruturalista, os princípios da modalidade esportiva é que regulam a aprendizagem. Na abordagem série de jogos é possível identificar um conjunto de atitudes corporais por nível de jogo. Elas estão divididas em três níveis. No primeiro nível com relação a informação o praticante prepara-se para intervir somente no momento do contato com a bola. O corpo adota quase sempre a posição vertical habitual. A bola é reenviada quando ela é lançada na direção de seu rosto, ou seja, em seu campo visual frontal. Para sua atuação no campo de jogo, o praticante não elabora nenhum projeto de ação. No segundo nível ele já prepara-se para intervir depois de definida a trajetória da Nesta abordagem o professor irá fazer uma decomposição do jogo em unidades funcionais, ou em outras palavras, de acordo com as seqüências das ações do jogo. Ele também deverá observar nesta sua decomposição uma forma sistemática onde a complexidade seja crescente. Aqui mais uma vez evidencia-se a necessidade de que o professor conheça e muito bem, toda a estrutura funcional do voleibol, representada por suas seqüências de ações. Ele pode se utilizar, por exemplo, de uma divisão clássica do jogo de voleibol conhecida como Complexo 1 (recepção, levantamento e ataque)e Complexo 2 (saque, bloqueio/defesa e contra-ataque) para balizar a elaboração de seus exercícios para a aula. 28 Utilizamos aqui três seqüências para ilustrar. No primeiro desenho uma seqüência em C1 (Complexo 1) de recepção (passe), levantamento e ataque. No desenho dois incluímos o saque, recepção, levantamento e ataque com um trio colocado no lado oposto. Caso aconteça a defesa pelo trio, segue o “rally” até a bola cair ou uma falta seja cometida. No ultimo desenho incluímos o bloqueio na diagramação do exercício anterior. O funcionamento do exercício é idêntico. É importante salientar aqui que o professor poderá incluir nestes exercícios, conforme o nível de jogo apresentado pelos alunos é evidente, algumas outras situações que possam vir a acontecer dentro de cada seqüência destas que foram apresentadas. Por exemplo, ele pode incluir no ultimo exercício apresentado, uma simulação de cobertura do ataque, lançando uma bola novamente para o lado que atacou para que este realize o contra-ataque. Pode também simular uma situação em que a bola toca na mão do bloqueador e dirige-se para o fundo da quadra ou para a área livre lateral do lado dos bloqueadores, identificando no exercício uma ação de recuperação da bola e contra-ataque pelo adversário. Da mesma maneira que quando tratamos e analisamos as outras abordagens metodológicas, vamos observar as vantagens e desvantagens apresentadas para a abordagem estruturalista. Nela as ações técnicas surgem das ações táticas, a partir da vontade manifestada pelo professor e de sua orientação. Possibilita aos alunos/atletas uma interpretação (cognitivo) e uma aplicação (motor) dos princípios do jogo. Isso é muito importante no processo de aprendizagem do voleibol, pois o aluno ao interpretar a ação, ele deixa de realizá-la simplesmente por realizá-la, mas sim porque entende sua movimentação na ação. É bem diferente. É sair de um ato corporal automatizado para uma ação pensada. É oportunizar ao aluno/atleta que ele adquira e treine o que chamamos atualmente no voleibol de inteligência de jogo. A maior desvantagem é a de que o processo de ensino-aprendizagem é mais lento, mas acontece. Também aparecem duas desvantagens que eu prefiro classificar como dificuldades, que são: montagem das aulas depende diretamente da experiência do professor em ensinar e seu conhecimento do voleibol, e outra onde poderão surgir dificuldades, maiores ou menores, dependendo do grupo, na seleção das situações mais freqüentes do jogo. No diagrama ao lado, apresentamos exemplos de exercícios dentro desta abordagem. 29 3.1.5 Abordagem Crítica 4. Abordagens Metodológicas Específicas para o Voleibol A partir deste ponto de nosso texto, passaremos a abordar algumas abordagens metodológicas propostas por autores com atuação específica para o voleibol. É claro que existem vários autores que publicaram suas idéias em livros próprios, capítulos de livros ou em artigos de revista, e não é nossa intenção abordar as proposições de cada um deles. Cabe salientar aqui, que escolhemos aqueles que em nosso entendimento, de alguma forma, você leitor e estudioso do voleibol, possa encontrar respaldo teórico para aplicação em seu cotidiano profissional. Também levamos em conta a história destes autores no voleibol bem como a modernidade da publicação. Você leitor também irá notar que as propostas aqui apresentadas, têm aplicação tanto no ambiente escolar quanto nas atividades de iniciação esportiva e treinamento. Vamos a elas então. Como o próprio título está a sugerir, este tipo de abordagem critica o jogo institucionalizado, midiático e de rendimento. Ela propõe uma reflexão e uma transformação didático-pedagógica para o ensino dos esportes, com um distanciamento gradativodo jogo propriamente dito. Uma das principais características desta abordagem está na direção que o professor deverá dar a seu processo de ensino, desconstruindo as imagens negativas na prática de esportes dito autoritários e domesticadores. Como falamos a visão de esporte de rendimento. Entre as vantagens apresentadas para este tipo de condução estão as participações diretas do aluno no processo de ensino-aprendizagem, já que ao realizar uma análise do modelo esportivo vigente para aquela modalidade junto com o professor, ele passa a construir alternativas de prática onde aqueles valores apresentados para o rendimento de alguma forma desapareçam do processo de ensino e das ações em aula. Por causa disso, as aulas tem uma formatação muito movimentada, onde a autonomia e a criatividade dos alunos é bastante trabalhada. Entre as desvantagens estão o baixo envolvimento motor dos alunos e o baixo desenvolvimento da capacidade específica do jogo. Ainda aparece como desvantagem a dificuldade na organização da aula, muito em função das divergências que irão surgir entre os alunos, o que resultará, muitas vezes, em uma anarquia generalizada. 30 4.1 Conceito de Voleibol – o modelo de Pittera & Violetta No voleibol cada ação faz parte de uma seqüência temporal de situações, para as quais é sempre possível reconhecer, em relação ao momento considerado, um “ ANTES - DURANTE - DEPOIS”. Para melhorar o nível de jogo, é necessário decompô-lo parcialmente e trabalhar globalmente os elementos que o compõe: levantamento- ataque; levantamento - ataque e bloqueio; saque e recepção; levantamento - ataque e defesa. Deve-se, portanto, distinguir os exercícios parciais e globais, dos quais, dos mais simples ao mais complexo, tem-se a seguinte hierarquia segundo Pittera & Violetta (1980): Exercícios Analíticos Primários Exercícios Analíticos Secundários Exercícios Sintéticos Jogo Este conceito deve guiar a elaboração de aulas e treinamentos, de modo a evitar que os exercícios proponham sistematicamente somente o que acontece durante, sem considerar que uma ação nasce de uma situação precedente e prosseguirá em outra, segundo Pittera e Violetta (1980). Poderia-se então pensar que somente com o jogo é possível respeitar o conceito de antes-durante-depois. Porém o jogo, com suas características imprevistas, não permite o treinamento seletivo e sistemático dos momentos particulares que o compõe, e tem significado como exercitação somente se utilizado como verificação do trabalho desenvolvido. 