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A cultura colaborativa inspirando novos valores e possibilidades de mudança. Lourdes Alves de Souza Introdução O modelo de desenvolvimento adotado no século XX promoveu o agravamento das desigualdades, ampliando a pobreza e a exclusão em todo o mundo. Mais de um bilhão de seres humanos vivem na pobreza abjeta, mais de 120 milhões estão desempregados e muitos mais subempregados. – Estamos diante de uma crise moral e ética acompanhada da violência e criminalidade, agravada pela ruptura dos laços de vizinhança e o aumento dos conflitos interétnicos. – Este panorama é mundial e isso nos inclui em todos os aspectos. Uma nova visão de Desenvolvimento Social vai além de investimento em crescimento Econômico. Atua na perspectiva do desenvolvimento humano, que transcende a idéia de garantia das necessidades básicas, consiste no alcance, no domínio de cada um, do seu próprio desenvolvimento e na capacidade de contribuir para o progresso da sociedade em que vive de forma contínua e responsável. A reflexão de Educação para o Século XXI, da comissão de educação da UNESCO, está referenciada por essa visão de desenvolvimento social. “A Educação deve ser encarada no quadro de uma nova problemática, em que não apareça apenas como um meio de desenvolvimento, entre outros, mas como um dos elementos constitutivos e uma das finalidades essenciais desse desenvolvimento”. No Brasil, após 21 anos de ditadura, o ano de 1985 marca o inicio da redemocratização, expressa pelo direito de voto, elaboração da nova constituição nacional e maior participação na vida política do país. – É momento de grande mobilização da sociedade civil na busca de soluções para os problemas sociais. Lideranças comunitárias criam associações em fins lucrativos para lograr êxito em suas causas. É nesse contexto que se configura o denominado terceiro setor. A década de 90 é o marco de consolidação de organização do “Terceiro Setor” e de interface entre a iniciativa privada, poder público e sociedade civil a fim de compor e propor soluções para os graves problemas sociais. Na busca de sinergia e fortalecimento, as organizações da sociedade civil são responsáveis pelas primeiras iniciativas de organização em rede no país e ainda hoje representam a maioria quantitativamente falando e do ponto de vista de identificação ideológica. A organização em rede é uma estratégia de fortalecimento político e social e que na sua complexidade, dada a diversidade, os princípios de equidade e democracia, educa para o desenvolvimento social sustentável e gera a cultura colaborativa. Segundo Morin, a cultura é constituída pelo conjunto dos saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças, idéias, valores, mitos, que se transmite de geração em geração, se reproduz em cada indivíduo, controla a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social. Desse modo, a nossa forma de pensar, sentir, fazer e agir, que são as nossas lentes, nosso modo de ver e ser, está ou esteve referenciada pela Estrutura de Organização Piramidal, que gera e mantém fortalecida a cultura competitiva. Portanto, mudança para uma perspectiva colaborativa é a inversão da lógica da organização piramidal, cuja estrutura está baseada na hierarquia, na obediência e na centralização do poder, para outra, orientada pela horizontalidade, valores de solidariedade e da cooperação. – É forjar a partir da experiência, da vivência coletiva uma outra e nova forma de organização e de relacionamento entre os interessados na mudança, o que justifica sublinhar, a necessidade de mudança na forma de sentir, pensar, falar e agir. A organização em Rede geradora da cultura colaborativa se apresenta como uma tecnologia social viável, tanto do ponto de vista sócio – político, função educativa, processo de humanização e expansão da consciência sobre o papel da Educação e do Educador no Desenvolvimento Social. Modelo de Estrutura Piramidal Significa, em texto elaborado por Chico Whitaker: O poder concentrado no topo da pirâmide; A informação é usada como forma de poder; A decisão está concentrada no topo da pirâmide; A participação por vezes não é compromisso da