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DIREITO CIVIL DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 2 SUMÁRIO I. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 4 1. CONCEITO ........................................................................................................................................... 4 2. FONTE DAS OBRIGAÇÕES ..................................................................................................................... 5 3. ESTRUTURA E ELEMENTOS DA OBRIGAÇÃO .......................................................................................... 6 4. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES ....................................................................................................... 7 4.1. Obrigação de não fazer ................................................................................................................. 7 4.2. Obrigação de fazer ........................................................................................................................ 7 4.3. Obrigação de dar .......................................................................................................................... 8 II. MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES ........................................................................................................ 9 1. QUANTO À COMPLEXIDADE DA PRESTAÇÃO ........................................................................................ 9 2. ESTUDO DAS OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS (ART. 264 A 285, DO CÓDIGO CIVIL) ....................................... 11 2.1. Regras Gerais .............................................................................................................................. 11 2.2. Hipóteses de solidariedade ......................................................................................................... 12 3. ESTUDO DAS OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS (ARTIGOS 257 A 263 DO CÓDIGO CIVIL) ............. 15 III. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES ................................................................................................... 17 1. CESSÃO DE CRÉDITO .......................................................................................................................... 17 1.1. Responsabilidade jurídica na cessão de crédito ............................................................................ 19 2. CESSÃO DE DÉBITO (ASSUNÇÃO DE DÉBITO) ...................................................................................... 19 3. CESSÃO DE POSIÇÃO CONTRATUAL (CESSÃO DE CONTRATO) .............................................................. 20 IV. TEORIA DO PAGAMENTO ............................................................................................................... 21 1. CONDIÇÕES SUBJETIVAS DO PAGAMENTO ......................................................................................... 21 1.1. Quem deve pagar ....................................................................................................................... 22 1.2. A quem se deve pagar ................................................................................................................. 23 2. CONDIÇÕES OBJETIVAS DO PAGAMENTO ........................................................................................... 24 2.1. O objeto do pagamento e sua prova ............................................................................................ 24 Princípio da identidade física da prestação ......................................................................................... 26 2.2. Tempo do pagamento ................................................................................................................. 28 2.3. Lugar do pagamento ................................................................................................................... 29 3. REGRAS ESPECIAIS DE PAGAMENTO E FORMAS DE PAGAMENTO INDIRETO ........................................ 31 3.1. Consignação em pagamento: matéria de processo civil – UNILATERAL.......................................... 31 3.2. Imputação do pagamento (art. 352 a 355, CC) – UNILATERAL ....................................................... 37 3 3.3. Pagamento com sub-rogação (arts. 346 a 351) – UNILATERAL ...................................................... 38 4. DAÇÃO EM PAGAMENTO – DATIO IN SOLUTUM (ARTS. 356 A 359) ..................................................... 40 5. NOVAÇÃO ......................................................................................................................................... 41 5. COMPENSAÇÃO (ARTS. 368 A 385, CC) ............................................................................................... 44 6. CONFUSÃO OBRIGACIONAL (ARTS. 381 A 384, CC) .............................................................................. 46 7. REMISSÃO (ARTS. 385 A 388, CC) ....................................................................................................... 47 V. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL ...................................................................................................... 48 1. INADIMPLEMENTO ABSOLUTO .......................................................................................................... 50 1.1. Classificação quanto à extensão .................................................................................................. 51 1.2. Classificação quanto à responsabilidade ...................................................................................... 52 2. INADIMPLEMENTO RELATIVO ............................................................................................................ 60 2.1. Consequências da mora do devedor ............................................................................................ 61 2.2. Espécies de mora do devedor ...................................................................................................... 61 VI. CLÁUSULA PENAL ........................................................................................................................... 65 VII. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO ................................................................................... 77 VIII. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA ............................................................................................................... 78 4 ATUALIZADO EM 30/10/20181 DIREITO DAS OBRIGAÇÕES – TEORIA GERAL I. INTRODUÇÃO 1. CONCEITO O direito das obrigações reúne o conjunto de normas reguladoras da relação jurídica pessoal vinculativa do credor ao devedor. A relação é pessoal e vinculativa. OBS.: a denominada obrigação propter rem é aquela que tem natureza mista (real e pessoal). A par de conter uma prestação devida, ela se vincula a uma coisa, acompanhando-a. Ex.: obrigação de pagar taxa de condomínio (REsp. 846.187/SP). Quem compra o apartamento com prestações de condomínio atrasadas vai ser responsável por elas. No REsp 1.073.846/SP, o STJ exemplifica como obrigações propter rem o IPTU e o ITR. Não confundir, por outro lado, a obrigação propter rem com a obrigação com eficácia real. Essa última consiste em uma obrigação típica, comum, com a peculiaridade de passar a ter eficácia erga omnes por haver sido levada a registro (ex.: obrigação locatícia nos termos do art. 8º da Lei do Inquilinato). Se a locação – obrigação pessoal – for averbada na matrícula do imóvel, a obrigação passa a ter eficácia erga omnes – o proprietário pode vender, mas a pessoa que comprou tem que respeitar até o fim do contrato. Em direitos reais, deverá ser estudada ainda outra figura: ônus real. Trata-se de um conceito que pode variar na doutrina, mas que, em geral, traduz uma limitação da propriedade, impondo o pagamento de uma prestação periódica. (ex.: a renda constituída sobreimóveis). Emílio Betti em sua clássica obra, Teoria Geral das Obrigações, anota e profetiza haver ao longo do século XX uma verdadeira crise de cooperação entre o credor e o devedor. As partes, na relação obrigacional, que é dinâmica, devem atuar respeitando os limites impostos pelos princípios da função social e da boa-fé objetiva. Trata-se de um instituto não apenas aplicado ao direito obrigacional, mas inclusive no direito internacional (Convenção de Viena de 1890) e no próprio processo penal. Um bom exemplo dessa nova perspectiva é a aplicação do duty to mitigate (dever de mitigar) tema introduzido no Brasil pela professora Vera de Fradera no âmbito do direito obrigacional. Como decorrência do próprio princípio da boa fé, o titular de um 1 As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. 