31 B1 B2 B3 L A1 A2 P Na figura, pode-se ver que o professor (P) passa a bola para o levantador (L) que decide sobre a solução para o ataque que entende mais oportuna. Os atacantes A1 e A2 estão colocados para efetuar o ataque. Já os jogadores B1, B2 e B3 irão tentar bloquear a bola. Os Exercícios Analíticos (parciais) primários representam o treinamento sistemático de um gesto motor simples ou complexo (fundamento completo ou parte dele; dois fundamentos ligados) em uma SITUAÇÃO DE NÃO JOGO. Exercícios para automatizar o movimento do passe por cima da cabeça (golpes contra a parede) Sensibilização dos membros superiores (braço/mão) na cortada; a bola é batida rebotando no solo e logo contra a parede. Recepção ao levantador - levantamento e ataque. Os Exercícios Analíticos (parciais) secundários: exigem a utilização de um ou mais fundamentos em exercícios que reproduzem momentos particulares do jogo, sem levar em conta as situações precedentes ou sucessivas, ou seja, o conceito de ANTES - DURANTE e DEPOIS. No diagrama ao lado, exemplificamos com três exercícios o que significa na prática o conceito de Antes – Durante – Depois preconizado pelos autores Pittera & Violetta (1980). Logo a seguir, apresentaremos outro tipo de exercício caracterizando o exercício analítico secundário. 32 Os Exercícios Sintéticos (globais): são chamados assim porque ligam os distintos momentos do jogo, constituindo um elo de ligação entre os exercícios analíticos e o jogo propriamente dito. Possui situações de ANTES - DURANTE - DEPOIS. Exemplo : - Saque/defesa: defesa do jogador que efetuou o saque; - Bloqueio/ataque: o aluno coloca-se na rede para efetuar um bloqueio, faz um deslocamento para trás, buscando um ponto para a corrida de aproximação, corre e ataca; - Recepção/cobertura: a recepção é seguida pela cobertura do ataque. - Posição bloqueio/ defesa: o aluno abandona a posição da rede para o bloqueio, e coloca- se na posição de defesa (cobertura ). B1 B3 B1 B2 A2 A3 A1 A2 A3 P T Um exercício sintético mais complicado retoma a estrutura do exercício analítico secundário descrito anteriormente, que pode ser modificado da seguinte forma: B3 que ataca e B2 e B1 que fazem a cobertura do ataque vão para o bloqueio; P penetra da sua posição de defesa para o levantamento; A1, A2 e A3 recuam do bloqueio; T lança a bola para P que executa o levantamento. 4.2 A proposta metodológica de Bojikian Em sua obra denominada Ensinando Voleibol, Bojikian (1999) justificando o caminho para uma real aprendizagem do voleibol pelos educandos, apresenta uma série de procedimentos metodológicos que englobam aspectos cognitivos, afetivos e motores envolvidos no processo do seu desenvolvimento. Como em sua proposição, as habilidades motoras a serem aprendidas deverão ter como objetivo a precisão da execução do gesto técnico, ele opta por um processo que dá ênfase a orientação mecânica, onde a atuação do professor junto ao aluno é de grande importância, estimulando-o e orientando-o. Ele divide seu processo metodológico em cinco etapas, as quais passaremos a analisar sinteticamente em separado. São elas: 1. Apresentação da habilidade motora 2. Seqüência pedagógica 3. Exercícios educativos e/ou formativos 4. Automatização 5. Aplicação 33 4.2.1 Apresentação da habilidade motora Segundo o autor, é o primeiro contato do aluno com o fundamento que ele irá aprender. Nessa etapa o professor atuará em alguns fatores do que ele denomina de “economia de aprendizagem”, para levar o aluno a aprender melhor e mais rápido. O primeiro ponto que ele chama a atenção é que para melhorar o nível de prontidãopara aprender, a motivação é um aspecto psicológico primordial. De acordo com Bojikian (1999) para levar os alunos a somatória de fatores facilitadores do aprendizado, o professor deverá mostrar o fundamento que será ensinado, a sua técnica de execução, qual sua utilidade no contexto do jogo e por que é importante aprender a executá-lo de forma perfeita. Para isso ele deverá enriquecer suas explicações teóricas com demonstrações suas ou de alguém que execute muito bem o fundamento. Pode lançar mão também de fotografias, recortes de revistas, slides, filmes ou vídeos. Ao final desta etapa, o professor deverá estimular os alunos no sentido de realizar a atividade motora sem a utilização da bola, não com o objetivo da aprendizagem final, mas sim para que por meio da sinergia provocada pela realização dos movimentos de forma global, eles possam entender melhor o que está sendo ensinado. 4.2.2 Seqüência Pedagógica Assim, com a finalidade de um esmero nos detalhes de cada habilidade motora, o autor recorre a uma estratégia metodológica que privilegia as vantagens das “partes” que é a seqüência pedagógica, de modo a aplicar segundo ele o que preconiza Stallings (1973) onde “a cada estágio sucessivo da habilidade motora, a nova habilidade deve ser construída sobre as aprendizagens anteriores”. Então, para Bojikian (1999) seqüência pedagógica é um procedimento metodológico onde um determinado movimento é ensinado em partes que vão sendo associadas entre si de forma progressiva. Ensina-se um fragmento da habilidade motora, que uma vez aprendido, a ele será conectado um outro elemento, depois um novo até que se tenha a execução completa. É o encaminhar do simples ao composto, que não deve ser confundido com o desenvolvimento do mais fácil ao mais difícil. Normalmente compara-se esta seqüência pedagógica a uma corrente, ou a um pedaço dela, que representa o movimento a ser ensinado como um todo e cada elo é uma parte. A B C D E Modelo adaptado da Seqüência Pedagógica preconizada por Bojikian (1999) Entendendo um pouco melhor a representação gráfica apresentada na figura, o professor ensinará o elo de letra A, ao qual será acrescido o de letra B quando tiver a sua execução retida. Ao conjunto Neste tópico Bojikian (1999) salienta inicialmente uma das características fundamentais do voleibol. Nele trabalhamos com atividades motoras muito distintas em relação às atividades classificadas como naturais e que serão utilizadas em um esporte que, por não permitir a retenção do objeto de jogo, a bola, requer técnicas extremamente bem realizadas no intuito da obtenção da excelência da performance. 34 formado pelos elos A e B, será acrescentado o elo de letra C, para que se tenha um novo conjunto, agora formado pelos fragmentos A, B e C. E assim sucessivamente até que se tenha acrescentado o ultimo elo, para que se tenha finalmente o movimento completo sendo executado. Para haver ganho de tempo, o autor sugere que cada elo do movimento seja aplicado de modo que o aluno o repita um número pequeno de vezes, sem ter a possibilidade de automatizá-lo. Concluída a seqüência pedagógica, o que se poderá observar segundo Bojikian (1999), será um grupo executando movimentos bem parecidos com o desejado, mas não de uma forma definitiva e mecanizada, pois o número de repetições até este instante foi muito pequeno. Isso possibilitará que as imperfeições possam ainda ser corrigidas antes da outra etapa a ser trabalhada. 4.2.3 Exercícios Educativos e/ou Formativos De acordo com Bojikian (1999) deve-se entender por exercícios educativos, exercícios especiais e específicos que visam possibilitar as correções dos erros mais comuns que surgem habitualmente ao término da aplicação de uma determinada seqüência pedagógica. Na sua grande maioria, são movimentos de partes do conjunto global que formam o gesto técnico total e são também resultados da observação mais analítica do professor, quando da avaliação dos resultados obtidos após a aplicação de uma seqüência pedagógica. Objetivam, portanto, resolver imperfeições causadas por equívocos motores e técnicos. Outra coisa são os exercícios formativos. O autor salienta que muitas vezes um determinada imprecisão no gesto técnico é causada pela formação física inadequada do praticante, em relação a especificidade das capacidades motoras concorrentes para a execução do mesmo. Assim, quando uma qualidade física é apresentada em níveis insuficientes para concorrer para o aprendizado, ela precisa ser desenvolvida, mas dentro da demanda específica imposta pela habilidade motora em questão. Ai entram os exercícios formativos. Uma vez que se tenha atingido uma execução satisfatória ou próximo a isso, o professor ganha o direito de oferecer ao grupo a nova etapa. 