pessoa ou da Organização; Relação de subordinação, os de baixo aceitam o que vem de cima; A responsabilidade é do chefe e etc. Havemos de reconhecer, mesmo com vistas à possibilidade de mudança, que nossa experiência de relacionamento em todos os sentidos, tem raízes na matriz piramidal, e fica evidenciado nas relações de trabalho, na vida familiar e na nossa formação e atuação profissional. – Conseqüentemente, também se reflete na educação. Sem grandes esforços infelizmente, a maioria de nós tem exemplos de experiências no trabalho, em suas equipes e relação com seus superiores, que reproduz de forma clássica a estrutura piramidal. – A queixa generalizada, seja de profissionais da educação ou da saúde, para não particularizar o problema, é a dificuldade de trabalhar em equipe, a falta de informação e as decisões serem de cima para baixo. O efeito é visível no “clima”, no nível de insatisfação, é freqüente o individualismo, o isolamento, a superficialidade nos relacionamentos, a resistência na participação e envolvimento em propostas que venha da cúpula. Resumidamente podemos chamar de apatia e insatisfação. A cultura organizacional é oriunda do modelo de organização social, portanto, a mudança de uma reflete e muda a outra. – A qualidade das relações e dos vínculos possíveis, tem origem no modelo mental que considera as partes e não a relação entre elas, que funciona sob a ótica binária, ou é isso ou é aquilo, ou é amigo ou inimigo. – Esse modelo fragmentado e de rotinas defensivas, julgamentos e generalizações, inviabiliza a aprendizagem em equipe e outras formas de convivência necessárias ao processo de mudança. Durante muito tempo à educação teve como papel primordial à instrução, o repasse de conteúdo, a transmissão de saberes acabados e inquestionáveis e também a preocupação de formar pessoas para o mercado. – É muito recente, mas animador o movimento de educadores que modelam e transformam a educação colocando no centro das preocupações a pessoa, o sujeito, o cidadão autônomo, que nutre seus próprios sonhos, que tem desejos de mudança, necessidades singulares e função social. Contexto histórico de criação do Programa Rede Social Na qualidade de Educadora Social, escrever sobre a Rede Social e a Cultura Colaborativa em certa medida é também registrar a minha trajetória de vida profissional no Senac São Paulo nos últimos nove anos, articulando e fomentando Redes Sociais. Compartilhar esse conhecimento é, portanto, compromisso e ao mesmo tempo oportunidade de disseminar conceitos e valores apreendidos da Cultura Colaborativa gerada a partir das Redes, com a esperança de que possa servir de inspiração para outros educadores sociais, que assim como eu anseiam por um mundo melhor. O Programa de Rede Social do Senac-SP existente a mais de nove anos é fruto de um processo reflexivo, consciente e comprometido da equipe que atualmente compõe a Gerência de Desenvolvimento Social. – Até então, o relacionamento de mais de duas décadas com as comunidades tentou garantir a realização de cursos gratuitos de qualidade para a população de menor poder aquisitivo a partir do relacionamento com Organizações de Base Comunitária. – Essa fórmula teve a função de contribuir com a diminuição do desemprego, de qualificar mão de obra e fundamentalmente potencializar a capacidade de trabalho e renda dos atendidos. O relacionamento com as organizações sociais nas comunidades, foi pouco a pouco, sendo modificado. Num primeiro momento, ao invés de oferecer cursos do nosso portfóliopara uma determinada comunidade, passamos á reunir as várias lideranças locais com o propósito de conhecer as necessidades e as potencialidades locais, e oportunamente disponibilizar o curso que atendesse a real necessidade. Por outro lado, a proximidade nos possibilitou perceber a necessidade de profissionalização dessas Organizações Sociais, que buscava no Senac uma forma de atender melhor a sua comunidade. Aconteceu num bairro próximo a Diadema, uma grande quebra de paradigma, o que seria mais uma reunião com organizações sociais, com apresentações, discussões e deliberações do que o Senac poderia oferecer, deu-se o inesperado: eram todos residentes