5 direito deve, sempre que possível, atuar para minimizar a extensão do dano, mitigando a gravidade da situação experimentada pelo devedor. REsp 758518/PR e HC 1717153/GO. Doutrina (Enunciado 169, III JDC). O Direito das Obrigações, inicialmente, pode significar tanto dever, em sentido estrito, como a própria relação jurídica obrigacional, em sentido amplo. Vale ainda anotar a diferença entre as palavras schuld (débito) e haftung (responsabilidade). Nesse contexto, temos que, em geral, o próprio devedor tem o débito e a responsabilidade, porém, como bem observa o grande jurista Guilherme Nogueira da Gama pode ocorrer que a responsabilidade (haftung) recaia em um terceiro (ex.: fiador). Devedor sempre tem o débito, mas nem sempre a responsabilidade sobre ele. *#OUSESABER: O que se entende por obrigações imperfeitas? Schuld é o dever legal de cumprir com a obrigação existente por parte do devedor. Grosso modo, pode-se dizer que seria sinônimo de débito. Por sua vez, o Haftung seria a possibilidade de constranger ao cumprimento do débito (Schuld), ou seja, seria a RESPONSABILIDADE pelo adimplemento. As obrigações imperfeitas são espécies de obrigações em que apenas um desses elementos estará presente. Ex.1: Dívida de jogo, aqui existe o débito (schuld), mas inexiste meio legal para constranger ao pagamento, não haveria RESPONSABILIDADE (Haftung) por esse débito. Ex.2: Na fiança, o fiador assume uma RESPONSABILIDADE (Haftung), no entanto o débito (Schuld) não lhe pertence. Logo, nessa garantia pessoal há Haftung, porém não há Schuld. * A cobrança de dívida de jogo contraída por brasileiro em cassino que funciona legalmente no exterior é juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os bons costumes e a soberania nacional. Além disso, permitir a cobrança, no Brasil, de dívida de jogo contraída no exterior é uma medida que está de acordo com o art. 884 do Código Civil, que proíbe expressamente o enriquecimento sem causa. Aquele que visita país estrangeiro, usufrui de sua hospitalidade e contrai livremente obrigações lícitas não pode retornar a seu país de origem buscando a impunidade civil. Se não fosse permitido que o cassino cobrasse a dívida aqui no Brasil, haveria lesão à boa-fé de terceiro, bem como o enriquecimento sem causa do devedor. Conclui-se, portanto, que o pedido é juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os bons costumes e a soberania brasileira. Ademais, deve ser aplicada, no que respeita ao direito material, a lei americana. SSTJ. 3ª Turma. REsp 1.628.974-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/6/2017 (Info 610). 2. FONTE DAS OBRIGAÇÕES A fonte da obrigação é o fato jurídico que dá origem à relação jurídica obrigacional. No direito antigo, a sistematização das fontes feita pelo jurisconsulto Gaio teve grande importância. Para ele, as fontes das obrigações seriam as seguintes: o contrato, o quase-contrato (atos negociais não contratuais, a exemplo, nos dias de hoje, da promessa de recompensa), o delito (ilícito doloso), o quase delito (ilícito culposo). 6 Atualmente, essa sistematização já não é utilizada como no passado. O Código Civil não dedica uma parte específica para regular as fontes das obrigações, cabendo o trabalho de identificação dessas fontes à própria doutrina (a linha doutrinária moderna, em geral, costuma reconhecer como fontes das obrigações os (i) atos negociais, como o contrato ou a promessa de recompensa, e alguns (ii) atos não negociais, como o fato da vizinhança e os atos ilícitos). A principal fonte é o contrato, mas há outros atos não negociais que também geram obrigações que derivam do fato da vizinhança, por exemplo. 3. ESTRUTURA E ELEMENTOS DA OBRIGAÇÃO A relação jurídica obrigacional é composta por três elementos. a) O elemento imaterial, abstrato ou espiritual: trata-se do próprio vínculo abstrato que une o credor ao devedor. b) O elemento subjetivo são os sujeitos da relação que devem ser determinados ou, ao menos, determináveis. OBS.: O sistema jurídico brasileiro admite a indeterminabilidade subjetiva, ativa ou passiva, desde que temporária. Vale dizer, cuida-se de uma indeterminabilidade relativa, do credor ou do devedor. São exemplos de indeterminabilidade do credor: o cheque ao portador e a promessa de recompensa. No que tange ao polo passivo, a obrigação propter rem, a exemplo da obrigação de pagar taxa de condomínio, consubstancia hipótese em que há indeterminabilidade do devedor, no exemplo dado dependerá de quem seja o dono do imóvel. Orlando Gomes observa que esse tipo de obrigação em que os sujeitos podem variar denomina-se obrigação ambulatória. c) O elemento objetivo é o objeto da obrigação (a prestação). O conceito de prestação – objeto direto – não varia: a prestação é a atividade do devedor direcionada à satisfação do crédito (de dar, fazer ou não fazer). O bem da vida é o objeto indireto da obrigação porque o objeto direto de toda relação obrigacional é a prestação. OBS.: À luz do moderno direito civil constitucional, na perspectiva da cláusula geral da boa-fé objetiva, é forçoso convir que a prestação principal de dar, fazer ou não fazer não é a única embutida na relação obrigacional. Prestações outras, verdadeiros deveres anexos ou de proteção, como o dever de lealdade, assistência, informação, sigilo e outros congêneres também tem forte carga de importância jurídica e poderão ensejar responsabilidade civil quando descumpridos. Como será visto em Módulo próximo, o descumprimento desses deveres é conhecido como violação positiva do contrato. 7 OBS.: A prestação, vale acrescentar ainda, deve ser lícita, possível e determinada ou ao menos determinável. A prestação na relação obrigacional tem que ser patrimonial? Em geral, a prestação tem caráter patrimonial ou economicidade. Todavia, como bem observa Paulo Lobo, na linha de Pontes de Miranda, pode haver prestações não propriamente patrimoniais, a exemplo da disposição feita pelo testador ao herdeiro impondo-lhe o dever de ser enterrado de determinada maneira. O Código Português aceita expressamente que a natureza da prestação não seja econômica. 4. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES A classificação básica é formada pelas obrigações negativas e obrigações positivas. As obrigações negativas são as obrigações de não fazer e as obrigações positivas podem ser as de fazer e as de dar. As obrigações de dar podem ser as de dar coisacerta ou dar coisa incerta. Inicialmente, é importante observar que o desenvolvimento da matéria, especialmente das obrigações de fazer e não fazer é feito na grade de processo civil quando do estudo do processo de execução e da tutela específica das obrigações. 4.1. Obrigação de não fazer Regulada a partir do art. 250, CC, a obrigação de não fazer é aquela que tem por objeto uma prestação negativa, ou seja, um comportamento omissivo do devedor. É o exemplo do sujeito que assume a obrigação de não construir acima de determinada altura ou de não realizar atos de concorrência. Por óbvio, o descumprimento de uma obrigação de não fazer pode ensejar responsabilidade civil, sem prejuízo de uma eventual tutela jurídica específica. Guilherme Nogueira da Gama acrescenta que essa abstenção pode ser temporária, como no caso da obrigação de não explorar determinada atividade por cinco anos. *#ATENÇÃO #SINÔNIMO #QUESTÃODESOBREVIVÊNCIA: O que são obrigações de não fazer transeuntes? São também denominadas obrigações negativas instantâneas, sendo aquelas que, quando descumpridas uma única vez, são irreversíveis, gerando inadimplemento absoluto, na medida em que é impossível retornar ao estado originário. Ex.: Obrigação de não divulgar segredo industrial de empresa. 4.2. Obrigação de fazer Regulada a partir do art. 247, CC, a obrigação de fazer é aquela que tem por objeto uma prestação de fato positiva, ou seja, na obrigação de fazer interessa ao credor a própria atividade do devedor. A obrigação de fazer poderá ser fungível (não personalíssima), quando a atividade possa ser prestada por terceiro, ou infungível (personalíssima), quando somente a atividade do próprio devedor interessa. 8 Impossibilidade sem culpa do devedor – resolve-se a obrigação. Ex.: morte. Obs.: no contrato de empreitada permanece a obrigação para os sucessores, pois a morte de qualquer das partes não extingue o referido contrato. O artigo 626 do Código Civil fala que “Não se extingue o contrato de empreitada pela morte de qualquer das partes, salvo se ajustado em consideração às qualidades pessoais do empreiteiro”. Sendo assim, a empreitada possibilita a troca do empreiteiro, para que se tenha a entrega da obra certa, até mesmo quando ocorrer a morte de uma das partes. 