4.2.4 Automatização Por mais complexa que seja a estruturação da mecânica de um movimento, uma vez retida, ela passa a ser natural para uma pessoa, que conseguirá uma execução automatizada, harmoniosa e com uma perfeita sinergia funcional. Assim, o encaminhamento para a automatização é a repetição da habilidade motora, desde que realizada com um alto grau de proficiência. Uma vez que a habilidade tenha sido automatizada, o professor poderá passar a última etapa do processo metodológico que, segundo o autor, é o objetivo real do processo de ensino, ou seja, na utilização prática da habilidade motora que está sendo ensinada. 4.2.5 Aplicação do Fundamento a Mecânica do Voleibol Esta aplicação segundo o autor proponente não deve ser brusca, de modo a tirar o aluno da imobilidade que caracteriza os exercícios de automatização e exigir dele a mesma proficiência em situações complexas como as requeridas pela dinâmica do jogo de voleibol. Pode-se perceber que, se no início da fase de aplicação, a mecânica dos exercícios for simples de modo a permitir que o novo praticante possa concentrar a sua atenção tanto na habilidade quanto no emprego dela, ele conseguirá executar bem ambas as tarefas. Para tratar deste tópico, primeiramente necessitamos falar um pouco sobre a retenção. O termo “retenção” é usado para se referir a persistência de proficiência em uma habilidade, depois de um período sem prática de acordo com Stallings (1973). Isso nos leva ao conceito de que uma habilidade motora é aprendida quando ela é incorporada ao acervo motor de uma pessoa. 35 O professor deverá, segundo Bojikian (1999), ser cuidadoso na escolha dos exercícios que compõem esta etapa pois eles devem se tornar progressivamente mais complexos e sempre exeqüíveis pelo aluno. Metas as vezes inatingíveis atrapalham a aprendizagem. O autor optou por dividir esta etapa em três partes com o objetivo de assegurar que a complexidade da aplicação das habilidades motoras exigidas pela dinâmica do jogo de voleibol sejam atingidas metodologicamente. São as seguintes: Fase Denominação Descrição 1 Aplicação de exercícios em forma de jogo Exercícios que possuam uma mecânica de movimentos semelhantes as situações reais do jogo, mas de fácil estruturação e realização. Devem conter a seqüência normal da aplicação dos fundamentos em uma partida. Podem ser realizados em pequenos ou grandes grupos. 2 Coletivos Simulados Exercícios realizados com a mesma mecânica do jogo, com o mesmo número de alunos do jogo (na maioria das vezes), mas sua dinâmica é criada artificialmente pelo professor. Eles visam a constante repetição da mecânica do jogo e por conseqüência a repetição dos fundamentos aprendidos.3 Jogo propriamente dito – Jogos de Iniciação Os alunos deverão jogar com a mecânica normal do esporte e com as regras que forem possíveis. Deve-se utilizar nos jogos somente os fundamentos aprendidos. Esta é a etapa que permitirá que a criança jogue, que aliás, é seu objetivo desde a fase de aprendizagem. 4.2.6 A ordenação dos fundamentos Existem várias ordenações para o ensino das habilidades que compõem o voleibol, e não cabe discuti-las. Sem dúvida, a melhor será aquela com a qual o professor consiga trabalhar bem. Alguns se saem melhor ensinando os fundamentos pela ordem em que eles são freqüentemente utilizados no jogo. Outros conseguem ótimos resultados introduzindo o toque de bola antes da manchete por entenderem que a criança assim que aprende a manchete resiste a idéia de utilizar o toque por achá-lo menos preciso. Enfim, não importa qual a seqüência eleita, mas sim a adequação dela as características do professor e sua linha metodológica. O sequenciamento proposto por Bojikian (1999) está baseado na premissa de que o aprendizado é atingido quando a habilidade em questão é aplicada dentro da dinâmica do jogo de voleibol com sinergia e proficiência. Assim ele sugere que os fundamentos sejam ensinados na seguinte ordem: posição básica e movimentação; toque de bola; manchete; saque por baixo; saque tipo tênis; cortada; bloqueio e defesa. A justificativa apresentada pelo autor é de que este sequenciamento garante a aplicação de cada fundamento e o agrupamento dos fundamentos de mecânicas de movimento semelhantes. 4.2.7 O Processo Progressivo-Associativo Uma vez criado um processo metodológico para a aprendizagem da posição básica e da movimentação, ele será desenvolvido junto aos alunos desde a sua primeira etapa que é a apresentação, até a última que foi denominada de aplicação. Quando os alunos já estiverem realizando a contento esse último trabalho, o professor introduzirá o processo metodológico do próximo fundamento que é o toque. Ele também será apresentado, terá uma seqüência pedagógica e, quando a sua fase de aplicação for atingida, ela será constituída de exercícios que se utilizem não só do toque, como também da posição básica e movimentações. O mesmo procedimento será realizado com a aprendizagem de todos os fundamentos propostos. Quando atingirmos a fase de aplicação do último fundamento da ordem proposta (defesa), a criança estará aplicando todos os fundamentos a dinâmica do jogo, ou seja, jogando voleibol. 36 Em resumo, segundo Bojikian (1999), o trabalho de aprendizagem irá progredindo e, enquanto segue a ordem dos fundamentos, o aluno irá associando os fundamentos na fase de aplicação dos processos metodológicos. Outro fato interessante é que o ordenamento proposto pelo autor agrupa movimentos com estruturas que se assemelham. Também quando analisa os movimentos da posição básica, da movimentação, do toque de bola, da manchete e do saque por baixo, o autor verifica e afirma que elas são habilidades motoras que possuem capacidades físicas iguais, aplicadas de forma semelhante. Por exemplo, uma boa execução desses fundamentos implica na presença de força de pernas, elasticidade de quadríceps, equilíbrio estático, dinâmico e recuperado. Desta forma, analisando todas as habilidades para o jogo de voleibol, Bojikian (1999) divide os fundamentos em três grupos, cada um deles tendo o desenvolvimento de qualidades físicas que são inerentes aos fundamentos que as compõem. GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3 Posição Básica Saque Tênis Defesa em pé Movimentação Cortada Rolamentos Toque Bloqueio Mergulhos Manchete Recursos Saque por baixo 4.3 A proposta metodológica de Costa Segundo o autor existem fatores internos e externos que influenciam o desempenho da aprendizagem técnica. Dentre eles, a motivação é a que mais deve ser observada, pois é a mais importante, interferindo diretamente no desenvolvimento e absorção do aprendizado. Para ele deve-se ter o cuidado de incentivar a motivação adequada a complexidade da aplicação do exercício, sem jamais extrapolar os limites naturais da individualidade, podendo isto causar uma reação negativa na aprendizagem motora. A motivação é comprovadamente uma condição básica do desempenho esportivo, independente do nível de desempenho em que o aluno ou o atleta se encontre. Com relação ao aprendizado, o autor cita Weineck (1999) que fornece um esquema geral de cada fase do aprendizado com seus respectivos métodos de trabalho e com seu desenvolvimento neurofisiológico do processo de aprendizagem motora. A seguir apresentaremos uma tabela que esclarece o que tratamos acima. Em seu livro denominado Voleibol Fundamentos e Aprimoramento Técnico, Costa (2001) coloca que depois de se terem desenvolvido as capacidades coordenativas, estando esta automatizada, a aprendizagem de movimentos mais difíceis e complexos ficará facilitada, possibilitando assim o aprendizado das técnicas esportivas, no caso aqui, as técnicas do voleibol que compreendem o saque, a manchete (no passe e na defesa), o toque, o ataque e o bloqueio. Costa (2001) afirma que o desenvolvimento inadequado do trabalho de coordenação, geral e específica, pode gerar fatores negativos dentro do processo de aprendizagem da técnica, retardando-o ou até limitando-o. Quanto mais e melhor for desenvolvida a coordenação, mais facilmente se desenvolverá corretamente a técnica. 