do mesmo bairro, que atendiam a mesma comunidade e com dificuldades muito semelhantes e que estranhamente não se conheciam. À medida que foram convidadas a se apresentarem e falar sobre o que faziam isso foi ficando evidente e as pessoas começaram a se dar conta das “possibilidades” de complementaridade e parcerias lá, no próprio local. Daquele momento em diante, e de forma intencional as reuniões tinham o propósito de promover a interação entre os participantes e buscar conectividade entre os projetos, os talentos, as competências e identificação de objetivos comuns. – A partir desses passos criamos a metodologia que orienta a formação e a articulação das Redes Sociais no Senac. Metodologia para Formação e Articulação de Redes Sociais A partir do Passo 1, os demais passos não seguem, necessariamente, uma ordem linear, constituindo-se, porém, num entrelaçamento contínuo e dinâmico que resulta na constituição da rede. Ressaltamos que os Passos "Novo Compromisso" e "Ação" são fundamentais para a constituição de uma Rede Social no modo como a concebemos. 1 - Reunião/ Espaço comum (presencial ou virtual) Formação dos elos entre os componentes 2 - Identificação/ Conhecimento mútuo Estabelecimento de diagnósticos 3 - Proposição/ Estabelecimento das visões de mundo Propostas 4 - Composição/ Estabelecimento de parcerias Definição da missão 5 - Novo Compromisso/ Definição do projeto ou ação Formação do compromisso conjunto Estabelecimento de objetivos e metas Ação/ Realização do planejamento Avaliação dos resultados Atualmente são 33 Redes Sociais organizadas no Estado de São Paulo, participam desse processo 747 Organizações, 99 projetos estão em andamento e mais de 100 já foram implementados. As Redes fomentadas pelo Senac têm como mediador um membro da equipe de desenvolvimento social, o qual assume um papel de importância organizacional e de referência ética e de valores que sustentam a ação. Em outras iniciativas, o mediador/educador social, pode ser escolhido pelo grupo participante, de todo modo ele deve ser reconhecido pelos componentes e preparado para facilitar a construção de algo que é novo e muito maior que todos individualmente. Site www.sp.senac.br/redesocial A estrutura horizontal como forma de organização. A Rede é composta por Organizações de Base Comunitária, Organizações privadas e Públicas, sendo a primeira em maior número. Essa composição inaugura a possibilidade de um diálogo entre diferentes e que na perspectiva do ganha – ganha. Para melhor exemplificar, todos os envolvidos disponibilizam o que tem de melhor e todos devem se beneficiam de acordo com suas necessidades. Nessa perspectiva são construídas as relações de confiança entre governo local, sociedade civil e Iniciativa privada, que a partir de suas experiências de trabalho conjunto criam novos valores e princípios de relacionamento. Há uma movimentação, uma fluidez nessa participação, entram e saem pessoas em função do entendimento, da expectativa, também por não acreditarem na proposta e outras circunstâncias. – Em geral são mais freqüentes e assumem responsabilidades as organizações cuja prática tende a horizontalidade. A participação na Rede é livre e voluntária, se dá por escolha própria, isso significa dizer participação consciente. – Quem decide pela participação em geral se identifica com a proposta, tem envolvimento e assume compromissos e responsabilidades. Participantes conscientes são curiosos, abertos para as possibilidades de mudança, dispostos a interagir e pensar “fora da caixa”. Em outras palavras, pensar a partir de novos referenciais, olhar as mesmas questões por diferentes ângulos, usa a indagação para conhecer outros pontos de vista e nesse sentido, é grande o espaço para inovar. Isso cria uma vantagem potencial sobre o modelo a ser superado. A estrutura horizontal como forma de organização, é o principio que coloca a todos em pé de igualdade, nenhuma idéia, opinião ou vontade deve prevalecer em função do interesse individual, ou alimentar privilégios tomando como referência o nível intelectual, gênero, posição política, raça ou credo. – Mais uma vez o diálogo e a discussão se apresentam para dar forma e