4.3. Obrigação de dar A obrigação de dar é aquela que tem por objeto prestações de coisas. “Dar”, em direitos das obrigações, pode significar: transferir a propriedade da coisa, transferir apenas a posse ou a detenção da coisa ou restituir. a) Obrigação de dar coisa certa (art. 233, CC): a obrigação de dar coisa certa é aquela que tem por objeto uma coisa determinada ou individualizada, a exemplo da obrigação imposta à construtora na venda de determinado apartamento. Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso. Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder- TOTAL -, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos. Art. 235. Deteriorada a coisa – PARCIAL-, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu. Especialmente no âmbito das obrigações de dar coisa certa, aplica-se a regra básica e fundamental, prevista no art. 313, CC, no sentido de que o credor não está obrigado a receber prestação diversa, ainda que mais valiosa. Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. Em geral, haverá a obrigação de pagar perdas e danos quando o descumprimento da obrigação derivar de culpa do devedor. 9 b) Obrigação de dar coisa incerta (art. 243, CC): trata-se de uma obrigação genérica com prestação determinável. Vale dizer, é a obrigação em que a coisa é indicada apenas pelo gênero e pela quantidade, não estando ainda individualizada. Em regra, a individualização da coisa (operação denominada concentração do débito ou da prestação devida), é feita pelo devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação. E toda escolha deve ser feita pela média. Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade. Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor. Existe, na doutrina, posição crítica no sentido de que a palavra gênero fosse substituída por espécie, mas não foi essa a opção do legislador. O que é a regra do genus nunquam perit (o gênero nunca perece)? Trata-se de uma regra tradicional no Direito Brasileiro, ainda prevista em nosso sistema (art. 246, CC), no sentido de que antes da escolha da coisa, o gênero é imperecível, de maneira que não poderá o devedor alegar caso fortuito ou força maior para se eximir da obrigação pactuada. Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito. Crítica: doutrina sustenta que se o gênero da obrigação for limitado na natureza é possível alegar caso fortuito e força maior. O que se entende por tutela externa do crédito (teoria do terceiro cúmplice)? Deve-se muito à contribuição doutrinária do professor Antônio Junqueira de Azevedo. Na perspectiva da função social e da boa- fé objetiva, embora a relação obrigacional vincule as próprias partes, terceiros não devem atuar de forma ilícita ou indevida, interferindo na relação jurídica obrigacional alheia. Fala-se, então, que a obrigação teria além de uma eficácia interna (geradora de direitos e deveres para as partes), uma eficácia externa, que imporia ao terceiro um dever de respeito, sob pena de responsabilidade civil. No STJ há aplicação também no âmbito do contrato administrativo (Noticiário de 25.01.2008 e REsp 468.062-CE). II. MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES 1. QUANTO À COMPLEXIDADE DA PRESTAÇÃO 10 a) Obrigação simples (mínima): é aquela que se apresenta com uma única prestação (seja de dar, fazer ou não fazer); b) Obrigação composta objetiva: é aquela que se apresenta com mais de uma prestação. b.1) Obrigação conjuntiva ou cumulativa: é aquela que se apresenta com mais de uma prestação, sendo certo que todas elas devem ser cumpridas pelo devedor, sob pena de mora ou inadimplemento absoluto. É identificada pela conjunção “e”. É o exemplo das obrigações assumidas pelo locador e locatário, nos termos da Lei de locação (art. 22 e 23, da Lei 8.245/91). Essa modalidade não está tratada pela teoria geral das obrigações, mas sim nos contratos em espécie. b.2) Obrigação alternativa ou disjuntiva: ela se apresenta com mais de uma prestação, sendo certo que apenas uma delas deve ser cumprida pelo devedor. É identificada pela conjunção “ou”. Essa modalidade fora tratada pelo Código Civil na teoria geral das obrigações entre os artigos 252 a 256. É o exemplo do contrato estimatório ou venda em consignação (art. 534, do Código Civil). Nessa modalidade de contrato, o consignante transfere ao consignatário bens móveis (exemplo de bebida), tendo este duas opções: vende os bens e paga o preço de estima ao consignante, ou, se assim desejar, devolve os bens2. Ademais, na obrigação alternativa, haverá necessidade de uma escolha, a fim de determinar o objeto (concentração). Essa escolha, em regra, cabe ao devedor (“in favor debitoris”), se o contrário não fora estipulado, pois a escolha pode caber ao credor ou até mesmo a terceiro, se assim convencionado. Pode essa escolha ser efetuada até mesmo pelo juiz, no caso de: pluralidade de optantes,não havendo acordo unânime entre eles; ou mesmo quando couber a opção a terceiro, e este não quiser, ou assim não puder exercê-la. b.2.1) Regras de inadimplemento das obrigações alternativas: (i) Inadimplemento sem culpa do devedor: Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, ocorrerá resolução da obrigação, sem gerar direito às perdas e danos. Se apenas uma das prestações se tornou impossível, sem culpa do devedor, subsistirá o débito quanto à outra. (ii) Inadimplemento com culpa do devedor: Se todas as prestações se tornarem impossíveis com culpa do devedor, ocorrerá resolução da obrigação, gerando direito às perdas e danos. Atenção: a quem compete a escolha influencia na resolução da questão. Se a escolha não competia ao credor: o devedor ficará obrigado a pagar o valor da prestação que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos 2 http://jus.com.br/artigos/7592/a-natureza-juridica-da-obrigacao-assumida-pelo-consignatario-no-contrato-estimatorio 11 que o caso determinar. Se a escolha competia ao credor: e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexequíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos. OBS¹: Não confundir a obrigação alternativa com a obrigação de dar coisa incerta. A obrigação alternativa é uma obrigação composta; ao passo que a obrigação de dar coisa incerta é uma obrigação simples. A obrigação alternativa comporta prestações de: dar, fazer ou não fazer; já a obrigação de dar coisa incerta somente pode tratar de prestações de dar. As prestações de dar nas obrigações alternativas têm por objeto coisas de gênero diferentes (exemplo: dar 500 maçãs ou 500 goiabas, ou dar um cavalo ou uma vaca); enquanto nas obrigações de dar coisa incerta a escolha se dá dentro de um mesmo gênero (exemplo: dar um cavalo). Obs²: Não confundir obrigação alternativa com obrigação facultativa. A obrigação alternativa é uma obrigação composta; ao passo que a obrigação facultativa é uma obrigação simples. Na obrigação alternativa, há a previsão de mais de uma prestação, devendo se escolher uma delas para o seu cumprimento. Já na obrigação facultativa, há uma única prestação exigível pelo credor, pois a outra opção de prestação é uma faculdade do devedor (é o exemplo da obrigação de dar um imóvel, deixando como faculdade ao devedor a opção de pagar o valor deste). #SELIGA: para alguns autores (Maria Helena Diniz e Venosa), no contrato estimatório, o consignatário assume uma obrigação facultativa. 2. ESTUDO DAS OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS (ART. 264 A 285, DO CÓDIGO CIVIL) 2.1. Regras Gerais As obrigações solidárias somente interessam se houver mais de um credor e/ou mais de um devedor, dentro da mesma obrigação (obrigações compostas subjetivas). Na solidariedade, seja ativa ou passiva, as partes são tratadas como se fossem uma só. * #ATENÇÃO: não confundir com as obrigações “in solidum”, em que todos os devedores respondem pela integralidade da obrigação e estão vinculados ao credor em virtude do mesmo fato, mas sem que haja solidariedade entre eles, pois os liames são independentes. Ex.: em caso de acidente em imóvel segurado, o proprietário poderá cobrar tanto do causador do dano como da seguradora, pois estes estão vinculados ao credor pelo mesmo fato, mas não há solidariedade. 