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CCJ0014-WL-B-PP-Aula 11-Ciro Ferreira dos Santos

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Curso de Direito Civil II 
Prof. Ciro Ferreira dos Santos 
 
 
Aula 11 – MODALIDADES DE PAGAMENTO 
 
 
Imputação do Pagamento 
Conceito 
Pressupostos 
Modalidades: pelo devedor e pelo credor; imputação legal 
Efeitos jurídicos 
 
Novação 
Conceito 
Pressupostos 
Modalidades: novação real e novação subjetiva 
Efeitos jurídicos 
 
Compensação 
Conceito 
Pressupostos 
Modalidades: voluntária; legal; judicial; facultativa; automática; eventual 
Efeitos jurídicos 
 
Confusão 
Conceito 
Pressupostos 
Efeitos jurídicos 
 
 
IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO (arts. 352 a 355, CC) 
 
Imputação deriva da expressão latina “imputare” que significa atribuir a alguém. Trata-se de modalidade 
de pagamento que tem origem no Direito Romano cujos princípios básicos são adotados até hoje. 
 
Imputação do pagamento, define Paulo Nader (2010, p. 337), é o ato de escolha da dívida a ser 
quitada, entre vários débitos vencidos. Ocorre tal situação, quando um devedor possui mais de uma 
obrigação líquida e vencida, de igual natureza, em face do mesmo credor e o pagamento se mostra 
insuficiente para a quitação de todas integralmente. Os débitos em aberto podem referir-se a uma 
relação obrigacional ou a mais de uma, mas sempre entre as mesmas partes. 
 
Informa Inácio de Carvalho Neto (2009, p. 253) que o instituto tem aplicação prática importante em 
débitos automáticos em conta corrente bancária. Não tendo o correntista saldo suficiente para as várias 
faturas a serem debitadas no mesmo dia, aplicam-se as regras da imputação do pagamento para se 
determinar qual delas se deve debitar. No entanto, adverte o autor que a matéria está deslocada no 
Código, pois não se trata de forma indireta de extinção das obrigações, mas apenas, de circunstância do 
pagamento em si, pelo que deveria ser tratada na seção do Capítulo I do presente Título. 
 
 
 
São pressupostos da imputação do pagamento: 
 
a) Ato de pagamento (entrega da prestação). 
 
b) Multiplicidade de débitos (obrigações fungíveis e de igual gênero). 
 
c) Identidade dos titulares do crédito e do débito. 
 
d) Sendo a obrigação solidária deve-se também observar se há identidade de titulares. 
 
e) Insuficiência de recursos para a quitação das diversas dívidas vencidas. A prestação entregue deve 
ser suficiente para quitar mais de um débito, mas não todos. 
 
f) Dívidas líquidas e vencidas. 
 
Dívidas condicionais não podem ser objeto de imputação, assim como, não se pode imputar em débitos 
litigiosos, execuções forçadas e procedimentos de recuperação de empresa. 
 
Se o prazo foi fixado em favor do devedor, este poderá renunciá-lo para realizar a imputação de dívida 
vincenda. 
 
A imputação em dívidas ilíquidas e vincendas só é possível a imputação com a concordância do credor 
(art. 355, CC). 
 
Modalidades de imputação do pagamento: 
 
a) Imputação feita pelo devedor (art. 352, CC): é a regra. 
 
O devedor não pode imputar o pagamento em dívida cujo montante seja superior ao valor ofertado, 
salvo acordo entre as partes (art. 314, CC). 
 
O devedor não pode imputar no capital quando há juros vencidos, salvo anuência do credor. 
O credor não pode recusar a imputação quando presentes os requisitos legais. Recusando haverá mora 
“accipiendi”. 
 
b) Imputação feita pelo credor (art. 353, CC): só será realizada quando o devedor não declarar em que 
débito está realizando a imputação. O credor pode indicar a imputação no mesmo ato da quitação. 
 
Se forem duas as dívidas e uma delas estiver prescrita, não pode o credor imputar o pagamento nesta. 
 
c) Imputação legal (art. 355, CC): trata-se de norma supletiva e ocorre quando o devedor não faz a 
indicação e o credor não exerce esse direito na quitação. Regras: 
 
Havendo capital e juros o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos. 
 
Entre dívidas vencidas e não vencidas a imputação será feita nas primeiras. 
 
Se algumas forem líquidas e outras ilíquidas, a imputação far-se-á nas líquidas, segundo a ordem de 
vencimento. 
 