sustentação a horizontalidade que vai sendo experimentada e reconhecida como um valor importante, pouco a pouco. É na realização de tarefas, na capacidade de cooperar de um grupo ou comunidade que se cria uma identidade comum e fortalece-se a confiança e o compromisso com a coletividade. – Pintar uma escola, organizar uma coleta seletiva no bairro, após um estudo da realidade é uma das mais belas experiências de cidadania e empoderamento de um grupo ou comunidade. A essa altura, valores de solidariedade e cooperação já foram incorporados pelo coletivo e fica valendo a perspectiva Ganha - Ganha. Por vezes esperamos mesmo em situações mais democráticas que alguém faça, escolha, assuma e responsabilize-se em nosso lugar, por isso, é necessário estarmos acordados individualmente e com os demais companheiros. A cultura colaborativa depende do sucesso da horizontalidade para se estabelecer e promover mudanças. Portanto, mudanças na perspectiva da cultura colaborativa é a inversão da lógica da cultura competitiva apreendida como paradigma. É forjar a partir da experiência, da vivência coletiva uma outra e nova forma de organização e de relacionamento entre os interessados na mudança, o que justifica sublinhar, uma vez mais, a necessidade de mudanças na forma de sentir, pensar, falar e agir. Segundo Whitaker significa na prática: Desconcentração do poder. Circulação livre da Informação. Não tem um dono, não tem chefe. Poder exercido por todos e por cada um. A decisão é negociada, entendimento pelo Diálogo. A participação é livre e voluntária Relação igualitária exige mais paciência, mais tempo, mais prazo, mais respeito. A responsabilidade e as tarefas são compartilhadas por todos. Considerando que esse é um processo que se constrói no médio e longo prazo, e como necessariamente depende do envolvimento das pessoas e da relação horizontal entre elas, educar, educar, e educarmo-nos continuamente faz parte integrante do que entendo como edificação do “Ser autônomo” e do “Desenvolvimento Social”. Para tanto, muito investimento será despendido e parte dele será em formação do educador que media, que facilita e anima os processos. - São muitos os conhecimentos, habilidades e atitudes colocadas em curso para a realização desse propósito. Em minha experiência como mediadora/educadora e fazendo parte de uma grande equipe de mediadores/educadores, identifico duas dimensões desse fazer que me servem como direção; a) acreditar e viver os princípios e valores da horizontalidade e b) humanizar os relacionamentos. Talvez possa parecer óbvio que o educador tenha que estar alinhado aos princípios da horizontalidade para exercer a sua função, mas como fazê-lo, como prepará-lo, talvez não. Quais competências precisam ser desenvolvidas? Que áreas de conhecimento contribuem? O que éimportante conhecer, saber, ser? Há muito que saber, conhecer sobre Cultura de Paz, Educação para o Século XXI, Terceiro Setor, Meio Ambiente, Comportamento Humano, Desenvolvimento Social, Economia Solidária e História, Sociologia, e Política. – São essas às áreas de conhecimento que mais tem me oferecido informações úteis para refletir sobre essa atuação. Como ferramenta ou instrumento de trabalho de facilitação, é importante o domínio de técnicas de Mediação de Conflitos, Técnicas de Diálogo, de Investigação Apreciativa, Técnicas de Dinâmica de Grupo e Jogos Cooperativos, tudo isso ou parte disso considere como sugestões, pois será acrescentado a isso, as suas experiências, vivências e saberes acumulados ao longo do seu processo de desenvolvimento profissional. Quanto ao aspecto da humanização dos relacionamentos, me refiro a todas as palavras, gestos, ações que possam contribuir para aproximar, acolher, reconhecer, animar, incluir, tolerar, emocionar as pessoas, tornando esse convívio um – novo – modo – de – ser – e – ver. O Papel da Educação no contexto de Desenvolvimento Social A Educação para o século XXI tem um papel essencial no desenvolvimento contínuo na condução de um desenvolvimento humano, capaz de dar sentido e criar conectividade entre conhecimento, habilidades e atitude. Tecer redes de solidariedade entre as pessoas, fortalecendo o sentido