12 Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda. A solidariedade não se presume, mas resulta da lei (solidariedade legal) ou da vontade das partes (solidariedade convencional). Isso é o que aduz o art. 265, do Código Civil, que tem aplicação para a solidariedade na responsabilidade contratual, haja vista que para as hipóteses de responsabilidade civil extracontratual se aplica o art. 942, do Código Civil. Polêmica: Súmula nº 492, do STF – “A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este causados a terceiro, no uso do carro locado”. Alguns autores criticam essa súmula, porque solidariedade não se presume. Contudo, essa solidariedade está enquadrada nos artigos 932, II e 942, parágrafo único, do Código Civil (hipótese de responsabilidade civil extracontratual). Súmula nº 26 STJ – avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário. 2.2. Hipóteses de solidariedade a) Solidariedade ativa: é aquela que existe entre credores, podendo ser legal ou convencional. É exemplo de solidariedade ativa legal aquela prevista entre locadores, conforme aduz o art. 2º, da Lei 8.245/91. Ademais, é exemplo de solidariedade ativa convencional aquela estipulada em acordo. Regras quanto à solidariedade ativa: (i) Na solidariedade ativa, cada um dos credores solidários tem o direito de exigir do devedor comum o cumprimento da prestação por inteiro. Além disso, enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, o devedor poderá pagar a qualquer um dos credores (artigos 267 e 268, do Código Civil). Antes de ser demandado judicialmente, o devedor pode pagar para quem quiser e como quiser. Após demandado judicialmente por qualquer dos credores, o pagamento deve ser feito àquele que demandou (prevenção judicial quanto à dívida). (ii) Segundo o art. 269, do Código Civil, o pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago. Nada obstante, mesmo aquele que recebeu parcialmente, pode cobrar o restante da dívida, pois na solidariedade ativa a relação externa, aquela entre credores e devedor, é una. Nesse sentido, em uma dívida de 30mil para 3 credores, o credor que recebeu 10mil do devedor pode ainda cobrar 20mil a este. 13 (iii) Pelo previsto no art. 272, do Código Civil, o credor que tiver remitido (perdoado) a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pelas partes que lhes caibam (quotas correspondentes). Na solidariedade ativa, a relação interna (aquela entre os credores) é fracionável, havendo uma presunção de divisão igualitária entre as partes, cabendo pacto em contrário. (iv) Art. 270, do Código Civil – “Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível”. No caso de morte, desaparece a solidariedade em relação àquele que faleceu (refração do crédito), persistindo ainda entre os credores sobreviventes. (v) Art. 271, do Código Civil – “Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade”. Esse efeito diferencia a solidariedade da indivisibilidade. Nesse sentido, se a prestação de 30mil é convertida em perdas e danos no valor de 60mil, cada um dos credores pode exigir do devedor o pagamento dos 60mil. (vi) Art. 273, do CC: “Art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros”. Exceções pessoais são as defesas existentes somente com relação a determinadas pessoas (ex.: alegações de incapacidade e vícios de consentimento). (vii) Art. 274, do CC: “Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, a menos que se funde em exceção pessoal ao credor que o obteve”. Novidade do CPC/15! Tartuce: quem alega exceção pessoal é o devedor e não o credor, portanto esse artigo não faz sentido. Assim, isso foi modificado: “mas o julgamento favorável aproveita-lhes,sem prejuízo da exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles (credores)”. b) Solidariedade passiva: é aquela existente entre devedores, podendo ser legal ou convencional. É exemplo de solidariedade passiva legal aquela prevista entre locatários, conforme também aduz o art. 2º, da Lei nº 8.245/91; bem como entre comodatários, assim enunciado no art. 585, do Código Civil. O principal exemplo de solidariedade passiva convencional é o do fiador em relação ao devedor principal, quando assim convencionar seu desejo de assumir essa posição (art. 828, do Código Civil), pois, em regra o fiador não é devedor solidário, mas subsidiário (benefício de ordem previsto no art. 827, do Código Civil). OBS.: Ver em conjunto os artigos 424 e 828, do Código Civil, para concluir que, nos contratos de fiança feitos em adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do fiador ao direito de benefício de ordem, resultante da natureza do negócio (Enunciado 364, da IV Jornada de Direito Civil do STJ, 2006). Regras quanto à solidariedade passiva: 14 (i) Na solidariedade passiva, o credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum (opção de demanda, geralmente contra quem tem mais dinheiro). Se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. Não haverá renúncia da solidariedade no caso de propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores. Mesmo aquele devedor que paga uma parte da dívida pode ser cobrado pelo restante, pois, na solidariedade passiva, a relação externa é una (art. 275, caput e parágrafo único, do Código Civil). OBS.: Ver o Enunciado 348, da IV Jornada de Direito Civil do STJ. O pagamento parcial não implica, por si só, renúncia à solidariedade, a qual deve derivar dos termos expressos da quitação ou, inequivocamente, das circunstâncias do recebimento da prestação pelo credor. “O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais”. Porém, deve-se abater a quota do beneficiado pela renúncia à solidariedade do montante que pode ser cobrado dos demais devedores. Além disso, o beneficiário não fica exonerado da sua obrigação junto ao credor, o que ocorre é que está somente poderá ser cobrado nos limites da sua quota parte, “virando” devedor fracionário (art. 282, caput e parágrafo único, do Código Civil). OBS.: Ver o Enunciado 349N, da IV Jornada de Direito Civil do STJ. Com a renúncia da solidariedade quanto a apenas um dos devedores solidários, o credor só poderá cobrar do beneficiado a sua quota na dívida; permanecendo a solidariedade quanto aos demais devedores, abatida do débito a parte correspondente aos beneficiados pela renúncia. (ii) Não confundir renúncia à solidariedade com remissão (perdão), porque o beneficiado com a remissão fica totalmente liberado do vínculo obrigacional. Art. 388, do Código Civil: “A remissão concedida a um dos co- devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida”. (iii) Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros (refração do débito), cada um destes será obrigado a pagar a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário – ACABA a solidariedade, até os limites da herança (art. 1.792, do Código Civil). O art. 276, do Código Civil traz duas exceções a essa regra, quais sejam: se a obrigação for indivisível, poderá ser exigida por inteiro; e os herdeiros reunidos serão considerados um só devedor solidário em relação aos demais devedores. 15 (iv) O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida aproveitam aos outros devedores, até à concorrência da quantia paga ou perdoada (art. 277, do Código Civil); (v) “Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente à prestação; mas pelas perdas e danos só responde o culpado”. Esse efeito diferencia a solidariedade da indivisibilidade. É o exemplo de uma relação de locação de um imóvel entre um locador e dois locatários, estando em aberto uma dívida correspondente a um atraso de 10mil reais em alugueis, bem como uma dívida de 60mil reais em perdas e danos, causados por um incêndio provocado exclusivamente por um dos locatários no imóvel. No caso em tela, permanece a solidariedade com relação aos 10mil reais de alugueis em atraso. Contudo, a dívida de 60mil reais em perdas e danos somente poderá ser cobrada do locatário que a deu causa. Assim, de um dos locatários seria possível cobrar 10 mil reais e do outro 70 mil reais. (vi) O devedor que satisfez a dívida por inteiro pode exigir dos outros codevedores as suas quotas, havendo previsão de divisão igualitária (relativa). Na solidariedade passiva, a relação interna entre devedores é fracionável. Porém, se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este devedor por toda ela (a dívida) para com aquele que pagar (artigos 283 e 285, do Código Civil). c) Solidariedade mista ou recíproca: é aquela que existe ao mesmo tempo entre credores e devedores, podendo ser legal e convencional. É exemplo de solidariedade mista legal aquela prevista entre locadores e locatários, assim previsto no art. 2º, da nº Lei 8.245/91. É exemplo de solidariedade mista convencional aquela estipulada em acordo. 