Se todas as dívidas forem líquidas e vencidas ao mesmo tempo, imputar-se-á na mais onerosa. 
 
Sendo todas as dívidas líquidas, vencidas e igualmente onerosas deve-se imputar proporcionalmente em 
cada uma (Carlos Roberto Gonçalves, 2010). Trata-se de critério questionável uma vez que contraria o 
disposto no art. 314, CC, obrigando o credor a receber parcialmente todas as dívidas. 
 
 
Efeitos da imputação do pagamento: 
 
a) Realizada regularmente a imputação, torna-se irretratável. 
 
b) Realizada a imputação a obrigação se extingue, salvo hipótese de fracionamento ou se recaiu apenas 
sobre juros. 
 
c) Imputação em caso de fiança parcial (art. 823, CC). Alguns autores entendem ser possível a 
imputação em dívida única garantida por fiança uma vez que o ato favoreceria o fiador. 
 
d) Ocorre abuso da imputação quando esta visa causar prejuízo a outro credor ou devedor. 
Caracterizado o abuso a sanção será o restabelecimento da situação anterior. 
 
d) Havendo dúvida quanto à imputação realizada, deve-se interpretar de maneira mais favorável ao 
devedor. 
 
e) A imputação em matéria tributária (art. 163, CTN) é realizada pela autoridade administrativa seguindo 
a ordem constante no próprio Código Tributário Nacional. 
 
 
NOVAÇÃO (arts. 360 a 367, CC) 
 
A novação (“?novatio”) foi instituto muito utilizado no Direito Romano em época em que a regra era a 
intransmissibilidade das obrigações. 
 
Define Paulo Nader (2010, p. 365) ?novação é negócio jurídico que substitui relação obrigacional por 
outra, alterando a composição subjetiva ou objetiva, podendo alcançar uma e outra. Seu “punctum 
saliens” situa-se na dupla ocorrência: extinção de uma dívida, sem pagamento, e instauração de outra. 
 
A relação obrigacional não é modificada por outra, mas extinta [...]. A novação, portanto, tem duplo 
conteúdo: extintivo (mas não satisfatório) e gerador, tratando-se de verdadeira forma de simplificação 
de relações obrigacionais. 
 
Requisitos da novação: 
 
a) Preexistência de uma obrigação que ainda não esgotou seus efeitos (?obligatio novandi?). 
 
b) Admite-se a novação de obrigação a termo. 
 
c) Obrigação nula e inexistente não aceita novação (art. 367, CC). 
 
d) Obrigação anulável aceita novação que faz presumir a desistência de pleitear a nulidade. 
 
e) Obrigações naturais também podem ser novadas uma vez que admitem cumprimento espontâneo. 
 
i. Esclarecem Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2008, p. 341-342) que obrigações 
prescritas podem ser novadas. Neste caso, a novação importa abdicação do lapso prescricional. Quanto 
às obrigações naturais decorrentes de jogo ou aposta esclarecem que: “xcepcionando-se os jogos 
regulados legalmente (v.g. loteria esportiva), as modalidades ilegais não obrigam a pagamento. 
 
Porém, caso espontaneamente adimplidos, impedem a repetição (art. 814, CC). Se o devedor emite 
título de crédito em favor do credor (nota promissória, duplicata), consuma-se a novação e, em 
princípio, o credor poderá ajuizar ação de execução. 
 
 
 
Contudo, é lícita a oposição de embargos de devedor com fulcro na demonstração da origem ilegítima 
do débito. O princípio da abstração dos títulos de crédito só é oponível por endossatários de boa-fé, eis 
que entre emitente e beneficiário intervenientes originários sempre será possível àquele desconstituir a 
obrigação mediante prova da ilicitude da causa debendi. 
 
Discute-se se pode haver novação de obrigação condicional ou não. Paulo Nader (2010) entende que 
sim independente se a condição é resolutiva ou suspensiva e exemplifica: A se compromete a doar a B 
uma determinada casa se este vier a se casar. Posteriormente, necessitando vender o imóvel, 
convenciona com B, mediante contrato, a substituição do objeto da prestação por um outro 
apartamento. 
 
f) Formação de uma nova obrigação que tem por finalidadesubstituir o vínculo anterior. (?aliquid novi?). 
 
g) Exige-se alteração substancial entre as duas relações obrigacionais. 
 
Pequenos adendos, alteração de garantias e mudança do vencimento não constituem novação. 
 
h) “Animus novandi” expresso ou tácito (art. 361, CC). Inequívoca vontade de extinguir o vínculo 
preexistente. 
 