de coletividade e de interdependência, tudo está ligado a tudo e existe em relação ao outro. – Portanto, ela tem em si responsabilidade na edificação de um “Ser Autônomo e um Mundo Solidário”. Educação, um Tesouro a Descobrir é um compilado do relatório para a UNESCO da comissão sobre Educação para o século XXI, se tornou uma importante referência mundial para a educação e para educadores. O resumo abaixo pode ser encontrado no site do comitê para a Década de Cultura de Paz – www.comitepaz.org.br foi elaborado pela comissão de educação. No documento original, são quase 300 páginas de reflexões, estudo e propostas para a educação ao longo de toda a vida. Nesse contexto entendo que deva ser apresentado como tal. As missões da educação fazem com que englobe todos os processos que levem as pessoas, desde a infância até ao fim da vida, a um conhecimento dinâmico do mundo, dos outros e de si mesmas, combinando de maneira flexível quatro aprendizagens fundamentais: Aprender a Conhecer Supõe, antes de tudo, aprender a aprender, exercitando a atenção, a memória e o pensamento. O processo de descoberta implica duração e aprofundamento da apreensão. Aprender a Fazer Combina a qualificação técnica e profissional, o comportamento social, a aptidão para o trabalho em equipe, a capacidade de iniciativa, o gosto pelo risco. Qualidades como a capacidade de comunicar, de trabalhar com os outros, de gerir e de resolver conflitos, tornam-se cada vez mais importantes. A aptidão para as relações interpessoais, cultivando qualidades humanas que as formações tradicionais não transmitem necessariamente e que correspondem à capacidade de estabelecer relações estáveis e eficazes entre as pessoas. Aprender a Viver Juntos Aprender a viver com os outros desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências - realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos - no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz. Aprender a Ser Para o desenvolvimento da personalidade individual e da capacidade de autonomia, discernimento e responsabilidade pessoal. Esses são parâmetros que inspiram e contribuem na formação do mediador/educador social e com os princípios que sustentam a Rede Social e a cultura colaborativa. Criando a Cultura Colaborativa No meu modo de ver, o ideal de transformação social, está fundamentalmente condicionado á mudança das pessoas na forma de sentir, pensar, sonhar, falar e viver a sua cidadania, o senso de coletividade, de responsabilidade e participação social. A cultura colaborativa é um valor, uma crença, uma aposta na capacidade das pessoas e das organizações de promoverem á transformação social a partir da cooperação, da solidariedade, da identificação conjunta de problemas e soluções, fundamentada na relação de ganha - ganha. Essa é a relação desejável e que deve permear as relações de parceria, que são baseadas na relação de confiança. Os protagonistas da mudança criam novas condições de aprendizagem e desenvolvem seus talentos, novas competências a partir da troca de experiências, no compartilhamento de conhecimentos acumulado pelo conjunto. Em geral aceitam o erro como parte da aprendizagem, potencializam os ganhos advindos da diversidade e criam estrutura para acolher o novo. Peter Senge faz uma contribuição muito interessante no seu livro “A Quinta Disciplina” para melhor entender as organizações que aprendem e que podemos transpor para o nosso foco de interesse. É possível identificar cada um deles em diferentes momentos de evolução da Rede Social e na expressão da cultura. Domínio Pessoal – pessoas com um alto nível de domínio pessoal aprenderam a perceber e trabalhar com as forças da mudança, em vez de resistir a elas. São profundamente curiosas continuamente comprometidas a ver a realidade de uma forma cada vez mais precisa. Na fábula, “Aprendendo além dos Lobos” o rebanho de ovelhas, não tem dúvidas de que estão predestinados a serem “comida de lobo”. Até que uma ovelha confessa a sua indignação e entra em ação, coloca dúvida nessa verdade, convida para pensar diferente e age para solucionar o problema. – O filme “Doze Homens e uma Sentença”, também tem uma situação em que um