37 Fases do aprendizado no desenvolvimento da técnica esportiva Critérios metodológicos no processo de treinamento técnico Evolução neurofisiológica do processo de aprendizado técnico 1. Fase de ajuste do treinamento de acordo com o objetivo do exercício. Primeiro esboço da seqüência de movimentos; obtenção dos requisitos por meio de exercícios e de aptidões físicas. As primeiras percepções óticas, acústicas, verbais constituem o primeiro estímulo para o desenvolvimento de uma seqüência de movimentos. 2. Fase da coordenação grosseira: a seqüência de movimentos. A seqüência de movimentos é ensinada em sua totalidade, porém sob condições facilitadoras, sem treinar os detalhes característicos de cada movimento isoladamente. O objetivo é exercitar toda a seqüência de movimentos. Fase da “irradiação” do processo de estimulação = irradiação dos estímulos que passam a predominar sobre os processos de inibição. A conseqüência desta irradiação é uma inervação pouco econômica e exagerada da musculatura envolvida no movimento. 3. Fase da coordenação fina: cada fase do movimento apresenta uma estrutura dinâmica e cinemática própria. A coordenação de movimentos dessa seqüência é consciente. A estrutura básica total treinada na fase de coordenação grosseira é mantida. Nesta fase cada etapa do treinamento técnico é executada separadamente. Um esquema da movimentação é o objetivo do treinamento técnico. As condições de aprendizado são padronizadas. A forma do treinamento de coordenação fina depende do objetivo e do processo de treinamento, bem como da conscientização do atleta. Na “fase de concentração”, os processos de inibição e excitação focalizam-se sobre os centros e órgãos a serem inervados. Na maioria das vezes, o processo de movimentação se completa pelo controle sensorial e ótico. 4. Fase de fixação e estabilização: os movimentos são fixados sob a forma de reações em função da ação do meio interno e externo. Uma seqüência estável de movimentos somente é obtida com variações de situações e sob as condições vigentes em uma competição. Também é importante desenvolver grande sensibilidade ao movimento de percepção do mesmo. Processosde estimulação e inibição são automatizados de modo que a seqüência de movimentos possa ser executada de modo inconsciente. Nesta etapa as vias de condução nervosas são concluídas no córtex cerebral. Deste modo, a coordenação dos movimentos torna-se estável e a atenção do esportista pode concentrar nas partes mais difíceis do movimento. Costa (2001), quando aborda sobre as fases técnicas do voleibol, entre outros aspectos, coloca que todo o treinamento a ser preparado e executado deve proceder-se dentro dos princípios fisiológicos e psíquicos do desenvolvimento e de sua metodologia científica. Como se pode perceber pelo quadro anterior, o ensino e a aprendizagem dos fundamentos técnicos requer paciência, zelo e conhecimento por parte dos professores e técnicos, que tem por obrigação respeitar as fases do aprendizado e as evoluções neurofisiológicas do desenvolvimento motor dos alunos e atletas. 4.3.1 A fase de aprendizagem Os treinamentos e aulas realizadas na fase de aprendizagem requerem uma metodologia de trabalho específico, que desenvolva a psicomotricidade, coordenação específica, complementados com a integração da prática da técnica dos fundamentos. Os alunos e atletas não devem ser cobrados da sua execução perfeita, mas devem ser incentivados a desenvolvê-los de forma recreacional, o que facilitará o aumento do gosto de aprender e praticar o voleibol. 38 A utilização do minivôlei é importante nesta fase do aprendizado, pois possibilita uma maior participação no jogo, tendo em vista a diminuição das dimensões da quadra e redução da altura da rede e número de jogadores, favorecendo assim o contato com a bola por mais vezes e tornando o jogo mais atraente. 4.3.2 A fase de iniciação Para o autor, o trabalho de iniciação deve ser executado com o máximo de recursos que possibilitem o melhor entendimento dos movimentos técnicos, favorecendo seu aprendizado correto. Entenda-se aqui como recursos: vídeos, fotos, demonstrações pessoais, etc. Também salienta que é necessário que durante a execução das aulas ou treinamentos, os iniciantes possam estar conscientes (esclarecidos) dos objetivos a serem atingidos dentro de cada exercício, sendo fundamental, elogiar quando eles atingirem seu intento, merecendo uma atenção especial os alunos que tenham uma maior dificuldade. O incentivo positivo os auxiliará a transpor as dificuldades de cada etapa na fase de aprendizagem inicial. Costa (2001) também coloca que a possibilidade de realização de maior quantidade de exercícios certamente levará o iniciante ao melhor automatismo dos movimentos técnicos, mas nunca esquecer que deve-se levar em consideração a qualidade com que se está executando estes movimentos. Esta resposta sofre modificação pela condição física em que o iniciante se encontra no momento. Assim, deve-se observar com muita atenção a intensidade e o volume da aula ou do treinamento e os métodos utilizados para o desenvolvimento das técnicas. O professor deve preocupar-se segundo Costa (2001) em preparar aulas ou treinos que possibilitem aumentar-se gradativamente o grau de dificuldade de acordo com a evolução dos alunos ou atletas iniciantes. Também a continuidade lógica no desenvolvimento dos fundamentos assim como a utilização de pequenos jogos com regras modificadas promoverão um clima satisfatório ao progresso técnico deles. Em resumo, o objetivo desta fase é o de oportunizar ao aluno ou atleta iniciante, a realização dos fundamentos técnicos sem a interferência de vícios ou falhas que venham a interferir em sua continuidade. 4.3.3 A fase de aperfeiçoamento A etapa posterior do aprendizado é definida por Costa (2001) como fase de aperfeiçoamento, onde o aluno ou atleta iniciante será preparado para sua especialização técnica e tática. Nesta fase a condição física é de extrema relevância. O objetivo desta fase deve ser o de preparar o aluno ou atleta iniciante para o domínio dos fundamentos técnicos e seus recursos, propiciando a formação de um estilo que possa conduzi-lo a executar, de forma plena e efetiva, todas as funções dentro de qualquer sistema tático, estando assim no caminho do alto nível e ideal de performance. Deve-se desenvolver a noção das táticas, regras básicas, o trabalho do conjunto da equipe, e iniciar o desenvolvimento das qualidades físicas básicas, respeitando sua faixa etária dentro dos princípios científicos do processo de preparação física e de seu desenvolvimento. O objetivo a ser alcançado nesta fase será, segundo Costa (2001), de proporcionar ao futuro jogador a condição de desenvolver com maior facilidade e desenvoltura os fundamentos técnicos na próxima etapa do aprendizado, promovendo a iniciação das funções táticas e sistemas de jogo. 39 4.3.4 Um modelo de programa de ensino De acordo com Costa (2001), em todas as fases de aprendizagem do futuro jogador ou atleta, como queiram, deve-se dar total importância ao respeito dos níveis de desenvolvimento motor, não se realizando a precocidade e não se “queimando etapas” no aprendizado, seja na sua evolução técnica, tática, física ou psíquica, dando-se sempre importância aos treinamentos básicos e formativos, que edificarão o seu melhor desempenho no ideal de performance. O modelo é o seguinte, de acordo com cada fase apresentada anteriormente: FASE INDICADORES Fase de Aprendizagem Desenvolvimento da psicomotricidade e coordenação específica incorporadas na prática da técnica dos fundamentos; Incentivo a execução técnica dos fundamentos sem objetivar a precisão dos movimentos; Início das funções táticas individuais, noções de regra de jogo e conjunto de equipe; Início das qualidades físicas específicas. Fase de Iniciação Fortalecimento das aquisições anteriores; Melhoria e polimento dos fundamentos técnicos; Início da aprendizagem dos sistemas de jogo defensivo e ofensivo; Desenvolvimento da aprendizagem das funções táticas individuais e coletivas; Desenvolvimento das qualidades físicas específicas e do conhecimento das regras. Fase de Aperfeiçoamento Consolidação plena das aquisições anteriores; Ausência de falhas e erros na execução dos fundamentos técnicos; Conhecimento pleno dos sistemas de jogo; Especialização técnica; Conhecimento pleno das regras do jogo; Potencial físico específico para o voleibol. Modelo de programa de ensino adaptado de Costa (2001) para apresentação neste texto. 