Havendo dúvida se houve novação ou não, deve-se decidir pela não ocorrência sendo a segunda 
obrigação apenas uma confirmação da primeira (art. 361, CC). Paulo Nader (2010) ensina que um dos 
critérios para aferição é: se as obrigações se completam a tendência é que tenha ocorrido apenas 
modificação da relação obrigacional; mas se há clara incompatibilidade entre elas, é provável a novação. 
 
i) Capacidade das partes. 
 
j) Salvaguarda de terceiro. 
 
Modalidades de novação (art. 360, CC): 
 
a) Novação objetiva ou real: ocorre quando a alteração se processa no objeto da dívida ou na natureza 
ou na causa da obrigação (inc. I), permanecendo as mesmas partes. 
 
b) Novação subjetiva ou pessoal: ocorre quando a modificação pretendida se refere à titularidade do 
crédito e/ou do débito (inc. II e III). 
 
c) Novação subjetiva passiva (art. 362, CC) pode ocorrer por delegação (acordo entre devedor e novo 
devedor com anuência do credor) ou por expromissão (acordo entre credor e novo devedor). 
 
Afirmam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2008, p. 347) que de fato, o Código Civil de 
2002 recepcionou modelo jurídico muito próximo à novação subjetiva passiva por delegação. 
 
A novação subjetiva passiva é de natureza “pro soluto” (art. 363, CC). 
 
d) Novação mista: ocorre quando simultaneamente se altera o objeto da prestação e se substitui pelo 
menos uma das partes. Não é prevista pelo Código Civil, mas plenamente aceitável em virtude do 
exercício da autonomia privada. 
 
Efeitos de novação: 
 
a) A intenção de novar provoca renúncia ao crédito e a seus acessórios. 
 
b) A nova obrigação extingue a obrigação preexistente e com ela seus acessórios e garantias. 
 
 
c) Havendo solidariedade passiva a novação pactuada entre o credor e um dos devedores exonera os 
demais, subsistindo as garantias e preferências apenas sobre os bens do devedor que realizou o negócio 
jurídico (art. 365, CC). 
 
d) Inválida a novação, não se restauram as garantias da obrigação preexistente, salvo expressa 
disposição em contrário (arts. 364 e 366, CC). 
 
Vale lembrar a Súmula 214, STJ ?o fiador na locação não responde por obrigações resultantes de 
aditamento ao qual não anuiu?. 
 
No caso de novação subjetiva sendo o novo devedor insolvente não gera para o credor ação regressiva 
em face do devedor primitivo, a menos que este tenha agido de má-fé (art. 363, CC). 
 
 
COMPENSAÇÃO (arts. 368 a 380, CC) 
 
A “compensatio” também foi figura conhecida pelo Direito Romano, inicialmente apenas de forma 
convencional, passando-se a admitir a legal e a convencional apenas em períodos mais avançado. 
 
Ensina Paulo Nader (2010, p. 381-382) que ?o instituto da compensação, em sua concepção 
fundamental, constitui menos uma construção jurídica do que uma cópia de cópia de práticas 
intuitivas.[...]. Dá-se a compensação quando duas pessoas são, ao mesmo tempo e entre si, credoras e 
devedoras, excluindo-se as dívidas integralmente se os débitos forem iguais ou, parcialmente, pelo valor 
do menor. [...]. O instituto constitui importante instrumento de simplificação das operações financeiras, 
sobretudo nas práticas comerciais?, evitando circulação desnecessária de moeda e representando um 
elemento de garantia. 
 
Quatro teorias tentam explicar a natureza jurídica da compensação: 
 
a) pagamento fictício. Não prospera porque o pagamento implica “traditio” que não é elemento 
fundamental da compensação; 
 
b) dupla confusão. Também não prospera porque a compensação comporta duas obrigações em 
contraposição; 
 
c) modo de extinção da obrigação. Acaba identificando a compensação pelo efeito que produz; 
 
d) contrato recíproco de remissão. É inadequada porque na compensação ocorre composição de 
interesses e não mera liberalidade dos contratantes. Conclui Inácio de Carvalho Neto (2009, p. 303) que 
sem dúvida, constitui a compensação um pagamento [...] há um duplo pagamento, ou melhor, um 
pagamento de cada lado das partes envolvidas no contrato. 
 