homem de alto nível de domínio pessoal faz a diferença pela participação e inquietação com os fatos. – Outro exemplo conhecido está no filme “Bagda Café”, que uma personagem com alto nível de domínio pessoal chega e faz a mágica da mudança acontecer. Esses protagonistas estão por toda a parte e participando voluntariamente e de forma consciente das redes de solidariedade. Modelos Mentais – são imagens internas profundamente arraigadas sobre o funcionamento do mundo que nos limitam a formas bem conhecidas de pensar e agir. São ativos que moldam nossa percepção, nossa forma de agir, fazer e ver. E que modelo mental é esse? Trata-se do modelo mental da separação, da exclusão com o qual estamos condicionados. - OU/OU: ou isso ou aquilo; ou amigo ou inimigo; ou bem ou mal; ou eu ou o outro; ou você está comigo ou está contra mim. O diálogo, a indagação, a negociação são fundamentais para que o nosso modelo mental sofra mudanças. Por vezes é o modelo mental de uma pessoa ou de um grupo de pessoas que não favorece a mudança em processos grupais. Se o meu modelo mental, em função de um fato, não acreditamos que é possível promover a mudança social, a minha ação com relação aos outros vai confirmar o meu modo de ver. Visão Compartilhada – Não é uma idéia, é uma força no coração das pessoas, uma força de impressionante poder. Pode ser inspirada por uma idéia, mas quando evolui (com apoio de mais de uma pessoa) deixa de ser abstração. Torna-se palpável. As pessoas começam a viver o sonho. Uma rede começa a ser tecida quando a visão é compartilhada, a partir de um sonho inicial de uma pessoa ou de um grupo e que por identificação se transforma no sonho de todos. Exemplos clássicos de visão compartilhada foram os movimentos de não violência, no início liderados por Martin Luther King nos Estados Unidos e Mahatma Gandhi na Índia. Uma idéia, um sonho que transformou o modo de vida e a realidade de milhões de pessoas. Aprendizagem em equipe – é o processo de alinhamento e desenvolvimento da capacidade da equipe de criar os resultados que seus membros realmente desejam. “Quase todosnós, em alguma época, fizemos parte de uma grande equipe, um grupo de pessoas que faziam alguma coisa juntas de maneira extraordinária – que confiavam umas nas outras, que complementavam suas forças e compensavam suas limitações, que tinham um objetivo comum maior que os objetivos individuais e que produziam resultados extraordinários”. O sucesso do trabalho em equipe depende de um conjunto de competências que se somam no coletivo. É um exercício constante de disciplina, colaboração, respeito com o outro, de abertura para o diálogo como forma de entendimento e atitude de cuidado com o outro e a clareza sobre os resultados que querem obter. A horizontalidade das redes cria uma condição favorável para o trabalho em equipe, a visão compartilhada, a atitude protagonista, o pensamento sistêmico e a mudança na forma de sentir, pensar, falar e agir. Pensamento Sistêmico – é uma disciplina para ver o todo. É um quadro referencial para ver inter-relacionamentos, ao invés de eventos; para ver os padrões de mudança, em vez de fotos instantâneas. – É o modelo mental que considera não apenas as partes, mas a relação entre elas. A Floresta com toda a sua diversidade, o corpo humano na sua complexidade, são exemplos de um sistema, de um conjunto de partes que interagem com um objetivo comum. – o mesmo pode-se dizer das redes que se mantém renovado o compromisso de torno de um objetivo comum. “Uma das mais belas compensações desta vida é que nenhum homem pode sinceramente tentar ajudar outro sem ajudar a si próprio” Ralph Waldo Emerson O entendimento a partir do Diálogo “Em um diálogo não há a tentativa de fazer prevalecer um ponto de vista particular, mas a de ampliar a compreensão de todos os envolvidos” David Bohm Se perguntados, num primeiro momento acreditamos que sabemos dialogar e que não há muito para aprender a esse respeito nos encontros da Rede Social. Se você também pensa assim, pode estar muito enganado, eu estava! – O treino que fazemos ao longo da nossa vida estudantil, profissional e até mesmo familiar é defender nossos pontos de vista, argumentar