3. ESTUDO DAS OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS (ARTIGOS 257 A 263 DO CÓDIGO CIVIL) Essas obrigações somente interessam se houver mais de um credor e/ou mais de um devedor (obrigações compostas subjetivas). Esse é um aspecto de semelhança em relação às obrigações solidárias. Porém, as obrigações divisíveis e indivisíveis não se confundem com as obrigações solidárias, pois diferem quanto à origem. As obrigações divisíveis e indivisíveis possuem uma origem objetiva, presente na natureza da prestação. Já as obrigações solidárias têm uma origem subjetiva, proveniente da lei ou da vontade das partes. a) Obrigações divisíveis: são aquelas que podem ser cumpridas em partes, diante da natureza da prestação. O art. 257, do Código Civil, consagra a regra fundamental do “concursu partes fiunt” (presunção relativa de divisão igualitária de acordo com o número de credores/devedores). Deixa claro, portanto, que o que se presume é a divisão fracionada, e não a solidária, de modo que um crédito de 120 sacas de café contra 3 devedores implica uma dívida de 40 sacas de cada um destes com relação ao credor. 16 Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores. b) Obrigações indivisíveis: são aquelas que não podem ser cumpridas em partes, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico celebrado. Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza (indivisibilidade natural), por motivo de ordem econômica (indivisibilidade convencional), ou dada a razão determinante do negócio jurídico (indivisibilidade legal ou jurídica). Regras quanto às obrigações indivisíveis: (i) Havendo pluralidade de devedores, cada um será obrigado pela dívida toda. O devedor que cumpre a obrigação pode exigir dos outros as suas quotas correspondentes. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados (art. 259, do Código Civil). É o exemplo de uma dívida assumida por “A”, “B” e “C” de dar um touro reprodutor, estimadono valor de 30 mil reais, para “D”. Se “D” receber o touro de “A”, este terá o direito de cobrar 10mil reais de “B” e outros 10mil reais de “C”. (ii) Havendo pluralidade de credores, cada um destes poderá exigir a dívida inteira. O devedor ou devedores se desobrigarão pagando: a todos os credores conjuntamente; ou a um dos credores, dando este credor caução de ratificação dos outros credores (forma de garantia). O credor que recebe deve repassar a quota dos outros credores em dinheiro (Art. 260, do Código Civil). (iii) Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos. DIFERENTE da solidariedade. §1º Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais. §2º Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos. * #SELIGANOESQUEMA #PARAENTENDERMELHOR #ESQUEMATIZANDOTUDO: “B” “A” “C” Prestação: touro reprodutor “D” O valor do touro é de 30 mil. O touro morre. Há lucro cessante de 30 mil. A dívida totaliza 60 mil 17 Se “B”, “C” e “D” são culpados, eles respondem em partes iguais (20 mil cada um). Isso porque a obrigação indivisível passa a ser divisível, resolvendo-se em perdas e danos. Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só o culpado pelas perdas e danos. “B” “A” “C” Prestação: touro reprodutor “D” O valor do touro é de 30 mil. O touro morre. Lucro cessante: 30 mil. Dívida total: 60 mil. Segundo, Maria Helena Diniz, Venosa, Villaça e a maioria da doutrina civilista, se houver culpa só de “B”, ele responde por 40 mil reais (30 mil do lucro cessante e 10 mil do touro). “C” e “D” continuam obrigados à prestação principal, respondendo por 10 mil cada um (do touro). Cabe lembrar que a indivisibilidade se transformou em divisibilidade (perdas e danos). Todavia, segundo Tartuce, em corrente minoritária, “B” deveria responder por 60 mil reais (toda a dívida), extinguindo-se a dívida para os demais (posição minoritária). Com base na primeira corrente, foi editado o Enunciado 540 da VI Jornada afirma que “havendo perecimento da prestação indivisível por culpa de apenas um de devedores, todos respondem, de maneira divisível, pelo equivalente e só o culpado pelas perdas e danos”. III. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES As relações obrigacionais são dinâmicas. A transmissão exemplifica esse caráter dinâmico das obrigações. O CC/1916 tratava apenas da cessão de crédito. O CC/2002 passou a tratar, além da cessão de crédito, da cessão de débito. Porém, a cessão de posição contratual é tratada apenas pela doutrina e jurisprudência. 1. CESSÃO DE CRÉDITO A cessão de crédito aqui estudada deriva de um negócio jurídico. Não se estudará nessa oportunidade a cessão legal, nem a judicial. 18 Conceito: consiste em um negócio jurídico por meio do qual o credor (cedente) transmite total ou parcialmente o seu crédito a um terceiro cessionário, mantendo-se a relação obrigacional com o mesmo devedor (cedido). É possível a cessão onerosa ou gratuita de crédito. #SELIGA¹: Não se confunde com a novação ativa subjetiva, pois não é criada uma obrigação nova. #SELIGA²: Não se confunde com o pagamento com sub-rogação por uma razão simples. Pode haver cessão de crédito gratuita, sem pagamento nenhum. Ex.: “A” tem um crédito com “B” de R$ 10.000. “A” pode ceder gratuitamente o crédito a “C”. Com isso, nenhum pagamento se operou, o que difere, portanto, do pagamento com sub-rogação. Quando o novo credor paga para ter o crédito, sub-rogando-se neste, o instituto da cessão onerosa confunde-se com o pagamento com sub-rogação. Ex.: fiador. Porém, não se pode falar que a cessão de crédito se confunde com o pagamento com sub-rogação, posto que pode haver cessão de crédito gratuita. Em regra, qualquer crédito pode ser cedido. Todavia, existem exceções. Vejamos: Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação. A cessão do crédito pode ser proibida convencionalmente. A proibição deve vir expressamente no contrato. Essa cláusula proibitiva denomina-se “pacto de non cedendo”. A cessão do crédito pode ser proibida por sua natureza. Ex.: crédito alimentício. A cessão do crédito pode ser proibida em virtude da lei. Ex.: art. 1749, III, CC3. Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios. Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1o do art. 654. À luz da clausula geral da boa-fé objetiva, em respeito ao dever de informação, e, para que surta o efeito jurídico esperado, o devedor deve ser comunicado a respeito da cessão operada (art. 290, CC). Vale acrescentar, ainda, que a notificação ao devedor é importante para que saiba a quem pagar (art. 292, CC), e, além disso, uma vez comunicado a respeito da cessão, poderá opor as suas defesas ao novo credor (art. 294, CC). 3 Art. 1.749. Ainda com a autorização judicial, não pode o tutor, sob pena de nulidade: (...) III - constituir-se cessionário de crédito ou de direito, contra o menor. 19 Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita. Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação. Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente. 1.1. Responsabilidade jurídica na cessão de crédito Nos termos dos arts. 295 a 297, CC, a regra geral, na cessão de crédito, é que o cedente se responsabilize apenas pela existência do crédito que cedeu (cessão pro soluto); Todavia, caso se responsabilize também pela solvência do devedor (pelo pagamento), haverá por exceção, uma cessão pro solvendo. Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé. Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor. Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança. 2. CESSÃO DE DÉBITO (ASSUNÇÃO DE DÉBITO)4 A assunção de débito veio prevista apenas no CC/2002. A cessão de débito consiste em um negócio jurídico por meio do qual o devedor (cedente) com expresso consentimento do credor, transmite o débito a um terceiro (cessionário), mantida a mesma relação 4 Foi considerada correta pela banca CESPE, na prova do TJDFT/2016, a seguinte alternativa sobre essa temática: “Na assunção de dívida, a oposição da exceção de contrato não cumprido é permitida ao assuntor em face do devedor primitivo, mas vedada em face do credor.” 20 obrigacional(não se confunde com a novação subjetiva passiva). Porém, se o terceiro for insolvente e o credor ignorar, a relação obrigacional se restabelece em relação ao devedor primitivo. O silêncio do credor significa recusa. Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele (cessionário), ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa. Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor. 3. CESSÃO DE POSIÇÃO CONTRATUAL (CESSÃO DE CONTRATO) Segundo Emilio Betti, a cessão de contrato realiza a forma mais completa de transmissão na relação obrigacional. Diferentemente do que ocorre na cessão de crédito ou de débito, a cessão da posição contratual é muito mais ampla e profunda. Por meio dela, o cedente transmite a sua própria posição contratual a um terceiro com anuência da parte contrária. É uma cessão de “locus”. A regra básica na cessão de contrato é de que deve haver a anuência da outra parte contratante, como pressuposto de validade (Emílio Betti). No entanto, por exceção, pode a lei admitir uma cessão de contrato independentemente da anuência da outra parte (cessão de contrato legal ou imprópria), a exemplo do art. 31, da Lei nº 6.766/79 (Lei de Parcelamento de Solo Urbano). Quanto a sua natureza jurídica, houve quem tentasse explicar a cessão de contrato à luz da teoria atomística ou da decomposição, segundo a qual se negava a integralidade da cessão, que nada mais seria do que um conjunto de cessões de créditos e débitos. Todavia, melhor razão assiste aos adeptos da teoria unitária (Venosa, Antunes Varela), segundo a qual a cessão de contrato operaria uma transmissibilidade global e unitária, e não fragmentada. OBS.: Contrato de gaveta: Quando a outra parte transmite sua posição no contrato sem o conhecimento da outra parte ocorre o denominado “contrato de gaveta”. A rigor, nenhuma repercussão jurídica irá reverberar 21 em relação à outra parte. É uma transmissão irregular da posição contratual. Ex.: “A” realiza financiamento com a Caixa Econômica Federal, resolvendo, posteriormente ceder sua posição contratual para “B” sem o conhecimento da CEF. A regra geral na cessão de contrato é a de que deve haver a anuência da parte contrária, sob pena de a cessão ser irregular caracterizando um contrato de gaveta. Isso se aplica especialmente no âmbito do sistema financeiro da habitação: a instituição financeira deve anuir na cessão (AgRg no REsp 934989/RJ, REsp 1.102.757/CE, AgRg no AG 1180558/SC). No Brasil, existiam tantos contratos de gaveta que, por exceção, a Lei n.º 10.150/00, nos termos e condições de seu art. 20, admitiu a cessão de contrato firmado sem a anuência da parte contrária até 25 de outubro de 1996. Tais contratos foram legitimados, desde que celebrados até a referida data (AgRg no Ag 1423463 /DF). “A jurisprudência consolidada do STJ revela-se no sentido de que nos contratos de gaveta firmados em data posterior a 25 de outubro de 1996, a anuência da instituição financeira é condição para que o cessionário tenha legitimidade para pedir revisão do contrato”. IV. TEORIA DO PAGAMENTO Tecnicamente, o pagamento traduz o cumprimento voluntário de uma obrigação. Claro está, todavia, que essa expressão também tem uma acepção mais ampla, para caracterizar o cumprimento das obrigações em geral, e não apenas da obrigação de dar (Clóvis Bevilaqua). Respeitável parcela da doutrina, Roberto de Ruggiero (Instituições de Direito Civil), afirma que a natureza jurídica do pagamento é negocial, o que facilitaria, inclusive, justificar a incidência dos defeitos do negócio. Todavia, a matéria é polêmica, conforme Caio Mário, para quem, a depender do caso, o pagamento teria ou não natureza negocial. Não existe posição certa quanto à natureza jurídica do pagamento. De toda forma, tendo natureza negocial ou não, é um fato jurídico. As condições subjetivas do pagamento referem-se a “quem deve pagar (arts. 304 a 305)” e “a quem se deve pagar (arts. 308 a 309)”. Já as condições objetivas do pagamento são formadas pelo objeto do pagamento e sua prova, o tempo do pagamento e o lugar do pagamento. 1. CONDIÇÕES SUBJETIVAS DO PAGAMENTO 22 1.1. Quem deve pagar O solvens e o accipiens. Deve-se ter cuidado para não denominar os elementos subjetivos do pagamento como credor e devedor, vez que outras pessoas, que não o devedor, podem pagar; ao mesmo tempo em que outras pessoas, que não o credor, podem receber. A legitimidade para o pagamento, em primeiro plano, por óbvio, é do devedor ou do seu representante. No entanto, o sistema jurídico brasileiro (arts. 304 a 305) admite que um terceiro possa pagar. O devedor é o sujeito ativo do pagamento. O sistema jurídico brasileiro diferencia o terceiro interessado do terceiro não interessado. Terceiro interessado é aquele em face de quem o descumprimento obrigacional poderá juridicamente repercutir, a exemplo do fiador. Nesse caso, se o terceiro interessado pagar, ele se sub-roga em todas as ações, privilégios e garantias do credor originário, além de ter o natural direito ao reembolso pelo que pagou. Por outro lado, o terceiro não interessado é aquele que não detém interesse jurídico algum no cumprimento da obrigação. Em tal hipótese, duas situações podem ocorrer: 1) se o terceiro não interessado pagar a dívida em seu próprio nome terá pelo menos direito ao reembolso (não se sub-rogando em todos os privilégios e garantias); 2) se o terceiro não interessado, finalmente, pagar em nome do próprio devedor NÃO terá direito a nada. Poderá demandar contra o devedor. O devedor pode se opor ao pagamento feito pelo terceiro? O art. 306 do CC faz expressa menção à possibilidade de o devedor apresentar oposição ao pagamento feito por terceiro, desde que, naturalmente, haja fundamento jurídico para tanto. O devedor tem que demonstrar que tem meios para pagar, por exemplo. Se comunicou e o devedor nada disse, ele terá que ressarcir o terceiro. O Código anterior dispunha que, se houvesse um justo motivo para a oposição, o devedor não estaria obrigado ao reembolso, senão até a importância que lhe aproveitasse. Assim, se o devedor tivesse um débito de R$ 100,00, e por sua vez tivesse um crédito de R$ 50,00 em face do credor, o solvens só teria direito de reembolsar-se da diferença, que é, na realidade, a importância que se reveste em benefício do devedor. Embora o CC atual desobrigue o reembolso sem fazer tal ressalva, mantém-se substancialmente a solução do sistema anterior, em homenagem ao princípio da vedação do enriquecimento sem causa. 23 Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação. 1.2. A quem se deve pagar Naturalmente, a dívida deve ser paga ao credor ou ao representante –lega ou convencional – dele, admitindo-se também que o pagamento possa ser feito a um terceiro (arts. 308 e 309), caso em que determinadas cautelas devem ser observadas. O pagamento feito ao terceiro, para que seja considerado eficaz, deve ser pelo credor ratificado, ou, caso ratificação não haja, deverá ser demonstrado que o pagamento reverteu em proveito dele. Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito. Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, aindaprovado depois que não era credor. Especial hipótese de pagamento feito à terceiro é a prevista no art. 309 do Código Civil, atinente ao denominado credor putativo. À luz da cláusula geral de boa-fé objetiva, na perspectiva do princípio da confiança e com amparo na teoria da aparência, admite-se o pagamento feito de boa-fé ao terceiro que aparentava ser credor. Vale acrescentar, a título de complementação de pesquisa, que a teoria da aparência, além de repercutir no direito administrativo (teoria do funcionário de fato), tem importância até mesmo para o direito de família (art. 1.554). Art. 1.554. Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil. Em qualquer hipótese, deve ser feito à pessoa capaz de fornecer a devida quitação, sob pena de não valer. A quitação sempre poderá ser dada por instrumento particular. No que se refere ao pagamento feito ao credor putativo, a lei condiciona a eficácia da solutio a dois requisitos: ter o accipiens a aparência de verdadeiro credor (exemplos: herdeiro aparente; procurador cujo mandato foi revogado sem conhecimento de terceiros; o herdeiro que vem a ser afastado por indignidade, etc) e estar o solvens de boa-fé. 24 Ainda, no que se refere ao pagamento feito a menor, o Código fala em “pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar”, donde se conclui que “se o solvens desconhecia, sem culpa, a incapacidade do credor, o cumprimento será válido, ainda que o accipiens tenha dissipado ou malbaratado a prestação” (Antunes Varela). Estabelece o artigo 311 que “considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante”. A lei fixa, portanto, a presunção juris tantum de que o portador da quitação seja autorizado a receber o pagamento, salvo se as circunstâncias afastarem a presunção relativa desse mandato tácito (como por exemplo, constar na quitação assinatura aparentemente falsificada). Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor. 2. CONDIÇÕES OBJETIVAS DO PAGAMENTO 2.1. O objeto do pagamento e sua prova O art. 315 do Código Civil consagra uma regra tradicional em nosso sistema: o princípio do nominalismo5. Vale dizer, o devedor se libera, em regra, pagando a mesma quantidade nominal de moeda prevista no título obrigacional: se devo 10, devo pagar 10 (valor nominal ou literal da moeda). De acordo com o referido princípio, o devedor de uma quantia em dinheiro libera-se entregando a quantidade de moeda mencionada no contrato ou no título da dívida, e em curso no lugar do pagamento, ainda que desvalorizada pela inflação, ou seja, mesmo que a referida quantidade não seja suficiente para a compra dos mesmos bens que podiam ser adquiridos, quando contraída a obrigação. Nada impede, outrossim, a adoção de cláusulas de escala móvel, para que se realize a atualização monetária da soma devida, segundo critérios escolhidos pelas próprias partes. 