Fundamenta-se a compensação no princípio da equidade (art. 368, CC) e se manifesta nas seguintes 
modalidades: 
 
a) Total: ocorre quando as dívidas forem de igual montante. 
 
b) Parcial: ocorre quando as dívidas são de valores desiguais e, neste caso, a compensação se dará pela 
medida do crédito de menor montante. 
 
c) Legal: trata-se de fato jurídico em sentido estrito. Opera-se automaticamente, desde que presentes 
todos os requisitos legais. 
 
Pode inclusive ser requerida em contestação ou reconvenção. No entanto, o juiz não pode declará-la de 
ofício. 
 
 
 
O momento em que se verifica a compensação corresponde ao dia em que se venceram as obrigações, 
se coincidente a data, ou quando se venceu a segunda obrigação. 
 
d) Voluntária: tem natureza jurídica contratual e decorre de acordo de vontades. Pode ser utilizada 
quando falta algum dos requisitos para realizá-la ?ex vi legis?. 
 
e) Judicial ou processual: a doutrina não é unânime ao conceituar esta espécie, identificando três 
formas: 
 
Para a primeira corrente apenas em situações especiais acontece a compensação judicial ? art. 21, CPC, 
e quando houver previsão na lei. 
 
Para a segunda corrente ocorre quando o juiz aceita o pedido de compensação não obstante a falta de 
um dos requisitos da compensação legal. 
 
Para a terceira corrente ocorre a compensação judicial quando o juiz decretá-la por sentença declarativa 
ou constitutiva. 
 
f) Facultativa: contém elementos da compensação legal e da convencional. Ocorre quando a parte que 
poderia impugnar o pedido de compensação deixa de fazê-lo, aceitando a extinção das dívidas, ainda 
que não estejam presentes todos os requisitos da compensação legal. 
 
g) Automática: ocorre por expressa previsão legal em situações especiais, dispensando-se a 
homogeneidade das prestações, o quantitativo do débito. Operam independente da vontade das partes 
como é o caso do art. 1.214, CC. 
 
h) Eventual: opera-se em juízo quando o réu, em ação de cobrança, após postular a improcedência do 
pedido, formula subsidiariamente um pedido de compensação caso o juiz se manifeste pela procedência 
da ação. 
 
Requisitos da compensação legal: 
 
a) Reciprocidade de créditos e débitos. 
 
b) Em regra, não importa a origem das obrigações uma vez que a reciprocidade é pertinente à 
titularidade do crédito e do débito. Portanto, não há nada que obste a compensação de obrigações 
naturais com obrigações civis. Nestes casos, a compensação será sempre voluntária. 
 
c) É inadmissível a compensação de dívidas do tutor e dos pais, com créditos dos tutelados e dos filhos. 
 
d) O terceiro não interessado não pode compensar a dívida com eventual crédito que possua em face do 
credor. Exceção: art. 371, CC. 
 
e) Na estipulação em favor de terceiro não há reciprocidade entre promitente e beneficiário, por isso, 
não cabe compensação. 
 
f) Liquidez das dívidas. Requer-se, portanto, a certeza do ?quantum?. 
 
g) Fungibilidade das dívidas (equivalência quantitativa) e homogeneidade e certeza do objeto. 
 
h) Nas obrigações alternativas sendo um objeto compensável e o outro não só após a concentração se 
poderá decidir pela compensação ou não. 
 
i) Exigibilidade dos débitos. 
 
 
 
j) Prazos de favor não obstam a compensação (art. 372, CC). 
Dívidas que não se compensam (art. 373, CC): 
 
a) Objeto esbulhado, furtado ou roubado. 
 
b) Dívidas derivadas de comodato, depósito e alimentos. 
 
c) Bens que não podem ser penhorados. 
 
Efeitos da compensação: 
 
Extinção dasobrigações que se excluem reciprocamente pelo valor da prestação menor. 
O direito de compensar comporta renúncia (art. 375, CC) que pode ser unilateral ou bilateral, desde que 
não decorra de cláusula abusiva. 
 
A renúncia unilateral é admitida apenas antes de se efetivar a compensação legal. 
Não cabe renúncia à compensação quando o fiador do renunciante não autorizar (art. 380, CC). 
 
A compensação não pode causar prejuízo a terceiros. 
 
O devedor solidário pode extinguir integralmente a dívida, opondo o seu crédito pessoal. Em face dos 
coobrigados poderá exercer o direito de regresso. 
 