4.4 A proposta metodológica de Bizzocchi Em seu livro O Voleibol de Alto Nível: da iniciação a competição, Bizzocchi (2000) diz que o voleibol é um esporte de complexo aprendizado e sua maior dificuldade reside no fato de envolver habilidades não naturais ou construídas. Ele toma como exemplo os deslocamentos dentro da quadra, onde salienta que os do voleibol não são muito comuns, nem fáceis de serem realizados, mas atendem as especificações de movimentações de acordo com as particularidades do jogo. Muitas vezes segundo ele, as atividades naturais de correr, andar, saltitar e galopar misturam-se num mesmo deslocamento que o jogador faz para bloquear e defender. Outra observação que ele faz, diz respeito à maneira como a bola, principal instrumento do jogo, é impulsionada, o que classifica o voleibol como um esporte de rebater ou de volear. Além disso, a execução dos fundamentos do voleibol envolvem regiões do corpo usadas eventualmente em aulas de educação física, ou na prática de outros jogos e brincadeiras. Ele cita apenas como exemplo a execução do saque por baixo, da manchete e do toque por cima. Outro agravante no processo de aprendizagem é o fato do voleibol ser o único esporteonde se defende e se busca um alvo horizontal: o próprio chão. Para Bizzocchi (2000) outro fato que merece destaque é o do atropelo com que muitas vezes o esporte é ensinado. Segundo ele, quando os fundamentos são transmitidos em tempo muito curto, acarretam vícios e habilidades mal aprendidas que acabam proporcionando um rendimento pobre e ineficaz. 40 O autor coloca que apesar de todas as dificuldades, um dos maiores obstáculos encontrados pelo voleibol reside na própria escola onde as habilidades de rebater não tem o mesmo tratamento das outras habilidades, pois são quase sempre colocadas por último num planejamento anual, trabalhadas normalmente com materiais, ou resumidas e utilizadas em suas formas mais básicas, não contando com a criatividade do professor na variação das maneiras de rebater. A complexidade natural do aprendizado do voleibol não deve intimidar professores nem praticantes. É preciso corrigir os desvios iniciais no processo de aprendizagem motora na escola e estar atento aos momentos em que o corpo da criança pede novos estímulos. Segundo Bizzocchi (2000), o profissional que trabalha com a iniciação do voleibol precisa compreender essa lacuna existente na vida motora da maioria de nossas crianças e criar situações para experiências novas e básicas, apesar de muitas vezes tardias. É preferível retroceder e ensinar habilidades básicas não vivenciadas, que introduzir as crianças em técnicas específicas, levando-as a situações de absoluta frustração na execução desses fundamentos. Outro ponto importante abordado pelo autor é o que diz respeito a idade ideal para que se comece um treinamento específico dentro do voleibol. A literatura apresenta alguns estágios que o ser humano precisa ultrapassar para chegar a maturação biológica, neurológica e motora que permitam a aprendizagem dos fundamentos específicos de uma modalidade esportiva. Mas existe a individualidade, e ela deve ser obedecida, sabendo que cada pessoa evolui de maneira diferente da outra. Também é importante salientar aqui o que coloca Bizzocchi (2000) quando diz que nenhuma modalidade esportiva, isoladamente, satisfaz todas as necessidades motoras, por isso o treinador de menores deve ter conhecimento amplo, para dedicar-lhes um atendimento integral. Para o autor o atleta iniciante no voleibol não deve dedicar-se exclusivamente a esse esporte, sendo importante que ele pratique outras atividades, participando de outros círculos sociais. O autor, a partir de vários estudos, considera cinco estágios no processo de aprendizagem do voleibol, de acordo com o desenvolvimento humano: Estágio Discriminação Escolar (7 a 10 anos) Habilidades básicas e combinadas; Variações nas formas de rebater; Jogos adaptados de rebater. Iniciação (10 a 12 anos) Habilidades trabalhadas não especificamente, mas adaptadas as do voleibol; Combinação das habilidades básicas com rebater; Maior complexidade nas combinações; Jogos adaptados sobre a rede; Jogos e tarefas de rebater mais específicas. Aprendizagem (12 a 16 anos) Início da aprendizagem das habilidades do voleibol; Habilidades específicas; Ênfase nas formas básicas; Evolução nas formas de jogo; Reforço do raciocínio tático. Aperfeiçoamento (16 a 19 anos) Combinação e variação dos fundamentos; Raciocínio tático mais elaborado; Formas concretas e mais elaboradas de jogo; Correções técnicas; Início da especialização. Treinamento Total (19 anos em diante Jogador pronto; Manutenção técnica; Amadurecimento tático e psicológico; Adaptação técnica em relação as funções; Especialização. Quando trata da adaptabilidade do voleibol o autor afirma que uma das vantagens dele é a variedade de formas lúdicas de jogo, podendo ser adaptado a diversos locais e sofrer alterações de regras, tamanhos de quadra ou materiais utilizados normalmente. Estas improvisações devem ser estimuladas, principalmente em comunidades carentes ou escolas sem recursos, por professores ou até mesmo por entusiastas do esporte. 41 4.4.1 O processo metodológico Segundo Bizzocchi (2000) há divergências quanto ao método mais apropriado para se desenvolver a aprendizagem dos fundamentos do voleibol. Existem duas linhas que agrupam os fundamentos igualmente em três grupos distintos, mas que os ordenam de forma diferente. O primeiro desses métodos, o Dinâmico-Paralelo, ordena os fundamentos de acordo com a seqüência normal de um jogo de voleibol, onde o primeiro elemento é o saque, o segundo a recepção do saque (em forma de manchete), o terceiro o levantamento e assim por diante. Esta organização pode ser vista no quadro abaixo: Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Posições básicas Movimentações específicas Saque por baixo Manchete Toque por cima Saque tipo tênis Cortada Bloqueio Defesa Rolamentos Mergulhos Recursos Processo metodológico Dinâmico-Paralelo adaptado de Bizzocchi (2000) para utilização neste texto. De acordo com o autor em estudo, apesar desta abordagem possuir vários adeptos, a experiência dele com aprendizagem do voleibol, o leva a questionar alguns aspectos. O que diferencia um sistema do outro é a ordem de ensino dos fundamentos do primeiro e segundo grupos, e é exatamente nesse início que a criança encontra maior dificuldade em aprender. Assim, ensinar o saque por baixo, como primeiro elemento com bola, traz algumas limitações sérias a seqüência do trabalho e a associação dos fundamentos. Para ele já é difícil para uma criança manipular voleando a bola que tem em suas próprias mãos. Portanto, receber uma bola que é enviada do outro lado da quadra, por sobre a rede, por um outro indivíduo que, igualmente, não tem controle suficiente sobre seus movimentos, torna-se tarefa das mais complexas. A associação dos demais fundamentos torna-se mais difícil, exatamente, pelos motivos apresentados. Como associar o toque a manchete, com o saque que não consegue ser recebido? A tentativa de resolver esse problema leva quase sempre a criança a buscar outros meios, que não o movimento técnico correto e desejado, para interceptar a bola que sempre, ou quase sempre, lhe foge do controle. Também segundo o autor, o número reduzido de repetições e a quantidade muito baixa de acertos provocam um desestímulo inaceitável para essa etapa da aprendizagem. Um novo choque ocorre quando é iniciado o segundo grupo. O primeiro fundamento a ser ensinado é o saque tipo tênis. Por sua potência e a dificuldade de direcionamento da bola, nas primeiras tentativas, acarreta problemas na organização de uma aula ou treino, e também na qualidade da manchete para a recepção desse saque. Por isso, o Método Progressivo-Associativo é considerado o mais apropriado para ensinar o voleibol de maneira uniforme e rica em organização, associação e variação de elementos. Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Posições básicas Movimentações específicas Toque por cima Manchete Saque por baixo Cortada Bloqueio Saque tipo tênis Saque balanceado Defesa Rolamentos Mergulho Recursos Bizzocchi (2000) preconiza este segundo método em seu livro, e faz uma adaptação da forma original dividindo-o em quatro grupos. O método consiste em seguir a dinâmica dos movimentos específicos a serem realizados, aproveitando a semelhança de postura e segmentos entre eles e provocando transferência mais suave do fundamento aprendido anteriormente para o seguinte. 42 Assim como anteriormente, a organização proposta pode ser visualizada no quadro apresentado na página anterior. Os fundamentos são agrupados pelo autor de acordo com o nível de postura (posição do corpo em relação ao solo) adequados as suasrealizações. No grupo 1 o nível de postura é médio, geralmente com o centro de gravidade mais baixo que o normal, as pernas semiflexionadas e os braços partindo de uma posição intermediária entre a cabeça e o quadril. No grupo 2 os fundamentos apresentados sugerem uma postura alta, mais em pé, com o centro de gravidade mais afastado do solo. Os movimentos são executados com os braços acima da cabeça e com o corpo geralmente estendido. O grupo 3 aprende-se os fundamentos que são realizados a partir de uma posição baixa. Com relação aos fundamentos, no grupo 1 a aprendizagem da posição básica é seguida pela movimentação específica, que nada mais é do que a primeira, já aprendida, em deslocamento. Depois disso vem o toque por cima, que ao contrário do saque por baixo preconizado no Método Dinâmico-Paralelo, pode ser associado às posições básicas e as movimentações específicas já aprendidas anteriormente. A manchete, que aproveita a mesma posição básica para a realização das movimentações específicas, é ensinada logo a seguir. Com esses dois fundamentos aprendidos, o professor segundo Bizzocchi (2000) vê aumentada, e em muito, a riqueza de exercícios, tarefas e pequenos jogos adaptados que ele poderá introduzir. Uma das questões mais elaboradas ao longo dos tempos é respondida pelo autor quando coloca: porque o toque antes da manchete? E ele responde. Porque a manchete, depois de aprendida, torna-se a forma mais fácil de se tocar numa bola. É muito mais fácil para o aluno ou iniciante, recorrer a manchete do que ao toque para recuperar uma bola que lhe foge do corpo. Assim, se a manchete for ensinada antes, o toque passará a ser um artigo de segunda necessidade. Após a assimilação dos elementos anteriores, chega-se então ao saque por baixo, que a partir desse momento, pode ser introduzido de uma maneira menos traumática no processo. Mais, a facilidade em executar o toque e a manchete já adquiridos, permite ao aprendiz antecipar seus movimentos, ou seja, ter uma visão mais elaborada da trajetória da bola. Assim ele poderá utilizar seu conhecimento para chegar a um determinado local, onde poderá interceptar a bola que vem do outro lado da quadra. No grupo 2, com a combinação saque-manchete-toque assimilada, inclui-se a cortada que é a forma mais eficaz de se alcançar o objetivo do rally, que é colocar a bola no solo da quadra contrária. O bloqueio vem após a cortada, assim que o aluno ou iniciante tenha um equilíbrio adequado no final dos movimentos. Por fim o saque tênis, quando o aprendiz já tem desenvolvida a habilidade para receber o saque e já executa a cortada com desenvoltura. Alguns professores colocam também o saque balanceado no final deste grupo. No grupo 3 a defesa passa a ser uma necessidade básica para a interceptação da cortada. Ela, apesar de utilizar basicamente a manchete, envolve outros fatores de tempo e força próprios da bola atacada. Com a velocidade da bola aumentada, surgirá a necessidade de que se ensine formas de cair e rolar que possam facilitar a volta do praticante ao jogo, evitando as lesões e contusões causadas por quedas ou mergulhos feitos de qualquer maneira. As quedas devem ser ensinadas após a defesa estar bem assimilada, incentivando-se sempre os alunos a utilizar prioritariamente os deslocamentos para chegar e alcançar a bola salienta Bizzocchi (2000). O grupo 4, os recursos não são formas usuais de técnica e muitas das vezes são até particulares. Eles vão aparecendo de acordo com as mudanças nas regras e nas formas de jogar. Eles devem ser ensinados após as técnicas tradicionais estarem devidamente dominadas. 4.4.2 O processo pedagógico Com relação ao processo pedagógico, para Bizzocchi (2000), o método ideal é o sintético-analítico- sintético, porque permite ao aluno primeiro experimentar o fundamento, depois aprendê-lo de forma decomposta para por fim realizá-lo de forma global, encerrando assim o processo da aprendizagem. O autor estrutura o processo pedagógico na seguinte ordem: 43 Apresentação do fundamento – deve ter qualidade de execução, pois a primeira impressão é a que fica registrada na memória; Experimentação – Livre experimentação faz parte do processo, e visa atender a curiosidade dos alunos, assim como permitirá que ele vivencie as dificuldades para a realização; Seqüência Pedagógica – decomposição da habilidade em partes que possam ser isoladas do ponto de vista motor, para depois retomar o movimento como um todo; Exercícios Educativos e Formativos – alguns alunos poderão apresentar desvios no padrão de movimento que deverão ser corrigidos; Fixação – a repetição é a principal ferramenta da fixação. Deve-se incluir aos poucos exercícios mais complexos quanto a execução; Aplicação – utilizar a realidade do jogo, não necessariamente num jogo de 6X6. Existem formas lúdicas que poderão ter papel decisivo na motivação para o aprendizado dos fundamentos e do próprio voleibol. 4.5 A proposta metodológica da American Sport Education Program No livro Ensinando Voleibol para Jovens editado no Brasil em 1999, a American Sport Education Program (ASEP) apresenta em sua Unidade 4 uma proposta que começa por uma pergunta: “Como eu ensino as habilidades esportivas?”. I – Introduza a habilidade D – Demonstre a habilidade E – Explique a habilidade A – Ajude os jogadores treinando a habilidade 4.5.1 Introduza a habilidade Jogadores, especialmente os mais jovens e inexperientes, precisam saber qual habilidade eles estão aprendendo e por que eles estão aprendendo. A proposta preconiza que o professor ou treinador deve seguir três passos toda a vez que introduzir uma habilidade para os seus alunos ou jogadores. São eles: 1. Consiga a atenção dos seus alunos ou jogadores 2. Nomeie a habilidade 3. Explique a importância da habilidade Os jovens se distraem facilmente, por isso use algum método para chamar a atenção deles. Alguns professores e técnicos usam, por exemplo, a forma de contar estórias. Outros usam piadas. Outros simplesmente projetam entusiasmo para conseguir que seus alunos ou atletas ouçam. Uma dica é posicioná-los de forma que eles possam lhe ver e ouvir. Fale num tom um pouco acima do normal e olhe nos olhos deles. Outro fato interessante é o que diz respeito ao nome que você dará a habilidade. Apesar de você poder mencionar outros nomes comuns para a habilidade, decida qual você vai usar e mantenha-o. Por exemplo, escolha entre “recepção” ou “passe” como o termo para a manchete, e use-o constantemente. A resposta a essa pergunta começa afirmando que muitas pessoas acreditam que a única qualificação necessária para ser um técnico é ter jogado o esporte. O fato de ter jogado ajuda é verdade, mas há muito mais para treinar com sucesso. Eles dizem que mesmo que você não tenha jogado ou assistido voleibol, você ainda pode aprender a treinar com sucesso seguindo o que eles colocam, do inglês, como “IDEA” que em português significa idéia. Vamos ver: 44 Você sabe da importância da habilidade no jogo, porém seus alunos ou jogadores podem não saber ou serem menos aptos para perceber como a habilidade os ajudará a se tornarem melhores jogadores de voleibol. 