5 CAIU NO TJRS JUIZ/2016: "O direito brasileiro, nas dívidas em dinheiro, adota o princípio do nominalismo, admitindo, contudo, que as partes convencionem cláusula de escala móvel". Segundo Tartuce, "de acordo com o art. 315 da codificação privada, as dívidas em dinheiro (obrigações pecuniárias) devem ser pagas em moeda nacional corrente e pelo valor nominal (princípio do nominalismo). Eis aqui a regra geral para os pagamentos em pecúnia, em dinheiro. O dispositivo trata da dívida em dinheiro. Há, ainda, a dívida de valor, aquela que, embora paga em dinheiro, procura atender ao verdadeiro valor do objeto da prestação, incorporando as variações que possa sofrer para mais ou para menos. Para se evitar os efeitos da inflação, foi prática muito comum empregada pelos credores a aplicação de índices de correção monetária que podiam ser aplicados sem limite temporal. Dessa forma, confirmando a legislação anterior, enuncia o art. 316 do atual CC que é lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas, a que se dá o nome de cláusula de escala móvel ou cláusula de escalonamento."(TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Método, 2013. p. 352.) 25 Entretanto, ao lado das dívidas de dinheiro, a doutrina, influenciada pela instabilidade de nossa economia, elaborou o conceito das chamadas dívidas de valor. Estas não teriam por objeto o dinheiro em si, mas o próprio valor econômico (aquisitivo) expresso pela moeda. Obviamente, esse princípio é relativizado pelos índices de correção monetária que visam a atualizar o poder aquisitivo da moeda (exemplo: IGPM). A variação cambial pode ser utilizada como critério de reajuste e atualização monetária? Em regra, não se admite a utilização da moeda estrangeira para essa finalidade. Todavia, excepcionalmente, admite-se, nos termos do artigo 6º da Lei nº 8.880/94, a exemplo do que se dá em determinados contratos de arrendamento mercantil (Edcl no AgRg no Resp 417.8781/RS, AgRg no Ag 845.988/SP). Questão delicada diz respeito à utilização do salário mínimo como critério de reajuste ou atualização de débito. Em regra, a própria Constituição Federal veda a vinculação do salário mínimo para outras finalidades (art. 7º, IV). Todavia, o próprio STF interpreta com equilíbrio a norma constitucional para admitir a utilização do salário mínimo como base de cálculo de pensões alimentícias (RE 1702103). Assim como, existe expressa referência no próprio CPC/73(art. 475-Q, §4º), bem como no CPC/2015 (art. 533, §4º). Apenas a título de complementação de pesquisa, a Tabela PRICE é ilegal6? Também chamada de sistema francês de amortização, a Tabela Price, muito utilizada em contratos de financiamento habitacional, gera uma evolução não linear da dívida, compatível com a cobrança de juros (noticiário STJ 21.09.2009), ou seja, incorpora juros ao cálculo de um financiamento, posto mantenha a prestação homogênea. A doutrina brasileira é polêmica quanto à legalidade ou não da Tabela Price. O STJ, por sua vez, tem preferido não enfrentar a questão do mérito, alegando que a análise da legalidade ou não da tabela encontra óbice nas Súmulas 5 e 7 da própria Corte, ou seja, é questão fática, de matemática financeira, que não deve ser enfrentada por aquela Corte superior (AgRg no AResp 311096-SP). A título ilustrativo, ainda a respeito da atualização e cálculo de débitos pecuniários, vale a pena a leitura do REsp 494.377-SP. O art. 316 do CC, embora pretendesse, aparentemente, fazer menção aos índices de correção monetária, não tem dicção das mais felizes, na medida em que prestações com aumentos progressivos podem, em tese, ser discutidas na perspectiva do próprio princípio da função social. Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. 6 Luiz Scavone Jr. e Pedro Gomes (www.jus.com.br) 26 *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: A dívida de jogo contraída em casa de bingo é inexigível, ainda que seu funcionamento tenha sido autorizado pelo Poder Judiciário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.406.487-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/8/2015 (Info 566). A lei exige mais do que uma aparência de licitude, exige autorização legal, o que não se verifica na hipótese em tela. Ademais, as decisões liminares, como se sabe, têm caráter precário, correndo por conta e risco do requerente os danos decorrentes da reversibilidade da medida, não havendo falar,portanto, em direito adquirido. Princípio da identidade física da prestação Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou. Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subsequentes. Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas. Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. Segundo o CJF, “a interpretação da expressão ‘motivos imprevisíveis’, constante do art. 317 do novo Código Civil, deve abarcar tanto causas de desproporção não previsíveis como também causas previsíveis, mas de resultados imprevisíveis” (Enunciado 17). Adotou-se, com referido dispositivo, a teoria da imprevisão. Art. 318. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial. A prova do pagamento, tecnicamente, opera-se por meio de um ato jurídico denominado quitação. O recibo é o instrumento da quitação. O pagamento é provado por meio da quitação e o devedor tem direito de recebê-la. A quitação sempre pode ser dada por instrumento particular. O Código Civil, em seus artigos 322 a 324, prevê presunções relativas de pagamento em favor do devedor. a) Nas prestações de trato sucessivo, o pagamento da última prestação presume o pagamento das demais; b) Quitação do capital, sem reserva de juros; 27 c) Entrega do título, que já estava previsto no CC/16, e consiste na presunção inferida pela posse do devedor do título. Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada. Enunciado 18 do CJF: “a ‘quitação regular’, referida no art. 319 do novo Código Civil, engloba a quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas de ‘comunicação à distância’, assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou de seus representantes”. Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida. Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido. Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores. Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos. Art. 324. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento. Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento. No que se refere à última hipótese de presunção, surge uma dúvida se confrontada com o disposto no artigo 386 do CC, o qual prevê que “a devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus coobrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir”. Haveria, então, na hipótese de entrega de títulos, pagamento direto ou remissão de dívidas? Na verdade, a doutrina majoritária entende que a presunção de pagamento só ocorre em se tratando de títulos de crédito, ocorrendo a remissão de dívida nas hipóteses de entrega de documento que consubstancia a dívida, mas que não seja título de crédito (escrito particular – instrumento particular de confissão de dívida, por exemplo). 28 O prazo decadencial de sessenta dias tem sido interpretado como incidente nas hipóteses nas quais o credor entrega voluntariamente ao devedor o título, mas se o credor for desapossado do título, não há como ser aplicado o prazo em questão. Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida. Art. 326. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da execução. 2.2. Tempo do pagamento Em regra, toda obrigação deve ser cumprida na data do seu vencimento. Contudo, obrigações que não tenham vencimento estipulado, podem ser exigidas de imediato, nos termos dos artigos 331 e 332 do CC. Entretanto, não se pode olvidar que em alguns casos, mesmo que não haja previsão de prazo para cumprimento, a obrigação demora para ser cumprida (exemplo: construção de casa). Assim, a regra de vencimento à vista pode ser afastada (PRAZO MORAL – prazo para cumprir a obrigação). Caso as partes não acordem quanto a este prazo, o juiz deverá fazê-lo. Não pode o credor reclamar pagamento no último dia do prazo, pois o devedor dispõe desse dia por inteiro. OBS.: no caso de mútuo de dinheiro, não havendo vencimento estipulado, o prazo mínimo para pagamento é de 30 dias (art. 592, II, CC). Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente. Art. 332. As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o devedor. Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código: I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; 29 III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las. (NOTIFICAÇÃO) Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes. Art. 592. Não se tendo convencionado expressamente, o prazo do mútuo será: I - até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, assim para o consumo, como para semeadura; II - de trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro; 2.3. Lugar do pagamento Regra geral, no sistema jurídico brasileiro, na forma do art. 327, CC, as dívidas devem ser pagas no domicilio do devedor (dívida quesível ou quérable). Excepcionalmente, o pagamento poderá ser feito no domicilio do credor, caso em que, fala-se em dívida portável ou portable. Eventualmente, também recebe essa denominação a obrigação cujo pagamento deva ocorrer no domicílio de terceiro. O lugar do pagamento é o lugar competente para a ação de consignação. O art. 330 é frequentemente citado no estudo da regra proibitiva do venire contra factum proprium, visto que o pagamento feito ao credor em local diverso do previsto em contrato faz presumir sua renúncia. Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles. Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado obem. Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor. Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. Os dois últimos artigos transcritos constituem inovações importantes introduzidas pelo CC/02, relativizando as regras anteriores e o que consta no instrumento negocial. O primeiro deles (artigo 329) consagra os princípios da função social do contrato e da operatividade/efetividade – todos os custos da mudança serão suportados pelo devedor. Já no segundo, a relação é com o princípio da boa-fé objetiva, 30 tratando o dispositivo de dois institutos que mantêm relação direta com o mencionado cânone: a supressio (renúncia tácita de um direito pelo seu não exercício com o passar dos tempos) e a surrectio ou surreição (surgimento), já que ao mesmo tempo em que o credor perde um direito pela supressão, surge um direito para o devedor, o qual não existia juridicamente até então, mas que decorre da efetividade social, de acordo com os costumes. Teoria do adimplemento substancial (substantial performance): a origem da teoria está no direito anglo saxônico do Século XVIII. A doutrina do adimplemento substancial sustenta que a atividade do devedor, embora não haja sido perfeita, aproximou-se substancialmente do resultado final esperado (ver enunciado 361 da IV Jornada de Direito Civil e o Noticiário STJ 09.09.2012). Aliás, este Superior Tribunal, à luz dos princípios da função social e da boa-fé objetiva, tem aplicado a teoria (REsp 1051270-RS). Acontece quando o descumprimento é ínfimo ou de menor monta, não cabendo a extinção contratual. Em outras palavras, a mora do devedor, sendo de escassa importância, não autoriza a resolução do contrato, por atentar contra o princípio da boa-fé objetiva. Enunciado 361 da IV Jornada de Direito Civil: Arts. 421, 422 e 475. O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa- fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475. *#OUSESABER #VAMOSAPROFUNDARMAISUMPOUCO: TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL Originaria do Direito Costumeiro Inglês, a Teoria do Adimplemento Substancial encontra amparo legal expresso no Código Civil Italiano, art. 1.455, onde consta que o contrato não será resolvido se o inadimplemento de uma das partes tiver escassa importância, levando-se em conta o interesse da outra parte. A Teoria do Adimplemento Substancial tem aplicação nos casos em que o contrato tiver sido cumprido quase que na sua totalidade, sendo a mora relativa à parcela de menos importância no conjunto de obrigações do devedor. Nesses casos, não caberá a extinção contratual, mas apenas os demais efeitos jurídicos, como o pedido de indenização por perdas e danos, a cobrança judicial, por exemplo. Também vale destacar o Enunciado nº. 361 CJF/STJ: “O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475”. Já o citado art. 475 do Código Civil trata do inadimplemento voluntário ou culposo do contrato, preceituando que a parte lesada pelo descumprimento pode exigir o cumprimento forçado da avença ou a sua resolução por perdas e danos. 31 A teoria do adimplemento substancial se aplica a alienação fiduciária? Não. Mas, primeiramente, impõe-se dizer que, embora não haja previsão material positiva no CC/02, o STJ vem aplicando a teoria do adimplemento substancial, a partir de uma interpretação sistemática que considera os princípios da boa-fé objetiva, da função social do contrato, da vedação ao abuso de direito e ao enriquecimento sem causa. Por esta teoria, o credor fica impedido de proceder à rescisão do contrato nos casos de cumprimento de parte expressiva do contrato por parte do devedor. Porém, é importante ressaltar que aquele não perde o direito de obter o restante do crédito, já que é perfeitamente viável o manejo da ação de cobrança ou mesmo a convenção sobre outras formas de que a obrigação seja cumprida, como o aumento dos prazos. Em recente julgado, fevereiro deste ano, nos autos do REsp. nº 1622555 / MG, da segunda seção, sob a relatoria do Min. Marco Buzzi, o STJ, por maioria, entendeu que, pelo fato de a teoria do adimplemento substancial não estar prevista expressamente em lei, derivando de interpretação extensiva de dispositivos do Código Civil, ela não pode prevalecer sobre o texto expresso do Decreto-Lei 911/1969, que viabiliza a busca e apreensão do bem para satisfazer o direito do credor. Ficou decidido que mesmo havendo o pagamento de mais de 90% do débito, caso não haja a quitação, apesar do adimplemento substancial, o “sistema da alienação fiduciária é microssistema específico e por isso não daria ensejo à contaminação por essa teoria”. *Assim vejamos na jurisprudência: Não se aplica a teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação fiduciária em garantia regidos pelo Decreto-Lei 911/69. STJ. 2ª Seção. REsp 1.622.555-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/2/2017 (Info 599). 3. REGRAS ESPECIAIS DE PAGAMENTO E FORMAS DE PAGAMENTO INDIRETO As regras especiais são atos unilaterais: pagamento em consignação, imputação do pagamento e sub- rogação legal. As formas de pagamento indireto são atos bilaterais (negócios jurídicos): sub-rogação convencional, dação em pagamento, novação, compensação, remissão e confusão. OBS.: transação e compromisso (arbitragem) são contratos típicos que geram a extinção obrigacional. Art. 840, CC: “é lícito aos interessados prevenirem ou terminarem litígio mediante concessões mútuas”. 3.1. Consignação em pagamento: matéria de processo civil – UNILATERAL Trata-se a consignação em pagamento do instituto jurídico colocado à disposição do devedor para que, ante o obstáculo ao recebimento criado pelo credor ou quaisquer outras circunstâncias impeditivas do 32 pagamento, exerça, por depósito da coisa devida, o direito de adimplir a prestação, liberando-se do liame obrigacional. Tal modalidade de extinção das obrigações deve ser estudada tanto no campo do Direito Material, quanto Processual, uma vez que é objeto de um procedimento especial próprio. Natureza jurídica do pagamento em consignação. Trata-se de uma forma de extinção das obrigações, constituindo-se em um pagamento indireto da prestação avençada. Marcato sufraga que: “o pagamento por consignação é instrumento de direito material destinado à solução de obrigações que tem por objeto prestações vencidas e ainda pendentes de satisfação, pouco importando se essa pendência decorre de causa atribuível ao credor ou resulta de outra circunstância obstativa do pagamento por parte do devedor; e este vale-se de tal instrumento para liberar-se do vínculo que o submete ao accipiens e livrar-se, em conseqüência, dos ônus e dos riscos decorrentes dessa submissão”. Ademais, impende considerar que a consignação não é, em verdade, um dever, mas sim mera faculdade do devedor, que não pôde adimplir a obrigação, por culpa do credor. Hipóteses de ocorrência. O art. 335 apresenta uma relação de hipóteses em que a consignação pode ter lugar, a saber: I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; Nessa hipótese, é necessário que tenha havido oferta real, efetiva, incumbindo ao autor prová-la, bem como a recusa injustificada do credor. A este incumbe, ao contrário, o ônus de provar a existência de justa causa para a recusa (enunciado 18 da I Jornada de Direito Civil: “a ‘quitação regular’ referida no art. 319 do novo Código Civil engloba a quitação
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