Parte da doutrina entende que qualquer coobrigado pode opor crédito pessoal de outro coobrigado 
contra o credor. O entendimento predominante tende a aceitar a oposição, mas limitada à 
responsabilidade do coobrigado que possui o crédito. 
 
Na compensação convencional as partes podem estabelecer a data da extinção das dívidas. 
Havendo divergência entre as partes quanto à compensação legal e se esta for reconhecida por 
sentença, os efeitos serão retroativos ao momento em que se realizaram os pressupostos da 
compensação. 
 
A compensação judicial ocorre no momento em que se verifica o trânsito em julgado da sentença. 
 
O fiador pode opor crédito em face do credor que lhe promove a cobrança (art. 371, CC). 
 
O representante não pode compensar dívida contraída em nome do representado com o que o credor 
lhe dever (arts. 368 e 376, CC). 
 
Efetivada a comunicação da cessão do crédito, o devedor deverá opor compensação contra o cedente 
(art. 377, CC). Não há reciprocidade entre o devedor e o cessionário se aquele não se opuser à cessão 
notificada se os créditos eram compensáveis à data da cessão. 
 
A compensação deve ser realizada no lugar onde uma das obrigações deve ser executada (art. 378, CC). 
 
A compensação de várias dívidas deve ser computada com a imputação do pagamento (art. 379, CC). 
 
 
CONFUSÃO (arts. 381 a 384, CC) 
 
A expressão confusão tem origem no latim “confusio”, “confusionis”, que significa mistura, fusão. 
Juridicamente, em sentido amplo, confusão é expressão utilizada para designar consolidação, 
centralização de titularidades. Em sentido estrito, trata-se de fato jurídico próprio do Direito das 
Obrigações. 
 
 
 
 
 
Na definição de Paulo Nader (2010, p. 405) configura-se confusão quando, em decorrência de um fato 
jurídico, o crédito e o débito se reúnem em uma só pessoa, extinguindo-se, “ipso facto”, a obrigação. 
 
Trata-se de verdadeira sucessão de posições de credor e devedor que leva à extinção da obrigação com 
seus acessórios. 
 
Pressupostos da confusão: 
 
a) Unidade da obrigação. 
 
b) Consolidação do crédito e débito em uma pessoa. 
 
c) Não-separação de patrimônios. 
 
Destacam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2008, p. 361) que lembra Pontes de Miranda 
que pode haver patrimônios distintos da mesma pessoa, sem que exista confusão, pois a titularidade do 
crédito e do débito deve se situar na mesma relação jurídica para se manifestar a confusão. 
 
Assim, se A é credor de seu pai B de R$ 100,00 e B falece deixando o seu filho como herdeiro, não 
haverá confusão. Simplesmente, A continuará a ser credor do espólio, pois a sucessão diz respeito à 
relação jurídica de débito anteriormente estabelecida. 
 
Opera “ex vi legis” e, por isso, dispensa manifestação de vontade. 
 
Outras considerações: 
 
Admite-se confusão entre obrigações naturais. 
 
É irrelevante o fato da dívida estar vencida ou não. 
 
A dívida de alimentos, em virtude de sua natureza jurídica, não pode ser objeto de confusão. 
 
Modalidades de confusão: 
 
a) Total: ocorre quando o crédito incorpora-se integralmente ao patrimônio do devedor. 
 
b) Parcial ou imprópria (art. 383, CC): ocorre quando o crédito incorpora-se parcialmente ao patrimônio 
do devedor. 
 
c) “Causa mortis”: o devedor é herdeiro do próprio credor que morreu. 
 
d) Por ato “inter vivos”: pode ser gratuita ou onerosa (cessão de crédito, casamento com comunhão 
universal...). 
 
Efeitos jurídicos da confusão: 
 
A confusão pode deixar de produzir efeitos por disposição entre as partes, mas isso apenas com relação 
a elas e não em face de terceiros. 
 
Extinção da obrigação (imperativo lógico cfe. art. 381, CC). Trata-se de extinção que não ocorre 
diretamente sobre a dívida, mas sim, sobre a titularidade criando um ?impedimentum praestandi?. Nas 
palavras de Pontes de Miranda, trata-se de uma mesmeidade do titular. 
 
 
 
No entanto, a extinção pode ser apenas temporária, por isso, alguns autores evitam indicar a extinção 
da obrigação como efeito, uma vez que o fato pode ser reversível (art. 384, CC - Cristiano Chaves de 
Farias e Nelson Rosenvald (2008, p. 362) falam em pós-eficacização da relação obrigacional.). Silvio 
Rodrigues, por isso, prefere falar em neutralização do direito (a obrigação deixa de ser exigida). 
 