4.5.2 Demonstre a habilidade A demonstração é a parte mais importante para ensinar habilidades esportivas para jovens atletas. Eles precisam de uma imagem, não apenas de palavras. Eles precisam ver como a habilidade é executada. Se você não se julga capaz de executar a habilidade corretamente, tenha um amigo, um de seus jogadores, um de seus alunos, ou alguém habilidoso para o voleibol para fazer a demonstração. O American Sport Education Program coloca algumas dicas que poderão ajudar o professor ou otécnico a fazer demonstrações mais efetivas. Use a técnica correta Demonstre a habilidade muitas vezes Diminua a velocidade da ação, se possível, durante uma ou duas execuções para que os alunos ou jogadores possam ver cada movimento envolvido na habilidade Execute a habilidade em diferentes ângulos para que os alunos ou jogadores possam ter uma completa perspectiva dela Demonstre a habilidade de ambos os lados da quadra, em seu começo e fim. 4.5.3 Explique a habilidade Alunos e jogadores aprendem de maneira mais eficaz quando lhes são proporcionadas pequenas explicações da habilidade em conjunto com a demonstração. É bom que o professor ou técnico utilize termos simples e, se possível, relacione a habilidade com outras aprendidas anteriormente. Uma tática metodológica bastante utilizada para verificar se os alunos ou jogadores entenderam a explicação é fazer questionamentos, ou mesmo colocar para eles situações problema para que eles resolvam. Eles utilizam um gráfico para mostrar o comportamento de diferentes métodos de ensinar, onde no eixo A temos o grau de aprendizagem da habilidade e no eixo B os métodos de ensino do professor ou treinador. Vejamos: A Alto Médio Baixo B Nada Explicação Explicação Explicação Explicação, Somente e demonstração e condução demonstração e condução Habilidades complexas são geralmente mais bem entendidas quando são explicadas por suas partes mais fáceis de controlar. Um exemplo oferecido no livro é no caso de você estar ensinando a sacar. Os passos são os seguintes: 1. Mostre a eles a execução correta de toda a habilidade e explique a função dela no voleibol; 2. Divida a habilidade e aponte suas partes componentes para seus alunos ou atletas; 3. Os alunos ou jogadores deverão executar cada componente da habilidade ensinada como a preparação, lançamento, movimento de pré-contato e o contato; 45 4. Após isso, ou seja, depois deles terem demonstrado suas habilidades ao executarem as partes dela na seqüência, explique novamente a habilidade; e 5. Deixe os alunos ou jogadores praticarem a habilidade. O Programa faz um alerta bem importante: jogadores jovens conseguem prestar atenção por pouco tempo, portanto, uma longa demonstração ou explicação da habilidade irá aborrecê-los. Assim o professor ou treinador não deve gastar mais que uns poucos minutos para a introdução, demonstração e explicação das fases. O importante é manter os alunos ou jogadores ativos na tentativa de executar a habilidade ou num exercício, ou num pequeno jogo, ou em outra atividade qualquer. 4.5.4 Ajude os alunos/jogadores que estão executando/treinando a habilidade De acordo com o American Sport Education Program se a habilidade que você selecionou estava dentro das capacidades de execução dos seus alunos ou jogadores e você tiver feito um trabalho eficaz de introdução, demonstração e explicação, eles estarão prontos pata tentar a habilidade. Alguns alunos ou jogadores poderão precisar da condução mais particular do professor ou treinador em seus movimentos, principalmente durante suas primeiras tentativas. Não pense duas vezes, pois conduzi-los os ajudará a ganhar confiança para executar a habilidade individualmente. Uma parte significativa de seus ensinamentos envolverá observação atenta das execuções de seus alunos ou jogadores, acertos e erros. Uma dica é que enquanto você observa os esforços deles nos exercícios e atividades, forneça-lhes um feedback positivo, e corretivo se for o caso. Tenha claro que este tipo de ação terá uma grande influência na motivação dos seus alunos ou jogadores para as aulas e treinos, e com certeza, melhorará muito o rendimento deles. 5. Exemplos de jogos recreativos para o voleibol Ao final deste texto (polígrafo de estudos), resolvemos colocar alguns exemplos de atividades que poderão ser realizadas tanto pelos professores em aula, quanto pelos técnicos em atividades de treinamento, neste ultimo caso, em forma recreativa. A idéia aqui está ligada basicamente, na questão mais escolar, a realidade cotidiana da grande maioria dos professores de Educação Física quando ensinam as modalidades esportivas em suas aulas, qual seja, a de ter quase sempre pouquíssimo material e uma grande quantidade de alunos. Espero sinceramente que eles possam ser úteis para você. 46 JOGO 1: Equipe que erra... sai da quadra Objetivo Organização Material Metodologia Variação Esquema Gráfico Envolver todos os alunos num grande jogo recreativo de atenção e velocidade, onde além da execução dos fundamentos do jogo, estão presentes o espirito de equipe e noções de rodízio. Reunir todos os alunos em grupos de seis (06) jogadores cada, formando tantas equipes quantas comportar a turma. Funciona bem com três equipes. 01 ou 02 bolas de voleibol ou similar. Após distribuição nas equipes, sortear as duas que começarão jogando. Se forem três, a que perdeu no sorteio ficará ao lado da linha lateral, entrando em quadra assim que qualquer uma das equipes que estão na quadra jogando cometa um erro. A equipe que vence o "rally" fica em quadra, não faz rodízio e tem o direito de sacar. A equipe que perde o "rally", sai da quadra e fica ao lado da mesma, aguardando o próximo erro para imediatamente entrar em quadra, no espaço da equipe que erra. O detalhe interessante deste jogo, é que esta equipe que entra, deve realizar um rodízio a frente, em relação a posição em que estavam, quando perderam o "rally". Se existirem mais de três (03) equipes, o interessante é numerar em ordem crescente cada uma, e elas irão entrando em quadra, após cada erro no jogo, seguindo esta numeração prévia. O controle pode ser feito tanto pelo professor quanto pelos alunos. 47 JOGO 2: Ultimo que toca na bola, troca de lado Objetivo Organização Material Metodologia Variação Esquema Gráfico Envolver todos os alunos num grande jogo recreativo de participação, onde além da execução dos fundamentos do jogo, estão presentes o espirito de coleguismo, a integração e a diversão. Reunir todos os alunos em dois grupos, formando duas equipes. 01 bola de voleibol ou similar. Após distribuição nas equipes, sortear a equipe que começa sacando. Após o saque, o jogador da equipe receptora que passar a bola para a quadra oposta, vai imediatamente para esta equipe, e assim sucessivamente. Se por acaso, ao tentar passar a bola, o aluno cometer um erro ou uma falta (bola na rede, bola para fora, etc), ele não troca de quadra. O jogo termina quando uma das equipes estiver com dois ou um aluno tão somente. Uma variação deste jogo, é trocar de lado também o sacador, logo após o seu saque. O controle pode ser feito tanto pelo professor quanto pelos alunos. 48 JOGO 3: Quem vence o "rally"... chama de lá!!! Objetivo Organização Material Metodologia Variação Esquema GráficoEnvolver todos os alunos num grande jogo recreativo de participação, onde além da execução dos fundamentos do jogo, estão presentes a integração e a diversão. Dividir todos os alunos em dois grupos, formando duas equipes. 