para impor nossas convicções e nos tornarmos eficientes oradores, em escala bem menor nos preparamos para ouvir, e ouvir para compreender o ponto de vista do outro. Até, mesmo quanto não concordamos, mas compreendemos o ponto de vista que nos é apresentado, porque fomos capazes de ouvir a ponto de nos colocar no lugar do outro, e compreender as suas razões, há grande chance de identificação, de aprendizagem e de acolhimento. O Diálogo é uma experiência enriquecedora de autoconhecimento e conhecimento do outro. Por meio do diálogo um grupo, ocupado na construção de uma nova Cultura, aprende a decidir depois de conhecer todos os pontos de vista, tornando desnecessário o recurso do voto. O voto por maioria, nesse novo processo não tem nenhuma contribuição, muito pelo contrário, alimenta a discórdia, e a competição. A discussão não se apresenta como contraposição ao diálogo, ela acontece após, permitindo que o coletivo decida e dê encaminhamento ao que foi acordado democraticamente. O Diálogo é próprio da Democracia, permite a inclusão de todos e de cada. Para mencionar um exemplo, dos princípios da Cultura de Paz. “O Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e Não - Violência”, é um Guia elaborado por laureados do prêmio Nobel da Paz e endossado por milhões de pessoas no mundo que se comprometem a cumprir os seis pontos descritos abaixo. Respeitar a Vida Rejeitar a Violência Ser Generoso Ouvir para compreender Preservar o Planeta Redescobrir a Solidariedade O Manifesto 2000 ajuda na compreensão e fortalecimento da Cultura Colaborativa, é desejável que possamos ouvir uns aos outros, que solucionemos os problemas de forma não violenta, que a solidariedade, a generosidade paute nossas ações e que o respeito ao planeta e a toda espécie de vida sejam a nossa visão inegociável de futuro. Dois autores me permitiram compreender o conceito do Diálogo e os meus pares a prática. O quadro abaixo foi elaborado por Humberto Mariotti, autor de vários textos sobre esse tema, em pesquisa da obra de David Bohm. Diálogo Discussão Abrir questões Mostrar Estabelecer relações Compartilhar idéias Questionar/aprender Compreender Vê Interação partes/todo Faz emergir idéias Busca pluralidade Fechar questões Convencer Demarcar posições Defender idéias Persuadir e ensinar Explicar Visa as partes em separado Descarta idéias Busca acordos “O diálogo não é apenas falarmos uns com os outros. Mais que falar, é uma maneira especial de ouvirmos aos outros – ouvir sem resistência – é ouvir de um ponto onde estamos dispostos a ser influenciados”. (Sarita Chanila) O educador social que media processos de aprendizagem em equipe é antes um facilitador, um animador, que tem como principal atividade humanizar os relacionamentos ajudando a construir uma nova experiência baseada na colaboração e nos princípios da horizontalidade. Ele deve ser capaz de ajudar o grupo a chegar onde deseja chegar. Os caminhos são delineados passo a passo de acordo com as escolhas e estratégias do grupo e dos resultados que desejam alcançar. Educador Social no Brasil é: Um Revolucionário na essência, alguém que Acredita em mudanças; Um idealista, um Crente, que acima de tudo acredita em si mesmo e na força transformadora de todas as pessoas. Alguém interessado em Avançar para além da mediocridade. Alguém comprometido com Mudanças sociais profundas! Ou deveria ser. Alguém que trabalha com princípios da Horizontalidade na relação com o outro. Bibliografia: Leonardo Boff – Obra: Saber cuidar – Ética do humano compaixão pela terra – Editora Vozes Jacques Delors, – Obra: Educação – Um tesouro a descobrir – Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI - Editora Cortez – UNESCO – MEC - 6ª edição Larissa Costa, Cássio Marinho, Jorg Fecuri – Obra: REDES – uma introdução äs dinâmicas de conectividade e de auto-organização Editora: WWF – Brasil / www.wwf.org.br Peter Senge – Obra: A Quinta Disciplina Lia Diskin e Laura Gorresio Roizman – Obra: Paz: Como se faz? Semeando cultura de paz nas escolas. - Editora: Palas Athena Edgar Morin – Os Sete Saberes necessários ä Educação do Futuro – Editora Cortez
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