Vale lembrar que restaurada a obrigação nem sempre seus acessórios serão restabelecidos, como é o 
caso da fiança e do aval, salvo expresso consentimento dos garantidores. 
 
 
A confusão pode ocorrer em obrigações solidárias. Neste caso, afeta apenas parte da obrigação (art. 
383, CC), pois só extingue a dívida em relação à pessoa em que se efetuou, não aproveitando aos 
demais coobrigados. 
 
 
 
Caso Concreto 1 
 
 
(CESPE 2012 STJ Analista Judiciário - adaptada) Para o STJ, a novação, modalidade de extinção de 
obrigação, não impede a revisão dos negócios jurídicos antecedentes, em face da relativização do 
princípio do pacta sunt servanda no direito brasileiro. Certou ou errado? Justifique sua resposta. 
 
Gabarito: 
 
Correto. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E 
VENDA DE IMÓVEL. DISTRATO. RETENÇÃO INTEGRAL DAS PARCELAS PAGAS PELO PROMITENTE-
COMPRADOR. CLÁUSULA ABUSIVA. OFENSA AOS ARTIGOS 51, INCISO IV, E 53 DO CÓDIGO DE 
DEFESA DO CONSUMIDOR. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. 
 
1. É ilegal e abusiva a cláusula do distrato de promessa de compra e venda que estipula a retenção 
integral das parcelas pagas pelo promitente-comprador. Ofensa aos artigos 51, IV, e 53 do Código de 
Defesa do Consumidor. 
 
2. A reforma do julgado demandaria a análise de cláusulas contratuais e o reexame do contexto fático-
probatório, procedimentos vedados na estreita via do recurso especial, a teor das Súmulas nº 5 e nº 7 
do Superior Tribunal de Justiça. 
 
3. Agravo regimental não provido. 
AgRg no REsp 434945/MG, 7/12/2011 
 
Caso Concreto 2 
 
 
(CESPE Analista judiciário TRF 1ª Região/2008) José entabulou com Paulo dois negócios distintos, em 
razão dos quais se obrigou a pagar a este as quantias de R$ 1.000,00 e de R$ 500,00, sendo a primeira 
dívida onerada pela fixação de juros moratórios, e a segunda, apenas pelo estabelecimento de multa. 
Vencidas as dívidas, José, que só dispunha de R$ 600,00, propôs pagar parte do capital da primeira 
dívida, já que esta era a mais onerosa. Encontrou, no entanto, resistência de Paulo. Com base na 
situação hipotética acima descrita, mesmo que Paulo tivesse aceito o pagamento parcial do capital da 
dívida mais onerosa, tal transação seria nula por ir de encontro à disposição legal que determina a 
obrigatoriedade da quitação dos juros em primeiro lugar. Certo ou errado? Justifique sua resposta. 
 
Gabarito: 
 
 
 
Errado, conforme art. 354, CC, que autoriza a possibilidade de se imputar primeiro no principal. 
Questão Objetiva 1 
 
(MP-GO 2012 - adaptada) Analise os itens abaixo, assinalando em seguida a alternativa correta. 
 
I O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que menos valiosa. 
 
II A novação por substituição do devedor (expromissão) somente pode ser efetuada com o seu 
consentimento. 
 
III As dívidas alimentares podem ser objeto de transação, extinguindo-se a execução de alimentos.IV A remissão concedida a um do codevedores extingue a dívida na parte a ele correspondente. 
 
a) As assertivas II e IV estão corretas. 
 
b) As assertivas I, II e III estão corretas. 
 
c) As assertivas I, III e IV estão corretas. 
 
d) As assertivas III e IV estão corretas. 
 
Gabarito: Letra “C” conforme arts. 313, 841 e 388, CC. O item II está errado conforme art. 362, CC. 
 
 
Questão Objetiva 2 
 
(MPT-2012) À luz do Código Civil, assinale a assertiva INCORRETA: 
 
a) A compensação é um modo de extinção da obrigação. 
 
b) O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja 
dada. 
 
c) A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis; no entanto, em 
qualquer caso, as coisas fungíveis objeto das duas prestações não se compensarão, quando se verificar 
que diferem na qualidade. 
 
d) Salvo nos casos taxativamente previstos, a diferença de causa nas dívidas não impede a 
compensação. 
 
Gabarito: Letra “C” conforme arts. 369 e 370, CC.

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