01 bola de voleibol ou similar. Após distribuição nas equipes, sortear a equipe que começa sacando. Quando acontecer um erro ou uma falta (erro de saque, bola na rede, bola para fora, etc), o jogo é interrompido e os componentes da equipe que venceu o "rally" deverão escolher um aluno (colega) da outra equipe, que trocará de lado. O jogo termina quando restar um único aluno em um dos lados da quadra. Pode-se tentar ampliar o jogo, permitindo, caso o aluno que esteja sozinho concorde, que ele jogue contra todos os outros. Ele poderá para isso executar os três toques permitidos, por exemplo, receber, levantar e atacar. O controle pode ser feito tanto pelo professor quanto pelos alunos. 49 JOGO 4: Volençol Objetivo Organização Material Metodologia Variação Esquema Gráfico Por meio de uma atividade cooperativa, jogar voleibol em duplas, utilizando um pedaço de lençol (pano), para executar os movimentos do jogo. Dividir os alunos em equipes de doze (12) componentes, formando tantas equipes quantas forem possíveis. 01 bola de voleibol ou similar. 12 retalhos (pedaços) de lençol ou pano. Após dividirem-se em duplas, cada uma com seu lençol, os alunos formam as equipes. O jogo começa com a bola sendo arremessada para a quadra contrária. Esta deverá ser apanhada pela dupla no lençol, e passada a outra dupla, sendo permitidos, como no voleibol regular, um máximo de três toques para passar a bola para o outro lado. Vence o jogo a equipe que atingir primeiro a pontuação determinada. Em caso de muita dificuldade, pode-se permitir que a bola quique no solo antes de ser apanhada no lençol. 50 JOGO 5: Manchetebol Objetivo Organização Material Metodologia Variação Esquema Gráfico Envolver todos os alunos num grande jogo recreativo de movimentação, onde o fundamento do jogo utilizado será a manchete. Dividir todos os alunos em dois grupos, formando duas equipes. 01 bola de voleibol ou similar. Formar, em cada equipe, uma coluna a partir da posição 6 (defesa central). O professor, colocado ao lado da quadra, de posse da bola, a coloca em jogo, lançando-a para o primeiro aluno da coluna, que de manchete, a joga para o outro lado da quadra, onde o primeiro aluno faz o mesmo. Quando acontecer um erro ou uma falta, ponto para a equipe contrária. Vence o jogo a equipe que alcançar primeiro a pontuação determinada para a atividade. Em caso de muita dificuldade, pode-se permitir que a bola quique no solo, antes de ser rebatida de manchete para o outro lado da quadra. 51 JOGO 6: Giravolei: o jogo da rotação participativa Objetivo Organização Material Metodologia Variação Esquema Gráfico Por meio de uma atividade cooperativa, jogar voleibol em trios, utilizando as posições da quadra para orientação no sentido da rotação. Dividir os alunos em trios. Sugere-se que cada equipe seja formada por seis (06) trios, totalizando dezoito (18) alunos por equipe. 01 bola de voleibol ou similar. Giz, fita crepe ou similar. Os trios deverão ocupar as seis (06) áreas demarcadas na quadra. Os trios que estiverem ocupando as áreas 3 e 6 iniciarão o jogo, que segue as regras normais do voleibol. A cada fim de "rally", não importando quem vença o mesmo, os dois grupos irão girar no sentido do rodízio (rotação), trocando de área na quadra. Vencerá o jogo a equipe que alcançar primeiro a pontuação determinada para a atividade. A única variação que experimentamos, foi com um número menor de alunos, já que o jogo comporta trinta e seis (36) alunos jogando ao mesmo tempo. Para tal, uma área ficará vazia. 1 6 5 2 3 4 4 3 2 5 6 1 1m 7m 1m 52 JOGO 7: Todos contra todos... em todos os sentidos! Objetivo Organização Material Metodologia Variação Esquema Gráfico Em uma quadra reduzida (4,5m X 9m), jogar voleibol, utilizando três direcionamentos diferentes: para frente, para o lado e na diagonal. Dividir os alunos em quatro equipes de seis (06) componentes. 02 bolas de voleibol ou similar. Giz, 01 corda que atravesse a quadra no sentido longitudinal, ou outro tipo de marcação. Com as equipes distribuídas em suas quadras, o jogo inicia sendo dividido em três etapas: na primeira as equipes se enfrentam frente a frente, por sobre a rede. Na Segunda etapa, enfrentam a equipe que estiver colocada ao seu lado, jogando sobre a corda; e na terceira etapa, enfrentam a equipe que está colocada na sua diagonal, novamente sobre a rede Dependendo do objetivo, ou do número de alunos, o jogo poderá ser jogado em trios ou duplas. 9m 9m 4,5m 4,5m 53 JOGO 8: Volei... zona !!! Objetivo Organização Material Metodologia Variação Esquema Gráfico Na mesma quadra jogar voleibol, utilizando as zonas de ataque e defesa como parâmetros de delimitação da atividade. Conhecimento das zonas da quadra e distâncias do jogo. Dividir os alunos em trios, colocando cada trio em uma zona da quadra (defesa e ataque). 02 bolas de voleibol ou similar. Com os trios distribuídos em suas zonas, o jogo inicia sendo dividido em três etapas: a) zona de ataque contra zona de ataque; b) zona de defesa contra zona de defesa; c) zona de defesa contra zona de ataque. Os jogos acontecem ao mesmo tempo. Dependendo do objetivo, ou do número de alunos, o jogo poderá ser jogado em trios ou em duplas. 54 JOGO 9: SuperVolei Gigante Objetivo Organização Material Metodologia Variação EsquemaGráfico Envolver todos os alunos num grande jogo de movimentação e atenção, onde todos os fundamento do jogo são utilizados. Dividir os alunos em trios, colocando dois deles em cada meia quadra, e os outros colocados de maneira igual para ambos os lados, atrás da linha de fundo, também de cada lado. 01 bola de voleibol ou similar. Com os trios colocados em quadra, sorteia-se a equipe sacadora. Após o saque, quando a equipe receptora completar o ataque, o trio desta, que estiver colocado na zona de ataque, deverá sair imediatamente da quadra. Enquanto a bola estiver com a outra equipe, o trio que estava na zona de defesa deverá ocupar a zona de ataque, e o próximo, que estava na linha de fundo, entrar para a zona de defesa. O mesmo acontecerá com a outra equipe quando completar seu ataque. Uma variação possível é que ao invés de ir para trás dos trios de sua própria quadra, o trio que abandona a zona de ataque, vai para a linha de fundo da quadra oposta. 55 JOGO 10: Gincana do Saque Objetivo Organização Material Metodologia Variação Esquema Gráfico A partir das tarefas agendadas, utilizando as zonas demarcadas na quadra com letras e números, cumprir as tarefas utilizando o fundamento saque. Dividir os alunos em dois grupos, colocados atrás da linha de fundo de cada quadra, na zona de saque. Cada equipe deverá determinar a ordem dos sacadores. Fichas com as tarefas deverão ser confeccionadas. Mínimo de 02 bolas de voleibol ou similar. Com os alunos colocados em suas zonas de saque, o jogo inicia pelo sorteio da ficha de tarefas. Os alunos determinados deverão cumprir a tarefa solicitada. As tarefas terão uma pontuação, determinada pelo grau de dificuldade da mesma. Vencerá a equipe que pontuar mais no cumprimento das tarefas da gincana. Dependendo do objetivo e do tempo, os próprios alunos poderão sugerir e criar e passar as tarefas para a equipe adversária, ao invés delas serem preestabelecidas pelo professor. Pode-se também dividir as equipes em trios ou em duplas para o cumprimento das tarefas. 5 4 1 4 2 3 2 L O R B A E S * O desenho acima é apenas uma sugestão de divisão. 56 6. Referências Bibliográficas AMERICAN SPORT EDUCATION PROGRAM (1999): Ensinando Voleibol para Jovens. São Paulo, Manole. ALDERMAN, R. B. (1974): Psychological behavior in sports. Philadelphia, W.B. Sounders. BERNIMONT, J., BIENFAIT, R. & TAEVERNIER, J. (1979): Volleyball techniques et schemas d'entrainement. Bruxelles, Adesp. BIZZOCCHI, C. 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